VALOR ECONÔMICO
Temer perdeu condições de tocar as reformas, diz Eurasia Group
A consultoria de risco político Eurasia Group emitiu nota na noite desta quarta¬feira com comentários a respeito das denúncias de que o presidente Michel Temer teria dado aval à compra do silêncio do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, em conversa gravada por um dos donos do grupo JBS, Joesley Batista. Sob o título “Temer está à beira e as reformas, em compasso de espera”, o texto diz que, se comprovadas, as acusações “têm o potencial de mergulhar a administração em uma profunda crise política”.
Para os analistas do grupo, há duas conclusões possíveis: que é improvável que o presidente Temer termine seu mandato, porque as acusações justificariam um processo de impeachment, e que a reforma da Previdência vai depender de se encontrar um caminho para sair desta crise política. “O presidente Temer perdeu as condições de continuar a negociar a reforma da Previdência, que estava a apenas 2 semanas de uma votação. Como tal, um novo equilíbrio político precisa ser estabelecido antes que as reformas voltem aos trilhos”, diz o texto.
A seguir, a íntegra da nota: “Essas alegações, se comprovadas como verdadeiras, têm o potencial de mergulhar a administração em uma profunda crise política. Em primeiro lugar, é necessário cautela nas alegações. As gravações são supostamente parte de um pacto sendo negociado por um dos proprietários de JBS, Joesley Batista. Mas as gravações não foram divulgadas ao público, por isso agora Temer está negando as acusações (embora tenha confirmado ter se encontrado com Batista). Mas se essas alegações provarem ser verdadeiras, surgem duas conclusões.
A primeira é improvável que o presidente Temer termine seu mandato. Estas alegações são fundamentos justificáveis para um impeachment. Mas o resultado mais provável seria que esta crise leve o Tribunal Eleitoral (TSE) a destituir Temer em uma investigação de fraude eleitoral nas eleições de 2014, ou leva-¬lo a renunciar-¬se. Sob estes dois últimos cenários, o Congresso teria que eleger um novo presidente dentro de trinta dias.
A oposição já está pedindo eleições gerais, mas o Congresso vai resistir a essa opção, o que exigiria uma emenda constitucional, por várias razões, incluindo o potencial de o ex--presidente Luiz Inácio Lula da Silva fazer uma corrida competitiva durante um período de crise econômica. A segunda conclusão é que todas as negociações sobre a reforma da Previdência dependem agora de se encontrar um caminho para sair desta crise política.
O presidente Temer perdeu as condições de continuar a negociar a reforma da Previdência, que estava a apenas 2 semanas de uma votação. Como tal, um novo equilíbrio político precisa ser estabelecido antes que as reformas voltem aos trilhos. Dito isto, seria prematuro concluir que a reforma da Previdência está morta.
Qualquer presidente eleito pelo Congresso terá fortes incentivos para colocar a reforma de volta a seu rito para construir uma ponte para chegar a 2018. O momento da reforma inevitavelmente será adiado e claramente enfrenta maiores riscos de aprovação. Muito pode depender de como as ruas vão reagir. Mas a queda de Temer não precisa ser equivalente à queda das reformas.”
Para executivos do mercado financeiro,governo acabou e Temer deve sair
“Acabou o governo. Acabou tudo. É um desastre”, desabafou um experiente gestor de investimentos assim que foi informado sobre a delação dos empresários Joesley Batista e Wesley Batista, do Grupo J&F, homologada pelo ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava¬Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).
De uma só vez, os irmãos Batista ¬ controladores do JBS ¬ comprometeram o presidente Michel Temer e o presidente nacional do PSDB, Aécio Neves. “A informação é uma bomba e provocará um revertério na votação das reformas no Congresso e torna¬-se um bom motivo para fazer disparar o risco Brasil logo agora que o CDS [Credit Default Swap] caiu abaixo de 200 pontos”, exclamou outro profissional do mercado financeiro. Os dois executivos que falaram ao Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, na condição de anonimato, aguardam turbulência nos mercados nesta quinta-¬feira.
Nenhum deles vê a possibilidade de o presidente Temer permanecer no governo. “Temer está escorado pelo processo de reformas que sua equipe propôs e não por sua popularidade. Com o presidente em xeque, após essa delação, as reformas não vão prosseguir até porque não haverá um Congresso para aprová¬-las.
