Segunda-feira

CLIPPING (09.09.2019)

VALOR

Ruídos no mercado com nova ação cambial do BC

O mercado financeiro ainda está se acostumando com as mudanças nas intervenções cambiais feitas pelo Banco Central, e a falta de compreensão plena vem provocando volatilidade na cotação do dólar e nos juros. O ápice dos ruídos ocorreu há duas semanas, quando o BC fez uma venda extraordinária de US$ 560 milhões das reservas internacionais para acalmar o mercado de câmbio, que tinha perdido os parâmetros de preços.

A cotação do dólar oscilou muito naquele dia, mas a repercussão mais negativa foi a alta dos juros futuros. Uma leitura comum entre os operadores foi que, com a intervenção, o Banco Central sinalizou um desconforto com o nível da taxa de câmbio, que chegara a R$ 4,19. A preocupação do BC seria, segundo essa linha de argumentação, com as repercussões da alta do dólar na inflação. Dessa forma, cortaria menos os juros.

Na semana passado, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, procurou corrigir essa leitura. "Acreditamos no princípio da separação", disse ele, enfatizando que as intervenções cambiais visam a estabilidade cambial, e a taxa básica, a estabilidade monetária e das flutuações do ciclo econômico. Parte dos operadores do mercado tende a acreditar que a política monetária deve responder mecanicamente a variações do dólar, um vício que remonta o regime de câmbio administrado da década de 1990.

Algumas teorias dizem que Campos, por ser oriundo do mercado financeiro, teria uma preocupação pronunciada com as condições financeiras mais abrangentes da economia, das quais o câmbio é um componente importante. É uma incompreensão sobre o que tem sido defendido publicamente por Campos. Intervenções sinalizam desconforto do BC não com o nível de câmbio, mas com a má formação de preços no mercado, sobretudo em momentos de falta de liquidez.

A taxa de câmbio importa para a política monetária, mas não é definida pelo BC. Quando o dólar sobe, ocorre uma mudança de preços relativos na economia. O Banco Central tem assumido o compromisso de não reagir com juros maiores se a inflação subir apenas temporariamente à pressão do dólar, baixando mais adiante. Ajudou pouco, também, o fato de Campos ter falado muito sobre câmbio duas semanas atrás, em depoimento no Senado, no dia em que o mercado já estava disfuncional.

Ele afirmou que o real seguia o caminho de outras moedas emergentes, embora tenha reconhecido que ele havia se descolado dos seus pares nos dias anteriores. Tudo correto, mas dito por um banqueiro central soou como conforto com a alta do dólar e pouca disposição para intervir.

A sabedoria de gerações de dirigentes do BC diz que, sobre câmbio, quanto mais se fala, pior. A mudança feita há algumas semanas na forma de o Banco Central intervir no câmbio também vem causando certa confusão. Há muita desconfiança sobre os reais objetivos da política cambial, que parecem múltiplos. Até então, quando o mercado entrava em parafuso, o BC basicamente vendia dólares no mercado futuro. São contratos liquidados em reais e, por isso, não implicam gasto das reservas internacionais. O BC passou a vender dólares à vista, o que significa queda das reservas.

Também está recomprando dólares que havia vendido no mercado futuro. A justificativa oficial é atender à demanda onde ela existe. Mas, até então, quando faltava moeda forte no mercado à vista, a autoridade monetária fazia leilões de empréstimo em dólares, que não provocam uma queda permanente nas reservas. Economistas, de forma geral, reconhecem que é preciso dar liquidez ao mercado à vista.

Em agosto, o fluxo cambial ficou negativo em US$ 8,5 bilhões. Alguns estranham, porém, a escolha de vender dólares à vista, que gasta reservas, em vez de oferecer linhas de empréstimo. Mais recentemente, o BC passou a reduzir as linhas de empréstimo ao mercado. "Tem gente que diz que a venda definitiva impacta mais o câmbio do que os leilões de linha, porque no leilão de linha haveria a recompra dos dólares pelo BC", afirma o ex-diretor do BC e economista-chefe do UBS Brasil, Tony Volpon.

"Não acredito nisso, o mercado não é tão racional assim." Volpon desconfia que o verdadeiro objetivo do BC é vender reservas e usar o dinheiro arrecadado para diminuir a dívida bruta do governo. Ele não está sozinho: muitos especulam no mercado que o Banco Central poderá se desfazer de US$ 70 bilhões de sua posição no mercado futuro, vendendo o mesmo montante de reservas.

