VALOR
Juros do crédito ficaram em geral estáveis, diz Febraban
Os bancos estrangeiros suspenderam praticamente todo o financiamento aos bancos no Brasil, em meio à crise do coronavírus, segundo informou o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney. Isso veio agravar a situação de restrição de liquidez decorrente da hecatombe da covid-19, a elevação dos riscos e aumento das taxas de captação.
Mesmo com importantes medidas anunciadas pelo Banco Central, destinadas a prover liquidez ao sistema financeiro, “a circulação de dinheiro ficou mais restrita - até porque houve grande destruição de riqueza nas últimas semanas em todo o planeta”, ressaltou ele.
Ainda assim, Sidney assegurou, em sua primeira entrevista no cargo, que a taxas de juros média nas operações de varejo, tanto de pessoas físicas quanto pessoas jurídicas, ficaram de forma geral estáveis neste período. “Isso é especialmente válido no caso das prorrogações e nos casos de varejo (PF e PJ) que concentram a imensa maioria dos clientes”, disse ele.
Se houve uma elevação nos juros, conforme matéria publicada na edição de ontem do Valor, ela teria sido “alguma alta muito pontual, mas posso afirmar que, de acordo com as nossas informações, as taxas de juros ficaram estáveis no decorrer das últimas semanas, desde a eclosão da crise do coronavírus”, segundo Sidney.
Nas operações com grandes empresas e nas operações novas, às vezes o cenário é um pouco distinto, disse ele, sobretudo com linhas mais longas (acima de um ano), porque o custo de captação aumentou substancialmente. Se um título pré-fixado com prazo de dois anos era negociado a juros de 4,33% no início do mês passado, passou a ter juros de 6,12% no fim do mês, com aumento de pouco mais de 40%.
“Mas aqui estamos falando de grandes empresas, que demandam volumes significativos de recursos (de bilhões de reais) com impactos relevantes sobre a liquidez do setor bancário”, completou. Entidades do segmento de varejo enviaram ao Banco Central um documento onde reclamam de elevação de até 70% nos juros dos financiamentos dos bancos, conforme matéria publicada pelo Valor.
Sobre isso, o presidente da Febraban disse: “Não estamos aqui para acusar ninguém, mas também não gostaria de assumir responsabilidades que não são nossas”. Afirmou, também, que os bancos são “tão vítimas (da crise) como os demais setores e a população brasileira. “Nós, bancos, não produzimos essa crise, não é produtivo procurar culpados e nem apontar o dedo; é momento de mais racionalidade e serenidade”, completou.
No início da crise, segundo Sidney, os bancos anunciaram a prorrogação por 60 dias de todos os vencimentos de dívidas dos clientes que estavam em dia com suas obrigações. Isso sem prejuízo de todos os processos normais de renegociação que estavam em curso antes da crise. Tanto os bancos privados quanto os públicos anunciaram também, uma nova linha de crédito para financiamento da folha de pagamento de pequenas e médias empresas (com faturamento anual entre R$ 360 mil e R$ 10 milhões).
O risco e o funding dessa linha, de R$ 40 bilhões, serão compartilhados entre o Tesouro Nacional e os bancos na proporção de 85% e 15%, respectivamente. “Esse é um exemplo muito significativo de cooperação entre os setores público e privado”, salientou Sidney. Essa nova linha ainda depende de aprovação de uma medida provisória mas os bancos pretendem disponibiliza-la ainda nos primeiros dias de abril.
“Os bancos trabalham com análise de risco. E o risco de toda economia, brasileira e mundial, mudou tudo nas últimas semanas. As bolsas caíram fortemente de suas máximas históricas. O mercado de câmbio tem outra precificação. Veja o que aconteceu com o dólar aqui no Brasil. A expectativa de crescimento do PIB brasileiro e mundial desabou. Nesse contexto, há uma reprecificação geral do risco, aqui e lá fora”, admitiu o presidente da Febraban.
“Os bancos estão agindo e vão agir para preservar, em primeiro lugar, vidas, além dos empregos das pessoas e das empresas”, disse Sidney. “Não seremos apenas meros partícipes, os bancos não pouparão esforços para apoiar a sociedade nesta crise.” O presidente da Febraban ressaltou, também, que seja na crise ou fora dela, o papel do sistema bancário é se manter líquido e saudável para evitar um efeito contágio e uma crise sistêmica.
