Sexta-feira

VALOR ECONÔMICO

Governo define projetos que entram no Avançar

Tentando encontrar desesperadamente uma agenda de notícias para contrabalançar a crise política, o governo já montou sua lista praticamente definitiva da carteira de obras e ações incluídas no Projeto Avançar. As iniciativas vão resultar em um dispêndio de R$ 56,6 bilhões, com recursos do Orçamento Geral da União (OGU), até dezembro de 2018. Uma penúltima reunião entre ministros e técnicos da área de infraestrutura ocorreu ontem, no Palácio do Planalto, para amarrar os detalhes do Avançar.

O lançamento chegou a ser planejado para esta semana, mas os trabalhos não ficaram prontos a tempo. Ainda falta bater o martelo com o presidente Michel Temer. Visto como sucessor do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), criado nas gestões petistas, o Avançar não tem nenhuma obra nova.

O objetivo é garantir, em um cenário de restrições orçamentárias, previsibilidade a liberação de recursos para a conclusão dos empreendimentos selecionados - ou pelo menos uma etapa dos projetos. "É um esboço de retomada que o governo faz de obras paralisadas para encerrar definitivamente a cultura de desperdício, fruto de demagogia, sem que isso signifique ameaça ao esforço fiscal em andamento", afirmou ao Valor o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), que coordena os preparativos.

Curiosamente, o programa será lançado em um ambiente de contração dos investimentos do governo federal, por conta das dificuldades fiscais. Ou seja, a iniciativa já nasce com uma dificuldade séria a driblar. De janeiro a abril deste ano, os investimentos tiveram queda de 60,3% ante igual período do ano passado, somando apenas R$ 8,2 bilhões. São Paulo é, disparado, o Estado com maior volume de recursos previstos até o momento: R$ 5,01 bilhões.

A Bahia aparecia em segundo lugar, com R$ 3,26 bilhões até dezembro de 2018, com Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul empatados na terceira posição: R$ 2,07 bilhões cada um. O Valor teve acesso a uma lista de empreendimentos incluídos no Avançar. Entre eles estão a nova ponte sobre o rio Guaíba (RS) e as ações de revitalização do rio São Francisco. No Rio de Janeiro, a ampliação do VLT na área central e portuária vai receber aportes de R$ 117,8 milhões até o fim do ano que vem.

A duplicação de um trecho de 20,2 quilômetros da BR-493 no Estado, entre Manilha e Santa Guilhermina, contará com R$ 320 milhões. A dragagem do Porto do Rio ficará com R$ 164,2 milhões e a drenagem urbana na Bacia do Príncipe, beneficiando 60 mil famílias em Teresópolis, deverá ter outros R$ 20 milhões.

Em São Paulo, foram selecionados 613 projetos - 249, mais de um terço, são na área de educação (creches, pré-escolas, quadras poliesportivas). Obras de infraestrutura de transportes, como o trecho norte do Rodoanel (R$ 425,7 milhões até dezembro de 2018) e a dragagem de manutenção do Porto de Santos (R$ 394,3 milhões), também terão recursos assegurados.

O mesmo acontecerá com obras de mobilidade como a extensão da Linha 9-Esmeralda acontecerá com obras de mobilidade como a extensão da Linha 9-Esmeralda da CPTM (R$ 500 milhões) e um conjunto de corredores de ônibus (R$ 238,7 milhões): em Guarulhos, em Rio Grande da Serra, Capão Redondo-Vila Sônia e Leste-Itaquera. Outros projetos de destaque são a duplicação da BR-101 em Alagoas (R$ 599 milhões), a reforma e ampliação do terminal de passageiros de Rio Branco (R$ 20,2 milhões) e a pavimentação de 137 quilômetros da BR-242 no Tocantins (R$ 169,5 milhões).

