Quarta-feira

VALOR ECONÔMICO

Governo agora prevê ter déficit primário até 2020

Após dois adiamentos e uma série de desencontros de informação, o governo finalmente anunciou as novas metas fiscais para este e para o próximo ano e ainda apresentou um cenário em que o Brasil não terá superávit primário até 2020. O objetivo para 2017, que terá que ser aprovado pelo Congresso, passou de um rombo de R$ 139 bilhões para R$ 159 bilhões, mesmo número que valerá para 2018, substituindo a meta de R$ 129 bilhões definida em abril.

Para 2019, primeiro ano do próximo governo, a estimativa é de déficit de R$ 139 bilhões para o governo central e para 2020, quando estava previsto o primeiro superávit desde 2013, o cenário aponta saldo negativo de R$ 65 bilhões. "O que estamos projetando é que a mesma curva de recuperação do resultado primário vai acontecer, no entanto, com um ano de deslocamento.

Portanto, o que antes tínhamos previsto superávit de R$ 10 bilhões estamos prevendo para o ano seguinte, que é 2021", disse o ministro do Planejamento, Dyogo de Oliveira. Com a nova meta deste ano, Dyogo prevê um desbloqueio de despesas de R$ 8 bilhões a R$ 10 bilhões no orçamento, permitindo maiores gastos de alguns setores que estão com problemas de funcionamento. "Temos vários órgãos que estão operando no limite financeiro e necessitam de complementação [de recursos]", disse.

Também foi anunciado um pacote de medidas para viabilizar o objetivo de 2018, ampliando a arrecadação e reduzindo o segundo maior grupo de despesas obrigatórias, a de pessoal, sem ter que recorrer a novas mudanças de meta. Entre as iniciativas estão mudanças na forma de tributação de fundos exclusivos, suspensão do aumento do Reintegra (que iria subir de 2% para 3%), prejudicando exportadores, reoneração da folha de pagamentos e cobrança de contribuição previdenciária de 14% para salários acima de R$ 5 mil.

A mudança na tributação dos fundos exclusivos, que são fechados ao público e atingem segmentos de alta renda, é na sistemática de cobrança, sem alteração das alíquotas, que variam de 15% a 22,5%, conforme o prazo de aplicação. Antes, segundo o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, esses fundos só tinham que pagar imposto no resgate das cotas ou no encerramento das operações. Agora, o recolhimento ocorrerá anualmente, como ocorre na indústria de fundos geral. "Na medida em que a tributação dos fundos exclusivos fechados passa a ser a mesma dos fundos abertos, temos antecipação de receita e essa antecipação se dá, portanto, em R$ 6 bilhões".

Essas medidas juntas somam R$ 14,5 bilhões de receitas adicionais e, com a elevação da meta do ano que vem em R$ 30 bilhões, completam a deficiência fiscal de R$ 44,5 bilhões constatada em relação à LDO ainda em vigor.

O governo também reduziu a previsão do salário mínimo do ano que vem de R$ 979 para R$ 969, o que deve gerar economia da ordem de R$ 3 bilhões na Previdência. E elevou em R$ 7,5 bilhões a estimativa de arrecadação com concessões de energia e mais R$ 6 bilhões de privatizações de aeroportos, que inclui a oferta de Congonhas.

A revisão da meta fiscal deste ano se deveu à dificuldade na geração de receitas, resultado de uma atividade econômica em recuperação ainda lenta, da queda da inflação e de frustração de receitas extras, como a segunda rodada de repatriação e os riscos envolvendo por exemplo o novo Refis. Para 2018, a mudança se deve à dificuldade de prever receitas suficientes para fazer frente à meta, mesmo com o limite de gastos funcionando plenamente.

