VALOR ECONÔMICO
Mercado fortalece aposta em corte de 1 ponto na taxa básica
Os mercados de câmbio e renda fixa começaram a semana estendendo os ganhos dos últimos dias, movimento que reflete também o maior conforto dos agentes financeiros com a ideia de uma Selic em queda. O mercado reforçou apostas em corte de um ponto percentual do juro básico no fim deste mês, enquanto intensifica o debate sobre qual o nível do juro de referência até o fim do ano que vem.
O J.P. Morgan é a mais recente instituição financeira a rever seu cenário para a política monetária, passando a estimar corte de 1 ponto da Selic já neste mês. O banco chama atenção para o efeito desinflacionário da crise política - que afetou as medidas de confiança - e também para a manutenção da trajetória de queda da inflação, em meio a uma taxa de câmbio que voltou a ficar abaixo de R$ 3,20 por dólar.
O banco de Wall Street espera redução de 0,75 ponto no encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) de setembro (antes projetava redução de 0,50 ponto) e enxerga declínio final de 0,50 ponto em outubro. Com isso, a meta Selic terminaria o ano em 8%. Essa também é a taxa projetada pela UBS Wealth Management Brasil.
Para o executivo Ronaldo Patah, diante do cenário atual de inflação baixa e crescimento fraco, o patamar dos juros longos indica considerável prêmio, que tornam atrativas apostas nesses trechos da curva. Patah diz que o título prefixado com vencimento em dez anos, por exemplo, carrega taxa 3 pontos percentuais acima do que a casa estima para a Selic.
Ontem, o DI janeiro/2027 caiu a 10,52% ao ano - considerando taxa de ajuste. A UBS entende ainda que o juro real embutido em títulos atrelados à inflação (NTN-B) de vencimentos mais longos deveria estar próximo de 5% ao ano, bem abaixo de taxas em torno de 5,5% de hoje. A visão de que a inflação e os juros deverão ficar mais baixos ficou explicitada na pesquisa Focus do Banco Central.
Pela sétima semana consecutiva, o mercado cortou a estimativa para o IPCA 2017, para 3,29%, de 3,38% na semana anterior. O prognóstico para 2018 caiu de 4,24% para 4,20% - sexta semana consecutiva de queda. Com isso, economistas passaram a trabalhar, pela mediana das previsões, com Selic de 8% neste ano (8,25% na semana anterior), taxa que se estenderá a 2018. Com alguma trégua do lado político, o noticiário macroeconômico tem amparado as revisões de baixa para os juros.
Ontem foram conhecidas novas leituras de preços que mostraram deflação, e o Caged trouxe fechamento de vagas fora dos setores agrícola e público, num indicativo de que as pressões inflacionárias do lado do emprego continuarão limitadas. As atenções agora se voltam para o IPCA-15 de julho, a ser divulgado na quinta-feira e para o qual analistas preveem taxa negativa.
Na curva de juros da B3, a diferença entre os DIs janeiro de 2019 e janeiro de 2018 - uma medida das apostas do mercado para a evolução da política monetária ao longo de 2018 - caiu a -11,5 pontos-base, nível mais baixo desde 17 de maio, última sessão antes da delação da JBS. Ou seja, o mercado projeta cada vez menos riscos de o Banco Central precisar apertar a política monetária no que vem.
Embora ciente de que o governo segue sujeito a novos choques, o mercado tem se posicionado para um cenário sem ruptura, em boa parte sustentado pelo apetite por risco no exterior. E essa perspectiva voltou a fazer preço no mercado de câmbio. O dólar caiu ontem 0,13%, a R$ 3,1813 - menor patamar de encerramento em dois meses. Baseado em performances passadas, o Bank of America vê o real como um "bom candidato" a posições compradas no atual cenário global, de ampla liquidez. Mas até o fim do ano o banco espera valorização da moeda americana, que fecharia 2017 a R$ 3,40.
Inflação e Selic em queda acenam com 'choque de juro às avessas'
Inflação em forte queda, combinada à política de flexibilização monetária adotada pelo Banco Central (BC) em outubro do ano passado, levará o Brasil a um choque de juros às avessas. "Choque de juros" é uma expressão usada para descrever uma arrancada de juros em determinado período. O choque "às avessas" será o seu equivalente com sinal trocado.
Hoje, o juro real - calculado a partir do swap prefixado de 360 dias e o IPCA projetado 12 meses à frente - está em 3,89%. Em 12 meses encerrados em junho, o juro real estava acumulado em 9,58%. Uma enormidade em qualquer economia, mas desastrosa em um país que precisa sair da lona.
