Segunda-feira

VALOR ECONÔMICO

Mercado vê crescimento menor da economia e mais inflação, mostra Focus

A mediana das projeções do mercado para o crescimento da economia em 2018 caiu pela sétima semana consecutiva, agora de 1,94% para 1,76%, segundo a pesquisa semanal Focus, do Banco Central (BC), divulgada nesta segunda-feira. Em seu auge no ano, no fim de fevereiro, as expectativas do mercado era de um avanço de 2,92% no Produto Interno Bruto (PIB) neste ano.

Para 2019, também houve redução nas previsões de expansão da economia, de 2,80% para 2,70%. No fim de maio, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que a economia brasileira cresceu 0,4% no primeiro trimestre, contra os três últimos meses de 2017.

Embora o número tenha vindo pouco acima das estimativas do mercado — os economistas consultados pelo Valor Data, por exemplo, tinham uma expectativa média de um crescimento de 0,3% —, a diferença parece ser insuficiente para compensar as prováveis perdas provocadas pelos dez dias de paralisação dos caminhoneiros no desempenho da economia no segundo trimestre.

Isso, somado à desaceleração do investimento e ao fraco desempenho da indústria e dos serviços no começo do ano, vem provocando a revisão para baixo das estimativas para o PIB por parte de diversas casas de análise e instituições financeiras, de uma faixa de 0,8% para próximo de zero no segundo trimestre, e de mais de 2% para cerca de 1,5% em 2018. Inflação

A mediana das projeções dos economistas do mercado para a inflação oficial em 2018 teve sua quinta alta consecutiva, de 3,82% para 3,88%. Em 12 meses, as expectativas para o aumento do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) saiu de 4,49% para 4,39%. No caso de 2019, a estimativa foi revisada para cima pela terceira semana seguida, de 4,07% para 4,10%.

Entre os economistas que mais acertam as previsões, os chamados Top 5, de médio prazo, a mediana para a inflação de 2018 passou de 3,63% para 3,83% e se manteve em 4% para 2019. As estimativas para a taxa básica de juros, Selic, não sofreram alterações: ficaram em 6,50% para o fim de 2018 e em 8% no encerramento de 2019 tanto entre os economistas em geral quanto entre os Top 5 de médio prazo.

Câmbio

Após uma semana de trégua, os economistas do mercado voltaram a elevar suas apostas para o dólar no fim de 2018, de R$ 3,50 para R$ 3,63. Para o encerramento de 2019, a cotação saiu de R$ 3,50 para R$ 3,60. Entre os economistas Top 5, de médio prazo, as apostas passaram de R$ 3,47 para R$ 3,50 no fim de 2018 e foram de R$ 3,55 para R$ 3,63 no próximo ano

 

Mercado espera decisão de juros enquanto BC e Tesouro tentam conter tensão crescente

O nível de ansiedade no mercado brasileiro pode até ter diminuído na semana passada, depois que o Banco Central e o Tesouro Nacional reforçaram suas atuações para conter a contínua pressão sobre os ativos. No entanto, a perspectiva para os próximos dias está longe de ser de tranquilidade e novas possíveis tensões aguardam os investidores nesta semana. Um grande teste para o comportamento dos ativos é esperado já na quarta-feira, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anuncia sua decisão sobre a taxa básica de juros.

A reunião do BC ocorre num momento de pressão sobre os emergentes, além da elevada sensibilidade ao risco político local. Não é à toa que o BC deve ofertar cerca de US$ 10 bilhões em contratos de swap cambial até a sexta-feira para acalmar o nervosismo. O volume sinalizado pela autarquia pode ser menor que o programa de US$ 24,5 bilhões concluído em seis dias úteis, mas a promessa é que pode ser ajustado conforme a necessidade. O compromisso da autarquia em continuar com suas intervenções explicou, em boa parte, o alívio do dólar na última sexta-feira.

A divisa americana caiu 2,16%, aos R$ 3,7289, depois de bater R$ 3,82 na sessão anterior, quando ainda prevalecia a dúvida sobre os próximos passos do BC. Na semana, teve alta de apenas 0,58%. Para os especialistas do Goldman Sachs, a intervenção no câmbio se tornou a primeira linha de defesa do BC contra a instabilidade, mais que o uso da política monetária. "Este é um dos motivos pelos quais os participantes do mercado podem estar ansiosos em testar a moeda, especialmente devido ao ambiente externo desafiador e à frente do que continua sendo uma temporada de eleição altamente incerta." Ainda assim, eles não descartam totalmente um aumento de juros pelo BC, especialmente se o real apresentar desempenho mais fraco que seus pares.

