Segunda-feira

ESTADÃO

‘Para universalizar saneamento, é preciso R$ 600 bi’

Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o relator do projeto na Câmara dos Deputados, Geninho Zuliani (DEM-SP), adiantou que a ideia é condicionar o acesso a linhas de crédito da União ao lançamento de ações na Bolsa pelas estatais de água e esgoto.

Em fase final de elaboração, o relatório também deverá ser mais duro que o texto aprovado no Senado em junho. Ainda assim, o relator admite que dificilmente o País conseguirá a meta de universalização dos serviços até 2033, prazo previsto no Plano Nacional do Saneamento, e que são necessários R$ 600 bilhões em investimentos para conseguir bater a meta. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

O novo marco legal do saneamento está na fila de votações este ano?

Está na ‘filíssima’. O relatório está com o esqueleto pronto e para cada artigo nós temos três opções, plano A, plano B e plano C. Eu apronto o relatório em 24 horas, desde que haja consenso sobre esses pontos. Os dilemas estão todos mapeados.

Qual é o maior dilema hoje?

São as empresas de saneamento públicas que são ineficientes quererem sobrevida e mais uma renovação de contratos. Isso consome de 60% a 70% da nossa energia. O governo enviou um novo PL do saneamento para a Câmara e tirou as mudanças que o Senado aprovou, como a possibilidade dos municípios de seguirem com os contratos com empresas estaduais e, em alguns casos, operarem os serviços sem licitação. Como isso vai ficar? Ainda não temos um texto final com essa posição consolidada. Nós temos uma diretriz. O setor elétrico foi resolvido, o setor de telefonia foi resolvido, e o saneamento não foi resolvido. Quando você coloca todos os atores e as possibilidades na mesa, fica muito nítido que, sem investimento privado, o saneamento não anda. Nós temos a necessidade de R$ 600 bilhões de investimento para universalizar o saneamento básico no Brasil.

É possível falar que o novo marco legal facilita a privatização das empresas do setor?

Cria esse ambiente. Nós vamos de alguma forma deixar isso claro no texto. Aqueles governadores que abrirem o capital das empresas terão mais incentivos do governo para buscar recursos. Vamos condicionar linhas de financiamento do governo federal à abertura de capital das companhias estaduais. Estamos falando de linhas com recursos do BNDES, do FGTS e tantas outras. Não é o ideal, mas abrir o capital já é um avanço.

O sr. tem conversado com investidores sobre o projeto?

Já fiz cinco boas reuniões com fundos e bancos de investimento. É um pessoal que quer saber onde investir. Todo mundo quer colocar dinheiro no saneamento. O dinheiro existe e as empresas que têm o know-how precisam desses recursos. É bom para todo mundo.

O Ministério da Economia já tem mapeado os grandes grupos que querem entrar no setor...

O capital existe, há US$ 14 trilhões aplicados a juros negativos no mundo que precisam de segurança jurídica e bons projetos. Ninguém quer aplicar a juro negativo, só estão lá porque não têm onde pôr. Nós temos um grupo de empresas brasileiras capaz de receber esses investimentos de fora e nós temos a possibilidade de receber empresas estrangeiras com know-how. Na hora que você abre o mercado, surgem novos players (novas empresas).

Uma das emendas do Senado permite oficializar a prestação de serviços por estatais que nem mesmo têm contratos assinados com as prefeituras...

Você imagina um serviço de péssima qualidade, de baixa efetividade, estatal endividada. Tem 300 contratos de ‘fio de bigode’, e você ainda permitir mais cinco anos (de prorrogação)? É correto isso? Vamos universalizar quando? Estamos tentando buscar um relatório que visa a permitir que os contratos de programa possam existir, mas em caráter excepcional.

O que vai acontecer com os serviços sem contrato?

O relatório que veio do Senado dá oportunidade de cinco anos para fazer. Eu quero reduzir de cinco para um ano. Os governadores terão um ano para oficializar aquilo que já é contrato verbal. Aí vira contrato de programa. A validade desse contrato é outro ponto de interrogação, não necessariamente 30 anos. Podemos falar assim: põe no papel, fica cinco anos e depois licita, é uma hipótese.

Em que condições?

Nas mesmas condições que a iniciativa privada eventualmente teria na licitação. Ele tem de provar que tem o capital para investir. O instrumento vai estar no nosso relatório, vai estar na legislação federal. Outra coisa: a Agência Nacional de Águas (ANA) vai ter um papel fundamental, que eu chamo de macrorregulação. A ANA vai dar as principais diretrizes e ela vai ser a comandante de 40 reguladoras regionais que o Brasil tem. Vai haver um ‘piso-teto’ sobre a tarifa determinada pela ANA. No projeto atual, isso está superficial, vamos deixar claro.