Fatores como menor previsão de crescimento do PIB, de 2,5% para 2%, e menor inflação, que deve gerar menos R$ 23 bilhões ao governo em 2018 (mais do que os R$ 19 bilhões de perdas projetadas para 2017) pesaram negativamente. O governo anunciou ainda um programa de reforma do Estado com medidas que atingem basicamente os servidores, como o adiamento por um ano dos reajustes dos civis (militares foram preservados), cujo impacto previsto é de R$ 5,1 bilhões, implantação do teto remuneratório do salário do Supremo, que gera ganhos de R$ 725 milhões, cancelamento de reajustes de comissionados, redução de auxílios e ajudas de custos, além da extinção de 60 mil cargos vagos, que não tem impacto direto, mas evita alta de despesa.

Além disso, o governo fará uma ampla reestruturação de carreiras, aumentando a diferença entre salários iniciais e finais e regras de progressão no serviço, projetando uma economia de R$ 18,6 bilhões em cinco anos. O anúncio das novas metas e do pacote de medidas ocorreu na noite de ontem com mais de uma hora de atraso e foi parcialmente antecipado pelo líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), que antes defendia uma meta ainda mais elástica.

Meirelles fez questão de enfatizar que a queda da receita projetada para 2017 foi ocasionada principalmente pela inflação menor. "A mudança de 2018 também decorre de queda da arrecadação prevista", destacou o ministro, ressaltando que as expectativas de inflação também caíram bastante. "A inflação caindo é excelente notícia para o país, vamos deixar isso muito claro".

Meirelles divulgou também que a mudança na meta de déficit do governo central para 2017 e 2018 provocou ajustes nas metas do setor público consolidado, que inclui Estados e municípios e que não sofreram alterações. Para 2017, o déficit sobe de R$ 143,1 bilhões para R$ 163,1 bilhões. No caso de 2018, a meta do setor público consolidado passará de um déficit de R$ 131,3 bilhões para R$ 161,3 bilhões. O ministro informou que a previsão de receitas primárias em 2017 caiu R$ 42,5 bilhões ante o número que constava da Lei Orçamentária Anual (LOA). Passou para R$ 1,380 trilhão.

No caso da receita administrada, a previsão é R$ 50 bilhões. Meirelles destacou ainda que a composição do crescimento econômico, com maior presença de setores pouco arrecadadores como a agricultura e serviços, com efeito acentuado pela recessão, tem afetado negativamente a arrecadação.

 

Governo sinaliza aceitar flexibilização do Refis

O governo sinalizou aceitar uma nova flexibilização na medida provisória do Refis. A posição formal do Ministério da Fazenda será divulgada apenas nesta quarta-feira para os deputados, mas, em reunião na noite dessa terça-feira com parlamentares, o líder do governo no Congresso, deputado André Moura (PSC-SE), sinalizou com as concessões. Segundo Moura relatou aos deputados, a flexibilização é no campo das dívidas consideradas de “baixo valor”.

Na proposta original do governo, seriam os débitos menores que R$ 15 milhões com a União. O relator da MP, deputado Newton Cardoso (PMDB-MG), ampliou para R$ 150 milhões. A versão sinalizada pelo governo é de R$ 60 milhões. Para essas dívidas, a entrada sugerida pela MP é de 7,5% do valor consolidado, considerando juros e multa. Cardoso reduziu esse percentual para 2,5%.

A intenção do governo é deixar em 5%, de acordo com relatos. Esse valor teria que ser pago ainda em 2017 e o resto, já com abatimento dos encargos legais, seria parcelado em até 175 vezes a partir de janeiro. Sobre o desconto na multa e juros, as opções sinalizadas variariam de até 90% para o pagamento à vista, 80% no parcelamento em 145 meses e 60% em até 175 meses (10 anos). O relator sugeriu abater até 99% dos encargos no pagamento à vista e 85% no mais alongado.

A MP inicial previa percentuais diferentes para cada encargo: 90% de desconto nos juros e 50% nas multas se pago à vista em janeiro; 80%/40% para pagar em 145 vezes; e 50%/25% para quitar em 175 vezes. Segundo relatos da reunião, a Fazenda teria aceitado conceder o mesmo valor para ambos os encargos. Já as dívidas consideradas de “grande valor” permaneceriam com o tratamento proposto originalmente na MP, com entrada de 20%. O prazo para adesão, que termina em 31 de agosto, seria ampliado.