O que se ouve, entretanto, é que um aumento "tímido" de juros não resolveria o problema e poderia até gerar mais instabilidade no mercado. Esse é o alerta do sócio e gestor da Garde, Marcelo Giufrida, que não descarta nenhum cenário - seja de alta ou manutenção da Selic - dado o momento de elevada incerteza.

Para o especialista, uma alta pequena da Selic pode aumentar a percepção de que a política monetária acompanha o comportamento do dólar. "Pode ficar a leitura de que, a cada alta do dólar, a taxa de juros teria de subir também", acrescenta o gestor.

Para analistas, o BC ainda conta com espaço de manobra para agir com swaps, a despeito de seu fardo fiscal. De acordo com estudo do Santander, o índice de cobertura de passivos externos do setor privado pelo setor público ainda está abaixo da média histórica, de 16%.

Caso o BC queira dar esse nível de proteção aos agentes financeiros, poderia vender mais US$ 16 bilhões em swaps, elevando o estoque desses contratos para US$ 78,4 bilhões. E, mesmo assim, o setor público continuaria credor líquido externo em US$ 169 bilhões, que é o saldo das reservas cambiais descontados passivos como dívida soberana e swaps Para repetir o índice de proteção da crise de 2015 (25%), o BC poderia ofertar US$ 57 bilhões e o setor público ainda seria credor líquido em US$ 122 bilhões.

Para a economista Tatiana Pinheiro, do Santander, o volume não deve passar muito mais disso mesmo com os riscos à frente. "Ainda tem muita munição mesmo sem deixar de ser credor líquido." O tamanho do desafio fica evidente em vários pontos no mercado. Os juros longos tiveram firme alta a despeito das 14 sessões de atuação do Tesouro até agora. Nesse período, o DI de janeiro de 2027 saiu de 11,21% para os atuais 12,47%.

O Tesouro também reforçou a atuação e fará operações diárias de compra e venda de diferentes títulos públicos nos próximos dias. A piora na bolsa de valores também não deixa dúvidas sobre o ambiente mais tenso. O Ibovespa registrou baixa de 2,99% na semana e já acumula queda de 7,81% no mês, aos 70.757 pontos.

"O que enxergamos é um descrédito na política econômica no Brasil e uma intensificação das incertezas sobre o que vai acontecer daqui para frente. Vimos o quanto o atual governo está fragilizado e até a eleição temos uma falta de clareza grande", afirma Ari Santos, gerente da mesa de operações da H. Commcor.

 

Pior da crise ficou para trás, mas a recuperação do setor ainda é incerta

A construção entrou no segundo trimestre com algum alívio após a crise aguda dos últimos quatro anos. Dados melhores de confiança, emprego e investimento confirmam que o pior ficou para trás. A dúvida entre os analistas é se, em meio à percepção crescente de atividade econômica mais fraca, a trajetória de recuperação do setor vai ter força para continuar. Levantamento do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP) em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV), obtido com exclusividade pelo Valor, dá a dimensão desse movimento.

De abril do ano passado ao mesmo mês deste ano, o setor reduziu o saldo negativo de empregos formais de 431,5 mil vagas para 58,1 mil, considerando o acumulado em 12 meses. Em termos de estoque, foi retomado o nível de 2009, com 2,3 milhões de empregos, mas ainda abaixo do pico de 3,6 milhões registrado no segundo semestre de 2014. Mesmo nos dados mensais, o cenário é de abrandamento.

De janeiro a abril, foram abertas 40,8 mil vagas no setor, contra fechamento de 26,2 mil em igual período do ano passado, considerando os dados sem ajuste. Quando é aplicada a dessazonalização, há saldo negativo de 15,6 mil empregos no período, ou seja, contratou-se menos do que é o padrão para os quatro primeiros meses do ano. Um ano antes, porém, o rombo era de 84,8 mil postos de trabalho. "Temos muitos dados sinalizando a recuperação não só pela redução do total de demitidos, mas também pelos indicadores antecedentes, como as sondagens, que mostram claramente uma melhora da percepção dos empresários", diz a coordenadora de projetos da construção da Fundação Getulio Vargas, Ana Maria Castelo.