 

VALOR

BC: Atividade econômica sobe em junho, mas cai 0,13% no 2º trimestre

O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) teve alta de 0,3% em junho, na comparação dessazonalizada com o mês anterior, quando avançou 1,1% (dado revisado de 0,54% de aumento). As informações foram apresentadas nesta segunda-feira pela própria autoridade monetária.

O resultado ficou acima da mediana das estimativas colhidas pelo Valor Data, de elevação de 0,1%. Mesmo com o resultado positivo de junho, o IBC-Br apresentou queda de 0,13% no segundo trimestre, em relação aos três meses anteriores, na série com ajuste sazonal. Nos 12 meses terminados em junho, houve crescimento de 1,08% na série sem ajuste.

Devido às revisões constantes do indicador, o IBC-Br medido em 12 meses é mais estável do que a medição mensal, assim como o próprio Produto Interno Bruto (PIB). Ante junho de 2018, o índice teve queda de 1,75% na série sem ajuste.

No ano, a variação foi positiva, em 0,62%. O comportamento do indicador no mês de junho foi influenciado pelas quedas de 0,6% da produção industrial e de 1% dos serviços, e alta de 0,1% do varejo. O IBC-Br tem metodologia de cálculo distinta das contas nacionais calculadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O indicador do BC, de frequência mensal, permite acompanhamento mais frequente da evolução da atividade econômica, enquanto o PIB, de frequência trimestral, descreve um quadro mais abrangente da economia.

 

A política ganhou peso no mercado, diz Waldron

Não há uma crise econômica iminente, mas a alta volatilidade no mercado de capitais vai durar um bocado mais se os Estados Unidos e a China demorarem a se entender. Essa é a visão de John Waldron, presidente e chefe de operações do Goldman Sachs, que considera que há sinais positivos sobre a economia - como a atividade ainda intensa de fusões e aquisições globalmente - e que não há por que acreditar, no momento, que os BCs mundo afora fracassarão na tentativa de um "pouso suave" cortando taxa de juros.

"O mercado em geral está negociando mais em base macro - políticas, governos, lideranças, geopolítica - do que em fundamentos micro, talvez da forma mais intensa que consigo me lembrar na minha carreira", diz Waldron. "Estamos num período de transição. Há um grupo de líderes populistas que não são convencionais e estão mudando o modo normal de se comunicar, de fazer política, de fazer campanha e isso traz impacto para os mercados."

O Goldman Sachs é um dos maiores bancos de investimento do mundo, com US$ 945 bilhões em ativos no balanço, administra US$ 1,54 trilhão em recursos de clientes, e é avaliado em bolsa em US$ 77 bilhões. Waldron está no banco há 18 anos e assumiu como presidente em setembro do ano passado. A seguir, os principais trechos da entrevista, concedida no escritório do banco em São Paulo.

Valor: Nos últimos dias uma série de bancos centrais reduziram juros e a guerra comercial entre Estados Unidos e China esquentou. Qual será o impacto dessa conjuntura econômica e política?

John Waldron: É claramente um momento de maior volatilidade, há uma preocupação sobre crescimento do mundo todo e vemos os bancos centrais reagindo de acordo. Não faz muito tempo que a direção básica do Fed seria apertando os juros e não afrouxando. Os mercados estão precificando um cenário mais 'dovish' [inclinado ao afrouxamento monetário] globalmente, com muito poucas exceções. Temos esse movimento nos EUA, no Brasil, na Itália, que é uma reação a um crescimento fraco. O impacto é uma pausa nos participantes de mercado em termos de apetite de risco. O movimento que temos visto é comprado em BC e vendido em crescimento econômico. Os clientes estão cautelosos.

Valor: Como isso afeta os negócios do banco?

Waldron: Se você trabalha com clientes que acreditam que os BCs serão mais agressivos em cortar juros e que isso terá um impacto positivo nas economias e no crescimento geral, está com um cliente mais propenso a ser ativo. Aqueles mais cautelosos com o cenário econômico são menos propensos a colocar capital para trabalhar. Há um cenário misto hoje. Mas há sinais interessantes de se olhar.

Valor: Quais sinais?

