Terça-feira

VALOR

BNDES quer funding mais barato para curto prazo

A Taxa de Longo Prazo (TLP) está cara para operações de curto prazo, mas não para operações acima de cinco anos, na visão do BNDES. Nesse quadro, o entendimento do banco é que é preciso buscar alternativas de captação de recursos a prazos mais curtos e taxas menores, como o CDI (Selic), para viabilizar financiamentos mais baratos. “A gente tem buscado diversificar nosso custo de funding para repassar para as linhas de prazo mais curtos”, explicou ao Valor a diretora de Finanças do BNDES, Bianca Nasser, acrescentando que hoje esse custo é praticamente todo referenciado na TLP.

“A nossa estratégia é buscar formas mais eficientes para determinados prazos. A gente pode buscar soluções de mercado em que o banco pode estar emprestando um custo de funding que não seja a TLP”, disse. Um dos instrumentos possíveis, que deverá ser examinado pelo conselho do banco no próximo mês, é fazer uma “marcação” de parte do patrimônio líquido do banco, vinculando-o a operações de crédito mais curtas, o que permitiria um custo menor, mais próxima do CDI. “Isto nos permitiria fazer marcações diferenciadas em relação à TLP”, afirmou.

Outros instrumentos que ela menciona é a Letra Financeira, que pode ser emitida com indexação ao CDI. Bianca explicou ainda que essa diversificação de funding também é buscada para o longo prazo, por meio de operações com organismos internacionais. Mas salientou que a TLP para operações longas é bastante competitiva. Apesar desse movimento para baratear funding, a visão do BNDES é que hoje há mais problemas relacionados ao risco do que ao custo do crédito. Por isso que, além do novo FGI, que está perto de funcionar, o banco também está trabalhando um novo produto: a fiança, que deve ajudar a deslanchar projetos de infraestrutura.

De acordo com uma fonte, a fiança será um produto de prateleira que poderá ser acessado também por outros setores, como a indústria. A discussão sobre o custo da TLP, que neste mês teve mais uma elevação e que, curiosamente, teve sua parte prefixada (2,26% ao ano) praticamente igualada com a taxa Selic, tem crescido, especialmente diante das preocupações sobre a retomada da economia.

O economista Fábio Giambiagi, que é do banco e foi um defensor da TLP na sua origem, em recente artigo defendeu uma mudança na sua fórmula de cálculo, para que ela refletisse também o fato de que o Tesouro tem encurtado suas emissões para se financiar a um custo mais baixo.

Ele aponta que o país poderá viver uma situação de subsídio ao contrário, prejudicando a retomada dos investimentos. Giambiagi sugeriu que a TLP seja definida não mais com base na NTN-B de cinco anos, e sim no prazo médio de maturação dos títulos emitidos pelo Tesouro, com no mínimo dois anos de prazo. A proposta renovou o debate sobre a conveniência do atual desenho da TLP.

Na equipe econômica e no banco, porém, não se percebe disposição de revê-lo. Ao contrário, o desenho do mecanismo continua elogiado e visto como uma boa solução para o financiamento de longo prazo, sem colocar em risco as contas públicas e ao mesmo tempo barato quando se pensam acima de cinco anos.

“Sim, a TLP está ficando cara, mas o pressuposto de mudar é que o BNDES seria o único meio de se financiar a longo prazo. A própria TLP ampliou o mercado de capitais para prazos mais longos. Estamos em crise fiscal, preocupados com a dinâmica da dívida, aí vamos piorar a taxa implícita da dívida? Aumentaremos o subsídio?”, aponta uma fonte da equipe econômica. “O BNDES tem como alterar o custo de algumas linhas mais curtas sem precisar mexer na TLP”, disse outra fonte.

 

‘Endividamento de risco’ afeta 4,6 milhões, diz BC

Mais de 4,5 milhões de pessoas físicas chegaram às vésperas da pandemia em uma situação de endividamento de risco, justamente em um momento em que o quadro financeiro das famílias pode se tornar ainda mais delicado. De acordo com estudo do Banco Central (BC) obtido pelo Valor, 4,6 milhões de pessoas tinham endividamento de risco em dezembro do ano passado.

O número, que faz parte do Sistema de Informação de Crédito (SCR), representa 5,4% dos 85 milhões de brasileiros com empréstimos abertos. O diretor de relacionamento, cidadania e supervisão de conduta do BC, Maurício Moura, admite a possibilidade de piora da situação desde o início da pandemia.