Além dos parlamentares já implicados na Lava¬Jato, teremos aliados interessados em se afastar do presidente”, disse a fonte. Os dois gestores consideram a possibilidade de o presidente Temer renunciar ao cargo amanhã mesmo. Um deles considera que, se Temer não renunciar, o Superior Tribunal de Justiça deverá cassar a chapa Dilma¬Temer ¬ vitoriosa nas eleições de 2014 ¬ facilitando, inclusive, o afastamento do presidente da República de forma menos traumática e por fatos conhecidos.
A convocação de eleições pelo Congresso Nacional foi citada por um dos profissionais que espera que os parlamentares ou um Colégio Eleitoral escolha o ex¬presidente Fernando Henrique Cardoso para substituir Temer e colocar o país rumo às eleições de 2018. FHC foi o único nome mencionado nessas conversas que ocorreram nesta noite.
Revelação de gravação coloca Temer 'em alto risco', diz Arko Advice
A notícia de que uma gravação autorizada mostraria Michel Temer dando aval para comprar o silêncio do ex-¬presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB¬RJ) coloca o presidente da República “em alto risco”, segundo a consultoria Arko Advice. “A revelação é muito grave tanto do ponto de vista político quanto por seus aspectos jurídicos, e pode desencadear uma série de eventos potencialmente catastróficos para o governo”, diz nota divulgada pela consultoria na noite desta quarta-¬feira.
“Se as denúncias forem devidamente comprovadas, e tiverem desdobramentos ainda mais negativos, não descartamos a possibilidade de renúncia como forma de abreviar a crise e dar uma chance de recomeço político”, afirma a Arko Advice. A consultoria avalia que o “dramático enfraquecimento político do governo” no mínimo deve atrasar a tramitação a reforma da Previdência e da reforma trabalhista no Congresso. “Não há como prosseguir o debate com suspeitas de tamanha gravidade. Não devemos descartar o abandono da agenda de reformas.”
Outra possível consequência do episódio é dar força a manifestações que defendam a saída de Temer do governo e eleições diretas para a presidência, diz a nota. A consultoria também nota que as revelações podem mobilizar a oposição em favor do impeachment de Temer. “O deputado Alessandro Molon (Rede¬RJ) já apresentou um pedido. A aceitação depende do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM¬RJ).”
Além disso, Temer pode ser investigado por obstrução de Justiça, uma vez que já estava no exercício da presidência quando teria sido gravado pelo empresário Joesley Batista, da JBS, afirma a Arko Advice. Outro ponto importante, segundo a consultoria, é que “o episódio pode afetar o julgamento da chapa Dilma¬Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), marcado para começar no dia 6 de junho”.
Na avaliação da Arko Advice, “se o governo não conseguir conter o dano, o julgamento do TSE pode servir de válvula de escape para a crise e determinar a anulação da chapa Dilma-Temer”. Esse poderá ser “o caminho mais curto para afastar o presidente e resultar numa eleição indireta no Congresso para um mandato¬tampão”, diz a nota, que conclui: “Reiteramos que a gravidade dos acontecimentos para a viabilidade do governo Temer dependerá de sua devida confirmação”.
'Risco Trump' derruba mercados
Turbulências em Washington sacudiram os mercados globais, tirando¬os de um prolongado período de calmaria. As bolsas de valores e os rendimentos dos títulos do governo dos Estados Unidos caíram, depois que os investidores diminuíram suas apostas em uma aprovação rápida da agenda econômica do presidente Donald Trump. As expectativas de que suas políticas iriam impulsionar o crescimento e a inflação vinham perdendo força, mas tal movimento se intensificou ontem.
Num dos mais claros sinais de diminuição da confiança dos investidores, o dólar sofreu forte depreciação em relação a seus pares. O índice de volatilidade VIX da CBOE ¬ uma medida das oscilações esperadas no S&P 500 para os próximos 30 dias ¬ teve elevação de 42,35%, para 15,16, no maior salto diário desde a eleição presidencial nos EUA em novembro. As bolsas de valores caíram em todo o mundo, sendo que os principais índices de Wall Street tiveram suas maiores quedas no ano.
O Dow Jones encerrou em queda de 1,78%, aos 20.606,93 pontos, na maior queda diária em dez meses. O S&P 500 teve recuo de 1,82%, para 2.357,03 pontos, com 9 de seus 11 setores no vermelho. Os papéis do setor bancário lideraram as perdas, com baixa média de 3,15%, sendo que as ações do Bank of America e do Morgan Stanley recuaram cerca de 6%. O Nasdaq caiu 2,57%, para 6.011,23 pontos. As vendas no pregão de ontem foram deflagradas pela notícia, divulgada na terça¬feira após o fechamento dos mercados, de que Trump pressionou o então diretor do FBI, James Comey, a abandonar a investigação sobre contatos indevidos de Michael Flynn, seu ex¬conselheiro de Segurança Nacional, com os russos.