Waldron: As transações de fusões e aquisições (M&A) continuam fortes, nosso volume de negócios em andamento é bom e isso normalmente é uma boa medida de confiança. A atividade de M&A indica como os alocadores de capital do mundo corporativo veem o futuro próximo. Isso está acontecendo mais fortemente nos Estados Unidos mas também de forma geral no mundo. Os mercados de IPOs, dívida e trading também estão muito ativos. Temos que ver como os dados e as políticas se desenvolvem e há definitivamente mais risco no sistema em termos de possibilidades de desfecho do que havia há três ou seis meses atrás. Ainda estou razoavelmente construtivo.

Valor: Construtivo também é um pouco dovish? Há três meses seria otimista?

Waldron: Bem, estamos vendo os BCs tentando engendrar um 'soft landing' e isso não é diferente do que já aconteceu em outros períodos da história. Se o Fed, o BCE, o Banco da Inglaterra e outros BCs do mundo forem bem-sucedidos em moderar os juros e a economia continuar a performar de forma razoável, isso será um desfecho favorável para o mercado. E não há evidência para sugerir que eles não serão bem sucedidos. Mas há risco.

Valor: Um relatório recente do banco considera que a disputa entre EUA e China deve se arrastar até o ano que vem, nas eleições americanas. Qual será a consequência de mais um ano de tensão comercial?

Waldron: Um dos maiores elementos da volatilidade global é a negociação comercial entre China e Estados Unidos. Há implicações claras para os dois países, mas obviamente afetam diversos outros mercados. Não sei se vão chegar a um acordo ou não, mas se essa discussão continuar por muitos mais meses, terá um impacto ainda maior de volatilidade no mercado. O que observo hoje é que o mercado em geral está negociando mais em base macro - políticas, governos, lideranças, geopolítica - do que em fundamentos micro, talvez da forma mais intensa do que consigo me lembrar na minha carreira. Agora o que acontece numa discussão entre EUA e China numa terça-feira ou o que um líder político diz sobre o Brexit numa quarta-feira tem muito mais influência na forma como os ativos estão sendo negociados e precificados.

Valor: A política se tornou mais relevante do que era nas decisões dos investidores?

Waldron: Temos ondas em que questões políticas e outros fatores macro importam mais que micro fundamentos e estamos numa dessas. Tenho teorias para isso. Uma é que os governos tomaram um papel maior na economia depois da crise financeira porque tiveram que assumir o palco de forma mais relevante do que tinha nos anos 1990 até 2007, particularmente nos mercados mais maduros. Então não me surpreende que tenha envolvimento maior de governo na economia e nos mercados. Mas também estamos num momento político complicado. Há um populismo crescente, questões de migração e imigração mais pronunciadas, questões geopolíticas emergindo e perfis de líderes populistas não convencionais.

Valor: Mas essa mudança de perfil começou há algum tempo.

Waldron: Estão mudando, para o bem ou para o mal, dependendo do que você acredita, e alteram o modo normal de fazer as coisas, o modo normal de se comunicar, o modo normal de fazer política, de fazer campanha etc. E isso traz impacto. Os mercados haviam reagido de forma surpreendentemente calma no meio dessa mudança política. Não tivemos um grande excesso de volatilidade de mercado durante essa mudança, mas agora, no andamento do ciclo, as pessoas começam a ver crescimento econômico menos acelerado e o risco político se torna mais alto.

Valor: Significa crise iminente?

Waldron: Não, não vejo nenhuma crise iminente. É um período de maior volatilidade e risco, mas isso não significa que haverá uma crise, pode simplesmente haver ajuste de preços e uma dificuldade maior de ter senso de direção.

Valor: O que atrapalharia essa desaceleração suave da economia?

Waldron: Um rompimento no comércio global. Novas regras, que comecem a realinhar cadeias de suprimento em ruptura ao que tem sido o modelo de fazer negócio, algo que interrompa o fluxo de atividade, e nisso com certeza a discussão entre China e EUA é o foco. Também há um risco relacionado à Europa, com o desenrolar sobre o Brexit, e riscos geopolíticos - o que acontece no Irã e na Coreia do Norte. Algum ataque cibernético significativo em algum lugar do mundo. Dito isso, a maioria desses são os chamados eventos de cauda. O desfecho positivo em quase todos os riscos é o mais provável.

Valor: Antes do Brasil, o senhor esteve no México. Quais são as perspectivas para a América Latina na visão do Goldman Sachs?

