Sexta-feira

Valor

Minha Casa, Minha Vida tem R$ 470 milhões em repasses atrasados, dizem construtoras

O programa habitacional Minha Casa, Minha Vida acumula R$ 470 milhões em repasses atrasados e deve faltar dinheiro para pagar as construtoras até o final do ano, afirmou, nesta quinta-feira (15), o presidente da Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), José Carlos Martins.

Martins participou de uma audiência pública na Câmara sobre a utilização dos recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço). Segundo ele, o atraso diz respeito a imóveis da faixa 1, que atende famílias com renda de até R$ 1.800.

No segmento, 90% do valor do imóvel é financiado com recursos do OGU (Orçamento Geral da União). Ele reclama da liberação feita pelo Ministério de Desenvolvimento Regional, responsável por distribuir o dinheiro do programa de habitação. Dos R$ 240 milhões do orçamento do MDR em agosto, só R$ 90 milhões foram destinados ao MCMV, disse.

“Se tivesse sido distribuído recurso na mesma proporção do orçamento, teria um atraso mínimo, estaria todo mundo feliz. No entanto estão sendo pagos compromissos anteriores”, afirmou.

De acordo com Martins, o ministério está carregando dívida e pagando obras do PAC (programa de aceleração do crescimento) com dinheiro do Minha Casa, Minha Vida. Nas contas do presidente da Cbic, 200 mil trabalhadores podem ser afetados diretamente pelos atrasos. “As empresas não estão mais aguentando, elas não têm fôlego”, disse.

Ele avaliou que a situação vai piorar até o final do ano. No último trimestre do ano, o orçamento mensal disponível para o MDR é de R$ 90 milhões. Só o Minha Casa, Minha Vida exigiria R$ 350 milhões por mês, afirmou. “É uma conta que não fecha. E está lá o povo contratando, pagando imposto atrasado, emitindo nota. Nem dinheiro para dispensar tem agora.”

Na quarta-feira (14), o Ministério do Desenvolvimento Regional publicou portaria em que reduziu a R$ 450 milhões no ano o subsídio do governo às faixas do programa que usam recursos do fundo.

Esse subsídio é aplicado às faixas 1,5 e 2 do MCMV, voltadas a famílias com renda de R$ 1.800 a R$ 4.000. Nesses segmentos, 90% do subsídio vem de recursos do FGTS e 10%, do OGU. Para o ano inteiro, o valor seria de R$ 900 milhões —o que caiu à metade agora.

“Isso significa que haverá menos contratação. Não existe aporte extra do FGTS”, disse Martins. “Não vai poder financiar a mesma quantidade de unidade que estavam previstos.”

Em nota, o MDR diz que cumpre rigorosamente a destinação de recursos à área de habitação popular.

Segundo o ministério, no primeiro semestre o volume de investimentos para o programa somou R$ 2,54 bilhões, sendo R$ 2,06 bilhões à faixa 1 —a previsão, respeitando a proporcionalidade orçamentária estabelecida pela lei, era de R$ 2,09 bilhões, segundo o comunicado.

Para as faixas 1,5 e 2, o ministério diz ter repassado R$ 395 milhões ao FGTS, superando a expectativa de subsídios, que era de R$ 336 milhões.

Em julho, o MDR diz ter pedido à equipe econômica mais recursos ao programa habitacional.

Sobre as mudanças nos subsídios estabelecidas pela portaria, o ministério diz que vão ampliar a disponibilidade de recursos para a faixa 1 e novas contratações das faixas 1,5 e 2 com o saldo remanescente do FGTS.

O programa tem sofrido atrasos frequentes ao longo do ano. Em abril, construtoras ameaçaram parar diante de um desembolso atrasado estimado em R$ 550 milhões à época. O governo liberou recursos para resolver o problema. Diante da possibilidade de derrota na Câmara dos Deputados de um projeto de crédito suplementar de R$ 248,9 bilhões, em junho, também se comprometeu a liberar R$ 1 bilhão para o programa.

Os atrasos ocorrem em meio a discussões de uma reformulação do MCMV. Até agora, o governo não apresentou projeto que vai mudar as regras para o programa habitacional. Em junho, o ministro Gustavo Canuto (Desenvolvimento Regional) apresentou, em comissão na Câmara, uma proposta de limitar o acesso ao MCMV a famílias que tenham renda até sete salários mínimos (R$ 6.986 atualmente, sem considerar fator de localização).

