O ESTADO DE SÃO PAULO
Venda de imóvel tem 1ª alta em 13 meses
Após 13 meses seguidos de queda, o mercado imobiliário nacional registrou aumento nas vendas em agosto em relação ao mesmo mês do ano anterior. Foram negociadas 9,271 mil unidades, o que representa avanço de 1,4% na comparação com as vendas de agosto de 2015, marcando a primeira alta desde junho de 2015, de acordo com pesquisa da Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas. A pesquisa considera dados fornecidos por 19 incorporadoras de grande porte, com presença em diversas regiões, e associadas à Abrainc.
No acumulado do ano até agosto de 2016, as vendas somaram 67.069 unidades, queda de 11,3% ante o volume observado no mesmo período de 2015. Já nos últimos 12 meses, foram vendidas 103.675 unidades, volume 13,3% inferior ao total de vendas do período precedente.
Foram lançadas 4.611 unidades em agosto de 2016, o que representa um aumento de 70% em relação ao volume lançado no mesmo mês de 2015.
No acumulado de 2016, os lançamentos totalizaram 38.586 unidades, volume 18,5% superior ao observado no mesmo período de 2015. Considerando 12 meses, o total lançado (70.039 unidades) representa um aumento de 4,3% face ao observado no período precedente.
Em agosto, foram entregues 10.633 unidades, avanço de 13,8% ante o número de unidades entregues em igual período de 2015. No acumulado até agosto, as entregas somaram 86.198 unidades, volume 2,6% superior ao observado na mesma base de 2015. Já nos últimos 12 meses, as entregas atingiram 128.656 unidades, volume 18,0% inferior ao total de entregas no período precedente.
Ao final de agosto de 2016, as empresas tinham em estoque 116.211 unidades. No mesmo período, foi vendido o equivalente a 7,7% da oferta do mês. Com isso, estima-se que a oferta final de agosto seja suficiente para garantir o abastecimento do mercado durante 13 meses, mantido o ritmo de vendas do mês.
O GLOBO
Para analistas, BC deve iniciar novo ciclo de queda de juros
O ambiente econômico mais favorável e a menor incerteza quanto aos rumos da inflação abrem espaço para uma redução mais agressiva dos juros por parte do Banco Central (BC) nos próximos meses. Com isso, o retorno da Taxa Selic para o patamar de um dígito voltou ao horizonte das projeções dos economistas. O novo ciclo de queda da Selic deve ter início hoje, com o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciando o primeiro corte de juros no país depois de quatro anos.
E crescem as apostas de que esse primeiro corte seja de 0,5 ponto percentual, o que derrubaria a taxa básica dos atuais 14,25% para 13,75% ao ano.
IMPACTO DAS REFORMAS
Na avaliação do economista-chefe do BNP Paribas, Marcelo Carvalho, a economia se encontra em um ponto de virada e, com a inflação em queda - agora com a ajuda, mesmo que pequena, do preço dos combustíveis - , há espaço para uma sequência de cortes sucessivos de hoje até a última reunião do Copom de 2017. Ou dez cortes seguidos de 0,5 ponto, levando a Selic a 9,25%.
- Com a queda do IPCA, o juro pode ser cortado agressivamente. A expectativa é de uma redução muito grande, de 500 pontos básicos (5 pontos percentuais) até o fim do ano que vem - disse.
A última vez que a Selic chegou a um dígito foi em novembro de 2013, a 9,5% ao ano. Carvalho admite que parece cedo para pensar na Selic em um dígito já em 2017, mas acredita que, com o avanço das medidas de controle das despesas públicas, como a aprovação também no Senado da proposta de emenda constitucional (PEC) dos gastos e o encaminhamento da proposta de reforma da Previdência, essa tendência ganhará força.
A média das expectativas dos analistas, medida pelo boletim Focus do Banco Central, aponta para uma Selic de 11% ao fim do ano que vem, mas diversos analistas já trabalham com um juro abaixo desse número para o fechamento de 2017.
José Pena, economista-chefe da Porto Seguro, projeta uma taxa de 10,5% em dezembro de 2017.
- O tamanho do ciclo é mais relevante do que como esse ciclo vai começar, se com um corte de 0,25 ponto percentual ou 0,5 ponto. Acredito que o BC possa começar de forma mais suave e, com a confirmação de algumas expectativas em relação à economia, aumente o ritmo do corte- afirmou.
Entre essas "confirmações" está a expectativa de aprovação de uma reforma da Previdência. Por isso, ele acredita que, em algum momento do próximo ano, os cortes possam atingir a magnitude de 0,75 ponto. Chegar a um dígito, no entanto, dependerá não só das reformas, mas também da manutenção de um ambiente de alta liquidez no exterior e uma economia ainda crescendo pouco, diz o economista.
ESFORÇO FISCAL
Na avaliação do Bradesco, o Copom também cortará os juros em 0,5 ponto hoje, e a Selic terminará 2017 a 10,25%. Taxa de um dígito, apenas em 2018.
Marco Caruso, economista-chefe do Banco Pine, espera dois cortes de 0,5 ponto neste ano e a Selic a 11% no fim do ano que vem. No entanto, acredita que o corte poderá ser maior e trabalha na revisão dessa projeção para baixo nas próximas semanas.
- A inflação para 2018 já está ancorada mais perto do centro da meta, que é um IPCA de 4,5%, e o BC deve passar a levar em conta a atividade econômica. Como o desemprego ainda vai demorar para chegar ao seu ponto de equilíbrio, é possível ver taxas mais baixas de juros - avaliou, reforçando que cair abaixo de 10% dependerá do esforço fiscal do governo.