Ele considerou, ainda, que sem contar o setor de saúde, “sem dúvida nenhuma, o setor bancário foi o que mais se mobilizou e contribuiu não só para a crise de saúde, mas também para a recuperação econômica mais rapidamente possível”. Disse que são milhares de pessoas trabalhando para que a população tenha suas necessidades financeiras atendidas.
Cenário se dissolve e acelera revisões do PIB para baixo
As perspectivas de redução maior do nível de atividade global e doméstico em razão do coronavírus seguem desencadeando revisões pessimistas para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil. Ontem, quatro instituições divulgaram seus novos números para 2020, que vão de recuo de 2,5% até retração de 1%. Em sua primeira atualização de cenário desde o começo de março, quando ainda trabalhava com expansão de 2% da economia brasileira, o Bradesco passou a projetar queda de 1% do PIB na média anual.
O banco espera contração de igual magnitude do PIB global. “O país vinha exibindo uma recuperação econômica gradual e esperava-se aceleração do crescimento com a eventual aprovação de novas reformas econômicas, mas o processo foi interrompido”, diz o departamento econômico chefiado por Fernando Honorato, em relatório.
A nova estimativa considera que a duração do período de confinamento e as medidas econômicas para atenuar a crise vão evitar tombo maior do PIB no ano. Mesmo assim, as simulações do Bradesco indicam que a economia pode recuar 1% no primeiro trimestre ante os três meses anteriores, feitos os ajustes sazonais. No segundo trimestre, a queda poderia chegar a 4,5%.
Pela ótica da demanda, o consumo das famílias deve diminuir 1,2% em 2020, calcula o banco, enquanto a formação bruta de capital fixo (FBCF, medida das Contas Nacionais do que se investe em máquinas, construção civil e inovação) deve ficar 2% menor em relação a 2019. Do lado da oferta, os economistas do Bradesco apontam que o setor mais atingido será o de serviços, cujo PIB deve encolher 1,2% no ano. Já a indústria deve ter contração de 0,8% e o setor agropecuário, alta de 1%.
“Nesse cenário, a taxa de desemprego se elevará de 12,1% em 2019 para 13,3% em 2020”, estimam eles. Também em revisão publicada ontem, o Banco Inter projeta que o PIB vai cair 1,7% em 2020 por causa do impacto da pandemia sobre a produção e o consumo. A estimativa anterior era de crescimento de 2,1%. A instituição espera que o efeito mais significativo ocorra no segundo trimestre, período em que a produção industrial deve recuar 15% sobre o mesmo período de 2019, com redução de 20% no varejo e nos serviços. De abril a junho, o PIB deve encolher 9% na mesma comparação.
“Baseamos nossas estimativas no impacto observado na economia chinesa entre janeiro e fevereiro. Essa queda pode ser maior caso a quarentena, principalmente o fechamento do comércio, se prolongue além do mês de maio”, diz a economistachefe Rafaela Vitória, em relatório.
Para Dev Ashish, economista para América Latina do Société Générale, o mais provável é que a economia brasileira enfrente todo o impacto do vírus em março e no segundo trimestre de 2020. Os efeitos negativos, no entanto, podem se estender pelo terceiro trimestre, período de inverno no país, alerta Ashish em relatório, no qual estima contração de 2% do PIB brasileiro no ano. Em bases anualizadas, o banco francês projeta redução de 4,9% e 11% do PIB no primeiro e segundo trimestres, respectivamente, com volta ao campo positivo já no terceiro trimestre (alta de 2,1%).
Na ponta mais pessimista, Cristiano Oliveira, economista-chefe do banco Fibra, estima que apenas o último trimestre de 2020 deve registrar crescimento, de 2,5% sobre o terceiro na comparação com ajuste sazonal. Na média anual, Oliveira espera queda de 2,5% do PIB, projeção que era de alta de 0,8% antes. A atualização levou em conta recuo mais expressivo do PIB global do que o previsto anteriormente, assim como efeito maior das necessárias medidas de distanciamento social no Brasil sobre a economia doméstica, explica o economista-chefe do Fibra.
