Sexta-feira

VALOR ECONÔMICO

Crédito volta a cair e indica pior ano desde início do Plano Real

Depois de dar acenos, mesmo que incipientes, de uma retomada em junho, o crédito voltou a apontar para baixo na abertura do segundo semestre, indicando que este será o pior ano para o mercado desde a adoção do Plano Real, em 1994. Segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Tulio Maciel, a projeção de crescimento de já modesto 1% para 2016 será revista agora em setembro, provavelmente para baixo, tendo em vista o comportamento observado nos sete primeiros meses do ano.

A projeção inicial era de alta de 7%. Em termos reais, esse será o segundo ano de contração, pois em 2015 o estoque subiu 6,7%, abaixo da inflação de 10,67%. Após uma queda de 0,6% em junho, o estoque de crédito caiu 0,4% em julho, somando R$ 3,115 trilhões, ou 51,4% do Produto Interno Bruto (PIB). No ano, a queda é de 3,2%, e em 12 meses ainda há uma breve alta de 0,2%. A contração no ano é puxada pelo crédito livre, com baixa de 5,1%, mas o crédito direcionado também caminha para uma inédita contração anual, pois recua 1,3% no ano. O mês também viu uma acentuada queda nas concessões de novos empréstimos e financiamentos, de 11,1%, para R$ 264,9 bilhões.

No ano, essas concessões recuam 9,1%, puxadas pelas empresas, com baixa de 14,5%. Para as famílias, a queda é de 4,4% em 2016. Segundo Maciel, a queda em julho não pode ser atribuída a fatores sazonais. "Então efetivamente o mercado de crédito evoluiu de maneira bastante contida ao longo do ano refletindo o nível de atividade baixo", disse. Outros vetores são os indicadores de confiança, que mostram recuperação na margem, mas em nível ainda historicamente baixo, e a elevação do custo do crédito. Ainda de acordo com Maciel, o cenário é o mesmo em diversos segmentos, seja no crédito livre ou direcionado. Para as empresas, o crédito vem desacelerando, puxado pelo capital de giro, que é a principal modalidade para as companhias e é ligado ao ritmo da atividade econômica.

O crédito livre às famílias se manteve praticamente estável no mês, com uma pequena alta de consignado e queda em cheque especial e veículos. No mês, o custo do dinheiro voltou a subir tanto para empresas quanto para famílias, captando aumento nos spreads, conforme o custo de captação das instituições financeiras teve queda marginal. A taxa de juro com recursos livres para as famílias subiu 0,5 ponto, para 71,9%, nova máxima. Para as empresas, a taxa ficou em 30,4%. Maciel apontou, ainda, que a inadimplência está comportada, se estabilizando ao redor de 5,6% a 5,7% considerando recursos livres, em um ambiente de crescimento das taxas de juros e aumento do desemprego.

Tal quadro reflete o maior rigor dos bancos nas concessões e também capta o aumento na renegociação de crédito de famílias e empresas. No caso das famílias, o chamado crédito renegociado, que ocorre quando há troca de modalidade de financiamento, aponta alta de 7,4% no ano e de 16,3% em 12 meses, somando R$ 29,019 bilhões. Para as empresas, não há categoria específica, mas as renegociações acabam entrando na categoria "outros", que mostra um aumento de 20,2% em 12 meses, para R$ 97,467 bilhões.

No ano, no entanto, há uma queda de 8,2%. No crédito direcionado, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem uma inédita queda de 7,2% no estoque de crédito no ano, para R$ 587,686 bilhões, reflexo das concessões, que recuam 40,3%. Ainda no caso do direcionado, Maciel apontou que, aparentemente, há uma acomodação na desaceleração do crédito imobiliário, já que a taxa de crescimento em 12 meses estacionou na casa de 9%, depois de consistente baixa.

Para pessoas físicas, o estoque de crédito habitacional encerrou julho em R$ 521 bilhões, alta de 4,3% no ano e avanço de 9,3% em 12 meses, vindo de um crescimento de 9,7% nos 12 meses até junho. Em julho de 2015, a taxa de crescimento estava acima dos 20%. Em 2010, o crescimento se manteve consistentemente acima dos 50%. A retração desse mercado segue de perto a dinâmica do emprego, renda e custo do dinheiro. Considerando os financiamentos com taxas reguladas, o juro médio encerrou julho em 11,3%, contra 10,1% um ano antes.