Ele destaca, por exemplo, que o índice de inadimplência das pessoas físicas passou de 5% em dezembro para 5,5% em maio. Mesmo assim, evita traçar cenários mais precisos a respeito de como esse quadro pode ter mudado desde o início da pandemia. “Há alguma mudança vinda com a pandemia, mas ainda é cedo” para uma avaliação mais detalhada, afirma.

São consideradas pessoas com endividamento de risco aquelas que atendem simultaneamente a dois ou mais dos seguintes critérios: inadimplência (atraso de mais de 90 dias); exposição concomitante a cheque especial, crédito pessoal não consignado e rotativo do cartão; comprometimento de renda acima de 50%; e renda disponível abaixo da linha da pobreza após o pagamento de dívidas.

“Ou seja, quando o cidadão tem um volume de dívida acima de sua capacidade de pagamento, e cuja persistência e baixa qualidade do crédito prejudicam o gerenciamento de seus recursos financeiros e, em última instância, sua qualidade de vida”, diz o estudo. O levantamento do BC mostra que, em dezembro do ano passado, havia 10,3 milhões de brasileiros inadimplentes, 9,8 milhões com mais de 50% da renda comprometida, 3,4 milhões expostos às três modalidades de crédito e 2 milhões com renda disponível abaixo da linha da pobreza após o pagamento de dívidas.

Dentro do grupo com endividamento de risco, a população que ganha entre R$ 2 mil e R$ 10 mil mensais e tem acima de 54 anos “mostra-se financeiramente mais vulnerável”, segundo o BC. “Tal recorte se justifica pelo maior nível de relacionamento bancário dessa população, com acesso a uma maior gama de produtos financeiros e a maiores limites de crédito”, diz o estudo.

No caso da faixa etária, pesa também o fato de pessoas mais velhas muitas vezes terem a sua renda “ligada à subsistência do grupo familiar” e acabarem assumindo dívidas de parentes, diz Moura. Iniciado há dois anos, o estudo faz parte de uma estratégia mais ampla do BC para entender melhor o endividamento de risco e ajudar na solução do problema. Parte das dificuldades, segundo o diretor, é que não existe nem mesmo “um consenso de mercado, academia ou advogados a respeito do que é um cidadão superendividado”.

Esses empecilhos esbarram tanto em questões objetivas - o BC não tem acesso, por exemplo, a todas as diferentes fontes de renda de todos os indivíduos - quanto em subjetivas, como o “fardo psicológico” causado pelas dívidas que afeta o indivíduo. De maneira geral, o endividamento de risco tem semelhanças com o superendividamento - outro conceito de difícil classificação, diz Moura. “Há possivelmente propensão a que os tomadores aqui identificados como endividados de risco se encontrem, simultaneamente, em situação de superendividamento ou que, eventualmente, possam chegar a esse estágio se ações preventivas e de correção não forem tomadas”, diz o BC.

No exterior, bancos centrais como os da Itália e da França fazem acompanhamentos parecidos. “O superendividamento não é um problema nacional, é global”, diz Moura. “O estudo forma um ponto de partida para acompanharmos esse fenômeno e nos ajudar a direcionar melhor as novas políticas públicas.”

Diversas iniciativas vislumbradas pela autoridade monetária para diminuir o endividamento de risco têm a educação financeira como guia. Uma delas é o Aprender Valor, projeto que tem como objetivo ensinar educação financeira em escolas públicas a 22 milhões de alunos até 2022. Entram aí também mutirões de renegociação de dívida, como o realizado no ano passado, em que os clientes precisaram assistir um vídeo e receber um material impresso sobre educação financeira para repactuarem as suas dívidas.

Outra é a criação de uma plataforma pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) para a realização de cursos. Mas medidas adotada no combate à crise também podem ter um papel importantes, de acordo com Moura.

Em março, o Conselho Monetário Nacional (CMN) suspendeu por seis meses a necessidade de provisões dos bancos em duas situações de renegociação de empréstimos: se considerassem que o cliente não tinha mais condições de pagar ou se concedessem descontos por causa da fragilidade da capacidade de pagamento ou de garantias.