O professor da PUC-Rio Marcio Garcia diz que a estratégia do BC deverá reduzir o custo da política cambial. O custo de manter dólares à vista nas reservas, associada a posições passiva no mercado futuro, é a diferença entre a Libor, hoje em cerca de 2,1% ao ano, e o cupom cambial, de cerca de 3,1%. Se, de fato, o BC vender US$ 70 bilhões em reservas, economizaria cerca de R$ 2,8 bilhões por ano. "Não é uma economia desprezível para um país com a situação fiscal atual", diz Garcia.

Campos parece dar indicações indiretas que pretende vender US$ 70 bilhões, ao repetir que gosta de olhar a posição cambial líquida do BC, que exclui os dólares vendidos no mercado futuro. No passado, o BC chegou a anunciar programas de venda de reservas e swaps, definindo valores. Alguns especialistas sugerem o anúncio de um programa espelho de redução de reservas, de US$ 70 bilhões, a ser executado de acordo com as condições do mercado.

 

Guedes quer desindexar e desvincular o orçamento das três esferas de governo

O ministro da Economia, Paulo Guedes, adiantou os próximos passos que o governo vai dar na direção de um nova política fiscal e uma nova federação. Em entrevista ao Valor, ele disse: "Vamos desindexar, desvincular e desobrigar todas as despesas de todos os entes federativos. E completou: "Eu quero privatizar todas as empresas estatais. A decisão é do Congresso" concluindo: "Essa é a proposta".

A próxima proposta de emenda à Constituição (PEC), depois da reforma da Previdência, será a do pacto federativo. É para esse semestre. "Estamos mexendo em tudo ao mesmo tempo. É uma transformação sistêmica", explicou o ministro. Durante a campanha, ele disse que o gasto com juros da dívida seria a segunda grande despesa a ser atacada. Para isso, "vamos desinvestir e desmobilizar ativos públicos", afirmou ele.

Para encurtar o tempo gasto, em geral de um ano e meio, para fazer uma privatização, Guedes quer um "fast track" para as vendas e concessões de estatais. E, em vez de tratar uma a uma, ele fará a lista das empresas públicas a serem alienadas, que submeterá ao presidente da República. Aprovada, ela será enviada ao Tribunal de Contas da União (TCU) para uma avaliação geral e encaminhada ao Congresso, para aprovação de uma lei autorizando a inclusão dessas companhias no Programa de Desestatização.

O novo pacto federativo, segundo ele, tem várias dimensões, cujas partes serão levadas ao Senado. De um lado terá a reforma tributária, cuja proposta contemplará a criação do Imposto sobre Valor Adicionado (IVA) Dual, do Imposto sobre Transações Financeiras e a redução das alíquotas do Imposto de Renda das empresas e das pessoas físicas, que perdem as deduções; de outro, o "fast track" de privatizações - um acordo entre os poderes para encurtar o tempo de venda de uma estatal.

A entrevista do ministro da Economia ocorreu durante voo para Fortaleza, onde Guedes tinha compromisso de uma palestra para uma plateia de duas centenas de empresários do Nordeste. Antes de entrar no jatinho da FAB, Guedes teve que gravar para a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), na base aérea, um trecho do Hino Nacional. A peça envolveu todos os ministros de Estado cantando um trecho do hino para o dia 7 de setembro. Meio constrangido, depois daquele teste, ele comentou: "Eu não sou cantor". Realmente, não é. A seguir, a íntegra da entrevista:

Valor: Ministro, a reforma da Previdência não é uma trava suficiente para conter o aumento do gasto público. Como o senhor pretende enfrentar as crescentes despesas obrigatórias?

Paulo Guedes: Essa é uma ótima questão e, talvez, a mais fundamental. Nosso diagnóstico é que o crescimento descontrolado da despesas obrigatórias acabou corrompendo a democracia brasileira e estagnando a economia. Isso é resultado de uma transição incompleta de uma ordem politicamente fechada, com foco na infraestrutura, no governo militar, para uma ordem democrática, que pede uma transformação do gasto. Não havíamos investido no capital humano. Os constituintes tentaram fazer a transformação do Estado, disseram que tínhamos que ter mais saúde e educação e carimbaram o dinheiro.

Valor: A Constituição de 1988 pretendia quitar a dívida social.