A estimativa de juro real 12 meses à frente - conceito "ex-ante" -, de 3,89% calculado nesta segunda, é o menor desde os 3,82% observados em outubro de 2013. Na contramão do ciclo monetário atual, de queda persistente da taxa Selic, há quase quatro anos o juro real de 3,82% representava um ciclo de aperto monetário.
Aliás, expressivo aperto. Um ano mais cedo, em 2012, o juro real esperado para outubro de 2013 era de 1,86%. Em tempo: de setembro de 2012 a outubro de 2013, a projeção para o IPCA era ascendente. No cálculo em 12 meses, a inflação esperada passou de cerca de 5,5% para 6,26% no período. Há quase nove meses, a inflação 12 meses à frente, segundo o Focus, caiu abaixo de 5% e, nos últimos 40 dias, recuou de 4,6% a 4,37%.
Reformas vão avançar mesmo sem Temer na Presidência, diz Canuto
O diretor-executivo do Banco Mundial, Otaviano Canuto, não vê possibilidade de a agenda de reformas ser descartada, caso o presidente Michel Temer deixe o a Presidência em função de processo no Supremo Tribunal Federal (STF).
Convidado a participar do fórum da Federação dos Jovens Empreendedores de Goiás, Canuto afirmou, em entrevista ao Valor, que as turbulências políticas não devem comprometer o andamento da reforma da Previdência. "A minha avaliação, a do Banco Mundial e dos mercados é que hoje a agenda de reformas parece segura. Posso dizer que me parece haver uma coalizão de suporte em relação às reformas para protegê-las da volatilidade política", disse o diretor do Banco Mundial.
Ele alertou que, se a reforma da Previdência for aprovada com limitações, considerando um projeto que contemple apenas a mudança da idade mínima, será necessária nova reforma em cerca de três anos. Na avaliação de Canuto, os recentes encontros entre agentes do mercado financeiro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que é o primeiro na linha sucessória da Presidência da República, devem ser encarados com naturalidade.
"Não há motivo para alarde. Não vejo jogo duplo do mercado. É natural que, a partir de informações veiculadas pela imprensa, o mercado se aproxime de Maia para entender o que ele faria caso assumisse a Presidência. Isso não quer dizer que o mercado financeiro deixou de confiar no compromisso de Temer com a agenda de reformas ou que deixou de apoiar o programa de governo dele".
A seguir, os principais trechos da entrevista:
Valor: Com a crise política de grandes proporções, o sr. acredita que a retomada econômica ficou mais distante?
Otaviano Canuto: No curto prazo, a conjuntura macroeconômica está dada. A crise parou de se aprofundar. Você tem uma recuperação tímida, mas não quer dizer que a economia vai recuperar, não quer dizer que vá entrar em um novo ciclo de crescimento. Para isso, será necessário ter as reformas para compensar o péssimo ambiente de negócios. Será necessário retomar a confiança de investidores. Isso só será possível com um governo estável, que possa assegurar as regras, o que talvez só aconteça após as eleições de 2018.
Valor: Antes disso não será possível resolver o gargalo das contas das contas públicas e da questão fiscal?
Canuto: As reformas, principalmente a da Previdência, podem iniciar esse ciclo. Tivemos a PEC do teto de gastos públicos, que foi o primeiro passo em relação à questão fiscal. Agora, é preciso dar substância. A reforma da Previdência será essencial para isso, em conjunto com a revisão da qualidade do gasto público das outras áreas. Se a conjunto com a revisão da qualidade do gasto público das outras áreas. Se a economia voltar a crescer, a trajetória de deterioração fiscal se reverte. Não se reverte imediatamente, mas se reverte em 2020, 2021. O que o governo precisa fazer está claro. O buraco é mais embaixo na agenda da produtividade, porque exige mais estabilidade política.
Valor: Mas para isso o ambiente de negócios precisa melhorar e isso leva tempo.
Canuto: É preciso ter o arcabouço que permita confiança nos investimentos em infraestrutura, melhores investimentos, com maior participação do setor privado. É necessário que os projetos adequados sejam escolhidos, que não reflitam os interesses escusos, mas aqueles que visam o resultado para o país, em menor prazo. A agenda de reformas pode ser o pedágio para isso. De certa maneira, vamos precisar de governadores e prefeitos que embarquem junto.
Valor: É possível criar condições para o crescimento com essa relação entre setor privado e governo revelada pela Lava-Jato?
