Quarta-feira

ESTADÃO

Minha Casa, Minha Vida precisa de R$ 620 mi para manter obras neste ano

O programa habitacional Minha Casa, Minha Vida precisa de R$ 620 milhões de dotação orçamentária, sujeita ao aval do Congresso, para manter as obras em execução neste ano, afirmou nesta terça-feira (26) o ministro Gustavo Canuto (Desenvolvimento Regional).

Canuto esteve na comissão de fiscalização financeira e controle da Câmara para falar sobre o programa habitacional. Segundo ele, os R$ 620 milhões estão acordados em um projeto de lei que será votado pelo Congresso nesta quarta (27) e que prevê uma dotação de R$ 1,230 bilhão para o programa.

O projeto corre o risco de ser rejeitado integralmente. Se isso ocorrer, o ministério fica sem nada. Por isso, Canuto afirmou que foi construído um acordo para reduzir o valor da dotação para R$ 620 milhões. “Como houve descontingenciamento completo [do orçamento do ministério], se vier a dotação, o limite de empenho já está garantido”, afirmou.

Esse dinheiro, acrescentou, permitirá ao ministério pagar suas dívidas e manter toda a execução das unidades em construção. No próximo ano, os recursos para o programa previstos no projeto de lei orçamentária enviado ao Congresso, de R$ 2,23 bilhões, permitem apenas o pagamento de contratos em andamento da faixa 1 do Minha Casa, Minha Vida –cerca de 233 mil unidades. “Não há possibilidade de fazer coisa nova, mas garante a execução”, disse.

Seria necessário um adicional de R$ 442 milhões para retomar 8.922 unidades hoje paralisadas. “A gente está precisando de orçamento, várias pastas estão precisando de orçamento. Eu falei, a gente é uma parceria dos 22 [ministérios]. A gente tem que abrir mão desses recursos para que as outras pastas tenham a dotação necessária para executar suas despesas”, disse.

Canuto disse ainda que o ministério do Desenvolvimento Regional está concluindo um texto com mudanças no Minha Casa, Minha Vida. As alterações serão apresentadas aos ministérios da Cidadania e da Economia e, a seguir, ao presidente Jair Bolsonaro, que vai submeter a medida provisória ao Congresso.

Um dos entraves atuais é a precificação do modelo de voucher da construção, um tíquete que poderia ser usado para compra, construção ou reforma de imóveis. “A gente está conversando com a Caixa [Econômica Federal], isso está adiantado. O que vai aparecer, a medida provisória, o decreto, é só a ponta do iceberg. Estamos trabalhando todo o operacional para saber se esse programa consegue parar em pé”, afirmou.

O ministério se debruça sobre o custo do programa e quanto do voucher tem que ser destinado para a Caixa para que ela possa operacionalizar o uso dos recursos. “Esse valor é que não está definido para a gente colocar no decreto, qual o valor do voucher que vai ser destinado a remunerar o agente financeiro e o agente operador. Isso é importante para a economia saber qual vai ser o custo, quantos vouchers eu vou poder lançar”, disse.

Canuto afirmou que a média de construção é de R$ 60 mil, mas isso depende das regiões do país. Uma das etapas da seleção será identificar o mercado imobiliário local. “A gente não pode inflar o mercado, mas não pode dar um voucher que seja ineficaz”, defendeu.

 

VALOR

Dólar fecha perto de R$ 4,24, mesmo após intervenções do BC

O mercado de câmbio viveu um dia bastante tenso nesta terça-feira. Influenciado por declarações dadas na véspera pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, o dólar registrou valorização intensa desde os primeiros minutos de negociação e nem duas intervenções diretas promovidas pelo Banco Central no mercado à vista foram capazes de inverter a direção dos negócios.

No encerramento do dia, o dólar era negociado a R$ 4,2394, alta de 0,63%. Durante o pregão, a moeda americana chegou a ser negociada a R$ 4,2771, superando a máxima histórica intradiária anterior, de R$ 4,2484, registrada em 24 de setembro de 2015.

Ontem, Guedes afirmou que o câmbio mais alto no país é consequência do novo regime fiscal do país . "Quando você tem política fiscal mais forte e juro mais baixo, o câmbio de equilíbrio é mais alto", observou o ministro, que participou de evento no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Washington. Ele disse ainda não estar "preocupado com a alta do dólar".

No mesmo evento, Guedes afirmou que as pessoas não devem ficar assustadas se “alguém pedir o AI-5” para conter manifestações no Brasil. Participantes de mercado consultados pelo Valor avaliam, no entanto que os comentários do ministro apenas ajudaram a entornar um caldeirão especulativo que já estava sendo alimentado por fatores anteriores.