Guedes: Eu usei a imagem de um Estado hobbesiano [Thomas Hobbes, o poder absoluto do comando central] para um regime descentralizado de poder, um Estado rousseauniano [Jean-Jacques Rousseau], da soberania popular. A democracia começou a incluir os mais pobres nos orçamentos públicos mas esqueceu-se de cortar os privilégios (os subsídios, as aposentadorias). Por uma composição política entre conservadores oportunistas e uma esquerda despreparada do ponto de vista da política econômica, o país acabou caindo na armadilha do baixo crescimento. Éramos uma economia que crescia 7% a 7,5% por ano. As disfunções econômicas são os registros fósseis do excesso de gasto, acima da capacidade do governo de arrecadar, que nos levaram ao endividamento externo em bola de neve, duas hiperinflações e, agora, ao endividamento interno em bola de neve. Estamos com uma dívida de quase R$ 5 trilhões.

Valor: O fato é que o Estado brasileiro quebrou?

Guedes: Sim, o Estado brasileiro quebrou. Quebrou em todos os níveis, no federal, no estadual e no municipal. E a principal ameaça de engolir o Brasil é esse crescimento descontrolado da despesa pública obrigatória. Nela, o buraco negro era a Previdência - a despesa que mais cresce e que engoliria o país em um a dois anos.

Valor: O sr. é contra mexer no teto do gasto?

Guedes: O teto é fundamental, porque ele trava essa trajetória de aumento descontrolado da despesa. Não queremos furar o teto. Queremos é quebrar o piso da despesa obrigatória e a ferramenta para isso chama-se "pacto federativo".

Valor: O senhor pode explicar a dimensão desse pacto?

Guedes: A classe política brasileira está condenada a mexer em 4% do orçamento porque 96% está destinado ao gasto obrigatório. Isso é a negação da política. Temos R$ 1,5 trilhão de orçamento e os parlamentares brigam por 4% desse valor, ficam atrás de uma emenda impositiva de R$ 5 milhões. São R$ 3,5 trilhões de recursos para alocar nos três níveis de governo. Esse dinheiro fica empoçado em fundos públicos, é capturado por piratas privados junto com interesses corporativos e, às vezes, burocratas corruptos. Cerca de 80% desses recursos vão para o pagamento da própria máquina, em salários e aposentadorias.

Valor: Qual é o objetivo do pacto?

Guedes: É a transformação do Estado. Vamos completar a transição. Os representantes do povo são votados para estabelecer as prioridades do gasto público e não para conceder aumentos automáticos de salários para o funcionalismo, aposentadoria privilegiada para o funcionalismo. Temos os fundos corporativos. Existem 280 fundos públicos [são os fundos setoriais e, alguns, constitucionais]. O governador de Goiás [Ronaldo Caiado] está em dificuldade financeira e tem o fundo do Centro-Oeste que ele não consegue pegar. O ministro Moro [Sergio Moro, da Justiça] precisa de investir em segurança pública e não pode porque o dinheiro está bloqueado no fundo penitenciário. Os políticos que os criaram já se aposentaram ou morreram e o dinheiro está lá.

Valor: O sr. quer descarimbar e liberar a destinação do dinheiro público. Isso pode resultar na redução dos recursos da saúde e educação?

Guedes: Não vamos tirar dinheiro de área nenhuma. Cada prefeito e cada governador tem que ter a decisão de onde gastar mais. Um vai querer investir mais na saúde, outro mais na educação. Essa decisão não pode ser de um burocrata de Brasília ou de um político que já morreu. Somos escravos do dinheiro carimbado. Vamos descarimbar.

 

Vitacon e Easynvest vão transformar imóvel compacto em fundo

O empresário Alexandre Frankel, que há uma década fundou a construtora e incorporadora Vitacon, famosa pelos apartamentos ultracompactos, já anunciou o plano de abandonar os tijolos, saindo da construção direta, e agora contou que vai sair por completo da incorporação no varejo. Mas isso não quer dizer que vai abandonar os negócios. Ao contrário, só está à procura de um público-alvo maior. "Vou trocar o mercado imobiliário direto, que no melhor ano em São Paulo foi de R$ 30 bilhões, pelo acesso a trilhões via mercado de capitais", explicou ele ao falar ao Valor sobre o lançamento da Vitacon Capital, que transformará o negócio da empresa em produtos financeiros e atuará em parceria com a plataforma de investimentos Easynvest.

A estratégia é inédita no Brasil. Toda sorte de produtos financeiros imobiliários - fundos, certificados de recebíveis e letras de crédito - vão se tornar a principal fonte de recursos compradores dos empreendimentos nos próximos anos. De pequeno, só os apartamentos no planejamento de Frankel, que vendeu o empreendimento com unidades de 10 metros quadrados inteiro em uma semana. Os sonhos são grandes. Os produtos da Vitacon Capital serão lançados e distribuídos pela Easynvest.