“Mesmo levando em conta o efeito positivo de parte das medidas [do governo para mitigar os impactos da crise], estamos revisando para baixo novamente a estimativa de crescimento para o PIB em 2020”, aponta Oliveira. Segundo ele, o PIB do setor de serviços deve recuar 2,1% neste ano, enquanto o industrial deve cair 2,6%. Já o setor agropecuário deve crescer 3% por causa da safra recorde no país. Com a retração da atividade, a taxa de desemprego média em 2020 deve aumentar para 13,3%, ante 11,9% no ano passado, prevê.
Sebrae prepara linha de crédito de até R$ 12 bilhões para micro e pequenas
Para ajudar empresas de menor porte durante a pandemia de coronavírus, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) está finalizando o desenho de uma linha que deve oferecer até R$ 12 bilhões em crédito junto com os bancos públicos. Também está em negociação com o governo a ampliação de dois para quatro meses do programa voltado ao financiamento da folha de pagamento, disse ao Valor o presidente da entidade, Carlos Melles.
Ele explicou que a linha para micro e pequenas empresas será viabilizada por meio do reforço ao Fundo de Aval para as Micro e Pequenas Empresas (Fampe), fundo garantidor da própria entidade. Os recursos seriam fruto de uma negociação com o Ministério da Economia. Segundo ele, está acertado que a entidade não será afetada pelo corte de 50% nas contribuições do Sistema S, medida que faz parte do pacote de combate à crise.
“Temos que esperar oficializar, mas o que está pactuado é que ficamos de fora e fazemos esse repasse.”
O fundo deve ser reforçado em cerca de R$ 500 milhões e, assim, dobrar de tamanho. A medida viabilizará o empréstimo de R$ 8 bilhões a R$ 12 bilhões em crédito, “a depender da alavancagem” a ser feita, afirmou Melles.
Segundo levantamento da entidade, 76% das empresas menores serão atingidas pela crise, o que aumenta a demanda por capital de giro. A proposta é que o fundo funcione como um colchão de risco para as operações, possibilitando condições mais vantajosas às empresas.
Ontem, o presidente da entidade passou o dia em reuniões com representantes da Caixa Econômica Federal, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Banco do Brasil, discutindo as condições de empréstimo. “A ideia é que a gente disponibilize, em média, 25% do faturamento da empresa no ano passado na forma de capital de giro. A Caixa deverá ser o carro-chefe”, explicou. Mas as operações também poderão ser feitas em parceria com outros bancos, cooperativas e fintechs.
Detalhes
A linha deve ter carência de seis meses a um ano e, depois, prazo para pagamento de 36 a 48 meses. “O ideal é que a carência seja de um ano, menos que isso não vai resolver o problema”, afirmou. Sobre os juros, disse estar “buscando um entendimento” de que os micro e pequenos empresários precisam de uma taxa entre 0,5% e 0,6% ao mês “para que seja razoavelmente confortável”. “Uma taxa de juros compatível com a Selic e a inflação”, comentou. “Não tem ambiente para falar em juros mais altos.”
Um diferencial da linha, explicou, é que ela será ofertada pelo chamado “crédito orientado”. Paralelamente ao empréstimo, o Sebrae irá oferecer às empresas um programa de educação financeira e uma análise de gestão que possibilite a recuperação após a crise. Na semana passada, o governo anunciou R$ 40 bilhões em empréstimos para empresas pagarem salários por até dois meses. A medida atenderá empresas com faturamento anual de R$ 360 mil a R$ 10 milhões.
Microempreendedores individuais (com faturamento de até R$ 81 mil) e microempresas (de até R$ 360 mil) ficaram de fora. Há, agora, a expectativa de que esses grupos sejam incluídos nas próximas rodadas. Já para as empresas abarcadas pela iniciativa, está em negociação a ampliação do programa para quatro meses, afirmou Melles. “Dois meses não vão ser suficientes.”
A ação, que contará com aporte de R$ 34 bilhões do Tesouro Nacional, exigirá o envio de uma medida provisória (MP) ao Congresso Nacional. O presidente da entidade elogiou o diferimento por três meses da parte da União no Simples Nacional e disse que o Sebrae está discutindo com Estados e municípios uma medida semelhante para o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e o Imposto sobre Serviços (ISS).
Risco e demanda em alta encarecem linhas de crédito
Uma grande empresa de alimentos de capital aberto, com parte da receita atrelada a exportações, viu o prazo de suas linhas habituais de crédito encolher, enquanto as taxas de juros subiram nas últimas semanas. O custo de uma operação feita com quatro bancos nacionais e estrangeiros subiu de CDI mais 1,3% ao ano para CDI mais 4% ao ano, com vencimento em 12 meses.
