Terça-feira

VALOR ECONÔMICO

Empresas envolvidas na Lava-Jato demitem 300 mil em três anos

O casal Luiza Dutra e Thiago Gonçalves mora em Urubici, cidade catarinense de 11 mil habitantes a 170 quilômetros de Florianópolis. Arquiteta, ela tem 30 anos e está à frente de seu próprio escritório. O marido, com 32 anos, presta consultoria para a clínica veterinária da família. Sete meses antes, a vida era completamente diferente: eles viviam em São Paulo e trabalhavam havia quase cinco anos nas áreas de incorporação imobiliária e administrativa e financeira da construtora Odebrecht.

Assim como eles, outros 100 mil funcionários foram desligados da empresa nos últimos três anos. Esse número passa de 300 mil se contabilizados os cortes feitos por outros cinco grandes grupos citados na Operação Lava¬Jato ¬ Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Engevix, Queiroz Galvão e UTC. O balanço feito pelo Valor levou em conta relatórios divulgados pelas companhias e bases de dados do setor. Como as informações referentes a 2016 estão disponíveis para apenas parte do grupo ¬ Andrade, UTC e Engevix enviaram números atualizados e os dados da Odebrecht foram coletados com fontes do setor ¬ o saldo negativo é certamente superior.

Para efeito de comparação, a Associação das Empresas de Serviços de Petróleo estima que o setor de óleo e gás, outro que reduziu drasticamente de tamanho desde o início da operação, perdeu 440 mil empregos entre 2013 e 2016. Proporcionalmente, o maior corte foi feito pela Engevix, que reduziu o quadro de funcionários de 3,5 mil para 469, queda de mais de 80%. Em termos absolutos, o saldo mais negativo foi o da Andrade Gutierrez, que fechou 144,9 mil dos 251,9 mil postos que mantinha em 2013.

A assessoria de imprensa da empresa ressalta que a estimativa para o dado fechado de 2016 é parcial, e que a redução de pessoal entre 20% e 25% na comparação com 2015 inclui desinvestimentos e vendas de ativos feitos pelo grupo no ano passado. Na UTC, o volume de colaboradores encolheu de 27,4 mil em 2013 para 8,3 mil no ano passado, queda de 70%. O grupo Odebrecht reduziu o quadro a 85 mil em 2016, depois de registrar 181,5 mil contratados em 2013, entre engenheiros, profissionais de recursos humanos, de áreas administrativas e trabalhadores da construção civil.

O número, contudo, não é oficial. Procurada, a empresa afirmou que o último dado disponível é o de 2015. "Nos últimos três anos houve forte impacto da crise econômica sobre as empresas e o emprego no Brasil. O PIB teve queda acumulada de 7,2% apenas de 2015 para cá. O resultado é que hoje temos no país 13 milhões de desempregados. A crise repercutiu de forma diferente em cada empresa e em cada setor da economia. Em alguns casos, houve mesmo desligamentos por aumento de produtividade, venda de empresas e mudança de rumo de políticas públicas. Em outros houve até expansão de negócios e contratações. Ainda estamos fazendo um levantamento desses impactos", diz a nota.

Para Luiza e Thiago, a situação inicialmente difícil serviu de empurrão para que colocassem em prática um desejo antigo. "Vimos no desligamento a oportunidade de realizar um sonho de morar em uma cidade menor e que oferecia melhor qualidade de vida com um custo mais baixo". Em agosto de 2016, eles deixaram o apartamento próprio em São Paulo, que puseram para alugar, e mudaram¬se para Urubici.

As economias foram usadas para cobrir os custos da mudança e o FGTS, usado apenas em situações excepcionais. Ao contrário do casal, uma parte dos colegas afetados pelo redimensionamento ainda está desempregada, já que, além dos desdobramentos da Lava-Jato, o setor da construção também atravessa uma de suas piores recessões. "Quem conseguiu se recolocar está ganhando menos, mas ainda tem muito profissional qualificado desempregado", afirma uma ex¬-funcionária do departamento de recursos humanos de outra grande empresa, que preferiu não se identificar. Sua estatística informal contabiliza que pelo menos metade dos colegas que foram desligados nos últimos dois anos ainda procura por uma vaga.