A meta, segundo Frankel, é captar R$ 10 bilhões ao longo dos próximos cinco anos. "Vai ser uma forma de democratizar o acesso à Vitacon e à sua empresa de gestão de moradia, Housi", explicou Fernando Miranda, presidente da plataforma digital de investimento, que nasceu a partir da corretora Título, fundada há mais de 50 anos, em 1968. Antes, o investidor que quisesse ter um Vitacon para ganhar com aluguel precisava juntar centenas de milhares de reais até comprar uma unidade. A partir dos produtos com a Easynvest, o tíquete para aplicação será uma fração disso.

O valor de entrada no investimento cai, mas, para a Vitacon, o volume potencial de recursos de comprador aumenta substancialmente. Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que o patrimônio da indústria de fundos aumentou de R$ 3,1 trilhões, em dezembro de 2014, para R$ 5,1 trilhões, em julho. Só a posição em fundos imobiliários subiu de R$ 65 bilhões para R$ 87 bilhões, nesse período. Em 2018, pela primeira vez, as vendas da Vitacon ultrapassaram R$ 1 bilhão.

Neste ano, o valor geral de vendas (VGV) dos lançamentos é estimado em R$ 2,3 bilhões. Os primeiros produtos da parceria chegarão ao mercado até dezembro e, por enquanto, segundo Frankel e Miranda, não é possível dizer qual será. "Estamos trabalhando em diversas frentes. Difícil saber agora o que vai ficar maduro para ser ofertado primeiro", disse o executivo da Easynvest, que também vai atuar no processo de educação financeira sobre as ofertas. A Easynvest tem hoje R$ 20 bilhões em ativos sob custódia.

Miranda quer levar esse total para perto de R$ 50 bilhões até o fim de 2021. Os produtos imobiliários, apontou, serão um filão cada vez maior. "Nos últimos 12 meses, a base de clientes só desse mercado, na plataforma, cresceu 13 vezes." É preciso entender os diferentes investimentos nesse segmento. Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) são emissões lastreadas pela companhia. De forma simples, quem compra o papel empresta o dinheiro à empresa e, em prazo combinado, recebe de volta o que aplicou com rendimento. São investimentos semelhantes à renda fixa.

 Pela ótica do investidor, a mecânica da letra financeira imobiliária (LCI) se parece com o CRI. Só que este título é emitido por uma instituição financeira que repassa o dinheiro à companhia do ramo imobiliário. Já os fundos são carteiras que aplicam em diversos imóveis comprados para oferecer ao investidor o retorno que for obtido fruto do aluguel ou da venda das unidades. É uma aplicação mais próxima à renda variável. Há também fundos dedicados ao desenvolvimento de projetos, cujos recursos são aplicados na compra de terrenos.

No caso de fundos, na parceria entre Easynvest e Vitacon Capital, os recursos captados serão aplicados na compra de unidades Vitacon ou de terceiros que serão geridos pela Housi - que provê soluções de moradia. Esse braço da Vitacon faz a gestão da carteira proprietária da construtora e também de imóveis de terceiros. Cerca de metade da carteira da Housi, com cerca de 5 mil unidades, é de empreendimentos Vitacon.

Especializado em alguns bairros de São Paulo e no formato compacto, Frankel sempre defendeu que construtoras eficientes são regionais e tem limite de tamanho. Com a Housi, o plano é atuar nas grandes capitais do país. Com o tempo, a proporção das unidades Vitacon na gestora vai diminuir.

 

Brasil continua com quadro de crescimento estável, aponta OCDE

O Brasil continua numa dinâmica de crescimento estável pela frente, segundo indicadores compostos da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) publicados nesta segunda-feira. Os indicadores compostos procuram antecipar pontos de viragem na atividade econômica em relação à tendência de seis a nove meses à frente. Mais uma vez, a OCDE prevê uma atenuação do ritmo de crescimento nos Estados Unidos, a maior economia do mundo, e na área do euro como um todo, principalmente na Alemanha.

 Em todo caso, os indicadores continuam sinalizando crescimento estável nos países da OCDE como um todo, incluindo França e Canadá. No Reino Unido, em meio às incertezas provocadas pelo Brexit - a saída britânica da União Europeia -, a avaliação ainda é de momento de crescimento estável, embora a tendência seja de taxas de crescimento historicamente baixas. No Japão e na Itália, os indicadores apontam para estabilização no ritmo de crescimento. Entre as principais economias emergentes, a avaliação é de dinâmica do crescimento estável para o Brasil, Rússia e China (para o setor industrial). Mas a OCDE identifica sinais de atenuação do crescimento na Índia, provocados por forte declínio da indústria automotiva.