A Hollytec Metais, fornecedora de vergalhões de cobre e fios de cobre e de alumínio esmaltado, também viu o custo de suas operações financeiras dar um salto com a crise do coronavírus. Com sede em Guarulhos (SP), a empresa costumava descontar seus recebíveis em fundos de direitos creditórios (FIDCs) com taxas de 1,1% a 1,6%, mas agora o patamar subiu para 2% a 2,5%.
Além do custo maior, houve uma onda de prorrogações dos vencimentos dos títulos, sobre as quais também incide uma taxa, afirma Hollywood Silvestre Filho, conselheiro da Hollytec. Companhias de diversos segmentos e tamanhos vêm enfrentando mais dificuldade para tomar crédito desde que a crise do coronavírus desembarcou no Brasil.
A oferta de recursos diminuiu e, dependendo do setor, os juros subiram dentro e fora do sistema bancário, segundo relatos de executivos de empresas feitos ao Valor sob a condição de anonimato. A situação é mais delicada nos setores mais afetados pela paralisação das atividades, como varejo, serviços e companhias aéreas.
O movimento reflete uma disparada dos riscos para os bancos e investidores do mercado de capitais, além de uma alta nos custos de funding e de capital. Embora o Banco Central (BC) tenha atuado para dar mais liquidez ao sistema, os credores se mantiveram muito retraídos porque nenhuma das medidas atacava a questão do risco de crédito. “Você emprestaria hoje seu dinheiro para algum desses setores?”, questiona uma fonte próxima aos bancos.
“Junto com um aumento do desemprego e queda na renda deve vir um aumento da inadimplência de forma geral.” Esse fator só começou a ser abordado no fim da semana passada, quando o governo e bancos fecharam acordo para criação de uma linha de crédito à folha de pagamento de pequenas e médias empresas. Pelo desenho, o Tesouro Nacional absorverá 85% da inadimplência.
A expectativa de fontes ligadas a instituições financeiras é que, com isso, se crie um ambiente mais seguro para a concessão de recursos. Em mercados como Estados Unidos e Europa, o mercado de crédito também travou com os receios atrelados ao coronavírus, e só melhorou quando Estado e bancos centrais entraram no risco. Só que lá a resposta do governo foi mais rápida.
Além do aumento do risco, outros fatores contribuíram para pressionar as taxas. Um deles foi o aumento na demanda das grandes companhias por crédito. Essas empresas vinham se financiando no mercado de capitais, que fechou diante da crise. Com isso, muitas passaram a procurar os bancos em busca de linhas para reforçar o caixa. Essa corrida pressionou a liquidez das carteiras voltadas ao segmento de grandes corporações, levando a uma elevação de preços.
Numa grande instituição financeira, a produção de crédito do “large corporate”, segmento que abriga os maiores clientes, está quatro vezes maior do que um mês atrás. Além disso, uma das referências de preço é o mercado secundário de renda fixa, onde as taxas subiram de CDI mais 1% para CDI mais 3% ou 4%. Outro fator que tem pesado no crédito é que o custo de funding aumentou.
Se antes da crise um banco pequeno conseguia captar numa faixa de 100% a 120% do CDI, agora há casos em que os recursos não saem por menos de 150%. Nas últimas semanas, os futuros de DI também subiram, e eles são uma referência mais importante para o preço do crédito que a taxa Selic.
Em consequência, a cautela aumenta, sobretudo nas instituições de menor porte. “O aumento da demanda das empresas por crédito cresceu muito acima do normal. Todas estão querendo mais liquidez para atravessar este momento” , afirma José Ramos Rocha, diretor-executivo do Bradesco. Em nota, o Itaú Unibanco afirma que não aumentou suas taxas para pessoa física, micro e pequenas empresas, “como pode ser comprovado por dados públicos do Banco Central”.
De acordo com o banco, no caso de médias e grandes empresas, o custo do crédito do mercado em geral está pressionado pelas condições adversas do mercado. De acordo com um executivo do setor, os bancos trabalham com bandas de taxas para cada cliente, e, segundo ele, os gerentes podem adotar percentuais mais elevados neste momento. “Mas não há orientação para isso”, afirma.