Dados apresentados ontem pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, mostram que mais de 9,9 milhões de pessoas, em um total de R$ 394 bilhões, haviam repactuado suas dívidas até a semana retrasada. Além disso, a Agenda BC#, conjunto de propostas de modernização do sistema financeiro apresentadas pela instituição, também deve ter efeitos positivos sobre o nível de endividamento das famílias, segundo Moura.

O diretor da autoridade monetária destaca ainda que a ampliação recente da base de clientes bancários, fruto do pagamento do auxílio emergencial de R$ 600, tem potencial para ajudar o BC a entender melhor o fenômeno do endividamento de risco. “Essa ampliação jogou luz sobre muita gente que não era vista antes”, diz.

 

Fragilidade econômica e institucional levarão a recuperação lenta, diz Pastore

A fragilidade da economia brasileira ainda antes da pandemia de covid-19 e a fraqueza institucional do país devem levar a uma lenta recuperação após o novo período de recessão iniciado no primeiro trimestre deste ano, na avaliação de Affonso Celso Pastore, coordenador do Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).

O Codace informou ontem que, após a mais lenta recuperação da história nacional, a economia brasileira voltou a entrar em recessão no primeiro trimestre deste ano. O último período de expansão durou 12 trimestres, intervalo em que o país não conseguiu se recuperar do tombo de 6,7% nos 11 trimestres entre abril de 2014 e dezembro de 2016. De 2017 a 2019 o crescimento foi de, em média, 1% ano.

“É a recuperação mais lenta da história brasileira, o que mostra que tínhamos uma economia que já estava doente antes de chegar a covid-19”, afirma Pastore, expresidente do Banco Central e sócio da A.C. Pastore & Associados. O início da recessão foi estabelecido em reunião realizada pelos oito integrantes do Codace na sexta-feira.

O comitê foi criado em 2004 para determinar uma cronologia de referência para os ciclos econômicos brasileiros. A fase cíclica marcada pelo declínio na atividade econômica de forma disseminada entre diferentes setores econômicos é chamada recessão. A fase entre um vale e um pico do ciclo é denominada expansão. Embora o comitê seja ligado à FGV, as suas decisões são independentes. O novo período de recessão no país deve ser mais curto que o anterior, mas tão ou mais crítico. Em 2020, a pandemia deve provocar uma queda de 6,4% no Produto Interno Bruto (PIB), segundo o Banco Central.

Mas há estimativas mais pessimistas, como a do Fundo Monetário Internacional (FMI), de queda de 9,1%. Pastore vê um recuo numa faixa intermediária, de 7,5%. O Brasil, ressalta o economista, chegou ao fim de 2019, término do ciclo de recuperação da crise anterior, com um PIB per capita 4,5% abaixo do nível alcançado em 2014, o que dá uma medida do empobrecimento do país.

“Um crescimento de 1% no PIB é pouco maior que o crescimento populacional. De forma que nesses últimos anos quase não houve recuperação da renda per capita.” Algo que vai se agravar neste ano, com o recuo do PIB per capita chegando a 7,2% se realizada a projeção do BC e um crescimento populacional de 0,8%, a média dos últimos anos. “Vamos terminar o ano 12% abaixo de 2014.”

Desta vez, a economia deve crescer em ritmo maior na saída da recessão, com alta de 2,5%, na estimativa de Pastore, por causa da grande capacidade ociosa, mas isso não quer dizer que a recuperação será rápida. “A retomada vai ser lenta. Será mais que 1% ao ano, mas não vai ser em ‘V’, explosiva. Não entendo de onde o Paulo Guedes [ministro da Economia], tirou essa ideia de retomada em ‘V’.” A falta de uma vacina contra a covid-19, que deve estar disponível em algum momento no ano que vem, deve manter ativo o contágio pela doença e, com isso, medidas de isolamento continuarão a ir e voltar.

Pastore aponta que a ineficiência do país no combate à doença - também resultado da fragilidade institucional - agravou o quadro econômico. “Com instituições melhores a reação poderia ter sido também melhor. Era impossível evitar essa recessão, mas seu custo poderia ter sido menor”, afirma. A questão institucional é a mesma que estaria por trás da lentidão da retomada no pós-crise 2014-2016.

Citando o economista Daron Acemoglu, autor em parceria com James Robinson de “Por que as Nações Fracassam”, Pastore diz que, entre avanços e retrocessos, o país não conseguiu entrar no rol das nações que mantiveram instituições políticas fortes, capazes de fazer reformas que melhorem as instituições econômicas. “O Brasil sofre desse tipo de fraqueza até hoje, não corrigimos isso.”