VALOR ECONÔMICO
Juro futuro indica corte da Selic a 14%
As taxas dos contratos futuros de curto prazo fecharam em alta na BM&F, com os investidores evitando alterar substancialmente as apostas para a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a taxa Selic, que será divulgada hoje após o término da reunião. Os contratos de DI refletem 72% de chance de corte de 0,25 ponto percentual da Selic. Mas as projeções dos economistas estão divididas entre uma queda de 0,25 ponto e 0,50 ponto. Ontem, a taxa do DI para janeiro de 2018 subiu de 11,963% para 11,99%. Para o sócio e gestor da Quantitas, Rogério Braga, o Banco Central vai optar por iniciar o ciclo de afrouxamento monetário com um corte de 0,25 ponto. "Toda vez que o mercado tentou colocar um corte maior na curva de juros, o BC buscou passar uma mensagem de que nem tudo está resolvido, tentando evitar exageros", diz.
Esse deve ser o primeiro ciclo de afrouxamento monetário desde 2012, após a taxa Selic ficar estável em 14,25% desde setembro de 2015. Por enquanto, o BC tem contado com uma contribuição positiva do câmbio para a inflação. Ontem, o dólar recuou 0,72% para R$ 3,1826, acompanhando o movimento no exterior, sustentado por dados mais fracos que o esperado da inflação nos EUA, que reduziram a preocupação com uma alta da taxa básica de juros americana no curto prazo.
Para o operador de câmbio da Hencorp Commcor Cleber Alessie, a reação do mercado pode estar exagerada. "O mercado parece estar procurando um argumento para vender dólar, mas o fato é que a alta de juros em dezembro ainda é uma possibilidade real", afirma. Os analistas esperam que a adesão ao programa de regularização de recursos não declarados e mantidos no exterior pode aumentar o fluxo no mercado local e ajudar a promover uma valorização adicional do real. O projeto que altera o texto da Lei de Repatriação foi arquivado e continua valendo as normas em vigor. Assim, o prazo final para adesão ao programa encerra em 31 de outubro. "Algum impacto para o câmbio esse programa deve ter, mas é impossível estimar o volume de fluxo que deve entrar no Brasil, uma vez que quem aderir ao programa não necessariamente deve trazer os recursos do exterior e pode usar o dinheiro disponível no mercado local para pagar a multa e regularizar a situação", diz Alberto Ramos, diretor de pesquisas econômicas do Goldman Sachs para a América Latina.
A Receita Federal já recebeu mais de R$ 13 bilhões de recursos oriundos da adesão ao programa de repatriação e o governo estima arrecadar até R$ 50 bilhões. Para regularizar o dinheiro que estava no exterior é preciso pagar imposto (alíquota de 15%) e multa (mais 15%) e os recursos precisam ser de origem lícita. "O mercado espera que esse fluxo se concentre mais nas duas próximas semanas. E se houver uma valorização rápida do real, com o dólar caindo abaixo de R$ 3,15, o BC pode ampliar a atuação, mas só se a moeda brasileira se descolar dos seus pares", diz Braga.
Para Ramos, do Goldman, se houver fluxo significativo, o BC pode esterilizar esses recursos comprando dólares para aumentar as reservas internacionais ou mesmo ampliando o volume de compra de swaps cambiais reversos. Ontem, o BC vendeu 5 mil contratos de swap cambial reverso, operação equivalente a uma compra de US$ 250 milhões no mercado futuro.
BC retoma agenda para reduzir spreads
O Banco Central retomou a agenda de medidas microeconômicas para a redução dos juros e dos spreads bancários que havia sido deixada em segundo plano no governo Dilma Rousseff. Na administração anterior, o foco foi o uso dos bancos públicos para pressionar as instituições privadas a reduzir os juros para os tomadores finais de crédito na economia. Os trabalhos ainda estão no início, na fase de definição de prioridades e medidas, mas a orientação do presidente do BC, Ilan Goldfajn, é examinar temas como a cunha fiscal incidente sobre o crédito, subsídios cruzados ligados ao sistema de empréstimos direcionados e maior concorrência entre os bancos.
São questões que, para o Banco Central, devem ser lidadas no médio e longo prazos, incluindo os altos depósitos compulsórios vigentes no país, que têm implicações importantes para a condução da política monetária. O objetivo é, ao longo do tempo, produzir uma queda sustentada e perene do custo do crédito, evitando o que a direção atual do BC considera como atitude "voluntarista" adotada no governo Dilma, que levou a uma queda apenas temporária nos juros do sistema e causou o enfraquecimento dos bancos públicos.
Desde abril de 2013, quando o BC começou a elevar a taxa básica de juros, o spread bancário subiu de 22,5 pontos percentuais ao ano para 40,7 pontos percentuais ao ano, em grande parte porque os bancos aumentaram as margens em função da alta da inadimplência e percepção de risco maior. Além desses fatores cíclicos, porém, há questões estruturais que historicamente fazem com que o custo do dinheiro para empresas e famílias sejam bastante elevados no Brasil. A ideia é retomar a agenda de medidas para reduzir o custo do crédito que vigorou por uma década. Sua implementação deverá ser acompanhada ao longo do tempo pelo próprio BC, por outras áreas do governo e pelos poderes Judiciário e Legislativo. Até 2010, o Banco Central divulgava, no seu relatório anual "Economia Bancária e Crédito", uma lista de propostas que estavam sendo implementadas.
A ideia foi lançada na gestão de Armínio Fraga no BC, entre 1999 e 2002, e teve continuidade durante a gestão de Henrique Meirelles, já no governo Lula. Dela, saíram medidas concretas, como a nova Lei de Falências ¬ que o governo já indicou que estuda novos aperfeiçoamentos para dar maiores garantias nos empréstimos, reduzindo riscos de inadimplência ¬, o aperfeiçoamento da alienação fiduciária para financiamentos de automóveis e o marco legal do crédito consignado para aposentados.
Uma das questões que já estão sendo estudadas pelo Banco Central é o cadastro positivo, segundo informou Ilan em depoimento recente no Senado. Sua viabilidade está em xeque depois que o Judiciário de alguns Estados exigiu que pessoas e empresas sejam notificadas para terem nomes incluídos nesse banco de dados, impondo custos que, na visão do setor, poderiam tornar inviável o sistema. A competição entre os bancos é um dos pontos que estão incluídos nos esforços do Banco Central. A ideia é assegurar que os bancos deem transparência aos preços e condições de seus produtos, para permitir que o consumidor compare as ofertas disponíveis no mercado.
