VALOR ECONÔMICO
Crise política pode levar investimento a cair pelo quarto ano consecutivo
A nova crise política aumentou as chances de o investimento encolher pelo quarto ano consecutivo. Com as incertezas causadas pelas dúvidas quanto à continuidade do governo do presidente Michel Temer, a confiança dos empresários deve ser afetada, prejudicando as perspectivas para a retomada da formação bruta de capital fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas e equipamentos, construção civil e inovação).
Nesse cenário de indefinição, algumas instituições reduziram as projeções para o investimento em 2017, passando a projetar uma nova queda para o componente da demanda que mais apanhou nos últimos anos. Para se ter uma ideia, a FBCF recuou nada menos que 29,8% em relação ao nível do terceiro trimestre de 2013. Na série do IBGE das contas nacionais que se inicia em 1996, não há registro de um tombo remotamente parecido.
A FBCF encolheu quase 20% no quarto trimestre de 2008 e no primeiro trimestre de 2009, na esteira da crise financeira global, mas logo se recuperou ¬ nos últimos três meses de 2009, já havia superado o nível vigente no terceiro trimestre de 2008. A Tendências Consultoria passou a apostar em retração de 1,1% na FBCF neste ano ¬ antes, previa uma alta de 2%. Além do impacto da crise política, o péssimo resultado do investimento no primeiro trimestre contribuiu para o corte na estimativa, diz Bruno Levy, economista da consultoria.
Nos três primeiros meses do ano, a FBCF recuou 1,6% em relação aos três meses anteriores, feito o ajuste sazonal, desempenho pior do que o esperado por boa parte do mercado ¬ a média das estimativas dos economistas ouvidos pelo Valor Data era de uma baixa de 0,3%. Nos últimos 14 trimestres, a FBCF caiu em 13. A exceção foi o segundo trimestre do ano passado, quando houve alta de 0,1%.
"As dúvidas quanto ao encaminhamento das reformas no Congresso e a manutenção da atual agenda econômica devem impactar negativamente a confiança dos empresários e, portanto, o apetite por investimentos", resume Levy, ao falar do impacto causado pela divulgação da gravação de uma conversa comprometedora de Temer com o empresário Joesley Batista, da JBS.
Além disso, há potenciais impactos no custo de financiamento, por causa do aumento dos prêmios de risco, diz ele, para quem esses fatores tendem a fazer com que os investidores coloquem "novos projetos em compasso de espera". O ciclo de queda dos juros e a perspectiva favorável para o andamento das reformas no Congresso, em especial a da Previdência, apontavam para uma recuperação do investimento neste ano, mas a nova crise turvou o quadro de retomada. Para 2018, a Tendências reduziu a projeção de crescimento da FBCF de 9,2% para 6,8%.
E esse aumento da incerteza ocorre num momento em que há uma "capacidade ociosa absurda na indústria e no parque instalado de construções", como diz o economista Francisco Pessoa Faria, da LCA Consultores. "Se a crise pode afetar um componente da demanda com mais força, é o investimento."
Faria conta que a LCA já esperava um recuo do investimento neste ano, de 0,7%. Com o imbróglio político e o número do PIB do primeiro trimestre, a consultoria passou a projetar uma queda do investimento de 2,3% em 2017. Isso contribuiu para a LCA reduzir a projeção de crescimento do PIB para este ano, de 0,9% para 0,5%.
Já a Tendências manteve a projeção de uma expansão do PIB em 2017 de 0,3%, mesmo com a piora da previsão para o investimento, porque passou a esperar um desempenho melhor do consumo das famílias e do setor externo, pelo lado da demanda. Pelos cálculos da Tendências, uma queda de 1% na confiança da indústria em um mês gera um impacto negativo na FBCF de 0,021% após dois meses.
Apesar de o impacto ser aparentemente fraco, essa análise incorpora um recuo de 1% na confiança durante apenas um mês, diz Levy. Para ele, essa queda deve continuar pelo menos nos próximos dois trimestres e ter maior intensidade. "Portanto, os efeitos sobre os investimentos e a construção civil nos próximos trimestres serão consideráveis", afirma o economista da Tendências.
Faria e Levy acreditam que as perspectivas são piores para a construção do que para o setor de máquinas e equipamentos. Há grande vacância de imóveis residenciais e comerciais, diz Faria. Além disso, o panorama está longe de ser favorável ao investimento em novos negócios, como diz Levy. A construção de novas unidades de produção está fora do radar da maior parte das empresas. Antes de fazer investimentos de maior peso, as empresas ocupam a capacidade ociosa existente. Em alguns casos, pode haver gastos para repor a depreciação do capital, depois de tanto tempo sem investir, como avalia o economista Luiz Castelli, da GO Associados.