 

FOLHA

Nova rodada de revisões do PIB indica que país não consegue crescer nem 2%

Economistas de importantes bancos e consultorias têm revisado suas projeções de crescimento para níveis inferiores a 2% em 2020. Se esse cenário se concretizar, será o quarto ano seguido em que o Brasil terá expansão abaixo dessa marca.

O quadro é agravado pelo fato de que, anteriormente, o país havia vivido um triênio de recessão, caracterizado por expansão muito fraca, de 0,5%, em 2014, e quedas superiores a 3% do PIB (Produto Interno Bruto), em 2015 e 2016.

Fatores como desaceleração da economia global, crise política e econômica na Argentina e um nível muito baixo de investimentos no Brasil têm contribuído para a reavaliação do cenário para 2020.

Nesta sexta-feira (6), por exemplo, o Bradesco anunciou mudanças em suas previsões. Embora tenha mantido a estimativa de um crescimento anêmico, de apenas 0,8% em 2019, o banco reduziu de 2,2% para 1,9% o número esperado para o próximo ano.

“A mudança é ligada principalmente ao cenário externo, que tem incerteza política, além da comercial”, diz Fernando Honorato Barbosa, economista-chefe da instituição.

“O Brasil é muito ligado aos ciclos da economia global. Embora a nossa economia seja bastante fechada, a nossa indústria é mais aberta”, afirma.

O contexto de fraco crescimento global, com risco de recessão em alguns países ricos, foi agravado nos últimos meses pelo aumento da temperatura da guerra comercial entre China e Estados Unidos.

Todas as instituições que revisaram seus números de crescimento em 2020 ressaltaram esse aspecto como crucial para o ajuste em seus cenários.

Foram os casos do banco suíço UBS —que cortou sua previsão de expansão no próximo ano de 2,2% para 1,5%— e das consultorias MB Associados e Tendências, que mudaram suas projeções de 2% para, respectivamente, 1,6% e 1,8%.

O Itaú Unibanco também espera crescimento baixo, de 1,7% em 2020, mas já havia ajustado seu cenário em meados de junho, quando abandonou a expectativa anterior de 2%.

“Nos últimos meses, ficou mais claro quão adverso é o cenário de guerra comercial e agravamento da crise argentina para os países emergentes”, diz Thiago Xavier, economista da Tendências Consultoria.

A disputa entre Estados Unidos e China inicialmente favorece o Brasil com aumento das exportações, mas, quando o conflito afeta o crescimento econômico dos países, reduz a demanda por produtos e os preços das matérias-primas.

Tony Volpon, economista-chefe do UBS, diz que o crescimento de 0,4% do PIB brasileiro no segundo trimestre deste ano —acima da estimativa média de 0,2% do mercado— não mudou o cenário mais pessimista para o futuro.

Ele ressalta que o agravamento do cenário externo contribui para uma continuação da trajetória de expansão muito fraca da economia brasileira nos últimos anos.

“Estamos caminhando para o quarto ano de crescimento próximo a 1%. Aliás, essa foi, exatamente, a expansão anualizada registrada no segundo trimestre”, diz Volpon.

Esse desempenho tem sido classificado pelo economista em seus relatórios de expansão medíocre, porém estável.

Segundo especialistas, o Brasil vive a recuperação após um período recessivo mais lenta da história.

Embora o risco de recessão em alguns países ricos e as incertezas que rondam tanto a Argentina quanto as relações entre China e Estados Unidos estejam ganhando peso, há fatores domésticos que também explicam a lenta retomada.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, ressalta que a demora do governo em conseguir deslanchar seu programa de concessões e privatizações contou para a revisão feita recentemente em sua projeção de crescimento.

“Houve concentração necessária na reforma da Previdência e, agora, na tributária, que atrasou outras reformas.”

O problema é que, embora a reforma da Previdência seja considerada crucial para o reequilíbrio fiscal, tem prevalecido entre os economistas a visão de que ela não será suficiente para dar início a um ciclo de investimentos privados.

Segundo Vale, a retomada pode ser também prejudicada pelo ruído político causado por polêmicas nas quais o presidente Jair Bolsonaro (PSL) tem se envolvido, como a relacionada ao aumento do desmatamento na Amazônia: 

“Essa é uma causa mais difusa, com efeitos negativos mais no longo do que no curto prazo”, afirma o especialista.