Waldron: É um período interessante, vejo potencial de mudanças estruturais positivas, com reformas em tributação, Previdência, atenção mais próxima ao balanço fiscal, investimentos em infraestrutura. Há razões para otimismo. A questão é como será a execução e é difícil dizer se [Andrés Manuel López] Obrador ou [Jair] Bolsonaro será melhor nisso, da mesma forma que Donald Trump ou Boris Johnson no Reino Unido. Mas fiquei impressionado no Brasil com a velocidade, particularmente do Congresso, na reforma da Previdência. Ouço falar nisso há anos.

 

Aposta em juros ainda mais baixos ganha força

Mesmo com o repique do dólar em um contexto de incertezas globais, investidores e analistas parecem convictos no cenário de uma queda mais forte da taxa básica de juros em 2019. O Bradesco, por exemplo, não descarta que a Selic rompa a marca de 5% nos próximos meses, enquanto o Bank of America (BofA) Merrill Lynch e a gestora Quantitas já projetam queda da taxa básica para 4,75% ainda neste ano.

A taxa Selic está em 6% anuais. Prevalece a leitura de que, em um mundo sob risco de recessão e conflitos comerciais, mais estímulos monetários serão necessários. E isso inclui o Brasil, que conta com expectativas de baixa inflação e recuperação lenta, a despeito do dólar perto de R$ 4. Esse panorama também fica evidente na baixa dos juros futuros na B3. O movimento tem se consolidado dia após dia, tomando uma dinâmica própria que, muitas vezes, contraria as perdas em outros ativos locais.

Na última sexta-feira, a taxa do contrato de DI para janeiro de 2020 caiu de 5,475% para 5,440%. Pelo nível das taxas, o mercado precifica baixa adicional de 0,83 ponto percentual da Selic, ante o nível atual, até o fim do ano. Vale dizer que essa aposta ainda carrega prêmio de risco, que pode ser dissipado conforme o quadro de inflação baixa e atividade lenta se confirma aqui e lá fora.

“O quadro externo é um ponto interessante para o cenário. A dinâmica é de maior risco para atividade. Por isso, vemos bolsas realizando lucros e caindo. Vemos também a tensão entre Estados Unidos e China, o que faz com que o dólar se fortaleça contra emergentes. Mas, no final, esse contexto pressiona os juros para baixo”, diz Matheus Gallina, trader de renda fixa da Quantitas.

Por ora, o Bradesco classifica a escalada das tensões comerciais como desinflacionária. “Se, por um lado, o dólar tem se fortalecido, por outro as incertezas indicam um crescimento menor da economia global, com importante redução das cotações das principais commodities, atenuando os impactos sobre a inflação brasileira”, diz o economista-chefe Fernando Honorato, em relatório.

O Bradesco alterou a expectativa para a taxa de juros de 5,5% para 5,0% no fim de 2019 e de 2020. “O crescimento da economia brasileira continua insatisfatório, a inflação permanece em patamar confortável e a aprovação da reforma da Previdência reduziu o principal risco de médio prazo, o da insolvência fiscal”, explica Honorato. O movimento ainda pode ser estendido. “Se a recuperação da atividade econômica seguir frustrando e as projeções de inflação permanecerem abaixo do centro da meta, não descartamos ajustes adicionais, levando a Selic abaixo de 5,0% ainda neste ano”, acrescenta.

A Quantitas já antecipa um afrouxamento monetário mais intenso em 2019. Sua estimativa para o juro básico mudou de 5% para 4,75% na última sextafeira. Para Gallina, a queda global de juros num contexto de atividade muito fraca corrobora o cenário de Selic mais baixa no Brasil. Tanto é que os juros futuros de curto prazo continuam caindo, a despeito da alta do dólar e da queda do Ibovespa. Em outras palavras, o ambiente de mercado está fugindo da dinâmica tradicional de aversão ao risco, quando todos os ativos sofriam com aumento do prêmio de risco.

A percepção de participantes do mercado também se apoia em uma postura relativamente tranquila dos dirigentes do Banco Central sobre o exterior e na munição do país, com sólidas reservas cambiais, para enfrentar momentos de turbulência. Na semana passada, o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, disse que é preciso monitorar o cenário, mas há sinais de que o mundo está caminhando para um quadro de atividade fraca e juros baixos por mais tempo.

A revisão da Selic para 4,75% foi adotada anteriormente pelo BofA. Em relatório divulgado um dia após o Copom iniciar o atual ciclo de cortes da Selic, reduzindo a taxa de 6,5% para 6% no fim de julho, o banco destacou que a Selic “deve permanecer estável ao longo de 2020, em linha com um cenário de inflação benigna e uma recuperação econômica ainda gradual”.

