Terça-feira

EXAME

Distrato de imóvel persiste e pode virar pesadelo na Justiça

Em 2012, quando o microempresário Claudenir de Melo comprou um apartamento na planta, a economia era diferente.

Os juros menores permitiam parcelas que cabiam no bolso e o consumo estava mais aquecido, o que beneficiava sua atuação no setor de serviços.

Três anos depois, já tendo pago as parcelas de entrada do imóvel, ele teve um financiamento de R$ 360 mil recusado por seu banco, sinal de que as condições já não eram mais tão favoráveis.

Os primeiros balanços de construtoras referentes ao período de janeiro a março deste ano mostram que os distratos de imóveis na planta (os cancelamentos dos contratos de compra) ainda não deram trégua, principalmente no segmento de médio e alto padrão.

Na incorporadora Cyrela, por exemplo, os distratos geraram impacto de R$ 500 milhões no caixa no período. Já para a Tecnisa, essa prática representa R$ 2,4 bilhões desde 2013.

Atualmente, o consumidor que pede o distrato pode obter de volta até 90% do valor que pagou. No entanto, há processos que se arrastam por anos, tal como o caso de Melo, até hoje sem uma decisão final. “A construtora ofereceu apenas 60% do valor que foi pago”, diz.

Para tentar minimizar o prejuízo, construtoras pleiteiam junto ao governo uma nova regulamentação para os distratos. Uma proposta que está sendo discutida no Congresso é que as empresas retenham o sinal pago mais 20% das parcelas já desembolsadas, desde que o montante não supere 10% do valor do imóvel.

“Na fase de obras, o consumidor paga cerca de 20% do valor do imóvel para a construtora antes de buscar um financiamento pelo banco. Caso ficassem retidos esses 10% sobre o preço do imóvel, o prejuízo para ele seria de metade do valor desembolsado”, explica o advogado Marcelo Tapai.

Especialista em direito imobiliário, ele destaca que a falta de uma cultura de poupança por parte do consumidor facilitou o avanço dos distratos, uma vez que o desemprego e o crédito escasso pegaram muitos trabalhadores de surpresa. Tapai defende, porém, que as construtoras também arquem com o ônus.

Segundo ele, houve grande apelo à compra de imóveis no passado sem que os riscos do negócio ficassem totalmente claros para o comprador.

Falhas de gestão

Sócio do escritório Souza, Cescon, Barrieu & Flesch Advogados, Marcos Prado afirma que, na visão de algumas empresas, há quem tenha comprado um imóvel para investimento e, ao não ver a valorização esperada, desistiu do negócio. “Outro pleito é a diferenciação nas regras para imóveis residenciais e comerciais”.

Presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Luiz Antonio França defende tratamento igual para todos os casos e afirma que uma nova regulamentação vai proteger empresas menores. “Muitas acabaram ferindo contratos com bancos e com os próprios compradores, pois não tinham dinheiro nem para terminar as obras, nem para pagar quem distratou”, diz.

Marcelo Tapai rebate e diz que há também falhas de gestão. Ele cita o caso da PDG, que já foi a maior incorporadora do País e pediu recuperação judicial em fevereiro.

Pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), Eduardo Zylberstajn afirma que a melhora para o setor deve vir apenas em 2018, com a recuperação da economia e a retomada da confiança. Ele não se posiciona sobre a mudança nas regras para distratos, mas diz que o mercado imobiliário está aprendendo com a crise. “Apesar disso, os preços caíram relativamente pouco”.

 

VALOR ECONÔMICO

Abertura comercial daria impulso ao país após reformas, vê BID

O presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno, acredita que a crise econômica é um oportunidade para o Brasil aprovar reformas e preparar o ambiente de negócios para o futuro. Na visão dele, após enfrentar as mudanças na Previdência a nas leis trabalhistas, o país seria o mais beneficiado na América Latina, ao lado do México, caso faça uma abertura comercial.

Moreno avalia que a abertura levaria à criação de cadeias de valor na região, o que impulsionaria a economia brasileira. Ele também elogiou as alterações nas regras para os investidores participarem de projetos de infraestrutura no país, como o fim de exigências de taxas de retorno.

Por fim, o presidente revelou que, após a administração do presidente Donald Trump parar de contribuir com um fundo do BID, a instituição está obtendo apoio de outros países para financiamento. "Os Estados Unidos disseram 'não', mas o resto do mundo está apoiando", disse o colombiano. A seguir os principais trechos da entrevista.

Valor: O Brasil conseguirá aprovar reformas e sair da crise?

Luis Alberto Moreno: Aqui nos Estados Unidos dizem que a crise é uma oportunidade que não se pode perder. A pergunta é se o Brasil está aproveitando ou não a crise. Eu creio que muitas coisas estão acontecendo no Brasil e nunca ocorreram antes com essa dimensão, como as reformas. Há reformas, como o teto de gastos e como a da Previdência, que são fundamentais. O êxito do teto de gastos não vai acontecer sem o da reforma da Previdência. Hoje, um em cada dez brasileiros está se aposentando. Em 2050, será um em cada três. Todos os países da América Latina fizeram reformas previdenciárias para aumentar a idade mínima de aposentadoria.

Valor: Qual a expectativa para a economia brasileira caso seja aprovada a reforma da Previdência?

Moreno: Depois da reforma do teto de gastos, que não foi fácil, pois foi constitucional, o mercado de valores aumentou muito, mais de 30%. Houve também um número recorde de investimentos estrangeiros diretos. Algo mostrou que as pessoas já estão vivendo oportunidades no Brasil. Eu diria que a economia tocou fundo. Esse ano não vai decrescer.

