VALOR ECONÔMICO
Focus projeta para junho primeira deflação em 11 anos
Junho deve registrar a primeira deflação em 11 anos, se realizada a previsão dos analistas do mercado financeiro no relatório Focus, do Banco Central. Estimativas nesse sentido começaram a aparecer logo depois da divulgação do IPCA de maio, há duas semanas, e agora estão mais generalizadas. A mediana das projeções é de queda de 0,07%.
Seria o primeiro resultado negativo do indicador para qualquer mês desde junho de 2006, quando recuou 0,21%. Ao subir 0,31%, o IPCA de maio ficou bem abaixo do esperado, de 0,46%, e teve a menor taxa para o mês desde 2007. O resultado desencadeou uma série de revisões e, no Focus anterior, após o dado ser conhecido, a expectativa para o IPCA de junho saiu de alta de 0,20% para zero. Agora, virou deflação.
Os analistas Top 5 veem uma queda ainda mais pronunciada no mês, de 0,16%. Na semana anterior, a expectativa era de baixa de 0,11%. Para julho, esse grupo, o que mais acerta as previsões, cortou a projeção de 0,25% para 0,06%. A revisão do mercado em geral para o próximo mês é mais tímida e caiu de 0,25% para 0,23%.
O Focus mostra que as previsões para a inflação deste e do próximo ano também continuam a diminuir, distanciando¬-se ainda mais da meta de 4,5% perseguida pelo Banco Central. A expectativa para o IPCA de 2017 caiu de 3,71% para 3,64%, e a de 2018, de 4,37% para 4,33%. Entre os analistas Top 5 de médio prazo, as revisões foram de 3,51% para 3,50% e de 4,19% para 4,16%, respectivamente. Quanto aos juros, a expectativa para a Selic ao fim deste e do próximo ano permaneceu em 8,50%.
O Top 5 ajustou a aposta deste ano de 8,38% para 8,50%, mas manteve os 8% para o fim de 2018. Com relação à atividade econômica, o mercado reduziu pela segunda semana a projeção para o crescimento deste ano, de 0,41% para 0,40%. Para 2018, a projeção saiu de 2,30% para 2,20%. Esses números passaram a diminuir após a crise desencadeada pela delação de Joesley Batista, da JBS, envolvendo o presidente Michel Temer.
Para o segundo trimestre, os economistas já esperam queda, na comparação com o mesmo período do ano passado. A mediana das estimativas do Focus saiu de estabilidade para baixa de 0,2%. O relatório não tem estimativas para a série do PIB com ajuste sazonal. A expectativa de estabilidade para o período entre abril e junho vinha intacta desde meados de abril, mas recuou à medida que também cedeu a previsão para o PIB do ano.
No primeiro trimestre, o PIB aumentou 1% sobre o trimestre anterior, mas ainda recuou 0,4% ante o mesmo período em 2016. O aumento sobre o quarto trimestre foi muito concentrado na agropecuária, que cresceu 13,6%.
Mesmo antes da crise política, a avaliação dominante era de que haveria uma forte desaceleração no segundo trimestre, diante de uma contribuição ainda expressiva, mas menor, do setor agropecuário e maior chance de um recuo na indústria.
No Focus, embora o PIB agro tenha sido revisado para cima no segundo trimestre, de alta de 5,75% para 7,80%, o da indústria saiu de baixa de 0,64% para queda de 0,71% e o dos serviços ficou quase no mesmo lugar, de ¬0,70% para ¬0,69%.
Crise atrasa a volta do investimento, afirma Werlang
Ao dificultar a aprovação da reforma da Previdência, a nova crise política afeta a queda do juro de longo prazo e retarda a recuperação do investimento, avalia Sergio Werlang, ex-diretor de Política Econômica do Banco Central (BC). "Eu acreditava que, com uma boa reforma da Previdência, a taxa poderia chegar a 4%. Acho que agora 5% já virou piso. É daí para cima, infelizmente", diz Werlang, referindo-¬se ao juro de longo prazo, descontada a inflação.
O resultado é um crescimento menor, observa ele. Se antes via a possibilidade de o Produto Interno Bruto (PIB) avançar de 2% a 2,5% no ano que vem, há uma possibilidade de um número abaixo de 2%. "Se a reforma da Previdência não for aprovada, esse número pode ser bem menor. O problema todo é que o investimento continua sem puxar a economia. As pessoas estão com medo de investir", diz Werlang, hoje professor e assessor da presidência da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Para 2017, existe a possibilidade de um número negativo, mas, se ocorrer, será algo próximo de zero, avalia ele. Werlang destaca que "investimentos em projetos de longo prazo exigem estabilidade, e estabilidade exige equilíbrio fiscal". Sem mudanças no sistema de aposentadoria, o projeto que limita o crescimento dos gastos da União deixa de ser viável em poucos anos, segundo ele.
Na visão de Werlang, o Comitê de Política Monetária (Copom) agiu bem ao manter o ritmo de corte de juros em um ponto percentual na reunião de maio, e em não acelerá¬lo para 1,25 ponto. Para ele, há possivelmente espaço para mais duas reduções de 0,75 ponto percentual, o que levaria a Selic para 8,75% ao ano ¬ hoje, a taxa está em 10,25%.
Com uma inflação de 4% para os 12 meses seguintes, o juro real ficaria na casa de 4,6%, pouco mais de um ponto percentual abaixo da taxa das NTN¬Bs (títulos públicos corrigidos pelo IPCA) com vencimento em 2050, na casa de 5,7% ao ano. Com inflação abaixo da meta, o juro pode ficar por algum tempo abaixo da taxa de longo prazo (ou neutra, a que permite a economia crescer sem gerar pressões inflacionárias), diz Werlang, que não acredita haver terreno para a Selic recuar para a casa de 7% a 8%, como defendem alguns economistas.
"Diria que 8,75% já é um número forte." Cortes abaixo disso implicariam juro muito abaixo da taxa neutra. Um dos responsáveis pela implementação do regime de metas de inflação, em 1999, Werlang diz ser contra a redução do alvo a ser perseguido pelo BC em 2019, para 4,25% ¬ segundo a jornalista Claudia Safatle, colunista e diretora adjunta de redação do Valor, o Conselho Monetário Nacional (CMN) tomará essa decisão na reunião do dia 29.