A Casa Branca negou tudo. Mas, dias depois da conversa, o presidente demitiu o chefe da polícia federal americana. O risco político subiu de tal maneira que o tema de "impeachment" de Trump passou a ser debatido abertamente entre os líderes da oposição democrata. "O cenário mais amplo, neste caso, é que o incidente representa mais um declínio na probabilidade de que se consiga uma maioria no Congresso para aprovar a agenda de Trump", disse R.J. Grant, diretor de negócios com ações na KBW Inc.
As ações de companhias americanas vinham trabalhando próximas de suas máximas históricas, e poucos investidores dizem acreditar num grande retrocesso agora. Porém, muitos parecem estar cada vez mais preocupados com a implementação das políticas propostas por Trump, como reduções de impostos, desregulamentação e gastos com infraestrutura, na esteira de uma série de incidentes em Washington. Os movimentos de ontem puseram fim a semanas de estabilidade. O S&P 500 fechou com uma variação percentual diária de 0,5% ou menos durante 15 sessões seguidas, o mais longo período desde fevereiro de 1969.
O consultor financeiro Ryan Wibberley disse que tem adotado uma abordagem cautelosa face ao mercado de ações nos últimos meses. À medida que sua empresa atrai clientes, o executivo tem sido cauteloso em colocar esse dinheiro novo em ações ¬ em parte porque os principais índices estão perto de seus recordes, mas também por causa do que tem acontecido em perto de seus recordes, mas também por causa do que tem acontecido em Washington.
As últimas revelações envolvendo Trump tiveram uma repercussão diferente, disse Wibberley, que preside a CIC Wealth. "Tem havido fumaça por toda parte. Esta é a primeira vez que há fogo." Ele disse que não está fazendo mudanças rápidas nas carteiras, mas já identificou que ações gostaria de comprar se os papéis recuarem a determinado nível. O pregão negativo em Nova York contaminou o mercado europeu. O índice FTSE 100, referência da Bolsa de Londres, fechou em baixa de 0,25%, enquanto em Frankfurt o DAX cedeu 1,35%. O CAC 40, de Paris, depreciou 1,63%.
A demanda por ativos considerados mais seguros deu um salto ontem. Com a maior procura, os rendimentos dos Treasuries (papéis do Tesouro dos EUA) de dez anos tiveram o maior declínio diário desde junho. Os juros do papel de referência no mercado de renda fixa global caíram para 2,216%, ante 2,329% do fim da terça¬feira. O ouro, outro ativo considerado seguro pelos investidores, teve valorização de 1,8%, a US$ 1.258,70 a onça troy na Nymex. No mercado de câmbio, o dólar se enfraqueceu frente às principais divisas.
No fechamento das bolsas de Nova York, a moeda americana caía 1,90% em relação à moeda japonesa, a 110,94 ienes. Já o euro subia 0,64%, a US$ 1,1155. A libra ganhava 0,35%, a US$ 1,2962. O índice dólar, da ICE, que acompanha a variação da moeda frente a uma cesta de seis divisas, perdia 0,62%, a um nível não observado desde os dias que antecederam a eleição de Trump, em 8 de novembro. "Tudo se resume neste momento a Trump", disse Thomas Roth, diretorexecutivo para juros da MUFG Securities Americas.
"O dólar está afundando à medida que o mundo presta atenção e perde a confiança no estado das coisas nos EUA", acrescenta. Gestores de fundos entrevistados pelo Bank of America Merrill Lynch consideram um atraso nas revisões dos impostos sobre as empresas americanas como o quarto maior risco improvável para os mercados, de acordo com a pesquisa deste mês. Em março, as ações recuaram quando os republicanos na Câmara sofreram um tropeço em seus esforços para aprovar um projeto de lei para o setor de saúde, e os investidores disseram que isso tornava maiores as dúvidas de que Trump seria capaz de conseguir a aprovação de cortes de impostos.
Embora as oscilações políticas possam provocar volatilidade no curto prazo, é improvável que no longo prazo tenham um efeito importante no mercado de ações americano, disse Kevin O'Nolan, gerente de portfólio multiasset na Fidelity International. "As ações de empresas As ações americanas refletem os lucros, e os lucros estão ligados ao crescimento, e não creio que isso tudo terá um impacto significativo sobre o crescimento."