De acordo com relatos de três deputados, esses pontos teriam sido tratados pelo líder do governo "como o limite que a Fazenda aceita chegar". Mas ainda não foram oficializados como uma proposta formal do governo. Contudo, mesmo essas concessões não agradam completamente os deputados. Os parlamentares deixaram a reunião dizendo que ainda querem um valor maior para o que é considerado dívida de menor montante e também um percentual maior de desconto no parcelamento mais longo.

 

Bancos buscam parceria com gestores para venda de imóveis retomados

O agravamento da crise econômica, que fez o estoque de bens retomados pelo não pagamento de empréstimos - principalmente imóveis - mais que dobrar, tem levado os grandes bancos comerciais a buscar parcerias com gestores e investidores estratégicos para repassar a gestão desses ativos e, assim, reduzir esse portfólio.

Jive, Canvas, Polo, Credit Suisse Hedging-Griffo (CSHG), Cibrasec, Gaia, Capitânia e RB Capital são algumas das casas que estão de olho nesse mercado. Só no Bradesco, Itaú Unibanco, Santander e Banco do Brasil, o volume de bens não destinados ao uso próprio das instituições somava cerca de R$ 5,9 bilhões no segundo trimestre e era constituído, na maior parte, por imóveis. Se contar o estoque de imóveis retomados pela Caixa no primeiro trimestre, o total sobe para perto de R$ 10,5 bilhões.

Esses ativos consomem patrimônio dos bancos, uma vez que exigem requerimento de capital, e agora também começam a afetar o resultado das instituições, por conta das provisões para perdas. Além disso, representam um aumento das despesas operacionais, já que envolvem custos como pagamento de Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI), condomínio, administração e processos judiciais, no caso de ainda estarem ocupados.

O Santander, por exemplo, registrou no balanço do segundo trimestre uma provisão de R$ 337,686 milhões para contemplar a desvalorização de imóveis recebidos em garantia de empréstimos não pagos. Esse fator foi decisivo para que o banco apresentasse um resultado não operacional negativo em R$ 210 milhões entre abril e junho. A opção encontrada pelo banco foi repassar alguns dos imóveis retomados a um fundo imobiliário do qual é o único cotista.

Batizada de BRL V, a carteira, com patrimônio líquido de R$ 456,8 milhões, é gerida pela BRL Trust. Segundo o sócio do escritório N, F & A, o advogado Carlos Ferrari, a vantagem para os bancos é que eles deixam de ser proprietários dos imóveis e passam a ser investidores. No caso do Santander, como ele é único cotista, o risco não sai do balanço. Mas o objetivo nesse caso foi terceirizar a gestão dos ativos imobiliários, atividade que não faz parte de seu negócio.

Já a Caixa fechou uma parceria com o Sistema Cofeci-Creci no começo deste ano. A ideia é usar a rede de corretores de imóveis para vender as propriedades que foram levadas a leilão por falta de pagamento do financiamento. São 6 mil os imóveis liberados para a venda e a expectativa da Caixa é disponibilizar 20 mil bens. A maior parte é de imóveis residenciais com valor médio de R$ 250 mil, sendo muitos do programa Minha Casa Minha Vida.

Os imóveis são ofertados pelo mesmo valor de avaliação usado nos leilões. "Estamos na fase de treinamento junto com a Caixa e as vendas devem começar a partir de agosto", diz João Teodoro, presidente do Cofeci. Ele explica que os imóveis selecionados não possuem nenhum impedimento legal. "O que acontece é que alguns estão ocupados e o comprador é o responsável por mover a ação de despejo", explica.

No Bradesco, a estratégia tem sido melhorar a dinâmica de venda dos ativos por meio de leilões on-line. O banco já conseguiu reduzir o tempo médio de comercialização dos bens retomados para cinco meses. O Bradesco criou ainda uma empresa, a BSP Empreendimentos Imobiliários - que fica dentro do grupo segurador -, para fazer a gestão dos imóveis adquiridos.