Para Werlang, o ideal é manter a meta em 4,5%, nível que vigora desde 2005. Ele considera esse número adequado para o Brasil, um país que tem muitas despesas fixas nominalmente, como o salário dos funcionários públicos.
"Nós temos um problema fiscal enorme, que precisa ser resolvido. E esse problema fiscal enorme é resolvido mais facilmente com um pouquinho mais de inflação", diz ele. Com isso, é possível diminuir um pouco mais rapidamente em termos reais despesas como os salários dos servidores, segundo Werlang.
A seguir, os principais trechos da entrevista.
Valor: O PIB do primeiro trimestre cresceu 1%, mas a expansão foi muito concentrada na agropecuária. O que o resultado diz sobre a economia brasileira?
Sergio Werlang: Já se esperava que o resultado mostrasse um número relativamente elevado e que seria muito concentrado na agropecuária. Um pouco da surpresa, para mim, é que houve crescimento também da indústria. Isso eu achei bom. É o que era esperado, e representa simplesmente o fato de que o Brasil de fato está começando a se recuperar. Mas não era claro, mesmo se não tivessem ocorrido os eventos políticos recentes, que o segundo trimestre seria positivo. Poderia ser até ligeiramente negativo, mas isso não significaria que a recuperação não começou. No entanto, por causa dos problemas políticos, nós estamos com uma dificuldade muito grande de aprovação da principal reforma necessária, que é a da Previdência. Acho até que a trabalhista vai passar, o que já será bom, mas a previdenciária é necessária para que a PEC do teto de gastos possa ser colocada para trabalhar de verdade daqui a uns três anos. Eu sei que é chover no molhado, mas é verdade. Não adianta inventar outra coisa, porque é isso o que está no cerne do problema.
Valor: Qual é o impacto do atraso em se aprovar a reforma da Previdência?
Werlang: Como a reforma da Previdência está demorando, os investimentos que estavam começando a ocorrer com mais rapidez, com mais vontade, vão esperar um pouco mais. Investimentos em projetos de longo prazo exigem estabilidade, e estabilidade exige equilíbrio fiscal. Não é possível fazer investimentos de longo prazo numa economia em que a relação dívida/PIB não tem uma trajetória clara de pelo menos parar de crescer e, em algum momento, começar a voltar para o que era.
Valor: Quais devem ser outros efeitos do adiamento ou não aprovação da reforma da Previdência?
Werlang: Há vários impactos importantes. O primeiro é que a taxa de juros de longo prazo não vai cair tanto quanto deveria cair. Vai continuar um juro real mais alto. Haverá maior necessidade de financiamento no futuro, maior necessidade de caixa do Tesouro no futuro e, portanto, juro maior do que seria necessário de outro modo. Nós estávamos com os juros das NTN¬Bs chegando na faixa de 5%. Eu acreditava que, com uma boa reforma da Previdência, a taxa poderia chegar a 4%. Acho que agora 5% já virou piso. É daí para cima, infelizmente. A NTN¬B de 2050 está com juro por volta de 5,7%. Com isso, a taxa de juros não pode cair demais. Você pode até ter a Selic caindo um pouco mais agora, porque a inflação está muito baixa. Mas, no médio prazo, se continuar como está, vai ter que voltar a subir, porque a taxa de juros de longo prazo está nessa faixa de 5,7%.
Valor: A redução estrutural da taxa de longo prazo é prejudicada pelo adiamento ou pela não votação da reforma da Previdência.
Werlang: Exatamente. Enquanto antes estava com cara de que essa taxa poderia cair para 4%, agora parece que não cai abaixo de 5%. Essa é a principal consequência. E isso quer dizer o quê? Crescimento menor.
Valor: Muitos bancos e consultorias revisaram o PIB de 2017 e de 2018 para baixo. Podemos ter mais um ano de PIB negativo?
Werlang: Possível é, mas se for negativo será muito próximo do zero. Está dentro do erro de previsão do número. Se for negativo, o que acho que pode ocorrer, é como se fosse zero estatisticamente. Do mesmo modo, se for positivo, um crescimento de 0,3%, é zero estatisticamente. Um número até 0,5% em 2017 é o que estava na minha cabeça no começo do ano. Mas, para 2018, já era bem mais, era algo como 2%, 2,5%, era um número bem mais forte. Se a reforma da Previdência não for aprovada, esse número pode ser bem menor. O problema todo é que o investimento continua sem puxar a bem menor. O problema todo é que o investimento continua sem puxar a economia. As pessoas estão com medo de investir. As pessoas tendem a atrasar o investimento não apenas porque o juro real está mais alto, mas também porque há mais incerteza na economia.
Valor: Dadas as denúncias contra o presidente Michel Temer, ele deve ficar ou sair do governo?
Werlang: Eu entendo da área de economia, eu não entendo da área de política. Eu prefiro não dar opinião sobre o assunto. O que eu posso comentar é o efeito da permanência de Temer.
Valor: E qual é esse efeito?
Werlang: A permanência dele dificulta a aprovação de medidas que são importantes, como a reforma da Previdência. Ele vai ter necessidade de lidar com outros assuntos que não as reformas. São muitos assuntos simultâneos, e eles vão tirar o foco das reformas. Valor: Então seria melhor, do ponto de vista do andamento das reformas, a saída de Temer? Werlang: Sinceramente, eu não sei, porque não sei quais seriam as alternativas para presidente a ser eleito indiretamente. Eu não tenho certeza se ele sair aceleraria as reformas ou não. Dependeria de quem e com qual coalizão essa pessoa escolhida indiretamente chegaria lá.
Valor: O BC vinha cortando os juros e se cogitava uma aceleração do ritmo dos cortes para 1,25 ponto na reunião de maio. Com a crise política, o BC preferiu manter o ritmo de um ponto e indicou que pode reduzi¬-lo para 0,75 ponto. Ele agiu corretamente, mesmo com a atividade fraca e a inflação abaixo da meta?