Valor: Quais outras reformas podem ser feitas para impulsionar a economia brasileira?

Moreno: Há todo um conjunto de reformas que o Brasil está encarando e são de natureza estrutural, como a trabalhista. O Brasil é também o país com maior carga tributária da América Latina, com mais de 36% do PIB. A maioria dos países está entre 16% e 20% do PIB. Creio que os brasileiros estão repensando também o sistema de comércio. Há uma maior abertura a discussões que no passado não ocorriam no Brasil.

 

Valor: A posição do Brasil e da Argentina por maior abertura comercial pode ajudar a alcançar um eventual acordo do Mercosul com a Aliança do Pacífico?

Moreno: Sim. Os dois presidentes nos pediram para trabalharmos no processo de acompanhamento de maior integração econômica. Ao todo, temos 33 acordos comerciais na América Latina. Todos esses acordos mostram um alivio às exportações muito grande.

Valor: Mas o Brasil não tem nenhum acordo comercial.

Moreno: O que eu posso dizer é que quando nos encarregarmos de convergir as regras de origem e fizermos acordos de comércio de maneira que essas regras sejam iguais para todos, isso poderia multiplicar o comércio tremendamente. A abertura daria maiores benefícios para os países, mas as duas principais economias da região ¬ Brasil e México ¬ seriam as mais favorecidas. Nunca houve uma convergência de regras de origem entre o Brasil e o México. Se houver, o comércio na região cresceria muitíssimo.

Valor: O caminho para essa convergência seria uma negociação entre Mercosul e Aliança do Pacífico?

Moreno: O caminho vai depender da agenda política e do que os países querem. O certo é que estamos num ponto em que muitas coisas passaram dentro da inércia quanto aos acordos na América Latina e, agora, temos a oportunidade de dar um salto muito importante. Aí, o Brasil é central. Sendo a maior economia da região, o país tem muito o que ajudar. Pode até se manter protecionista, como sempre, pensando no seu mercado interno. Mas o resto da região não tem alternativas a não ser globalizar¬-se mais. Quando se tem uma economia com o tamanho da economia peruana, colombiana ou chilena, se o comércio exterior não for grande, a sua economia não cresce.

Valor: Esses países tiveram crescimento econômico com a abertura comercial. Esse é um caminho?

Moreno: Sim. Mas o que subiu através dos anos foi a porcentagem do tamanho dessas economias no comércio exterior. O Brasil tem 15% de sua economia voltada ao comércio exterior. Os outros países têm mais de 35%, 40%. O México tem quase 50%.

Valor: O sucesso das economias peruana e colombiana foi resultado dessa abertura comercial?

Moreno: Isso foi parte do sucesso. Outra parte foi o bom gerenciamento macroeconômico. Mas não são economias tão diversificadas como a brasileira. Na economia peruana, por exemplo, metade dos ingressos provém da mineração. Eles aproveitaram os bons tempos dos preços mais altos do minério e ainda a agricultura de alto valor; as manufaturas e o mercado interno também cresceu muito.

Valor: Mas não temos mais preços tão altos para as commodities.

Moreno: Por isso, temos que encontrar nossas respostas e ver como podemos nos integrar mais rapidamente. Na Europa, o comércio exterior dentro dos países ultrapassa 60%. Num país como a Alemanha, que é o principal exportador europeu, o destino das exportações está fundamentalmente no continente. Na Ásia, está em torno de 50%. Na América Latina, está em 20%. Temos oportunidade de gerar cadeias de valor na região. O presidente Mauricio Macri disse que não basta ser o principal produtor de grãos do mundo. Deve-¬se ser o supermercado do mundo. Valor: O que o Banco pode fazer para colaborar com esse processo? Moreno: As decisões são internas dos países, mas podemos ajudar de muitas maneiras tanto na parte analítica para informar essas discussões quanto com a facilitação de créditos, como estamos fazendo com Brasil e Argentina. Também podemos fazer encontros comerciais, como será feito no fim do mês no Brasil. O propósito é mostrar que estão acontecendo muitas coisas no Brasil e que há oportunidades para investir.

Valor: Qual seria o primeiro passo para a integração entre Mercosul e Aliança do Pacífico?

Moreno: Isso deve se perguntar aos governos. Mas é interessante ver o que aconteceu com a Aliança do Pacífico. Os países convergiram para liberar praticamente a totalidade do comércio, 94%. Também se preocuparam em integrar mercados de valores. A integração de fluxos de capital foi muito importante. Houve ainda a articulação das cadeias de valor e a convergência normativa do comércio, o que facilita para que ele se movimente. Além disso, há a infraestrutura. Estamos financiando um túnel que vai conectar o Chile com a Argentina na província de San Juán.

Valor: No Brasil essa integração ajudaria?

Moreno: Veja, se você está no Acre faz mais sentido vender para a Colômbia ou ao Peru do que a São Paulo. A União Europeia nasceu a partir da ideia de integrar a indústria de carvão e de aço, as cadeias de valor. Nos interessa muito ajudar esse processo na América Latina. Hoje, o mundo industrializado está num processo mais protecionista. Mas, no mundo emergente, o comércio está muito importante. Em 15 anos, retiramos milhões de latino-americanos da pobreza.

Valor: Será mais difícil fazer abertura comercial na América Latina com as tendências protecionistas na Europa e nos EUA?