De um lado, está o fluxo cambial furado no ano e a frustração com a cessão onerosa. De outro, estão dados piores da conta corrente, revelada ontem pelo Banco Central. Além disso, as convulsões políticas e sociais na América do Sul ajudam a jogar uma sombra, ainda que involuntária, sobre os ativos brasileiros. Há ainda, na visão de alguns profissionais, um problema de comunicação das autoridades com relação à política cambial.

Na visão de um deles, tanto Guedes como o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, estariam sendo ‘liberais demais’ sobre o tema. “O câmbio também traz alguma indicação de confiança. Essa mensagem do BC de permitir o dólar ir embora, em meio a todo esse movimento de fluxo, tira a vontade do investidor de ficar vendida no câmbio", diz este interlocutor. "O dólar sair de R$ 3,70 em agosto para R$ 4,20 em poucos meses é uma depreciação colossal. Quem tem investimentos para fazer no Brasil posterga porque não sabe onde vai parar essa brincadeira", diz.

Para este mesmo interlocutor, não é possível saber qual é a diretriz para o câmbio neste momento. “Ouvir um dia que não tem problema o dólar a este nível e, no dia seguinte, haver intervenção mostra total falta de habilidade do ponto de vista do manejo da comunicação”, afirma. E esses problemas não se restringem a declarações oficiais, mas também a detalhes como a divulgação da revisão dos dados das contas externas, que trouxeram piora significativa de dados da conta corrente e do investimento externo.

Ontem, elas foram publicados ontem pelo BC sem o cuidado de se criar uma explicação ou destacar um responsável para tirar as dúvidas do mercado sobre o tema. Mesmo as declarações de Guedes, embora não tenham trazido nada de novo sobre o tema, ajudaram a criar ruído após o ministro reclamar que os comentários haviam sido feitos "em off" e representavam apenas a sua visão na pessoa física, não como ministro.

"Acho que a entrada do BC foi mais para não dar um gás ainda maior para um movimento especulativo por conta da fala do ministro. É parte do mandato da autoridade preservar o valor da moeda e conter excessos de mercado", diz um outro funcionário de tesouraria. Um diretor de tesouraria de um terceiro banco comenta que a alta do dólar também tem sido ajudada pelo forte ajuste na curva de juros.

“O mercado estava todo na mesma ponta, apostando em mais cortes da Selic, mas agora precisou reduzir fortemente em alguns vértices mais curtos. Como há menor liquidez nesse mercado, alguns acabam se protegendo no dólar”, diz.

Sobre a situação do mercado nos próximos dias, um dos profissionais entrevistados acredita que o movimento de especulação deve arrefecer, principalmente depois da segunda intervenção do BC, que demonstra um intenção mais resoluta em conter essa corrida. “Agora, o fato que o BC tenha precisado entrar duas vezes no mercado e mesmo assim ele caminhar para encerrar em alta arranha ainda mais a imagem da instituição”, comenta este interlocutor. A perspectiva é que o câmbio fique pressionado no curto prazo, diz Dan Kawa, diretor de investimentos da Tag.

“Quanto às perspectivas, concordo com Guedes: o câmbio está se ajustando para um novo patamar de equilíbrio”, diz. “Não sei se é R$ 4,00 a R$ 4,20 ou R$ 4,20 a R$ 4,40. Só saberemos com o tempo”, acrescenta.

 

Turbulência no câmbio reverte apostas no real

A recente turbulência no mercado de câmbio, que foi desencadeada pela frustração com os leilões de petróleo e levou o dólar a um novo recorde ontem, tem deixado o investidor cada vez mais receoso em apostar a favor do real. Muitos dos que montaram posições ao longo de outubro para ganhar com a valorização da moeda brasileira, apostando na retomada do economia, se viram obrigados a ajustarem suas carteiras para posições bem menores. Embora a perspectiva de médio prazo - de crescimento econômico e consequente valorização da moeda local - continue de pé, a turbulência recente do câmbio e a incerteza sobre o momento da virada do real os impede de entrar no mercado com mais firmeza.

A Novus Capital, por exemplo, reverteu boa parte das apostas no real em meio à frustração com a baixa adesão de estrangeiros nos megaleilões de petróleo. Diante dos eventos recentes, a gestora aguarda novos catalisadores, como sinais claros de retomada de atividade ou entrada de fluxo, para aumentar sua posição no real. “O mercado tinha um catalisador na virada de setembro para outubro, a perspectiva de fluxo com os leilões de petróleo, e o dólar chegou a cair para R$ 3,99. Mas esse fluxo não veio e a cotação voltou para R$ 4,20”, diz Ricardo Kazan, sócio e gestor da Novus.