A mínima da série, que começa em 2011, foi vista em fevereiro de 2013, a 7,63% ao ano. No lado das concessões, a queda continua acentuada. Nos 12 meses encerrados em julho, a baixa chegou a 34,1%. Nas contas da Rosenberg e Associados, a retração real do crédito em 12 meses é de 8,1%, com os recursos livres cedendo 10,6% e os direcionados perdendo 5,5%. Para a consultoria, o mercado de crédito está em visível retração e a expectativa da casa é retração real do saldo da ordem de 7% a 8% em 2016.

 

BNDES cria linha para aquisição de empresa em recuperação

O governo interino de Michel Temer resolveu acionar o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e anunciou ontem duas medidas para socorrer empresas em dificuldades econômico-financeiras. Um dos objetivos é dar fôlego às companhias para atravessar a crise atual. O governo tentar evitar também que outras empresas cheguem à mesma situação. As iniciativas vão envolver R$ 9 bilhões em operações de crédito, valores que podem até ser maiores se houver demanda das empresas.

Ontem, após se reunirem com Temer, o ministro interino do Planejamento, Dyogo Oliveira, e a presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos Marques, divulgaram que o banco está criando uma linha de crédito com R$ 5 bilhões para ajudar empresas saudáveis na compra integral ou parcial de companhias que estão em recuperação judicial, extra¬judicial ou falência. Maria Silvia considera o valor da linha relevante, mas o valor poderá ser revisto conforme a demanda.

O diretor das áreas de crédito e financeira do BNDES, Cláudio Coutinho, negou que a nova linha vá transformar a instituição em um "hospital de empresas", como aconteceu no passado. "Não vamos dar dinheiro para ninguém em má situação [econômico¬-financeira]", afirmou. O objetivo do banco ao abrir a linha é para que empresas saudáveis possam comprar ativos de empresas em dificuldades, afirmou.

Nessa categoria, podem estar companhias em recuperação judicial, extra¬judicial ou falência. Ou empresas em crise, mas que ainda não pediram proteção à Justiça contra credores. A linha deve estar disponível a partir de 1º de setembro, mas as operações indiretas, envolvendo agentes financeiros do BNDES, podem exigir mais tempo uma vez que os bancos vão precisar adaptar seus sistemas. As operações indiretas se darão nos casos em que as empresas em dificuldades estejam em recuperação judicial. Nesta nova modalidade de crédito, a taxa de juros será de mercado e o custo financeiro será equivalente ao crédito já preexistente do BNDES junto a empresa vendedora do ativo, limitado, nesta segunda hipótese, ao valor do referido crédito. A linha será válida até agosto de 2017.

A segunda medida de estímulo anunciada foi a elevação em R$ 2,3 bilhões do orçamento na linha de capital de giro chamada de Progeren, que terá custo financeiro menor. Os recursos para essa modalidade, que terá como foco principal as micro, pequenas e médias empresas com faturamento anual de até R$ 90 milhões, passou de R$ 7,7 bilhões para R$ 10 bilhões. Como já foram contratados R$ 6 bilhões, restam R$ 4 bilhões para contratação até 31 de dezembro de 2017.

O prazo de financiamento é de cinco anos e a Maria Silvia, do BNDES: crédito para que uma empresa saudável compre ativo de companhia em recuperação judicial linha é feita em parceria com agentes financeiros. Segundo Maria Silvia, o custo total para o crédito para a micro e pequena cai de 10,2% para 9,5% ao ano. Para a média e grande empresa, recuou de 14,61% para 13,06% ao ano e para grande empresa de 17,11% para 16,61% ao ano. O "socorro" para as empresas que estão com dificuldades financeiras ou de contratar crédito no mercado financeiro foi apresentado no mesmo dia do início da votação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff no Senado Federal.

Durante o anúncio, o ministro interino do Planejamento fez questão de dizer que os recursos das linhas de crédito são do BNDES e, portanto, não envolvem equalização das taxas de juros ou injeção de recursos do Tesouro Nacional. "Tivemos reunião com presidente Temer e ele determinou o lançamento de duas iniciativas no BNDES. Uma linha visa à melhoria das condições de financiamento para capital de giro, e uma segunda é voltada para melhorar as condições de recuperação de empresas que estejam em dificuldade, especialmente em recuperação", explicou o ministro.