Ele propôs ainda reformulações que incluem capacitação profissional dos atendidos e redução dos subsídios do governo federal no programa.

Se a mudança entrar em vigor, na prática as famílias que ganham mais de sete salários mínimos (R$ 6.986) e menos que R$ 9.000 deixam de ter acesso a taxas de juros menores que as praticadas em financiamentos com recursos da poupança, o chamado SBPE, e pelo mercado imobiliário.

O Ministério da Economia também discute mudanças no programa habitacional. O subsídio do governo estaria vinculado à doação de terrenos da União, por exemplo.

 

Treasury mantém sinal de temor de recessão e taxa longa atinge mínima

Os índices acionários de Nova York se estabilizaram ontem, com o Dow Jones e o S&P 500 conseguindo anotar ganhos após a onda de vendas que derrubou o mercado acionário na quarta-feira. Mas os bônus seguiram sinalizando que os investidores estão receosos com o futuro da economia - os juros dos títulos do Tesouro dos EUA voltaram a testar mínimas.

O juro do bônus de 30 anos fechou a 1,98%, perdendo pela primeira vez na história a marca dos 2%. No mercado de renda fixa, a procura pelos Treasuries, sinônimos de segurança, seguiu forte. E quanto mais esses papéis são comprados, mais seus "yields" (rendimentos) recuam. O juro do papel de dois anos desceu a 1,48%. O yield do Treasury de dez anos recuou sete pontos-base e fechou a 1,52%, depois de tocar 1,467% na mínima intradiária. Essa taxa não ficava abaixo de 1,5% desde julho de 2016, quando foi derrubado pelo resultado do plebiscito do Brexit.

O movimento atual dos bônus, em que os de prazos mais curtos têm chegado a superar os mais longos - o que é conhecido como "inversão da curva" -, indica a proximidade de uma recessão. "Este movimento é típico de um mercado em modo 'pré-panico'", disse Alberto Bernal, estrategista-chefe da XP Investments baseado em Miami, ao Valor.

Ele explica que a forte incerteza que vem dominando os mercados financeiros leva os investidores a buscar sinais na própria movimentação dos ativos. "Você não sabe o que vai acontecer, então olha para os gráficos." Na Europa, o título alemão de dez anos recuou a -0,718% e fechou a sessão em nova mínima histórica. O rendimento do papel foi pressionado por comentários "dovish" (favoráveis ao afrouxamento monetário) do presidente do BC da Finlândia, Olli Rehn, que disse em entrevista ao "The Wall Street Journal" que "é importante que nós [do BCE] apresentemos um pacote de medidas impactante em setembro".

"O mercado de renda fixa está sinalizando que há algo errado", o que alimenta ainda mais a demanda por proteção, afirma Bernal. Como todos estão olhando para os mesmos dados, "todo mundo começa a fazer a mesma coisa, o que gera este comportamento de manada". Em meio à guerra comercial entre Estados Unidos e China, o mercado global tem tido nos pregões deste mês dias de fortes oscilações.

Ontem, o presidente americano, Donald Trump, não se abasteve de provocações. Trump disse de forma provocativa, após o fechamento de Wall Street, que "quanto mais durar a guerra comercial, mais fraca fica a China e mais forte ficamos". Ontem Dow Jones fechou em alta de 0,39%, a 25.579,39 pontos, enquanto o S&P subiu 0,25%, a 2.847,60 pontos. O Nasdaq, por sua vez, sofreu leve queda de 0,09%, a 7.766,61 pontos.

Alguns analistas atribuíram a melhora do humor no mercado acionário a um aumento de 0,7% das vendas do varejo americano em julho, que ficou acima do esperado pelos analistas. Outros apontam, porém, que as ações do setor de consumo discricionário fecharam em queda de 0,8% - o que vai de encontro a esta teoria - e que a estabilização de ontem das bolsas se deve em grande parte aos ganhos dos setores defensivos, como o imobiliário, de serviços públicos e de consumo básico.

Nos EUA, o presidente do Federal Reserve de Saint Louis, James Bullard, minimizou a forte queda das ações na quarta-feira, dizendo que "foi um grande 'sell-off', mas o mercado subiu bastante neste ano", e rejeitou a possibilidade de um corte de emergência antes da reunião de setembro. Os investidores estarão atentos ao BC americano mais uma vez no dia 23 de agosto, quando começa a conferência anual do Fed em Jackson Hole.