“Pelo preço, o real parece interessante, mas agora temos de esperar um novo gatilho para aumentar a posição na divisa local.” Preço baixo, entretanto, não garante um bom momento de entrar no mercado. Diante de todo um contexto que joga contra a moeda brasileira, ainda não é possível dizer que o real esteja “barato”, afirma Marcos Mollica, sócio e gestor do Opportunity. O profissional tem evitado montar posições mais robustas no mercado de câmbio desde a frustração com a participação de estrangeiros nos leilões de petróleo.

Ele destaca que, apesar de perspectivas positivas para a economia brasileira, a retomada da atividade ainda é incipiente, ao mesmo tempo que a agenda de reformas está “congelada” e só deve ser retomada depois do Carnaval. Além disso, os dados de transações correntes, divulgados na segunda-feira, mostram a falta de fluxo de recursos para o país.

“Os dados de transações corrente foram piores do que o mercado esperava. Isso reforça a leitura de que chegou ao fim aquele período de abundância de fluxo cambial”, explica o profissional. “O balanço de pagamentos ficou muito justo. Caiu o saldo comercial, não tem entrada de portfólio e tem saída de recursos para reestruturação de dívidas das empresas”, diz.

A revisão dos dados da balança de pagamentos começa a colocar em dúvida a percepção de que o real brasileiro se apreciará com a retomada da economia. Essa é a avaliação de Marcelo Giufrida, sócio e gestor da Garde. “Com 3% de déficit de conta corrente em relação ao PIB, existe o risco de que vamos crescer com o dólar ainda em nível elevado”, diz o profissional. Giufrida destaca que as exportações não estão melhorando, nem no caso das carnes ou do petróleo, enquanto as importações continuam crescendo no ritmo de uma economia em retomada.

“O retrato que está saindo é bem diferente do que se imaginava, para pior”, destaca. De olho em tudo isso, o gestor afirma que a estratégia é manter pequenas posições de maneira tática, ajustando-as de acordo com os movimentos do câmbio. “Nossa posição está no neutro”, explica o profissional. “Antes, acreditávamos que crescimento poderia trazer investimento estrangeiro e traria o real para níveis mais normais. Mas, com dados de conta corrente e balanço de pagamentos, parece que esse cenário está mais difícil.”

Esse contexto com todas essas incertezas acaba deixando o real mais pressionado, num movimento que foi intensificado pelas falas do ministro da Economia, Paulo Guedes. Na segunda, o ministro disse que o dólar mais alto no país é consequência do novo regime fiscal do país. “Quando você tem política fiscal mais forte e juro mais baixo, o câmbio de equilíbrio é mais alto”, observou o ministro.

Ontem, no dia seguinte às falas, o dólar terminou em alta de 0,63%, aos R$ 4,2394, depois de bater a máxima de R$ 4,2771. Com isso, num dia só, a moeda superou tanto seu pico de fechamento como o intradiário. O movimento de ontem foi tamanho que o Banco Central teve de intervir duas vezes durante a sessão com venda de dólares no mercado à vista.

Embora os últimos dias tenham sido difíceis para o investidor do real, a Trafalgar permanece otimista. A gestora, inclusive, aumentou sua posição na moeda brasileira em cerca de 10% nos últimos 15 dias, diz Ettore Marchetti, sócio e gestor da casa.

A aposta da casa é que o real irá se beneficiar no próximo ano de uma retomada mais forte do crescimento brasileiro, de 2,5% do PIB, ao passo que boa parte do restante do mundo continuará patinando. Assim, a gestora mantém posições pequenas de real contra dólar, moedas da América Latina e de outras regiões, como rand sul-africano e lira turca.

 

BC vê "movimento atípico" do dólar e diz que pode voltar a agir

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou que hoje foi observado um “movimento atípico no câmbio” e, por isso, a autoridade monetária optou pelas intervenções. Ele completou que, se o mesmo movimento for observado amanhã, a intervenção será novamente colocada em prática.