O objetivo é garantir que tenham mais liquidez e consigam atravessar esse momento turbulento. Mesmo sem falar diretamente sobre casos específicos a medida pode ajudar potenciais interessados em comprar empresa como a de telefonia Oi, que está em recuperação judicial. Maria Silvia frisou apenas que a nova linha é destinada a ajudar companhias que queiram adquirir uma empresa em dificuldade. "O crédito será para que uma empresa saudável compre parcialmente ou todo o ativo da empresa em recuperação judicial", explicou Maria Silvia.

Ela salientou que no Brasil, apenas 1,1% das empresas saem desse processo num prazo de seis a dez anos. Nos países desenvolvidos, afirmou ela, chegam a 20% as empresas que se livram dessa condição no prazo de dois anos. "Temos um elevado número de empresas em recuperação judicial. Somente 1,1% tem saído da recuperação judicial. A linha entra onde o mercado não está atuando", disse Maria Silvia. Para justificar a criação da nova linha de crédito, Maria Silvia reforçou que as empresas em recuperação judicial não têm acesso a empréstimos e criam muitos passivos, como os tributários. "Objetivo básico é a manutenção da atividade produtiva e dos empregos associados", disse Maria Silvia.

"Neste caso, ganha a empresa para sair do processo de recuperação, [ganha] os potenciais compradores e ganha o país", emendou. Cláudio Coutinho, diretor de crédito e finanças do BNDES, disse que a criação da linha de apoio às empresas em dificuldades não foi uma demanda do mercado. "Foi da observação da quantidade de recuperações judiciais no país." Ele disse que foram 923 recuperações judiciais só no primeiro semestre. "Queremos que esses ativos voltem de forma rápida ao mercado. Mas de forma alguma vamos financiar empresa em má situação."

O ministro interino do Planejamento aproveitou para defender a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241, que limita o crescimento do gasto público. "Temos consciência da situação fiscal do país, que é muito grave. Procuramos salientar [na audiência pública da Câmara] a urgência, importancia e necessidade de que seja adotada medidas como as que estão sendo propostas na PEC do gasto", afirmou. Segundo ele, o país já dá sinais de retomada na economia e a expectativa é de recuperação mais forte em 2017.

 

Pós-impeachment deve atrair capital externo

Sem data para acabar, o julgamento do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, que começou ontem, pode se estender até 31 de agosto. Para os investidores em ativos financeiros ou no setor real da economia brasileira, o fim do julgamento, demore três, cinco ou dez dias, será um marco a partir do qual serão tomadas novas decisões. Mesmo em compasso de espera, os estrangeiros não estão divorciados do Brasil.

Alguns deles, porém, dependem de uma definição a respeito de quem é o presidente do Brasil para assegurar, legalmente, a grandes investidores que o seu dinheiro não está em lugar incerto e não sabido. No mês de agosto, os investidores estrangeiros diminuíram sua exposição a ativos de renda fixa e também na bolsa no Brasil. Saíram do país liquidamente US$ 2,862 bilhões no mês até o dia 19, segundo o Banco Central.

Para Daniel Weeks, da Garde Asset Management, boa parte desse movimento tem a ver com a realização de lucros obtidos ao longo do rali dos ativos brasileiros, iniciado em março. Passado o impeachment, entretanto, o provável é que esses recursos retornem. "Até aqui, o que se viu foi o ingresso de investidores que ampliaram exposição em mercados emergentes de forma geral. O dinheiro dedicado a Brasil ainda não veio", diz. Isso significa, em sua opinião, que mesmo que o impeachment esteja "99% no preço", ainda tem muito para vir.

A questão é saber se esse investidor virá imediatamente ou se esperará alguma medida concreta de ajuste fiscal. O economista¬-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, também acredita que há espaço para uma reação adicional ao impeachment, embora os investidores locais já deem o evento como certo. "Parece que, para o estrangeiro, o impeachment não está 100% no preço e isso significa que há potencial para algum fluxo adicional", afirma.

De todo modo, Borges acredita que o nível de exigência dos investidores, sobretudo dos locais, em relação ao governo vai aumentar. "O governo Temer não estará mais protegido pelo guardachuva da interinidade. A pressão vai aumentar", diz. As exigências, diz ele, devem ser maiores por parte do mercado doméstico. "O estrangeiro tem uma visão relativa do Brasil, que se destaca por pagar um juro muito acima dos demais países", afirma. "Mas o investidor aqui vai exigir oferendas físicas do governo, vai querer medidas objetivas", afirma.