A FactSet também soou um alerta de desaceleração econômica ao projetar um crescimento de apenas 1,5% dos lucros das empresas que compõem o S&P 500 para 2019, bem abaixo dos 6% de crescimento das projeções publicadas em janeiro. Alguns analistas são ainda mais pessimistas e projetam uma contração dos lucros em 2019.

 

Tensão global derruba mercados e Ibovespa perde os 100 mil pontos

O medo de uma recessão global por mais um dia guiou os preços no mercado, levando todos os ativos de risco no mundo a sofrer em conjunto. Com o forte fluxo vendedor na bolsa de valores forçado pelo exterior, o Ibovespa foi jogado nos menores patamares desde meados de junho. As tensões ocorrem um dia depois das quedas do dia anterior na esteira de indicadores preocupantes das economias chinesa e alemã. Nesta manhã, a China ameaçou retaliar a iniciativa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de colocar tarifas sobre todas as importações remanescentes da China.

Para Pequim, a decisão dos EUA de impor novas tarifas "violou severamente" o consenso alcançado entre os presidentes em reuniões na Argentina e em Osaka, no Japão, informou a Comissão de Tarifas Aduaneiras do Conselho de Estado da China em uma publicação online hoje. Na terça-feira, Donald Trump atrasou o prazo para a vigência de uma parte das importações até dezembro, ante a data inicial de 1º de setembro. Ontem, o presidente dos EUA havia pela primeira vez vinculado um acordo comercial com a China ao tratamento de manifestantes pró-democracia em Hong Kong, onde a tensão segue elevada.

Mais tarde, o Ministério das Relações Exteriores suavizou o discurso, sem falar em retaliação. "Esperamos que os EUA possam trabalhar em conjunto coma China para implementar o consenso dois presidentes alcançado em Osaka e para elaborar uma solução mutuamente aceitável por meio do diálogo imparcial e com respeito mútuo", indicou a porta-voz da chancelaria chinesa, Hua Chunying.

Ibovespa No Brasil, o principal índice da bolsa até conseguiu uma marginal recuperação no fechamento, mas, mesmo assim, terminou em baixa firme de 1,20%, aos 99.057 pontos — menor nível desde 17 de junho, quando ficou em 97.623 pontos. Dessa forma, no acumulado da semana até agora, o índice já cai 4,75%; no mês, a baixa é de 2,71%. O giro financeiro das ações do Ibovespa também foi relevante e atingiu os R$ 15,12 bilhões.

Nos últimos pregões, essa dinâmica tem se mantido, mostrando que os fundos, sobretudo estrangeiros, estão montando e desmontando posições intensamente no curto prazo, num mercado com dificuldades de medir o tamanho do problema na cena internacional. Nos EUA, o ajuste de preço forçado pelo movimento das T-notes chegou a deflagrar uma onda de ordens automáticas de vendas (“stop loss”) na bolsa, no pico da busca por segurança hoje — quando o Ibovespa foi aos 98.200 pontos.

A diferença entre o juro da T-note de 2 anos e o de 10 anos continua pequena, com investidores continuam trocando os vencimentos mais curtos por vencimentos mais longos — uma dinâmica que só aconteceu perto da crise financeira global, em 2007. Isso ocorre quando o investidor migra para prazos mais longos por acreditar que, no curto prazo, há sinais de atividade muito enfraquecida, preferindo buscar ativos mais seguros. “O processo de aversão a risco no exterior continua.

A curva de juros americana não para de cair, o yuan continua desvalorizando e a atividade na Europa ainda dá sinais recorrentes de fraqueza”, diz uma fonte de um grande fundo, que prefere não ser identificada. “Além disso, a guerra comercial entre China e EUA está longe do fim. É natural que as moedas emergentes se desvalorizem e que os investidores procurem ativos seguros.”

O momento é de tanta cautela que mesmo instrumentos tradicionais de proteção, como a exposição ao dólar, não estão servindo, segundo especialistas ouvidos pelo Valor. Hoje, a moeda americana teve queda acima de 1%, de volta aos R$ 3,98. No geral, pioras no exterior levam o dólar a subir e, assim, a bolsa brasileira a ficar mais atrativa ao estrangeiro. No entanto, com as moedas emergentes mais comportadas hoje e com a atuação do Banco Central no Brasil para trazer “tranquilidade” ao câmbio, essa lógica não está funcionando agora. “Quem está ‘comprado’ em dólar para se proteger de perdas na bolsa não viu o mecanismo funcionar”, diz Luiz Portella, sócio-fundador da Novus Capital.