“Hoje tivemos um movimento bastante atípico, o câmbio se descolou das outras moedas. Nós entendemos que era um momento onde o câmbio não estava funcional e fizemos duas intervenções, exatamente na linha do que tenho dito”, disse no evento “Correio Debate: Desafios para 2020”, em Brasília. “Se amanhã entendermos que, de novo, existe um movimento disfuncional, vamos voltar a fazer intervenção como fizemos hoje”, completou. O presidente do BC afirmou ainda que “as intervenções não fazem com que o movimento de longo prazo seja revertido”, mas apenas “atenuam” o movimento.

Cenário global

Campos ainda afirmou que há diversos fatores que influenciam a revisão para baixo das expectativas de crescimento mundial. Entre eles, citou os limites das políticas monetárias atuais, destacando fala da presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, sobre a importância de coordenação entre política monetária e fiscal. “É um reconhecimento de que a política fiscal precisa vir para ajudar. Reconhecimento de que o grau de estímulo monetário está perto do fim”, disse.

Entre os fatores que levaram às revisões, citou também o envelhecimento populacional, o endividamento e as tensões comerciais, que para ele, se tornaram uma disputa ligada à tecnologia. “Acho que há uma guerra sobre quem tem domínio sobre a tecnologia, Estados Unidos ou China. Isso vai se aprofundar”, colocou. Campos Neto afirmou ser difícil saber qual fator é preponderante na revisão.

Autonomia do BC

Campos disse que estava "com grande esperança” de que o projeto de autonomia da autoridade monetária fosse aprovado neste ano. Pontuou, no entanto, que ainda está “em conversas” com o Congresso Nacional. Ele defendeu a autonomia da autoridade monetária e disse que há vários estudos que mostram que a iniciativa beneficia o comportamento da inflação e reduz volatilidades.

O projeto de autonomia apresentado pelo Executivo neste ano, e que tem apoio do BC, está em discussão na Câmara dos Deputados. Outro tramita no Senado. O presidente voltou a dizer que a instituição prepara medidas para o cheque especial “que devem sair em breve”. Ele afirmou que os juros nas linhas de crédito emergencial, como cheque especial e rotativo de crédito, não caíram e que, no caso do cheque especial, a taxa “até subiu na ponta”.

Selic

O novo projeto de assistência de liquidez do BC poderá colocar "dezenas ou centenas" de bilhões de reais na economia por meio de depósitos compulsórios menores, afirmou Campos Neto. Atualmente, os compulsórios estão na casa dos R$ 440 bilhões. Ele afirmou, por exemplo, que os bancos centrais de todo o mundo "estão atrasados" na maneira como lidam com as moedas digitais. A implantação do sistema de open banking no Brasil, prevista para o ano que vem, vai na direção de recuperar esse atraso, de acordo com Campos Neto.

Outro ponto destacado por ele foram as mudanças no microcrédito, realizadas por meio de medida provisória há duas semanas. "Grandes fintechs estão se preparando para fazer esse produto", disse. O presidente do BC também voltou a afirmar que a autoridade monetária pretende atacar os altos spreads. "Para um conjunto de variáveis macroeconômicas iguais, temos um spread mais alto do que dos emergentes", disse.

Na avaliação do BC, "os números de crescimento [da atividade] começaram a melhorar", mas ainda não de maneira homogênea. O setor imobiliário, de acordo com Campos Neto, é um dos que vêm liderando esse processo. Já o marco legal atual do saneamento, segundo ele, ainda não é suficiente para trazer mais investidores para o setor.

Por fim, Campos Neto voltou a reforçar que há espaço para mais um corte de 0,5 ponto percentual da Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Atualmente, a taxa básica de juros está em 5% ao ano.

 

FOLHA

Governo reduz previsão do salário mínimo de 2020 para R$ 1.031

O governo reduziu a previsão para o salário mínimo no ano que vem. Na mensagem modificativa do Orçamento de 2020, enviada ao Congresso nesta terça-feira (26), o montante estimado passou de R$ 1.039,00 para R$ 1.031,00.

A justificativa é a redução nas projeções para a inflação. A equipe econômica tem usado como referência para as peças orçamentárias um reajuste apenas pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor).

Desde o envio do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA), em agosto, houve uma queda nos indicadores de inflação de 2019. A estimativa para o INPC de 2019, que norteia o reajuste do salário mínimo para 2020, caiu de 4,02% para 3,26%.

Com isso, a redução foi de R$ 8. De acordo com os técnicos, o impacto nas contas públicas é de R$ 320 milhões a cada R$ 1 de aumento no salário mínimo. O que leva a um aumento nas despesas federais de R$ 2,56 bilhões ao ano.

O governo tem até o fim do ano para mandar um projeto de lei ao Congresso com o cálculo de reajuste para os próximos anos, mas tem indicado por meio das peças orçamentárias que vai propor o reajuste apenas pela inflação.