Somados à instabilidade externa, esses dois fatores podem levar o país a um quarto ano de crescimento próximo a 1%, em 2020, segundo Vale.

Já Barbosa, do Bradesco, vê chances de uma melhora do cenário de 2020, mais para a frente, caso as tentativas recentes de acordo para as disputas comerciais entre China e EUA sejam bem-sucedidas.

“Os dois países estão esticando a corda, mas não querem chegar a um ponto de não retorno, em que a incerteza prejudique a economia.”

Para ele, há espaço para continuação da queda de juros no Brasil, o que tende a contribuir para uma recuperação da demanda. Mas concorda que a aceleração de concessões e privatizações é essencial para animar empresários.

Sem solução para as desavenças entre os governos chinês e americano e para a falta de investimento na economia brasileira, há o risco de que as projeções de crescimento para o país continuem piorando.

Dados do boletim Focus, do Banco Central, mostram que, desde 2009, projeções feitas em julho para o PIB no ano seguinte foram quase sempre superestimadas.  A projeção mais recente do Focus para o crescimento em 2020 é de 2,10%.

 

Bradesco reduz projeção de PIB de 2020 para menos de 2%

O Bradesco cortou a projeção de crescimento da economia brasileira em 2020 para 1,90% ao ano, ante os 2,20% previstos anteriormente, reflexo principalmente da piora no cenário global com a guerra comercial entre Estados Unidos e China. Neste ano, a projeção foi mantida em 0,80%, abaixo do desempenho dos últimos dois anos, quando a economia cresceu 1,1% ao ano.

No consenso do mercado, medido semanalmente pelo Boletim Focus do Banco Central, a economia brasileira vai crescer 0,87% neste ano e 2,10% em 2020.

Apesar da revisão de cenário para baixo, Fernando Honorato, economista-chefe do banco, afirma que agora o ambiente permite surpresas positivas.

"Está chegando em um ponto que podemos começar a nos surpreender para cima", afirma Honorato ao citar a retomada das negociações para uma trégua na disputa comercial.

"Os dois países estão esticando a corda, mas não querem chegar a um ponto de não retorno", acrescenta o economista sobre o risco de danos para a economista dos países.

A revisão do PIB brasileiro para o próximo ano está ligada à uma desaceleração da economia global, cortada de 3,2% a 2,8%.

O crescimento doméstico precisará vir do setor privado e os investimentos poderiam ser em infraestrutura, onde não há ociosidade, segundo Honorato.

Ainda assim, o risco de o setor privado não entrar ainda não existe.

"Acho que o global é hoje disparado o maior risco. No doméstico, tem risco associado à mudança de modelo [com redução dos gastos do governo] e talvez o setor privado não entre. Mas se não tiver respondendo, o juro pode cair ainda mais", acrescenta o economista.

O Bradesco revisou ainda a previsão de que a taxa Selic caia para até 4,75%, ante a previsão anterior de 5%.

O Bradesco elevou a previsão de câmbio ao final deste ano para R$ 4, ante os R$ 3,80. Para ele, a queda de juros levou o câmbio a uma valorização.

Para ele, o câmbio tem três fatores: os juros, a solvência (capacidade do governo pagar dívidas) e o crescimento econômico. "Como o Brasil não cresce, não atrai investimento", afirma Honorato.

 TETO DE GASTOS

Para o economista-chefe do Bradesco, o teto para os gastos do governo ainda não deve ser derrubado, como chegou a ser discutido ao longo da semana.

"Conceitualmente, uma vez que o país tiver com consolidação fiscal bem avançada, não é um grande problema. Quando olha as boas práticas do FMI, pode retirar investimento público de regra fiscal. Dito isso, sendo bem específico, o momento não é apropriado para qualquer revisão de teto de gastos", afirmou Honorato.

Segundo ele, o importante é que se continue a agenda de reformas, como a administrativa antes de revisar o teto.

"O teto cumpre papel de forçar discussão [das reformas]", diz.

Para ele, a agenda de reformas é correta e está avançando. "É angustiante ver a agenda positiva não produzir crescimento", complementa.

 

ESTADÃO

A longa jornada do entusiasta do IPCA

Dos convidados que preenchiam o salão nobre do Palácio do Planalto naquele 20 de agosto, nenhum parecia tão satisfeito quanto o paulista Meyer Nigri, dono da incorporadora Tecnisa. O evento marcava o lançamento de uma nova linha de crédito imobiliário da Caixa. O banco estatal permitiria, a partir dali, que o índice oficial de inflação fosse usado para corrigir empréstimos na compra da casa própria. Era uma causa pela qual o empresário militava havia anos. E que, nos últimos meses, havia se dedicado pessoalmente a fazer avançar.

