Segunda-feira

VALOR

Mercado eleva projeção do PIB do Brasil em 2019

A mediana das projeções do mercado para o crescimento da economia em 2019 voltou a subir, de 0,81% para 0,83%, de acordo com a pesquisa semanal Focus, divulgada pelo Banco Central (BC) nesta segunda-feira, com estimativas coletadas até o fim da semana passada. Para 2020, o ponto-médio das expectativas para a economia brasileira também foi elevado, de 2,10% para 2,20%.

O PIB do segundo trimestre será conhecido em 29 de agosto. Por outro lado, a mediana das projeções dos economistas do mercado para a inflação oficial em 2019 teve nova queda, de 3,76% para 3,71%. Para 2020, o ponto-médio das expectativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) manteve-se em 3,90%. Entre os economistas que mais acertam as previsões, os chamados Top 5, de médio prazo, a mediana para a inflação oficial neste ano também caiu para 3,71%, vindo de 3,77% na semana anterior, e manteve-se em 3,90% para 2020.

Para os próximos 12 meses, a pesquisa indicou queda, de 3,68% para 3,63%. O IPCA de julho ficou em 0,19%, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), abaixo da mediana das estimativas entre 34 consultorias e instituições financeiras, calculada pelo Valor Data, de 0,25%.

Em 12 meses, a inflação oficial está em 3,22%. O IPCA-15, espécie de prévia da inflação oficial, de agosto será divulgado na próxima quinta-feira, 22. A meta de inflação a ser perseguida pelo BC é de 4,25% em 2019, 3,90% em 2020, 3,75% em 2021 e 3,50% para 2022, sempre com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

 

Média e alta rendas puxam desempenho de incorporadoras

O setor de incorporação apresentou melhora dos resultados do segundo trimestre, na comparação anual, com destaque para o desempenho das companhias com foco nas rendas média e alta - Cyrela, Even Construtora e Incorporadora e EZTec, por exemplo. Na baixa renda, as atenções do mercado de construção civil se voltaram para o impacto sobre as margens do aumento das restrições da Caixa Econômica Federal na concessão de crédito imobiliário para compradores de imóveis.

Há expectativa de continuidade, neste semestre, de crescimento de lançamentos, e do reconhecimento da receita, além da melhora dos resultados líquidos. Sempre na comparação anual, no segundo trimestre o prejuízo líquido consolidado das incorporadoras teve queda de 87,9%, para R$ 60,3 milhões. A receita líquida cresceu 24,9%, somando R$ 4,887 bilhões, e a margem bruta do setor aumentou de 23,7% para 29,5%.

A alavancagem consolidada do setor medida por dívida líquida sobre patrimônio líquido teve leve alta de 51,1% para 51,7%. O levantamento realizado pelo Valor Data incluiu dados de 15 empresas: CR2, Cyrela, Direcional Engenharia, Even, EZTec, Gafisa, Helbor, MRV Engenharia, PDG Realty, RNI Empreendimentos Imobiliários, Rossi Residencial, Tecnisa, Tenda, Trisul e Viver Incorporadora (veja tabela ao lado).

Sem a PDG, que respondeu pelo prejuízo de R$ 249 milhões no segundo trimestre, o setor teria apresentado lucro líquido consolidado de R$ 188,7 milhões. A expansão da receita líquida seria de 28,6% sobre o mesmo período de 2018, para R$ 4,796 milhões, e a margem bruta teria crescido de 26% para 29,3%. Já a alavancagem do setor teria caído de 32,3% para 27,4%. No segundo trimestre, as incorporadoras elevaram lançamentos em 29,4% e vendas líquidas em 25%, para R$ 5,585 bilhões e R$ 5,169 bilhões, respectivamente, sobre o ano passado. Os distratos tiveram queda de 39%, para R$ 841,1 milhões, também na comparação com o mesmo período de 2018.

O desempenho semestral do setor foi bem positivo. A expansão dos lançamentos foi de 43,5%, entre janeiro e junho deste ano na comparação com o mesmo período de 2018, para R$ 9,38 bilhões. As vendas líquidas tiveram alta de 23,2%, para R$ 9,433 bilhões. Durante a divulgação dos balanços do segundo trimestre, companhias com atuação principal nos segmentos médio e alto informaram que há mais interesse dos bancos pela concessão de crédito imobiliário. A redução da taxa de juros beneficia, duplamente, o setor de incorporação, pois o custo dos financiamentos cai, e os investimentos em ativos reais ficam mais interessantes em relação a aplicações financeiras. Isso vem se refletindo nas vendas de lançamentos e estoques.

 Espera-se que as linhas de crédito imobiliário a serem anunciadas amanhã pela Caixa, corrigidas por índices de preços, para operações com recursos da poupança, serão mais baratas do que as oferecidas, atualmente, o que beneficiará as empresas de média e alta rendas. Na semana passada, a EZTec elevou sua meta de lançamentos deste ano de R$ 1 bilhão a R$ 1,5 bilhão para de R$ 1,5 bilhão a R$ 2 bilhões.

A companhia lançou R$ 707 milhões, no primeiro semestre, e tem mais R$ 961 milhões previstos para até setembro. A Cyrela informou que espera um semestre forte, com apresentação de muitos projetos, e que a tendência é alcançar o objetivo de lançar mais em 2019 do que em 2018. Considerando que as safras recentes de projetos tendem a ganhar mais representação na composição da receita, a Cyrela tem expectativa de melhora gradual da margem bruta.

A Even, que também estima alta do indicador, informou que os preços de vendas de lançamentos estão superiores aos esperados e que tem comercializado estoques prontos com valores superiores aos de um ano atrás. A EZTec tem conseguido preço maior nos novos projetos e vender estoques com menos descontos. A geração de caixa pela Cyrela e pela Even foi outro destaque do trimestre, conforme analistas.

No segmento de baixa renda, MRV, Tenda e Direcional apresentaram melhora de resultado líquido e receita líquida na comparação com o segundo trimestre do ano passado. Por outro lado, as margens brutas de MRV e Tenda foram reduzidas como reflexo do maior rigor na concessão de crédito bancário a clientes no programa habitacional Minha Casa, Minha Vida. Para evitar perdas de vendas, as duas companhias concederam mais descontos aos clientes. Com isso, a margem bruta da MRV caiu de 33,3% para 30,7%, e a da Tenda baixou de 36% para 34%, na comparação anual.