Embora em dimensões diferentes, essa fraqueza, que não é exclusividade do Brasil, também contribuiu para eleger figuras como Donald Trump, nos Estados Unidos, e Jair Bolsonaro, que não por acaso lidam de forma similar com a pandemia. “É só olhar a forma como o populismo do Trump e do Bolsonaro trata o assunto. São reações muito piores do que em países com melhores instituições.”

Nesse ponto, embora a reação americana tenha sido falha, o país ainda tem instrumentos para acelerar uma recuperação da economia, algo que falta ao Brasil, na visão de Pastore. O país não tem a opção fiscal e a política monetária tem um limite. O caminho, diz, é progredir no campo das reformas. “Teremos de ter regras fiscais muito melhores que as atuais, mostrar que o governo não corre risco de insolvência, que o desequilíbrio é momentâneo”.

O problema é a capacidade política para isso. Dito isso, ele acredita que o governo não terá como fugir da extensão do auxílio emergencial por mais alguns meses. Ele considera que o benefício poderia ter sido mais bem desenhado, mas a transferência de recursos para a população terá que continuar porque o isolamento social vai se manter, ainda que em menor grau, e continuará afetando o mercado de trabalho.

“Os shoppings abriram, mas estão vazios. As pessoas estão com medo. Dificilmente veremos um nível de emprego anterior ao da pandemia. As pessoas vão ficar desempregadas por um tempo extenso. O grau de informalidade vai crescer, a renda média vai piorar. Não tenho ideia de como vai ser essa dinâmica, é uma situação nova. Mas a minha impressão é de que o desemprego vai aumentar bastante e cair devagar.”

 

FOLHA

Mais da metade do crédito cedido pelos bancos desde o começo da pandemia foi para empresas

O último levantamento da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), divulgado nesta segunda-feira (29) apontou que 56,2% de todo o crédito cedido pelos bancos desde o começo da pandemia foi para pessoas jurídicas.

Segundo a federação, os empréstimos dos bancos somam R$ 1,1 trilhão de 1º de março até 19 de junho, incluindo contratações, renovações e suspensão de parcelas. Deste total, os bancos acumulam R$ 627,2 bilhões de concessões para pessoas jurídicas.

O número total considera a concessão de crédito oficial divulgada pelo Banco Central na semana passada, que somaram R$ 981,2 bilhões, e os dados consolidados pela Federação até 19 de junho – os quais consideram apenas o segmento livre de crédito para pessoa jurídica, que somou R$ 135,5 bilhões.

O levantamento da Febraban, no entanto, não especifica o porte das companhias que receberam esses recursos. Apesar dos números registrados pela federação, pequenas e médias empresas têm reclamado de dificuldades no acesso ao crédito desde o início da pandemia de coronavírus, quando o Banco Central implementou as primeiras medidas de injeção de recursos na economia.

Um estudo recente divulgado pela ANR (Associação Nacional de Restaurantes) aponta que 76% das empresas do setor que buscaram novas linhas de crédito para financiar o negócio tiveram suas propostas recusadas.

Empresários também já haviam relatado à Folha que esbarraram em burocracia, excesso de exigências e demora nas respostas dos grandes bancos ao tentar acessar recursos para pagamento de salários de seus funcionários. A linha com esse propósito foi liberada no início de março pelo governo federal. Foram R$ 40 bilhões voltados para companhias com faturamento entre R$ 360 mil e R$ 10 milhões.

Relatos de que os bancos aumentaram os juros e restringiram a negociação de contratos também acontecem desde o início da pandemia de coronavírus.

A Febraban também afirma que os bancos já renegociaram 11,3 milhões de contratos com operações em dia, que respondem por um saldo devedor de R$ 666,4 bilhões. O volume de renegociações responde por um aumento de 16,5% em relação ao último levantamento da federação, divulgada no início do mês e que registrava 9,7 milhões de contratos.

A renegociação de contratos faz parte de uma medida anunciada em março pela Febraban e que consistia em adiar os vencimentos de dívidas de clientes pessoas físicas e micro e pequenas empresas por até 60 dias. Com a extensão da crise ante a pandemia do coronavírus, alguns bancos estenderam o prazo de carência para 180 dias.

O adiamento dessas dívidas é tratado pelos bancos como uma renegociação de contratos.