Para ela, que tem mais de dez anos de experiência no setor, o primeiro ciclo de demissões, em 2014, foi mais consequência da crise do que da investigação da Polícia Federal. Nesse período, as grandes empreiteiras vinham enfrentando sérios problemas de caixa. De um lado, os clientes estrangeiros pararam de efetuar os pagamentos feitos ao término de cada fase da obra.

No mercado doméstico, chegava praticamente ao fim os contratos relacionados à Copa e ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), esse último afetado pela crise fiscal do governo. Ainda naquele ano, todas as áreas do administrativo foram cortadas à metade. "Naquela época ninguém fazia ideia de quanto tempo a Lava¬Jato duraria", pondera. O impacto mais negativo da investigação sobre os negócios, afirma, é recente, já que há expectativa de retomada de investimentos neste ano e muitas dessas companhias ainda negociam acordos de leniência. "A crise foi muito maior que a Lava¬Jato. Tenho amigos em empresas que não estão envolvidas e nem eles conseguiram pegar obra no último ano."

É por isso que o volume expressivo de demissões não está circunscrito apenas às empresas ligadas ao escândalo de corrupção da Petrobras. O setor da construção como um todo, afirma Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos da construção da Fundação Getulio Vargas (FGV), atravessa uma "tempestade perfeita". Além da Lava¬Jato, há a crise fiscal da União e dos Estados, indutores dos investimentos em grandes obras de infraestrutura, e o fim do ciclo imobiliário que se estendeu até 2012 e promoveu uma multiplicação no número de novas unidades no país.

Entre 2013 e 2015, conforme a Relação Anual de Informações Sociais (Rais), os 12 principais ramos da construção fecharam 330,7 mil postos de trabalho com carteira assinada, reduzindo o volume de funcionários a 1,384 milhão, retração de 20%. Em 2016, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), foram outras 227,1 mil demissões líquidas.

Neste primeiro bimestre, o setor é um dos poucos que ainda não deu sinais de desaceleração do ajuste no emprego ¬ foram 12,7 mil cortes, número ainda próximo do registrado no mesmo período do ano passado, 18,7 mil. A retomada do setor, ainda que tenha horizonte pouco definido, diz Ana, tem um forte candidato a protagonista ¬ o ramo de infraestrutura, que seria beneficiado por ações como o Programa de Parceria de Investimentos (PPI). O fato de as maiores empreiteiras do país estarem, no geral, sem condições neste momento de protagonizar um novo ciclo de grandes obras, na avaliação da especialista, é um problema contornável.

"Até agora, as regras para realização desses grandes projetos beneficiavam as grandes empresas. O desafio agora é viabilizar a participação das médias", pondera a economista. O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), José Carlos Martins, concorda que é preciso mudar a modelagem das concessões.

Um exemplo é a área de rodovias, em que, até então, as ofertas se restringiam apenas a lotes grandes, de pelo menos mil quilômetros, que demandavam maiores investimentos. "Por que não cinco lotes de 200 quilômetros? O modelo era feito, de caso pensado, só para atrair as grandes empresas." Ana ressalva, porém, que muitas das próprias empresas citadas no escândalo da Lava¬Jato vêm tentando se reorganizar para voltar ao mercado, tomando medidas para ganhar governança, como a substituição de dirigentes ligados às famílias fundadoras por gestores profissionais.

Para induzir o investimento de players menores, ela acrescenta, é preciso equacionar a questão do financiamento dos projetos ¬ a disponibilidade de crédito e as garantias ¬, possivelmente com uma participação maior das seguradoras, acrescenta Martins. O mesmo vale para as parcerias públicoprivadas, que serão instrumento importante de Estados e prefeituras que têm hoje a capacidade de investimento comprometida por conta da situação fiscal.

Diante do período longo de maturação dos projetos previstos no PPI ¬ um edital aprovado hoje, diz Martins, levaria mais de um ano para sair do papel ¬ a Cbic vem conversando com o governo federal para simplificar o modelo de concessão para uma série de serviços prestados por prefeituras, como manejo de resíduos sólidos e iluminação, uma tentativa de dinamizar a atividade do setor ainda em 2017. Do lado imobiliário, também serão benéficas as mudanças anunciadas neste início de ano no Minha Casa, Minha Vida, com a ampliação no volume de recursos disponíveis para financiamento e aumento do limite de renda para que as famílias tenham acesso ao programa. "Mexeram no que tinha de mexer", afirma Martins.