Já a Direcional informou que tem conseguido manter os preços de vendas de imóveis, apesar das novas condições de oferta de crédito da Caixa. A margem bruta da companhia aumentou no período de 25,9% para 33,3%. "Os investidores estão monitorando o que pode acontecer com as margens das incorporadoras de baixa renda no segundo semestre", diz um analista setorial, ressaltando que as atenções vão se voltar mais para a execução dos financiamentos pela Caixa do que para a preocupação com eventual falta de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

 

'BCs podem fracassar em evitar recessão'

Depois de uma década de crescimento, o mundo caminha para uma recessão e os bancos centrais podem não ter munição suficiente para evitar a freada econômica. Essa é a avaliação de Jan Lambregts, diretor global de economia do Rabobank, que prevê um cenário de recessão moderada já na segunda metade de 2020. "Primeiro, não estou convencido de que eles [os bancos centrais] acreditam, claramente, que precisam agir agora. Não acho que embarcaram totalmente no risco de recessão. Também não acho que eles tenham munição suficiente, de qualquer forma", diz o analista.

Por ora, a piora não parece ser tão profunda como a crise de 2008, mas ele afirma que é preciso monitorar os riscos. De todo modo, Lambregts vê 80% de chance de haver uma recessão nos Estados Unidos. Os emergentes, por sua vez, ainda têm espaço para cortar juros. No entanto, caso o cenário se agrave, os bancos centrais desses países terão muito mais dificuldades para adotar soluções não convencionais. A seguir, os principais trechos da entrevista, concedida no escritório do banco em São Paulo.

Valor: Se os bancos centrais agirem rapidamente, eles podem evitar uma recessão global? Jan

Lambregts: Provavelmente, não. Primeiro, não estou convencido de que eles acreditem, claramente, que precisam agir agora. Não acho que embarcaram totalmente no risco de recessão. Também não acredito que eles tenham munição suficiente, de qualquer forma. Esse é um fator crucial: o quanto eles podem reduzir juros ou recorrer a políticas mais dramáticas. Estamos em um momento único. Após a crise financeira de 2008, a política monetária se tornou dramaticamente expansionista. O dinheiro muito fácil se tornou tão comum e as economias ficaram tão viciadas que ficou muito difícil retirar esse componente. Os bancos centrais disseram a todos que salvaram o mundo de um grande desastre, mas não acredito que tenhamos entendimento suficiente sobre os efeitos negativos. É impressionante o fato de que a economia americana não consegue se manter com um juro de 2,5%.

Valor: O cenário do Rabobank prevê uma recessão global?

Lambregts: Acreditamos que sim. Haverá uma recessão global. Pela definição do FMI, uma recessão global significa crescimento abaixo de 3%. Isso deve vir entre 2020 e 2021. Acreditamos, neste momento, que será uma recessão branda, não será profunda como na crise financeira de 2008. Mas precisamos monitorar de perto. O que difere este momento em relação a 2008 é que, naquela época, a crise econômica veio com uma crise financeira. A dúvida é se o problema agora crescerá de forma exponencial. Acreditamos que haverá uma recessão, mas será apenas modesta.

Valor: Isso se aplica também aos Estados Unidos?

Lambregts: Nos EUA, acreditamos que haverá uma recessão na segunda metade de 2020, relativamente modesta. Em geral, a inversão da curva de juros americana - quando as taxas longas ficam mais baixas que as curtas - indica uma recessão num prazo de 18 meses. Vimos este padrão diversas vezes no passado. É um sinal que tomamos de maneira muito séria. Nosso modelo indica 80% de chance de uma recessão nos Estados Unidos.

Valor: Diante do cenário de recessão no horizonte, o que os bancos centrais do mundo podem fazer?

Lambregts: O Federal Reserve ainda pode cortar juros, mas vários bancos centrais têm juros negativos ou taxa zerada. Aí, num cenário de deterioração ainda maior, vão precisar ir direto para políticas não convencionais. Relaxamento quantitativo, de novo. Esse é só um jeito chique de dizer: imprimir dinheiro e comprar ativos. Mas quem vai decidir quais ativos comprar? Fizemos um exercício sobre cenários muito externos de deterioração da economia e, nesses casos, acreditamos que os políticos tendem a fazer os bancos centrais imprimirem dinheiro. E esse capital vai ser usado de acordo com o poder de persuasão desses políticos, para uma determinada área ou outra.

Valor: O uso de ferramentas não convencionais pode se tornar um padrão global?

Lambregts: Relaxamento quantitativo se tornou um instrumento comum desde 2008. O Fed e o BCE estão dizendo: 'não acho que vamos usar, mas se as coisas piorarem podemos usar'. Eles estão assegurando as pessoas que podem fazer isso. E acho que todos podemos concordar que, num cenário muito ruim - algo que não prevemos -, as pessoas não vão querer enfrentar uma recessão dura nem poupar os bancos centrais. Elas vão pedir o que já foi usado e até mais. E a política vai entrar no meio. De certa forma, já conseguimos ver alguns blocos se movendo em torno da Teoria Monetária Moderna (TMM), em que o governo pode imprimir dinheiro e gastar como preferir.

Valor: A política já está entrando no meio do debate sobre atuação dos bancos centrais?

Lambregts: [O presidente Donald] Trump já tem dito: 'eu fiz o que podia, mas Powell, o presidente do Fed, não quer cortar juros'. O Fed está bem onde Trump queria. Ele não se arrepende de ter colocado Powell no Fed. Se tudo der certo e uma recessão for evitada, então, Trump dirá que Powell ouviu seus conselhos. Por outro lado, se não der certo, ele poderá dizer que alertou Powell. Assim, pode inclusive pedir mais influência sobre o Fed. E esse é só um exemplo do que pode acontecer, mas acho que já pode ser visto em várias partes do mundo.

Valor: O que se espera para política monetária de emergentes?

Lambregts: Economias emergentes, em geral, têm mais espaço para cortar juros. A má notícia é que algumas coisas que os países desenvolvidos podem fazer, como imprimir dinheiro, não é tão fácil para emergentes. Os EUA, por exemplo, podem fazer experimentos e coisas malucas por um período muito maior do que emergentes. As pessoas vão continuar comprando os ativos americanos. Agora, vamos dizer que a Argentina decida imprimir dinheiro e realocar recursos. Não acho que vai funcionar.