Para Borges, o que está "no preço" do mercado é que o teto dos gastos seja aprovado ainda este ano, "sem desidratação", ou seja, garantindo a inclusão dos gastos de saúde e de educação na regra, que tem de respeitar a variação do IPCA. E que a reforma da Previdência comece a ser discutida ainda este ano, com perspectivas Borges, da LCA: nível de exigência dos investidores em relação ao governo crescerá de ser terminada no ano que vem. "Mas é bom lembrar que há 70% de chance de o teto só ser aprovado no ano que vem e que o governo Fernando Henrique levou quatro anos para mudar as regras da Previdência", diz.

Marco Caruso, economista-¬chefe do Banco Pine, entende que os investidores interessados em ganhos financeiros se aproveitam da descompressão do prêmio de risco do Brasil. "Esses investidores trabalham muito mais com 'as histórias que circundam os fatos' do que com 'os fatos' em si. Em um primeiro momento, interessa a eles muito mais a crença de que haverá uma arrumação das contas públicas do que a arrumação em si.

Para o investidor do setor real, a perspectiva do ajuste interessa, mas seu foco está na aprovação. Cenários de longo prazo demandam maior certeza", diz. Octavio de Barros, diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, pondera que uma parte dos investidores estrangeiros aguarda a definição do processo político para tomar sua decisão de investimento. "Investidores com horizonte de alocação de médio e longo prazo têm processos decisórios mais estruturados e requerem um grau de incerteza menor para tomar suas decisões. São esses os investidores que podem ter um ânimo adicional após a definição de quem será o presidente do Brasil pelos próximos dois anos e meio."

Barros cita também os investidores mais "oportunistas" ¬ como fundos de hedge¬ que já vêm ampliando sua alocação no Brasil, se antecipando à maior estabilização política. O país também interessa a esse perfil e estabilização política favorece, mas fluxo de recursos deve ser gradual. Solange Srour, economista¬chefe da ARX Investimentos, cita dois fatores relevantes para o fluxo dos investimentos estrangeiros pós¬impeachment: o cenário internacional de alta liquidez e o ritmo de aprovação das medidas fiscais.

"Só o impeachment não basta. Precisamos dessas duas condições para termos uma entrada significativa de recursos no país. Se o cenário externo for extremamente benigno para emergentes (com menos preocupações com China, commodities em alta e juros deprimidos) recursos virão para cá mesmo com pouco avanço reformista. Se o cenário externo continuar instável, a entrada de recursos dependerá mais de reformas com mudanças radicais nos benefícios sociais e nas regras constitucionais de vinculação dos gastos."

Já o investimento direto dependerá de uma percepção mais duradoura de estabilidade, previsibilidade e retorno. Luciano Sobral, economista do Santander, afirma que o investimento em carteira, além de volátil, tenta antecipar a melhora de fundamentos que levarão mais tempo para impactar a economia. Sobral acrescenta que o retorno oferecido por ativos brasileiros está muito elevado em comparação a outros países. Portanto, "é atraente investir aqui desde que persista a confiança na estabilidade política, queda na inflação e relativa força da moeda", afirma.

A avaliação geral é que, quando o impeachment for concluído, o governo empossado terá mais poder de barganha junto ao Congresso e, por isso, o nível de exigência quanto aos resultados concretos no avanço do ajuste fiscal vai crescer, sob o risco de se perder os ganhos de confiança obtidos até aqui. Mas a agenda que se espera da equipe que comandará o país até 2018, entretanto, é limitada, capaz apenas de evitar um colapso das contas públicas e não de garantir uma melhora consistente da relação dívida/PIB num horizonte mais longo.

Em linhas gerais, os analistas esperam que a PEC dos gastos públicos seja aprovada pela Câmara entre outubro e novembro deste ano ¬ com grande chance de a aprovação pelo Senado ocorrer apenas em 2017. E o início das discussões da reforma da Previdência neste ano, com probabilidade de aprovação das mudanças nas regras até o fim do ano que vem. Sobre o conteúdo da PEC, o que está "no preço" é que a limitação para o crescimento dos gastos seja dada apenas pela variação do IPCA, sem qualquer acréscimo ou alteração de indicador. "Se haverá uma limitação específica para saúde e educação importa menos. O importante é que o gasto como um todo não cresça acima da inflação", afirma Weeks, da Garde. "Qualquer coisa diferente disso vai ter efeito negativo sobre as expectativas", diz.