O governo quer vender a ideia de que, com a iniciativa, serão gerados 1,2 milhão de postos de trabalho. O discurso político foca em um dos maiores problemas com o qual tem que lidar a atual gestão: o elevado nível de desemprego na economia brasileira. Além do programa com recursos exclusivamente do OGU, o Avançar terá braços específicos em cada pasta, que podem incluir outras fontes de financiamento. É o caso do Avançar Cidades, com verbas do FGTS, ou o Avançar Energia, que englobará investimentos de estatais como a Petrobras e a Eletrobras.

Mas essas vertentes estarão separadas. O volume total de investimentos previstos até o próximo ano é de R$ 56,6 bilhões, sendo R$ 12,8 bilhões em "políticas sociais", R$ 31,9 bilhões em infraestrutura e R$ 12 bilhões na área de defesa. Dentro do Ministério das Cidades, o carro-chefe segue sendo os investimentos no âmbito do programa Minha Casa, Minha Vida, com gastos de R$ 10 bilhões.

 

Meirelles ainda crê na reforma da Previdência

Apesar da deterioração do quadro político após a delação premiada do empresário Joesley Batista, da JBS, em maio, e do calendário apertadíssimo, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, não jogou a toalha na reforma da Previdência. Ele ainda quer tentar aprovar pelo menos a idade mínima de 65 anos para os homens e 62 anos para as mulheres se aposentarem, com uma regra de transição para os que estão no meio do caminho. Abandonar por completo a reforma pode significar, para o governo Temer, perder o apoio que lhe resta junto a empresários e banqueiros - seu principal sustentáculo.

"Se ficar claro para essa elite que Michel Temer está empenhado somente na sua própria sobrevivência, que só está brigando para se manter no Palácio do Planalto, ela vai abandoná-lo. Basta um pânico na bolsa de valores e ele perde essa perna!", comentou uma fonte oficial.

Além do mais, acredita-se que mesmo as bancadas dos partidos de oposição no Congresso, apesar do reiterado discurso contrário, gostariam de ver esse assunto resolvido por Temer para que o próximo presidente não tenha que herdar tamanho abacaxi. Já em relação à recuperação da atividade este ano, a impressão na área econômica é de que "perdemos a janela", segundo avaliação de fonte oficial.

A variação do PIB tende a ser muito próxima de zero, com algum crescimento no último trimestre do ano. Economistas do setor financeiro que ainda apostam em 0,5% de crescimento este ano, porém, estão um pouco mais animados. Acreditam que o segundo trimestre não foi tão ruim quanto se imagina. Os indicadores de abril vieram razoáveis e o crescimento da produção de papel e papelão, de 2% em maio, seria um indicador de que a atividade não perdeu fôlego depois das delações dos irmãos Batista.

O grande drama do governo era e continua sendo a fragilidade da política fiscal, dada tanto pela dimensão das despesas quanto pela anemia das receitas. Nas contas do mercado faltam entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões para fechar o ano com déficit primário na meta de R$ 142 bilhões, considerando as receitas extraordinárias.

O governo, conforme escreveu ontem nesse mesmo espaço o repórter especial e colunista do Valor Ribamar Oliveira, garante que vai fechar as contas este ano tal como prometido, mesmo que tenha que aumentar impostos. Mais grave do que isso, porém, é a visão das contas públicas para o médio prazo. Sem a reforma da Previdência não há a menor chance de se reverter o sinal de déficit até 2019 para um superávit primário modesto de 0,3% do PIB em 2020, conforme consta da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2018. Ao contrário, sem aprovação da nova Previdência, o déficit primário cresce um ponto percentual por ano, e a dívida bruta como proporção do PIB chegaria a 100% em 2026.

Diante de um cenário tão precário, explora-se no governo todas as alternativas possíveis. Na hipótese de a reforma ficar para o próximo governo, em 2019, há quem já conceba a necessidade de contornar os limites impostos pela lei do teto do gasto. Nesse caso, uma ideia seria colocar na mesma proposta de emenda constitucional (PEC) da seguridade social a ser votada no Congresso um artigo excluindo os gastos previdenciários do teto.