Moreno: Numa conjuntura mundial de baixo crescimento econômico, temos que encontrar fontes de crescimento entre nós mesmos. É um desafio. É algo que se fala há anos na América Latina. Nem sei quantas instituições entraram nesse assunto. Pelo menos 30 se preocupam com comércio exterior. Todos analisam essa questão, mas, em última instância, se requer um grande impulso político e que se tenha como centro toda a parte econômica e os benefícios disso. Ao fim, todos vão ganhar.

Valor: No Brasil, costuma prevalecer a posição da indústria local contrária à abertura.

Moreno: Mas isso está mudando. A crise no Brasil está ajudando a colocar esses temas na agenda. Ela é uma oportunidade para colocar essas discussões. Qual será a saída, eu não sei, mas não tenho dúvida de que há a oportunidade para se fazer essa discussão.

Valor: Qual o maior desafio para desenvolver infraestrutura na América Latina, atrair o setor privado?

Moreno: Temos muito a fazer com parcerias público¬-privadas (PPPs) e há um conjunto de problemas. Um deles é legislativo. A Argentina não tem lei de PPPs. O Brasil já tem, há muito tempo. Há também meios de baixar os riscos para os participantes, como foi feito nos leilões de aeroportos. E há 37 concessões que serão concluídas, estão mais bem trabalhadas e a taxa de retorno para os investidores está melhor do que antes. Tudo isso deverá tornar os investimentos atrativos, como ocorreu com os aeroportos. Há projetos em que não há espaço para participação privada, que são de natureza pública. Mas, sem dúvida, no Brasil, há aspectos muito interessantes nos projetos que estamos acompanhando atentamente.

Valor: Existe uma demanda para seguros contra riscos políticos?

Moreno: Aqui no banco não vemos muito essa demanda. Mas, em alguns casos, vemos participantes que teriam interesse em ter esses seguros contra riscos políticos. Aqui nós não oferecemos. O Banco Mundial oferece algo através da Miga (Agência Multilateral de Garantias e Investimentos). Mas não há muita oferta para esse seguro. O principal risco está em verificar como se estruturam os projetos. Quando há uma má estrutura, os investidores não entram. É preciso verificar como gerenciar os riscos de construção, os ambientais, os regulatórios, ver o quanto estão desenvolvidos os projetos em termos de estudos e da licitação. E há riscos em moeda local. O banco oferece crédito em longo prazo em moeda local no Brasil e no México. Isso é parte da ajuda. Alguém que vem de fora sabe que isso é uma maneira de mitigar o risco cambial.

Valor: O quão grande é a necessidade de investimentos em infraestrutura na América Latina hoje?

Moreno: O cálculo que nós fazemos é que teremos que investir o dobro do que se investe hoje. Hoje, investimos 2,5% do PIB da América latina e deveria ser 5%.

Valor: Como fazer para dobrar?

Moreno: Parte da solução está em fazer PPPs exitosas que permitam trazer mais investimento privado.

Valor: Como o BID pode ajudar os projetos? Com investimento direto ou com apoio técnico?

Moreno: Com apoio técnico e com sistema de redução de riscos que fazemos, por exemplo, em projetos em moeda estrangeira em longo prazo. Fizemos com o BNDES um fundo que permite a preparação dos projetos. Na medida em que os desenhos são melhores para uma PPP, os investidores compreendem melhor a questão de eventuais riscos regulatórios. Mas as taxas de retorno devem ser interessantes. Se não houver taxas de retorno e riscos que os investidores possam calcular, simplesmente não entram. O que ocorreu com o setor de energia no Brasil foi um bom exemplo de como decisões regulatórias afetaram a rentabilidade de muitos projetos.

Valor: Direcionar a taxa de retorno foi uma má ideia?

Moreno: Se a taxa de retorno não for atrativa, o investimento não chega. Mas há recursos suficientes no mundo. Há grandes investidores procurando bons projetos para injetar capital.

Valor: Há uma estimativa de que investidores teriam US$ 1 trilhão para aportar em infraestrutura.

Moreno: Esse é um debate grande no G¬20 e em toda a parte do mundo estão discutindo como atrair investimentos. É um tema permanente.

Valor: O governo Trump vai deixar de contribuir para o Fundo Mundial para Investimentos (Fomin) do BID?

Moreno: O fundo foi criado no governo de George Bush e prestou grande ajuda. Ao todo, 60% dos fundos de "venture capital" no Brasil foram feitos com recursos desse fundo. O primeiro aporte foi de US$ 1 bilhão. O presidente George W. Bush fez outro. Agora, estamos no terceiro e a meta foi de US$ 300 milhões. Esse governo (Trump) disse que não vai mais fazer. Mas a boa notícia é que outros países resolveram participar. O Japão fez uma contribuição de quase US$ 85 milhões. A Espanha e a China também participaram. A região (América Latina) ajudou com outros US$ 85 milhões, o que foi um recorde. Os Estados Unidos disseram "não", mas o resto do mundo está apoiando.

Valor: Com esses recursos foi possível manter o Fomin?

Moreno: Agora, ultrapassamos US$ 316 milhões. A meta era US$ 300 milhões. A base é a de fazer investimentos menores, como, por exemplo, fundo de capital de risco para inovação, agronegócios e para ajudar em melhorias regulatórias nos países.

Valor: Como está o contato com a administração Trump?

Moreno: Está bem. Estamos falando com o secretário do Tesouro e com a Casa Branca. Valor: Qual é a diferença no contato com essa administração e a de Barack Obama? Moreno: Creio que a América Latina em geral não é o tema central para as administrações americanas há muito tempo. A energia deles está voltada para Oriente Médio, para os problemas com a China, a Ásia, a Rússia. Não somos parte da grande agenda mundial (dos americanos). Dito isso, creio que deveríamos ser o número um na agenda de oportunidades, pois há muito o que pode ser feito no contexto das Américas. Mas essa é uma decisão a ser tomada pelo governo americano. E nós também temos as nossas complexidades. Como dizem: a América Latina não é para principiantes.

