Quinta-feira

VALOR ECONÔMICO

Sem crédito e com alta do insumo, indústria da construção pode estagnar

Sem crédito para a produção e com sucessivos aumentos dos preços dos insumos, a indústria da construção civil deve continuar estagnada neste ano. “Não vai ter crescimento”, disse o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins. Se os gargalos que impedem a expansão da atividade do setor forem superados a tempo, no melhor dos cenários, ele estima que a construção, que teve contração de 5% em 2017, pode vir a registrar um crescimento de 0,5%.

A construção civil depende de crédito para financiar os investimentos e, também, de segurança jurídica. Atualmente, segundo Martins, ela está carente dos três. Mesmo quando a economia dava sinais de crescimento, os indicadores do IBGE para o setor não eram os mais promissores.

No primeiro trimestre de 2018, enquanto o país cresceu 0,4%, a construção recuou 0,6%. A esse quadro somam-se as incertezas políticas decorrentes das eleições, desestimulando ainda mais novos investimentos. As restrições fiscais levaram a uma substancial queda dos investimentos públicos. No caso do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), substituído pelo Avançar, o recuo é gritante: dos R$ 64 bilhões executados em 2014, o orçamento para 2019 aloca somente R$ 17 bilhões.

A solução é o investimento privado, mas, para estimulá-lo, o governo teria que assegurar que vai conseguir quitar suas contas no futuro. Segundo Martins, é fundamental que o presidente que vier a ser eleito em outubro se comprometa com a aprovação da reforma da Previdência Social, primeiro passo para recuperar as finanças públicas. A ausência de segurança jurídica é mais um constrangimento que, combinado à retração dos investimentos e a escassez de crédito, estrangulam a construção civil.

O distrato, cujo projeto foi aprovado na Câmara e aguarda votação do Senado, e o aumento dos preços do asfalto são alguns dos aspectos da insegurança que dificultam a reação do setor. O asfalto, por exemplo, representa cerca de 40% do custo das obras e os reajustes mensais este ano já somam quase 50%, enquanto que os contratos da construção só podem ser reajustados uma vez por ano.

Esse é o caso, por exemplo, dos contratos firmados entre as empresas e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), para obras de manutenção e extensão de rodovias. Martins avalia que as construtoras não terão como absorver esse impacto. “A Petrobras”, disse ele, “está fechada ao diálogo”.

A greve dos caminhoneiros gerou prejuízo superior a R$ 3 bilhões, segundo cálculos da CBIC. O tabelamento do frete é um desdobramento da greve que também trará efeitos negativos para o setor. O aumento dos preços de importantes insumos da construção civil foi um dos temas de reunião entre Martins e o presidente Michel Temer na segunda-feira.

Segundo Martins, Temer disse que a equipe econômica vai avaliar a situação. Para tentar superar a restrição ao crédito, ele informou que propôs ao Banco Central (BC) uma revisão dos instrumentos que podem ser utilizados pelas instituições financeiras para atestar o cumprimento das exigibilidades de aplicação no mercado imobiliário. Pelas regras atuais, os bancos estão obrigadas a aplicar 65% dos recursos da caderneta de poupança em financiamentos habitacionais.

Dos 65%, 80% devem ser direcionados em operações do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), que opera com imóveis com valor de até R$ 750 mil. Para cumprir o percentual de 65%, as instituições financeiras podem considerar, por exemplo, créditos do Fundo de Compensação da Variação Salarial (FCVS) e Letras de Crédito Imobiliário (LCI).

Na avaliação de Martins, isso diminui a disponibilidade de recursos para o setor de habitação. Em recessão há 15 trimestres, a indústria da construção civil é um dos setores da economia que pode gerar rapidamente emprego e, portanto, renda. Para isso, no entanto, o governo deveria destravar e acelerar os projetos de concessão.

 

Indicação de alta maior do juro nos EUA pressiona real

O Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA, elevou ontem a taxa de juro americana em 0,25 ponto percentual, para a faixa entre 1,75% e 2% ao ano. A alta era esperada, mas a decisão trouxe surpresas e não foi suficiente para gerar alívio no mercado brasileiro, que continua volátil.

O dólar, que chegou a cair abaixo de R$ 3,70, subiu depois de o presidente do Fed, Jerome Powell, dizer que a atividade econômica americana cresce a uma "taxa firme", em vez de moderada, e indicar que o juro americano deverá subir quatro vezes neste ano, em vez de três.