 

Selic só deve cair a partir de outubro

É em meio à definição do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff que o Comitê de Política Monetária (Copom) vai definir o rumo da taxa Selic na próxima semana. E, como ainda há muitas incertezas à mesa, a convicção do mercado é que a Selic permanecerá inalterada em 14,25% ao ano. Mas erra quem considera que essa reunião ficará em segundo plano. A ansiedade dos agentes em relação ao rumo do juro, que permanece no nível atual desde julho de 2015, o período mais longo de manutenção da taxa desde a criação do comitê, é elevada e, portanto, qualquer sinal a ser emitido no comunicado ou na ata pode ter grande influência sobre o rumo dos ativos.

O início do corte de juros é um dos fatos esperados pelos investidores para dar prosseguimento à aplicação em ativos locais. As taxas mais longas recuaram de 16,5% no início do ano para os atuais 12% e, para que uma queda adicional ocorra, é necessário que a Selic, enfim, seja reduzida. Isso explica o fato de os juros futuros estarem travados no patamar atual há mais de um mês e também o fluxo negativo de recursos de estrangeiros para a renda fixa em agosto, com investidores saindo de suas posições para aguardar por um sinal mais firme do esperado ciclo de alívio monetário.

Esse movimento dos juros também deve ser determinante para a bolsa, onde investidores consideram as taxas de longo prazo para definir o cálculo de "valuation" das ações. E para o câmbio, também influenciado pelo nível de retorno dos ativos brasileiros. Por ora, a partir da comunicação do Banco Central e da evolução dos indicadores, a maioria dos analistas ouvidos pelo Valor ¬ 18 dos 32 entrevistados ¬ espera um corte na taxa básica a partir de outubro.

Outros dez dos entrevistados dizem acreditar que só haverá condições de um corte da Selic no mês de novembro, em grande parte por causa das expectativas de inflação ainda acima da meta e também pelas incertezas sobre a evolução da reforma fiscal. Mas há ainda quatro analistas que não acreditam que o corte virá este ano, quando as condições já estabelecidas pelo BC como necessárias para a redução da taxa não estarão atendidas. Sobre o tamanho do ciclo, a maioria dos analistas ¬ 25 dos entrevistados ¬ vê a taxa entre 10% e 12% no fim de 2017. Mas há quatro analistas que veem o juro em um dígito, enquanto uma instituição trabalha com uma Selic mais alta, em 13%, no encerramento do ano que vem. É a evolução do quadro fiscal que definirá o rumo da política monetária, entendem os analistas.

André Perfeito, economista¬chefe da Gradual Investimentos, diz que o Banco Central jogou o problema para o colo do Ministério da Fazenda e do Planalto e não deve dar sinalizações mais claras sobre a política monetária. "Até ter mais certeza das movimentações políticas para aprovar o ajuste fiscal ficará mantendo o atual tom." Na avaliação de Luiz Castelli, economista da GO Associados, uma sinalização mais clara não deve vir da reunião porque nos últimos comunicados o BC deixou explícito o que espera: medidas fiscais para conter o crescimento da dívida e que as expectativas de inflação caminhem para o centro da meta. "Ainda não vimos nem uma das duas. Assim, comunicado deve ser parecido com o anterior."

A flexibilização da política monetária, segundo Castelli, deve começar em novembro, quando a questão fiscal já estará melhor encaminhada. Se a PEC do "teto de gastos" ainda não tiver sido aprovada, deverá estar muito perto de ser e alguma proposta para a Previdência já deve ter sido enviada ao Congresso. Patricia Krause, economista¬chefe da Coface para América Latina, acredita que o comunicado da próxima reunião do Copom será tão claro quanto a última ata e deve mencionar as projeções ainda elevadas do mercado para a inflação, como atesta a Focus, e justificar a manutenção da Selic em 14,25% por conta da pressão ainda forte de alimentos e pelo fato da questão fiscal ainda não ter avançado.