Valor: Em outras palavras, política não convencional é um luxo de países desenvolvidos.

Lambregts: Sim, é parte do privilégio de quem tem mercados de ativos bem desenvolvidos. Por exemplo, na Argentina, mesmo se você imprimir muito dinheiro, onde você vai colocar? Nos EUA, na Europa e no Japão, você tem mercados muito líquidos. O dinheiro pode ir para dívida corporativa, títulos do governo, ações etc. Os emergentes teriam muito mais dificuldade para introduzir medidas não convencionais. Os mercados não vão apoiar essas medidas, nem são desenvolvidos o suficiente para facilitar esse processo.

Valor: Onde o Brasil está posicionado neste cenário?

Lambregts: O Brasil está tentando fazer sua lição de casa, mas enfrenta alguns obstáculos. Domesticamente, pode ter uma dinâmica favorável. O Brasil é relativamente fechado. Não é tão exposto como outros pares, como Cingapura. Mas a perspectiva para commodities é uma preocupação, assim como o nível baixo de poupança no Brasil. Tem alguma dependência em dívida denominada em dólares e isso pode ser uma preocupação num cenário de problema de liquidez global. O Brasil não tem a melhor posição, mas também não tem a pior. Por isso, é muito importante fazer a lição de casa.

Valor: Como a guerra comercial entre Estados Unidos e China afeta o cenário global?

Lambregts: A guerra comercial não é um incidente, não se trata de um acordo que precise ser firmado, mas faz parte de um cenário mais amplo de guerra fria. No fim das contas, os EUA e a China vão disputar a hegemonia do século 21. A China está numa trajetória ascendente, mas os EUA ainda são a grande super potência. Muitos afirmam que a lógica econômica vai prevalecer e uma guerra comercial é algo irracional, porque todos os lados perdem. Mas isso é um pensamento perigoso. A lógica econômica é muito limitada. Se você levar em consideração outras dimensões, como militar e política, tudo fica mais complicado.

Valor: Existe o argumento de que a guerra comercial é conduzida, principalmente, pelo presidente americano, Donald Trump.

Lambregts: Não é tão simples. Um dos poucos temas que tem apoio bipartidário em Washington é a pressão sobre a China. Quando Trump amenizou a pressão sobre a ZTE, ele foi criticado por republicanos e democratas. Mesmo se ele deixar de ser presidente, é bem provável que um presidente democrata seja tão duro quanto Trump. É uma dinâmica que não pode ser descartada. É muito difícil ver um compromisso, um acordo, de qualquer um dos lados. É possível que haja uma trégua temporária ou alguma calmaria. Mas é isso uma questão de longo prazo, que ficará no radar por décadas.

 

Atividade do 3º trimestre começa modesta

Indicadores coincidentes e antecedentes de julho sinalizam que a atividade brasileira iniciou o terceiro trimestre em ritmo modesto. Os sinais para os rumos da economia são mistos. Apesar de as principais métricas para antecipar o desempenho da indústria terem apresentado alta, economistas não descartam queda de produção, porque a confiança do empresário está em níveis baixos, e os estoques, altos.

O Itaú Unibanco espera que o Produto Interno Bruto (PIB) avance 0,5% no segundo trimestre, mas a trajetória ruim da indústria em maio e junho devem gerar, nas contas da equipe do banco, um carrego estatístico de -0,3% para o terceiro trimestre. O "cheiro inicial" é de "um PIB um pouco negativo" no terceiro trimestre, segundo Luka Barbosa, economista do Itaú. "Você vem com um carrego negativo, vê os dados para julho e agosto e fica com a visão de que o PIB vai cair no terceiro trimestre, ainda que seja preliminar", diz.

A projeção inicial do Itaú para a indústria é de um recuo de 0,5% em julho, ante o mês anterior, e de mais 0,5% em agosto. Barbosa cita, por exemplo, dados da balança comercial, como a importação de bens intermediários. Em julho, as compras subiram 1,4%, na comparação mensal com ajuste sazonal, mas caíram 1% na primeira semana de agosto. Além disso, o índice agregado de confiança do empresário, divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), segue em nível baixo (93,9 pontos), apesar da alta de 0,9 ponto em julho.

De acordo com o Itaú, o indicador tem alta correlação com a criação de empregos formais medida pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). "A confiança do empresário sair de 80 para 90 pontos não quer dizer que a atividade econômica vai crescer, apenas que vai contrair a taxas menores", diz Barbosa. Ele afirma que o nível de confiança do empresário está baixo e é consistente com um crescimento anualizado do PIB de 0,7%. "A economia cresce perto de 1% há mais de dois anos e o dado da confiança não indica grande aceleração", afirma.

Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra, chama a atenção também para o estoque elevado na indústria. Reportagem do Valor mostrou que 6 de 14 segmentos pesquisados pela FGV estavam com mercadoria parada em excesso em julho. O Safra também prevê queda de 0,5% para a indústria em julho. Mesmo dados positivos apontam para um crescimento modesto da indústria no começo deste trimestre, observa Rodrigo Nishida, economista da LCA Consultores.

Números dessazonalizados pela consultoria mostram que a produção de veículos e máquinas agrícolas, calculada pela associação que representa as montadoras, a Anfavea, cresceu 5,31% em julho, ante o mês anterior. O estoque de veículos, no entanto, voltou a subir (1,4%), para 320,4 mil unidades.

O fluxo pedagiado de veículos pesados, estimado pela associação das concessionárias de rodovias (ABCR), avançou 1,84%. Já a produção de papel ondulado, da Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO), cresceu 2,9% em julho, interrompendo dois meses seguidos de queda.

A LCA observa, porém, que na série da média móvel de três meses, a tendência ainda é de baixa. A LCA projeta alta de 0,3% na produção industrial de julho, em relação ao mês anterior. Na comparação com julho de 2018, no entanto, a previsão é de queda de 0,6%. Nishida ressalta que os dados interanuais do mês passado já trazem uma clareza maior sobre a economia, porque sofrem menos com o efeito da greve dos caminhoneiros sobre as bases de maio e junho do ano passado.