 

Recuperação do crédito segue robusta, avalia presidente do BC

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou que a “recuperação do crédito segue robusta”. Ele participou de palestra em evento promovido pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

O encontro foi fechado à imprensa. Em apresentação divulgada pelo BC, Campos destacou que o saldo de crédito da economia brasileira teve crescimento de 5,1% em junho, no acumulado de 12 meses. Já o saldo dos recursos livres cresceu ainda mais, atingindo 11,8% nesse tipo de comparação. Ele também chamou a atenção para a expansão do mercado de capitais, destacando positivamente o crescimento acumulado em 12 meses das emissões de debêntures.

Campos Neto reiterou que a “consolidação” de um cenário benigno deve levar a novos cortes na taxa básica de juros, atualmente em 6%. “A consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva deverá permitir ajuste adicional no grau de estímulo”, afirmou. Mas ele também voltou a fazer a ressalva de que “os próximos passos da política monetária” dependem de outros fatores, como atividade econômica, balanço de riscos, e projeções e expectativas de inflação.

Na apresentação divulgada pelo BC, ele repetiu mensagens presentes na última ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada na terçafeira. De acordo com Campos, a conjuntura econômica atual “prescreve política monetária estimulativa”. Ele disse também que há “expectativa de retomada da atividade econômica”.

Em relação às reformas, afirmou que o processo “tem avançado” e que a continuidades dos ajustes é “essencial” tanto para a queda da taxa de juros estrutural (aquela que leva ao máximo de crescimento sem gerar pressão inflacionária) quanto para a recuperação sustentável da economia.

O presidente da autoridade monetária reafirmou ainda que o balanço de riscos evoluiu de maneira favorável em relação à reunião anterior do Copom. No entanto, “o risco de uma eventual frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas” é preponderante, acrescentou. Por um lado, a ociosidade elevada da economia “pode continuar produzindo trajetória prospectiva abaixo do esperado”.

Por outro, “uma eventual frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária”. Esse horizonte inclui o ano de 2020. O risco ligado às reformas também se “intensifica no caso de deterioração do cenário externo para economias emergentes”.

Autonomia do BC

Para Campos, a aprovação formal da autonomia do BC representará um "passo adicional na credibilidade" da autoridade monetária. "Um passo adicional na credibilidade do BC será dado com a aprovação da autonomia 'de jure' da instituição", diz na apresentação, a respeito do projeto de lei que tramita no Congresso. Ele afirmou que a "atuação cautelosa da política monetária" já é um dos aspectos da credibilidade conquistada pelo órgão.

Campos também destacou positivamente a Agenda BC+, série de mudanças que vêm sendo implantadas pela autoridade monetária com "apoio popular e elevado impacto na produtividade".

O presidente do BC ainda afirmou que a educação financeira é a "chave" para diminuir o uso do cheque especial. A medida é considerada importante pela autarquia, já que linhas emergenciais, como o cheque especial, são "regressivas" - têm juros mais altos e são usadas principalmente pela parcela mais pobre da população.

Por fim, destacou pontos positivos da economia brasileira, como o aumento de credibilidade no exterior. Entre esses pontos estão: controle da inflação e ancoragem das expectativas; credibilidade das metas de inflação de longo prazo; e rápida convergência das expectativas após as metas serem decididas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

 

Só choque brutal tira mercados da volatilidade

A estratégia de investimento vista nos últimos 18 meses, em que a disputa comercial entre EUA e China vem se desenrolando, tem sido ignorar os ruídos de curto prazo e esperar por uma oportunidade de compra. Os momentos de turbulência financeira têm sido seguidos por períodos de calma relativa, que incitam uma melhora do sentimento e do desempenho do mercado.

 Esse padrão de avanço e recuo tornou-se agora muito mais desafiador. O Banco do Povo da China, o BC chinês, gastou bilhões de suas reservas para assegurar a permanência de sua moeda abaixo de 7 yuans por dólar, o que serviu apenas para aumentar a discórdia em relação ao comércio e uma economia doméstica em desaceleração.

A linha de 7 yuans por dólar foi rompida na segunda-feira passada e provocou lembranças desagradáveis de momentos anteriores em que a moeda chinesa esteve mais fraca. Estes incluem uma desvalorização surpresa em 2015 e uma queda durante o terceiro trimestre de 2018, que estimularam turbulências globais.