Como princípio, Ilan também defendeu a ampla portabilidade dos produtos e serviços, o que permitiria que clientes bancários insatisfeitos migrem para concorrentes em busca de condições mais favoráveis. Um dos pontos mais importantes que devem ser reexaminados na agenda, que vem sendo estudado pelo Banco Central pelo menos desde 1999, é a flexibilização do direcionamento obrigatório de crédito em segmentos como empréstimos rurais, imobiliários e microcrédito.
O governo chegou a criar um grupo de trabalho incluindo os ministérios de Fazenda e Agricultura e o BC para discutir alternativas para o setor rural. A conclusão, na época, foi que a economia não estava madura para esse passo ¬ para flexibilizar a regra de direcionamento seria necessário primeiro desenvolver novas opções de financiamento de mercado. No caso do crédito imobiliário, os estudos do Banco Central feitos no passado indicaram que a queda sustentada dos juros estruturais da economia são o melhor caminho para reduzir a dependência do direcionamento de recursos da caderneta de poupança.
Autoridades do governo Temer têm argumentado que, com o ajuste nas contas públicas e a adoção de reformas que aumentem a produtividade da economia, a tendência é os juros caírem de forma sustentada. A redução da chamada cunha fiscal no crédito é um ponto antigo na agenda da redução do spread e juro do crédito, sempre adiado para evitar impactos fiscais, que são ainda mais prementes no momento atual, quando o governo faz um ajuste nas suas contas públicas. De forma análoga, a redução dos depósitos compulsórios também foi colocada em segundo plano ante a prioridade do Banco Central em reduzir a taxa básica de juros, quando o cenário inflacionário é favorável.
No seminário anual do BC sobre riscos, estabilidade financeira e economia bancária, foi apresentado um estudo, ainda em fase de elaboração, de um economista da instituição, João Barata Barroso, que discute o impacto da liberação de compulsórios na expansão de crédito ("Credit Supply Responses to Reserve Requirement Shocks: Evidence from Credit Registry"). O último Relatório de Economia Bancária e Crédito, de 2014, mostra que a margem líquida dos bancos representa quase 38% do spread bancário no crédito com taxas prefixadas; a inadimplência, quase 25%; os impostos, também 25%; os custos administrativos, 9%; e os compulsórios e subsídios cruzados, 3%.
'Valorização excessiva torna real mais vulnerável'
A valorização de cerca de 20% do real frente ao dólar neste ano coloca a moeda brasileira em uma posição mais frágil do que outras divisas emergentes, com o ajuste fiscal permanecendo como dúvida, diz o estrategista-¬chefe em pesquisa de câmbio do banco suíço Julius Baer, David Kohl. O executivo, que traça um cenário menos otimista para a moeda brasileira do que boa parte de seus colegas, diz que o real hoje se encontra "sobrevalorizado" ante o dólar, o que impõe riscos de correção caso haja surpresas negativas com a política monetária americana e o ajuste fiscal no Brasil. O estrategista projeta alta de 11% do dólar até o fim do ano, para R$ 3,55, com a moeda chegando a R$ 3,90 no fim de 2017.
Valor: O real lidera as altas entre moedas emergentes neste ano, sustentado em parte pela melhora de perspectiva fiscal. Quanto mais o reequilíbrio das contas públicas pode ajudar a divisa brasileira?
David Kohl: A perspectiva fiscal para o Brasil é talvez o maior risco ao real. Embora o país tenha sido capaz de estabilizar o déficit nominal em 10% do PIB ou menos, o capital político do novo governo é muito limitado.
Valor: Uma alta de juros nos EUA está integralmente precificada no mercado financeiro?
Kohl: Achamos que um aperto monetário nos EUA não está totalmente precificado pelo mercado financeiro, e dados positivos nos EUA e comentários "hawkish" de autoridades do Fed ainda têm potencial de levar o dólar para cima. A probabilidade implícita de alta dos juros em dezembro é de 65%, e o risco de o Fed adiar a alta de juros mais uma vez ainda é real, devido ao histórico do BC americano. Além disso, há dados mais fracos vindos do país, especialmente do lado corporativo. Finalmente, o raciocínio de dólar mais forte/menor probabilidade de alta de juros continua, já que um dólar mais alto funciona como um aperto monetário.
Valor: Quais os impactos de uma alta de juros nos Estados Unidos agora para o mercado?
Kohl: Esperamos que o Fed eleve os juros apenas em março de 2017, conforme o dólar mais forte vai fazer o BC americano recuar de uma ação em dezembro ou janeiro. Os mercados financeiros, em particular as ações, devem ser capazes de lidar com o juro maior quando o fluxo de notícias corporativas melhorar. Uma recuperação do crescimento dos lucros corporativos seria importante, o que não é atualmente o caso e não é esperado para a temporada de balanços do terceiro trimestre. Alta de juros nesse ambiente seria negativo para as ações e poderia levar os "yields" dos Treasuries para baixo, movimento que vimos em dezembro passado.
Valor: O que pode acontecer aos ativos emergentes caso o Fed acelere o ritmo de alta de juros?
Kohl: Isso é improvável e aconteceria apenas se a inflação nos EUA e o crescimento dos salários começassem a superar em muito as expectativas. Um Fed mais agressivo para tentar deixar de estar atrás da curva teria repercussões seriamente negativas sobre os ativos emergentes, particularmente moedas.
Valor: Por que as moedas? Como o real se posiciona nesse contexto?
Kohl: Por causa do endividamento dos países emergentes em dólar e do menor diferencial de juros. Segundo nossos cálculos, o real pertence ao grupo das poucas moedas emergentes que estão sobrevalorizadas em relação ao dólar. E isso o torna mais vulnerável que seus pares.
Valor: Quais suas estimativas para o dólar ante o real?