A instituição estuda também a venda pontual de bens para fundos de investimento. O banco registrou um aumento de 39% no volume de provisão para perdas relativas à desvalorização de bens retomados e de não uso próprio no primeiro semestre em relação ao mesmo período do ano passado, para um total de R$ 1,320 bilhão. Por enquanto, nas operações que saíram até agora os bancos têm ficado como cotistas dos fundos, mas a ideia é começar a vender esses ativos no mercado para investidores estratégicos.

Algumas vendas pontuais de ativos já vêm sendo realizadas e com maior frequência, afirma Guilherme Ferreira, sócio e diretor-executivo da Jive. A gestora está negociando com dois grandes bancos e algumas instituições de médio porte. "Compramos qualquer coisa, imóveis industriais, residenciais, terrenos, desde que o ativo esteja no preço certo e que permita entregar o objetivo de retorno de nosso fundo, que é de 35% ao ano", diz Ferreira.

A Capitânia também está discutindo com alguns bancos médios opções para a compra de ativos imobiliários em estoque. Segundo o sócio da gestora, Arturo Profili, os bancos podem adquirir participações minoritárias nos fundos e, conforme as vendas dos imóveis forem acontecendo, eles se beneficiariam dos lucros. Há também a possibilidade de se emitir Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) com lastro nesse estoque de imóveis prontos ou mesmo a compra de ativos para venda direta a investidores estratégicos. A gestora tem interesse em comprar imóveis que possam gerar renda como shopping centers ou condomínios logísticos.

A RB Capital também avalia esses ativos. "Temos conversado com os bancos para prover uma solução de produto estruturado e temos interesse em imóveis comerciais e residenciais", afirma Marcelo Michaluá, sócio da gestora. Para Rafael Fritsch, sócio da gestora Canvas Capital, os bancos deveriam vender as carteiras imobiliárias em inadimplência antes de chegar à fase de execução dos imóveis. "Não queremos comprar cotas de outro fundo, o que não quer dizer que não compramos esse tipo de ativo."

Ferreira, da Jive, afirma que esse tipo de transação começa a crescer, principalmente com relação a créditos dos bancos a construtoras, que contam com garantias reais. "Para os bancos não é interessante executar as garantias e ficar com os imóveis. Então, negociamos a compra dessa carteira e junto a retomada do imóvel com o credor", diz. A venda dos imóveis retomados pelos bancos chega a ser um processo muito demorado e, muitas vezes, envolve bens que são difíceis de comercializar, como propriedades rurais no interior dos Estados ou mesmo galpões logísticos.

"Os bancos não têm expertise na área imobiliária e deveriam fazer parceria com empresas especializadas em ativos imobiliários para organizar esse processo de venda", afirma o advogado Renato Ximenes, do escritório Mattos Filho. O problema é que, ao vender esses bens, os bancos serão obrigados a registrar uma perda contábil, uma vez que esses imóveis geralmente são vendidos com desconto. Por isso, as conversas dos bancos com gestores ainda caminham lentamente, embora tenham avançado neste ano. Procurados, os bancos não comentaram o assunto.

 

Os riscos à retomada da atividade econômica

A economia dá sinais um pouco mais claros de recuperação, ainda que a retomada seja lenta. Nos últimos meses, a produção industrial teve um desempenho razoável e as vendas do comércio varejista surpreenderam. Em julho, as contratações superaram as demissões no mercado formal de trabalho, com a criação de 35,9 mil empregos, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

Isso equivale a uma geração de 21,4 mil de postos de trabalho na série com ajuste sazonal calculada por Fernando Montero, economista-chefe da corretora Tullett Prebon. Foi o primeiro número positivo desde setembro de 2014, destaca ele. Os juros em queda deverão ser decisivos para sustentar essa recuperação da atividade. O que pode atrapalhar esse quadro, porém, são as incertezas fiscais e a instabilidade causada pela aproximação das eleições presidenciais de 2018.