A tolerância do BC chinês com o yuan mais fraco foi rapidamente seguida pelo Tesouro dos EUA, que classificou a China de manipuladora cambial, uma acusação que parece muitos anos atrasada. Deixado a cargo das forças do mercado, em vez da flutuação administrada, o yuan estaria muito mais fraco, seguindo o caminho de outras moedas que vêm sendo esmagadas pela alta desenfreada do dólar desde abril de 2018. Juntas, essas ações sinalizam que não há nenhum acordo comercial ou resolução de curto prazo em vista entre as duas potências (que devem se reunir para mais discussões em setembro), o que deixa os mercados financeiros à mercê do próximo ataque oficial.

Persiste o risco de as tarifas serem elevadas para 25% sobre todos os produtos chineses e o yuan agir como uma válvula de segurança para a economia, para depois perder mais força e desencadear uma intervenção cambial dos EUA. Mal servindo para amenizar a apreensão dos investidores está o argumento veiculado em alguns quadrantes de que os dois países têm o tempo a seu lado. Isso sugere que o Federal Reserve (Fed) e o Banco do Povo da China têm espaço para afrouxar muito mais suas políticas se houver uma deterioração da economia, enquanto Wall Street e as ações chinesas continuam em alta significativa no ano.

Isso deixa a economia mundial e os investimentos das empresas em compasso de espera, reféns de uma guerra verbal que se intensifica e de ações retaliatórias entre Pequim e Washington. Como grande parte da recuperação das ações no mundo desde o fim de dezembro refletiu a confiança na assinatura de um acordo comercial e as medidas de estímulo na China reforçando a demanda bem além de suas fronteiras, há espaço para uma correção substancial das ações.

O otimismo que conduziu as ações americanas a um patamar recorde em julho ignora riscos de um grande impasse entre os EUA e a China. Um choque mais forte registrado entre as moedas emergentes e as ações, com a típica falta de liquidez característica do mês de agosto, pouco vem ajudando a atenuar os clamores por uma saída. As ações e moedas emergentes estão testando patamares de baixa há muitos meses. Isso significa que tomar emprestado em euros e ienes para financiar a compra de ativos emergentes de maior rendimento (o chamado "carry trade") se tornou uma estratégia que poderá começar a ser desfeita.

Em contraste com as correções recentes - vistas em maio e no começo e no fim de 2018 - os que apostam na queda precisam admitir que o crescimento mundial está agora mais fraco. Os investidores precisam balancear o ritmo mais lento do crescimento dos lucros contra os limites da política monetária.

Operadores que vêm estocando ativos de curto prazo e alta liquidez ("cash") e alternando suas carteiras com ativos de qualidade poderão muito bem antecipar uma oportunidade de compra antes de os bancos centrais se manifestaram em sua reunião anual em Jackson Hole, no fim do mês. Esta é uma estratégia compreensível, exceto que a promessa de um afrouxamento monetário substantivo e rendimentos de bônus cada vez mais baixos que ajudam a apoiar as avaliações dos ativos, não vão alterar a dinâmica entre os EUA e a China, quanto mais conter a próxima onda de turbulências nos mercados induzida pelas tensões comerciais.

O que é preciso para romper o padrão de escalada e recuo é um choque brutal no mercado que provoque uma trégua entre Washington e Pequim e remova as incertezas para o comércio global e os investimentos das empresas. Quanto a isso, uma queda significativa das ações americanas tem uma melhor chance de convencer o presidente dos EUA, Donald Trump, de que o rumo que ele vem tomando não é uma garantia de vitória. Conforme afirma Win Thin, da Brown Brothers Harriman: "Simplificando, a China não vai ceder a ameaças e intimidações e assim caberá aos EUA dar um passo para trás para poder tocar a bola para frente".

 

'Juro baixo não influenciou investidor da poupança'

Prevendo um cenário econômico de melhora lenta, porém contínua, José Ramos Rocha Neto, presidente do Fórum de Distribuição da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), acredita que os investidores do varejo tradicional, aqueles cuja renda mensal é de até R$ 10 mil, seguirão com a poupança em primeiro plano. E aponta caminhos para que a renda fixa volte a crescer nas aplicações dos brasileiros. “Não há sinais de que teremos nenhuma grande explosão na atividade econômica e, na minha visão, isso é positivo.”

Como o cenário econômico deve interferir no mercado financeiro?

Estamos animados. Além de pequenas melhoras em indicadores, a liberação do FGTS vai ajudar. Não vai ser uma pancada grande, como foi da vez passada (em 2017, o ex-presidente Michel Temer autorizou a retirada total dos recursos das contas inativas, o que injetou R$ 44 bilhões na economia), mas vai ter um ‘pingadinho’. Isso vai empurrando o consumo. Gera riqueza e um pedaço dessa riqueza é guardada é espalhada entre investimentos. Não temos sinais de que teremos uma grande explosão e, na minha visão, isso é positivo. A gente teve no passado grandes explosões na economia que viraram voo de galinha. Prefiro que cresçamos em mais tempo, com resistência.