Kohl: Esperamos que o dólar se mova para R$ 3,55 no fim de 2016 e R$ 3,90 ao fim de 2017.
Para Fitch, mudança em nota de risco do Brasil depende de trajetória de gastos
A alteração do rating do Brasil dependerá de mudanças que mostrem que o patamar de gastos terá uma reversão no médio prazo, afirmou o diretor da Fitch Ratings, Rafael Guedes, em evento do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri) em São Paulo. "Essa expectativa com relação ao médio prazo pode levar a agência a alterar a perspectiva do Brasil", disse Guedes, ressaltando que fala sobre medidas que podem alterar o comportamento do endividamento bruto.
Hoje, a Fitch classifica o Brasil com a nota "BB" com perspectiva negativa, o que embute a probabilidade de 50% do país ser rebaixado num período entre 12 e 24 meses. Segundo Guedes, a mudança na perspectiva está bastante ligada às reformas no campo fiscal, mas o esforço na reavaliação do país é entender qual será o impacto dessas medidas no médio prazo. Se o entendimento for de um impacto positivo em um horizonte de cinco a sete anos, a avaliação do Brasil pode ser alterada ¬ para uma perspectiva positiva, por exemplo ¬, ainda que as coisas piorem antes de melhorar. "Não se muda um país em dois anos", disse.
Para Guedes, aprovadas as reformas propostas no campo fiscal, os analistas da Fitch deverão olhar quais foram as medidas aceitas pelo Congresso, se houve ou não diluição das propostas e o impacto delas no médio prazo, sempre de olho na capacidade de pagamento do país. "É preciso entender o que as reformas significarão para o endividamento." Guedes afirmou que a agência de classificação de risco prevê que a dívida bruta com relação ao Produto Interno Bruto (PIB) fique um pouco abaixo de 80% nos próximos dois anos.
A estabilidade do endividamento bruto viria apenas em 2019, a partir de expansão de 1,2% da economia em 2017 e de 2,2% em 2018. Além disso, a expectativa é que Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que estabelece teto para os gastos esteja em funcionamento. Guedes afirmou ainda que a aprovação da PEC não é suficiente e teria de vir acompanhada da reforma da Previdência, sob pena de serem necessários outros cortes em rubricas como investimentos ou até em saúde e educação. "A mudança da nota do Brasil só depende do Brasil".
Segundo Guedes, a trajetória dos juros também é componente importante dessa equação. Ele ressaltou que a pesquisa semanal do Banco Central já mostra que o mercado leva em consideração uma autoridade monetária que passa a focar mais no centro da meta de inflação que no passado, o que considera positivo. A Fitch, disse Guedes, trabalha com queda de 0,5 ponto percentual na taxa Selic até o fim do ano.
Fundo imobiliário perde para a renda fixa indexada ao IPCA no longo prazo
Apesar de exibir uma recuperação importante em 2016, com uma alta acumulada de quase 30% até setembro, os fundos imobiliários mostram¬-se pouco atrativos em relação a classes tradicionais de renda fixa quando se leva em conta um horizonte maior de tempo, mesmo considerando a isenção fiscal sobre os rendimentos para o investidor pessoa física. É o que aponta um levantamento da gestora de patrimônio Tag Investimentos.
De acordo com o estudo, no período de janeiro de 2011 a setembro último, o Ifix ¬ índice que mede o desempenho médio de uma carteira de fundos imobiliários negociados em bolsa ¬ apresentou um ganho equivalente a cerca de 96%. Como entre 80% e 90% do retorno do Ifix são resultantes da distribuição de renda, que conta com o benefício fiscal, foi feito um ajuste de modo a incorporar o imposto na conta e permitir a comparação com os demais índices que apresentam retornos brutos.
Ainda assim, no período de análise, o Ifix ficou abaixo de seu principal concorrente, o IMA¬B, índice que acompanha uma carteira de títulos públicos indexados à inflação (NTN¬B), com uma alta de cerca de 100%. Os fundos imobiliários pertencem à classe de renda variável, uma vez que suas cotas são negociadas em bolsa, mas tem um forte componente de renda fixa. Com investimentos que geram renda para distribuição mensal na forma de dividendos, como imóveis para locação ou títulos imobiliários que pagam juros, como o CRI, esses fundos acabam sendo comparados com a renda fixa. E isso vale principalmente para a NTN¬B, uma vez que os ativos de base imobiliária têm correção pela inflação ao longo do tempo tal como o título público, que paga juro real. Para abrir mão de comprar uma NTN¬B ¬ renda fixa de fato, com alta liquidez e baixo risco ¬, espera-¬se que os fundos imobiliários tenham um desempenho superior, afirma André Leite, sócio da Tag.
Afinal, além do risco de oscilação das cotas no mercado e de liquidez, uma vez que o volume de negociação é bem inferior ao de um título público, os rendimentos distribuídos mensalmente pelas carteiras estão sujeitos à diminuição, seja por vacância em imóveis, revisão de aluguel ou inadimplência. A variação dos fundos imobiliários não só ficou abaixo do IMA¬B, como a relação entre risco e retorno do Ifix mostrou-¬se ineficiente na comparação com as demais aplicações de renda fixa, segundo o estudo da Tag, uma vez que os ganhos oferecidos foram proporcionalmente menores para o risco que correram.
No período de janeiro de 2011 a setembro último, enquanto o CDI, considerado aplicação livre de risco, variou 81,2% com uma volatilidade anualizada de 0,13%, o Ifix "ajustado" rendeu 95,9% com uma volatilidade anualizada 6,66%. Já o IMA¬B entregou 99,7% de retorno com uma volatilidade 1,1 ponto maior, de 7,77%, em termos anualizados. O levantamento mostrou, sob a análise tanto do retorno quanto da relação entre risco e retorno, que vale mais a pena ficar na renda fixa pura, tradicional, afirma Leite.
"Enquanto o juro no Brasil for alto, o mercado de fundos imobiliários não vai se desenvolver porque o investidor não precisa correr risco", afirma. Com Selic a 14,25%, reitera, a renda imobiliária perde atratividade. Não à toa que 2012, quando o juro básico recuou para a mínima histórica, de 7,25%, foi o melhor ano para o Ifix, com alta de 35%.