Pelo lado da demanda, Barbosa, do Itaú, menciona a queda nas vendas de veículos. O ajuste sazonal do banco para dados da associação dos concessionários (Fenabrave) aponta que os emplacamentos de carros de passeio e veículos leves caíram 4% em julho, em relação ao mês anterior. O Itaú espera queda de 0,4% para o varejo restrito em julho e de 0,8% para o ampliado (que inclui veículos e material de construção).

A confiança do consumidor, da FGV, também recuou, 0,4 ponto em julho, para 88,1 pontos. O consumidor responde a percepções de inflação e emprego, segundo Paulo Picchetti, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre). "Se, por um lado, a inflação vem ajudando, por outro, um dos motivos para esse comportamento favorável é exatamente a reação muito lenta do mercado de trabalho."

O Indicador Antecedente Composto da Economia Brasileira (Iace), publicado pelo Ibre e pelo The Conference Board (TCB), subiu 0,5% em julho, para 117,6 pontos. "O resultado indica que não deve haver reversão de ciclo, de entrada em recessão, mas a recuperação segue muito lenta e sujeita a volatilidades", diz Picchetti. Na avaliação preliminar da LCA, o PIB do terceiro trimestre pode avançar 0,7% em relação aos três meses imediatamente anteriores. Mas mesmo essa variação mensal é considerada tímida.

"Talvez, uma variação na margem mais forte seja observada apenas no quarto trimestre, e não no terceiro", diz Nishida. Com a perspectiva de liberação de saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) a partir de setembro, Kawall, do Safra, vê a possibilidade de o PIB do terceiro trimestre avançar 0,4%. "Podemos começar a ter algum efeito marginal com o FGTS, embora isso deva ficar mais para o quarto trimestre e uma parte para o ano que vem." O ambiente econômico, segundo ele, tende a melhorar também com a sinalização positiva da aprovação de reformas, mas ainda há vetores que seguram a recuperação, como a construção civil "muito deprimida".

O Safra projeta alta de 0,8% para o PIB neste ano e de 2% em 2020. A expectativa para o ano que vem, no entanto, depende, entre outras coisas, de como vai se comportar a Argentina, importante destino para exportações industriais do Brasil. O mercado financeiro não reagiu bem à possibilidade de um kirchnerista vencer a eleição presidencial deste ano. "O cenário é incerto. Se aprofundar a desaceleração por lá, pode tirar de 0,1 a 0,2 ponto do PIB do ano que vem", diz Kawall.

Barbosa observa que a guerra comercial entre EUA e China tem potencial de impacto maior sobre o Brasil do que a crise no país vizinho. "O cenário de fraqueza no Brasil está ligado à desaceleração global. O que ocorre na Argentina reforça, mas não é o mais importante", diz. O cenário externo adverso já está na conta do banco para o PIB de 2020 - uma alta de 1,7%, abaixo da mediana de 2,1% do último Boletim Focus.

 

FOLHA

Bolsonaro traz insegurança e recessão se aproxima, diz investidor

A recessão se aproxima, a reforma da Previdência não será suficiente para reerguer a economia e o comportamento de Bolsonaro traz insegurança aos investimentos. A opinião é do investidor Lawrence Pih, antigo dono do Moinho Pacífico, um dos maiores processadores de trigo do país, vendido para a Bunge em 2015. Apesar do retrato, Pih vislumbra fortalecimento do real e alta da Bolsa. Não por projeção de forte crescimento no Brasil, mas por falta de alternativa no mundo.

Cenário

Bancos centrais pelo mundo implementarão mais medidas de afrouxamento monetário, injetando liquidez nos mercados, e reduzirão juros abaixo de zero em alguns casos, já os governos elevarão gastos apesar de quadros fiscais frágeis", afirma Pih.

Esgotado

Para o investidor, há pouco que as autoridades monetárias e governo possam fazer para evitar uma recessão mundial nos próximos anos.

Sem destino

Ironicamente, a liquidez buscará destino e pode aumentar o investimento no Brasil, segundo Lawrence Pih. "Hoje há muito poucas alternativas de investimento, visto que US$ 17 trilhões estão aplicados em bônus rendendo juro negativo nominal e mais de US$ 30 trilhões com juro real negativo", afirma ele.

Surpreendente
Por incrível que pareça", segundo o investidor, o Congresso é hoje um dos fatores de estabilização da economia, além do ministro Paulo Guedes, que ancora as esperanças do mercado. "Quem diria, o Congresso", diz ele. "O comportamento errático e disruptivo de Bolsonaro tem relevância na visão dos investidores. A postura dele traz insegurança e incerteza porque é imprevisível a agenda do presidente. Ele imita Trump, um dos piores exemplos no mundo"

 

Dólar a R$ 4 surpreende consumidor e desenha cenário menos otimista

Brasileiros que voltaram das férias de julho neste ano com o cartão de crédito recheado de despesas em dólar podem ter sido surpreendidos pelo óbvio. Ainda que reformas sejam importantes para reequilibrar a economia —e o preço da moeda americana—, enquanto o mundo lá fora estiver em crise, o dólar não será tão baixo quanto o alardeado pelo segmento otimista do mercado financeiro.

Na semana passada, a moeda americana voltou a ser negociada acima de R$ 4, espécie de patamar simbólico para quando começa a ficar cara para o consumidor. E quem gastou em julho, após o primeiro aval àreforma da Previdência na Câmara, pode ter chegado em agosto com uma despesa 8% maior.

Logo após a votação, a moeda chegou a ir aos R$ 3,70 esperados pelo mercado financeiro para o fim deste ano.

No entanto, o dólar retomou a trajetória de alta e superou os R$ 4 após os argentinos surpreenderem o mercado financeiro com uma primeira chancela à volta de kirschneristas, de esquerda, ao poder. A eleição é em outubro.

O contágio externo que faz o dólar subir não vem só da Argentina: com Estados Unidos e China travando uma guerra comercial cada vez mais ferrenha, investidores preferem deixar seus investimentos em países arriscados, como é o Brasil, rumo à segurança da dívida pública americana. Na saída, levam dólares e, ao enxugar a oferta da moeda no mercado doméstico, fazem o preço subir.

Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de renda variável do BTG Pactual digital, diz que o Brasil ainda se sai bem, dado que as demais moedas emergentes perderam ainda mais valor com a piora dos ânimos no exterior.

Ele lembra que o banco ainda trabalha com o dólar a R$ 3,70 ao fim de 2019, ainda que os atuais R$ 4 não pareçam exagerados para o momento.