Afinal, nessa hipótese, a reforma seria ampla como a proposta feita originalmente e o déficit já estaria equacionado para um futuro não muito distante. Em um ambiente tão delicado e instável, é intrigante a complacência do mercado financeiro que não reflete, nos preços dos ativos, tamanha insegurança. Parece por demais confiante de que, ao fim e ao cabo, tudo acabará dando certo. Seja com Temer ou sem ele. Boa dose do ansiolítico que tranquiliza o mercado, no entanto, vem do exterior onde as economias ricas crescem e a liquidez é abundante.

A expectativa, agora, é quanto à redução gradual do montante de estímulos monetários injetados na economia pelo Banco Central Europeu. O BCE deve anunciar um "tapering" em setembro próximo para começar em 2018. Com muito dinheiro no bolso os investidores correm atrás de bons retornos estejam onde estiverem e os juros no Brasil ainda são elevados.

Por isso a taxa de câmbio está razoavelmente estável, com a cotação do dólar ao redor dos R$ 3,30. Nesse sentido, carece de explicação do Banco Central o registro de um fluxo financeiro negativo de US$ 8,56 bilhões até o dia 23 de junho que, abatido do ingresso comercial de US$ 3,28 bilhões, resultou em US$ 5,28 de fluxo total negativo.

O BC disse apenas que as saídas de recursos não decorrem de uma eventual retração do investidor estrangeiro por causa da crise política doméstica. A estratégia traçada pelo governo para resolver a crise fiscal originada na gestão anterior, como se vê, não deu certo. Ainda não. Votou-se a lei do teto para o gasto mas é incerto o futuro da reforma da previdência, o que torna a lei do teto um esforço perdido. Esperava, também, algo como o que ocorreu em 2005, quando o crescimento da economia levou Lula, enredado no mensalão, a se reerguer e se reeleger em 2006.

A reação da atividade, porém, tem sido bem mais lenta do que previa a área econômica, com sinais ambíguos. O risco, agora, é de que o ano eleitoral de 2018 reproduza os danos gerados na campanha de 2002, mas por razão distinta. Naquela eleição em que Lula foi vitorioso, o país viveu principalmente uma crise cambial por falta de reservas. A taxa de câmbio teve forte desvalorização e a inflação encerrou o ano em 12,53%.

Com reservas de US$ 370 bilhões, para 2018 há o temor de que se aprofunde a crise nas contas públicas com todas as consequências de uma dominância fiscal, tal como ela se insinuou em 2014/2015. Esta é uma situação em que o aumento de juros torna mais frágil o fiscal e gera mais inflação.

O grande legado de Temer seria pavimentar a economia - com inflação baixa, crescimento do PIB e queda no desemprego - para que as eleições gerais do próximo ano, transcorressem em um clima tranquilo. Desse conjunto, ele deve apresentar inflação baixa. Não é pouco. Mas mesmo ela está assentada em um equilíbrio político instável.

 

Meta de inflação é fixada em 4,25% para 2019 e em 4% para 2020

O Conselho Monetário Nacional (CMN) fixou a meta de inflação de 2019 em 4,25% e a de 2020 em 4%. A margem de tolerância de 1,5 ponto percentual não foi alterada. O anúncio foi feito pelos ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e do Planejamento, Dyogo de Oliveira, e pelo presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn.

A meta estava em 4,5% desde 2005. “Estamos fixando a meta de inflação para 2019 em 4,25% sinalizando convergência a padrões internacionais e, para 2020, fixando a meta de inflação em 4%. Portanto, nós estamos, com isso, fixando uma convergência gradual das metas a índices internacionalmente consagrados e estabelecidos, estamos ancorando as expectativas e assegurando crescimento do produto potencial”, afirmou Meirelles.