A novidade mais comemorada pelo setor, contudo, é a aceleração no ciclo de corte de juros que o Banco Central começou no ano passado. Ação que, segundo o presidente da Cbic, tem grande potencial para alavancar os investimentos na construção. "Com Selic de um dígito é outro mundo". A Sondagem da Construção da FGV já vem sinalizando um ambiente melhor, ainda que não haja indícios de reversão do ciclo. Depois de atingir em janeiro o maior nível desde junho de 2015, 74,5 pontos, o índice de confiança do setor permaneceu relativamente estável no mês passado.

 

EZTec começa a reduzir, neste ano, peso dos distratos

Os distratos tendem a ter menos impactos nos resultados da EZTec deste ano, ainda que o volume de entregas projetado ¬ de 3 mil unidades ¬ seja semelhante ao de 2016. Segundo o diretor financeiro e de relações com investidores, Emilio Fugazza, não se trata de meta, mas de expectativa que os cancelamentos de vendas não cresçam, pois parte das potenciais rescisões de unidades de projetos a serem concluídos em 2017 foram antecipadas no ano passado. "Este será o último grande ano de entregas", diz Fugazza.

As vendas da EZTec, no primeiro trimestre, estão semelhantes às do quarto trimestre, mas tem havido menos distratos, de acordo com o executivo. A incorporadora está preparando, para os próximos três meses, lançamentos de três projetos, que somam Valor Geral de Vendas (VGV) de R$ 200 milhões. Em 2016, os lançamentos somaram R$ 205 milhões, e a EZTec comprou R$ 26 milhões em participações em dois projetos dos quais já era acionista.

Em 2016, o aumento das rescisões de vendas foi a principal razão para a piora do balanço, ainda que a companhia tenha conseguido fechar o ano com o resultado líquido positivo. A receita líquida da EZTec caiu 30%, para R$ 572,23 milhões. Com menos diluição das despesas nas receitas e menor equivalência patrimonial dos projetos com controle compartilhado, o Ebitda foi reduzido em 57%, para R$ 169,3 milhões. O lucro líquido da companhia encolheu 48%, para R$ 230,2 milhões. A margem bruta foi reduzida dos 51,2% de 2015 para 47,2% no ano passado.

A piora resultou da concessão de descontos para acelerar vendas de unidades. A margem a apropriar da incorporadora, de 49%, sinaliza que o patamar da margem bruta poderá ser mantido neste ano. Em média, houve abatimentos de 10%, no ano passado, em relação ao preço máximo pelo qual a unidade já foi comercializada. Ainda assim, devido ao mix de produtos e às regiões em que a EZTec concentrou lançamentos, o preço médio por metro quadrado vendido, em 2016, foi 7,5% superior ao de 2015 na cidade de São Paulo.

No quarto trimestre, a EZTec teve lucro líquido de R$ 69,04 milhões, com queda de 34% ante o mesmo período de 2015. "O lucro do quarto trimestre foi maior do que o do terceiro trimestre e do segundo trimestre. Isso nos dá a impressão de que o pior já passou", diz Fugazza. A receita líquida caiu 33%, para R$ 151,44 milhões. Já a margem bruta aumentou de 47,1% no quarto trimestre de 2015 para 53,6%.

A EZTec consumiu caixa de R$ 8,48 milhões no quarto trimestre devido à compra de terrenos, mas gerou R$ 200 milhões no acumulado do ano. A companhia estima manter a condição de geradora de caixa em 2017, mas Fugazza ressalta que isso depende dos volumes de distratos e da venda bruta, e que não há meta. No acumulado deste ano e de 2018, a geração de caixa pela companhia pode superar R$ 1 bilhão se considerados fatores como contas a receber menos custos de construção a incorrer, impostos e pagamento de financiamento à custos de construção a incorrer, impostos e pagamento de financiamento à produção.