Werlang: Acho que sim. Foi uma decisão muito acertada. Não foi um excesso de preciosismo. A cautela era necessária. A taxa de juro de longo prazo não caiu. O BC pode até cortar a Selic abaixo da taxa de juro de longo prazo. Se ele fizer dois cortes de 0,75 ponto percentual, o número final já vai estar abaixo da taxa de longo prazo. Valor: O que o Copom deve fazer daqui para frente? Werlang: Acho que ele deve cortar 0,75 ponto e deixar a possibilidade de cortar talvez mais 0,5 ou 0,75 ponto na próxima, mas não muito mais do que isso. Dá para ficar um pouco abaixo da taxa de longo prazo? Dá, porque nós estamos com a inflação abaixo da meta. Mas, na hora que começar a rodar mais próxima de 4,5%, ele vai ter que elevar de novo, para evitar que a inflação continue subindo.
Valor: Há quem diga que os juros podem cair muito para ficar bem abaixo da taxa neutra, ou da taxa de longo prazo. Não é bem assim?
Werlang: Bem abaixo eu não sei, mas abaixo eu até entendo que possa ficar no curto prazo, sei lá quanto tempo a economia vai demorar para reagir, seis meses, talvez um pouco mais. Acho que pode ficar abaixo da taxa neutra, mas não se pode ficar muito abaixo.
Valor: Na sua cabeça, a Selic poderia cair até 8,75%, 8,5%?
Werlang: Eu diria que 8,75% já é um número forte, mas poderia chegar lá, porque a inflação está bem abaixo da meta. Eu faria dois cortes de 0,75 ponto e pararia aí [em 8,75%]. Nós estaríamos com a taxa real de curto prazo abaixo da taxa neutra. Uma Selic de 8,75%, comparada com uma inflação de 4% para os 12 meses seguintes, dá um juro real de 4,6%. Isso é mais de ponto percentual abaixo do 5,7% da taxa de longo prazo. Está de bom tamanho. É claro que, se a economia estiver demorando muito a reagir, a taxa possa cair ainda mais.
Valor: O sr. acha que ele demorou muito para começar a cortar a Selic?
Werlang: Ele poderia ter começado uma reunião do Copom antes. Mas nós estamos falando de pouca coisa. Ele não está muito atrás da curva. Se tanto, 0,25 ponto e olhe lá. O ritmo que o BC impôs está bastante adequado.
Valor: O CMN deve reduzir a meta de inflação de 2019 para 4,25% na reunião do dia 29. É uma boa ideia?
Werlang: Eu não acho uma boa ideia, não. Eu já escrevi vários artigos sobre isso e repito. A ideia de baixar a meta de inflação, que está na cabeça de muita gente, é que um número mais próximo de 3%, mais ou menos a média da meta dos emergentes, é melhor do que 4,5%. Mas eu discordo profundamente desse raciocínio para o caso brasileiro.
Valor: Por quê?
Werlang: No caso brasileiro, o grande problema é fiscal. Nós temos um problema fiscal enorme, que precisa ser resolvido. E esse problema fiscal enorme é resolvido mais facilmente com um pouquinho mais de inflação. Tipicamente, o que é o nosso problema fiscal? Há muitas despesas fixas nominalmente, como salários do funcionalismo. É um exemplo, mas há outras que são fixas nominalmente. Você precisa ter um pouquinho mais de inflação para que, em termos reais, se consiga diminuir essas despesas um pouco mais rapidamente. Mas tem que ser pouca coisa, por um motivo muito simples.
Valor: Qual motivo?
Werlang: Você não consegue ficar com uma inflação de 10% estável em lugar nenhum do mundo. Isso causa uma instabilidade danada. Mas com 4%, 4,5%, 5%, nós já ficamos por muito tempo. Isso mostra que nós conseguimos ter um número próximo desses sem que a inflação comece a subir de novo, sem que comece a haver uma cascata de reajustes. Então nós temos que ter uma meta de inflação um pouco superior a de outros países do mundo enquanto nós tivermos essa rigidez institucional de gastos. Acho que 4,5% é um número que já está bom. Nós precisamos que essas despesas sejam diminuídas em termos reais.
Valor: Mesmo um corte pequeno, para 4,25%, seria uma má ideia?
Werlang: Acho que seria um sinal ruim, porque é um sinal de que você está querendo diminuir a meta. Na verdade, nós não podemos reduzir a meta enquanto não resolvermos a parte fiscal, enquanto não arrumar essa institucionalidade. No Brasil, é proibido cortar salário nominal. Vamos ser objetivos. Como é que foi feito o ajuste em Portugal, na Espanha e na Irlanda? Foi feito com corte de salários. A vida continuou e equilibrou o governo. Nós não podemos fazer isso aqui. Se não pode fazer isso, estruturalmente a inflação tem que ser maior do que nesses outros países que têm essa possibilidade.
Valor: Qual é a sua preocupação com a situação fiscal? A dívida bruta deve continuar a subir com força nos próximos anos.
Werlang: É grande. Por causa disso, é fundamental aprovar a reforma da Previdência. Mas, se a trajetória da dívida mostrar que o endividamento vai subir e depois cair, não há problema. A questão é que para isso é necessário ter tranquilidade de que as instituições estão funcionando, de que fiscalmente nós teremos espaço para retomar aos poucos os superávits primários maiores, para gerar esse excesso e fazer cair a relação entre a dívida bruta e o PIB.
Valor: Se ficar a expectativa de que não vai aprovar a reforma da Previdência, pode haver uma correção, um aumento do risco e um câmbio mais desvalorizado?
Werlang: Pode sim. Mas, se continuarem com as privatizações, se continuarem acertando várias legislações nos diversos setores que ainda precisam ser consertados ¬ é preciso mudar a lei do gás, por exemplo ¬ se continuarem com as concessões e PPPs, se aprovarem uma reforma trabalhista, talvez isso nos ajude a chegar no ano que vem com menos dano na economia, embora nada substitua o ponto fulcral que é a reforma da Previdência. Nesse cenário, desde que todas as outras coisas tenham sido aprovadas, a economia talvez consiga chegar no ano que vem com um crescimento esperado na faixa de 1% a 1,5%, mesmo sem aprovar uma reforma da Previdência.