Ele falou ainda sobre o decreto editado nesta quinta-feira que ampliou o horizonte de fixação da meta não só para 2019, mas também para 2020. E a partir do objetivo de 2021, o CMN fixará a meta para três anos adiante. Segundo o ministro da Fazenda, a finalidade da extensão é gradualmente iniciar processo de convergência para padrões internacionais que tendem a ter horizontes relevantes mais longes.

“A ideia é que esses horizontes agora se ampliem para três anos dentro de uma trajetória gradual de maior ancoragem de expectativas de inflação e de uma otimização exatamente de uma convergência da meta gradual para padrões internacionais e ao mesmo assegurando crescimento da economia e do emprego”, frisou, acrescentando que a inflação caiu consideravelmente do início de 2016 até agora (3,6% em 12 meses) e, portanto, o momento é propício.

Ele disse ainda que a credibilidade na politica monetária e do BC asseguram a convergência e consolidação de ancoragem das expectativas. Pelo sistema de metas para a inflação, que vigora desde 1999, o CMN fixa a meta de inflação que deve ser perseguida pelo BC, que tem como principal instrumento a taxa básica de juros, a Selic.

Há um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual, para mais ou para menos, para absorver eventuais choques de preços. Se ao fim do ano calendário a inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), está fora das bandas de tolerância, o presidente do BC é obrigado a escrever uma carta ao ministro da Fazenda explicando as razões do descumprimento e as ações que serão tomadas para que a inflação volte à meta. Entre 2006 e 2016, esse intervalo foi de 2 pontos.

Sobre as metas

O presidente da autoridade monetária, Ilan Goldfajn, reforçou a informação de que as metas de inflação são fixadas pelo CMN e não se tem a pretensão de mudar isso. “Fixamos metas e não pretendemos mudar. Nem as passadas e nem as futuras. Vamos definir três anos adiante e vão ficar e o BC vai fazer de tudo para cumprir. Enquanto as expectativas estiverem convergindo para a meta ao longo do tempo, estaremos contribuindo com a sociedade”, disse. “Tanto as projeções de mercado quanto as nossas são condicionais a hipóteses que podem mudar", disse.

"Em 2017, a inflação tem surpreendido para baixo”, frisou Ilan, acrescentando que parte da queda da inflação deste para baixo”, frisou Ilan, acrescentando que parte da queda da inflação deste ano se deve ao choque positivo de alimentos. “Vamos seguir as metas estabelecidas metas do CMN”, completou. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, destacou ainda que alterar uma meta de inflação já definida tem um “custo”. “Do ponto de vista de ancoragem de expectativas, não seria uma boa indicação”, explicou, acrescentando que uma coisa é estender o horizonte e outra é em um período intermediário mudar a meta.

“É importante que cada vez mais ancoremos expectativas para dar cada vez mais previsibilidade dos agentes econômicos”, contou. Meirelles frisou que a meta de inflação de 2021 será fixada em 2018. “Não podemos antecipar decisões de CMN de próximos anos. Há sinalização clara de intenção do Brasil de convergir para padrões internacionais”, destacou o ministro. Ele ressaltou que, durante um período no país, a inflação ficou sistematicamente acima da meta, mas essa ideia não é correta. “Senão, a meta vira um piso. A inflação vai oscilar em torno da meta, dentro de uma política monetária bem-sucedida.”

O presidente destacou que o que é relevante para política monetária e econômica são as condições macroeconômicas, como a expectativa de inflação e a inflação corrente, e elas são favoráveis independentemente de considerações de ordem política. Para o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, mudar a meta de inflação de 2018 ao longo do ano não é um bom precedente.

 

Decisão não altera expectativa de corte dos juros

A decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) de estender o horizonte de definição da meta de inflação não muda a expectativa de continuidade de queda dos juros nos próximos meses. Segundo analistas, o corte da meta de IPCA para 2019 para 4,25% já estava nos preços, e sua confirmação não altera os passos esperados para o Comitê de Política Monetária (Copom) nos próximos meses. Um conjunto de fatores conjunturais mantém no radar a possibilidade de o BC não só continuar a cortar os juros como também de levar a Selic abaixo dos 8,5% previstos na pesquisa Focus.