Vale ressaltar que o mercado imobiliário também entrou em um ciclo de contração nos últimos anos. A combinação de alta de juro com economia fraca e excesso de oferta de ativos imobiliários resultou em uma queda de preços, aumento da vacância, revisões nos valores de aluguel, entre outros, o que tirou receita dos fundos imobiliários e, consequentemente, acentuou o movimento de desvalorização dos fundos negociado em bolsa. Na visão de Leite, o grande problema do fundo imobiliário é que, como uma classe híbrida, ele não faz bem nem o papel de renda fixa nem de investimento imobiliário.
Ele chama atenção para o fato de que, por ser um mercado de baixa liquidez, as cotas muitas vezes não refletem o valor do ativo em carteira. "Os preços de mercados sofrem distorções", diz. Segundo Leite, há casos, por exemplo, em que o gestor do fundo imobiliário vende um ativo com lucro, gerando um aumento do valor patrimonial, mas, como o cotista não enxerga o ganho, o valor de mercado não acompanha. "Quando se está em um fundo com milhares de cotistas e baixa liquidez, o investidor não tem controle sobre os preços", reitera. "É o famoso ganha, mas não leva."
O sócio da Tag ressalva, contudo, que gosta da classe de ativos imobiliários, mas por ora prefere o investimento direto, a fim de evitar o risco de depreciação associada à baixa liquidez. Augusto Martins, sócio da área de investimentos imobiliários da Rio Bravo, pondera que o índice traz o desempenho médio do segmento num período marcado por alta de juros e ciclo ruim do mercado imobiliário, o que afetou tanto a renda distribuída quanto os preços das cotas no secundário. "Mas há fundos imobiliários com histórias bastante positivas", ressalta.
Ele cita o caso das carteiras que investem em agências bancárias, como o BB Progressivo ou Santander Agências, ou do próprio fundo do Shopping Pátio Higienópolis, o primeiro disponível para o público em geral. Cálculos da corretora do Citi, segundo relatório mensal de fundos imobiliários, desde o início da carteira, em dezembro de 2012, a taxa interna de retorno (TIR, que leva em conta a variação da cota em bolsa mais a distribuição de dividendos) do BB Progressivo é de 16,5% ao ano.
Nos últimos 12 meses até setembro, ficou em 47,6%. No caso do Santander Agências, desde o início do fundo, em janeiro de 2013, a TIR é de 13,4% ao ano, sendo 52,2% nos últimos 12 meses. Já o fundo do shopping Pátio Higienópolis tem taxa interna de retorno de 20,3% ao ano desde o lançamento, em dezembro de 1999, e de 41,6% nos últimos 12 meses. Nos três exemplos acima, as cotas de mercado encerraram setembro acima do valor patrimonial.
Mesmo no segmento de escritórios, que sofreu com o aumento da vacância, fundos como o BC Fund e o Kinea Renda Imobiliário, com valor de patrimônio superior a R$ 2 bilhões, registram taxas de retorno acima de dois dígitos: 13,5% e 14,4% ao ano desde que foram lançados, segundo cálculos da Citi Corretora. Já a taxa interna de retorno do CSHG Real Estate, que atua no mesmo nicho e tem patrimônio acima de R$ 1 bilhão, é de 16% ao ano desde o início.
PIB trimestral positivo pode ocorrer só em 2017
O desempenho ruim do comércio e da indústria em agosto e o resultado fraco de alguns indicadores em setembro reforçaram a avaliação de novo recuo do PIB no terceiro trimestre, apontando ainda que a recuperação da economia tende a ficar para o começo do ano que vem. Boa parte dos analistas espera que o PIB tenha uma pequena queda ou fique estável no quarto trimestre, num cenário marcado pela deterioração do mercado de trabalho, endividamento ainda alto de empresas e famílias e crédito escasso e caro.
A melhora da confiança e o ciclo de queda dos juros, que pode começar hoje, vão ajudar a atividade, mas o impacto deverá ocorrer com defasagem. O Bradesco projeta para o terceiro trimestre um recuo do PIB de 0,8% em relação ao trimestre anterior, feito o ajuste sazonal. A estimativa foi atualizada ontem, depois da divulgação da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) de agosto, que mostrou recuo de 2% das vendas no varejo ampliado (ver Nova queda de vendas no varejo indica que consumo não atingiu fundo do poço).
Superintendente¬-executivo do departamento de pesquisas e estudos econômicos do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa diz que a melhora da confiança de empresários e consumidores, iniciada há alguns meses, levou parte dos analistas a esperar uma recuperação um pouco mais rápida da atividade, o que não ainda não se materializou. "A retomada da confiança por enquanto não virou PIB", afirma ele, que projeta para o quarto trimestre uma queda de 0,1% da economia.
Para Barbosa, um ponto a ser levado em conta é que a redução do endividamento de empresas e famílias pode ser mais longa do que se esperava, o que afeta as perspectivas para o consumo e o investimento. Com peso de mais de 60% no PIB, o consumo das famílias tem registrado um desempenho pouco animador ¬o Bradesco acredita que, no terceiro trimestre, esse componente da demanda tenha recuado 0,8% em relação ao trimestre anterior.
A economista-¬chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Marzola Zara, espera um tombo do PIB próximo a 0,8% no terceiro trimestre, projetando queda adicional de 0,2% a 0,3% no quarto. Ao falar sobre o período de julho a setembro, Thaís ressalta os fatores negativos que afetam o consumo e o investimento. No primeiro caso, atrapalham muito a piora do mercado de trabalho ¬ com queda da população ocupada e da renda ¬ a restrição de crédito e o endividamento das famílias.
No segundo, há grande capacidade ociosa nas empresas, o que desestimula o investimento. Além disso, muitas companhias estão em situação financeira delicada e enfrentam um cenário em que os bancos estão muito cautelosos para emprestar dinheiro. Em agosto, a produção industrial recuou 3,8% em relação a julho, com um desempenho especialmente ruim da fabricação de veículos e alimentos.