Como a Selic deverá seguir em baixa nos próximos meses, encerrando 2017 em 7,5% ao ano ou até menos, a economia receberá um estímulo significativo da política monetária. Um crescimento na casa de 2% em 2018 parece factível - para 2017, o mais provável é um avanço inferior a 0,5%. No segundo trimestre deste ano, é possível que o PIB tenha encolhido em relação ao primeiro, feito o ajuste sazonal, uma vez que a agropecuária deve devolver parte da expansão significativa ocorrida de janeiro a março.

A partir do terceiro trimestre, contudo, a variação do PIB deve voltar a ser positiva. É um cenário que está longe de ser exuberante, mas há indicações de que uma recuperação lenta e gradual está em curso e ganhará força nos próximos trimestres. As incertezas em relação à situação fiscal, contudo, podem nublar esse quadro, ainda mais num ambiente em que as dúvidas quanto à eleição presidencial de 2018 tendem a trazer volatilidade aos mercados, com pressão sobre o risco-país e o câmbio.

A depender do grau de instabilidade provocado por esses fatores, o investimento em capital fixo pode demorar ainda mais para se recuperar. Se de fato ocorrer, uma retomada mais firme da economia pode ser um antídoto contra discursos mais populistas na campanha. Para Montero, a pouco mais de um ano das eleições, há uma combinação favorável na economia, marcada por uma recuperação cíclica com pouca inflação, juros ineditamente baixos, alguma melhora do emprego e comida farta, devido à safra agrícola recorde.

Além disso, a nova matriz econômica e a ex-presidente Dilma Rousseff podem ser responsabilizados pelo colapso da economia, avalia Montero. Juntos, esses fatores tendem a ser, "no mínimo, uma força contra uma radicalização no cenário eleitoral", segundo ele. Vistas de hoje, as perspectivas para a inflação são tranquilas. A recuperação gradual da economia, num ambiente de elevada ociosidade, não deve pressionar os preços, abrindo espaço para a Selic seguir baixa por um bom tempo - há inclusive quem aposte em novos cortes no começo de 2018.

Os juros menores ajudarão a aliviar a situação financeira de empresas e famílias, contribuindo para a retomada do investimento e do consumo, embora não se espere um crescimento significativo desses componentes da demanda.

Um aspecto crucial para definir o ânimo dos eleitores em 2018 será o mercado de trabalho. O desemprego continua elevado e a criação de empregos ainda é tímida, mas surgiram recentemente alguns dados mais positivos. Se o medo de ser demitido diminuir e houver alguma melhora na geração de empregos, ainda que modesta, um candidato que defenda a austeridade fiscal e a necessidade de reformas terá uma vida menos difícil nas eleições de 2018. A curva de juros indica justamente as incertezas fiscais e as dúvidas em relação ao pleito presidencial do ano que vem.

O analista Antonio Madeira, da MCM Consultores Associados, observa que, entre 2019 e 2022, a taxa média do Certificado de Depósito Interbancário (CDI) esperada pelo mercado futuro está na casa de 10,7% ao ano. Para 2018, o CDI é consideravelmente mais baixo, ficando na casa de 8%. O CDI reflete as taxas dos empréstimos realizados entre as instituições financeiras.

As taxas mais elevadas de 2019 a 2022 mostram "em boa parte a incerteza com a melhora dos fundamentos fiscais, que poderia contribuir para a queda do juro estrutural", diz Madeira, numa referência à taxa que permite a economia crescer sem gerar pressões inflacionárias. Segundo o analista, as dúvidas quanto à eleição de 2018 decorrem da indefinição sobre a agenda econômica do futuro presidente. "Os investidores querem saber se a agenda de Temer terá continuidade no próximo governo", afirma Madeira.