A inflação corrente segue em declínio, fato endossado ontem pela taxa negativa do IGP-M de junho. A atividade econômica segue a oferecer sinais mistos e erráticos, enquanto a taxa de câmbio tem se mantido em torno de R$ 3,30 por dólar, em patamares menos depreciados, por exemplo, que em novembro passado, após o resultado das eleições americanas. O estrategista de renda fixa e economista para Brasil do Bank of America Merrill Lynch, David Beker, mantém expectativa de que a Selic cairá a 8,5% neste ano, nível no qual permanecerá até o término de 2018.

Para Beker, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, soou "dovish" em declarações feitas durante entrevista para comentar a decisão do CMN, o que foi interpretado como uma sinalização do BC de que o Brasil caminha para taxas de juros de equilíbrio mais baixas no longo prazo. O economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, chama atenção para a ideia de que a surpresa com a fixação da meta para 2020 oferece ganho adicional por afastar o debate do escopo da política monetária de curto prazo.

"O Banco Central viu oportunidade e teve ousadia para fazer essa mudança, que era muito desejável." Assim, seu cenário de uma Selic a 8% no final do ciclo de alívio monetário está mantido. Para a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, essa série de elementos ampara até mesmo novo corte de 1 ponto percentual da Selic no próximo mês. Num ritmo mais forte, a Selic poderia ir a 8%. "Entenderia os argumentos de um ritmo mais brando, de 0,75 ponto, em julho, mas acredito que há condições de se cortar em um ponto", afirma.

A economista explica que o quadro fiscal, comprometido pelo adiamento da reforma da Previdência, acaba tendo efeito sobre o juro real de longo prazo. Já a política monetária reage a fatores de curto prazo, que não foram alterados. "O Banco Central vai testar o que é esse juro neutro de equilíbrio. Dadas as condições atuais, é possível reduzir o juro de curto prazo sem trazer problemas."

O economista-chefe da Icatu Vanguarda, Rodrigo Alves de Melo, mantém estimativa de que o Copom reduzirá a Selic em 1 ponto em julho. Nas contas do especialista, o juro básico caminha para terminar entre 8% e 8,5% ao final do atual ciclo de distensão monetária. Ele admite risco de a incerteza política levar o Copom elevar a cautela e optar por um corte de 0,75 ponto. Por outro levar o Copom elevar a cautela e optar por um corte de 0,75 ponto.

Por outro lado, ele destaca que o corte da meta de inflação para 2020 deve levar à convergência das expectativas para aquele ano a 4%, o que torna razoável pensar em juros nominais também em patamares mais baixos.

O economista-chefe da Garde Asset Management, Daniel Weeks, diz que a confiança do mercado no BC garante que a revisão da meta de inflação tenha "custo zero" para a política monetária. "Este é um bom sinal para a política monetária de curto prazo. Vamos continuar vendo expectativas de inflação caindo e a decisão mostra comprometimento com controle de preços", afirma.

 

Decisão não altera expectativa de corte dos juros

A decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) de estender o horizonte de definição da meta de inflação não muda a expectativa de continuidade de queda dos juros nos próximos meses.

Segundo analistas, o corte da meta de IPCA para 2019 para 4,25% já estava nos preços, e sua confirmação não altera os passos esperados para o Comitê de Política Monetária (Copom) nos próximos meses. Um conjunto de fatores conjunturais mantém no radar a possibilidade de o BC não só continuar a cortar os juros como também de levar a Selic abaixo dos 8,5% previstos na pesquisa Focus.