A baixa do Ibovespa colocou o índice no “piso” da média-móvel recente, o que ainda indica certa oportunidade de compra dos investidores de bolsa, afirma Fernando Barroso, diretor da asset da CM Capital Markets. No entanto, dado o nível elevado de aversão, não há consenso de que essa oportunidade de curto prazo exista — ou, ao menos, não para a maioria das ações. “Levando em conta a maior incerteza global, alguns ativos apresentam uma oportunidade de compra, mas não creio que seja geral. Não é razoável ignorar tudo o que está acontecendo no mundo”, diz outro gestor.

EUA

Nos EUA, a postura cautelosa dos investidores sobre a guerra comercial e uma possível recessão global fez as ações em Wall Street oscilarem ao longo do dia. No entanto, alguns índices encerraram com uma estabilização após a forte queda da véspera. O Dow Jones terminou a sessão em alta de 0,39%, aos 25.579,39 pontos, impulsionado pela alta nas ações do Walmart e da Boeing. O S&P 500 subiu 0,25%, para 2.847,60 pontos, sustentado em patamar positivo por ações defensivas, em especial, de consumo básico, serviços de utilidade pública e do mercado imobiliário.

Já o Nasdaq teve leve recuo de 0,09%, aos 7.766,62 pontos. Os investidores estão receosos e se debruçam sobre os dados econômicos para avaliar a proximidade - ou não - de uma recessão. "A maior coisa que eu continuo ouvindo dos investidores é a preocupação com o crescimento global e uma recessão", disse Justin Wiggs, diretorgerente de ações da Stifel Nicolaus.

Europa As bolsas europeias também fecharam em queda nesta quinta-feira. O índice pan-europeu Stoxx 600 fechou em queda de 0,29%, a 365,09 pontos. O DAX, índice de referência da bolsa de Frankfurt, cedeu 0,70%, a 11.412,67 pontos, enquanto o CAC 40, de Paris, recuou 0,27%, a 5.236,93 pontos. Mais cedo, o presidente do BC da Finlândia, Olli Rehn, deu uma entrevista ao "Wall Street Journal" na qual disse que "é importante que nós [do BCE] apresentemos um pacote de medidas impactante em setembro". De acordo com Rehn, "quando se lida com os mercados financeiros, é geralmente melhor exagerar do que decepcionar".

Os comentários derrubaram o euro, que operava, no início da tarde desta quinta, em queda de 0,32%, a US$ 1,11020, e os rendimentos dos títulos soberanos europeus. Destaque para o bund alemão de dez anos, que tocou nova mínima intradiária de -0,713% e para os BTPs italianos para o mesmo vencimento, que recuaram quase 20 pontos-base, a 1,337%. O FTSE MIB, da bolsa de Milão, liderou as perdas na Europa, hoje, encerrando em queda de 2,53%, a 20.020,28 pontos.

O índice londrino FTSE 100 também fechou em queda mais acentuada do que os seus pares, recuando 1,13%, a 7.067,01 pontos. O índice foi pressionado pela valorização da libra, que prejudica os exportadores do país. A moeda britânica avançava 0,45%, a US$ 1,21084, no início da tarde de hoje.

 

Turbulência externa pode tirar 0,2 ponto do PIB este ano

A turbulência do cenário externo - com ameaça de agravamento da crise argentina e temor de uma nova recessão global, como resultado da guerra comercial entre China e EUA - é mais um fator de risco para o crescimento da economia brasileira neste e no próximo ano, avaliam economistas.

A MB Associados estima que a desaceleração da economia global pode tirar de 0,1 a 0,2 ponto percentual da alta do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano e até 0,5 ponto do avanço da economia em 2020. Para 2019, o maior risco é uma piora da crise argentina e, para o próximo ano, se uma recessão americana se confirmar, avalia Sergio Vale, economista-chefe da casa.

"Se não houver nenhuma sinalização do futuro governo argentino de uma normalização, de uma busca por fazer reformas na economia, vamos ver a atividade do país vizinho afundar ainda mais do que imaginávamos, afugentando investimento e consumo e, consequentemente, a importação de produtos brasileiros", afirma Vale.