Entusiasta da ideia, que classifica como “uma revolução” para o seu mercado, Nigri tentou emplacá-la em diversos governos, sem sucesso. A “taxa referencial”, criada pelo governo Fernando Collor como um instrumento para tentar combater inflação, seguia sendo usada nos empréstimos imobiliários. Na equipe econômica de Jair Bolsonaro, Nigri encontrou, enfim, interlocutores animados com a medida.

Ele foi o primeiro grande empresário do País a se aproximar de Bolsonaro, então deputado federal do Rio com ambições presidenciais. Tornaram-se amigos em 2016 e se falam com frequência até hoje, proximidade que Bolsonaro não esconde. “Fala Meyer, tudo bem? Confiou em mim lá atrás. Muito obrigada pela confiança”, disse o presidente, em discurso naquela tarde no Planalto, ao comentar que a medida da Caixa deixaria o mercado imobiliário satisfeito. O rosto de Nigri se iluminou.

O empresário diz que Bolsonaro não sabia que ele vinha correndo o governo e advogando pela nova linha. “Ele soube só recentemente”, afirma. “Sobre assuntos de economia, ele pede sempre para falar com o Paulo Guedes”, diz.

Foi numa conversa com o ministro da Economia que o périplo do empresário começou. Em dezembro, o economista, que se preparava para assumir o cargo em Brasília, recebeu Nigri para um almoço num restaurante no Rio de Janeiro. Foi o primeiro contato. O empresário aproveitou para defender sua causa. Usar o IPCA para como indexador do financiamento imobiliário ampliaria o acesso ao crédito e ajudaria a empurrar a recuperação da economia, na visão dele e outros representantes do setor. Guedes ouviu com atenção. Disse ter gostado.

Animado, Nigri voltou à carga no mês seguinte e puxou o assunto com o novo ministro da Economia. Queria saber se a ideia seria implantada já na largada do governo. “Mas ele me falou: ‘Meyer, minha prioridade agora é Previdência, Previdência, Previdência”, afirma.

O empresário trabalhava em outras frentes. Havia feito contato com Pedro Guimarães, presidente da Caixa, banco que responde por 70% do crédito imobiliário no País. Ainda em janeiro, os dois se encontraram para um almoço, no restaurante Gero, em São Paulo. Guimarães se interessou pelo tema. O assunto havia sido mencionado em conversas do grupo montado para elaborar o programa econômico de Bolsonaro, do qual ele fazia parte. Ficaram de conversar mais à adiante.

“Aí veio a cartada final: Dallas”, diz o empresário. Nigri se uniu à comitiva do presidente, que foi aos Estados Unidos em maio para receber o prêmio “Person of the Year”, concedido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos. O empresário já havia acompanhado auxiliares de Bolsonaro na viagem presidencial a Israel, com outros integrantes da comunidade judaica. Mas, desta vez, a equipe econômica estaria em peso. “Sabia que Guimarães e Guedes estariam lá. Peguei as minhas pastinhas e levei”, diz.

As “pastinhas” eram um conjunto de gráficos e projeções que mostravam os benefícios do indexador. Eram antigas companheiras de Nigri. “Faz uns cinco anos que venho apresentando para todos os presidentes de bancos, o setor, os ministros da Fazenda. Todos sempre gostaram, acharam a ideia muito boa, o plano ótimo, mas nunca colocaram em prática”, diz. Guedes e Guimarães receberam em Dallas versões das pastinhas em um café.

Dias após retornar dos EUA, Meyer foi a Brasília para novo giro. Reuniu-se com executivos da Caixa e com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Era essencial trazer o BC para o plano. Para que a medida saísse, uma resolução teria de ser aprovada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

As pastinhas, no entanto, foram de menos serventia entre os técnicos da Caixa, que estudavam há dois anos alternativas para ampliar os empréstimos, e do Banco Central. Durante a campanha, a pedido de Paulo Guedes, Campos Neto foi incumbido de formular propostas para estimular o mercado de capitais. Já havia analisado e era defensor da medida.

Cerca de três meses depois, em agosto, a medida foi anunciada. Em uma “live” com Bolsonaro, o presidente da Caixa disse que uma novidade “revolucionária” seria apresentada e ela mudaria a “história do crédito imobiliário”. No evento no Planalto, Guimarães, Campos Neto e Bolsonaro apresentaram a nova linha corrigida pela inflação.