Dado o comprometimento da nova equipe do BC com o declínio da inflação para o centro da meta, Patricia prevê que a redução da Selic só virá no segundo trimestre do ano que vem. Ela alerta que a última ata corrobora essa visão: "O cenário de referência supõe, entre outras hipóteses, taxas de juros e câmbio inalteradas em 14,25% ao ano e R$ 3,25, respectivamente, por todo o horizonte de projeção. Esse cenário aponta para inflação em torno da meta de 4,5% já em 2017. Entretanto, cabe destacar que o mesmo não ocorre sob as hipóteses do cenário de mercado, que utiliza as trajetórias para taxas de juros e câmbio apuradas pela pesquisa Focus. Nesse cenário, a inflação para 2017 situa¬se em torno de 5,3%."

Roberto Padovani, economista¬chefe do Banco Votorantim, lembra que o BC não tem dado sinais ao mercado. "Se houver alguma informação mais clara deve vir no Relatório Trimestral de Inflação (RTI)." Na mesma linha, Roberto Luis Troster, sócio¬diretor da Troster & Associados, afirma objetivamente ser "mais adequado que o BC não apresente um compromisso futuro". Marco Caruso, economista¬chefe do Banco Pine, não espera mais clareza do Copom e essencialmente observa os seguintes desdobramentos para inferir quando o comitê mudará sua sinalização: a distância entre a meta e o resultado dos modelos de inflação no conhecido horizonte relevante, em especial para 2017; a inflação corrente; e a perspectiva sobre a postura fiscal.

 

Câmbio valorizado é armadilha que nos acorrenta desde 1994, diz Sayad

O Brasil deve evitar a sobrevalorização do câmbio para não cair num longo período de baixo crescimento, diz o ex¬-ministro do Planejamento João Sayad. "É a armadilha que nos acorrenta desde 1994." Com o real apreciado, "a indústria manufatureira perde, as exportações crescem mais lentamente", afirma ele, que também vê a continuidade da crise política como um risco ao crescimento. Ao falar sobre a situação fiscal, o professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP diz que "a situação patrimonial do governo como um todo não é um problema".

Para ele, o país tem reservas para bancar a dívida externa toda, inclusive do setor privado. "A dívida bruta é alta, mas a líquida tem um valor aceitável. O problema fiscal é o déficit corrente, que causará um crescimento muito rápido da dívida pública", afirma Sayad, para quem o projeto que limita o crescimento dos gastos da União é uma medida boa, mas surpreendente. "Como a de um fumante que defende a lei antifumo para ver se para de fumar", compara ele. Segundo Sayad, o aumento de impostos pode ser inevitável. "O principal problema tributário do país é a complexidade tributária, a guerra fiscal e, principalmente, o cipoal da legislação trabalhista."

A seguir, a íntegra da entrevista, em que Sayad trata das perspectivas para a economia depois do encerramento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, que deve ocorrer até o fim do mês.

Valor: Um ajuste fiscal que indique a estabilização da dívida como proporção do PIB num horizonte razoável é suficiente para garantir o retorno do crescimento a taxas mais elevadas? Quando o Brasil volta a crescer entre 3% e 4%? E o que é preciso ser feito para isso?

João Sayad: A situação patrimonial do governo como um todo não é um problema. O país possui reservas suficientes para pagar a dívida externa incluindo a do setor privado. A dívida bruta é alta, mas a líquida tem um valor aceitável. O problema fiscal é o déficit corrente, que causará um crescimento muito rápido da dívida pública. Mas, voltando à sua pergunta: o equilíbrio fiscal é condição suficiente para a retomada do crescimento? Não, de forma alguma. É condição necessária, mas não suficiente.

Valor: Se a PEC do teto de gastos e uma reforma da Previdência com regras de transição não muito brandas forem aprovadas, isso é suficiente para resolver o problema fiscal ou serão necessárias outras medidas, como aumento de impostos?

Sayad: O teto de gastos é uma proposta boa, mas surpreendente: como a de um fumante que defende a lei antifumo para ver se para de fumar. Mesmo sem a PEC, o governo pode limitar os gastos por conta própria se aprovar a DRU [Desvinculação de Receitas da União]. Além disso, se a inflação cair no ano que vem, qual a taxa de inflação que deve ser usada para limitar os gastos? Se for a inflação deste ano e a do ano que vem for 3% menor, o governo pode aumentar as despesas em 3% em termos reais? Se for a inflação projetada para 2017, quem fará a projeção? O próprio governo que define os gastos? O aumento de impostos pode ser inevitável. O principal problema tributário do país é a complexidade tributária, a guerra fiscal e principalmente o cipoal da legislação trabalhista.