De acordo com o executivo, isso resulta da condição de caixa líquido da empresa e das margens elevadas. No fim de 2016, a EZTec tinha caixa líquido de R$ 210,4 milhões e possuía R$ 388,6 milhões em recebíveis de empreendimentos prontos, passíveis de securitização. A companhia pretende distribuir aos acionistas R$ 180 milhões em dividendos, o que corresponde à parcela de 78% do lucro. O valor inclui R$ 54,7 milhões dos 25% a serem pagos em dividendos e os R$ 126 milhões adicionais da reserva de lucros que serão propostos à aprovação de Assembleia Geral Ordinária (AGO) em 28 de abril.

 

Ideia de que banco gosta de juro alto é equivocada, diz Febraban

O presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Murilo Portugal, afirmou que a redução do spread bancário é um item na agenda do Brasil e que há uma visão equivocada de que os bancos gostam de juros altos. “Os bancos gostam de emprestar e de receber o valor emprestado de volta”, disse Portugal, antes de participar de evento da Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF¬Brasil).

Questionado sobre o andamento da agenda do Banco Central (BC) para a redução do spread, Portugal disse que o projeto caminha bem e que o diagnóstico está correto. Como a inadimplência representa 54% do spread, segundo dados do BC, o presidente da Febraban afirmou que a redução do custo de crédito vai estreitar o diferencial entre o custo de captação e o custo do crédito para o tomador final. O executivo lembrou que a recuperação de créditos, mesmo com garantias, é fraca no país, e que o custo tributário é elevado em comparação com outros países.

Portugal observou ainda que o lucro dos bancos representa 16% do spread. Portugal e o presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CMV), Leonardo Pereira, que também é presidente do Comitê Nacional de Educação Financeira (Conef), apresentaram as tecnologias de um programa de educação financeira para adultos. O foco do programa está nos aposentados com renda de até dois salários mínimos e nas mulheres beneficiárias do Bolsa de Família. O projeto contou com financiamento do Banco Mundial e teve pesquisadores morando com as famílias¬alvo para entender melhor hábitos e linguagem para montar o programa.

Segundo Portugal, em maio será possível mensurar os resultados da iniciativa que atendeu 49 municípios de 16 Estados mais Distrito Federal. Em seu discurso, Pereira lembrou que apenas 1% dos aposentados consegue se sustentar por conta própria, 46% dependem de ajuda dos parentes e 25% têm de seguir trabalhando. “Esse público e vulnerável. Por isso, precisa de educação financeira até para prevenir o superendividamento”, disse, acrescentando que compreender conceitos básicos de finanças é fundamental.

Portugal afirmou que, aos bancos, não interessa a contratação desmedida de dívida, mas facilitar o funcionamento da economia e procurar dar apoio a quem precisa de crédito. “O ganho dos bancos está associado à prosperidade dos seus clientes. Temos preocupação em garantir a sustentabilidade dessa prosperidade”, disse.

Por isso, afirmou Portugal, o sistema bancário incorporou a educação financeira como prioridade. “Queremos, além de fornecer crédito, fornecer condições para que as dívidas possam ser honradas e o dinheiro, bem utilizado para que o beneficiário melhore sua vida e saia satisfeitos com os bancos”, disse.

Antes disso, o presidente da Febraban lembrou que os bancos foram capazes de ampliar sua cobertura para uma parcela da população que não era servida com crédito e que isso foi feito com prudência e qualidade na concessão. Isso com crédito e que isso foi feito com prudência e qualidade na concessão. Isso fez dos bancos uma solução e não um problema no momento de queda da atividade, segundo ele.

O programa de educação para adultos foi iniciado em agosto de 2013 e já envolveu 6,5 mil pessoas. Agora, a AEF¬Brasil transfere a tecnologia desenvolvida aos Ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento Social. O público¬alvo é composto por todos os 18,5 milhões de aposentados e 45 milhões de mulheres que recebem Bolsa Família. Até 2018, deverão ser alcançados 2,5 mil beneficiários de cada público.