Perguntado se o projeto de lei a ser enviado pelo governo ao Congresso vai prever um reajuste apenas pela inflação, Rodrigues disse que ainda não está decidido.

“Temos poucas semanas para o envio dessa nova politica, mas certamente [o reajuste causado apenas pela inflação] é um número referencial. Não temos definição ainda”, afirmou.

 

ESTADÃO

Volatilidade é risco para negócio, diz empresário

Maior fabricante de autopeças da América Latina, a Bosch teme pela volatilidade cambial que, na visão do presidente da companhia, Besaliel Botelho, pode atrapalhar tanto as importações quanto as exportações do grupo no Brasil.

Para ele, “dólar bom é o dólar estável, indiferente do valor em que esteja, pois as flutuações tiram nossa previsibilidade”. O grupo operava com cotação de R$ 3,85 para o ano.

Segundo Botelho, a empresa importa bastante itens tecnológicos não produzidos no País e a volatilidade cambial “afeta negativamente o negócio”. Já as exportações caíram 12% neste ano em razão do enfraquecimento de mercados como Europa e China, e a cotação mais alta não altera esse quadro.

Daniel Amorim, diretor da calçadista gaúcha Tabita, pensa diferente. Há cinco anos, só um terço da produção era vendido ao exterior.

Com a crise e a perda de fôlego do mercado interno, a situação se inverteu. Hoje a empresa exporta 75% da produção e comemora o dólar favorável. Como a Tabita trabalha com poucos insumos importados, a alta do dólar é mais benéfica, avalia Amorim. “Estudamos reativar uma linha de produção que empregaria 120 pessoas.”

Repasses

Empresas importadoras avaliam até quando vão conseguir evitar o repasse do aumento de custos ao consumidor. Dona da importadora de azeites e vinhos Sicilianess, Ana Salustiano diz que o consumidor está resistente a aumentos de preços e que a maioria das empresas prefere absorver a alta do câmbio. “Se repassar os custos não vendo.”

Na indústria farmacêutica, que tem 95% de seus insumos importados, o clima é de apreensão. As empresas projetavam que o dólar estaria na casa dos R$ 3,70 no fim do ano e agora veem o custo de produção subir vertiginosamente. “Como há controle de preços não tem como repassar os custos”, diz Nelson Mussolini, do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma).

Algumas empresas não devem conseguir segurar os reajustes. José Kovacs, sócio da C. Kovacs Indústria e Comércio conta que a resina plástica responde por um terço do custo de produção de escovas de dente. A matéria-prima é cotada em reais, mas, por derivar do petróleo, sente a alta do dólar.

Como tem 120 dias de estoque da matéria-prima, por enquanto a fabricante não vai enfrentar pressões de custos mas, se a moeda ficar acima de R$ 4, Kovacs diz que terá de reajustar os preços em até 8%. “Não trabalho com prejuízo”, afirma.

Dependente de componentes importados, o setor de eletroeletrônicos também avalia que, no médio prazo, caso o real continue se desvalorizando frente ao dólar, as fabricantes terão de reajustar preços, diz José Jorge do Nascimento Júnior, da Eletros, entidade do setor.

 

Cenário: O que esperar pela frente no câmbio

Câmbio é igual seleção brasileira todo mundo tem uma opinião. O dólar alto ajuda o  exportador, que reclama quando ele cai. Já o importador quer ver a moeda americana lá embaixo. Assim como o brasileiro que está indo para o exterior não gosta de comprar a moeda em alta. Tem gente que acha que o Banco Central foi além do que deveria na queda dos juros para estimular o crescimento e o resultado estaria provocando reflexos na cotação do real frente ao dólar com risco de aumento da inflação.

O ministro da economia, Paulo Guedes, também fez a sua avaliação de que como vê o dólar no longo prazo. Ele disse não estar preocupado com o dólar acima de R$ 4,20 e que é “bom se acostumar com o câmbio mais alto e juro mais baixo por um bom tempo”.

Acabou provocando mais ruído no mercado, o que levou o Banco Central a agir com duas intervenções no mercado à vista de dólar para conter a alta num dia considerado atípico pelo próprio presidente da instituição, Roberto Campos Neto, em evento à tarde.

Guedes não falou nenhuma novidade sobre o que pode acontecer com o real no longo prazo a continuar o quadro atual: taxa de juros em patamar mais baixo leva a uma moeda mais depreciada, como aconteceu com outros países que foram ganhando mais confiança.