Fonte de outra grande instituição financeira diz que em seu banco também não houve alteração na política de preços. As taxas praticadas foram mantidas. No entanto, um dos fatores que entram na composição do preço é a percepção de risco do cliente. Se ela piorou, é possível que o crédito fique mais caro para ele.
Um interlocutor observa que, enquanto o crédito está mais restrito para alguns setores, pode ser ampliado para segmentos como supermercados, que estão funcionando normalmente. “Os bancos estão olhando para as empresas e dizendo: essa companhia estava bem, mas nessa situação pode quebrar. É natural se retraírem nas crises”, afirma Renato Sucupira, sócio da assessoria financeira BF Capital.
A empresa atende clientes que estavam em vias de fechar um financiamento e, agora, não vão concluir a operação. Na visão dele, caberá aos bancos públicos atender essas companhias durante a turbulência econômica.
Giuliano Colombo, sócio do escritório de advocacia Pinheiro Neto, afirma que alguns clientes veem os bancos privados mais restritivos e os públicos, demorados na concessão de recursos. Segundo ele, o momento é difícil porque a crise trouxe problemas de oferta e demanda para empresas que não têm uma dificuldade estrutural. “A resposta do mundo corporativo é buscar uma solução de equilíbrio para que não haja uma ruptura completa”, diz.
Campos: Levamos algum tempo para entender o que seria a crise do coronavírus
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse, na noite desta terça-feira (31), que o projeto liberal do governo estava funcionado até chegar a crise decorrente do coronavírus. “O avião estava decolando”, disse o dirigente em entrevista à CNN Brasil, ao destacar que os dados de fevereiro estavam quase todos melhorando. “Tínhamos acertado no prognóstico, tínhamos um crescimento [projetado] para o ano de mais ou menos 2%. Aí veio a crise do coronavírus”, afirmou.
Ele explicou que a percepção sobre essa crise foi mudando ao longo do tempo. “Levamos algum tempo para entender o que seria a crise do coronavírus”, disse. Em um primeiro momento, houve o entendimento de que ficaria mais restrita à Ásia e afetaria o Brasil via indústria, porque “não iam chegar componentes que precisamos para fabricar coisas no Brasil”.
Depois, ficou mais claro que a doença estava se espalhando pelo mundo, e que o setor de serviços no Brasil – que representa mais de 60% de tudo o que o país produz - seria o mais prejudicado na crise. “Quando isso aconteceu, houve uma conclusão unanime de que tínhamos de sair um pouco que estávamos pensando. Tem que ter algum estimulo fiscal. O mais importante nisso é ter credibilidade e mostrar que vamos sair um pouco do percurso, mas depois vamos colocar o trilho no trem lá na frente”, disse, ao lembrar que política fiscal refere-se ao ministério da Economia, não ao Banco Central.
“Estou só dando exemplo de como eu acho que deveríamos nos comportar. Mas eu acho que essa é uma unanimidade no governo”, disse. 2021 deve ser ano de recuperação Segundo o presidente do BC o mundo tem caminhado muito rápido e, da reunião do Copom para cá, muita coisa aconteceu.
No entanto, até a data do Copom, seus modelos indicavam crescimento em torno de zero – não uma contração como muitos analistas têm projetado. “É muito difícil fazer qualquer previsão de crescimento num ambiente como esse, quando tem uma interrupção em parte do serviço, e não se sabe quanto tempo vai durar a interrupção. E é difícil quantificar os efeitos do que está acontecendo”, disse.
“Tínhamos previsão de zero [crescimento] e vamos refazer as previsões. Mas não vou dar nenhuma estimativa de previsão aqui mesmo porque seguimos a comunicação oficial do Banco Central e em breve comunicaremos nossa nova estimativa”, disse. Ele explicou que o choque é como se um “meteoro” tivesse atingido a economia daqui e de outros países. Durante entrevista à CNN Brasil, ele disse que é difícil de fazer previsão sobre retomada da economia, mas “nós entendemos que no último trimestre já vai estar começando a melhorar e no ano que vem pode ter uma recuperação boa”.