 

Reservas estão acima de nível recomendado, diz estudo

Estudo realizado pela Instituição Fiscal Independente (IFI), que será divulgado hoje, informa que as reservas internacionais do Brasil estão acima do nível recomendado puramente por precaução, qualquer que seja a métrica que possa ser utilizada. Dito de outra forma, há um excesso que pode ser vendido. A IFI é um órgão do Senado, destinado a acompanhar a economia.

A instituição estimou que se fossem vendidos US$ 60 bilhões, proposta considerada conservadora, haveria uma redução do custo de carregamento das reservas equivalente 0,23% do PIB, algo em torno de R$ 15 bilhões. O estudo da IFI adverte, no entanto, que a venda das reservas, caso o governo decida realizá¬la, precisa ser feita com cautela e de forma gradual, pois a medida poderá afetar o mercado de câmbio, provocando uma valorização adicional do real, com repercussões negativas para as exportações do país.

Adverte também que os recursos obtidos com a venda das reservas devem ser usados apenas para reduzir o endividamento público e não para fazer investimentos ou gastos correntes, como estão defendendo alguns economistas. Neste caso, haveria piora da dívida líquida e impacto negativo sobre o resultado primário das contas públicas.

"A dívida líquida do setor público subiria e a preocupação com a trajetória da dívida bruta do governo geral (DBGG) seria ainda maior, pois seria passada a mensagem de que os ativos não servem para abater a dívida, mas, sim, financiar gastos", diz o estudo.

"Enfim, a venda de reservas somente beneficiaria a economia se destinada à redução da dívida pública. A queda do endividamento, por sua vez, contribuiria para a redução dos juros reais, o que tenderia a impulsionar os investimentos privados e, em última análise, o crescimento econômico."

Em seu estudo, a IFI analisou as reservas de acordo com vários critérios. Em termos de meses de importação, em relação à dívida externa de curto prazo e ao saldo em conta corrente e em relação aos meios de pagamento. Atualmente, as reservas brasileiras equivalem a mais de 20 meses de importações, sendo o segundo maior nível entre 32 países analisados, ficando atrás apenas da China, ou seja, bem acima do que é recomendado, de até 12 meses.

As reservas devem ao menos se igualar à dívida externa de curto prazo de modo que haja garantia de recursos para quitar esse passivo, de acordo com outro critério analisado. O estudo estendeu esse critério, ao deduzir da dívida externa de curto prazo o saldo das transações correntes (regra chamada de GreespanGuidotti).

Em dezembro de 2016, as reservas correspondiam a 3,4 vezes o nível adequado, de acordo com o conceito utilizado pelo Banco Central, e a 2,5 vezes pelo conceito do Fundo Monetário Internacional (FMI). A IFI utilizou ainda a métrica para as reservas sugerida pelo FMI, denominada Assessing Reserve Adequacy (ARA), que equivale à soma de quatro componentes. Essas variáveis são: exportações; meios de pagamentos ampliado (broadmoney); dívida externa de curto prazo; e outras obrigações, para capturar outros canais de potencial perda de capital, notadamente as aplicações em títulos e ações feita pelos investidores não residentes.

O FMI considera que reservas entre 100% e 150% da ARA são adequadas para fins precaucionais. Segundo o critério de 100% da ARA, o nível adequado de reservas do Brasil é de cerca de US$ 219 bilhões. Considerando-se reservas líquidas de swaps de US$ 338,8 bilhões, o excedente é de US$ 119 bilhões. Convertido em real, o valor corresponde a 8,9% da DBGG, diz o estudo.

A conclusão da IFI foi que "o Brasil parece deter reservas em montante superior ao recomendado por razões puramente precaucionais". O estudo da IFI está assinado por Josué Alfredo Pellegrini, que é consultor Legislativo do Senado, cedido à instituição para compor sua equipe de analistas. Pellegrini fez uma longa análise sobre o custo de carregamento das reservas. O custo é dado pela diferença entre a Selic (a taxa de juro básica da economia) e o rendimento das reservas, que permaneceu acima de 5% de 2006 a 2009. Em seguida, até 2012, oscilou entre 1% e 5%.