Segundo a Febraban, os juros totais de maio atingiram 20,4%, redução de 2,3 p.p. (pontos percentuais) em relação a março. Já os spreads bancários (diferença entre os juros pagos pelos bancos na captação de recursos e as taxas cobradas nos empréstimos) atingiram 16,4 pontos percentuais em maio, queda de 1,6 p.p. na mesma relação.

 

Foi unânime a decisão de anunciar que estamos em recessão, diz economista do comitê que data ciclos no Brasil

A decisão de definir o primeiro trimestre de 2020 como início de um novo período de recessão da economia brasileira foi tomada por unanimidade e com base em dados que não mostram nenhuma divergência, de acordo com o professor do Insper Marco Bonomo, um dos oito economistas que fazem parte do Codace (Comitê de Datação de Ciclos Econômicos).

O comitê, ligado ao Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), divulgou nesta segunda-feira (29) a data do início de uma nova recessão que deverá ser a mais profunda da série histórica iniciada nos anos 1980, embora possa ser curta.

Segundo Bonomo, a economia brasileira já tinha começado o ano em ritmo lento e foi “atingida por um meteoro” em março que colocou imediatamente vários indicadores econômicos em terreno negativo.

“Não houve divergência. Está claro que a gente está em uma recessão”, afirmou em entrevista à Folha. “O impacto foi bem espalhado. Uma recessão cavalar dessas, de alguma forma, facilita nosso trabalho, infelizmente.”

Quais foram os dados mais importantes para que o comitê definisse o início de uma nova recessão no primeiro trimestre de 2020, quando os efeitos da pandemia ainda eram mais restritos e havia apenas um trimestre de queda na atividade?

Nos números de março você já vê o reflexo da pandemia. Em janeiro e fevereiro, a recuperação da economia andava meio de lado. Se tivesse tido uma recuperação mais forte naqueles dois meses, o trimestre inteiro não ia ter um resultado ruim assim. O monitor do PIB do Ibre indicou uma queda de 5,1% em março e crescimento de 0,3% em janeiro e 0,2% em fevereiro. Isso compõe uma queda do PIB já expressiva no primeiro trimestre.

Como os dados a partir de abril foram considerados na datação?

Os dados do monitor do PIB indicam uma queda de 9,1% em abril. Se a gente tivesse uma queda do PIB de 1,5% no primeiro trimestre [dado do IBGE], mas não soubesse que no segundo vai dar uma recessão enorme, não estaria datando [a recessão atual]. Como não há a menor dúvida de que vamos ter uma queda expressiva no segundo trimestre, a gente tem confiança para datar essa recessão desde o primeiro trimestre deste ano.

Quais os conceitos utilizados pelo Codace para definir recessão? Vocês destacariam algum dado na recessão atual?

A gente olhou os vários setores da economia, de forma desagregada. A gente olhou também massa salarial, consumo das famílias, formação bruta de capital, mas o cenário era tão claro que todos os indicadores convergiam para a mesma coisa. Dessa vez está muito claro, não há divergência de indicadores. Quando você tem um começo suave de recessão ela é mais difícil de datar. Agora não. Um meteoro bateu aqui em meados de março e causou destruição total. O impacto foi bem espalhado. Uma recessão cavalar dessas, de alguma forma, facilita nosso trabalho, infelizmente.

Houve alguma divergência na análise dos dados atuais pelos membros do comitê?

Não houve divergência. Está claro que a gente está em uma recessão. Para as pessoas que participaram dessa reunião não há a menor dúvida. A gente analisa tudo, inclusive algoritmos de datação, olhando o futuro também, mas a datação se baseia em informações que são robustas e que não dependem de previsões e coisas que ainda não aconteceram. A datação tem um caráter muito menos especulativo do que qualquer projeção.

Qual a magnitude da recessão atual até o momento?

A magnitude é sempre o dado do PIB [divulgado pelo IBGE]. Na hora de definir se tem uma recessão, a gente olha para um conjunto de indicadores da economia como um todo, mas a gente não dita qual é o PIB. Quando a gente coloca algum número, é simplesmente a evolução do PIB. Não é um número que a gente produz. A gente produz as datas.

Qual a perspectiva de duração da recessão atual? E qual seria a magnitude dela em termos históricos?