Nos EUA, preocupam o nível de endividamento das empresas não financeiras e a guerra comercial, que não deverá ter solução rápida, diz o economista. "A tendência é o comércio internacional continuar caindo e isso afugenta investimento, porque traz incerteza geral sobre o crescimento futuro, assim o mundo inteiro sofre com um crescimento mais fraco", diz Vale, lembrando que as projeções de avanço da economia em toda a América Latina estão em queda.

A boa notícia, segundo o analista, é que o país está "fazendo o dever de casa" com as reformas estruturais, que tendem a atrair investimentos, na contramão da tendência internacional. A estimativa da MB Associados é, por ora, de um crescimento de 0,9% para 2019 e de 2% para 2020, que poderá ser revisada para 1,5%, segundo Vale, caso uma recessão americana de fato se confirme.

Quanto ao efeito da turbulência internacional para a política monetária, o economista avalia que, se o dólar de mantiver ao patamar atual, em torno de R$ 4, não deve haver grande impacto em preços. "Num pior cenário, de câmbio a R$ 4,20, a inflação poderia terminar este ano em 4%, patamar ainda bastante razoável e que não deve fazer o Banco Central alterar significativamente sua posição", diz.

Essa também é a avaliação de Fabio Ramos, do UBS. "A dicotomia é que há uma pressão inflacionária via câmbio, mas uma pressão em sentido contrário via preços das commodities e crescimento econômico", diz Ramos. Assim, o saldo da piora de ambiente global pode ser neutro ou até desinflacionário, o que permitiria ao BC levar a Selic a 5,25% no fim do ano, no cenário do UBS, e 5% no cenário da MB.

"Como os outros instrumentos anticíclicos ou não estão disponíveis (como no caso da política fiscal) ou não afetam a economia no timing desejado (agenda de concessões e privatizações), a queda dos juros passa a ser a principal variável de ajuste no curto prazo para lidar com as decepções de atividade", avalia em relatório Igor Velecico, do Bradesco.

Silvio Campos Neto, economista e sócio da Tendências Consultoria, lembra que o país não tem tanta exposição ao contexto global, devido ao peso reduzido das exportações no PIB, mas que setores da indústria, como o automotivo, podem sofrer com a piora das relações comerciais. "O outro lado dessa história é um mundo ainda líquido, com disponibilidade de recursos e perspectiva de quedas adicionais de juros", diz Campos. "Isso serve como um contraponto: se não houver um agravamento do contexto de estresse global, o Brasil mantendo a lição de casa benfeita, com as reformas e medidas em curso, conseguiremos sair de uma forma relativamente boa, em meio à busca dos investidores por oportunidades."

Vale também consegue ver um "copo meio cheio" no atual cenário. "O Brasil sempre funcionou na base do choque, então o cenário internacional turbulento para o ano que vem reforça a necessidade de se continuar com as reformas."

 

CMN libera IPCA no crédito imobiliário, e Caixa prepara lançamento

O Conselho Monetário Nacional (CMN) deu o passo que faltava para o lançamento de linhas de crédito imobiliário corrigidas por índice de preços em operações feitas no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) - aquelas em que o comprador pode usar dinheiro da sua conta do FGTS para pagar a dívida.

O anúncio não foi feito pelo CMN, como é praxe, mas pelo presidente da Caixa, Pedro Guimarães em entrevista a jornalistas no início da noite desta quinta-feira. O executivo pretende lançar produtos nessa modalidade na próxima semana. Em seguida, o presidente Jair Bolsonaro disse que, na terça-feira, a Caixa vai anunciar novidades que vão “revolucionar” o mercado de crédito imobiliário. O Banco Central acabou anunciando a medida no fim da noite.

As linhas que a Caixa vai lançar serão mais baratas que as já oferecidas pelo banco, indexadas pela TR. As taxas ainda não são públicas, mas a expectativa é que fiquem em IPCA mais uma banda que deve oscilar entre 2% e 5% ou algo perto disso. O percentual será menor quanto melhor for o perfil de crédito do tomador e maior for o relacionamento com o banco. Hoje, a modalidade mais barata da Caixa sai por TR mais 8,5% ao ano. As linhas baseadas na TR serão mantidas.