Caixa suspende de novo linha mais barata de financiamento de imóveis
A Caixa Econômica suspendeu pela segunda vez, em menos de dois meses, o Programa Especial de Crédito Habitacional ao Cotista do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (Pró-Cotista), linha de financiamento que oferece juros reduzidos para trabalhadores titulares de contas vinculadas do FGTS.
As contratações de novas operações nessa linha de crédito estão suspensas, em “razão do comprometimento total do orçamento disponibilizado pelo Conselho Curador do FGTS para o exercício de 2017”, segundo o banco.
No dia 26 de abril, o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, antecipou que a Caixa havia suspendido o programa devido à falta de saldo no orçamento para essa linha. Em 9 de maio, o Ministério das Cidades publicou um ato remanejando R$ 2,54 bilhões do orçamento do FGTS para o Pró¬Cotista, elevando de R$ 5 bilhões para R$ 7,54 bilhões o montante total disponível em 2017, o que permitiu a retomada dos financiamentos.
O aporte do FGTS foi proposto pela própria Caixa Econômica, agente operador do FGTS, a partir da necessidade de ajustar a distribuição original de recursos à demanda na área de habitação. Gerentes ouvidos pelo Valor PRO informaram que receberam comunicado interno no início da semana passada a respeito da nova suspensão da linha.
Segundo eles, serão autorizados apenas contratos assinados até 31 de junho e de clientes que já estavam com proposta de financiamento em andamento. A Caixa, que empresta esses recursos diretamente e por meio de bancos privados, afirmou que não há previsão de novos aportes para a linha.
O Valor PRO procurou o Ministério das Cidades e aguarda resposta sobre o assunto. Em abril, a Caixa negou que a suspensão da linha de crédito tivesse ligação com os saques e informou que o orçamento do Pró¬Cotista era decidido de forma técnica e aprovado pelo conselho curador do FGTS.
Nesta segunda-feira, a Caixa não respondeu a novos questionamentos sobre o assunto. A linha Pró¬Cotista financia a aquisição de imóveis de até R$ 950 mil no Distrito Federal e nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais e de até R$ 800 mil em outros Estados. Para não correntistas da Caixa, a taxa de juro da linha Pró¬Cotista gira em torno de 8,6% ao ano. Na chamada taxa de balcão, para não clientes e sem o uso do FGTS, esses juros sobem para cerca de 10,5% ao ano.
Depois do programa Minha Casa, Minha Vida, essa é a linha de financiamento mais barata disponível no mercado. Entre os requisitos para ter acesso ao Pró¬Cotista, o trabalhador deve possuir, no mínimo, três anos de trabalho sob o regime do FGTS, consecutivos ou não, na mesma empresa ou em diferentes empresas.
FT: Brasil é ‘House of Cards’ sob efeito de ácido, diz diretor do BTG
O escândalo de corrupção na Petrobras, o maior já registrado no Brasil, ajudou a derrubar um presidente, ameaça um segundo, afetou os lucros de empresas que vão do Reino Unido aos Estados Unidos, e levou a várias prisões. Ele também tragou André Esteves, o banqueiro bilionário fundador do BTG Pactual, que foi preso em 2015 sob alegações de que teria tentado obstruir uma investigação sobre o pagamento de propinas na estatal de petróleo. As ações do BTG – antes tido como o “Goldman Sachs dos trópicos” – continuaram caindo depois de sua prisão e recuaram quase 60% em relação a seu pico. Houve uma liquidação de ativos que incluíram portfólios de crédito e seu braço suíço de private banking, enquanto clientes corriam para a porta de saída.
Os ativos do fundo de hedge do BTG caíram 97%, de US$ 5 bilhões para US$ 150 milhões, e seu fundo mútuo perdeu quase metade dos ativos. Steve Jacobs, executivo¬chefe da divisão de gestão de ativos do BTG Pactual e um dos dez membros do comitê executivo da instituição, diz que o Brasil é como “House of Cards numa viagem de ácido”, numa referência à série de TV famosa por suas sensacionais reviravoltas.
O ex-¬banqueiro do UBS pode ser perdoado por querer uma vida mais tranquila. Decorrido mais de um ano e meio da prisão de Esteves, o executivo¬chefe ainda está sob investigação. Mas Jacobs, que jantou com Esteves em maio, durante uma passagem pelo Brasil, diz que seu ex¬chefe e amigo está confiante de que conseguirá limpar seu nome.
Os dois se conheceram na metade dos anos 2000, quando Esteves era o executivo¬chefe do Banco Pactual e Jacobs, juntamente com Huw Jenkins, hoje vice¬presidente do conselho de administração do BTG, lideravam uma operação no UBS para adquirir o banco brasileiro. Com a crise financeira em 2009, Esteves – que havia saído do UBS em 2008 para criar o BTG – comprou de volta o Pactual do banco suíço e convenceu Jacobs a entrar para a instituição para comandar a expansão de sua área de gestão de ativos. “Ele é um amigo próximo e tenho muita esperança de que acabará sendo totalmente inocentado. Mas isso é um desvio para o BTG”, afirma Jacobs.
O executivo baseado em Londres tem voltado suas atenções para os esforços de reconstrução do negócio após o que Jacobs descreve como “nosso evento corporativo”. Vestido de modo casual, com uma camisa azul aberta no pescoço, Jacobs está de bom humor e otimista com o futuro da instituição, apesar das turbulências incessantes no Brasil. Após a prisão de Esteves, a instituição implementou uma série de reformas, como a cisão da função de executivo¬chefe e presidente do conselho.
Jacobs também reorganizou o braço de gestão de ativos, incluindo a eliminação da equipe de crédito de sua operação com fundos de hedge, por causa de preocupações com a liquidez. Há planos para o lançamento de vários fundos. A casa de investimentos gerencia US$ 37 bilhões, número que chegou a US$ 50 bilhões antes de Esteves ser preso.
Em especial, o BTG vem tentando desenvolver seu braço de ativos reais, que inclui florestas, propriedades e agricultura, num esforço para atrair investidores em busca de rendimentos regulares. Este mês, o Timberland Investment Group, que gerencia US$ 3 bilhões em ativos , liderou um consórcio na compra de 120.000 hectares de floresta no Uruguai, além de uma unidade industrial.