Nossa tarefa não é prever, é datar o que aconteceu. A recessão de 2008 e 2009 foi a mais profunda, apesar de ser curta [seis meses], com uma média anualizada por trimestre de -10,8% e acumulada de -5,5%. É muito provável que essa recessão agora, em termos de intensidade, mesmo que seja ela curta, seja a mais intensa da nossa história. Deve superar a de 2008 e 2009. A recessão 2014-2016 teve uma queda anualizada média de 3,2% por trimestre, acumulada de 8,6%.

Poderemos ter a recessão mais profunda da história também em termos de queda acumulada, considerando as projeções de retração de PIB em torno de 10% no segundo trimestre?

Sim.

Vocês divulgaram também novos dados sobre a última recessão, a mais longa da série histórica. Houve alguma revisão?

Havia uma dúvida em relação ao mês que ela teria começado. Os indicadores não são tão claros. A gente teve de se debruçar e chegou à conclusão de que março de 2014 foi quando se deu o início daquela recessão. O nosso hábito é primeiro datar primeiro por trimestre. Só agora, por exemplo, a gente fez a datação mensal da recessão de 2014-2016. A gente procura ser cauteloso e datar uma coisa em que haja consenso e com dados bem claros. Essa última, em termos de meses, foi a recessão mais longa que a gente já teve, com 33 meses.

Futuramente, é possível que vocês façam uma datação mensal para determinar em qual mês do primeiro trimestre de 2020 teve início a recessão atual?

A gente certamente vai fazer a datação mensal em algum momento. Mas vamos esperar um pouco mais para fazer isso.

 

ESTADÃO

Vamos ter uma alteração estrutural da economia no pós-covid, diz Edmar Bacha

O economista Edmar Bacha, diretor do Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças (IEPE/CdG) e integrante da equipe que criou o Plano Real, vê pouco espaço para uma recuperação rápida, em “V”, da economia brasileira, que entrou em recessão no primeiro trimestre deste ano, conforme o Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace) da Fundação Getulio Vargas (FGV). Membro do órgão colegiado, Bacha acha que o mais provável é que o ritmo de recuperação da atividade estacione num platô, à medida que o impulso das medidas do governo for passando.

Embora seja favorável à discussão sobre a manutenção dos auxílios emergenciais via unificação dos programas de transferência de renda, Bacha ressalta o aperto dos gastos públicos no País, que exige reformas para liberar espaço para ampliar o investimento em políticas focadas na redistribuição da renda. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Estamos em meio à recessão, mas há espaço para recuperação em “V”?

Nos Estados Unidos, como reportou a Marcelle (Chauvet, professora da Universidade da Califórnia, integrante do Codace, na reunião da última sexta-feira, 26), foi feita uma pesquisa muito interessante com economistas sobre a forma da retomada. Já houve duas rodadas da pesquisa. Na primeira, a maior parte dos economistas colocou o “V”, e, agora, todo mundo mudou do “V”, para algo que começa com um “V” inclinado, mas logo depois atinge um platô. E essa questão do platô é fundamentalmente por causa do esgotamento dos impulsos fiscal e creditício que o governo está dando. Quando isso acabar, como vai ficar? Depois, do lado do vírus, tem a questão de que isso vai exigir uma realocação muito pronunciada da atividade econômica. O mundo pós-covid não vai ser o mesmo. Vai ser bastante diferente. A natureza da atividade econômica vai ser muito distinta, com setores que vão ser beneficiados e os setores que vão ser prejudicados. Vamos ter uma alteração estrutural, se não permanente, pelo menos prolongada na estrutura das atividades econômicas.

No caso do Brasil, o quadro é diferente, já que o espaço fiscal para manter medidas é menor?

Obviamente, o Brasil tem bastante menos espaço fiscal do que os países que têm moeda-reserva. (...) Com esse agravamento do quadro fiscal, estamos indo para uma relação dívida pública sobre PIB de 100%. Agora, se temos menos espaço fiscal, temos um pouquinho mais de espaço monetário. Os juros lá (nos países desenvolvidos) já estão em zero. Isso é uma questão complexa, que vai depender muito da capacidade que temos de reestabelecer o ânimo empresarial e a disposição dos consumidores a gastar.

Os impulsos ficais ajudam no consumo das famílias, não?