O cliente poderá escolher o indexador e o sistema de amortização: serão oferecidos tanto o SAC, de amortizações constante) quando a tabela Price, com parcelas fixas. Hoje, já existe liberdade de indexador para o Sistema Financeiro Imobiliário (SFI), que abrange imóveis acima de R$ 1,5 milhão. Por isso, o anúncio da liberação de índice de preço para o SFH é importante por abranger um mercado muito maior, e que, agora, poderá ter acesso a taxas mais baixas.

 A outra, não menos relevante, é que a medida tem potencial para provocar uma mudança na estrutura de funding do mercado imobiliário brasileiro, hoje dependente dos recursos da poupança e do FGTS (no caso da habitação popular). Com a indexação pelo IPCA, será possível securitizar e empacotar em CRIs as operações de financiamento habitacional, abrindo mais um bolsão de recursos para o setor num momento em que as fontes atuais de funding começam a dar sinais de esgotamento.

"A alteração promovida pelo CMN é mais um passo para tornar o mercado imobiliário menos dependente dos recursos dos depósitos de poupança e do FGTS, permitindo a contratação de operações que podem servir de lastro de instrumentos negociados no mercado de capitais, como os certificados de recebíveis imobiliários e as letras imobiliárias garantidas", afirmou o BC em comunicado.

Guimarães já disse que a Caixa pretende securitizar créditos imobiliários, dando giro maior à sua carteira. Por meio de CRIs, fintechs poderão também entrar na disputa pelo mercado imobiliário, pois o custo de capital de carregar uma operação no balanço por 30 anos deixa de existir. O que não está claro até agora é o interesse dos grandes bancos privados, que trabalham com funding da poupança.

Todos dizem que vão oferecer o IPCA, mas nenhum demonstra grande empolgação ainda. Também é preciso saber qual a receptividade dos consumidores num país com grande memória inflacionara. Na Caixa, a percepção é que haverá demanda, até porque a TR, embora esteja zerada há três anos, também tem relação com a inflação.

 

BC confirma permissão para financiamento imobiliário indexado a índice

O Banco Central (BC) confirmou na noite desta quinta-feira a permissão para a indexação de financiamentos imobiliários a índices de preços nas operações realizadas no Sistema Financeiro da Habitação (SFH). Essas operações são aquelas que permitem o uso de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para a compra de imóveis de até R$ 1,5 milhão.

A medida foi aprovada na manhã de quarta-feira pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), em reunião extraordinária. Até agora, o CMN só havia concedido liberdade de indexador para os contratos feitos no Sistema Financeiro Imobiliário (SFI). Em comunicado divulgado na noite desta quinta-feira, o BC afirma que a medida é "mais um passo para tornar o mercado imobiliário menos dependente " da poupança e do FGTS. Isso porque ela permite "a contratação de operações que podem servir de lastro de instrumentos negociados no mercado de capitais".

Com isso, a alteração "deve favorecer a ampliação das modalidades de financiamento imobiliário disponíveis aos consumidores, o aumento da concorrência entre os agentes financeiros e a redução das taxas de juros". A permissão havia sido divulgada mais cedo nesta quinta-feira pelo presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães. Segundo ele, o anúncio oficial de operações da Caixa indexadas por índices de preços deve ser feito "muito em breve".

Mais cedo, o presidente Jair Bolsonaro também afirmou que a instituição financeira apresentará novidades na terça-feira. Os votos realizados pelo CMN são normalmente divulgados após a reunião. Até a noite desta quinta-feira, o BC não havia informado o motivo pelo qual a mudança não foi divulgada após o encontro do comitê.

 

ESTADÃO

Desaceleração global atinge indústria e investimento, piorando cenário para o Brasil, diz economista

O risco de recessão global é preocupante para o Brasil porque pode atingir em cheio a indústria de transformação e os investimentos, afirmou a economista Silvia Matos, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) e coordenadora técnica do Boletim Macro Ibre.

No cenário de Silvia, um crescimento de 1,1% no Produto Interno Bruto (PIB)brasileiro em 2019, como projetado atualmente pelo Ibre/FGV, passa por uma recuperação da indústria de transformação daqui até o fim do ano, após os primeiros sinais de reação vistos no segundo trimestre.

Só que o aprofundamento da crise na Argentina pode abortar essa recuperação. E uma estagnação nas principais economias do mundo, como a Alemanha, por causa da disputa comercial entre Estados Unidos e China, que levou o pânico aos mercados financeiros na quarta-feira, poderá ser a pá de cal. A seguir, os principais trechos da entrevista com a economista.