Copom pondera grau de antecipação adequado do ciclo de juros, diz Ilan
O presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, fez um discurso que não desautoriza o recente movimento do mercado de reprecificar tanto o ritmo quanto a extensão do ciclo de redução da Selic, atualmente fixada em 11,25% ao ano, mas pode trazer mais cautela na tomada de posições pelos agentes, depois que alguns bancos reduziram a projeção da taxa básica de juros para 7% ao fim deste ano.
Segundo Ilan, o Comitê de Política Monetária (Copom) está "ponderando qual o grau de antecipação adequado" do ciclo de corte de juros, considerando a manutenção do atual ritmo de redução de 1 ponto percentual ou "uma intensificação adicional moderada". Em evento com o Fundo Monetário Internacional (FMI) na sede do banco em Brasília, Ilan deixou mais clara a mensagem transmitida e reiterada inúmeras vezes da ata do Copom de abril.
"Naquela data, o comitê considerou o atual ritmo de queda adequado, entretanto, avaliou que a conjuntura recomendava monitorar a evolução dos determinantes do grau de antecipação do ciclo. Nesse sentido, a nossa mensagem atual permanece a mesma da ata", disse Ilan. A fala foi disponibilizada no site do BC.
Segundo o presidente do BC, não há definição, no momento, sobre o grau de antecipação, pois a decisão será tomada na reunião dos dias 30 e 31 de maio. No mercado, um corte de 1,25 ponto é aposta majoritária. Ainda de acordo com o presidente, para tomar a decisão sobre o grau de antecipação desejado, o Copom avaliará "por um lado, a evolução da conjuntura econômica e, por outro lado, as incertezas e fatores de risco que ainda pairam sobre a economia".
Dos fatores de risco acompanhados pelo Copom e listados na ata, apenas o quadro externo teve piora, nesta quarta¬feira, em função da turbulência política nos Estados Unidos. Mas Ilan não tratou do tema, mantendo a avaliação de que o Brasil está menos vulnerável a choques externos. A condução das reformas tem sido favorável, segundo o próprio presidente, e a inflação e as expectativas estão ancoradas. Sobre até que ponto a Selic pode cair, assunto que vem passando por firme revisão pelos agentes de mercado, Ilan reforçou que "a extensão do ciclo de flexibilização monetária é limitada pelas projeções de inflação, pelos fatores de risco e pelas estimativas da taxa de juros estrutural".
Nos últimos dias, alguns bancos e consultorias fizeram uma revisão sobre a Selic no fim de 2017 e 2018. O consenso continua em 8,5%, mas algumas casas já trabalham com Selic a 7% no fim de 2017. Na última ata, o Copom afirma "a condição fundamental de que qualquer decisão futura seja compatível com manutenção das projeções de inflação na meta nos horizontes relevantes e com ancoragem das expectativas de inflação".
Por ora, Selic a 8,5% entrega inflação de 4,1% em 2017 e ao redor de 4,5% em 2018, segundo as últimas projeções disponíveis do BC. Já pela mediana do mercado, Selic a 8,5% resultaria em inflação de 3,93% neste ano e de 4,36% em 2018. O BC olha a inflação de 2018 com peso crescente e também avalia, mesmo sem divulgar com frequência, as projeções para 2019, ano que pode ter nova meta.
Aumenta a volatilidade no câmbio emergente
O salto do dólar frente ao real e a várias outras divisas emergentes ontem serviu de lembrete do potencial de estrago nos mercados caso se aprofunde a crise política nos Estados Unidos. Mas hoje a moeda brasileira pode sofrer pressão extra por temas domésticos, após a notícia de que o dono da JBS, Joesley Batista, teria gravado o presidente da República, Michel Temer, dando aval para a compra do silêncio do ex¬presidente da Câmara, Eduardo Cunha, hoje preso em Curitiba.
Os desdobramentos do caso podem levantar dúvidas sobre o futuro do governo Temer e, por tabela, do ajuste fiscal. O dólar comercial subiu 1,16%, a R$ 3,1313. Foi a mais intensa valorização em quase dois meses, que em apenas um dia apagou metade das perdas que a moeda registrou ao longo de seis pregões seguidos de queda. Operadores dizem que os negócios aqui mantiveram algum "sangue frio" pela manhã, na expectativa de que, com o passar das horas, a aversão a risco amenizasse. Mas o que ocorreu foi o contrário, levando os agentes a demandar mais proteção no mercado ¬ tanto via compra de dólar quanto de juros futuros de prazos mais longos.