Mas toda vez que ministro da economia fala sobre câmbio é sempre confusão na certa com especulação no mercado.  Ainda mais diante de movimentos recentes que têm puxado o dólar para cima.

Um dos fatores que explicam porque o dólar está se movendo para cima já foi apontado pelo presidente do BC em audiência pública no Congresso na semana passada. As empresas estão pré-pagando dívidas contraídas lá fora e trocando por outra no mercado local.

Esse movimento está ocorrendo porque as taxas de juros com prazo mais longo de vencimento estão caindo e tornado mais vantajosa a troca. Com os juros longos em queda, as empresas estão entendendo que é melhor se financiar no mercado doméstico do que lá fora. Primeiro foi a Petrobrás e depois outras empresas estão acompanhando.

A frustração com o megaleilão de petróleo da chamada cessão onerosa também ajudou. Havia uma expectativa de grande expectativa de entrada de dólares no Brasil para o pagamento do leilão, o que não ocorreu. Sazonalmente também há, no fim do ano, uma saída maior de dólares para pagamento dividendos e outras remessas. As moedas também tem se desvalorizado em relação ao dólar porque o crescimento está mais forte nos Estados Unidos. Não é diferente com o real.

O BC tem repetido reiteradamente que a intervenção no mercado não reverte o movimento de câmbio e que é necessário ver os fundamentos que estão por trás. Hoje, está claro que existe um movimento coincidente entre a curva de juros longos e a depreciação do câmbio. Nem sempre foi assim. Geralmente é o contrário. Quando o câmbio deprecia, os juros de prazo longo sobem. Agora tem uma relação de causa e efeito diferente do que era no passado.

Um ponto a ser observado é que a demanda por dólar está vindo do mercado à vista e não no mercado futuro. É para o mercado futuro que os agentes vão quando há especulação ou necessidade de hedge (proteção contra as oscilações da moeda). Isso não está acontecendo agora. A demanda, mesmo nesta terça-feira, esteve concentrada no mercado à vista com a procura do dólar.

O que tem que observado daqui para frente: o dólar em alta continuará acompanhado de um cenário benigno, com variáveis de risco melhorando e a inflação implícita (aquela que indica o nível futuro dos preços) em queda, ou o cenário ficará ruim? 

No momento, a equipe econômica vê essa pressão no mercado à vista combinada com uma melhora do prêmio de risco e sem a pressão no mercado futuro, que poderia sinalizar uma preocupação mais forte do mercado com um uma eventual erro de calibragem na política de juros que levaria, em seguida, à subida da inflação.

Outro ponto que BC vai precisar observar também é o comportamento do “"pass through", como é chamada no jargão econômico a transferência para os preços da alta do dólar. O que se avalia hoje é que essa transferência é bem menor do que no passado. A ver.

 

'Aposta contra o real é uma péssima aposta', diz Gesner Oliveira

De acordo com o professor da FGV e sócio da GO Associados, não há risco de explosão do preço do dólar, e pondera que o Brasil não é uma ilha e que sofre a pressão geral sobre o câmbio

Em função das contas externas e da situação confortável da inflação, o Brasil é um país relativamente blindado à recente pressão sobre o dólar, na avaliação do economista Gesner Oliveira, professor da FGV-SP e sócio da GO Associados. “A aposta contra o real é uma péssima aposta e não há risco de explosão do preço do dólar”, afirma o especialista, ponderando que o Brasil não é uma ilha e que sofre a pressão geral sobre o câmbio.

Apesar da situação mais favorável, com cerca de US$ 380 bilhões de reservas e inflação muito baixa, ele acredita que a alta do dólar deve ter impacto sobre preços do diesel, da gasolina, dos insumos importados. No entanto, o professor acredita que o movimento do câmbio poderá reduzir  o espaço para cortes maiores na taxa de juros no ano que vem. A seguir, trechos da entrevista.

O sr. acredita que o dólar mudou de patamar? Quais motivos levaram a isso?

Acho que houve uma mudança de patamar. O próprio mercado reconheceu isso nas projeções reveladas pela pesquisa Focus. Isso decorre de uma situação internacional na qual você continua com um cenário de grande incerteza. Há percepção de que os focos de tensão não serão aliviados imediatamente. Prevalece a visão de que os conflitos entre China e EUA vão perdurar e vai continuar uma demanda grande por ativos mais seguros e o dólar é um deles. Aliado a isso, tem uma situação de queda dos juros. Portanto o diferencial de juros é menor, o que atrai menos capital de curtíssimo prazo. Também  há uma contração do comércio internacional, com o desempenho que ainda é folgado nas contas externas. Existe um ingresso líquido de recursos ainda grande, mas a demanda por dólar está mais forte.