Nos Estados Unidos, por causa das transferências, houve uma retomada muito forte, praticamente no nível anterior, do consumo das classes mais pobres. O consumo que está retraído é o consumo dos 25% mais ricos, do pessoal que fugiu de Manhattan. Esse consumo vai voltar quando o medo passar. O curso do vírus é que vai determinar um pouco esse processo de retomada do consumo da parte mais substantiva do total. Embora seja menos gente (os 25% mais ricos), o poder de compra é muito maior.

Isso vai acontecer no Brasil ainda?

Com certeza. Não temos ainda esse tipo de dado. Nos Estados Unidos é um pouco mais fácil porque aqui as pessoas mais pobres ainda gastam em dinheiro. Isso é mais difícil de traçar.

Diante disso, deveríamos investir na manutenção dos auxílios emergenciais?

O ideal seria a gente encontrar um espaço fiscal para fazer uma ampliação do Bolsa Família. Esse é um tema que está em discussão muito ampla, tem propostas pipocando para todo lado, algumas mais fantasiosas, outras mais realistas. Há uma coisa emergencial, que é o prolongamento do auxílio, dado que o vírus não se abateu no período que estávamos com esperança que se abatesse. A outra questão é como será o formato mais ou menos prolongado desse processo.

O sr. é favorável a uma ampliação das transferências?

Acho importante, temos que discutir isso. Podemos fazer desta crise uma oportunidade para uma discussão séria sobre distribuição de renda no País.

É possível fazer isso sem reformas, como a administrativa e a tributária?

A alternativa a isso seria aumentar brutalmente os impostos, o que não é o caso. Já estamos com uma carga tributária, para nosso nível de renda, bastante alta. Temos que conseguir um jeito é de redistribuir o gasto. E tem que melhorar a qualidade dos impostos, obviamente.

Qual a consequência de continuar aumentando a dívida pública?

Isso seria autodestrutivo, porque a retomada depende do restabelecimento de um ambiente de negócios. As oportunidades estão aí. A do saneamento está sendo criada (com a aprovação, na semana passada, do novo marco regulatório para o setor). A questão é saber se o pessoal (os investidores) vai vir. Para vir, precisa ter confiança no ambiente de negócios e em tudo o mais. Num País que está com a dívida descontrolada, quem vai ser louco (de investir)?

Como fazer as reformas?

Vai ter que fazer uma redistribuição. Então, vai haver perdedores, sem dúvida. Não é fácil. Não é uma coisa para fazer do dia para a noite. Vai precisar de um debate amplo na sociedade, para ter uma avaliação muito clara para as pessoas do que se trata. Não vai chover dinheiro. Vamos tirar dinheiro de um lado e colocar no outro. É importante que esse debate seja bastante amplo, porque se depender só dos lobbies que pressionam o Congresso, não vamos chegar a lugar algum.

O sr. está mais pessimista ou otimista com os rumos da economia?

Estamos numa situação extremamente difícil. Normalmente, os períodos de expansão são muito mais prolongados do que os períodos recessivos. É uma característica do ciclo econômico tradicional. Agora, pega essa última leva. Tivemos um período recessivo, de 2014 a 2016, que é praticamente da mesma extensão (11 trimestres) que a expansão que tivemos até o ultimo trimestre do ano passado (de 12 trimestres). Só isso já é uma sinalização bastante clara da precariedade. A economia já estava andando de lado. Essa expansão não foi nada para ficar muito entusiasmado. A economia já não vinha bem das pernas. Precisamos ter um conjunto de mudanças muito substantivas para uma retomada mais vigorosa e para termos um espaço mais amplo para essa discussão dos sistemas redistributivos, que são tão importantes no Brasil.

As medidas dos países desenvolvidos podem beneficiar o Brasil com um crescimento global maior?

Já estamos nos beneficiando da retomada na Ásia. As exportações brasileiras para a Ásia estão indo muito bem, obrigado. Nesse sentido, sim, mas isso olhando para os próximos meses. A questão que se coloca mais à frente, pós-covid, é como vai ser essa reestruturação, a recomposição da economia mundial, toda essa questão do protecionismo e do papel das organizações internacionais. Isso vai depender muito do resultado das eleições (presidenciais) americanas (marcadas para novembro).

 

O GLOBO

Brasil só se recupera da última recessão em 2024, após novo tombo do PIB este ano, diz economista da FGV

Armando Castelar, coordenador de Economia Aplicada da Fundação Getulio Vargas, afirma que o Produto Interno Bruto (PIB) não volta aos níveis de 2014, período anterior ao da mais longa e profunda recessão que tivemos até agora, antes de 2024. O fraco crescimento nos anos seguintes à recessão anterior já tinha empurrado a recuperação total para 2021. Agora, com nova recessão e ainda mais profunda, essa reação ficou para 2024. 

O Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace) estabeleceu o início da recessão no primeiro trimestre. Foi por causa do início da quarentena, em março?

A explicação vem bastante do que ocorreu em março. O fato de janeiro e fevereiro terem sido fracos não ajuda. Vai ser uma recessão curta. No terceiro trimestre vai ter crescimento. Mas a queda no segundo trimestre vai ser bastante profunda, vai deixar herança. Quando acabar, o PIB vai estar lá embaixo.

Já vai haver crescimento no terceiro trimestre?

 Esperamos expansão de 7% no terceiro frente ao segundo. Há comércio reabrindo, dados de mobilidade e consumo de energia elétrica, diesel, já estão reagindo. Junho já mostrou uma recuperação em relação a abril, o que não vai impedir queda forte de 10% no segundo trimestre. Não vai recuperar. Depois do terceiro trimestre, vai ser mais gradual, mais lento.

Mas a recuperação pode ser abortada se a pandemia se intensificar?

 Eu acho que não volta a fechar tudo como foi em março e abril. Não há condições políticas, há pressão do empresariado, do próprio presidente da República, mas é claro que, com os casos aumentando as pessoas ficam em casa. Uma recuperação da recessão anterior só em 2024.

A recuperação em relação à recessão de 2014 a 2016?

Sim.  Crescemos pouco em 2017,2018 e 2019. A recessão do coronavírus veio com o PIB abaixo do que tinha sido em 2014. Com essa queda adicional, a recuperação total que viria em 2021 ficou para 2024. Há muita incerteza, estamos prevendo que a taxa de desemprego deve subir para 18,7%, cinco percentuais acima do que foi no pico da recessão de 2015, de 13,7%. O que fazer com esse mundo de desempregados. Há um esgarçamento do tecido social não trivial. Significa uma explosão de informalidade no país, é um de fato.

 

Mercado volta a aumentar previsão do tombo do PIB em 2020

Depois de interromper uma série de 18 cortes consecutivos na semana passada, a mediana das projeções do mercado para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro de 2020 voltou a cair, de -6,50% para -6,54% no Relatório Focus, do Banco Central (BC), divulgado nesta segunda-feira com estimativas coletadas até a última sexta-feira.

Para 2021, o ponto-médio das expectativas permaneceu inalterado em 3,50%, nível em que está há seis semanas agora, com algumas casas aguardando sinais mais claros sobre a recuperação da economia no ano que vem e outras apostando na recuperação de pelo menos parte das perdas.

Inflação

Já a mediana das projeções dos economistas do mercado para a inflação oficial em 2020 subiu de 1,61% para 1,63%. Para 2021, o ponto-médio das expectativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) manteve-se em 3,00%. Entre os economistas que mais acertam as previsões, os chamados Top 5, de médio prazo, a mediana para a inflação oficial manteve-se em 1,51% para 2020 e 2,80% para 2021.

Na semana passada, o Conselho Monetário Nacional (CMN) fixou a meta de inflação a ser perseguida pelo Banco Central em 2023 em 3,25%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, dando sequência à redução de 0,25 ponto percentual (p.p.) a cada ano para o objetivo, que é de 4,00% em 2020, 3,75% em 2021 e 3,50% para 2022, com a mesma margem.

Juros

Por outro lado, a mediana das estimativas para a taxa básica de juros no fim de 2020 caiu de 2,25% para 2,00% entre os economistas do mercado. Entre o Top 5, o ponto-médio para a Selic no fim deste ano também se ajustou para 2,00%, mas vindo de um percentual mais baixo, 1,75%, na semana anterior.

Para 2021, o cenário está mais dividido, com a projeção para a Selic permanecendo em 3,00% entre os economistas em geral e em 2,25% entre os campeões de acertos. Dólar As medianas das estimativas para o dólar no fim deste ano ficaram estacionadas em R$ 5,20 entre os economistas em geral e R$ 5,30 entre o Top 5.

Para 2021, o ponto-médio das expectativas também permaneceu inalterado, aí em R$ 5,00 considerando todas as apostas e R$ 5,20 entre os campeões de acertos.

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