Na projeção mais recente do Boletim Focus do Banco Central, fechada antes da surpresa eleitoral na Argentina, a expectativa de consenso do mercado era de R$ 3,75.

Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest, é mais cética. Nem o piso do BTG, nem a reação exagerada do mercado na semana passada seriam o patamar justo para o dólar no Brasil. Ela considera um intervalo mais crível entre R$ 3,80 e R$ 3,90.

Isso depende, porém, da entrada de dólares. Não é de agora que os investidores estrangeiros estão deixando o país, lembra Consorte.

“Tem uma coisa específica que está acontecendo no país, que é a falta de fluxo. O fluxo financeiro está operando no negativo há meses”, diz a economista.

Fluxo operando no negativo, em bom português, é que mais dinheiro está saindo do que entrando no país.

A Bolsa tem sido um bom termômetro desse fenômeno, com quase R$ 19 bilhões já retirados pelos estrangeiros, na contramão do discurso otimista do mercado de que o ambiente reformista traria dinheiro de fora para o Brasil.

 

Exportação de ouro bate recorde no Brasil com temor de recessão global

No fim de julho, um grupo de criminosos levou 770 quilos de ouro de um terminal de cargas do aeroporto internacional de Cumbica, em Guarulhos (SP). Os integrantes chegaram disfarçados de policiais federais, ameaçaram os trabalhadores do terminal com armas e concluíram o assalto em dois minutos e meio.

Filmadas pelas câmeras de segurança, as cenas da carga empilhada numa camionete com emblema falso da Polícia Federal chamaram a atenção da opinião pública: ninguém imaginava que passava tanto ouro assim pelo principal aeroporto do país.

Na realidade, cargas como essa são cada vez mais comuns por lá, porque as exportações brasileiras de ouro vêm batendo recorde, na esteira do aumento dos preços internacionais provocado pelo temor de que o mundo está à beira de uma recessão. Para proteger o patrimônio, as pessoas estão comprando e guardando o precioso metal.

Em 2018, o Brasil enviou 95 toneladas de ouro para o exterior —um crescimento de 150% em dez anos, conforme estatísticas do Ministério da Economia. Até julho deste ano, já foram exportadoras outras 51 toneladas.

O ouro brasileiro sai do aeroporto de Cumbica e segue para diferentes destinos, principalmente Canadá, Reino Unido, Suíça e Índia.

As exportações absorvem atualmente a maior parte da produção brasileira, estimada em 97,1 toneladas.

Esse volume corresponde apenas à produção formal, feita a muitos metros de profundidade por empresas multinacionais especializadas, como a AngloGold Ashanti, que explora ouro no Brasil há 185 anos, ou a canadense Kinross.

Mas existe um mercado informal, não contabilizado, no qual o ouro é extraído manualmente pelos garimpeiros nas beiras dos rios ou em minas próximas à superfície.

A percepção no setor é que esse segmento também vem crescendo, estimulado pelas declarações favoráveis de Jair Bolsonaro (PSL).

O presidente já disse mais de uma vez que “tem o garimpo no sangue”, porque seu pai chegou a atuar como garimpeiro, e que pretende legalizar a atividade na Amazônia, criando “mini-Serras Peladas” —uma referência à região farta em ouro e garimpeiros que ficou famosa nos anos 1980.

O avanço do garimpo ilegal, particularmente em terras indígenas e reservas ambientais, colocou em alerta os órgãos de fiscalização e também as empresas produtoras de ouro.

“O Brasil deveria estimular o geólogo, e não o garimpeiro”, diz Wilson Brumer, presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), ressaltando que a pesquisa em geologia recebe pouco investimento no país.

Esse renascimento da produção brasileira de ouro ocorre em um momento de preços favoráveis —os maiores patamares dos últimos seis anos. Na sexta-feira (16), o ouro fechou a US$ 1.513 por onça (medida tradicional desse metal), impulsionado pelas incertezas geradas pela guerra comercial entre China e Estados Unidos.

Conforme o World Gold Council (Conselho Mundial de Ouro), uma organização global voltada para o desenvolvimento do mercado de ouro, a demanda está batendo recorde no mundo, puxada pelo consumo de joias na Índia, pelas compras feitas por bancos e corretoras, para respaldar a venda de contratos lastreados em ouro, e, principalmente, pelas aquisições dos BCs (bancos centrais).

No primeiro semestre deste ano, os BCs adquiriram 374,1 mil toneladas do metal —o maior aumento líquido das reservas globais de ouro dos últimos 19 anos.

Os temores de uma nova recessão mundial, provocada pela guerra comercial iniciada por Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, levaram as autoridades monetárias a incrementar a compra de ouro a fim de garantir o valor de sua moeda.

Segundo os especialistas do setor, as empresas instaladas no Brasil vêm aproveitando as oportunidades geradas pelo mercado favorável, porque estão maturando agora os investimentos feitos no início da década. A extração de ouro, explicam, exige alta tecnologia, porque as minas são cada vez mais profundas.

Mas ainda existiria um longo caminho a percorrer. Em termos globais, o Brasil é um concorrente marginal. Segundo o World Gold Council, o país ocupa a 11ª posição no ranking de produção de ouro, muito atrás de países como China, Austrália, Rússia e Estados Unidos.

Nada comparado, portanto, com o papel central que os brasileiros ocupavam no final do século 18, quando as exploração das reservas de Minas Gerais transformaram o país, ainda uma colônia de Portugal, no maior produtor mundial de ouro, respondendo por 40% do volume global.

As maiores perspectivas de crescimento, aliás, estariam fora das tradicionais regiões produtoras de Minas. Segundo a Agência Nacional de Mineração (AMN), Goiás é hoje o maior produtor de ouro do Brasil. Em 2018, o estado respondeu por 38,7% do total extraído no país, acima dos 35,8% de Minas. Em seguida, vem o Pará, com 14,3%

 

Lenta recuperação econômica está cansando sociedade, segundo especialista

Embora concordem que a queda do investimento explica parte considerável da lenta recuperação brasileira, economistas divergem sobre como superar esse quadro. As diferentes opiniões têm se tornado mais evidentes à medida em que o debate sobre o tema vem esquentando.