Num plano mais abrangente, uma cesta de divisas emergentes recuou 0,96%, maior baixa em duas semanas. A volatilidade nesse grupo de moedas saltou 2,69%, alcançando um pico em uma semana, segundo índice do banco Barclays. A percepção de maior risco no câmbio emergente impôs às operações de arbitragem com taxas de juros o pior dia em três semanas. Um índice do Deutsche Bank que mede os retornos de "carry trade" caiu 0,93% ontem. Em dois dias, o recuo já é de 1,14%.
As perdas nas operações de arbitragem com juros refletem a forte valorização do iene. A moeda japonesa tradicionalmente é a que financia essas operações. Investidores aplicam em divisas de juros mais elevados ¬ caso do real ¬ os recursos captados em ienes. Portanto, para que a operação gere lucro é preciso que ou o iene se desvalorize ou as moedas de risco se apreciem. Ontem, o iene subiu 2,05%, maior alta desde o fim de julho do ano passado.
Estrategistas do Credit Suisse mantêm algum tom de cautela para os mercados em relação aos eventos relacionados à política americana, mas alertam que a China também pode gerar preocupações. O banco lembra que os recentes indicadores da segunda maior economia do mundo têm vindo aquém do esperado, mas que, por enquanto, não têm se materializado em pressão no bloco de moedas correlacionadas às commodities. "Porém, vemos potencial de mais surpresas negativas em relação ao crescimento chinês, o que impõe uma visão de longo prazo mais cautelosa para esse grupo de moedas", afirma o banco.
O ESTADO DE SÃO PAULO
A delação da JBS e o Mercado Financeiro
Nessa quarta-feira (17/05), saíram algumas notícias envolvendo a JBS, o presidente Michel Temer (PMDB-SP) e o senador Aécio Neves (PSDB-MG) que podem mudar o curso da economia brasileira. Vamos fazer algumas divagações.
O mercado de dólar deve abrir bem estressado, com forte desvalorização do real. Existe uma chance considerável de atuação do Banco Central tanto nos leilões de linha (operações de venda do dólar hoje, para recompra no futuro), como via SCS (um derivativo que garante a variação do dólar para os investidores, durante um período de tempo).
A Bovespa também deve estressar, só que no sinal oposto, com queda da cotação das ações e com os gringos diminuindo a exposição ao Brasil. Podemos ter um bom ponto de entrada para quem pensa em longo prazo. Nesta madrugada (18/05), já se observa uma queda generalizada na cotação de ativos brasileiros negociados nas bolsas dos Estados Unidos e do Japão. Ações como Petrobras, Vale, Ambev, JBS, Itaú e Banco do Brasil devem sofrer bastante. Isso, sem falar nas que têm menor liquidez.
Nessas, para conseguir vender, os investidores vão ter que jogar os preços lá embaixo. Não vai ser raro ver uma ação caindo 10% no pregão desta quinta-feira (18/05). E não vou me surpreender se tivermos um circuit-breaker (mecanismo utilizado quando a Bolsa cai muito, com a paralisação das negociações por um período de tempo, na expectativa de que o mercado se acalme).
Só por curiosidade, as 5 maiores quedas na história do Plano Real da Bolsa: 10/09/98 (15,81%); 27/10/97 (14,97%); 15/10/08 (11,39%); 05/09/94 (10,50%); e 12/11/97 (10,20%). Desde a reeleição da Dilma, em 2014, o maior tombo foi em 02/02/2016: 4,87%. E, desde que o Temer assumiu em definitivo a Presidência da República, em agosto de 2016, a maior queda foi de 3,88%, no dia 01/12/2016.
O Risco Brasil vai disparar, com os investidores achando que o Brasil se tornou um país bem menos confiável. Este pode ser o pior sinal de todos nesta quinta-feira (18/05).
Os juros vão subir, principalmente as taxas de médio e longo prazo, devido ao cenário de maior desconfiança em relação ao futuro da economia brasileira. Existe uma chance de o Tesouro Nacional entrar recomprando títulos longos e colocando em troca a LFT. É esperar para ver.