Valor: Passada a recuperação cíclica, que componentes da demanda deverão liderar o crescimento?

Sayad: Se conseguirmos estabilidade política e consequentemente estabilidade jurídica (o que é um grande obstáculo) poderemos ter recuperação dos investimentos privados e investimentos em infraestrutura. A desvalorização cambial e as exportações serão outro componente importante.

Valor: Quais armadilhas o país deve evitar para não cair numa situação de baixo crescimento por um período prolongado?

Sayad: A crise política e o câmbio sobrevalorizado.

 Valor: Há quem veja a possibilidade de uma valorização mais forte do câmbio depois do fim do processo do impeachment. O real valorizado é um risco ao crescimento mais forte da economia?

Sayad: Sem dúvida. Com o câmbio valorizado a indústria manufatureira perde, as exportações crescem mais lentamente. É a armadilha que nos acorrenta desde 1994.

 

CNI: Com crise, brasileiro muda hábitos e usa mais serviços públicos

 Ao longo da crise econômica em que o país está mergulhado nos últimos dois anos, cresceu o percentual de famílias com ao menos um integrante desempregado. Com dificuldade em pagar contas básicas como o aluguel, parte dos brasileiros deixou de lado despesas com automóvel e plano de saúde, por exemplo, e passou a utilizar mais serviços como transporte público e o SUS. É o que mostra a pesquisa “Retratos da Sociedade Brasileira ¬ Dois Anos de Crise Econômica”, divulgada hoje pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

A pesquisa foi realizada pelo Ibope Inteligência entre os dias 24 e 27 de junho, em 2.002 domícilios de 141 municípios. Seis em cada dez brasileiros consideram que a situação econômica está pior que no mesmo período de 2015 e 71% consideram a situação econômica do país ruim ou péssima, ante 66% em junho do ano passado. A proporção das famílias entre as quais alguém perdeu o emprego passou de 44% em 2015 para 57%, e o percentual daquelas nas quais membros que não trabalhavam tiveram que entrar no mercado para ajudar com as contas aumentou de 40% para 48%.

Com a alta do desemprego e da inflação – que corrói a renda –, o poder de compra da população continua se reduzindo: 40% verificam grande redução nos últimos 12 meses. Nesse cenário, 67% dos brasileiros encontram dificuldades para pagar suas contas e compras a crédito e chega a 30% os que não conseguem pagar seu aluguel ou prestação da casa própria. Para contornar essa situação, os brasileiros trocam seu local de consumo para estabelecimentos mais baratos (80%), trocam produtos por similares mais baratos (78%) e reduzem a impulsividade nas compras, pesquisando mais os preços antes de comprar (93%). Um hábito que foi exacerbado pela crise é deixar para comprar produtos de maior valor durante saldões. Eram 64% em 2015 e 80% agora.

Ainda segundo a pesquisa, parte dos brasileiros teve que adotar medidas mais duras, como vender bens para pagar dívidas (24%); mudar de residência para reduzir custos com habitação (19%); passar o filho da escola particular para pública (14%); usar mais transporte público (48%) e deixar de ter plano de saúde (34%). As três últimas medidas dessa lista revelam que a crise econômica tem levado as pessoas a demandar mais serviços públicos de transporte, educação e saúde, por não ter mais condição de acessar os serviços privados. “Isso resulta em pressões adicionais por serviços em um ambiente de restrição fiscal dos governos, que encontram dificuldade em atender à demanda”, diz a CNI.

Além disso, 56% dos entrevistados disseram procurar trabalho extra para complementar a renda, ante 48% no ano passado. Esse percentual chega a 66% dos que possuem renda familiar até um salário mínimo. Melhora de expectativa Apesar de a situação ter se deteriorado ainda mais em relação a 2015, os brasileiros começam a acreditar em uma melhora da economia. Os que concordam que a crise já chegou ao fundo do poço são 73%. E são 43% os que acreditam que a situação econômica estará melhor daqui a 12 meses, ante 23% em junho de 2015. O percentual de pessimistas também se reduziu.