A preocupação com o mercado internacional é um dos fatores que têm dificultado a queda do dólar no Brasil, mesmo com a enxurrada de swaps cambiais promovida pelo Banco Central. Só ontem, foram três intervenções, no total de US$ 4,5 bilhões. E o dólar resiste. O comercial fechou estável, em R$ 3,71.

Além do aperto monetário mais forte do Fed, o Banco Central Europeu (BCE) pode anunciar hoje o fim do programa de compra de títulos, que vinha ampliando a liquidez na zona do euro. "O grande problema é se a economia [global] não reagir, enquanto os BCs reduzem a liquidez", diz Drausio Giacomelli, do Deutsche Bank em Nova York.

O risco de um crescimento não sincronizado é haver uma nova onda de troca de ativos de emergentes, entre eles o Brasil, por papéis considerados mais seguros. O economista-chefe da TS Lombard nos EUA, Steven Blitz, indica outro fator de longo prazo que contribui para a resiliência da taxa de câmbio: a repatriação de lucros retidos no exterior por empresas americanas em razão da reforma tributária do governo Trump.

A nova lei inibe companhias de "inflar artificialmente os lucros de suas subsidárias no exterior [para fugir de impostos]", segundo ele. Estima-se que as corporações americanas mantenham US$ 3 trilhões no exterior. Neste ano, US$ 200 bilhões já teriam sido repatriados.

 

Fed sinaliza período mais delicado para emergentes

A surpresa com a indicação do banco central dos Estados Unidos de mais altas de juros à frente dá uma ideia do cenário cada vez mais complexo para os mercados emergentes nos próximos meses, num momento em que a redução de estímulos monetários em vigor desde a crise financeira global se torna regra ao invés de exceção. Já se esperava que o Federal Reserve (Fed, BC americano) elevasse o juro básico em 0,25 ponto percentual, para a faixa entre 1,75% ao ano e 2%.

Mas a sinalização de um total de quatro altas neste ano, com aumento da mediana das estimativas para os juros em 2018 e 2019, consolidou a ideia de que a era de dinheiro barato chegou, de fato, ao fim. O economista-chefe da Fitch, Brian Coulton, nota que o Fed retirou a orientação futura ("forward guidance") de manter as taxas abaixo dos níveis de longo prazo por algum tempo".

Assim, a sinalização de "gradualismo" na normalização foi enfraquecida. E esse quadro pode ganhar ainda mais peso caso, hoje, o Banco Central Europeu (BCE) confirme as expectativas e sinalize o "começo do fim" de seu programa de injeção de liquidez no mercado da zona do euro, via compra de títulos soberanos.

Essa expectativa esteve por trás ontem da força do euro, que foi o grande destaque entre as principais moedas, em alta de 0,45%, para acima de US$ 1,18. Com liquidez menos farta, é natural que investidores estendam o "modus operandi" atual e se tornem cada vez mais exigentes na hora de decidir onde alocar recursos. O pano de fundo para ativos de mercados em desenvolvimento pode ficar ainda mais delicado caso essa diminuição da liquidez se dê em meio a um crescimento global menos sincronizado - ou dessincronizado e, pior ainda, com ausência de crescimento.

Drausio Giacomelli, chefe de pesquisa para mercados emergentes do Deutsche Bank em Nova York, considera que o Fed, de certa forma, fez "o mais do mesmo" ao subir os juros e traçar um cenário benigno para a economia americana. "O grande problema é se a economia [global] não reagir, enquanto os BCs reduzem a liquidez. Acho que a economia europeia está enfrentando fraqueza temporária, mas reconheço que no começo do ano estávamos mais convictos desse cenário [de crescimento sincronizado]", diz.

Historicamente, os ativos de emergentes performam bem com o aumento dos diferenciais de crescimento entre esse grupo de países e as nações ricas. Apesar de os cenários-base da maioria dos economistas ainda indicarem expansão global firme, esse "spread" a favor dos emergentes deve cair em 2018 pelo segundo ano consecutivo.

Segundo estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI), o crescimento dos emergentes deve superar o de mercados maduros em 2,4 pontos percentuais em 2018. Dois anos atrás, a vantagem das nações em desenvolvimento era de 2,70 pontos. Um dos principais algozes dos emergentes é justamente um ativo cuja valorização recente tem feito saltar a volatilidade e a percepção de risco sobre os mercados em desenvolvimento.