Canuto: A questão-chave subjacente a todos os problemas é a questão de governança. Precisamos entender se o que estamos passando vai deixar marcas, vai deixar claro os riscos e o custo elevado de se partir para o caminho ilícito. Independentemente do resultado específico da atual configuração da Lava Jato, é preciso identificar se já mudou a perspectiva dos agentes privados quanto ao custo-benefício de incorrer em atividades com aquelas reveladas pela Lava-Jato. Se isso se confirmar, já será uma diferença grande. Por enquanto, a percepção é que as pessoas vão pensar duas vezes antes de entrar em um esquema desses. A natureza da relação do setor público e privado será a chave para voltar a crescer para além do que é a recuperação imediata. Devemos crescer 0,6% este ano, 2% em 2018. Mas, se quiser de fato retomar uma trajetória de crescimento sustentável a taxas bem acima disso, vai depender principalmente de governança.
Valor: Há alguma estimativa do Banco Mundial para essa retomada de crescimento sustentável?
Canuto: Não é amanhã. Não é em 2018. O resultado das eleições será fundamental, a emergência de novas lideranças que não sejam tentadas a construir esses esquemas, o fortalecimento e manutenção de instituições independentes que mantenham um prêmio ao bom comportamento e um castigo ao mau comportamento. Serão etapas. Saímos da crise, do ponto de vista de fundo do poço, com a retomada do emprego e de ajuste de carteiras de endividamento de famílias e de algumas empresas. Paramos de afundar. Agora, para voltar a crescer com fôlego é preciso a retomada de investimentos em infraestrutura, ambiente de negócios melhor e qualidade melhor do gastos de público. O ano de 2018 é um ano intermediário no processo de arrumar a casa, de rever orçamento, despesas obrigatórias. Felizmente, ainda não estamos com a corda no pescoço. Se não for feita a reforma da Previdência, a trajetória de endividamento vira explosiva. Não estamos lá ainda.
Valor: Estamos em um ambiente incerto, tanto sobre a continuidade de Temer, uma possível assunção de Maia e uma incógnita sobre a eleição de 2018. Independentemente de quem esteja à frente do Planalto, o sr. acredita que a agenda de reformas seguirá intocável?
Canuto: A agenda reformista está bem definida. Obviamente, risco zero não existe. A minha leitura, do Banco Mundial e dos mercados é que hoje a agenda de reformas parece segura. Posso dizer que me parece haver uma coalizão de suporte em relação às reformas para protegê-la da volatilidade política. Há percepção clara de que o regime de Previdência não é sustentável. Quanto mais demorarmos para corrigir isso, maior vai ser a necessidade do ajuste no futuro. Se tivesse feito sido feita uma correção tempos atrás, o tamanho da reforma não precisava ser esse.
Valor: Representantes do mercado têm se aproximado de Maia nas últimas semanas. O sr. avalia isso como sinal de desembarque do mercado financeiro do governo Temer?
Canuto: Não há motivo para alarde. Não vejo jogo duplo do mercado. É natural que, a partir de informações veiculadas pela imprensa, o mercado se aproxime de Maia para entender o que ele faria caso assumisse a Presidência. Isso não quer dizer que o mercado financeiro deixou de confiar no compromisso de Temer com a agenda de reformas, ou que deixou de apoiar o programa de governo dele.
Valor: Como o sr. avalia a possibilidade de, dentro da reforma da Previdência, ser aprovada apenas a questão da idade mínima?
Canuto: A mudança na idade mínima já seria significativa. O que digo é que, se for magra agora, mesmo sendo significativa, precisará ser feita outra reforma em três anos.
Valor: Com Maia haverá menor compromisso em entregar resultados na área da reforma da Previdência?
Canuto: Acredito que o compromisso será igual. Na sociedade civil, há a percepção da necessidade de se fazer algo em relação à Previdência. Quanto mais adiarmos, será pior. Se aprovarmos a reforma da Previdência, será um chamariz para os investidores. Há um custo político também para aqueles que não apoiam a reforma. O prêmio de ser populista está muito baixo.
Valor: Nesse cenário, um populista tem menos chances do que um candidato mais austero na disputa de 2018?
Canuto: De repente, o contraste não deve ser entre populista e austero, mas entre populista -que já conhecemos as consequências -e alguém com propósitos mais críveis, porque eles são consequentes. Não me parece que haja apoio popular suficiente a propostas que a sociedade já apoiou e viu no que deu. Nesse momento, o populismo tradicional não tem o mesmo efeito. Há um cansaço. A eleição no ano que vem vai explorar muito os motivos de termos chegado a esse ambiente complicado.
Valor: E as consequências da crise para as empresas estatais e privadas?