A pesquisadora é a responsável pelo levantamento do Sinduscon-SP, que utiliza microdados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) para formar um cenário mais amplo da construção, incluindo obras residenciais, comerciais e de infraestrutura, além de segmentos considerados antecedentes, como projetos de arquitetura e engenharia.

Ana Maria destaca o resultado do índice de confiança da construção, também da FGV, cujo subindicador do segmento residencial avançou um ponto em maio ante abril e 10,2 pontos na comparação interanual, acima da alta de 8,3 pontos do dado geral. Em média, o indicador de confiança dos empresários tem apresentado desempenho irregular na análise mensal, mas está hoje cerca de dez pontos acima do nível registrado há um ano. "O que já aconteceu neste início de ano deve garantir alguma melhora no segmento de edificações residenciais. Daí para frente, o desempenho vai depender do que vai acontecer com a economia e o sentimento de incerteza com o cenário eleitoral", diz a pesquisadora.

De março para abril, por exemplo, das 17.030 vagas criadas na construção, na série sem ajuste, praticamente dois terços ficaram com os subsegmentos imobiliário (que engloba edificações) e de infraestrutura (obras em estradas e de saneamento). "Como estamos em ano eleitoral, existe uma série de obras públicas que podem estar ajudando a manter o nível de emprego", diz o presidente do Sinduscon-SP, José Romeu Ferraz Neto. No acumulado em 12 meses, porém, apenas o segmento de projetos de engenharia e arquitetura mantém o saldo positivo, com criação de 6,4 mil empregos. "Existe uma movimentação nesta parte de projetos, mas isso não necessariamente vira atividade no futuro", diz Ferraz Neto.

Os investimentos também tiveram um respiro após anos no negativo. Levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra alta de 1,1% na formação bruta de capital fixo (FBCF) da construção civil em abril, colaborando para alta de 0,9% no acumulado do ano. Em 12 meses, ainda há recuo de 2,3%, mas o resultado era negativo em 8,6% um ano atrás. "O cenário com base na trajetória do indicador de investimento é de recuperação muito lenta e gradual. O setor de construção foi um dos mais afetados pela recessão, que envolve uma necessidade de financiamento tanto pela oferta como pela demanda", afirma Leonardo Carvalho, técnico de pesquisa e economista do Ipea.

Para Carvalho, porém, a incerteza sobre a eleição presidencial e o setor externo mais negativo, com a recente pressão na taxa de câmbio, jogam contra a recuperação do setor. "Não vejo uma melhora muito acima do que se viu até agora", diz. A paralisação dos caminhoneiros não deve ter impacto relevante na construção, um setor de ciclo longo de produção, avalia Ana Maria.

Contudo, se a contaminação das expectativas se prolongar, levando a recuperação ainda mais lenta da atividade, a retomada do setor pode ficar para depois. Também há indicações positivas em dados de comercialização e novos empreendimentos. No primeiro trimestre, os lançamentos e vendas de imóveis subiram 7,4% e 14,2%, respectivamente, ante igual período do ano passado, segundo a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), que abriga 20 incorporadoras.

O destaque é o programa Minha Casa, Minha Vida, com alta de 22,9% nas vendas nas faixas 2 e 3, enquanto o segmento de médio e alto padrão mostrou queda de 1,7%. "Nas faixas 2,3 e 4 do Minha Casa, Minha Vida, as empresas estão acreditando que podem entrar e é um canal onde podem conseguir terreno barato. Agora, no médio e alto padrão, só têm saído empreendimentos de nicho, como os de altíssimo padrão ou para estudantes. Para a classe média típica, nada", diz João da Rocha Lima Jr., coordenador do Núcleo de Real Estate da USP e sócio da consultoria Unitas. A forte crise do setor também deixou cicatrizes nas principais construtoras e incorporadoras.