Ontem, o dólar até caiu frente a moedas fortes, mas em relação a alguns pares emergentes se manteve firme, numa clara indicação de que o sentimento segue pressionado. O fortalecimento do dólar é negativo para essa classe de mercados porque aumenta os custos de financiamento externo e expõe as vulnerabilidades até então escondidas pela farta disposição de dinheiro barato. E com os sinais pró-aperto do Fed, as chances de a moeda americana continuar demandada se elevam, estendendo o período mais delicado aos ativos emergentes.

Dadas as turbulências em países emergentes - com destaque para Argentina, Turquia e, mais recentemente, Brasil - e também a perda de vigor da economia da zona do euro, estrategistas do Morgan Stanley passaram a enxergar menor risco de desvalorização da moeda americana.

Na mesma linha, o Bank of America Merrill Lynch (BofA) acredita que os ganhos do dólar desde meados de abril podem ser estendidos caso as previsões do Fed se confirmem e a economia americana continue forte, aumentando a divergência em relação a seus pares - e, para o BofA, isso foi provado ontem pela reação de alta da moeda logo após o anúncio da decisão do Fed. No fim do dia, os ativos demonstraram os receios com os riscos de juros mais altos.

Em Wall Street, as bolsas de valores fecharam no vermelho. O índice S&P 500 caiu 0,40%, aos 2.775,63 pontos, bem perto da mínima do dia. O Dow Jones cedeu 0,47%, aos 25.201,20 pontos, enquanto o Nasdaq Composto abriu mão da máxima recorde alcançada mais cedo e perdeu 0,11%, aos 7.695,69 pontos. Na renda fixa, os preços dos papéis também caíram, com consequente alta dos rendimentos.

A taxa do Treasury de dez anos, referência para o mercado global de dívida, fechou em alta pela quarta sessão consecutiva, a 2,979%, ante 2,959% do encerramento anterior. O "yield" do papel de dois anos, mais sensível à política monetária do Fed, subiu a 2,578%, de 2,539%.

 

Quando o dólar levaria o BC a subir os juros?

O Banco Central manteve a indicação de que pretende deixar os juros em 6,5% ao ano em reunião de seu Comitê de Política Monetária (Copom) na semana que vem, mas avisou que poderá mudar de ideia se a situação piorar até lá. Com o dólar a R$ 3,71, como fechou ontem, poucos acreditam que será preciso subir os juros. Mas ninguém sabe ao certo onde a moeda americana vai parar. Quando e como a alta do dólar poderia obrigar o BC a agir? Analistas econômicos que fizeram essa pergunta a autoridades do Banco Central nas últimas semanas sairiam sem respostas precisas. Mais do que um ou outro dado isolado, vai depender do julgamento do Copom.

Ajuda, entretanto, entender a lógica do colegiado. A política monetária continuará a estimular a economia para levar a inflação à meta, de 4,25%, em 2019. Se houver ameaças às metas, a história muda. Pela mais recente projeção do BC, que usa um dólar de R$ 3,60, a inflação ficará em torno de 4% em 2019. Com dólar mais alto, a inflação projetada tende a subir. Os economistas do mercado vem tentando entender o quanto, exatamente, a alta do dólar afeta as projeções oficiais de inflação.

Em março, o BC divulgou um box no seu Relatório de Inflação que mostra que, a julgar apenas pelo que ocorreu historicamente, o repasse deveria ser de 9%. Ou seja, uma alta de 10% no câmbio provocaria um acréscimo de 0,9 ponto percentual na inflação. Esse coeficiente já foi mais baixo no passado, mas subiu devido à política de preços da Petrobras, que vincula os reajustes à variação do dólar.

O BC, por outro lado, tem lembrado que, nas condições econômicas atuais, o repasse tende a ser menor, sem especificar quanto. A paralisação recente dos caminhoneiros apoia essa visão. O setor sofreu um choque de custos com a alta do preço do diesel, mas não foi capaz de repassá-lo aos fretes, a ponto de fazer uma greve que parou o país. Muitos outros setores estão em situação semelhante, com enorme capacidade ociosa.