O BTG também vem tentando reconstruir sua unidade de fundos de hedge. Os ativos de seu principal fundo cresceram de US$ 150 milhões para US$ 900 milhões, com outros US$ 300 milhões devendo ser captados nos próximos dois meses, segundo Jacobs. Os ativos totais dos fundos de hedge estão hoje em torno de US$ 1,8 bilhão.
Numa sala de reuniões do escritório do BTG na sofisticada Berkeley Square, em Londres, Jacobs não demonstra sinais de aborrecimento quando perguntado se as dificuldades de Esteves afetaram a companhia ou se isso continua afastando os investidores. Dando de ombros, ele diz que a questão da prisão de Esteves pesou bastante em 2016, mas a maioria dos investidores seguiu em frente. “Literalmente, isso não é mais um problema hoje”, acrescenta.
Ele rebate rapidamente as preocupações de que os acontecimentos recentes no Brasil possam afugentar novamente os investidores. O mercado de ações brasileiro caiu mais de 10% em um único dia no mês passado, após o presidente Michel Temer, empossado para estabilizar o Brasil na esteira dos escândalos políticos e corporativos de 2015¬16, ser pego em uma gravação supostamente apoiando o pagamento de propinas. “Ninguém esperava o que aconteceu com Temer”, diz Jacobs, que correu para o Brasil para uma reunião com todos os sócios¬gerentes dos BTG no mês passado, com o estouro do escândalo. “É difícil negociar nesses mercados. Ninguém quer mercados emotivos e que mudam rápido demais.”
Em maio, o BTG ¬ juntamente com 37 outras instituições financeiras brasileiras ¬ foi colocado sob perspectiva negativa pela agência Standard & Poor’s (S&P) – o que significa que suas classificações de crédito correm o risco de ser rebaixadas ¬, em razão das preocupações com o cenário econômico do país. Mesmo assim, Jacobs diz que os problemas que o Brasil enfrenta “não aparecem nas conversas” com a maioria de seus clientes de gestão de ativos. “Quanto às ações e renda fixa no Brasil, os investidores estão cautelosos.
Por causa do turbilhão político e econômico no país, há cautela em relação aos mercados locais”, afirma ele. “Mas quando os clientes olham para o investimento em um fundo de hedge global que tem 80% de suas aplicações bem longe do Brasil, ou no negócio da produção de madeira, ou em outras partes de nosso negócio, não há problemas.” Apesar disso, ele acredita que Temer continuará no poder para conduzir a reorganização que o Brasil precisa alcançar, depois da pior recessão de sua história.
O presidente iniciou uma série de reformas, especialmente a trabalhista e a da Previdência, que são vistas como vitais para a retomada da economia. Temer fez várias nomeações para o Banco Central, ao mesmo tempo em que a inflação e as taxas de juros começaram a cair. O mercado de ações brasileiro também se recuperou bem em 2016 – avançando quase 39%. “Há uma sensação real de que uma recuperação começou a ocorrer”, diz Jacobs.
Porém, há grandes interrogações sobre o futuro do país. Jacobs acrescenta: “Parece haver uma sensação de que Temer poderá se manter no cargo, o que provavelmente será bom para o Brasil. Se ele sobreviver, provavelmente será o homem que continuará conduzindo essas reformas muito importantes, quase críticas”. No Brasil, diz Jacobs, tudo é sempre “diversão e entretenimento”.
Ilan reforça ideia de continuidade do ciclo de corte da Selic
O presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, transmitiu a ideia de continuidade do ciclo de corte de juros em discurso a investidores e em entrevista concedida ontem ao próprio BC. A discussão é sobre ritmo e até que ponto a Selic pode cair. A taxa básica está em 10,25% ao ano, vindo de 14,25% em outubro de 2016, início do atual ciclo de distensão monetária. "O que se discute hoje não é mais se a inflação está alta, ou como devemos conduzir a taxa básica de juros da economia.
Mas a velocidade e a extensão da redução da Selic", disse Ilan na entrevista para marcar seu primeiro ano à frente da instituição. A investidores em São Paulo, Ilan apontou que com expectativas de inflação ancoradas, projeções de inflação em torno da meta para 2018 e um pouco abaixo disso para 2017, e elevado grau de ociosidade na economia, "o cenário prescreve a continuidade do ciclo de distensão da política monetária, já considerando os atuais riscos em torno do cenário e as estimativas de extensão do ciclo".
Ilan voltou a falar que na última reunião, em 31 de maio, o Comitê de Política Monetária (Copom) entendeu que uma redução moderada do ritmo de flexibilização deve se mostrar adequada em sua próxima reunião. O corte em maio foi de 1 ponto percentual e o mercado entendeu, antes mesmo da reunião passada, que o BC optaria por um ritmo menor de ajuste, de 0,75 ponto, no encontro de julho.
Ilan também chamou atenção, mais de uma vez, para o fato de que o ritmo de flexibilização continuará dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos, de possíveis reavaliações da estimativa da extensão do ciclo e das projeções e expectativas de inflação. São essas condicionantes que não tiram completamente do horizonte a possibilidade de, até o fim de julho, o BC ter condições de acenar mais claramente que poderá dar continuidade à redução em passos de 1 ponto percentual.
O ritmo é forte, pois considerando que são oito reuniões por ano, seriam 8 pontos a menos de juros por ano. Até a delação dos controladores da JBS em 17 de maio, o BC vinha acenando a aceleração do ritmo. O presidente do BC reafirmou a importância do andamento das reformas e o impacto sobre as estimativas para o juro estrutural, que permite o máximo de crescimento com inflação na meta. "É o que dizíamos há um ano: se tivermos ajustes, se as questões fiscais e de produtividade passarem, se as reformas trabalhista e da Previdência saírem, as incertezas sobre a economia diminuem e o juro neutro estrutural tende a cair", disse.