Qual a importância da economia internacional no cenário para a economia brasileira?

A gente tem um cenário de uma melhora da economia ao longo do segundo semestre. Como a gente observou já no segundo trimestre, haveria uma melhora da indústria de transformação. Está implícito em nosso cenário uma melhora da indústria manufatureira, que foi o setor que mais sofreu com a piora do cenário internacional em 2018, com destaque para a recessão da Argentina. Qualquer cenário que não contemple essa melhora da indústria de transformação faz com que o cenário de atividade (no Brasil) piore.

A previsão era que a Argentina atrapalhasse menos neste ano?

O efeito do choque da Argentina seria amenizado neste segundo semestre, porque foi muito forte no segundo semestre do ano passado, então a produção industrial, em termos interanuais, não ia recuar tanto. Até julho, a indústria de transformação estava crescendo tanto no interanual quanto no mês a mês, conforme os indicadores coincidentes que temos até o momento. Ou seja, pelo menos até julho, mesmo com todas as dificuldades, a indústria de transformação tem mostrado ainda alguns resultados favoráveis.

Uma piora externa atinge esse processo de melhora?

Sim, com certeza. Isso já contribuiu (para a frustração do crescimento) em 2018. A indústria de transformação rodava, antes da greve (dos caminhoneiros, em maio de 2018) e da (piora da crise econômica na) Argentina, a 5,0% em termos interanuais. Houve questões domésticas, mas estamos num contexto de fraqueza doméstica. Não tem como a situação doméstica evitar uma nova rodada de choque externo. Se estivéssemos muito bem internamente, poderíamos compensar, mas não tem nenhuma gordura para queimar.

E quais as consequências de uma piora no crescimento global, em vários países, não só na Argentina?

Quando era só a Argentina, o efeito é único, de quantidade (de exportações) no setor industrial. Agora, como é um choque agregado, o problema começa a ficar mais complexo. O Brasil é um país emergente, que precisa trazer recursos  para cá. Então, um cenário de mau humor internacional, com aumento do prêmio de risco e desvalorização cambial (alta da cotação do dólar), é péssimo para o Brasil no sentido geral. O investimento, por exemplo, depende muito de importação de máquinas e equipamentos. O investimento já está neste ano numa situação complicada. Embora os dados do segundo trimestre sejam até positivos no investimento, já tínhamos uma visão negativa porque qualquer cenário nebuloso, como o que prevaleceu no primeiro semestre, prejudicaria o investimento. Numa rodada de piora do cenário externo, mesmo com juros baixos, a decisão de investir pode ser postergada.

O quão grave pode ser uma desaceleração mais forte da economia global?

A natureza desse choque é muito difícil de entender. Ele é com os juros baixos (na maioria das economias), mas com muito menos crescimento. E pode se reverter de alguma forma. Não é um jogo (a disputa comercial) com perdedores e ganhadores. Todos perdemos, inclusive Estados Unidos e China. Já está reduzindo o investimento nos Estados Unidos.

E a China?

É uma preocupação muito grande. O quanto está desacelerando a China? Será que conseguimos ter todos os dados de fato? Será que estão escondendo? Será que a desaceleração na China é mais forte, mais generalizada? Esse impacto para o Brasil é ruim. A China é um destino importante para as nossas exportações. Se a China desacelerar mais, para o Brasil é muito ruim. Tem um choque agregado, mas temos Argentina e China que são fatores que fazem com que, para o Brasil, fique mais complicado.

Uma desaceleração maior na China pode reduzir as cotações de matérias-primas brasileiras, não?

Sim, tem um canal de investimentos nos setores, se os preços caem muito. Petróleo, por exemplo. Isso acaba sendo um problema para a gente, porque é um setor que tem capacidade de crescimento muito forte, mas quedas muito expressivas de preço (das cotações internacionais de petróleo) podem inviabilizar alguns investimentos.

Um choque mais forte pode levar o Brasil a uma nova recessão?

O risco sempre existe. Não é nosso cenário base, porque teria que ser algo bem forte mesmo. Teria que ser a indústria de transformação voltando para um terreno bem negativo e o setor de serviços crescendo muito pouco. Por enquanto, não é nosso cenário.

 

 

 

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