Esse patamar do dólar acima de R$ 4,20 veio para ficar?

É difícil saber o intervalo do dólar. Mas claramente acima de R$ 4 é um patamar que corresponde a essa situação de demanda por ativo seguro no plano internacional, uma outra realidade nas contas externas. Por outro lado, o ciclo da economia brasileira está mudando, a recuperação ganhou corpo. A demanda por importações ganha um pouco de força. A contração no comércio internacional faz a exportação cair. Eu diria que certamente é um patamar acima de R$ 4 com a diferença, comparativamente à Argentina, pois temos uma situação confortável do ponto de vista de reservas internacionais. Há cerca de US$ 380 bilhões de reservas. É um cacife que o banco central argentino não tem, nem o do Chile. Dos países emergentes, o Brasil está uma situação relativamente confortável.

O que pode fazer o câmbio recuar?

Se houver uma continuidade das reformas e uma aceleração e as expectativas domésticas continuarem melhorando. Eventualmente, poderíamos ter uma mudança desse patamar do câmbio para baixo.

Existe um componente de desconfiança em relação às reformas e isso afetou o câmbio?

Não, porque não foi isso que mudou. O que mudou foi o quadro internacional. Tanto que a desvalorização de moedas emergentes foi um fenômeno geral. Agora, se o Brasil aumentar a velocidade das reformas, tudo mais constante, daí existe um efeito positivo. Mesmo assim, a força do movimento internacional é muito grande.

Quais são os desdobramentos do câmbio acima de R$ 4,25 na vida das pessoas e das empresas?

Primeiro há uma mudança de preços relativos, os produtos nacionais ficam mais competitivos. Certos segmentos que no passado tiveram dificuldade com real valorizado, hoje têm uma situação de competitividade melhor. O segundo ponto é a pressão de preços de importados, que é inevitável. Mas estamos numa situação em que a taxa de inflação é historicamente muito baixa. Nunca tivemos expectativas de inflação sistematicamente abaixo da meta, olhando dois anos à frente. E não há grandes pressões inflacionárias, salvo o choque da carne. Então, há espaço para acomodar o choque de preços dos importados.

Existe risco inflacionário?

O risco inflacionário é pequeno mesmo com o impacto da  desvalorização do real. O dólar nesse nível não ameaça o regime de metas e tampouco a política de taxa de juros. Havia analistas fazendo projeções de continuidade de redução da Selic (taxa básica de juros) em 2020. Isso eu tenho a impressão que não deve ocorrer. Deve ter mais uma queda da Selic em dezembro e depois dessa queda, tenho impressão que vai haver  uma acomodação.

A alta do dólar pode interromper o ciclo de queda dos juros?

De qualquer maneira, o ciclo de queda dos juros está chegando ao seu final. Acho que chega nesse nível e depois há uma certa espera para ver como a economia reage. De qualquer maneira já havia uma previsão de fase final do ciclo de queda dos juros. Com esse aumento do câmbio, isso tende a ser reforçado, pois  se trata de uma pressão inflacionária. Mais cedo ou mais tarde virão pressões sobre o preço do diesel, da gasolina, dos insumos importados. Como estamos com taxa de inflação baixa e com uma economia ainda não muito aquecida, com grande ociosidade em vários segmentos, isso não vai representar uma pressão inflacionária muito preocupante. Porém reduz o espaço para cortes maiores na taxa de juros.

O sr. acredita que esse nível de câmbio pode acelerar o processo de substituição de importação ou a indústria nacional está muito sucateada para caminhar nessa direção?

Sempre que a taxa de câmbio sobe, é natural que haja uma substituição de importações. Não é um processo generalizado porque o câmbio é volátil. Sempre abre espaço para o fornecedor local. Com o dólar mais alto, o custo do importado fica maior e compra-se mais internamente.

Qual o reflexo para as empresas que têm custo em dólar? Vão ter as margens mais apertadas pela dificuldade de repasse?

É preciso analisar caso a caso e fazer um estudo mais global. As empresas têm impactos sobre custos. É preciso avaliar a capacidade de repassar para os preços e também é preciso levar em conta o efeito patrimonial. Isto é,  qual é o endividamento da empresa em dólar. Brasil não é uma ilha. Ele sofre a pressão geral sobre o dólar. Mas em função das contas externas e da situação da inflação é um país relativamente blindado a essa forte pressão sobre o dólar. Embora a gente esteja num patamar mais alto, a aposta contra o real é uma péssima aposta. Não há risco de explosão do preço do dólar.