A expectativa é de algum crescimento em setembro, mas as projeções indicam que a alta não será das mais fortes, não sendo suficiente para compensar a forte retração do mês anterior. O economista Rodrigo Nishida, da LCA Consultores, estima um crescimento de 0,4% sobre agosto, enquanto Thaís prevê aumento de 0,9%. A questão é que os indicadores disponíveis até o momento não sugerem um retomada expressiva.
O consumo de energia, por exemplo, caiu 0,6% em relação ao mês anterior. A produção de automóveis subiu 16% feito o ajuste sazonal, segundo cálculos da LCA, mas em agosto havia ocorrido uma queda de 17%. O licenciamento de veículos em setembro recuou 6,6%, enquanto o fluxo pedagiado de veículos pesados caiu 0,2%. Pelas estimativas atuais da LCA, o PIB deve recuar 0,4% no terceiro trimestre e ficar praticamente estável no quarto, subindo 0,05%.
Thaís afirma que os fatores positivos que vão ajudar a economia em 2017 agem com alguma demora. É o caso da melhora da confiança, do impacto favorável do andamento de reformas ¬ como o projeto que limita o crescimento dos gastos da União ¬ e o ciclo de redução dos juros, que pode ser iniciado hoje pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Para Barbosa, do Bradesco, os juros são a variável de ajuste caso a recuperação da economia seja lenta demais. Hoje, ele vê espaço para o Copom cortar a Selic, atualmente em 14,25% ao ano, em 1 ponto percentual neste ano, em duas doses de meio ponto.
No fim do ano que vem, a taxa deve atingir 10,25%. Se a retomada demorar, existe a possibilidade de a Selic cair para a casa de um dígito no ano que vem, afirma ele. Barbosa vê um risco de o PIB, em vez de crescer 1,5% em 2017, como prevê hoje o Bradesco, avançar algo próximo de 1%. O Itaú Unibanco, por sua vez, tem uma visão mais otimista sobre a atividade. O banco espera que o PIB cresça ainda no quarto trimestre, pelo que sugere o ajuste de estoques na indústria, segundo o economista Rodrigo Miyamoto.
"A indústria é que deve liderar o crescimento no curto prazo." Pelas projeções atuais do Itaú Unibanco, o PIB recuou 0,5% no terceiro trimestre e avançará 0,2% no quarto. Com o mau desempenho da produção industrial e do comércio em agosto, Miyamoto diz que o resultado do terceiro trimestre pode ser um pouco pior do que o previsto pelo banco. Em compensação, isso abriria espaço para uma alta mais forte do PIB nos três últimos meses do ano. O Itaú Unibanco espera crescimento de 2% em 2017.
O economista-¬chefe do BNP Paribas, Marcelo Carvalho, relativiza os dados de atividade do período de julho a setembro. "O terceiro trimestre não está com uma cara positiva, mas é importante não se prender apenas aos dados de alta frequência", diz ele. Para Carvalho, em momentos de virada da economia, é natural que haja oscilação dos dados entre o campo positivo e o negativo, mas a confiança, um importante dado antecedente da economia, continua a aumentar, tanto no caso de consumidores quanto de empresários. "Daqui a um ano, vamos olhar para esse período e ver que o terceiro trimestre foi o ponto de virada."
Nova queda de vendas no varejo indica que consumo não atingiu fundo do poço
O custo alto e as condições restritivas para a concessão de crédito, ao lado da retração da renda real e do avanço desemprego, continuam puxando para baixo os números do varejo no país. Em agosto, as vendas em volume do comércio restrito, que exclui veículos e material de construção, recuaram 0,6% sobre julho, quando a retração foi de 0,6%, na série que expurga efeitos sazonais. No conceito ampliado, que engloba os dois segmentos, o tombo foi maior (2%), o dobro da queda no mês anterior.
O cenário reforça as avaliações de que o consumo ainda não atingiu o fundo do poço nessa recessão e que ainda há espaço para piora. Economistas avaliam que as projeções preliminares de mais uma queda nas vendas ¬captada pela Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) em setembro ¬ reiteram a expectativa que o consumo dê nova contribuição negativa para o Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre. Para o ano, a expectativa é que a retração seja a mais intensa da série da PMC, que começa em 2001.
O atual recorde negativo é de 2015, recuo de 4,4%. Como nos últimos meses, os ramos com dinâmica mais dependente do crédito ¬ móveis e eletrodomésticos, vestuário e calçados ¬ têm registrado desempenho pior do que aqueles que reagem mais às oscilações dos salários ¬ supermercados e artigos de uso pessoal ¬, ressalta o economista da LCA Consultores Paulo Robilloti. Ele calcula que os ramos mais sensíveis ao crédito recuaram 2,7% em relação a julho, na série com ajuste sazonal, enquanto a retração dos mais sensíveis à renda foi de 0,35%.
Os economistas Jankiel Santos e Flávio Serrano, do banco Haitong, também chamam atenção para a diferença de desempenho entre os dois grupos e avaliam que, enquanto os segmentos ligados à renda estão aparentemente mais próximos da estabilização, a trajetória daqueles mais dependentes do crédito ainda é de queda. "As perspectivas de continuidade do ajuste no mercado de trabalho impedem qualquer otimismo exacerbado com uma reversão célere e significativa do primeiro segmento", afirmam em relatório a clientes.
O mercado de trabalho continuará sendo uma influência negativa pelo menos até o primeiro semestre de 2017, diz estrategista¬-chefe do banco Mizuho, Luciano Rostagno, quando o desemprego deve finalmente parar de subir. Ele ressalta que o desempenho bastante negativo em julho e agosto do varejo ampliado, que inclui veículos e material de construção, já representa um carregamento negativo de 2,6% no desempenho do conceito no terceiro trimestre, na comparação com o segundo trimestre. "O consumo vai continuar sendo um vetor negativo para o PIB", avalia.