O que mais mudou?

Com mais acesso à informação, a alta renda talvez seja o grupo que mais teve mudança de comportamento nos últimos anos. A virada foi afetada pelas plataformas digitais e com o movimento de admissão de risco. O varejo tradicional é menos suscetível a assumir risco.

Migrar direto para ações não é um salto muito grande?

O crescimento da participação da renda variável nas aplicações tem ocorrido de maneira sustentável. Passar da renda fixa para um fundo de renda variável seria a decisão mais conservadora e natural, mas hoje as casas de investimento dão suporte para o cliente. Acredito, porém, que faz sentido como um passo intermediário uma passagem pelos fundos.

O volume de investimentos do varejo diminuiu. Por que a porcentagem em poupança subiu?

Na verdade, a carteira da poupança andou de lado. Na caderneta mais de 80% das poupanças têm até R$ 500. Com um tíquete médio baixo, se as pessoas têm alguma necessidade, é natural que recorram ao montante. A poupança é o grande produto nesse segmento, porque é a porta de entrada, um primeiro investimento. Como o tíquete médio é menor, a diferença de juros tem pouco reflexo no valor absoluto de rendimento mensal: com R$ 500 na poupança, por exemplo, uma taxa de 12% ao ano deixaria R$ 5 de rendimento o mês; com 6%, são R$ 2,50 ao mês. No varejo tradicional, a poupança ainda será um grande produto. Os fundos podem vir a ter participação um pouco maior, mas sem a relevância da poupança.

Por que a renda fixa encolheu nas carteiras?

As possibilidades de ganhos estão reduzidas. Mas ativos isentos (de Imposto de Renda), como LCI e LCA, estão mais atrelados ao lastro (imóveis ou agronegócio) do que à rentabilidade. Os isentos são excelentes para quem quer colocar um pedaço do portfólio em renda fixa. Ao longo do tempo eles devem voltar a crescer com a Letra Imobiliária Garantida (LIG), que vem ganhando corpo. [LIG é um título com lastro em créditos imobiliários que pode ser emitido por bancos, caixas econômicas, sociedades de crédito, entre outros. Segundo informações do site da B3, o ativo pode ter rentabilidade atrelada à variação cambial é o único título de captação bancária não antecipado automaticamente no caso de quebra da instituição que o emitiu]

 

‘Desaceleração foi agravada de forma desnecessária’, diz Eichengreen

Apesar de o mundo passar por uma fase natural de desaceleração econômica, os Estados Unidos têm “agravado o problema de forma significativa e desnecessária com a guerra comercial”, diz Barry Eichengreen, professor da Universidade da Califórnia.

Segundo o economista, o embate entre as duas maiores potências deixou de ser comercial e passou a ser visto por políticos americanos como um conflito sobre segurança nacional e influência. “Uma nova guerra fria.” O risco de a disputa gerar uma recessão global aumentou e, caso esse cenário se verifique, o Brasil não terá como fugir, acrescenta. A seguir, trechos da entrevista.

A desaceleração global faz parte dos ciclos da economia ou poderia ser evitada caso não houvesse incertezas geradas pela guerra comercial ou pelo Brexit?

As fases de crescimento não duram para sempre e o crescimento nos EUA já dura dez anos. Há forças naturais gerando uma desaceleração gradual, mas estamos agravando o problema de forma significativa e desnecessária com a guerra comercial, que é uma questão mais séria (para a economia) que o Brexit. Estaríamos melhor com uma política estável e previsível, mas não é o que temos em Washington nem em outras capitais. Há incertezas na Itália e problemas econômicos em países como a Turquia.

Em 2018, o sr. disse que a probabilidade de haver guerra comercial era de 25%. O que aconteceu diferente do que previa?

A natureza do conflito foi redefinida. Antes, era sobre balança comercial, sobre o fato de a China estar com superávit em relação aos EUA. Agora, é um conflito sobre influência, sobre sistemas políticos incomparáveis, rivalidade de grande poder, segurança nacional. Uma nova guerra fria. Isso é muito mais difícil de se resolver. Definir influências e ter certeza de que a China não usará tecnologias para espiar os EUA são preocupações que não irão embora. Não apenas (o presidente Donald) Trump, mas democratas e republicanos no Congresso agora veem o conflito como uma questão sobre segurança nacional. Como o debate mudou, estou mais pessimista.