Canuto: O governo, seja esse ou o próximo, precisará rearrumar as estatais. Os benefícios do que já foi feito na Petrobras já apareceram. Há caroços nesse abacate que ainda vão demorar a ser superados. Também precisa haver uma rearrumação das empresas do setor privado envolvidas nesses escândalos. Para que isso aconteça, o Poder Judiciário precisa continua com sua autonomia, o conjunto de regras precisa continuar fortalecido. A Lava-Jato só chegou onde chegou por causa dos acordos de colaboração premiada. Tudo teria parado se não fosse o incentivo a isso. A partir daí que o novelo foi desfiado, em camadas: pegaram funcionários da estatal, CEOs das empresas eram espremidos e chegaram aos políticos envolvidos. A Lava-Jato não vai retroceder. O que ainda precisamos ver é a natureza das consequências.
O ESTADO DE SÃO PAULO
Bancos travam crédito do BNDES para pequenas empresas
Os pequenos negócios, responsáveis por 27% do PIB brasileiro, estão com dificuldades para conseguir empréstimos do BNDES. As instituições financeiras que operam essa linha de crédito para o banco estatal travaram os empréstimos na ponta sob o argumento de que não podem arcar com o elevado risco das operações – o calote nesta linha quadruplicou nos últimos dois anos.
Os desembolsos do Cartão BNDES para micro, pequenas e médias empresas caíram 60% entre janeiro e maio deste ano, de R$ 2,84 bilhões para R$ 1,15 bilhão. Para driblar a resistência dos grandes bancos e pulverizar o acesso aos financiamentos, o banco estatal estuda parcerias com empresas tecnológicas que atuam no setor financeiro, as “fintechs”.
Os grandes bancos alegam que a modalidade de crédito via cartão BNDES não cobre os riscos de inadimplência, inteiramente assumidos por eles. Embora o BNDES seja a fonte de recursos para esse tipo de financiamento, ele não arca com os prejuízos em caso de calote. Com o agravamento da crise econômica e as poucas garantias oferecidas pelas empresas que buscaram o crédito mais barato, a inadimplência chegou a quadruplicar em instituições que repassaram grande volume dessa linha entre 2015 e 2017.
As empresas reclamam que os gerentes bancários “escondem” o Cartão BNDES dos clientes para vender produtos mais caros. A taxa de juros do Cartão BNDES estava em 1,12% ao mês em julho de 2017. Apenas um terço da taxa é repassada aos bancos operadores. Mas o banco estatal já estuda mudar essa remuneração, como informou ao Estadão/Broadcast. “O BNDES está alterando a estrutura de preços do cartão, incorporando indicadores de inadimplência e de desempenho ao spread dos agentes financeiros, de maneira que o banco emissor seja melhor remunerado, de acordo com sua performance, e estimulado a ampliar a emissão”, disse em nota.
Segundo o BNDES, a retração nos desembolsos do cartão ocorreu, segundo os principais bancos emissores, em decorrência do aumento do risco de inadimplência das empresas de menor porte. Além disso, a crise contribuiu para diminuir o interesse dos empresários por investimentos.
O Banco do Brasil era o maior repassador dessa linha, mas neste ano caiu para o 3.º lugar, com participação de 15% nos desembolsos. Diante dos calotes, o BB passou a exigir mais garantias dos clientes. Em 2017, os maiores operadores do cartão são Bradesco (38,6%) e Caixa (29,8%). BNDES e BB planejam agora criar uma nova linha que deve substituir o Cartão BNDES.
A reportagem procurou BB, Caixa, Itaú, Bradesco e Santander. A Caixa negou que esteja represando financiamentos da modalidade e reconheceu que eventual mudança na remuneração dos bancos pode ampliar a demanda. O Itaú disse apenas que “mantém sua oferta de concessão de crédito por meio do Cartão BNDES”. Os demais não responderam.
O aumento do crédito para pequenas e médias empresas está sendo discutido pela área econômica do governo, que vê também nesse segmento uma alavanca para diminuir o desemprego nos próximos meses, já que os pequenos negócios empregam 63% da força de trabalho formal do País, segundo dados do Sebrae. O presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, tem se reunido periodicamente com os presidentes do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal para avaliar o cenário do crédito no País.
Em apresentação ao Congresso Nacional na semana passada, o Ministério da Fazenda chegou a comparar o desempenho do BNDES com o do Bradesco. Enquanto o BNDES concentra 80% do seu crédito nas grandes empresas, o Bradesco concede 64% dos financiamentos às pequenas e médias.
Representar e promover o desenvolvimento da construção civil do Rio Grande do Norte com sustentabilidade e responsabilidade sócio-ambiental
O SINDUSCON/RN tem o compromisso com a satisfação do cliente - a comunidade da construção civil do Rio Grande do Norte - representada por seus associados - priorizando a transparência na sua relação com a sociedade, atendimento aos requisitos, a responsabilidade socioeconômica, a preservação do meio ambiente e a melhoria contínua.