Nesta semana, economistas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV) debateram as implicações da alta do dólar para a política monetária. Um deles, Lívio Ribeiro, calculou o repasse cambial implícito nas projeções de inflação do BC. Segundo ele, o BC trabalha com um coeficiente de repasse de 6,8% na inflação deste ano e de 1,7% na inflação do ano que vem.

O repasse é mais forte nos preços administrados, com coeficiente de 10,1% para 2018 e de 3,3% para 2019, e mais ameno nos preços livres, com respectivamente 5,7% e 1,1%. Ribeiro também fez suas próprias simulações sobre o quanto seria, de fato, o repasse cambial com o alto grau de ociosidade da economia atual, usando um modelo do Ibre-FGV. Chegou a 4% para os preços livres, abaixo do coeficiente estimado para o BC. "O Banco Central está sendo conservador", disse Ribeiro.

Seria preciso mais do que uma alta temporária das projeções do BC, porém, para o Copom subir os juros. A alta do dólar representa uma mudança de preços relativos, que faz com que produtos importados e exportados subam em relação, por exemplo, a preços de serviços, que ficam estáveis. Em tese, os efeitos desses ajustes de preços relativos na inflação desaparecem com o tempo.

O box do Relatório de Inflação mostra que o impacto máximo de um choque do dólar ocorre em um ano; no ano seguinte, começa a se dissipar, e a inflação volta ao nível anterior em dois anos. O Copom tem comunicado que não irá reagir se o choque seguir o roteiro acima - que é conhecido como efeito primário na inflação. Mas poderá ter que apertar se o choque se propagar para outros preços e se perpetuar, o que é o chamado de efeito secundário. "Com a recessão, é provável que o a alta do dólar não chegue aos preços de serviços, e o BC não teria que subir os juros", afirma o economista Samuel Pessoa, do Ibre-FGV. "O intervalo de tolerância da meta serve para isso", afirma Braulio Borges, da consultoria LCA e do Ibre-FGV.

A estratégia acima, porém, tem limites. O BC acomodaria um choque, por exemplo, que leve a inflação acima do intervalo de tolerância da meta? Pelos cálculos de Ribeiro, seria preciso um dólar para lá de R$ 7 para romper o teto da meta de 2019, que é de 5,75%. "Se as projeções de inflação chegarem a 5,75%, e o Copom já terá que ter subido o juro bem antes", afirma o economista José Julio Senna.

Uma questão prática é como o Banco Central vai discriminar os efeitos primários e os efeitos secundários. O BC vem dizendo que, em tese, ocorrem efeitos secundários se subirem as expectativas de inflação dois anos adiante - uma vez que, num horizonte tão distante, o efeito primário da alta do dólar teria que ter se dissipado. Por isso, o BC promete acompanhar de perto as expectativas de inflação de prazos mais longos.

Um problema é que os analistas econômicos não costumam gastar muita energia com projeções com tanta antecedência, por isso os dados do boletim Focus podem ser um mau termômetro. Uma alternativa é observar a inflação implicita nos títulos públicos, que até agora têm se mantido mais ou menos comportadas.

O BC disse que também vai acompanhar de perto os núcleos de inflação, que, em tese, não deveriam se acelerar se a inflação refletir apenas efeitos primários do dólar. Se os núcleos divulgados vierem comportados, será um bom sinal, mas o BC deverá também antecipar como os núcleos vão se comportar no futuro.

Silvia Matos, também do Ibre-FGV, lembra que no questionário pré-Copom, enviado antes das reuniões, a autoridade monetária faz uma série de perguntas qualitativas aos analistas privados que permitem acompanhar a leitura do mercado sobre a evolução dos núcleos - incluindo, por exemplo, a avaliação sobre os preços de alimentos, bens industriais e serviços. "Seria interessante o Banco Central pedir no Focus projeções de mercado para o núcleo de inflação", afirma ela.

Essas informações não vão dar certeza sobre quando a alta de juros poderá ocorrer, pois isso depende da avaliação dos subjetiva dos membros do Copom. Mas permitem ao mercado pesar as chances de um aperto monetário.

 

O ESTADO DE SÃO PAULO

‘Guerra comercial é pior que juros altos’, diz professor de economia

Não houve grandes surpresas na decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de elevar a taxa de juros nos EUA e indicar que fará um total de quatro ajustes neste ano, avaliou o economista brasileiro José Alexandre Scheinkman, professor das universidades de Princeton e Columbia. Em sua opinião, essa trajetória só será alterada na hipótese de superaquecimento da economia americana.