A inflação corrente segue em declínio, fato endossado ontem pela taxa negativa do IGP-M de junho. A atividade econômica segue a oferecer sinais mistos e erráticos, enquanto a taxa de câmbio tem se mantido em torno de R$ 3,30 por dólar, em patamares menos depreciados, por exemplo, que em novembro passado, após o resultado das eleições americanas. O estrategista de renda fixa e economista para Brasil do Bank of America Merrill Lynch, David Beker, mantém expectativa de que a Selic cairá a 8,5% neste ano, nível no qual permanecerá até o término de 2018.

Para Beker, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, soou "dovish" em declarações feitas durante entrevista para comentar a decisão do CMN, o que foi interpretado como uma sinalização do BC de que o Brasil caminha para taxas de juros de equilíbrio mais baixas no longo prazo.

O economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, chama atenção para a ideia de que a surpresa com a fixação da meta para 2020 oferece ganho adicional por afastar o debate do escopo da política monetária de curto prazo. "O Banco Central viu oportunidade e teve ousadia para fazer essa mudança, que era muito desejável." Assim, seu cenário de uma Selic a 8% no final do ciclo de alívio monetário está mantido.

Para a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, essa série de elementos ampara até mesmo novo corte de 1 ponto percentual da Selic no próximo mês. Num ritmo mais forte, a Selic poderia ir a 8%. "Entenderia os argumentos de um ritmo mais brando, de 0,75 ponto, em julho, mas acredito que há condições de se cortar em um ponto", afirma.

A economista explica que o quadro fiscal, comprometido pelo adiamento da reforma da Previdência, acaba tendo efeito sobre o juro real de longo prazo. Já a política monetária reage a fatores de curto prazo, que não foram alterados. "O Banco Central vai testar o que é esse juro neutro de equilíbrio. Dadas as condições atuais, é possível reduzir o juro de curto prazo sem trazer problemas."

O economista-chefe da Icatu Vanguarda, Rodrigo Alves de Melo, mantém estimativa de que o Copom reduzirá a Selic em 1 ponto em julho. Nas contas do especialista, o juro básico caminha para terminar entre 8% e 8,5% ao final do atual ciclo de distensão monetária. Ele admite risco de a incerteza política levar o Copom elevar a cautela e optar por um corte de 0,75 ponto. Por outro levar o Copom elevar a cautela e optar por um corte de 0,75 ponto.

Por outro lado, ele destaca que o corte da meta de inflação para 2020 deve levar à convergência das expectativas para aquele ano a 4%, o que torna razoável pensar em juros nominais também em patamares mais baixos.

O economista-chefe da Garde Asset Management, Daniel Weeks, diz que a confiança do mercado no BC garante que a revisão da meta de inflação tenha "custo zero" para a política monetária. "Este é um bom sinal para a política monetária de curto prazo. Vamos continuar vendo expectativas de inflação caindo e a decisão mostra comprometimento com controle de preços", afirma.

 

BC é uma instituição que preza de autonomia, sustenta Ilan

O Banco Central (BC) é uma instituição que preza de autonomia e olha o médio e o longo prazo, afirmou o presidente da instituição, Ilan Goldfajn, após ser questionado sobre a permanência da política monetária diante de uma eventual saída do presidente Michel Temer.

“O Banco Central é uma instituição que preza de autonomia e, portanto, é uma instituição que se mantém, que continua, que olha o médio prazo, o longo prazo e o presidente do Banco Central está dentro desse contexto institucionalizado no qual estamos trabalhando para a economia brasileira e o país”, afirmou Goldfajn.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou que o governo não trabalha “por hipóteses”, a fim de não ficar num “clima especulativo”. “Temos de trabalhar dentro de um cenário colocado e dentro dos mandatos hoje da equipe econômica, isto é, estamos cumprindo nosso mandato, estamos trabalhando com total foco na economia brasileira e vamos continuar a fazê-lo agora”, disse Meirelles, que complementou que, evidentemente, compete ao presidente da República a nomeação de seus ministros.