Dados da Abrainc mostram que os distratos representaram 31,6% das vendas no primeiro trimestre, queda de 11,3 pontos ante 2017. Entre os imóveis de alto padrão, porém, a proporção ainda é elevada, de 37,4%, contra 16,6% no Minha Casa, Minha Vida. "Algumas empresas se recuperaram relativamente dos distratos, mas não têm a mesma capacidade de investir como antes", destaca Rocha Lima.

 

BC busca tirar aspecto 'passional' ao avaliar spread

O Relatório de Economia Bancária (REB) divulgado na semana passada pelo Banco Central (BC) bate de frente com algumas posturas dogmáticas quando se discute origens e causas do elevado custo do crédito no país. Primeiro, mostra que o lucro dos bancos é menos importante do que as despesas administrativas para explicar a diferença entre o preço do dinheiro para os bancos e para o tomador final, o famigerado spread.

E sugere que a concentração bancária, apesar de elevada no Brasil, perde em relevância para a competição na determinação do custo do crédito. A conhecida frase: "para todo problema complexo existe sempre uma solução simples, elegante e completamente errada" se encaixa bem na situação. A solução simples aqui é manter a cantilena de que são poucos e gananciosos bancos que dominam o mercado, e que o regulador e o governo não teriam interesse ou "vontade política" de pôr um fim a esse desmando.

O passado recente deu mostras da capacidade destruidora da vontade política, que pode até ser bem intencionada, mas despreocupada com custos, pois eles são socializados pelo impessoal Tesouro Nacional. Os estudos feitos pelo BC no REB tentam, justamente, mostrar a complexidade do assunto da forma mais racional e objetiva possível.

Não se tenta justificar posições vigentes, mas sim racionalizar o debate sobre o diagnóstico do quadro atual para sugerir medidas que tenham efetividade e possam ser mensuradas para posterior avaliação. Ao mudar a metodologia e mostrar que o peso dos custos é maior que a participação dos lucros na determinação do spread, os dados do BC evidenciaram que as questões que envolvem o chamado "custo Brasil", que deixam tudo mais caro por aqui, também se aplicam ao setor financeiro.

O custo do crédito aqui é cerca de quatro a cinco vezes maior do que em outros países, da mesma forma que o preço de um carro é três ou quatro vezes maior que no exterior. O que explica as distorções são assuntos que competem não apenas ao BC, como tributação, gastos com segurança (que são definidos por cada município no caso das agências bancárias), infraestrutura, insegurança jurídica, baixa recuperação de crédito, questões trabalhistas, entre outros.

Sobre os custos trabalhistas no setor financeiro, por exemplo, o Brasil virou ponto fora da curva dentro do Comitê Bancário de Basileia, por ser o único a provisionar integralmente passivos trabalhistas, tratando o tema não como perda possível, mas como perda incorrida. Ou seja, questões trabalhistas não são um risco, mas uma certeza de perda. Outro dado do REB mostra a complexidade da questão envolvendo a composição dos lucros no setor. O relatório apresenta uma divisão do Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) por segmento de atividade.

Se o spread nas operações de crédito sozinho explicasse o lucro das instituições, os bancos que operam primordialmente na concessão de crédito teriam os retornos mais elevados. O fato é que esse segmento de bancos teve um ROE de 8,5% em 2017, abaixo da média do setor de 13,4%, e igual à aplicação em títulos do Tesouro, que tem risco teoricamente zero.

Já o grupo de bancos tidos como complexos mostram ROE de 15,1%, sugerindo que o spread de crédito é apenas uma fatia do resultado, que é construído com atuação em outros segmentos, como tesouraria, seguros, previdência e mercado de capitais, que apresentam retorno acima da média.

Esse é um assunto que pode vir a ser explorado em outras edições, assim como a fatia de tarifas. Na questão da competição versus concentração, o BC buscou fazer o controle das variáveis que não fossem concentração de forma homogênea, por isso a escolha pela comparação com a Europa, onde o spread se mostra baixo apesar de existirem mercados concentrados e outros mais pulverizados.

Mas a comparação também poderia ser feita com outros mercados, como Canadá e Austrália, que são bastante concentrados, ou com os Estados Unidos, mercado pulverizado, onde os spreads também são considerados baixos. Os estudos feitos mostram que o mercado brasileiro teve competição crescente nos últimos anos, mas o BC afirma que ainda não está satisfeito com o quadro atual.