 

Comércio global deve ter expansão apenas moderada, diz a OMC

O comércio mundial continuará a crescer em ritmo moderada no segundo trimestre, aponta um indicador da Organização Mundial do Comércio (OMC), em outra sinalização de que a aceleração da economia global não ocorrerá neste ano. O Indicador das Perspectivas do Comércio Mundial (WTOI, na sigla em inglês) é um instrumento pelo qual a OMC busca fornecer informações em tempo real sobre a tendência de exportações e importações globais.

Pelo WTOI, um resultado acima de 100 aponta tendência de expansão do comércio; abaixo de 100 indica tendência de queda. A mais recente leitura do indicador divulgada ontem, de 102,2, é a melhor desde maio de 2011, mas esse vigor é atenuado pela fraqueza de alguns de seus componentes. Por um lado, houve uma forte alta em alguns componentes que sinalizam a tendência de crescimento acima da média no volume do comércio de mercadorias entre abril e junho.

O indicador para encomendas de exportações chegou a 104,2; de carga aérea internacional, a 104,4; e transporte de contêineres, a 104,1. Mas, por outro lado, a demanda é mais fraca para venda de produtos automotivos (99,7), eletrônicos (97,9) e commodities (98,6). Conforme a OMC, o indicador confirma em geral suas projeções para o comércio global este ano. A entidade avaliou em abril como prudente considerar crescimento entre 1,8% e 3,6% em 2017, com a taxa de 2,4% como expectativa normal se não houver choques.

Os preços dos produtos básicos se estabilizaram, mas a OMC avalia que um retorno aos níveis de alguns anos atrás é pouco provável, pelo menos enquanto os estoques de petróleo continuarem elevados e o dólar se mantiver forte.

Para alguns analistas, os preços das commodities sugerem que o crescimento das exportações em países emergentes produtores de matérias¬primas vai desacelerar no segundo trimestre, mas continuar em território positivo.

Na semana passada, um indicador de atividade, publicado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Economico (OCDE), apontou que uma aceleração do crescimento econômico mundial parecia menos provável neste ano. Em fevereiro havia sinais mais fortes do crescimento nos EUA, na China e no Reino Unido, mas agora eles são de expansão estável e não de aceleração, segundo a OCDE.

 

Cresce aposta em Copom mais agressivo na reunião deste mês

O mercado de juros se rendeu à possibilidade de o Banco Central (BC) cortar a taxa Selic em 1,25 ponto percentual no próximo dia 31. Os contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) negociados na BM&F chegaram a projetar ontem mais de 70% de chance de redução além de um ponto. Várias taxas de DI renovaram mínimas, e o juro do contrato com vencimento em janeiro de 2018 ameaçou cair abaixo de 9%, patamar inédito.

A queda dos juros deu sequência ao movimento visto na semana passada, mas ganhou força ontem depois de o Itaú Unibanco ter revisado para 1,25 ponto a expectativa de corte da Selic na reunião de política monetária do fim deste mês. Dessa forma, o maior banco privado do país se junta ao Bradesco na lista de grandes bancos que já trabalham com nova aceleração do ritmo de distensão monetária.

No centro das revisões para baixo das estimativas para a Selic está a ideia de que a atividade econômica começou o segundo trimestre em velocidade mais lenta, depois de um começo de ano de alguma retomada. O DI janeiro de 2018 ¬ que reflete apostas para o patamar da Selic ao fim de 2017 ¬ caiu a 9,01% ao ano, frente a 9,14% no ajuste anterior. O DI janeiro de 2019 cedeu a 8,85%, comparado a 8,96% no ajuste de sexta-¬feira.

O ex-¬diretor do Banco Central Mário Mesquita, hoje chefe da equipe de pesquisa macro do Itaú, diz que a série de indicadores mais fracos da economia pode ser interpretada como um sinal "perigoso" de que a atividade poderia estar enfrentando um "double dip" ¬ termo que descreve contração da atividade econômica após breve período de crescimento.

"Dada a profundidade e gravidade da recessão, não seria surpreendente que as autoridades se voltassem para a visão menos otimista e agissem de acordo", diz o Itaú, que passou a estimar Selic de 7,25% a partir de outubro ¬ de 8,25% anteriormente ¬, patamar no qual permaneceria até pelo menos o término de 2018.

Num sinal de que o mercado se concentra hoje mais nas indicações para a atividade no segundo trimestre, a leitura melhor do IBC¬Br de março, divulgado ontem, fracassou em evitar nova queda dos juros futuros. Os últimos dados de produção industrial e dos setores de varejo e serviços, por exemplo, ainda se referem a março, mas o fraco desempenho nesse mês sugere que o viés no fim do trimestre foi negativo, com riscos de extensão dessa tendência ao segundo trimestre.

A forte queda dos juros, porém, reflete não só os sinais de atividade ainda morna, mas também um cenário de constantes surpresas com inflação baixa e um Banco Central que não parece incomodado com especulações de cortes mais intensos da Selic.

O economista¬chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, diz que o processo de desinflação da economia nos últimos meses tem sido "mais intenso e acelerado" que o estimado. Baseado nisso, o economista passou a ver Selic de 7% ao fim deste ano e manteve expectativa de redução de 1,25 ponto do juro 7% ao fim deste ano e manteve expectativa de redução de 1,25 ponto do juro básico neste mês.