"Desde então, tem¬se mantido próxima de zero, na maior parte do tempo, no terreno negativo", observa. O custo acompanhou os ciclos de alta e de baixa da taxa Selic. Desde 2006, quando o país começou a acumular reservas, o custo ficou a maior parte do tempo entre 1% e 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Mas no biênio 2015/16, avançou para mais de 2,5% do PIB.

As contas mudam, adverte o estudo, quando se considera também no cálculo a variação cambial. O rendimento das reservas sobe quando há desvalorização cambial e cai quando há valorização. Em 2016, esse custo chegou a 6,2% do PIB.

Considerando uma série de parâmetros (crescimento do PIB, inflação, taxa de câmbio, taxa Selic, constantes do boletim Focus, editado pelo BC), o estudo prevê que o custo de carregamento cairá dos 6,2% do PIB em 2016 para 0,8% do PIB em 2018.

 

Juros futuros fecham perto da estabilidade sob efeito de temas locais

As taxas de DI experimentaram algum alívio durante a tarde desta segunda-¬feira, o que as tirou das máximas intradiárias alcançadas pela manhã. No fim do dia, os juros futuros ficaram perto da estabilidade. Parte desse movimento foi ditada pelo dólar, que acelerou a queda depois das 15h, atingindo mínimas em um mês, em torno de R$ 3,06. Ainda assim, o viés de baixa não foi suficiente para consolidar recuo de taxas no mercado de juros, diante da escalada de receios em torno de questões domésticas.

Ao fim do pregão regular, às 16h, o DI janeiro de 2021 subia a 9,980% ao ano, contra 9,970% no ajuste anterior. Na máxima, esse DI foi a 10,040%. O DI janeiro de 2018 ¬ que reflete apostas para a Selic ao longo de 2017 ¬ tinha taxa de 10,000%, ante 10,010% do ajuste de sexta¬feira e pico hoje de 10,025%. A curva de juros indica 71% de probabilidade de corte de 1 ponto percentual da Selic em abril, mesmo percentual de sexta-¬feira.

"O avanço das investigações da Lava¬Jato, envolvendo nomes importantes da política nacional, mantém elevadas as incertezas políticas", diz o Banco Votorantim. Do lado fiscal, a instituição diz que "a dificuldade de se reduzir ainda mais as despesas discricionárias elevam a preocupação do mercado de que será necessário elevar a arrecadação, via aumento de impostos".

A questão fiscal terá mais peso nesta semana, já que na quarta-feira o governo divulga o relatório bimestral de receitas e despesas. No mesmo dia, a expectativa é que seja anunciado o contingenciamento de despesas deste ano. A Rosenberg Associados projeta contingenciamento de despesas de, “no mínimo”, R$ 30 bilhões. “Além disso, espera¬se um maior esclarecimento e detalhamento do possível aumento de impostos, caso seja necessário ao longo do ano”, afirma a casa em nota.

 

FOLHA DE SÃO PAULO

Para economista do Bradesco, país não tem clareza de onde pode crescer

O economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, diz que a desorganização da economia brasileira nos últimos anos foi tão grande que ficou difícil estimar o potencial de crescimento do país no longo prazo.

"Consigo dizer que a gente vai crescer 3% ou 4% ao ano? Pode ser que cresça. E se for 1,5% ou 2%? Pode ser que seja isso mesmo. Você destruiu tanto investimento, capital, que pode ser isso", disse em entrevista à Folha.

Barbosa assumiu a diretoria do departamento de pesquisas econômicas do banco em dezembro, sucedendo Octavio de Barros. Para ele, a retomada da atividade nos últimos meses é para valer, mas será lenta e sujeita a riscos, como o agravamento da crise política e uma eventual paralisia das reformas propostas pelo governo Michel Temer.

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Folha - O otimismo com a economia em 2016 se frustrou. Agora surgiram novos sinais de retomada. É para valer?

Fernando Honorato Barbosa - Entre julho e setembro do ano passado, a confiança aumentou. E a história dizia que, quando a confiança vem, a economia vem na sequência. Esse foi o erro dos economistas —e me incluo nessa turma.

Uma é que o ciclo de crédito foi mais profundo do que nos episódios anteriores. Era preciso que as empresas estivessem viáveis. Descobrimos também que a taxa de juros estava muito apertada para essa nova economia. Por fim, havia descompasso entre melhora de confiança e o começo da melhora dos indicadores.