A queda do juro neutro ¬ variável não observável ¬ afeta a política monetária. "Seria determinante para a avaliação que fazemos sobre o ritmo ideal de queda da taxa básica de juros", disse Ilan. Aos investidores, ele reforçou que o principal risco no cenário¬base é o aumento da incerteza sobre a velocidade do processo de reformas e de ajustes na economia.
O presidente também explicou que é importante acompanhar os possíveis impactos desse aumento de incerteza recente sobre a trajetória prospectiva da inflação. Segundo Ilan, a manutenção, por tempo prolongado, de níveis de incerteza elevados pode ter impacto negativo sobre a atividade econômica e, portanto, desinflacionário.
Por outro lado, ponderou, o impacto da incerteza sobre a formação de preços e sobre as estimativas da taxa de juros estrutural pode ter efeito oposto. Ilan citou ainda uma terceira possibilidade, a de que os efeitos acima se anulem e a trajetória prospectiva seja equivalente à trajetória vigente anteriormente.
A conclusão do presidente é de que, de forma geral, as projeções condicionais do Copom hoje envolvem maior grau de incerteza. O que Ilan está fazendo é comunicar ao mercado de forma clara que houve uma piora de quadro que recomendaria rever o ritmo e, no limite, o orçamento de cortes da Selic, mas pondera que não há ainda definição. "O Banco Central tem comunicado a racionalidade econômica que guia suas decisões, explicitando as condicionalidades que determinam a evolução da política monetária. Isso contribui para aumentar a transparência e melhorar a comunicação do Copom."
Ilan também reforçou que o BC não vai reagir a choques primários de preços, sejam eles favoráveis ou desfavoráveis, e que a flexibilidade do regime de metas para a inflação permite adequar a política monetária aos possíveis cenários prospectivos. Também foi reforçada a ideia de que não há relação direta e mecânica entre o aumento de incerteza e a política monetária. No lado das expectativas, a nova rodada da crise política não afetou a avaliação do mercado.
A pesquisa Focus mostrou ontem IPCA de 3,64% neste ano e de 4,33% para 2018, abaixo da meta de 4,5%. Para 2019 até 2021, a mediana é de 4,25%, com o mercado embutindo uma redução da meta para 2019, que será definida na próxima semana pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Já as projeções mais recentes do BC, considerando Selic de 8,5% no fim deste e do próximo ano mostram IPCA de 4% em 2017 e ao redor de 4,6% para 2018. Ilan também disse aos investidores que o Brasil tem amortecedores robustos e, por isso, está menos vulnerável a choques internos ou externos.
Ele defendeu o modelo de câmbio flutuante, como primeira linha de defesa contra choques externos, mas apontou que isso não impede o BC de usar os instrumentos para garantir o bom funcionamento e suavizar choques no câmbio. Ele também chamou atenção para as reservas internacionais de R$ 375 bilhões, que funcionam como um seguro em momentos de instabilidade nos mercados.
Indicadores de maio sinalizam economia ainda resistente à crise
A crise política desencadeada pelas delações da JBS é considerada um risco, mas parece não ter afetado ainda o desempenho da economia, ao menos até maio. Indicadores antecedentes já divulgados para o período tiveram comportamento positivo, e associações empresariais ouvidas pelo Valor relatam que não sentiram impacto relevante nos negócios.
Segundo economistas, a piora do ambiente político deve afetar negativamente as expectativas e, consequentemente, setores mais ligados aos investimentos. Por outro lado, comércio e serviços, mais dependentes de renda e crédito, seguem respondendo à melhora dos fundamentos, como redução de juros e inflação em baixa.
O efeito da crise política sobre a atividade deve ficar mais claro a partir de junho e será maior nos investimentos e na indústria, na avaliação de Bruno Levi, economista da Tendências Consultoria. A Tendências estima que o PIB tenha recuado 0,3% entre o primeiro e o segundo trimestres, feitos os ajustes sazonais, previsão que não foi alterada após o vazamento dos áudios. "Já esperávamos um segundo trimestre mais fraco, por conta da influência da agropecuária, que não deve se repetir", disse.
A partir dos indicadores antecedentes já conhecidos para maio, o economista João Morais, também da Tendências, avalia que a piora do ambiente político não teve impacto sobre a atividade no mês. Com ajuste sazonal da consultoria, a produção de veículos subiu 9% em relação a abril, enquanto as vendas aumentaram 2,2%. Outros índices positivos foram as vendas de papelão ondulado (alta de 2,4%), o fluxo de veículos pesados (2,7%) e as consultas ao SPC (0,6%).
No caso do consumo, a melhora dos fundamentos desde o fim de 2016 deve amortecer o impacto da crise, avalia Morais. Com o cenário político mais incerto, os segmentos da atividade que serão mais afetados são os relacionados à Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). Após as delações, a Tendências reviu a previsão para o desempenho dos investimentos no PIB em 2017, de alta de 2% para queda de 1%. A expectativa de expansão para 2018 foi reduzida, de 9,2% para 6,8%.
O mês de maio foi bastante positivo para as vendas de papelão ondulado e o setor não sentiu nenhum efeito prático da crise política sobre os negócios, segundo Sérgio Ribas, diretor da Associação Brasileira de Papelão Ondulado (ABPO). "Isso vem se prolongando há tanto tempo que a economia começa a não dar muita bola para a política", comenta. Sobre maio do ano passado, as expedições de caixas, acessórios e chapas subiram 5,78%, para 287,361 mil toneladas, resultado considerado bastante positivo por Ribas.
Essa mesma dinâmica vem se mantendo em junho, diz, e a expectativa para o segundo trimestre é de crescimento sobre igual período de 2016, ainda que em ritmo mais fraco do que o observado no primeiro trimestre (5,1%).
"A sensação que temos é que a economia está tendo sua própria dinâmica, em função da queda da taxa de juros e da inflação", afirma o diretor da ABPO, que mantém a estimativa de crescimento para 2017 entre 2% e 2,5%. No setor de aços planos, os números referentes a maio devem ser divulgados hoje, mas a percepção é que o mês passado foi melhor do que abril, quando as vendas caíram 13,2% ante igual mês do ano anterior. "A crise reverteu um pouco o entusiasmo com o PIB do primeiro trimestre", diz Carlos Loureiro, presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda).