Com a perspectiva de aprovação das reformas fiscais, Oliveira diz parecer "razoável" que o juro real neutro da economia esteja em trajetória decrescente. O juro real neutro é aquele que, teoricamente, permite o máximo de crescimento sem pressões inflacionárias. O economista calcula que essa taxa está hoje entre 4,3% e 6,8% ao ano, com a taxa de longo prazo em 4,8%.

"Assumindo que as reformas e a boa gestão macroeconômica contribuam com queda de um ponto percentual para a taxa real neutra de juros, é bastante provável que nos próximos 12 a 18 meses a taxa real neutra esteja em torno de 3,8%", diz o economista. Embora em queda, o juro real ainda é considerado expressivo por alguns economistas, segundo os quais a profundidade da recessão exige que a taxa real de juros opere em níveis eventualmente abaixo do patamar considerado neutro.

O sócio¬gestor da MRJ Marejo Investimentos, Guilherme Foureaux, acredita que a Selic poderia ser reduzida até mesmo em 1,5 ponto já no fim deste mês, mas condiciona um corte dessa magnitude à aprovação do texto¬base da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados até 24 de maio. Como vê esse cenário como menos provável, o gestor mantém estimativa de corte de 1,25 ponto percentual para o próximo dia 31. "O primeiro trimestre do ano foi muito bom, mas o que estamos vendo no segundo parece bem desanimador. E o BC com certeza está vendo isso", afirma.

 

Juro real cai abaixo de 4% pela 1ª vez desde 2013

A forte rodada de queda nas taxas de juros de mercado puxou a taxa de juro real para baixo da linha de 4% pela primeira vez desde outubro de 2013. A baixa é resultado da redução do swap de juro de 360 dias, que é negociado a 8,8%, o menor desde o fim de junho de 2013. Descontando dessa taxa um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 4,7% projetado pelos próximos 12 meses, chega-¬se ao juro real "ex ante", de 3,92%.

Segundo o presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, essa é a forma correta de se avaliar essa taxa. Há um mês, o juro real estava na casa de 4,80%. A rodada de queda nos juros de mercado acontece em meio a um aumento nas apostas de que o Comitê de Política Monetária (Copom) poderá acelerar o ritmo de redução da Selic, hoje em 11,25%, no encontro do dia 31 de maio.

A inflação em baixa e indicadores econômicos fracos já alimentam as apostas de corte superior a 1 ponto na Selic. E esse cenário foi reforçado pelo próprio Ilan, que, em discurso na sexta, fez uma sutil mudança na avaliação sobre os próximos passos da política monetária. O presidente do BC destacou a importância da conjuntura para determinar o grau de antecipação do ciclo de corte e não só dos fatores de risco acompanhados pelo BC, como cena externa, reformas, inflação de alimentos e ritmo de recuperação da atividade.

 

Ilan usa verbo no passado para indicar futuro da Selic

O presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, usou um verbo no tempo passado em discurso na última sexta, no encerramento do Seminário de Metas para a Inflação, para dizer que o Comitê de Política Monetária (Copom) achou adequado reduzir os juros em um ponto percentual na sua reunião de abril.

Para muitos analistas econômicos, essa foi uma senha para o BC indicar que está mais inclinado a fazer um corte maior de juros, de 1,25 ponto percentual ou até mais, no seu encontro que ocorre dentro de duas semanas.

Na ata do Copom de abril, estava escrito que o colegiado "considera o atual ritmo [de baixa de juros] adequado, entretanto, a atual conjuntura econômica recomenda monitorar a evolução dos determinantes do grau de antecipação do ciclo".

Na sexta, Ilan disse que "o comitê considerou o atual ritmo de queda [de juros] adequado, entretanto, avaliou que a conjuntura recomendava monitorar a evolução dos determinantes do grau de antecipação do ciclo". Para parte dos analistas econômicos, com essa troca no tempo verbal o BC deixou o corte de juros de um ponto percentual no passado e se move para cortar pelo menos 1,25 ponto percentual.

O discurso de Ilan tem um tom "dovish", sobretudo porque ele destacou o papel do cenário econômico, e não apenas as incertezas sobre a aprovação da reforma da Previdência Social, para decidir se pisa ainda mais no acelerador. Mas será que a mudança de tempo verbal torna praticamente certa a baixa mais alentada da Selic?

A assessoria de imprensa do BC esclareceu ao Valor que a mensagem do discurso de Ilan é a mesma da ata e que o tempo verbal ficou no passado apenas porquê se refere a algo que aconteceu na reunião. Mais do que sinalizar uma decisão que estaria tomada de antemão, porém, é provável que, com a mudança verbal, Ilan apenas realçou a função reação do Copom. Ou seja, detalhou as variáveis cuja evolução o colegiado está de olho, até a reunião do fim do mês, para decidir se mantém o ritmo de um ponto percentual ou se acelera. No discurso, Ilan não faz juízo de valor sobre a evolução dessas variáveis.

Apenas destacou que, além da incerteza política, está de olho no cenário econômico. O mercado inclina-¬se cada vez mais para cortes maiores de juros porque os dados mais recentes sobre inflação e atividade apoiam com veemência essa hipótese. Desde o princípio, o tempo verbal usado na ata do Copom de abril causou interpretações conflitantes.