Resumindo, esta quinta-feira vai ser de enorme volatilidade e com possibilidade de grande estresse nos mercados. E, para piorar, às 9h o IBGE vai divulgar a PNAD (que mede o desemprego) referente ao primeiro trimestre de 2017. Se os números vierem ruins, a pressão ficará pior ainda.
Médio e Longo prazo
A possibilidade de o Banco Central baixar os juros em 1,25%, como se cogita desde a semana passada, praticamente acabou. A redução deve ser menor, entre 0,75% e 1,00%. Mas eu ainda acredito em 1%, com um discurso mais conservador pós divulgação da taxa. A reunião vai ocorrer nos dias 30 e 31 de maio, com a divulgação no começo da noite do segundo dia. Nas reuniões seguintes, o Banco Central deverá se tornar mais conservador, com dois medos: a influência do dólar na inflação e a possibilidade de o governo perder totalmente o apoio no Congresso. Além disso, os gringos vão olhar e pensar “os caras não estão fazendo o dever de casa, para eu aceitar ficar nesse país só aceito se tiver mais juros” ou “um país todo deficitário, para eu aceitar o risco desse país, só vou se receber mais juros”. E fora o medo do Banco Central de cair demais (como em 2012/13) e depois ter que subir os juros por algum problema de inflação ou crédito. A expectativa de a taxa, que hoje está em 11,25% ao ano, terminar 2017 em 8,50% ao ano se afasta. Se eu tivesse que fazer alguma aposta, diria que teremos juros entre 9,00% e 9,50% ao ano em dezembro. Espero estar errado.
Reformas: acho que complicou demais. Não deve passar mais nenhuma reforma no Congresso, nem a Trabalhista, nem a da Previdência. Ou, se passarem, estarão todas modificadas, do tipo “mudei e não resolvi nada” ou” trocamos 6 por meia dúzia”. Porque o Congresso deve se revoltar contra o governo, como se lá dentro só houvesse anjinhos. Para demonstrar independência, os parlamentares vão passar a se opor a tudo que venha do Planalto. E, sem as reformas, teremos um período de muita turbulência econômica, com chance de muitos investidores paralisarem suas atividades, diante da incerteza sobre o rumo que a economia brasileira vai trilhar. Continuaremos com enormes déficits no caixa do governo? Temer ficará, mesmo sem apoio algum, ou sairá da Presidência? Se sair, quando isso acontecerá? Quem será o futuro presidente do Brasil?
Já se fala em renúncia do Temer, com a convocação de eleições diretas. Neste momento, eu não acho que seria a melhor solução. Eleições diretas são uma ideia excelente, mas , no cenário atual, o Brasil pararia mais ainda durante a campanha, agravando o desemprego, a inflação e a desconfiança por parte dos investidores. Poderíamos fazer uma eleição indireta mesmo, colocando no poder um nome de expressão. O problema é achar esse nome hoje. Vamos ver algumas possibilidades:
1. FHC: o problema é a ligação com o PSDB e, portanto, com o Aécio. Apesar de que eu vejo uma chance de o Aécio renunciar e o partido o colocar de lado, nem que seja durante um período, como se fosse uma ovelha negra.
2. Meirelles: o problema é a imagem de eterno dono de banco, que alguns parlamentares ainda atribuem a ele. Fora isso, trabalhou na JBS, que fez toda a denúncia nesta quarta-feira, e é um dos homens fortes do Temer na empreitada de tentar passar a Reforma da Previdência.
3. Carmen Lúcia? Um nome com certeza íntegro, mas sem nenhum cacoete político.
Resumindo
Teremos uma quinta-feira de muita volatilidade. E, se as gravações forem comprovadas, um bom período de conturbação, com a possibilidade de renúncia ou impeachment do Temer. Espero que tudo se resolva da maneira mais rápida possível. O Brasil não aguentaria uma nova crise política, que só contribuiria para aumentar o desemprego e afastar o investimento. Desde a reeleição da Dilma, mais de 3,5 milhões de pessoas perderam o emprego. O Brasil não merece passar por isso novamente. O problema é combinar com os políticos.
O cenário externo também não ajuda, com os EUA começando a cogitar um impeachment do Trump e com a possibilidade de uma guerra com o maluco da Coréia do Norte, que pode fazer um estrago na região e parar a economia mundial por um bom tempo.
Espero que, daqui a 6 meses, eu possa dizer que errei as projeções, que tudo se resolveu da melhor maneira possível e que voltamos a crescer. Mas vejo essa chance bem remota, depois das notícias desta quarta-feira (17/05).
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