A empresa troca uma máquina obsoleta por uma mais nova, por exemplo, mas não faz grande ampliação da capacidade produtiva. Antes da nova crise política e da divulgação do resultado do PIB do primeiro trimestre, Castelli esperava crescimento de 2,5% da FBCF no ano. Agora, avalia que o número deve ficar próximo de zero.
Ao analisar as perspectivas para o investimento, Faria nota que a retomada não virá do setor público, dado o quadro de desajuste das contas públicas. As concessões de infraestrutura ao setor privado podem sofrer um pouco com a crise, demorando mais para começar a engrenar, diz ele. O tombo da FBCF fez a taxa de investimento encolher brutalmente nos últimos anos.
No primeiro trimestre, ela ficou em 15,6% do PIB, mais de cinco pontos percentuais do PIB abaixo dos 20,7% do PIB registrados no mesmo período de 2014. É um número mais baixo do que o de muitos países emergentes. No ano passado, a taxa ficou em 19,5% do PIB na África do Sul, em 21,6% do PIB no Chile, em 25,6% na Rússia, em 31,4% do PIB na Índia e em 44% do PIB na China, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Uma taxa de investimento tão baixa tem consequências negativas, diz Alberto Ramos, diretor de pesquisa para a América Latina do Goldman Sachs. O estoque de capital declinante prejudica a produtividade, reduz o crescimento potencial (aquele que não acelera a inflação) e atrapalha a recuperação da atividade, escreve ele.
Dada a grande ociosidade na economia, o país poderá crescer por vários trimestres acima do ritmo potencial sem causar pressões inflacionárias. Mas, uma vez que a capacidade ociosa for ocupada, o Brasil terá possivelmente de avançar a taxas pouco animadoras, para evitar a aceleração dos preços.
Paulo Rabello quer lançar 'BNDES Direto'
O novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Paulo Rabello de Castro, afirmou que quer, "em pouco tempo", passar a vender títulos em modelo semelhante ao do Tesouro Direto. "Haveremos de introduzir, quem sabe nas próximas semanas, um 'BNDES Direto', assim como temos um 'Tesouro Direto'. Nós temos que ter esse 'BNDES direto' estabelecido e implantado rapidamente", disse em evento sobre Parcerias Público¬Privadas (PPP) e concessões.
Questionado por jornalistas na saída do encontro, Rabello de Castro afirmou que a operação funcionaria nos moldes do Tesouro Direto, com títulos de ativos que fazem parte da carteira do BNDES. A data de lançamento, diz ele, ainda não foi fechada. "Mas é em pouco tempo, porque essa plataforma está também em estágio avançado. Acho que vai ser muito interessante, porque tem todo um outro feixe de títulos que talvez animasse o público a ter na carteira".
Em sua fala, Rabello colocou o desenvolvimento do mercado de capitais como uma das cinco crenças do BNDES, ao lado da "repactuação do pacto federativo" ¬ o estabelecimento de um compromisso de governança com os gestores públicos que têm relação com o banco ¬, o desenvolvimento da infraestrutura, a pulverização e a interiorização do crédito. O novo presidente evitou falar sobre a situação da JBS, empresa na qual o BNDESPar tem participação societária relevante.
Quando perguntado sobre as notícias recentes de que o grupo estaria tendo dificuldade para ter acesso a crédito, disse em tom de brincadeira: "Que empresa é essa?". Também ontem, em Paris, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que o (BNDES) "está completamente preparado agora para retomar o processo de financiamento".
Mais cedo, o ministro havia declarado a empresários franceses que o BNDES decidiu não fazer um pré¬pagamento ao Tesouro, como ocorreu no ano passado, quando R$ 100 bilhões foram devolvidos ao Tesouro. Segundo Meirelles, quando foi combinada a devolução antecipada de R$ 100 bilhões, no ano passado, pelo BNDES ao Tesouro, "isso foi resultado de uma previsão de fluxo de caixa onde se estimava não só a existência daquele recurso do momento, mas os recursos que se acumulariam mais ou menos até essa época, atingindo um pico onde está hoje, de pouco acima de R$ 150 bilhões".
"Acho que no momento de retomada não é o momento de retirada de recursos do banco de desenvolvimento que financia investimento de longo prazo", ressaltou Meirelles. "A presença do BNDES é fundamental e, para isso, o banco tem de ter recurso disponível para o processo de retomada", acrescentou em uma coletiva na embaixada brasileira em Paris.
Os empregados do BNDES avaliaram como "positiva" uma primeira reunião de trabalho que mantiveram esta semana com o novo presidente da instituição, segundo relato do encontro publicado pela AFBNDES, a associação dos funcionários do banco. Os funcionários expuseram a Rabello a preocupação com a "criminalização" das atividades do BNDES pelos órgãos de controle.
Segundo a associação, Rabello mostrou¬-se "sensível" ao tema e se comprometeu a atuar para prestar todos os esclarecimentos necessários à sociedade. No encontro com Rabello, as associações também manifestaram preocupação com a falta de respostas do BNDES para o enfrentamento da crise econômica no país e criticaram a ausência de planejamento e o que consideram "inversão" de prioridades.