Sobre o efeito, no Brasil, da contração dos Estados Unidos, ele disse que o dado recente de pedido de seguro desemprego foi “estrondoso”, porque mostrou 3,5 milhões de pedidos. “Quando olhamos para os EUA, pensamos que de cada 5 pessoas 4 estão paradas. Então é movimento muito grande para a economia americana, e o governo tem injetado muito estímulo, tanto estímulo fiscal quanto monetário. Tem liberado todo seu arsenal. Obviamente tem contaminação dos EUA para outras economias. Alguns emergentes estão sentido um pouco já”, afirmou.
“O mundo vai crescer muito menos, temos de ter consciência que vamos empobrecer globalmente, mas é um choque temporário e é possível voltar a trajetória natural”, disse.
Injeção de liquidez
O presidente do Banco Central disse também que a autoridade monetária dispõe de instrumentos durante a crise que são basicamente para injetar liquidez no sistema financeiro, destacando que a autarquia injetou um total de R$ 1,2 trilhão de dólares no sistema, equivalente a 16% do PIB.
Ele explicou que existe obviamente uma “ansiedade” sobre como recursos vão chegar na ponta. Por isso, foram feitas medidas de direcionamento para resolver essa questão, inclusive a antecipação de um plano para permitir que o BC faça compras diretas de crédito privado, como ocorre em outros bancos centrais pelo mundo. “Já existia programa que ficaria pronto no ano que vem onde o BC poderia oferecer liquidez para bancos em troca de dívida privada”, disse Campos Neto.
Assim, ele explicou que o BC antecipou o programa pensando em medidas para injetar liquidez e desenhou medidas para injeção de liquidez com crédito privado. Para isso, contudo, seria necessária uma mudança na constituição – uma proposta de emenda à Constituição (PEC).
Campos Neto disse que está de acordo com o que está escrito na PEC que prevê compra de crédito privado, algo que foi discutido com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. A iniciativa de compras de crédito privado, acrescentou, deve servir apenas em “caráter muito extraordinário”.
Na entrevista à CNN Brasil, o presidente da autoridade monetária disse que o BC fez uma análise sobre qual é o problema e onde precisa atuar. “O BC se antecipou bastante nessa crise e injetou liquidez antes que qualquer outro banco central”, disse.
Selic
Ao ser questionado sobre a razão de não ter promovido cortes ainda mais agressivos na taxa de juros, Campos afirmou que ele entendeu que o problema seria mais de liquidez do que de custo do dinheiro.
Isso faz com que o remédio adequado para o Brasil não seja igual ao dos Estados Unidos, disse o presidente da autoridade monetária brasileira, em referência ao fato de o BC americano ter baixado a taxa básica de juros dos EUA para a faixa entre 0 e 0,25%. Uma das razões dessa piora das condições de liquidez, explicou, foi a forte saída de capital externo do país. “Temos a maior movimentação da história de capitais saindo de mercados emergentes e indo para os países desenvolvidos. É o que a gente chama de corrida para qualidade”, explicou ele, na entrevista à CNN Brasil.
Outro elemento importante na decisão sobre os juros, segundo o presidente do BC, é a percepção de que houve uma probabilidade maior de interrupção no processo de reformas, “o que se espelha através de um risco maior”. Campos mostrou-se preocupado com as condições financeiras do país. “No fim das contas, o que o BC quer fazer para estimular a economia é injetar liquidez. Mas nem sempre é necessariamente verdade que o movimento da Selic fará com que isso aconteça”, afirmou. Sem credibilidade, explica, o movimento da Selic terá pouco valor.
Campos mencionou ainda que é importante entender a dinâmica dos componentes do custo do crédito, que são o custo de juros, o custo da liquidez e o custo do capital bancário. Em um ambiente normal, esse custo de crédito é basicamente o repasse do custo de juros. Mas, segundo Campos, o BC identificou que, com a falta da liquidez, a alta do custo do crédito não vem dos juros, mas dos outros dois componentes.
“O mais importante não é o preço em si, mas a liquidez. O BC foi capaz de prever com bastante antecedência o que vinha acontecendo e o que ia acontecer, e toda essa interrupção dos serviços”, afirmou.
Câmbio
Sobre o câmbio, Campos Neto disse que o pilar de atuação é norteado pelo princípio da separação. “O câmbio é flutuante, nós deixamos os juros para política monetária, e usamos medidas macroprudenciais para estabilidade do sistema financeiro”, explicou.