Muitos analistas entenderam que a discussão sobre acelerar os cortes de juros se colocou apenas na reunião de abril e não significava nenhuma indicação para os próximos encontros do Copom. De lá para cá, ficou mais claro para o mercado que a decisão tomada em abril realmente se refere ao passado, mas não deixa de ter implicações futuras.

O Copom comunicou que, nas condições vigentes nos dias 11 e 12 de abril, quando ocorreu a reunião do Copom, o cenário econômico autorizava cortar mais do que um ponto percentual, mas o colegiado preferiu ser mais conservador diante das incertezas do lado político.

A mensagem vale para reuniões futuras também porque, quando a ata detalha as variáveis que pesaram na sua decisão de abril, o BC comunicou a sua função reação. Ou seja, abriu os determinantes de suas próximas decisões.

Na sexta, Ilan foi um pouco mais explícito do que na ata de abril sobre essa função reação: "o grau desejado [de antecipação do ciclo e eventual intensificação do ritmo de corte] depende, por um lado, da evolução da conjuntura econômica e, por outro lado, das incertezas e dos fatores de risco que ainda pairam sobre a economia".

O que vai determinar a decisão do Copom dentro de duas semanas, portanto, será o julgamento dos membros do colegiado sobre o estado dessas duas variáveis nos dias 30 e 31 de maio. O mercado, inicialmente, estava muito pessimista sobre as chances de um corte maior de juros porque entendeu com excesso de rigor o lado político, achando que primeiro seria necessário aprovar a reforma da Previdência, e deu menos importância ao lado econômico.

O Copom, porém, passou pelo menos duas indicações importantes nos últimos dias. Primeiro, em conversas com analistas, explicou que, do lado político, não se tratava de uma questão binária, entre aprovar ou não a reforma da Previdência. A decisão dependeria, na verdade, do "bom encaminhamento" da reforma, o que não quer dizer necessariamente a aprovação no plenário. Na sexta, Ilan ressaltou no discurso que o andamento da reforma da Previdência é uma variável relevante na função reação do BC, mas não é a única: a outra variável é o cenário econômico.

 

Novo panorama de investimento com melhora de cenário

Artigo - Cassiano Morelli - diretor operacional da Claritas Investimentos

Muito se ouviu falar nos últimos anos, devido a elevada taxa de inflação, sobre a importância de as pessoas se atentarem aos seus investimentos para que o dinheiro economizado, mesmo que aplicado, não perdesse valor no tempo. O símbolo dessa preocupação era o investimento na poupança, modalidade mais simples e popular entre as pessoas físicas. Parte delas, as com mais informação e acesso, migraram parte de suas economias para investimentos em títulos públicos que podem, por exemplo, ter a rentabilidade indexada à inflação e se sentiram satisfeitas com essa opção.

O cenário atual é diferente do ocorrido nos últimos anos. Os índices de inflação estacionaram num patamar muito mais aceitável do que nos anos anteriores, a taxa de juros básica vem diminuindo com viés de baixa, tornando o cenário mais positivo para o país e para os investimentos.

Mas, em termos de investimento para pessoas físicas, talvez mais importante do que a melhora de cenário é um novo ambiente de oportunidades com mais opções de produtos, diferentes estratégias e maior valor agregado. Estamos falando de novos produtos? Não. Não estamos falando de novos produtos, e sim de produtos amplamente experimentados no mercado financeiro, mas apenas por determinados tipos de investidores com altos volumes financeiros: pessoas jurídicas, institucionais e pessoas físicas de alta renda.

As pessoas físicas sempre tiveram seus investimentos financeiros restritos a produtos bancários das instituições em que são correntistas e a qualidade do produto dependia muito do volume para aplicação e da curiosidade e preocupação do cliente com os resultados, nas conversas com seus gerentes.

Não são raros os casos de investimentos que não foram satisfatórios, seja porque o produto não era suficientemente rentável, ou pelo fato de o gerente não ter indicado o produto mais adequado às reais necessidades dos clientes. Com a disseminação massiva da internet tomando conta, inclusive, dos celulares, vimos o surgimento e crescimento das soluções digitais de investimentos. Inicialmente foram as plataformas de homebroker das corretoras, permitindo compra e venda de ativos financeiros on¬line.

Num segundo estágio, as corretoras iniciaram a venda de produtos de empresas especializadas não disponíveis facilmente no mercado de investimento para pessoas físicas (como produtos de bancos médios e fundos de investimentos geridos por gestoras de investimentos ¬ asset managements ¬ independentes).

Essa situação possibilitou alocações mais diversificadas aos investidores mais persistentes na busca de produtos que atingissem seus objetivos. Ultimamente temos visto um terceiro estágio: os principais bancos estão criando plataformas digitais (ou inserindo em suas já existentes) que ofertam produtos de mercado, ou seja, não apenas aqueles geridos ou emitidos pela própria instituição.

É o que se chama de arquitetura aberta de investimentos. O correntista passa a ter a possibilidade de investir diretamente via o seu banco em fundos de investimentos geridos por gestoras de recursos capacitadas e especializadas. Dessa forma, é possível acessar quantidades e tipos variados de investimentos, facilitando a obtenção de um que combine com seus objetivos financeiros e vida.

Esse é o primeiro passo para que vejamos a popularização dos serviços hoje prestados aos investidores de grandes fortunas pelos private bankings e times de gestão de fortunas. São profissionais buscando os melhores produtos que casem com as necessidades e planejamento de seus clientes. Os produtos vêm chegando, mas a seleção ainda deve ser feita pelo indivíduo. Importante dizer que a disponibilidade dos produtos é um início, mas não é suficiente para garantir a satisfação do investidor.