FOLHA DE SÃO PAULO
Para Meirelles, aprovação de reformas só no 2º semestre 'não faz diferença'
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse nesta quinta-feira (8), em entrevista coletiva em Paris, que não vê como um problema o possível atraso na aprovação das reformas da Previdência e trabalhista. Lembrando que essas medidas são de longo prazo, ele disse que não haverá uma grande diferença se as reformas passarem apenas no segundo semestre deste ano.
"Não há dúvidas de que se a for aprovada em junho, melhor. Se for aprovada na primeira quinzena de julho, antes do recesso, bom. Agora, vamos dizer que, por alguma razão, vote em agosto. Do ponto de vista iminentemente da produtividade do país, não serão 15 dias, 20 dias ou um mês que vai fazer uma diferença", afirmou Meirelles.
O ministro, no entanto, acredita que há uma "possibilidade boa de haver votação ainda este mês" da reforma trabalhista.
SEM NECESSIDADE DE NEGOCIAÇÃO
O ministro descartou que será necessário voltar a negociar a reforma da Previdência por causa do caso JBS, mas só irá analisar essa possibilidade quando retornar ao Brasil, neste fim de semana.
"O relatório foi já suficientemente negociado, está em andamento (...) nossa expectativa é que o projeto vai seguir como está", disse Meirelles.
O Palácio do Planalto pretende levar a reforma previdenciária à votação no plenário da Câmara dos Deputados apenas depois da apresentação da denúncia contra o presidente Michel Temer pela PGR (Procuradoria-Geral da República).
RETALIAÇÃO À JBS
O ministro disse, ainda, não acreditar que a medida provisória assinada ontem pelo presidente Michel Temer dando mais poder ao Banco Central (BC) e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para multar empresas que cometam infrações contra o sistema financeiro e mercados de capitais tenha sido uma retaliação à JBS pela colaboração de Joesley Batista com a Polícia Federal.
"Eu não estou no Brasil, não participei desse processo de edição da medida provisória. Não me parece [retaliação]. Agora, evidentemente, hoje em dia tudo é lido de uma forma particular", afirmou Meirelles.
Com a nova medida, as multas aplicadas pelo BC em casos de infrações contra o sistema financeiro poderão chegar a R$ 2 bilhões, contra os R$ 250 milhões, até então. Já a CVM poderá multar em até R$ 500 milhões as infrações cometidas contra o mercado de capitais, contra os antigos R$ 500 mil.
RETOMADA DA ECONOMIA
O ministro defendeu ainda a posição do BNDES em não realizar a devolução ao Tesouro de recursos do banco, como ocorreu no ano passado. Para Meirelles, o BNDES precisa de caixa para financiar a retomada do crescimento da economia.
"Quando foi combinada a devolução que nós fizemos de R$ 100 bilhões no ano passado pelo BNDES ao Tesouro, isso foi resultado de uma previsão de fluxo de caixa - onde se previa não só a existência daquele recurso do momento, mas os recursos que se acumulariam mais ou menos até essa época, atingindo um pico onde está hoje, de pouco acima de R$ 150 bilhões. Se não tivesse feito aquele pré-pagamento, estaríamos em R$ 250 bilhões", afirmou.
OBSESSÃO ECONÔMICA
A situação econômica parece ser a obsessão de Meirelles. O ministro chegou a Paris na última terça feira-feira, mesmo dia em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) começou a julgar a cassação da chapa Dilma-Temer. Apesar de ser um dos principais ministros do governo Temer, ele disse que tem mantido contato com o presidente, por telefone, mas que os dois não tocaram no assunto do julgamento.
"Conversei com Temer não sobre este tema do TSE, mas sobre a OCDE e a situação econômica".
A retomada da economia também parece apagar da mente do ministro a possibilidade de ser escolhido como o novo presidente caso Temer caia e haja eleição indireta para o cargo. Meirelles voltou a dizer nesta quinta que não se vê assumindo o país, apesar de ser forte candidato a ocupar o Planalto, segundo analistas.
"Pensar nesse tipo de coisa é perder tempo", disse.
Em Paris nos últimos dois dias, Henrique Meirelles participou da reunião ministerial da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e teve uma série de encontros bilaterais e com empresários na capital francesa. Nesta sexta-feira, Meirelles participa do Fórum Internacional América Latina e Caribe e se reúne com o ministro da Economia da França, Bruno Le Maire. Em seguida, ele retorna a Brasília.
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O SINDUSCON/RN tem o compromisso com a satisfação do cliente - a comunidade da construção civil do Rio Grande do Norte - representada por seus associados - priorizando a transparência na sua relação com a sociedade, atendimento aos requisitos, a responsabilidade socioeconômica, a preservação do meio ambiente e a melhoria contínua.