Ele reconheceu que tem alguma conexão entre os pontos, mas que não é interessante para o BC defender um nível de câmbio nem ter relação expressa entre o nível de cambio e os juros. “Temos arsenal de câmbio muito grande. É importante observar como está a moeda brasileira em relação a seus pares de mercados emergentes. Vemos que, desde o dia 21 do mês passado, quando começou a se intensificar a crise, fazemos algumas análises e a moeda brasileira oscila junto com algumas moedas de mercados emergentes”, afirmou.
“Estamos atentos. Temos atuado no mercado nos últimos dias. Temos arsenal muito grande, temos linha com o banco central americano”, disse. Ele destacou que o BC tem instrumentos para garantir funcionalidade do mercado, mas objetivo não é defender nível de câmbio.
MP da folha de pagamentos
Na entrevista ao canal brasileiro, o presidente do Banco Central disse ainda que a medida provisória sobre o pacote de socorro a pequenas e médias empresas deve sair ou ainda nesta terça ou amanhã. Ele espera que na semana que vem tenha algo de concreto.
Ele também buscou esclarecer que o BNDES não banca o pacote de socorro para pequenas e médias empresas, anunciado na última sexta-feira (27), mas, sim, o Tesouro. “BNDES faz operacionalização”, explicou o presidente. Ele disse ainda que é um programa com divisão de risco, entre o Tesouro e os bancos privados.
Confinamento
Campos Neto evitou se posicionar sobre a polêmica envolvendo a necessidade de isolamento e os efeitos desse tipo de medida na economia. Ele buscou deixar claro que o Banco Central é um “órgão meramente técnico. Não tem de ter opinião nesse tipo de estratégia”, disse. “O que nós fazemos é entender o que o governo está fazendo, pegamos variáveis e colocamos nos nossos modelos. E tentamos inferir qual é o tipo de consequência que vai ter para política adotada e tomamos nossas decisões com base nisso”, disse. “Não cabe ao Banco Central agir de uma forma ou outra”, disse.
Ele evitou responder se esse debate atrapalha o trabalho do BC. “Obviamente tem uma relação de troca entre fazer o confinamento e ter uma curva mas achatada, e uma recessão mais profunda. Mas de novo esse é um debate entre o ministério da Economia, o governo. Acho que vários agentes participam, mas o Banco Central é um órgão técnico”, disse.
Ibovespa tem pior mês em 22 anos com coronavírus
O Ibovespa teve o pior mês em quase 22 anos com a crise do coronavírus, com uma queda acumulada de 29,90%. Em agosto de 1998, o índice havia recuado 39,55%. Hoje, contudo, o índice teve um dia de vaivém, mas com oscilações mais contidas, devido o movimento típido de ajuste de carteiras que ocorre ao fim do mês e de trimestres.
Pela manhã, chegou a operar no positivo, puxado por Vale e Petrobras, na máxima de 75.511 pontos (1,17%), mas atingiu a mínima dos 72.385 pontos (-3,02%). Após ajustes, o Ibovespa encerrou em queda de 2,17%, aos 73.020 pontos. O movimento ocorreu em linha com o exterior, a exemplo do visto ao longo de todo o mês.
Em Nova York, o Dow Jones recuou 1,84%, o S&P 500 teve uma baixa de 1,60% e o Nasdaq cedeu 0,95%. O dia de hoje só não foi pior por conta do avanço de Vale ON, de 3,47%, Petrobras ON (5,21%) e Petrobras PN (4,56%). Juntos, os três ativos correspondem a 17,5% do Ibovespa.
Segundo Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos, a Petrobras está com preço “ridiculamente barato” e os fundos fizeram hoje rebalanceamento de carteiras. Ou seja, devido a queda no preço foi preciso comprar ações para manter a mesma proporção. “O mesmo movimento foi visto em Vale. Tem bastante fundo elevando exposição para fechamento de mês”.
Mas diferentemente de hoje, o mês de março foi de forte estresse e volatilidade. A pandemia da covid-19 tornou-se realidade, com avanço rápido do número de casos e mortos pela Itália, Estados Unidos e Brasil. Até hoje, são mais de 40 mil mortes pelo mundo e 823 mil infectados.