Por isso vem adotando ações que buscam fomentar a competição, tornando o tomador de crédito mais sensível ao preço. É nesse ponto que atuam medidas como portabilidade, cadastro positivo, duplicata eletrônica, registro de recebíveis e estímulo às fintechs (empresas de tecnologia financeira). São ações que dão mais alternativas para o tomador de crédito e colocam os agentes a competir pela decisão dele. O REB convida para um debate mais racional e baseado em evidências.

Algo pouco usual por aqui quando se trata de temas complexos e com "inimigos" facilmente apontáveis. Um bom exemplo foi a pesquisa da Fenaprevi que mostrou que para 75% da população o déficit da Previdência é culpa da corrupção. Outra afirmação descolada da realidade é a de que gastamos metade do orçamento com pagamento de juro da dívida. A máxima "em Deus nós acreditados, todos os demais devem apresentar dados", ilustra bem o tipo de debate que o BC está querendo levantar.

 

Indústria e comércio sinalizam retomada lenta depois da greve

A retomada do setor produtivo depois do fim da paralisação dos caminhoneiros está mais lenta que o previsto. Dados preliminares do Estado de São Paulo sinalizam atividade ainda fraca da indústria e do comércio na primeira quinzena de junho, indicativo que a volta à normalidade ainda é gradual. Para entidades setoriais e analistas, a recuperação está sendo travada pelos debates em torno do tabelamento do preço do frete e pela diminuição da confiança dos consumidores e empresários.

O cenário só reforça o que ficou consolidado desde a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, no fim de maio: o ritmo da atividade arrefeceu e fica cada vez mais provável um crescimento entre 1% e 2% neste ano. Abaixo da expectativa e pouca coisa melhor que em 2017. Levantamento da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, obtido com exclusividade pelo Valor, mostra que as vendas da indústria paulista caíram 13%, ou R$ 635,5 milhões, nas duas semanas seguintes ao fim da greve.

O estudo usa as notas fiscais eletrônicas e compara o faturamento das empresas com os mesmos dias úteis do ano anterior. A perda de fôlego também é sentida no varejo paulista, cujo ritmo de compra de bens, um indicador da atividade esperada para o setor, está 4,4% abaixo ante igual período de 2017. A fraqueza no comércio tira encomendas da indústria. "Maio foi um desastre e deixa uma memória. Você tem estoques que vão se acumulando por causa da frustração de vendas", diz André Grotti, assessor de política tributária da Secretaria da Fazenda de São Paulo.

A paralisia nos negócios também afeta o nível esperado de arrecadação. Até o dia 15 de junho, houve uma frustração de R$ 80 milhões no recolhimento do Imposto sobre Circulação de Bens e Serviços (ICMS) de São Paulo. A cifra ainda pode aumentar: as principais datas de pagamento de impostos, em especial o dia 20, ainda não ocorreram. "Não dá para dizer que o faturamento e a arrecadação vão fechar o mês em queda ou que essa será trajetória até o fim do ano. Por ora, a retomada está lenta e não recupera o nível perdido na greve", afirma Grotti.

A interrupção da atividade econômica também levou ao menos dois Estados - Espírito Santo e Paraná - a adiarem a data para recolhimento do ICMS. A medida atendeu a pedido de empresários que alegaram descasamento do fluxo de caixa por causa da queda no faturamento. No Espírito Santo, o adiamento foi restrito à indústria. O secretário da Fazenda do Estado, Bruno Funchal, diz que a arrecadação vinha crescendo em torno de 12% ao mês, em valores nominais, até abril. "Agora, esperamos perda razoável de receita em junho, condizente com o problema vivido em maio", diz.

Pesquisa nacional da Confederação Nacional da Indústria (CNI), com 395 sindicatos, associações e federações, aponta que o tempo médio informado para volta do ciclo normal de produção após o fim da greve foi de 19,76 dias e que, durante os 11 dias de paralisação, a queda média de faturamento foi de 54%. "Existe uma curva de retomada de produção, como mostra a pesquisa. Mas, com o aumento de custos em função do tabelamento, vários setores estão sem embarcar ou com as linhas prejudicadas", diz Pablo Cesário, gerente executivo da CNI.