Isso ajuda a explicar o salto nas taxas esperadas para o CDI a partir de 2019 em comparação com a projetada para 2018. O ponto é que o equilíbrio estrutural das contas públicas continua distante, e só será atingido se a política fiscal for austera por muitos anos. Há dúvidas quanto à sustentabilidade da trajetória fiscal, uma vez que serão necessárias medidas duras para conter o crescimento dos gastos e combater a rigidez das despesas obrigatórias. Além disso, a situação também requer algum aumento de impostos. Sem essas iniciativas, a dívida pública seguirá em sua trajetória explosiva e insustentável.

Anunciada ontem, a revisão das metas para o resultado primário para 2017 e para os anos seguintes mostra as dificuldades no front fiscal. A ampliação dos déficits esperados implica alta mais acentuada das projeções para a dívida bruta nos próximos anos, indicador que já está em 73% do PIB. Uma aprovação da reforma da Previdência neste ano melhoraria as perspectivas fiscais de longo prazo, sendo um contraponto para os maus resultados atuais, além de garantir o cumprimento do teto de gastos por algum tempo.

A fragilidade política do governo, no entanto, torna improvável que a mudança do sistema de aposentadorias passe no Congresso ainda no mandato de Temer. A retomada da atividade ajudará a aliviar um pouco as contas públicas, ao melhorar a arrecadação. A solução definitiva do problema, contudo, exige mudanças estruturais, ou o governo terá de recorrer a medidas pontuais e emergenciais para enfrentar rombos gigantescos, uma estratégia que obviamente não se sustenta. O risco é haver uma piora adicional da percepção de investidores e empresários sobre o quadro fiscal, prejudicando a recuperação que a economia enfim começou a esboçar.

 

S&P retira observação negativa e mantém rating do Brasil

A agência de classificação de riscos Standard & Poor's reafirmou a avaliação "BB" da nota de crédito do Brasil, mas retirou a observação negativa que implicava uma reavaliação do rating no prazo de 90 dias, contados a partir de 22 de maio. A agência, no entanto, manteve a perspectiva negativa para a nota de crédito do país, que continua com risco de um rebaixamento.

No comunicado, a S&P reconheceu que houve uma certa estabilização no quadro político, com a "sobrevivência" do presidente Michel Temer. A agência disse ainda que acredita que o governo continua comprometido com a redução do déficit fiscal, incluindo o avanço de pelo menos parte da reforma da Previdência.

A agência citou a estabilidade da inflação e sinais de recuperação da economia. "Desde que colocamos o rating em observação negativa em maio, o cenário político parece mais estável após o presidente Temer sobreviver às votações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em junho, e no Congresso em agosto", disse a agência.

A S&P justificou a manutenção da perspectiva negativa para a avaliação do país com a continuidade dos desafios políticos e a dificuldade do governo em fazer avanços significativos na contenção de gastos do setor público. A nota de crédito do Brasil tem risco de um rebaixamento nos próximos seis a nove meses, segundo a S&P. A agência afirmou que trabalha com um cenário básico em que o Congresso aprove medidas adicionais para aliviar a pressão orçamentária e a rigidez fiscal ainda neste ano. "No entanto, nossa perspectiva negativa reflete o risco de que o Congresso fracasse em fazer isso", disse a S&P.

Entre os avanços, a S&P mencionou a aprovação da reforma trabalhista pelo Congresso. De acordo com a agência, o governo continua comprometido com o avanço da reforma da Previdência, a contenção dos gastos do setor público e uma agenda de reformas microeconômicas que possibilitem aumentar o dinamismo da economia. "Nossos ratings do Brasil refletem a nossa visão de que as instituições políticas estabelecidas dão um importante suporte para a estabilidade econômica. Acreditamos que as investigações em curso de suposta corrupção envolvendo executivos e autoridades do setor público e privado, bem como partidos políticos, elevaram as incertezas no curto prazo, mas o quadro institucional sustenta a situação."

Para Cristiano Oliveira, economista-chefe do banco Fibra, a trajetória de redução dos gastos será suficiente para que as agências de classificação de risco não rebaixem a nota de crédito brasileira. "Se as agências olharem o esforço do governo para reduzir despesas, vão dar um voto de confiança para o Brasil", disse, destacando que, como proporção do PIB, o déficit primário do governo central vai diminuir entre 2017 e 2018, uma vez que a atividade deve acelerar.