O sr. vê alguma possibilidade de solução?

Esses problemas poderiam ser resolvidos se tivéssemos líderes mais sutis e intelectualmente flexíveis. Eles poderiam perceber que China e EUA precisam trabalhar juntos para resolver os problemas do mundo, sejam de segurança, mudança climática ou quaisquer outros. Mas as pessoas que temos neste momento, especialmente na Casa Branca, não têm flexibilidade mental para entender que a única solução é trabalhar junto e que, se guerrear com a China até a morte, isso será prejudicial para EUA, China e todo o mundo. Melhores líderes produziriam melhores resultados, mas temos os líderes que temos.

Esse cenário só vai mudar então depois das eleições americanas de novembro de 2020?

Que alguém será eleito em 2020 é uma boa e uma má notícia. Boa porque esse alguém será mais inteligente e melhor negociador, qualquer um seria. Mas a má notícia é que há uma mudança permanente e irreversível no modo pelo qual os políticos americanos, de forma geral, veem a China: como rival geopolítica. Essa mudança não será revertida independentemente de quem for eleito.

O sr. já disse que não sabia se uma recessão poderia ser evitada em caso de guerra comercial. Estamos próximos de uma recessão global?

Agora que a guerra comercial está escalando e afetando o mercado financeiro vai haver impacto nos negócios americanos, em como a Apple vai produzir na China, por exemplo. Conflitos comerciais levam tempo para se mostrarem negativos para o crescimento. Quando Trump começou com as tarifas, a primeira coisa que as empresas americanas fizeram foi importar mais da China para ter estoque. Depois, importaram menos. Agora, os efeitos negativos no comércio e na produção estão se materializando.

Qual a probabilidade de haver recessão?

Em 2019, o risco ainda é baixo e a pergunta é se a recessão se desenvolve antes ou depois das eleições. O ciclo de crescimento dos EUA será muito longo e antigo nesse ponto, o mercado de trabalho estará apertado. Será apropriado, com o mercado de trabalho apertado e a inflação começando a subir, o Fed (o banco central americano) começar a elevar a taxa de juros? Com a pressão da Casa Branca? Ninguém sabe. Então a resposta para sua pergunta depende do que o Fed fizer e de Trump realmente colocar em prática mais tarifas sobre os US$ 300 bilhões de importações chinesas (medida anunciada há duas semanas). Não posso te dar uma probabilidade, mas é claro que os riscos estão aumentando.

Quais impactos para o Brasil?

Depende do mercado de exportação, tanto de commodities agrícolas como de uma variedade de manufaturas. Pode haver alguns impactos positivos se a China não importar mais soja dos EUA, mas, se os EUA e o mundo desacelerarem, a má notícia é para todos nós, e nós inclui o Brasil.

O Brasil está em crise há cinco anos. O novo governo está no rumo correto para mudar isso?

O governo não deve escolher entre fazer reformas estruturais ou se preocupar com equidade e inclusão econômica. Deve tentar os dois. Fazer reformas e não prestar atenção para inclusão não é sustentável. Vocês tiveram um governo (de Dilma Rousseff) que foi derrubado porque favoreceu inclusão, mas foi incapaz de fazer reforma estrutural. Agora têm um governo que faz reforma, mas não se preocupa com inclusão. Esse governo não terá vida longa. As pessoas que ficarem para trás vão reagir. Tem de fazer os dois. Nós não somos muito bons em fazer ambos nos EUA. Fazemos reformas, mas não temos Estado de bem-estar social.

O sr. afirmou que, na Turquia, o governo de Recep Tayyip Erdogan minou a liberdade de imprensa e o Estado de direito, o que é negativo para atrair investimento. O presidente Jair Bolsonaro pode estar indo por um caminho semelhante?

Para alguém de fora, é cedo para dizer. Bolsonaro chegou e disse que iria resolver o problema da corrupção, mas isso obviamente não aconteceu. Ainda há problemas de corrupção e de nepotismo. Ele tem tempo para trabalhar.

O sr. publicou um livro sobre populismo (The Populist Temptation). Vê relações entre o cenário econômico global e a ascensão do populismo?

O desencantamento com a economia é um fator-chave para a ascensão de populistas. O crescimento que temos beneficia os mais ricos e há insegurança econômica, com emprego e renda. Os governos demoraram em responder isso e a insatisfação econômica abriu a porta para políticos de fora do ‘mainstream’.

 

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