As vendas em volume encolheram em seis dos oito segmentos do restrito entre julho e agosto, com destaque negativo para as categorias de móveis e eletrodomésticos, com queda de 2,1% no intervalo, e o de tecidos, vestuário e calçados, que ficou estável após recuar 5,7% em julho. "As atividades que estão ampliando a queda são aquelas com itens cujo consumo não é essencial e pode ser adiado", afirma Isabella Nunes, gerente da coordenação de serviços e comércio do IBGE.
"Junto com supermercados, esses dois segmentos representam o 'core' do varejo, aqueles que refletem melhor as condições da atividade", acrescenta Robilloti, da LCA. Foi, aliás, a alta de 0,8% nas vendas em volume dos supermercados, que respondem por quase 50% do varejo restrito, que evitou uma retração maior da PMC em agosto. "Ainda assim, a alta praticamente zera a queda do mês de julho [¬0,7%]. O varejo continua bastante deprimido". Isabella, do IBGE, lembra que a melhora recente dos indicadores de confiança do consumidor "ainda não se converteu em vendas de fato".
Nesse sentido, a MCM Consultores destaca o comportamento do item artigos farmacêuticos, de perfumaria e cosméticos como surpresa negativa. Por ser composto por bens geralmente de menor valor agregado, foi um dos últimos a sentir os efeitos da crise, pondera a equipe em relatório, mas segue em tendência de retração. A queda de 2,8% em agosto sobre julho foi a quinta consecutiva. Após o resultado de ontem, que contou com revisões para baixo dos dados de julho da PMC ¬ de ¬0,3% para ¬0,6% para o restrito e de ¬0,5% para ¬1% para o ampliado ¬, a LCA Consultores alterou a projeção para retração do varejo no ano de 5,3% para 5,7%. O banco Mizuho manteve a estimativa de queda em 5,5%.
Tarifa e capital privado vão bancar saneamento
Maior empresa de saneamento das Américas, responsável por 26,5% do investimento realizado nesse setor no país e com atendimento a 28,6 milhões de clientes, a Sabesp, a companhia de saneamento básico do Estado de São Paulo, esgotou a capacidade de se endividar. E a estatal precisa de muitos recursos para, como diz seu presidente, Jerson Kelman, seguir na trilha do processo civilizador ¬ a cobertura de água potável em São Paulo é de 100%, mas a de coleta de esgoto e a de tratamento do esgoto coletado deixam a desejar (respectivamente, 86% e 78%).
De 2007 a 2015, a Sabesp investiu R$ 21,3 bilhões. Do total, R$ 8,2 bilhões vieram do lucro retido e R$ 13,1 bilhões de empréstimos tomados junto a agências e bancos oficiais de crédito dentro e fora do país. Como observa Kelman, os R$ 8,2 bilhões se originaram do lucro passado e os R$ 13,1 bilhões ¬ os empréstimos ¬ de uma aposta no lucro futuro, uma vez que a empresa vai ter que pagar os financiamentos que contratou. Se não pode mais aumentar a dívida, de onde a Sabesp vai tirar dinheiro para investir em coleta e tratamento de esgoto? O país vive um paradoxo: apesar da crise fiscal, talvez, a mais grave de sua história, os governantes não conseguem mais criar impostos porque, desde o início do processo de estabilização da economia, em 1994, a carga tributária cresceu de forma exponencial e, mesmo assim, os governos não conseguiram equilibrar as contas.
A população simplesmente não aceita mais a criação de tributos, o que tem se refletido na baixa disposição do Congresso Nacional em fazer isso. O crescimento da despesa pública, em todos os níveis de governo, foi de tal ordem nos últimos 20 anos que, mesmo tendo avançado de forma acelerada, tornando o Brasil a nação emergente de maior carga tributária, os impostos não são suficientes para bancar os gastos. Neste momento, o setor público consolidado (União, Estados e municípios) acumula um déficit anual próximo de 10% do Produto Interno Bruto (PIB), uma estupidez ¬ agravada pela gestão Dilma Rousseff ¬ que está aumentando enormemente a dívida pública. Não virão do orçamento, pelo menos não em São Paulo, o Estado mais rico do país, os recursos necessários para investimento em saneamento básico, uma chaga nacional.
Só restam duas alternativas: a elevação da tarifa cobrada dos consumidores e as privatizações (ou parcerias¬público¬privadas, concessões etc). Os dois temas são delicados porque a esquerda brasileira, que governou o país nos últimos 13 anos, conseguiu interditar o debate de um jeito que, mesmo fora do poder, suas posições são representadas por instituições do Estado autóctones, que legislam, criam regras anacrônicas, interferem nas relações econômicas com um marcante viés antilucro e anti¬empreendedorismo.
No caso da tarifa de água e esgoto, o valor médio no Estado de São Paulo, na área sob administração da Sabesp (366 dos 645 municípios), é de R$ 40 mensais. Cerca de 300 mil famílias pagam a chamada "tarifa social": R$ 15 por mês. Existe, portanto, um subsídio cruzado, em que as tarifas mais altas asseguram que famílias de baixa renda paguem o valor mais baixo. Ainda assim, a tarifa de R$ 40 é uma pechincha ¬ as tarifas cobradas nas capitais brasileiras são incomparavelmente menores que as das capitais europeias.
"As tarifas de água no Brasil são baixas quando comparadas com a média dos países desenvolvidos porque os brasileiros pagam pelo serviço que recebem ¬ em geral, insuficiente ¬ e não pelo que gostariam de receber", explica o presidente da Sabesp. São Paulo é um cidade cara. Os serviços de manobrista dos restaurantes, por exemplo, costumam cobrar não menos que R$ 20 reais para estacionar um carro. Kelman conta que, se aumentasse a tarifa média de água e esgoto em R$ 20, a Sabesp elevaria o número de famílias atendidas pela tarifa social para 1,3 milhão.