O percentual dos que consideravam que a economia estaria pior em 12 meses passou de 54%, em junho de 2015, para 29% em junho de 2016. No que diz respeito à própria renda e à inflação, a visão dos brasileiros com relação ao futuro próximo também é mais otimista. O percentual que acreditava que inflação ia aumentar muito caiu de 41%, em junho de 2015, para 25% em junho de 2016 e o percentual que acredita que ela vai diminuir muito ou diminuir passou de 6% para 15% no período. No campo da renda, verifica-¬se uma redução no percentual que acredita que a própria renda vai diminuir muito ou diminuir ¬ de 37% em junho de 2015 para 28%. Aumentou o percentual que acredita que sua renda permanecerá estável nos seis meses seguintes.

 

EXAME

48% das empresas esperam o fim do impeachment para investir

Os diretores financeiros das empresas estão aguardando o término do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff para investir e tomar decisões estratégicas.

Essa é análise de 48% dos executivos da área, ouvidos pela Câmara Americana de Comércio (Amcham), durante o evento CFO Fórum, na última terça-feira (23), em São Paulo.

Foram entrevistados 155 profissionais. Uma parcela de 35% deles disse que a indefinição do cenário político não impacta os investimentos das companhias em que atuam e outros 17% preferiram opinar.

Para 67% dos que participaram da enquete, a onda de otimismo vista recentemente em alguns setores ainda é pontual e representa um voto de confiança do mercado no governo de transição.

Na opinião deles não há bases concretas que indiquem uma melhora da economia, que ainda depende de reformas.

Uma fatia de 24% deles, porém, enxerga uma retomada concreta do cenário macroeconômico e acredita na nova agenda de ajustes de Temer. Outros 6% disseram que não veem otimismo.

Já quando questionados sobre um possível cenário para 2017, a grande maioria dos diretores financeiros acredita que haverá uma retomada do crescimento e que os indicadores de produção e consumo devem melhorar.

Um grupo menor, de 22% acha que a incerteza vai persistir e que a crise vai se agravar no próximo ano.

De quem é a culpa?

A maior parte (83%) dos executivos considera que o ajuste nas contas públicas deve ser uma grande prioridade para a agenda macroeconômica. A reforma trabalhista, o maior diálogo entre os setores público e privado e a reforma da previdência aparecem na sequência, com 6%, 5% e 2% das citações, respectivamente.

Enquanto 65% atribuem a causa da crise à incerteza política decorrente dos escândalos de corrupção e dos conflitos no governo, 32% acham que a culpa é do fator econômico, principalmente a situação fiscal do governo.

Só 2% dos ouvidos consideram a influência externa e a desaceleração de grandes economias globais como responsáveis pela recessão no país.

Preocupações

Entre os fatores macroeconômicos que mais preocupam os diretores financeiros, foram citados principalmente a queda do consumo (39%), a possibilidade de aumento dos impostos (17%), a inadimplência alta (14%), a volatilidade do câmbio (13%) e o crédito escasso (5%).

Internamente, o que mais tira o sono dos executivos é a busca por eficiência e otimização de processos, citada por 56%, o corte de gastos (24%), a gestão do risco financeiro (9%) e a busca por crédito (6%).

 

FOLHA DE SÃO PAULO

Sebrae planeja fundo para oferecer crédito a micro e pequenos negócios

O Sebrae planeja disponibilizar dinheiro para crédito orientado a micro e pequenos negócios, afirma o presidente nacional do órgão, Guilherme Afif Domingos.

A ideia é criar um fundo e gerar operações que, somadas, ultrapassariam R$ 1 bilhão por ano em empréstimos, segundo uma pessoa próxima da instituição.

Hoje, a agência de apoio tem aplicações em títulos públicos. É esse recurso que deve passar a ser direcionado aos empréstimos.

"O valor é do Sebrae, disponível, e eu não quero fazer caixa para o governo, mas, sim, aplicar no pequeno empreendedor", afirma Afif.

"Precisamos nos preparar e estudar com outras instituições públicas como seria administrado esse recurso. Esperamos que até o próximo ano o projeto esteja em pé."

A intermediação dos empréstimos ficará a cargo de uma instituição financeira, mas consultores do Sebrae devem orientar a contratação dos empréstimos, diz o presidente da instituição.

A dificuldade para acessar crédito é uma reclamação das empresas: "O mercado de pequenos é abandonado pelo sistema financeiro".

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