O avanço da doença gerou uma onda mundial de aversão ao risco e jogou por terra os principais pilares que levaram a bolsa brasileira aos 119 mil pontos: crescimento do PIB e lucro das empresas. Mais recentemente, os efeitos vêm dos “lockdowns”, com a suspensão da livre circulação de pessoas e da abertura de comércio e serviços não essenciais. Como consequência, a bolsa teve seis “circuit breakers” em março, algo que não era visto desde a crise financeira mundial, em 2008.
Governo quer concluir hoje trâmites para linha de financiamento à folha
O governo espera concluir hoje os trâmites necessários para colocar de pé a linha de financiamento à folha de pagamento de pequenas empresas, apurou o Valor. O objetivo é permitir que o dinheiro já seja usado para os salários que têm de ser pagos até terça-feira, dia 7 - quinto dia útil do mês.
Para isso, é necessária a aprovação de uma medida provisória liberando o uso de recursos do Tesouro Nacional. Depois, o Conselho Monetário Nacional (CMN) deverá aprovar a operação. Caso a parte regulatória e a preparação do BNDES não sejam concluídas a tempo, os bancos estudam a possibilidade de lançar a linha de qualquer forma e, depois, cobrar os recursos do Tesouro, diz fonte próxima às instituições financeiras.
Conforme anunciado na sexta-feira, será criada uma linha de R$ 20 bilhões por mês, por dois meses, para financiar o pagamento de salários por pequenas e médias empresas. Mas o governo federal pode vir a liberar mais recursos, a depender de quanto tempo durar a quarentena para conter o contágio do coronavírus e do impacto dessa situação para a economia. “O governo está preparado para financiar quatro folhas de pagamento, caso a economia não se recupere logo”, afirma fonte envolvida nas discussões.
O custo da linha, com prazo de 36 meses e seis de carência para pagamento das parcelas, será de 3,75% ao ano. O Tesouro arcará com 85% do risco e os bancos, com 15%. O BNDES vai operacionalizar a modalidade e o Banco Central atuará como supervisor. Os bancos Bradesco, Itaú Unibanco, Santander e Caixa Econômica Federal já anunciaram que vão disponibilizar a linha subsidiada para as folhas de pagamento, mas a concessão estará sujeita à análise de crédito.
Segundo o mesmo interlocutor, caso o Tesouro Nacional faça uma nova rodada de liberação de recursos para a linha, os bancos devem acompanhar, embora a questão ainda não esteja fechada. “Vai depender do tamanho do buraco”, afirma em relação à situação das pequenas empresas. Segundo o Valor divulgou ontem, os bancos já receberam consultas de pequenas empresas que querem ter acesso à linha.
Caixa vai operar linha para folha de pagamento
A Caixa Econômica Federal decidiu operacionalizar a nova linha de crédito emergencial para financiamento da folha de pagamento de pequenas e médias empresas, anunciada pelo governo para minimizar os efeitos da pandemia do coronavírus na economia. A criação da linha ainda depende de edição de medida provisória, já que contará com recursos do Tesouro, e regulamentação para que comece a ser oferecida.
O banco decidiu operar com a nova linha e ainda prometeu mais medidas para ajudar as micro e pequenas empresas. O valor total que será disponibilizado pela Caixa para a nova linha será proporcional à necessidade apresentada pelas empresas que possuem folha de pagamento no banco e que estejam aptas ao programa, segundo a assessoria de imprensa da Caixa.
A ação emergencial sera voltada para empresas com faturamento anual entre R$ 360 mil e R$ 10 milhões e prevê que o financiamento seja pago em 36 meses, com carência de seis meses e 30 parcelas. A taxa de juros será de 3,75% a.a.
Conforme noticiado pelo Valor, Guimarães disse que a Caixa está atuando por meio de uma parceria com o Sebrae, que tem uma espécie de fundo garantidor para cobrir inadimplência, o que reduz riscos do banco para operar com crédito para capital de giro para empresas pequenas que não são clientes do banco. A ideia é que esse acordo com o Sebrae seja fechado nos próximos dias.
Representar e promover o desenvolvimento da construção civil do Rio Grande do Norte com sustentabilidade e responsabilidade sócio-ambiental
O SINDUSCON/RN tem o compromisso com a satisfação do cliente - a comunidade da construção civil do Rio Grande do Norte - representada por seus associados - priorizando a transparência na sua relação com a sociedade, atendimento aos requisitos, a responsabilidade socioeconômica, a preservação do meio ambiente e a melhoria contínua.