 

EXAME

Por que o mercado errou tanto nos últimos meses

Por Luís Carlos Mendonça de Barros (Economista e ex-ministro)

Depois de um período sabático em que deixei de escrever minha coluna semanal na EXAME volto a este espaço procurando ainda fugir da terrível — e impossível — tarefa de ajudar o leitor a projetar o futuro de nosso difícil país nos próximos dois anos. As incertezas que rondam a sociedade brasileira são de tal ordem que, sem algumas informações sobre como vai evoluir a crise politica e institucional que vivemos, parece-me irresponsável traçar cenários alternativos. Nesse sentido creio que pouca falta fizeram minhas reflexões e palpites pois existem analistas mais afoitos para ocupar esse espaço na imprensa.

Volto hoje para comentar alguns fatos que escapam a esse cenário de incertezas e que, portanto, permitem uma reflexão do analista. Meu tema hoje é uma pergunta que precisa ser feita nesta metade do ano e que pode trazer alguma contribuição ao leitor: Por que os analistas de mercado têm errado tanto em suas previsões no espaço curto de 8 meses que se passaram após o inicio do processo de desinflação em outubro do ano passado no Brasil?.

Em setembro de 2016 o relatório Focus do Banco Central trazia como média das previsões para a inflação em 2017 o numero de 5,36%. No último Focus publicado o valor médio apresentado foi de 3,60% com alguns analistas cravando estimativas ainda mais baixas. O próprio Banco Central passou esta primeira metade do ano correndo atrás dos números realmente medidos da inflação ao consumidor.

Na minha opinião a principal causa desses erros está associada a uma nova metodologia de análise econômica que é hoje majoritária entre a nova geração de economistas. Trata-se de uma nova forma de entender o que se chama há muito tempo de expectativa racional dos agentes econômicos. Segundo essa forma de pensar, os agentes econômicos são capazes de intuir o cenário futuro em função de sua leitura da conjuntura econômica atual e de como está sendo conduzida a politica econômica do governo, com ênfase maior na política monetária perseguida pelo banco central de cada país.

Não são mais os dados correntes que fazem a cabeça dos mercados mas sim seu comportamento no futuro, em função das ações dos principais responsáveis pela execução da política econômica. Eu e a minha geração de economistas aqui no Brasil fomos treinados nesta metodologia, na qual a leitura do ciclo econômico que se vive é peça fundamental para a construção do futuro. É a partir dela que se julgam as ações dos agentes do governo na construção da política econômica

No soft mais moderno das expectativas econômicas racionais, o que realmente acontece na economia real em um dado momento do ciclo perde muito do seu caráter de protagonista e o futuro ainda incerto passa a ser o balizador principal das expectativas. Muito do erro citado acima na previsão da inflação no Brasil se deve a essa nova versão do racionalismo dos agente econômicos. Ao invés de dar o peso devido ao hiato do produto na quebra da inércia da inflação, foi a possibilidade de estarmos vivendo no Brasil o tal fenômeno da dominância fiscal — ainda muito pouco conhecido mesmo dos mais letrados nesta questão — que passou a dominar as previsões de muitos analistas.

Ora, mesmo em uma situação fiscal complicada como a nossa, é muita ingenuidade atribuir aos milhões de consumidores e empresários que formam o grosso do universo que toma decisões no dia a dia que, em uma situação de quase depressão, iriam pautar suas decisões a partir do medo de que já vivíamos uma situação de crise fiscal grave.

No final, prevaleceu uma leitura mais realista da economia por parte dos agentes econômicos e o peso da fragilidade da demanda agregada prevaleceu e provocou uma intensa e profunda desinflação tradicional.

Anexo a esta coluna um gráfico que trata de mais um erro gravíssimo de análise que tomou conta de um grande numero de economistas — aqui e no exterior — em relação à política monetária ultra expansionista do BCE. Mas isto fica para um próximo encontro.

 

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