Segundo ele, o Fed navega num cenário difícil, no qual o estímulo fiscal impulsiona o crescimento, enquanto o risco de uma guerra fiscal o ameaça. “Enquanto não houver pressão maior, o aumento da taxa de juros nos EUA não vai causar um grande desconforto no mundo”, afirmou. A seguir, trechos da entrevista.

Qual o impacto da decisão do Fed para os emergentes e o Brasil?

A primeira coisa que se espera é um certo fortalecimento do dólar. Mas essa alta já era esperada e não está claro se veremos um grande fortalecimento da moeda com a sua confirmação. Talvez a confirmação de que haverá quatro altas neste ano tenha maior efeito, mas não é um evento inesperado. Se o dólar se fortalecer, isso pode ser um problema para países que exportam commodities, como o Brasil e os emergentes em geral. A alta do dólar é em geral acompanhada da queda do preço de commodities. Mas o risco para os emergentes em geral é uma guerra comercial, que teria impacto muito pior. Isso tudo é um pequeno barulho em torno de algo que pode ser muito maior, que é a possibilidade de Trump deflagrar uma guerra comercial.

O Fed enfrenta um cenário no qual de um lado há o estímulo fiscal, que pode aquecer a economia, e de outro, o risco de uma guerra comercial, que pode reduzir o crescimento. Quão difícil é navegar nesse cenário?

O trabalho do Fed é sempre complicado, mas está particularmente difícil por fenômenos que vão em direções opostas. Era mais fácil o trabalho nos últimos anos do governo Obama quando não havia ameaça de guerra comercial nem de aumento do déficit fiscal. O estímulo fiscal já está aí. O corte de impostos e o aumento de despesas já aconteceram. O outro ainda é uma ameaça. O Trump fala muita coisa e muitas vezes fala o contrário no dia seguinte. É difícil dizer qual o risco real de uma guerra comercial. Mas só a existência do risco já é ruim. O Jerome Powell (presidente do Fed) falou que há empresários adiando investimentos e contratações por estarem com receio dos efeitos de uma guerra comercial. Se você quer começar um projeto que depende de importações é mais prudente adiá-lo. E mesmo projetos de exportações, porque em uma guerra comercial você importa menos e exporta menos.

Por que para os emergentes é pior uma guerra comercial do que a alta dos juros nos EUA?

Para o Brasil uma guerra comercial não é o pior. O Brasil é uma economia relativamente fechada, que se beneficia pouco do comércio internacional e é menos afetado que um país mais aberto. Mas para a retomada do crescimento acontecer, vai depender de investimentos externos e, nos últimos anos, muitos têm sido guiados pelo processo de integração. Você monta um carro no México com partes que vêm da Ásia, da Europa, do Brasil. Esse processo vai sofrer com a ameaça de uma guerra comercial, já que os investimentos podem vir mais lentamente, até as pessoas entenderem o que está acontecendo.

Os maiores riscos para o Brasil são externos ou domésticos?

Como sempre, os problemas do Brasil são mais domésticos. Em primeiro plano, a questão mais urgente é a fiscal. Há muitos Estados falidos e a situação fiscal do governo federal está mais difícil a cada dia. A greve dos caminhoneiros trouxe ainda mais despesas.

Qual o patamar de juros nos EUA que tornaria a situação dos emergentes realmente difícil?

Se o estímulo fiscal exigir altas ainda maiores, pode ser um problema. Mas acho que o Fed tem ideia do impacto do estímulo fiscal e avalia que os quatro aumentos previstos para este ano são suficientes para deixar a economia em equilíbrio. Enquanto não houver pressão maior, o aumento dos juros nos EUA não causará um grande desconforto no mundo.

Há risco de superaquecimento da economia americana?