Samuel Pessôa, pesquisador do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) e colunista da Folha, gerou polêmica recentemente ao defender que o governo federal prepare um pacote de estímulo ao investimento, via obras públicas, limitado a cerca de 0,5% do PIB.

Foi criticado por seus pares de orientação liberal que temem a piora do quadro fiscal se uma medida desse tipo.

“Muitos amigos discordaram de mim, alguns até ficaram chateados”, diz Pessôa.

“Eu entendo os questionamentos que recebi porque nunca havia defendido isso, mas a sociedade está cansando. A gente está falando da recuperação mais lenta dos últimos 120 anos. Não é um fenômeno corriqueiro”.

Um dos riscos desse cenário, segundo Pessôa, é que a “excepcionalidade da situação” leve a política “a formular uma solução ruim”, se uma saída econômica não for encontrada antes.

Ele ressalta que parte dos trabalhadores desempregados há muito tempo vem perdendo capital humano, o que pode provocar danos de produtividade para o país, a chamada histerese.

O termo vem da física, onde é empregado para descrever situações como a de uma mola que, de tanto ser esticada, não volta depois ao formato original. Em economia, vem sendo usada em alusão ao efeito duradouro ou permanente de alguns fenômenos, principalmente longos períodos de desemprego:

“As pessoas desempregadas vão perdendo a capacidade de trabalhar, é como se depreciasse o capital humano”, diz Pessôa.

Ao se tornarem menos produtivos, esses profissionais tendem a contribuir menos para o crescimento econômico quando se recolocarem, sofrendo perdas permanentes de renda. Uma preocupação ainda maior recai sobre os trabalhadores que já eram menos qualificados no início da crise e podem se tornar obsoletos a ponto de não conseguirem uma nova ocupação.

Os argumentos de Pessôa foram divulgadas numa publicação recente do Ibre sobre a conjuntura econômica. Para o pesquisador, como investimentos em obras geram empregos, absorveriam parte da força de trabalho parada.

O efeito positivo sobre renda e consumo faria a economia crescer a um ritmo mais rápido, reduzindo o impacto fiscal negativo do aumento do endividamento, expresso na relação entre o valor da dívida pública e o PIB (Produto Interno Bruto).

O contexto de retomada da queda dos juros —que corrigem o valor da dívida— favoreceria essa iniciativa agora, especialmente após o avanço da reforma da Previdência, que tem levado à melhora na confiança de investidores.

Igor Rocha, diretor econômico da Abdib, também defende a volta de investimentos públicos:

“O nível de depreciação da infraestrutura no Brasil se tornou enorme. Já tem pontes caindo. O setor privado não vai voltar a investir sem uma complementariedade do setor público”, diz.

Segundo o economista, o debate sobre investimento público no país migrou nos últimos anos de um extremo a outro:

“Passamos de uma situação em que se achava que o Estado era o maior responsável pelos investimentos para outra em que se defende que o setor privado vai resolver tudo sozinho. Ambas visões estão erradas. Os dois são complementares”, diz.

Quem é contra medidas de estímulo fiscal argumenta que o governo federal ainda lida com um déficit elevado e tem um longo ajuste pela frente.

Na busca por maior equilíbrio nas contas públicas nos últimos anos, foram aprovadas medidas como o chamado teto de gastos, que limita o crescimento das despesas à inflação do ano anterior.

Mas a pressão por mudanças, em meio à anemia econômica, tem aumentado. Nesta semana, o próprio secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, admitiu que tem escutado que seria necessário flexibilizar o teto de gastos.

“Pela primeira vez, eu estou escutando com insistência de amigos meus muito próximos sugestão de mudança da PEC [proposta de emenda constitucional] do teto de gastos. Alguns amigos meus falam que é muito dura, está inviabilizando o setor público”, disse ele, em um evento em Brasília.

Mas, para ele, uma flexibilização seria perigosa, pois poderia perpetuar o cenário de déficits fiscais, a não ser que houvesse aumento da carga tributária, o que, segundo Mansueto, a sociedade não aceita neste momento.

O temor dos economistas liberais contrários à uma flexibilização de regras é que qualquer sinal de descompromisso do governo com o rigor fiscal leve a uma crise de desconfiança. Seu argumento é que crises passadas mostraram que dúvidas sobre a solvência pública podem levar a saída de investimentos, depreciando a moeda e forçando uma alta de juros, o que acaba agravando o quadro de endividamento.

“A gente criou uma lei para controlar os gastos públicos, cancelá-la poderia gerar efeitos sobre a confiança no ajuste fiscal, com consequências mais sérias”, diz Igor Velecico, do Bradesco.

Por isso, segundo ele, embora válida, a discussão sobre as prioridades do gasto público precisa ocorrer no Congresso.

“É uma decisão da sociedade”, diz Velecico.

Para ele, é importante o governo focar em uma agenda de concessões e privatizações que criem incentivos adequados para que o setor privado volte a realizar investimentos importantes.

No caso dos governos estaduais, o próprio secretário do Tesouro apresentou um projeto que poderia ajudá-los a recuperar fôlego para investimentos nos próximos anos.

O chamado Plano Mansueto, que ainda depende de aprovação do Congresso Nacional, prevê a liberação de empréstimos com aval da União se os estados adotarem medidas de controle de gastos e boas práticas de gestão do orçamento.

Para Myriã Bast, do Bradesco, isso ajudaria os governos regionais a recuperar capacidade para investir. Outro caminho, segundo ela, seria o compartilhamento das receitas dos leilões de blocos de petróleo previstos para o fim deste ano.

“Há a previsão de que uma parte das receitas irá para estados e municípios. Poderia haver uma regra para que a liberação fosse vinculada a um plano de investimentos”, diz a economista.

Na percepção de analistas, se o investimento privado continuar tímido mesmo depois do avanço da agenda econômica do governo, a tendência é que o debate sobre o papel do Estado na reativação do crescimento continue.

 

Estudos indicam o colapso de investimentos no Brasil

O debate sobre o fraco crescimento do Brasil tem focado cada vez mais o colapso do investimento. Análises ressaltam que o desempenho ruim dos gastos com construção civil, máquinas e inovação tem poucos precedentes históricos, reacendendo a discussão sobre os prós e contras de uma atuação direta do governo na economia.