Este deve ficar atento e inteirar¬-se a respeito do produto para ter certeza de que aquele é o que o colocará mais próximo de seus objetivos. Informações importantes: 1) liquidez: ou seja, depois de quanto tempo do pedido de resgate o recurso estará disponível em sua conta corrente e se esse prazo atende a expectativa de utilização do dinheiro; 2) performance: análise da rentabilidade histórica do fundo, como referência, em janelas de longo e curto prazo (de seis a trinta e seis meses, por exemplo), avaliando se esses resultados estão em linha com o que se espera; 3) volatilidade do fundo: quais são os limites de variação que o fundo pode ter, positiva ou negativamente. Quanto maior a volatilidade, maior o risco e maior deve ser o retorno histórico.

Para recursos que se deseja utilizar no curto prazo, evita-¬se que seja alocado em fundos de alta volatilidade; 4) longevidade, estrutura e experiência da gestora: apesar de o mercado ser cada dia mais diligentemente regulado por órgãos governamentais e novas legislações, é importante que o investidor informe-¬se em relação à capacidade da empresa, entendendo a experiência que esta tem para desempenhar os controles, as avaliações de riscos, os temas de compliance, ou seja a capacidade de entregar bons resultados não apenas agora, mas no longo prazo.

O segundo passo, relativo ao aconselhamento e seleção em mais larga escala ainda está por vir, mas já temos uma nova realidade a ser explorada por esses investidores, principalmente os de média renda. Essa oportunidade não dispensa (e em caso nenhum deve ser dispensada) a necessidade de análise e avaliação do produto além do entendimento do quão compatível eles são com os desejos de uso futuro do dinheiro. Quanto mais informações o investidor levantar e se interessar em ter, mais abrangentes serão seus conhecimentos e cada vez mais racionais serão seus investimentos.

 

IGP-10 encerra maio com deflação de 1,10%

 O Índice Geral de Preços – 10 (IGP¬10) cedeu 1,10% em maio, a menor taxa da série do indicador, iniciada em setembro de 1993. Um mês antes, a queda tinha sido de 0,76%. Em maio de 2016, o IGP¬10 teve alta, de 0,60%, informou a Fundação Getulio Vargas (FGV). De janeiro a maio, houve deflação de 0,81%. Em 12 meses, porém, o IGP¬10 aumentou 2,14%. A queda de maio foi provocada pelo recuo mais forte dos preços do atacado e pela desaceleração da inflação ao consumidor.

O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) cedeu 1,74% em maio, seguindo baixa de 1,29% um mês antes, sendo que os preços dos produtos agropecuários saíram de queda de 3,43% para recuo de 3,07% e os produtos industriais, de decréscimo de 0,51% para baixa de 1,27%. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) subiu 0,21% em maio, metade da taxa do mês anterior, de 0,42%.

O destaque ficou para o grupo Alimentação, que passou de elevação de 0,92% para alta de 0,23%, refletindo o comportamento do item frutas (0,09% para ¬4,41%). Por fim, o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) registrou em maio queda de 0,02%, a mesma do mês anterior.

O índice relativo a Materiais, Equipamentos e Serviços caiu 0,06%, depois de recuo de 0,04% em abril. O índice que representa o custo da Mão de Obra subiu 0,02% em maio, após não ter registrado variação.

 

Índice de atividade do BC sobe 1,12%, após 8 trimestres de queda

Apesar do recuo de 0,44% na passagem de fevereiro para março, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC¬Br) interrompeu no primeiro trimestre deste ano uma sequência de oito quedas na comparação com o trimestre imediatamente anterior. O indicador divulgado ontem subiu 1,12% na comparação com os últimos três meses do ano passado.

O resultado, considerado uma espécie de prévia do Produto Interno Bruto (PIB), vai na mesma direção das projeções de crescimento para o PIB do período, a ser divulgado no próximo dia 1º de junho. A última vez em que o IBC¬Br cresceu na comparação com o trimestre anterior foi no fim de 2014, quando teve alta de 0,22%. O número positivo deste início de ano, no entanto, não garante que a recessão chegou ao fim.

É praticamente um consenso que o PIB do segundo trimestre será inferior ao do primeiro, e algumas casas acreditam que ele voltará ao campo negativo. "É cedo para afirmar que estamos num processo mais claro de retomada", defende Daniel Silva, economista do Modal Asset. A alta esperada para a atividade no primeiro trimestre deve ser muito influenciada pelo que os economistas estão chamando de "supersafra" agrícola.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) calcula que a produção de grãos deste ano será 26,2% maior do que a do ano passado. A estimativa média de 11 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor aponta crescimento de 1% do PIB do primeiro trimestre. Mas, com o fim da janela sazonal que tem beneficiado a produção agrícola, a tendência é que fatores como o desemprego e o ainda alto endividamento do setor privado tornem menos prováveis um bom desempenho da atividade no segundo trimestre. "Continuamos com dificuldade para encontrar um motor de crescimento", diz Silva.

O Bradesco, por exemplo, calcula que o PIB encolherá 0,2% em relação ao primeiro trimestre. O ABC Brasil também espera uma contração, embora a magnitude da queda ainda não tenha sido calculada, segundo Natália Cotarelli, economista do banco. Já o Santander espera alta de 0,2%, mas não descarta a possibilidade de uma retração. Silva, do Modal, também trabalha com alta de 0,2%, mas diz que "tem crescido a possibilidade" de queda da atividade no trimestre.