Mesmo assim, afirma, há outros aspectos positivos, como o desempenho das exportações e a demanda do setor de máquinas agrícolas. Ele prevê vendas estáveis em relação ao primeiro trimestre. Para Mauricio Oreng, economista¬chefe do Rabobank, a crise política colocou o viés de alta que ele tinha para a atividade neste ano em patamar "mais neutro". Ele calculava que o PIB ficaria estável em 2017, mas "era mais fácil ser um crescimento de 0,2% do que uma queda de 0,2%". Agora, a tendência de estabilidade ganhou força. "A crise política é algo que pesa", diz. Oreng se surpreendeu positivamente com a relativa calma apresentada por ativos como câmbio e Ibovespa em um mês de crise política.
Entretanto, diz, um prolongamento das turbulências pode contaminar tanto esses ativos quanto a confiança de empresários e consumidores, além das expectativas de inflação, principalmente se a reforma da Previdência for descaracterizada ou avançar lentamente. "Sem a reforma, a solvência do setor público a médio e longo prazo já não fica tão clara", afirma. Por enquanto, sem a solução ou o agravamento da crise, Oreng optou por não rever as demais expectativas para este ou o próximo ano.
Ele calcula, por exemplo, que o PIB terá alta de 2,5% em 2018 e que a Selic acaba 2017 em 8,5%. "Está tudo muito incerto ainda. Eu não consigo enxergar um palmo à frente dessa situação política", diz. No setor de produtos eletroeletrônicos, o cenário também é de expectativa. "É prematuro falar em redução de encomendas. Isso ainda não foi mensurado pelo setor", comenta Lourival Kiçula, presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros). "A atividade econômica do setor teve ligeira melhora", afirma. Em maio, o indicador da própria Eletros que mede a corrente de comércio do setor chegou a 113,9 pontos, o patamar mais alto em 11 meses.
"Mas há instabilidade nos indicadores de utilização da capacidade instalada, investimentos e perspectivas sobre os negócios nos próximos meses", diz o executivo. Entre as empresas associadas, 17,2% afirmaram que viram em maio melhora da capacidade instalada (contra 24,1% em abril) e 10,3% viram piora (contra 6,9% no mês anterior). Já o número das que esperam melhora dos investimentos em tecnologia saltou de 10,3% para 24,1%.
Para 20,7% das companhias haverá piora das perspectivas do país nos próximos meses (3,5% em abril). Kiçula vê como algo positivo para o setor a queda dos juros, mas afirma que o fator que definirá "o movimento de retomada do varejo também é o ambiente político e de reformas". Também na visão da equipe econômica do Banco Votorantim, o impasse político aparentemente ainda não impactou de maneira relevante a atividade econômica.
"Embora ainda não tenham sido divulgados indicadores econômicos que possam capturar eventuais efeitos da crise política, o sentimento dos investidores ¬ refletidos no mercado financeiro ¬ continua positivo e sugere que os impactos sobre os dados de atividade podem ser moderados", diz o texto. "Até o momento, o efeito mais importante da crise parece ter sido o de frear o crescente otimismo com a economia, influenciando marginalmente o consenso em relação às projeções para PIB, câmbio e taxa de juros."
Isso pode mudar principalmente se a eventual perda de governabilidade de Temer e de sua equipe atrapalhar a aprovação de "uma reforma relevante da Previdência", o que influenciaria "expectativas fiscais" e deixaria o país "mais vulnerável a choques internos e externos". O banco espera alta de 0,5% do PIB neste ano e de 2,4% no ano que vem, com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subindo, respectivamente, 3,7% e 4,5%.
Governo já estima ritmo menor de expansão no 4º tri
Em meio às incertezas geradas pela crise política, as projeções de crescimento econômico do governo também começaram a ser impactadas. O Valor apurou que, na semana passada, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse em uma das diversas teleconferências das quais tem participado com investidores que o ritmo de expansão da economia chegaria a 2,2% no quarto trimestre deste ano, na comparação com igual período de 2016.
O dado é inferior aos 2,7% que o ministro vinha mencionando em público e até em outras conferências e aumenta o risco de revisão para baixo na estimativa oficial de 0,5% de alta do PIB neste ano. Desde que a crise política se agudizou, em 17 de maio, a equipe econômica do governo tem reforçado seu diálogo com o mercado financeiro, em especial com investidores internacionais.
Somente Meirelles participou de sete reuniões com investidores, uma delas na viagem que fez à França há duas semanas, onde também teve um encontro com um representante de uma das maiores gestoras de recursos do mundo, a Pimco. Outros integrantes da equipe econômica também têm tido encontros com investidores com elevada frequência desde o estouro da crise política.
Apesar da redução na expectativa de ritmo de crescimento no fim do ano, a mensagem central transmitida ao mercado é de que a política econômica continua na mesma direção; que a agenda de reformas segue adiante, apesar de alguns atrasos, e que a economia está em trajetória de recuperação e seguirá acelerando. A estratégia de intensificar as conversas com investidores, segundo uma fonte da equipe econômica, se deve à maior demanda desses agentes por informações sobre o Brasil.
Isto, explica esse interlocutor, reflete, de um lado, maior interesse dos investidores pelo país e, de outro, a busca de informações sobre a crise política e seus impactos sobre a agenda econômica. "O mercado está interessado no Brasil, tem interesse concreto de investir no país. Além disso, quer saber sobre o andamento das reformas e o impacto da crise política nesse cronograma", disse.
Na visão desse interlocutor, a estratégia está dando resultados, tanto que os preços de ativos têm oscilado relativamente pouco depois do primeiro dia de alta volatilidade na crise. "Acho que o mercado está reagindo bem a esta situação, porque leva a sério nossa posição sobre as reformas e sobre a continuidade da orientação de política econômica. Se houvesse dúvida sobre isso, o comportamento seria outro, mais volátil e com taxas piores", afirmou.