Cálculos do pesquisador Paulo Morceiro, do Núcleo de Economia Regional e Urbana da Universidade de São Paulo (Nereus), mostram que a taxa de investimento da construção civil como fatia do PIB(Produto Interno Bruto) teve, em 2018, seu pior desempenho em mais de 70 anos.

Os 7,5% do ano passado só perdem para os 6,9% de 1948, segundo ano da série histórica compilada pelo economista com base em dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Já a taxa de investimentos em máquinas e equipamentos fechou 2018 em 6,1% do PIB, nível mais alto do que em outras crises, mas bastante inferior aos 8% de 2010, quando a economia ainda crescia em ritmo acelerado.

Não há dados que já permitam estender a mesma comparação para 2019, mas os resultados do primeiro trimestre indicam continuação do quadro de fraqueza.

Levantamento da Abdib (Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base) mostra que, em maio de 2019, o investimento —tecnicamente chamado formação bruta de capital fixo— ainda estava 24,8% abaixo do nível registrado no início da trajetória de queda, em abril de 2014.

Embora a mais recente recessão tenha terminado oficialmente no fim de 2016, a reação dos gastos com obras, modernização e ampliação de parques produtivos continua lenta do ponto de vista histórico.

Os cálculos da Adbid, baseados em dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), comparam a situação atual com a verificada após outras recessões.

A crise provocada pelo apagão de energia elétrica, em 2001, por exemplo, fez o investimento começar a recuar em maio daquele ano, levando 39 meses para retornar ao seu nível inicial.

Desta vez, o ciclo de fraqueza da formação bruta de capital fixo é bem mais duradouro: estende-se por 62 meses.

Um estudo recente dos economistas Guilherme Magacho e Igor Rocha mostra que, assim como teve um papel preponderante durante a expansão econômica da década passada, a debilidade do investimento explica parcela considerável da crise recente.

Os pesquisadores mensuraram a contribuição de três fatores para a variação da produção: o consumo, as oscilações nos preços das commodities (matérias-primas) e os investimentos em infraestrutura e habitação.

Com base em dados das contas nacionais do IBGE, Magacho e Rocha analisaram os efeitos desses componentes do crescimento usando uma metodologia chamada matriz insumo-produto.

Concluíram que a queda nos preços de commodities no mercado internacional foi responsável por 34,5% do recuo da produção do país, entre 2013 e 2016. Já as contrações de investimentos públicos e privados em infraestrutura e habitação responderam por, respectivamente, 20% e 21,2% da redução.

A dinâmica do consumo das famílias teve impacto positivo para a produção, principalmente porque o processo de substituição de bens nacionais por importados, que havia sido muito forte na década passada, perdeu fôlego.

O trabalho foi publicado como texto de discussão em julho pelo Centro de Política Pública e Econômica da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, ao qual Magacho é associado.

“O efeito multiplicador do investimento é muito grande. Obras de infraestrutura, por exemplo, empregam muitos trabalhadores que direcionam renda ao consumo, beneficiando outros setores”, diz.

O colapso dos gastos nos últimos anos ocorre tanto no setor privado quanto no público.

Um dos efeitos não revertidos da recessão é a alta quantidade de máquinas e equipamentos parados nos parques fabris. Pelos dados da CNI (Confederação Nacional da Indústria), em junho, 22,8% da capacidade instalada da indústria estava ociosa. No mesmo mês de 2018 eram 22,3%.

Muito longe de seu limite de produção, o setor privado não se anima a voltar a investir.

Com um alto déficit fiscal e um Orçamento engessado por despesas fixas, como folha de pagamentos e aposentadorias, o governo federal tem reduzido gastos mais flexíveis, como os de infraestrutura.

Análise recente feita pelos economistas Myriã Bast e Igor Velecico, do Bradesco, mostra que, no âmbito dos governos estaduais, também houve severa queda dos investimentos nos últimos cinco anos.

Descontada a inflação, despesas em áreas como infraestrutura e saneamento básico caíram 70,7%, de R$ 63,1 bilhões, em 2013, para estimados R$ 18,5 bilhões, em 2018.

“Embora os gastos da União sejam mais vultosos, o volume investido por estados e municípios, como proporção do PIB, é grande e, em algumas regiões, fundamental para a infraestrutura”, diz Bast.

Sem a possibilidade de emitir dívidas para se financiar e com limites para buscar crédito, a situação dos estados piorou com a queda da arrecadação.

Para Bast, a redução do investimento combinada às dificuldades de alguns estados para pagar salários e fornecedores têm ajudado a limitar o crescimento econômico do país. “Há um problema de demanda muito grande, que gera um circulo vicioso”, diz ela.

 

Empresas reduzem dívida externa e pressionam dólar, diz Banco Central

O movimento de empresas sediadas no Brasil de buscar dólares para quitar dívidas em moeda estrangeira está entre os fatores que contribuíram para a alta recente da moeda norte americana e levaram o BC (Banco Central) a anunciar a venda de recursos das reservas internacionais a partir desta quarta-feira (21).

A avaliação faz parte do documento no qual o diretor de Política Monetária do BC, Bruno Serra Fernandes, sugere à diretoria colegiada da instituição que use a venda de dólares das reservas à vista como instrumento mais adequado à conjuntura atual.

“A persistência de fluxos de saída do país, fugindo ao padrão sazonal, tem tido como principal explicação o movimento de substituição de financiamentos corporativos externos pela emissão de dívida no mercado local”, diz o documento do BC.

egundo a instituição, a perda do grau de investimento pelo Brasil reduziu o volume potencial de recursos disponíveis para o país, e a regulação prudencial internacional mais restritiva fez com que o custo das linhas de crédito oferecidas por bancos no exterior ficasse mais alto. No Brasil, por outro lado, o cenário é de juros em queda e avanço do mercado de capitais.

Neste ano, até o dia 9 de agosto, a saída de recursos do país supera a entrada em US$ 2 bilhões. No mesmo período de 2018, o saldo era positivo em US$ 29 bilhões.

Os números sobre rolagem de dívidas externas apontam que, em termos líquidos, saíram do país US$ 6,2 bilhões até junho, aumento de 80,6% sobre o mesmo período do ano passado.

A emissão de títulos de dívida de empresas de setores não financeiros no mercado nacional cresceu 34,4%.

A demanda maior por dólares também se reflete nos empréstimos feitos pelo BC com recursos das reservas, que somam mais de US$ 12 bilhões, nível historicamente alto para essa época do ano.