“Fiquei feliz da vida. Foi bárbaro. Pela primeira vez, um governo teve a visão, comprou e bancou a ideia”, diz.

Com o uso da inflação como indexador, os bancos poderão vender a terceiros “recebíveis” dos empréstimos e usar a antecipação desse dinheiro para conceder mais financiamentos. “Quando pensamos em soluções para alavancar o crédito, a resposta é: precisamos de funding (recursos). Para isso, precisamos ter financiamentos atrelados a títulos que o mercado possa comprar”, diz Jair Mahl, vice-presidente da Caixa. “A Caixa esgotou sua capacidade e havia debate no banco sobre o que fazer.”

 

Pequeno investidor terá acesso a novos papéis com lastro no crédito imobiliário

Opção para buscar maiores retornos na renda fixa, as Letras Imobiliárias Garantidas (LIGs), que têm lastro na concessão de empréstimos imobiliários, ainda não estão disponíveis para a maior parte dos investidores. A primeira emissão foi feita em novembro e, desde então, são R$ 8,9 bilhões em LIGs na carteira de clientes de Bradesco, Inter, Itaú e Santander, únicas instituições que já oferecem o produto.

Segundo diretores desses bancos, praticamente todas as aplicações vieram do segmento private – pessoas com patrimônio superior a R$ 3 milhões, em geral. O volume negociado desses papéis ainda é 17 vezes menor que o das Letras de Crédito Imobiliário (LCIs). Os dois ativos são isentos de Imposto de Renda.

Assim como a LCI, a LIG têm lastro na concessão de empréstimos imobiliário. Mas, no caso da primeira, esse lastro serve apenas como uma referência enquanto na LIG ele forma uma “dupla garantia”: se o banco que emitiu o produto der calote, os ativos que servem de lastro deverão garantir os pagamentos aos investidores. Isso não ocorre com a LCI.

“Cada LIG vai ter o próprio lastro, com um perfil mais ou menos arriscado. O risco primário é o próprio emissor e o secundário, a carteira de crédito imobiliário”, diz Fabio Zenaro, diretor da B3, a Bolsa de São Paulo.

Por outro lado, a LCI é coberta pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC), o que não acontece com a LIG. Outra diferença importante está na liquidez: a LCI é emitida com prazo de carência mínimo de três meses, enquanto nas LIGs, é de um ano.

Apesar desse ativo ainda estar reservado a investidores maiores, os executivos acreditam que o cenário deve mudar. Um dos motivos é o possível fim da isenção às LCIs, defendido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. “Caso o governo decida deixar as LIGs de fora dessa mudança, elas teriam uma grande vantagem e a procura aumentaria. Agora, os emissores estão aguardando a decisão do governo para prosseguir com as ofertas. Estamos animados com a possibilidade de ela crescer”, diz o diretor de investimentos do Banco Inter, Rafael Rodrigues.

Outro fator que ainda deixa o mercado em compasso de espera é a falta de regulamentação pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A autarquia que regula o mercado financeiro precisa definir como serão feitas as ofertas públicas de LIGs. A norma está em audiência pública até a próxima sexta-feira e deve ser publicada ainda este ano, a depender do volume de sugestões enviados.

“Com o complemento regulatório da CVM, os bancos podem descer na cadeia de clientes. O produto deve deslanchar e ter um bom crescimento no ano que vem”, acredita Luciano Diaferia, superintendente de produtos do Itaú Unibanco. “Todo produto começa devagar até o investidor tomar conhecimento. Há uma curva de aprendizado para entender as características.”

Para Rodrigues, do Inter, a clareza das regras será importante para o sucesso dos papéis. “Tem de ser um processo tranquilo para o emissor e que faça sentido na cabeça do investidor. Se a CVM não por muitas amarras, as LIGs devem decolar em popularidade. A relação entre risco e retorno é interessante, porque a liquidez é menor.”

 

Recessão no horizonte

A cada cem executivos seniores, apenas três não acreditam na possibilidade de uma recessão global em breve. O dado é de uma pesquisa da Russell Reynolds Associates, que entrevistou 534 executivos. Dos ouvidos, 20% têm certeza de que uma recessão mundial deve acontecer em até um ano e meio.

Embora haja consenso sobre a perspectiva de recessão econômica, apenas 8% dos executivos afirmam se sentir “bem preparados” para o cenário e somente 5% dizem que suas equipes estão bem preparadas. Por outro lado, 14% deles estão “muito confiantes” de que suas atuais equipes são ideais para enfrentar o ciclo.

 

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