Ele destaca os efeitos negativos que o menor número de dias úteis em abril devem ter nos índices de atividade do período. Houve dois dias úteis a menos que em abril de 2016, além da greve geral, que teve algum efeito sobre a economia. Alguns indicadores antecedentes, segundo Silva, também já "apontam que abril vai ser mais um mês bastante fraco".

Entre esses índices, estão a expedição de papel ondulado (¬1,2%) e o fluxo em rodovias pedagiadas (¬1,3%). Em relação a fevereiro, o IBC¬Br dessazonalizado de março teve queda de 0,44%, contra alta de 1,37% no mês anterior. Foi um recuo menor do que a estimativa média de 0,99% de retração de 18 projeções coletadas pelo Valor Data. O resultado foi influenciado pelas quedas de 1,9% do varejo, de 2,3% do volume de serviços e de 1,8% da produção industrial. Já em comparação com o primeiro trimestre de 2016, o IBC¬Br cresceu 0,29%.

Para a Rosenberg Associados, a combinação de queda em março e alta em períodos mais longos reforça o cenário de "sinais mistos" que a atividade econômica tem emitido. "Vão se colhendo evidências de que a recuperação começa a ocorrer ¬ mas sem perder de vista seu caráter gradual, moderado", diz relatório da consultoria.

A tendência é que a recuperação ganhe mais força no segundo semestre. Para 2017, Banco Central e Fazenda trabalham com um crescimento de 0,5% do PIB. Segundo Silva, do Modal, segmentos com maior peso no PIB, como serviços, devem demorar a reagir, em função da deterioração do mercado de trabalho.

A tendência, de acordo com ele, é que a maior parte da recuperação da atividade ao longo de 2017 venha da indústria, "que parte de base muito baixa e tende a crescer, mesmo que pouco". Já o corte dos juros, para o economista, demora "cinco ou seis trimestres" para ter efeitos mais concretos na atividade, deixando os efeitos positivos da queda da Selic para 2018. A estimativa do Modal é que o PIB crescerá 0,7% neste ano.

 

Recuperação está mais espalhada, diz BofA Merrill Lynch

O chefe de economia e estratégia do Bank of America (BofA) Merrill Lynch, David Beker, acredita que a recuperação da economia brasileira está mais "espalhada", embora destaque que os dados do varejo e de serviços de março mostraram um resultado mais fraco do que o esperado. Ele mantém por enquanto a previsão para o primeiro trimestre de um crescimento de 1,3% em relação ao trimestre anterior, feito o ajuste sazonal, mas diz que os riscos de um número mais baixo aumentaram, justamente por causa desse desempenho do comércio e dos serviços.

Ainda assim, Beker continua a ver um panorama mais favorável para a economia brasileira neste ano, ainda que não aposte num comportamento exuberante. Ele estima uma expansão do PIB de 1% neste ano, acima da mediana das estimativas dos analistas ouvidos pelo Banco Central (BC), de 0,47%. "Vários fatores estão ajudando a atividade na margem, incluindo as retiradas das contas inativas do FGTS e os níveis de confiança, que têm mostrado tendência de alta e devem estimular a recuperação", escreve Beker, no relatório "Green shoots multiplying".

Para ele, os cortes mais fortes dos juros pelo Banco Central (BC) ajudaram a melhorar a confiança nos últimos meses, um fator importante para a retomada. Além dos números do varejo, de serviços e da indústria divulgados pelo IBGE, que apontaram para crescimento no primeiro trimestre, apesar do comportamento errático, Beker também cita o desempenho de outros indicadores para justificar a visão um pouco mais favorável para o período.

É o caso das vendas de cervejas, eletrodomésticos da linha branca e de roupas, do fluxo pedagiado de veículos pesados e do agendamento de viagens. O economista avalia que a perspectiva de melhora da confiança deve continuar a estimular a recuperação, mas é fundamental que a reforma da Previdência seja aprovada, para que essa tendência se mantenha. A mudança no sistema de aposentadorias é fundamental para garantir o cumprimento do projeto que limita o crescimento dos gastos da União, um passo importante para a melhora da situação fiscal do país. Beker aponta o mercado de trabalho e as condições de crédito restritivas como fatores que levam a uma recuperação mais lenta da economia.

Para ele, o desemprego deve continuar a subir, atingindo o pico no terceiro trimestre deste ano. A taxa de desocupação, lembra Beker, ficou em 13,7% no primeiro trimestre, mostrando que 14,2 milhões de pessoas estavam desempregadas no período. Beker projeta juros de 9% no fim deste ano e de 8,25% no fim do ano que vem, mas considera possível que o BC acelere os cortes. Hoje, a Selic está em 11,25% ao ano.

No primeiro trimestre, alguns indicadores mostraram comportamento volátil. Beker avalia que é normal que apareçam resultados contraditórios no começo de retomada. No caso do varejo restrito (que exclui automóveis e material de construção), as vendas subiram 6% em janeiro, caíram 1,6% em fevereiro e recuaram 1,9% em março, na comparação com o mês imediatamente anterior, feito o ajuste sazonal. No trimestre, houve alta de 3,3% sobre o trimestre anterior.

Beker diz que os dados econômicos de abril devem ter sido fracos. "Nós tivemos 20 dias úteis em abril de 2016, mas em abril de 2017 tivemos muitos feriados. Foram 18 dias úteis, além do efeito da greve geral [no dia 28]", observa ele, para quem essa queda no número de dias úteis terá impacto sobre os indicadores. Para o segundo trimestre, Beker acredita que a variação do PIB deverá ser positiva, impulsionada pelo efeito da liberação dos recursos das contas do FGTS, mas provavelmente menor que o do primeiro.

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