 

Dólar em alta reduz a perspectiva de o BC cortar juros em 2020, diz economista

Para o economista Armando Castelar, coordenador da área de Economia Aplicada do Ibre-FGV, o dólar em alta deve reduzir  a perspectiva do Banco de Central de baixar juros no ano que vem. Segundo ele, o câmbio não afeta a inflação como no passado, mas tira um pouco do conforto do BC para cortar  juros, apesar de acreditar que o corte sinalizado para dezembro será mantido.

Na avaliação de Castelar,  é difícil afirmar que esse novo patamar do câmbio veio para ficar e existem fatores que podem jogar contra esse movimento. Entre eles, Castelar destaca o fato de a economia voltar a crescer em ritmo mais acelerado e atrair investimentos estrangeiros. A seguir trechos da entrevista.

O sr. acha que o dólar mudou de patamar?

O dólar é flutuante e não significa que ele vá ficar aí para sempre. Tem coisas que jogam a favor para o dólar  subir e outras que jogam para cair um pouco.

Por que o dólar deu essa arrancada?

O dólar lá fora está muito forte contra o euro, contra libra esterlina e outras moedas. Isso tem a ver com os Estados Unidos estarem crescendo mais que a maioria de outros países. Também os  EUA têm uma  taxa de juros que remunera melhor, então o dinheiro vai para lá. Tem gente comprando dólar para investir na Bolsa americana e títulos do governo americano. A guerra comercial da China com os EUA tende a valorizar o dólar. Isso explica por que o dólar saiu de R$ 3,5 e foi para mais de R$ 4. Se você olhar para outros emergentes, eles passaram pelo mesmo processo e não têm nada de diferente do que ocorre no Brasil. Agora há fatores que são do Brasil. Os juros caíram muito aqui e  as operações para ganhar a diferença de juros ficaram menos interessantes. Os estrangeiros também estão tirando dinheiro da Bolsa brasileira porque o crescimento não veio e existe muita preocupação com esse movimentos políticos no Chile, Bolívia, mudanças de política econômica na Argentina. Existe um certo receio por conta da incerteza política. Numa economia que não está retomando em ritmo forte, investir em Bolsa fica menos interessante. Essas coisas todas estão pesando.

Como o sr. interpreta a fala do ministro da economia Paulo Guedes que disse que é 'bom se acostumar' com  esse nível de câmbio?

Para mim, o ministro se referiu mais à questão dos juros. O diferencial de juros ficou menor e, portanto, comprar real para investir aqui ficou menos interessante.

O sr. vê uma crise de confiança para os estrangeiros retirarem dinheiro do País?

Não  vejo dessa forma, como a gente viu em 1998. Existe uma perspectiva que é a mesma que afeta os investidores brasileiros. As perspectivas de crescimento são baixas, existem riscos. A reforma da Previdência reduziu o risco fiscal, mas esses movimentos no Chile, Bolívia, deixaram os investidores preocupados. Os indicadores de incerteza mostram que ela está alta. E a perspectiva de crescimento é relativamente baixa.

Isso pode mudar?

Tem três coisas que podem fazer o câmbio cair no ano que vem. O Banco Central americano começou a emitir dólar, está aumentando a injeção de dinheiro na economia. Existe a perspectiva de alguma trégua na guerra comercial entre EUA e China. Ambos fatores desvalorizam o dólar. A economia americana pode desacelerar também e, com isso, o dólar enfraquece. E se a economia brasileira começar a crescer mais rápido, ela vai atrair dinheiro e se tornar mais interessante para investir.

Quais os desdobramentos neste momento do câmbio a R$ 4,25 para economia brasileira?

Reduz a perspectiva do Banco de Central de baixar juros. Câmbio não impacta a inflação como no passado, mas tira um pouco do conforto do Banco Central para baixar juros. O BC vai reduzir juros no final do ano. Mas para o ano que vem fica menos provável. Essa é a primeira consequência. Provavelmente facilita  exportação, porque o câmbio fica mais competitivo. As contas externas também tendem a ficar melhores com o câmbio mais valorizado. No passado, o dólar em alta tinha impacto muito negativo porque governo e empresas tinham dívidas lá fora. Hoje o governo não tem dívida lá fora. Ao contrário, hoje ele tem reservas. E as empresas reduziram muito o endividamento lá fora. Então, não há um grande impacto sobre a saúde financeira das empresas.

 

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