Segunda-feira

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Governo age para blindar pauta econômica após série de atropelos

O arsenal de polêmicas produzidas por integrantes do próprio governo em apenas dois meses e a visível desarticulação entre aliados apontam para uma provável perda de capital político do presidente Jair Bolsonaro em curto espaço de tempo, mas o Palácio do Planalto colocou em prática um plano de preservação da agenda econômica. "A eleição de 2018 foi o fim do ciclo petista. É isso que faz com que exista um grande colchão que suporta os deslizes do presidente. Vão jogar fora esse projeto novo?", indaga o cientista político Antonio Lavareda. Para ele, os excessos retóricos de Bolsonaro e os atropelos da Presidência, cujo último episódio foi a publicação de um vídeo obsceno na conta pessoal no Twitter, não são ainda suficientes para antever perspectivas pessimistas sobre votações no Congresso. "As declarações políticas jogam contra o presidente, mas evitaria dizer que há um grande desgaste. Não há ponto de desequilíbrio no apoio que Bolsonaro teve no Congresso", afirma Lavareda.

Segundo o especialista, obviamente foram colocadas mais pedras no caminho com os deslizes recentes de Bolsonaro, mas há forte desejo do mercado, de setores empresariais e políticos que as pautas econômicas prosperem. "O presidente tem um espaço de tolerância e solidariedade mesmo quando pratica excessos retóricos e profere o que é visto como absurdos", conclui Lavareda.

A reação do Planalto foi evidente após o desgaste de Bolsonaro com a publicação do vídeo. A ala militar do governo tenta assumir o controle da comunicação e rapidamente foi colocada em campo uma campanha a favor da reforma da Previdência. A situação política é delicada e requer rápido ajuste de conduta e redirecionamentos para preservar o governo, na opinião da cientista política Rosemary Segurado, professora da PUC-SP e da Escola de Sociologia e Política.

"Acompanho política há 30 anos e nunca vi queima tão rápida de capital político", diz a especialista em mídia e comunicação política. O sinal mais claro de desgaste, na opinião da professora, são manifestações dos próprios aliados de Bolsonaro, em especial nas redes sociais, que ela monitora diariamente.

Segurado pondera que é necessário aguardar as próximas pesquisas para avaliar se, de fato, houve abalo significativo à imagem de Bolsonaro. Até o momento, a única pesquisa que mediu a avaliação do governo foi a da CNT/MDA, publicada no fim de fevereiro. O governo Bolsonaro foi avaliado como bom ou ótimo por 38,9% da população. Lavareda observa que considerando o total do eleitorado, e não apenas os votos válidos, Bolsonaro teve no segundo turno apoio de 39,2% dos eleitores, percentual semelhante ao que a pesquisa CNT aponta. Sob este prisma, não se pode dizer que Bolsonaro teve perda de apoios.

Carlos Ranulfo, professor de ciência política da Universidade Federal de Minas Gerais, não tem dúvidas de que há um desgaste flagrante de imagem, sobretudo entre apoiadores do presidente. "Esse governo estreou e não tem o que mostrar. É muito sintomático que apostem todas as fichas na reforma da Previdência. Acrescenta-se a isso absurdos em cascata. Duas vezes por semana eles próprios produzem alguma crise. Não existe hoje no Brasil oposição articulada, mas quem precisa de oposição com esse governo?", ironiza Ranulfo.

O professor arrisca que o apoio fiel a Bolsonaro agora, após a publicação do vídeo pornográfico, o escândalo das candidaturas laranjas do PSL, o caso Queiroz (do ex-assessor de Flávio Bolsonaro) e a "asneira do ministro da Educação" que tentou obrigar crianças a cantarem o hino nas escolas, possa oscilar em 30%. Se a política se deslegitima, alerta, a economia não avança. "Não creio ser exagero dizer que podemos estar próximos, de novo, de um processo de sarneyzação." Ranulfo prevê um cenário em Bolsonaro sobreviva, mas sem credibilidade e sem força política. "É a história do jabuti que sobe na árvore. Se ninguém tirar de lá, ele fica."

 

Retomada lenta ameaça deixar marca duradoura na economia do país

A lenta recuperação da atividade pode deixar consequências para a economia brasileira difíceis de serem revertidas. Depois de dois anos seguidos de crescimento de apenas 1,1%, o Produto Interno Bruto (PIB) parece caminhar em 2019 para mais um desempenho frustrante, ainda que melhor do que em 2017 e 2018.

Na visão de economistas, isso deve ter reflexos interligados sobre o mercado de trabalho, a produtividade e a indústria, criando obstáculos para a retomada do padrão de vida anterior à crise. "Em uma retomada lenta, sempre há o risco de a volta ao crescimento anterior ficar mais difícil", diz Artur Manoel Passos, economista do Itaú.

"Pode haver efeitos quase permanentes." Uma das consequências apontadas pelos economistas é a histerese do mercado de trabalho - quando um período prolongado de desemprego elevado acaba atrapalhando a própria queda da taxa de desemprego. Há casos em que o trabalhador é demitido e posteriormente, durante a recuperação, enfrenta dificuldades para voltar ao mercado, por estar desatualizado. Ou então um jovem que se forma em meio à recessão e acaba perdendo as habilidades que aprendeu, por ter ficado sem a opção de colocálas em prática.

"Com a retomada, a demanda das empresas por trabalho também pode se recuperar. Mas a mão de obra disponível pode não ser a mão de obra necessária", diz José Ronaldo de Castro Souza Júnior, diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). "O trabalhador pode até voltar para o mercado, mas com uma produtividade baixa", explica o especialista, afetando a produtividade da economia como um todo.