Então por que a confiança tinha aumentado?

Quando mudou o governo, veio a sensação de que você iria conseguir resolver o tema político e sair da paralisia.

O que é diferente agora?

A taxa de juros começou a cair, a situação de crédito ainda é importante, mas os casos principais [de empresas com problemas] estão mapeados. A inadimplência está estabilizando. E a queda da inflação permitiu voltarmos a ter renda real disponível. A partir daqui, as empresas vão começar a contratar e, depois, investir.

Mas ainda há um descompasso entre o que as pessoas esperam do futuro e o que percebem sobre o presente.

Você tem 13 milhões de pessoas desempregadas, muita gente. Então, vai ser gradual. A gente para de piorar, começa a retomar. Um aspecto importante: entre os 87 milhões de pessoas empregadas, o consumo caiu muito mais do que a renda. É como se as pessoas estivessem poupando.

Quem tem emprego tem medo?

Estão morrendo de medo. As dívidas das famílias estão caindo. Elas estão poupando e pagando dívida. Se estivermos certos e o mercado parar de demitir no segundo ou no terceiro trimestre, essas famílias podem passar a consumir mais. Todos falam que a retomada em 2017 virá do investimento, mas a surpresa pode vir um pouco do consumo.

A queda dos juros será suficiente para evitar a quebradeira das empresas endividadas?

O decisivo é a queda dos juros. Tanto que, quando se olhava o balanço de riscos, no linguajar do Banco Central, no ano passado, com a Selic onde estava, tudo indicava que haveria nova recessão em 2017. Quando ele acelerou o corte de juros, a gente começou a ver que diminuíram os riscos.

Qual o fôlego dessa retomada?

Nosso cenário é de cautela. A retomada é importante, dados os últimos dois anos de recessão, mas é gradual. Nossa projeção é de crescimento de 0,3% neste ano e de 2,5% a 3% no ano que vem. Além da poupança precaucional, que pode virar consumo, tem dois outros fatores: a ótima safra agrícola e [a liberação das contas do] FGTS, que, para as famílias, vai acabar ajudando.

As incertezas políticas continuam um risco significativo?

Existe uma diferença crucial que é o que a articulação política está entregando. Precisamos separar o ambiente de 2015 e 2016, que não permitia aprovar nem discutir nada, deste ambiente de agora.

A entrega do presidente Michel Temer na articulação política tem sido importante para os mercados, para garantir aquilo que dá essa percepção de que há riscos políticos, mas o que importa é que o teto dos gastos foi aprovado e a reforma da Previdência avança. Se a incerteza política crescer a ponto de paralisar as reformas, aí pode ter uma volta de volatilidade do mercado.

Qual a capacidade do país de crescimento no médio prazo?

A incerteza hoje sobre nosso PIB potencial é muito grande. O que aconteceu do ponto de vista da alocação de recursos da economia, a queda de investimento, faz com que a gente tenha uma incerteza muito grande. Eu consigo dizer pra você que a gente vai crescer 3% ou 4% ao ano? Pode ser. Vai parecer uma resposta em cima do muro, mas não. E se for 1,5% ou 2%? Pode ser que sim. Você destruiu muito investimento e capital.

Por que é tão difícil estimar?

Veja o caso do BNDES e das empresas públicas. Agora estamos reorganizando o crédito do lado do governo e as empresas públicas. Isso tem muito valor de eficiência.

O que é o PIB potencial? É a capacidade de crescer a mão de obra, o investimento e a produtividade da economia. O crescimento da população é mais ou menos determinado. Tem agora a ociosidade do mercado do trabalho, que vai ajudar, mas não é estrutural. A gente depende, então, de investimento e produtividade.

Quando você organiza essas duas partes, BNDES e empresas públicas, você ganha eficiência na economia. Além disso, sem o mínimo de percepção de solvência [das contas públicas], não vai crescer.

A queda da taxa de juros cria um mínimo de capacidade para o país crescer mais à frente. Falta uma reforma trabalhista, que poderia dar flexibilidade às empresas. Tem ainda uma certa timidez nas concessões. Se avançassem, aumentariam o investimento.