 

O ESTADO DE SÃO PAULO

Recuperação da economia ainda é lenta, mas consolidada

A melhora nos indicadores de vendas do varejo, produção industrial e expectativa de investimentos ajuda a vislumbrar uma luz no fim do túnel para a economia, mas o avanço ainda é lento e tímido, na visão dos economistas. O índice de volume de vendas do varejo divulgado ontem pelo IBGE está no mesmo patamar de dois anos atrás, enquanto a produção da indústria segue como em 2009.

O indicador de vendas, em volume, do comércio varejista ampliado ficou em 92,5 pontos em junho, o mesmo registrado em dezembro de 2015. Ainda é baixo, se comparado ao pico da série histórica, de 101 pontos em novembro de 2014, mas foi o melhor resultado deste ano.

Para o ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman, a evolução não é um “soluço”, mostra uma recuperação lenta, mas consolidada. “Pode não ser empolgante, mas o movimento é claro. O que ainda preocupa é a velocidade. Nesse ritmo, vamos ter de esperar anos para recuperar as perdas.”

Na avaliação do economista, a melhora dos índices vem de um conjunto de fatores, como o aumento do poder de compra do consumidor, com a queda da inflação, os resultados melhores de emprego e o corte dos juros básicos. “É um movimento que demora a se materializar na economia, mas o último trimestre deste ano tende a ser melhor que os demais. Ainda não conseguimos mensurar o alívio da liberação do FGTS no consumo, mas ele existiu.”

O fotógrafo Fábio Vieira, de 32 anos, usou os recursos das contas inativas de FGTS para consumir. “Acabei de me mudar e precisava mobiliar o apartamento. Aproveitei o dinheiro para comprar uma lente, cama, televisão e armário. Foi fácil encontrar descontos. Os vendedores corriam atrás de mim.”

“A queda da inflação significou uma pequena melhora do poder de compra das famílias. Perdemos 7% do PIB em 2015 e 2016 e estamos sem crescer desde 2014, são quatro anos. Nesse intervalo, deveríamos ter crescido a 2% ao ano”, analisa Heron do Carmo, professor da FEA/USP. Ele lembra que a inflação baixa abre a possibilidade de uma recuperação mais rápida agora e a redução de juros também. “A tendência é a melhora do endividamento de empresas e pessoas, o que pode levar a uma reativação da produção e do emprego.”

Indústria. Mais combalida do que o varejo, a indústria fechou o mês de junho com índice de produção em 86,5 pontos, na série com ajuste sazonal – mesmo patamar de fevereiro de 2009. Na ocasião, os industriais paulistas também registravam recordes de ociosidade e de estoque. Com a falta de demanda, a produção das fábricas já dava sinais de entrar em marcha lenta.

No segmento de eletrodomésticos, a percepção dos fabricantes é mais pessimista. “Voltamos dez anos”, diz João Carlos Brega, presidente da Whirlpool para a América Latina. “Entendemos que a economia tocou no piso no segundo trimestre, mas vai seguir andando de lado até o fim do ano que vem. Vai dar uma sensação de alívio, que é diferente de melhora. Tem uma lei da física que diz: do chão não passa. Precisamos criar condições para crescimento sustentável de longo prazo.”

A demora no reaquecimento da demanda também impactou nos investimentos da indústria. O índice de sondagem feito pelo Ibre/FGV aponta que a intenção de aportes do segundo trimestre deste ano estava no mesmo patamar do quarto trimestre de 2014.

“A sensação do empresariado naquela época é a mesma de agora, de incerteza. Os dados gerais são bons, mas o nível de incerteza para quem tem de pensar no longo prazo ainda é imenso. Enquanto a luz no fim do túnel não for mais forte, o empresário não vai investir com segurança”, diz Aloisio Campelo Júnior, da FGV.

 

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