Outra possível fonte de problemas duradouros é a indústria. A grande e prolongada ociosidade do setor, segundo alguns economistas, impede novos investimentos. As fábricas normalmente geram empregos bem remunerados e de produtividade alta, além de terem grande inserção em outros segmentos, como o de serviços. No ano passado, o peso da indústria de transformação em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) atingiu o menor patamar da série histórica, ficando em 11,3%.

No pico, registrado em 2005, o setor representava 17,4% de toda a economia. Sem investimentos, o trabalhador industrial pode ser obrigado a migrar para a informalidade, com impactos negativos sobre a produtividade e o consumo. "Se a fábrica fecha, o metalúrgico vira cabeleireiro ou vai vender brigadeiro, e não dá para comparar a produtividade do cabeleireiro com a do torneio mecânico", diz José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator.

Além disso, "uma coisa é um trabalhador com carteira assinada de uma metalúrgica ir ao banco pegar dinheiro. Outra coisa é o moço que está se virando para vender alguma coisa e comprar o jantar. Esse cara não vai sair consumindo." "O conjunto da obra é uma composição do trabalho com produtividade e remuneração mais baixas. Em suma, com uma qualidade menor de emprego", que afeta o crescimento da atividade, afirma o economista. "É um círculo vicioso."

Há ainda o risco de o parque fabril ter ficado simplesmente desatualizado em relação à produção do exterior, o que é considerado pelos economistas difícil de reverter. "Para o empresário, pode não compensar se atualizar. Ele já teve muito prejuízo, está muito descapitalizado", diz Souza Júnior, do Ipea.

"Quando a economia anda normalmente, esses investimentos vão sendo feitos de maneira paulatina." Passados oito trimestres da recessão 2014/2016, que levou a uma contração de 8,2% do PIB, a atividade avançou apenas 3,4%. O número compara o nível de atividade do quarto trimestre de 2016 com o quarto trimestre de 2018, na série com ajuste sazonal. Já nos oito trimestres que se seguiram à recessão de 1981/83, quando o PIB recuou 8,5%, a atividade cresceu 11,7%.

Por sua vez, dois anos após a contração de 7,7% de 1989/92, a expansão foi de 8,4%. Os cálculos são de Alberto Ramos, diretor do departamento de pesquisas econômicas para a América Latina do Goldman Sachs. "Nas recessões anteriores, as perdas já tinham sido recuperadas em no máximo sete trimestres", diz Luana Miranda, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).

Desde o fim de fevereiro, a projeção mediana do mercado para o crescimento do PIB neste ano passou de 2,48% para 2,3%, segundo o Boletim Focus, do Banco Central (BC). "Isso foi na véspera do Carnaval. Acho que vai continuar caindo", diz Lima Gonçalves, do Fator. O Itaú e o Fator, por exemplo, calculam expansão de 2% e 1,8%, respectivamente. Hoje, a autoridade monetária divulga a nova edição do Focus.

 

Previdência concentra atenção dos mercados

Os ativos brasileiros começam a próxima semana dosando confiança e cautela, no aguardo de mais informações sobre a reforma da Previdência e ainda sob o impacto da piora na demanda por risco no exterior. A semana será crucial para calibrar expectativas sobre a pauta da reforma, principalmente, em relação ao “timing” da tramitação da medida no Congresso.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que convocará a instalação da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para quarta-feira e, agora, os investidores esperam por novos sinais sobre o nível de recepção dos parlamentares ao projeto.

A definição do colegiado é essencial para o encaminhamento da reforma, já que esse é o primeiro grupo a analisar a proposta de emenda constitucional (PEC) da reforma. Enquanto isso, o governo de Jair Bolsonaro tenta corrigir os deslizes de comunicação e volta priorizar a reforma da Previdência em seus discursos.

Na última semana, sinais de que há um grande esforço em torno do projeto ajudaram a aliviar a tensão do mercado e deram suporte tanto ao real quanto ao Ibovespa. Os últimos dias foram bastante agitados para o mercado de câmbio. O dólar comercial fechou em baixa de 0,39%, aos R$ 3,8691, aproveitando a trégua no exterior na última sexta-feira.

No entanto, os riscos de desaceleração da economia global e apreensão com a cena política no Brasil conduziram a moeda para alta de 2,38% na semana — o maior salto desde agosto do ano passado. Na renda variável, o Ibovespa demonstrou bastante força em relação aos ventos contrários do exterior, ao subir 1,09%, aos 95.365 pontos, na sexta.

Na semana, o índice até conseguiu galgar um avanço de 0,80%, mas foi bastante marcado pela instabilidade nos negócios. E não é só a frente doméstica que garante aos ativos uma sustentação em patamares de preço maiores.

Para Vicente Matheus Zuffo, gestor da SRM, ficou claro na última semana o quão relevante é o exterior se manter minimamente favorável a ativos de risco para que o ganho seja sustentável. A carteira administrada pela SRM continua com boa exposição a papéis ligados à atividade interna, caso de consumo e varejo. Com a piora no ambiente lá fora, no entanto, o otimismo não vem sem uma dose de proteção.

 Zuffo afirma que reforçou recentemente a posição vendida, ou seja, que aposta na queda, das bolsas americanas — a referência, neste caso, é o índice S&P 500, devido à grande correlação entre o movimento da bolsa brasileira e das bolsas americanas.

 

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