Segundo ele, esses impactos são mais sentidos no transporte de alguns produtos, como commodities industriais, agregados para a construção civil e insumos petroquímicos. No segmento de eletroeletrônicos e eletrodomésticos, a corrida é para recuperar o tempo perdido nas vendas, uma vez que a produção foi antecipada para atender a demanda esperada por televisores antes da Copa do Mundo.

No primeiro trimestre do ano, a produção de televisores cresceu 46% ante o ano anterior, segundo a Eletros, entidade que representa o setor. A alta também reflete a expectativa pela troca de aparelhos devido à mudança do sinal analógico para digital. O encarecimento dos fretes, porém, está jogando contra a viabilidade econômica do escoamento de produção.

Segundo a Eletros, há aumentos expressivos nos fretes com origem no Nordeste. Da Bahia para São Paulo houve alta de 256% no frete de eletrônicos em relação ao período anterior à tabela de preços. "O tabelamento do frete está sendo um dificultador da retomada da atividade no segmento de eletrônicos", diz José Jorge Nascimento Júnior, presidente da Eletros.

O setor trabalhava com a previsão de alta nas vendas entre 10% e 15% e agora deve rever essa estimativa. "Capacidade produtiva existe, o ponto é se vai ter mercado para isso. Não quer dizer que o que se deixou de consumir lá atrás, em uma duas semanas, vai ter um rebote agora em junho" diz Rafael Caghin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Para ele, a greve ilustra os potenciais efeitos deletérios dos conflitos políticos sobre a trajetória de recuperação da economia e reduz a condição de retomar projetos de investimento. Na região de Manaus, já há relatos de que fabricantes de eletrônicos estudam dar férias ou licença diante da paralisia dos negócios, segundo Wilson Périco, presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam).

As fabricantes de motocicletas, revela, decidiram antecipar em uma semana a tradicional parada de meio do ano. A maior parte dos setores da indústria segue em ritmo lento ou ainda enfrenta efeitos da greve no processo produtivo. A produção de celulose, papel e painéis de madeira só deve ser normalizada em um mês, de acordo com a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), entidade que representa o setor de florestas plantadas para fins industriais.

A presidente-executiva da associação, Elizabeth de Carvalhaes, diz que o setor ainda está fazendo as estimativas, mas os primeiros números indicam que cerca de 280 mil toneladas de celulose e 310 mil toneladas de papel deixaram de ser produzidas devido à greve. O escoamento de produtos para o mercado externo também foi afetado, mas não há risco de desabastecimento uma vez que as empresas trabalham, no caso da celulose, com estoques para 30 dias. "A preocupação é garantir o fornecimento nos mercados contratados", diz Elizabeth.

 Na semana passada, a Suzano Papel e Celulose informou à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que teve perda total de produção de celulose de cerca de 80 mil toneladas devido à greve. O volume equivale a 2,2% da capacidade produtiva total da companhia. A indústria de embalagens de papelão ondulado revisou para baixo a previsão de crescimento das expedições em 2018. A expectativa de alta baixou de 3,8% - projetados no início de maio - para de 2,8% no volume expedido de caixas, acessórios e chapas. A presidente da Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO), Gabriella Michelucci, conta que a revisão se deu exclusivamente em função da greve. A produção do setor já voltou ao normal, diz.

O faturamento da indústria farmacêutica teve perda de R$ 1,6 bilhão, estima o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma). A entidade afirma que os efeitos da greve persistiam na semana passada, com interrupções nas linhas de produção por falta de insumos e matérias-primas. "O que mais nos preocupa é a dificuldade de acesso da população aos nossos produtos, o que pode trazer consequências indesejáveis", diz em nota o presidente do Sindusfarma, Nelson Mussolini.

Na indústria química, a perda com a greve é estimada em pelo menos US$ 1,2 bilhão - um quarto do faturamento mensal -, segundo a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). Para a Abiquim, se extrapolado para outros segmentos de uso final (tintas, cosméticos, farmacêuticos, fertilizantes, fibras sintéticas, sabões e detergentes), o prejuízo sobe a US$ 2,5 bilhões em uma semana. Empresas como a Braskem reduziram as atividades na semana passada.

A Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos, Louças Sanitárias e Congêneres (Anfacer) calcula que a demanda do setor caiu 17% em função da paralisação dos caminhoneiros. "O ganho de janeiro a abril foi perdido", diz o diretor superintendente da entidade, Antônio Carlos Kieling.