O principal problema é o estímulo fiscal dado por Trump. Apesar de toda a retórica republicana, eles aumentaram despesas e cortaram impostos e o déficit aumentou muito. O Japão teve déficits enormes por muitos anos e não houve aumento da inflação. Essas economias passaram por crises financeiras e estão em uma situação meio nova. É difícil saber. Se eles tivessem feito isso nos anos 90 seria mais fácil dizer que era um aumento muito grande do déficit e que o Fed teria de aumentar muito a taxa de juros para evitar inflação. No Japão, depois da crise de 90, isso não aconteceu. É difícil fazer uma previsão segura. As economias que passaram por crises financeiras profundas parecem se comportar de maneira diferente. Mas claro que a economia americana está em situação diferente da do Japão, que crescia pouco. Os EUA crescem pouco em relação ao período pré-crise, mas é um crescimento razoável para uma economia avançar. É um risco, um risco grande, mas não posso dizer que é algo que vai acontecer. Eu não faço previsão em economia, porque elas estão sempre erradas.

 

Decisão do Fed afeta câmbio e inflação

Taxas mais altas nos Estados Unidos têm o potencial de atrair à maior economia do mundo recursos que antes estavam aplicados em outros mercados, como o Brasil. O resultado é uma desvalorização da moeda brasileira – potencializada por um cenário eleitoral completamente incerto. Desde janeiro, o dólar teve alta de 12% em relação ao real.

Um dos primeiros impactos da decisão do Fed na economia brasileira pode ser uma pressão inflacionária, já que muitos dos insumos do agronegócio e da indústria são importados. Os preços podem subir para o consumidor. As empresas brasileiras também passam a ter mais dificuldades para fazer emissões no exterior e levantar recursos, uma vez que os investidores vão exigir uma remuneração maior do que conseguiriam obter aplicando em títulos do tesouro americano. “O custo do dinheiro fica mais caro e as companhias também podem repassar isso para os preços”, diz o economista Alexandre Cabral. Em um segundo momento, a alta da inflação pode levar o Banco Central a elevar a Selic, a taxa básica de juros da economia brasileira.

“O brasileiro, o turco e o argentino. Todo o mundo emergente vai ter de conviver com uma moeda mais fraca”, diz Fabio Silveira, da MacroSector. “Esse movimento dos juros americanos pressiona o dólar e a inflação aqui, que já vem subindo no atacado, impactada pelos preços de combustíveis e commodities. Eu não me surpreenderia se na próxima reunião do Copom, a Selic voltar a subir.”

Ele lembra que, apesar de o dólar mais alto favorecer os exportadores brasileiros, a volatilidade da moeda prejudica o planejamento de contratos. Silveira projeta que o dólar feche 2018 perto de R$ 3,70, mas a moeda poderia bater em R$ 4 até o fim do ano, com o agravamento de complicadores internos, segundo os analistas.

O aumento desta quarta-feira pelo Fed foi o sétimo do atual ciclo de aperto monetário do banco central americano. Antes do comunicado, o mercado estava dividido tentando antecipar se seriam três ou quatro altas ao todo este ano, em meio a sinais de melhor desempenho econômico dos EUA. Em março, os juros já tinham subido 0,25 ponto porcentual, para o intervalo entre 1,5% e 1,75%.

Para segurar altas mais agressivas no câmbio, o Banco Central entrou em ação. Logo após o comunicado do Fed, a autoridade brasileira anunciou seu terceiro leilão do dia de swap cambial tradicional – equivalente à venda futura de dólares – injetando apenas nesta última sessão US$ 4,5 bilhões.

Essa atuação, somada à perda de força do dólar ante outras divisas nesta quarta, foi fundamental para conter a valorização da moeda no mercado doméstico.

Em meio à volatilidade, o operador de câmbio da Spinelli, José Carlos Amado, avalia que o BC conseguiu “suavizar” o mercado. A moeda chegou a encostar nos R$ 3,73 no pregão desta quarta. Assim como o real, outras moedas emergentes têm enfrentado uma forte desvalorização, como o peso argentino e a lira turca.

Surpresa. Especialista em política monetária do Centro Mercatus da Universidade George Mason, David Beckworth disse que uma das surpresas da reunião do Fed foi a indicação de que haverá tolerância a uma inflação pouco acima do alvo de 2,0%. As projeções mostram expectativa de alta de preços de 2% a 2,2% em 2019 e 2020. As projeções indicam que o Fed não ficará desconfortável com um pouco de inflação.” Segundo ele, isso indica uma política menos agressiva de ajuste dos juros, quando se considera só o mandato de controle de preços. O outro é a busca do pleno emprego.

Ainda assim, o aperto monetário nos EUA terá impacto sobre os países emergentes, ressaltou Beckworth.

 

 

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