O diagnóstico do BC é que esse cenário deve perdurar por tempo relativamente mais prolongado, já que seus fatores não devem se reverter no curto prazo. E que o aumento dos empréstimos de dólares das reservas não é a opção mais indicada.

“A atual conjuntura sugere oferecer a alternativa de o mercado trocar alguma parcela do estoque de swaps cambiais por dólar à vista”, diz o BC no documento.

Na quarta-feira (14), a instituição anunciou que oferecerá ao mercado cerca de US$ 3,8 bilhões das reservas, em leilões realizados entre os dias 21 e 29. O BC não vendia dólares no mercado à vista desde a crise financeira internacional de 2009.

O anúncio foi feito em um momento em que a piora no cenário externo, em meio à disputa comercial EUA-China e à nova crise argentina, levara o dólar a mais de R$ 4,00.

Para o BC, a conjuntura do mercado de câmbio não está associada a fragilidades da economia brasileira.

 

ESTADÃO

Com juro baixo, taxa de crédito imobiliário se aproxima do menor patamar da história

Com a inflação sob controle e a perspectiva de novos cortes nos juros básicos da economia até o fim do ano, a taxa cobrada de quem busca o crédito imobiliário caminha a passos largos para o menor nível da história – o que pode ocorrer já em 2020, segundo analistas do setor.

Essa expectativa foi impulsionada pela maior concorrência entre os bancos e pela retomada dos financiamentos da Caixa Econômica Federal neste ano. O movimento já se reflete em alta de vendas e lançamentos.  previsão de redução das taxas de financiamento imobiliário acompanha as quedas da Selic, os juros básicos, hoje em 6% ao ano. A maior parte do mercado financeiro prevê que a taxa caia para 5% ao ano até o fim de 2019, enquanto os mais otimistas falam em 4,75%.

Assim, o juro médio dos empréstimos para compra da casa própria ficou em 7,73% ao ano em junho, conforme dados do Banco Central (BC), que consideram financiamentos para pessoas físicas com recursos direcionados. É um nível parecido com o de fevereiro de 2013, o mais baixo da série, quando estava em 7,69%. Naquela época, porém, a Selic foi cortada para 7,25% ao ano, em um movimento considerado “artificial” – tanto é que o juro baixo não durou muito tempo, e a taxa voltou a subir logo em seguida.

Agora, no entanto, o cenário é diferente: bancos e construtoras acreditam que um novo piso histórico nos juros do crédito imobiliário deverá acontecer naturalmente, graças ao ajuste fiscal em curso no País, à inflação baixa e à tendência de novos cortes na taxa Selic.

“Se o Banco Central confirmar a expectativa atual de baixar ainda mais a Selic, é natural que haja adequação das taxas de juros do financiamento”, avalia o economista-chefe do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP), Celso Petrucci.

O setor estima que a redução de cada ponto porcentual nos juros básicos represente um desconto de 7% a 8% na parcela do financiamento, o que significa que ela passa a caber no bolso de mais consumidores. “Em São Paulo, são vendidos de 25 mil a 30 mil imóveis novos por ano. Em alguns anos, esse patamar poderia subir para 40 mil”, estima o analista de mercado imobiliário do banco BTG Pactual, Gustavo Cambauva.

Também está no horizonte o novo modelo de crédito para a casa própria, que substitui a Taxa Referencial (TR), hoje zerada, pela inflação corrigida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em 3,22% nos últimos 12 meses até julho. O modelo deve entrar em vigor nos próximos dias, segundo o presidente da Caixa, e a expectativa do setor é que a mudança abra espaço para juros menores.

O copresidente da MRV Engenharia, Rafael Menin, diz acreditar que o mercado nacional poderia até dobrar de tamanho em dez anos, caso haja redução dos juros do financiamento associada ao crescimento sustentável do Produto Interno Bruto (PIB) e à estabilidade política.

“Em uma década, o mercado pode sair do patamar de produção de 600 mil imóveis por ano para um degrau de mais de um milhão de unidades por ano”, calcula Menin. A construtora vem ampliando os negócios e espera chegar a 50 mil unidades lançadas neste ano.

A fisioterapeuta Thaís de Oliveira Braga, de 32 anos, e o marido, o funcionário público Fabio Barbosa Gomes, 38 anos, aproveitaram a queda nas taxas para comprar um apartamento para a família. “Tinha ouvido no rádio que este era o melhor momento dos juros imobiliários. Então, falei: Fabio, é agora.”

Eles procuraram na internet um imóvel que se encaixasse no orçamento e escolheram um empreendimento na zona norte de São Paulo. No fim do mês passado, o casal deu uma entrada de R$ 160 mil e iniciou o processo de financiamento. O restante do valor do apartamento – o total é de R$ 300 mil – vai ser pago em 420 meses, com uma taxa de juros de 7,99%.

Crise lá fora

Apesar do cenário positivo para o setor, a perspectiva de uma nova crise econômica internacional, que se desenha no horizonte, poderia fazer com que o Brasil voltasse a subir a taxa Selic e, por consequência, a taxa cobrada no financiamento imobiliário aumentasse.

A crise internacional entrou no radar nos últimos dias, após uma sinalização de juros de longo prazo mais baixos nos Estados Unidos, o agravamento da guerra comercial entre americanos e chineses e a previsão de menor crescimento mundial.

O diretor de Economia da Anefac (associação que reúne executivos de finanças), Roberto Vertamatti, estima que se o cenário de crise internacional se confirmar, ela pode se refletir no Brasil, levando a uma desvalorização do real ante o dólar e a uma resposta do Banco Central no aumento dos juros.

Ele avalia que uma nova crise poderia ser particularmente ruim para o Brasil, em um momento em que o País começa a dar os primeiros sinais de recuperação. “A crise internacional poderia comprometer os resultados do PIB de 2020 e 2021.”

Já o coordenador do MBA de gestão financeira da Fundação Getulio Vargas (FGV), Ricardo Teixeira, pondera que, embora possa haver mudança no cenário internacional, isso não deve ocorrer em menos de um ano.

Ele estima, portanto, que há uma janela para que os juros do financiamento fiquem mais baixos. “É mesmo um bom momento para financiar. Na pior das hipóteses, o consumidor terá até o ano que vem para aproveitar as taxas.”  

 

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