Segundo ele, os números de junho ainda irão refletir impactos da greve. A entidade mantém a estimativa de crescimento de 4,8% a 5% no ano. No agronegócio, um dos setores mais afetados foi de produção de carne de aves. Foram mais de 70 milhões de pintos sacrificados nos dez dias de paralisação, o que deve se refletir na queda da produção deste e do próximo mês. Os preços da carne de frango já subiram 40% no atacado. De acordo com o analista do Rabobank Adolfo Fontes, o fluxo de produção de carne de frango só deverá se normalizar dentro de 30 a 60 dias.

 

FOLHA DE SÃO PAULO

Mercado vive incerteza política global, diz Credit Suisse

A atual volatilidade dos ativos brasileiros é acompanhada de perto pelos grandes investidores, segundo James Amine, chefe global da área de banco de investimentos do Credit Suisse.

Amine, que esteve no Brasil na semana passada, diz que, por causa da paralisação de caminhoneiros, revisões de projeção do PIB (Produto Interno Bruto), dólar disparando, incertezas sobre os juros e muito sobe e desce na Bolsa, o investidor tem feito mais perguntas sobre o ambiente macroeconômico.

“Os investidores estão tentando imaginar qual o impacto das eleições. Ou seja, devo investir agora ou devo esperar para investir depois de conhecido o resultado?”, resume Amine. “Mas há uma grande verdade: investidores têm de investir em algum lugar. E em muitos deles, hoje, o componente político está presente.”

Segundo ele, as incertezas geradas pelo ano eleitoral pesam não apenas no Brasil, pois questões políticas são o grande tema global em 2018.

“Todas as regiões convivem com questões políticas, que estão trazendo maior volatilidade aos mercados. E isso tende a ser muito relevante para a tese de investimentos de qualquer um”, diz.

Amine cita a China, com um líder que tem o mandato vitalício; os pleitos recentes na Rússia, na Itália e na Espanha; o Reino Unido, com uma primeira-ministra fraca, e, os EUA, com um presidente que se mostra “interessante”, descreveu, após escolher a palavra antes de dizê-la. Na América Latina, há eleições no Brasil e no México, além de uma Venezuela em crise.

Olhando para os emergentes, a perspectiva piora em razão da alta dos juros americanos, que sempre traz o temor de que os recursos migrem de países menores para lá.

A elevação dos juros nos EUA era esperada, mas ainda assim Amine considera que o fato de os títulos do Tesouro americanos de dez anos terem batido os 3% abalou o psicológico dos mercados. Foi nesse momento que Argentina e Turquia tiveram suas crises cambiais e catapultaram as taxas de juros para reter investimentos.

Apesar do cenário incerto, Amine reforça que o Brasil demonstra estar no radar de negócios muito relevantes na seara das fusões e aquisições. Na sexta (15), a Odebrecht informou que negocia a venda da Braskem para a holandesa LyondellBasell.

No início do mês, a gigante americana Walmart, em vez de sair do Brasil, entregou o comando das suas operações no país ao fundo de participações Advent.

“É o que estava dizendo sobre a importância de conhecer os ciclos de altas e baixas dos emergentes. O fundo de participações pode ter essa visão mais de longo prazo”, afirmou Amine. O Credit Suisse assessorou o Advent na operação. “O que acontece nas economias em desenvolvimento é que há, constantemente, esses ciclos de volatilidade”, diz.

Segundo Bruno Fontana, chefe da área de banco de investimentos do Credit Suisse Brasil, apesar da volatilidade e da imprevisibilidade eleitoral, o Brasil tem demonstrado estrutura para suportar solavancos.“Não há evidência de que o país esteja sofrendo uma crise cambial, com saída expressiva de recursos”, diz.

Até pela presença relevante há muitos anos no país, a perspectiva do banco suíço no médio e no longo prazos é avaliada como positiva.

“Apesar da volatilidade atual, estamos com uma visão muito positiva do ambiente macro brasileiro. Juros baixos, inflação baixa e crescimento em alta —mesmo que ele não seja no patamar esperado no início do ano”, diz Fontana. “No geral o novo presidente herdará um país em condições muito melhores do que o atual.”

 

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