Além disso, engordaria o caixa em R$ 1 bilhão, um montante relevante para bancar parte dos investimentos em coleta e tratamento de esgoto nas cidades litorâneas e nas favelas das grandes cidades paulistas, as duas principais vulnerabilidades na área de saneamento do Estado. O aumento da tarifa naquela magnitude esbarra na percepção errada que se faz do tema ¬ o aumento médio seria de 50%, um belo assunto para as manchetes dos jornais. Na verdade, essa percepção equivocada vem da ideia de que empresas de saneamento devem ser estatais e não precisam dar lucro.
A Sabesp é uma estatal de capital misto, com controle do governo paulista (50,3%) e ações negociadas na BM&FBovespa (29,3% do total) e na Nyse (20,4%), a bolsa de Nova York. O seu padrão de governança é o do Novo Mercado, o mais rigoroso do mercado brasileiro. Se não fosse uma empresa de capital aberto, a Sabesp não teria condições de bancar os investimentos que faz.
O lucro é necessário por três razões: para assegurar que o governo de São Paulo, premido por despesas essenciais com educação, saúde e segurança pública, não seja obrigado a pôr dinheiro na estatal; para garantir que a companhia tenha recursos para pagar as dívidas contratadas, necessárias aos investimentos; para remunerar o acionista majoritário e os privados, que assumiram o risco de investir na empresa.
Na prática, revela Kelman, a Sabesp, além do fato de ser uma empresa de capital aberto, dispõe de vários arranjos com o setor privado para viabilizar investimentos que fogem do seu alcance. É por meio de uma PPP, por exemplo, que está sendo tocada uma obra fundamental, a um custo superior a R$ 2 bilhões e inteiramente bancada por capital privado, para a segurança hídrica da região metropolitana de São Paulo. Quando ficar pronta, a obra vai fornecer água para cerca de 2 milhões de pessoas.
"No Brasil de hoje, em plena crise fiscal, é irrealista admitir que parcela significativa possa vir dos contribuintes, pelo menos no curto prazo. Ou seja, estação de tratamento de esgoto só vai se materializar se houver disponibilidade de lucro retido ou se for possível convencer o capital privado a adiantar recursos, tanto na forma de ampliação do capital quanto por novos empréstimos, os quais, por óbvio, terão que ser pagos. Em qualquer dos casos, é preciso que o lucro se materialize graças à combinação de uma boa governança, que induza ganhos de produtividade, com um ambiente legal e regulatório não hostil ao capital privado", pondera Kelman.
BNDES prevê lançar em breve financiamento para saneamento básico
A presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Maria Silvia Bastos Marques, disse que o programa de financiamento da instituição para investimento de governos estaduais em ações de saneamento básico será lançado “muito em breve”. Segundo ela, há muito interesse por parte dos Estados e o objetivo do banco é buscar a universalização dos serviços de fornecimento de água e de tratamento de esgoto.
Maria Silvia participa de encontro com empresários na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Durante sua fala, ela também reforçou que pequenas e médias empresas terão maior participação nos desembolsos do banco de fomento. Segundo a executiva, a instituição terá papel protagonista no programa de concessões em infraestrutura do governo federal, atuando como agente responsável pela contratação de consultorias “com perfil pré-¬definido para elaboração dos projetos executivos até o final da concessão.” Questionada sobre os altos valores cobrados nos spread bancários, Maria Silvia desconversou, respondendo que é preciso ter uma discussão muito ampla com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
FOLHA DE SÃO PAULO
Governo quer reduzir risco de projeto de concessão não ser concluído
O governo do presidente Michel Temer pretende reformular o programa de financiamento de concessões e privatizações com o objetivo de reduzir os riscos desses projetos começarem e não serem concluídos. De acordo com o vice-¬presidente de Gestão de Ativos de Terceiros da Caixa Econômica Federal, Eduardo Arakaki, os trabalhos terão início com os empréstimos de longo prazo já aprovados. A tendência é a eliminação dos empréstimos--ponte, de curto prazo, utilizados no começo dos trabalhos.
O executivo da CEF acredita que o novo processo vai dar mais serenidade e flexibilidade aos projetos. Até o momento, a primeira parte dos trabalhos recebia o suporte dos recursos iniciais de bancos privados e, ao mesmo tempo, se fazia a estruturação dos financiamentos de longo prazo. Ou seja, a obra começava sem um projeto financeiro final. Segundo Arakaki, os bancos privados que atuavam com empréstimos-¬ponte vão continuar participando no mercado de garantias para o financiamento de longo prazo.
“Os riscos de curto prazo serão assumidos muito provavelmente por meio de fianças bancárias. Os bancos gostaram da ideia e estão fazendo uma construção conjunta de forma que quando os projetos forem para o edital já tenham também a conjunção de todos esses fatores já definida”, explicou. A grande preferência é que os recursos sejam levantados por meio de debêntures que podem ser colocados no mercado secundário com facilidade. “Já é um instrumento de mercado que possui uma dinâmica de comercialização e terão a boa novidade para o investidor que é o benefício fiscal”, revelou.
No modelo atual, existe o projeto e a concessão e os interessados vão ao governo para enquadrar a debênture para ter o benefício. A ideia é dar a largada tendo a segurança de que uma vez que o projeto esteja no contexto do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI) ele já receba o benefício fiscal das debêntures. O executivo da CEF informou que a Caixa e o BNDES já possuem fundo de R$ 30 bilhões para usar como lastro para alavancar novos recursos por meio de compatibilização com novos instrumentos de mercado. A exigência mínima para o empreendedor ou investidor vai girar em torno de 20% do total dos investimentos.
Representar e promover o desenvolvimento da construção civil do Rio Grande do Norte com sustentabilidade e responsabilidade sócio-ambiental
O SINDUSCON/RN tem o compromisso com a satisfação do cliente - a comunidade da construção civil do Rio Grande do Norte - representada por seus associados - priorizando a transparência na sua relação com a sociedade, atendimento aos requisitos, a responsabilidade socioeconômica, a preservação do meio ambiente e a melhoria contínua.