Acho que temos um PIB potencial de 3%. Mas a incerteza é enorme. O investimento caiu tanto, a eficiência na alocação dos recursos ficou tão confusa, que não temos clareza de onde podemos crescer.

 

O ESTADO DE SÃO PAULO

Inadimplência não justifica spread alto, afirma Fiesp

Depois da campanha contra a alta de tributos e a volta da CPMF, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) resolveu bater de frente contra o spread cobrado pelos bancos nas operações de empréstimos no Brasil – um dos mais altos do mundo. Levantamento preparado pelo Departamento de Competitividade da entidade contradiz a avaliação de que o spread – que é a diferença entre o custo de captação do banco e o que ele cobra de seus clientes nos empréstimos – é elevado principalmente por conta dos riscos da alta inadimplência no Brasil.

O estudo contesta dados do Banco Central (BC), que apontam a inadimplência como a responsável pela maior parte da composição da taxa de spread. Pelos números mais recentes do BC, ela corresponde por 55,7% do spread. Para a entidade, a inadimplência não é capaz de justificar o diferencial entre o spread brasileiro e de outros países. Segundo a Fiesp, enquanto o aumento do spread do crédito livre no Brasil, entre 2011 e 2016, foi de 52%, a inadimplência subiu 30,2%.

O trabalho também questiona o peso dado pelo BC a todos os demais itens que compõem o spread: margem de lucro dos bancos, custos administrativos, recolhimento de compulsório e impostos diretos.

Para o vice-presidente da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho, o Brasil tem os juros de empréstimos mais altos do mundo há mais de 60 anos e é preciso dar respostas ao problema do spread. “O custo de capital tem impacto muito grande nos investimentos e também na renda das pessoas. Isso afeta o consumo e a produção”, diz.

Segundo ele, a inadimplência brasileira em 2015 foi apenas 3,4 vezes maior que nos demais países, enquanto o spread foi 19,7 vezes superior. “A inadimplência não explica essa diferença”, critica. Pelos dados da Fiesp, a Itália possui a inadimplência três vezes maior que o Brasil e spread oito vezes menor.

Lucro. O levantamento também avalia o peso do lucro dos bancos no spread. Na avaliação da Fiesp, não é possível medir a variação da margem líquida do setor bancário, mas, apesar da crise brasileira, o retorno líquido do setor financeiro foi o único a aumentar entre 2011 e 2015. Segundo o BC, o lucro dos bancos é de 23,3% do spread.

A “guerra” travada pela Fiesp contra os bancos ocorre justamente no momento em que o presidente do BC, Ilan Goldfajn, lançou uma agenda de medidas para diminuir o spread e apresentou a composição dos componentes da taxa. Entre as medidas, o BC anunciou que vai revisar o chamado crédito direcionado, que é dado por meio da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP). Ela corrige os financiamentos de investimentos concedidos, principalmente, pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A TJLP é mais baixa do que a Selic e é considerada subsidiada.

O BC vai anunciar uma revisão do crédito direcionado e da fórmula de cálculo da TJLP, que passará a ser atrelada à taxas de mercado. Na avaliação da instituição, o direcionamento de crédito representa uma parcela importante do custo atual do crédito livre. Desse forma, uma maior parcela de crédito livre permitirá uma maior potência da política monetária.

Procurada, a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) afirmou que não iria comentar o estudo da Fiesp, pois não o conhecia na sua integralidade e tampouco seu rigor técnico. A entidade ponderou que a avaliação de que spread medido no Brasil subiu 52% entre 2011 e 2016 não é confirmado pelos dados divulgados pelo BC.

Segundo o BC, o principal componente que explica o crescimento do spread entre 2011 e 2016 do segmento crédito livre foi o aumento da inadimplência. O spread subiu 8,15 pontos porcentuais entre 2011 e 2016 (de 27,04 pontos porcentuais para 35,19 pontos porcentuais), sendo que a participação da inadimplência aumentou 8,10 pontos porcentuais. “Isto é, 99% do aumento do spread”, diz o BC, em nota. No período, a margem líquida do estoque de crédito se reduziu devido ao aumento da inadimplência.

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