Outra preocupação que tem sido levada ao governo nessas conversas com investidores é sobre o impacto da crise no crescimento. Mesmo com o governo vendo ritmo um pouco menos intenso no fim do ano, o cenário ainda é colocado como favorável. "É normal que ao longo do ano os dados sejam reajustados", diz a fonte. Os dados recentes relativos ao mês de abril, como varejo e serviços, surpreenderam positivamente e estão sendo utilizados pela equipe econômica para reforçar o discurso sobre o cenário de recuperação em curso.
Apesar de ver uma desaceleração no segundo trimestre, os técnicos do governo ainda vêm um resultado positivo no período e não uma queda, como apontam alguns analistas. O ritmo menor esperado para o último trimestre do ano matematicamente aponta para uma queda na projeção de 0,5% de crescimento do PIB para o ano.
Esta alteração, contudo, só será feita na próxima revisão de projeção que está prevista para daqui um mês, no relatório bimestral. Como os números projetados têm oscilado muito a cada semana, a possibilidade de redução na estimativa do ano, que no mercado já caiu para 0,4% e ainda segue sendo revista, é admitida na equipe econômica, mas com a ressalva que daqui a um mês o cenário pode permitir a manutenção do número atual.
Uma revisão para baixo, ainda que pequena, pode implicar piora na projeção de receitas administradas, reforçando a necessidade do governo de contar com recursos extraordinários não só para fechar suas contas, mas para reduzir o corte de gastos.
Inflação baixa neste ano beneficia projeções para 2018
A diferença entre as projeções do mercado para a inflação medida pelo IPCA em 2017 e 2018 se deve mais a um comportamento positivo dos preços este ano que a um risco de aumento de pressão no ano que vem. Além disso, a inflação de 2017 mostra efeitos benéficos sobre as expectativas para 2018, que seguem em queda e abaixo da meta. A análise é do superintendenteadjunto de inflação do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre¬FGV).
Segundo ele, a alimentação deu contribuição favorável, mas não única, para os baixos índices neste ano. "O principal motivo [para a diferença entre as projeções de 2017 e 2018] é que a inflação baixou muito por causa da alimentação. Mas não foi só isso. Os serviços desaceleram e os bens duráveis e bens não duráveis também contribuem fortemente para a desaceleração este ano", diz Quadros.
Quadros diz que este ano "a agricultura salvou a pátria", o que pode fazer que os alimentos terminem o ano com índice acumulado perto de 1%. "O papel que a alimentação teve este ano, não terá ano que vem. Em termos comparativos, poderá no máximo igualar. Não há razão para novas reduções nos preços", afirma o economista. Isso explica, segundo ele, a projeção mais alta para 2018. "Se o cenário agrícola for semelhante [em 2018], a inflação de alimentos não dispararia, mas não ficaria tão baixa. Isso já explica a maior parte dessa diferença."
Quadros ressalta que é importante notar que, mesmo mais alta que as projeções para 2017, a expectativa para a inflação do ano que vem cai de forma sistemática e se encontra abaixo da meta de inflação perseguida pelo BC. "A expectativa de inflação mais alta que em 2017 não deve preocupar ninguém, porque os alimentos foram muito fora da curva este ano. E outra questão é que, à medida que vemos a inflação desacelerar este ano, vemos que isso terá efeito em 2018", afirma Quadros. "As conquistas de redução de inflação deste ano deixam legado para o ano que vem."
O resultado da segunda prévia de junho do Índice Geral de Preços do Mercado (IGP¬M) deu força ao cenário de uma saída mais lenta da deflação. O indicador mostrou deflação de 0,61% em junho e, embora tenha acelerado frente ao ¬0,89% da segunda prévia de maio, deixa claro, na visão de Quadros, que ainda não será neste mês que os IGPs voltarão para o terreno positivo. "Cada vez mais se confirma ideia de que a deflação não vai acabar em junho. Algumas coisas aconteceram e algumas delas foram imprevistas", diz.
Uma dessas surpresas, segundo ele, veio das matérias¬primas agropecuárias, que tiveram na segunda prévia de junho o mesmo resultado da segunda prévia de maio: queda de 1,96%. Com isso, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que responde por 60% do IGP¬M, reduziu a queda, mas continuou em um patamar negativo expressivo, com baixa de 1,39% na segunda prévia de junho, contra ¬1,87% na segunda prévia de maio.
Quadros pondera que, dentro das matérias¬primas agropecuárias, produtos cujos preços "pareciam avançar, não confirmaram" essa aceleração. Um exemplo foi a soja, que avançava 2,76% na segunda prévia de maio e desacelerou para 1,63% agora, num claro sinal de expectativas melhores para a safra do produto nos EUA.
FOLHA DE SÃO PAULO
Vendas de imóveis têm alta em abril, mas desempenho em 2017 é negativo
A comercialização de imóveis novos na cidade de São Paulo subiu 2,5% em abril, na comparação com o mesmo mês de 2016, segundo o Secovi-SP (sindicato do setor).
No acumulado dos quatro primeiros meses do ano, porém, houve queda de 4,3%. O resultado é o pior desde 2004.
As empresas imobiliárias ainda consideram que haverá crescimento real em 2017, segundo Celso Petrucci, economista-chefe da entidade.
"Pelo nosso acompanhamento, temos certeza que, com os resultados de maio, já vamos ultrapassar [o ano anterior no total de vendas]."
A projeção de crescimento da entidade para este ano é de 5% a 10%, tanto em vendas como em lançamentos.
De janeiro a abril, 2.745 imóveis novos foram colocados à venda, uma alta de 6% em relação ao ano anterior.
No primeiro quadrimestre, o segmento que mais se destacou foram as unidades com três dormitórios, que corresponderam a quase 40% de todos os lançamentos.
"No ano passado, essa categoria ficou abaixo de 10% das vendas. Enquanto isso, os imóveis de um dormitório, que representavam 22%, caíram para 7%", diz Petrucci.
Representar e promover o desenvolvimento da construção civil do Rio Grande do Norte com sustentabilidade e responsabilidade sócio-ambiental
O SINDUSCON/RN tem o compromisso com a satisfação do cliente - a comunidade da construção civil do Rio Grande do Norte - representada por seus associados - priorizando a transparência na sua relação com a sociedade, atendimento aos requisitos, a responsabilidade socioeconômica, a preservação do meio ambiente e a melhoria contínua.