Terça-feira

CLIPPING (26.12.2017)

VALOR ECONÔMICO

Em 2018, mercado vê inflação menor e Selic abaixo dos 7%, aponta Focus

Os sinais mais efetivos de que a inflação deve encerrar o ano abaixo de 3% trazidos pelo IPCA-15, divulgado na semana passada, e pelo Relatório Trimestral de Inflação do Banco Central, levaram os analistas do mercado a reduzir ainda mais as projeções para o IPCA e para a Selic.

A mediana de estimativas do boletim Focus para a inflação oficial neste ano caiu de 2,83% para 2,78%, enquanto a previsão para o fim do ano que vem furou a barreira dos 4% e se acomodou em 3,96%.

Para o IPCA nos próximos 12 meses, a projeção caiu de 3,91% para 3,86%. Para a Selic, a mediana do mercado reduziu a estimativa de 7% para 6,75% em 2018, refletindo a sinalização do BC de que há espaço para um novo corte na taxa no início do ano que vem. Já as previsões para o avanço do Produto Interno Bruto (PIB) continuaram a subir no boletim Focus.

Para 2017, os economistas aumentaram a aposta de 0,96% para 0,98%, enquanto para 2018 passaram de 2,64% para 2,68%. Top 5 O grupo de instituições que mais acertam as projeções para o Focus (Top 5) ajustou a previsão para o IPCA para este ano de 2,73% para 2,77%, se alinhando à mediana do restante do mercado.

Para 2018, em contrapartida, a previsão do Top 5 para o IPCA caiu de 3,95% para 3,72%. Para a Selic no fim do ano que vem, as instituições mantiveram a projeção de 6,50%.

 

Consumo das famílias vai impulsionar PIB em 2018

O consumo das famílias vai impulsionar a economia também em 2018, tendo o investimento como coadjuvante. Essa é a avaliação dominante de bancos e consultorias, que apostam numa expansão do PIB na casa de 1% neste ano e de 2,5% a 3% no ano que vem. Com os juros mais baixos, o menor endividamento dos consumidores, a melhora no mercado de trabalho e a reação do crédito, o consumo das famílias tende a crescer entre 3% e 4% em 2018, depois de avançar algo como 1% em 2017.

Para o investimento, diversos analistas veem uma alta na casa de 6% ou um pouco mais no ano que vem, variação que parece forte, mas que se dá sobre uma base muito fraca. Já a Fazenda tem uma visão mais positiva sobre o investimento - o secretário de Política Econômica, Fabio Kanczuk, vê espaço para a formação bruta de capital fixo (FBCF, medida do que se investe em máquinas e equipamentos, construção civil e inovação) crescer na casa de dois dígitos em 2018 (ler Fazenda vê investimento de dois dígitos puxando a economia no ano que vem).

Para analistas de bancos e consultorias, porém, o consumo privado, com peso de quase dois terços no PIB, é que continuará a puxar a economia. "A contribuição do consumo das famílias para o crescimento será a maior pelo lado da demanda", diz Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria.

Ela projeta uma expansão de 3% para a demanda das famílias e de 6,2% para o investimento. Com peso bem menor, equivalente a cerca de 16% no PIB, a FBCF vai contribuir de modo mais modesto para o crescimento, mesmo crescendo a um ritmo duas vezes mais forte que o consumo privado, avalia Alessandra, que espera expansão para o PIB de 2,8%.

O economista-chefe do Banco Safra, Carlos Kawall, também vê uma alta de 3% do consumo das famílias em 2018. Segundo ele, o mercado de trabalho continuará a melhorar, numa ambiente de juros menores e melhora da confiança. A Selic, hoje em 7% ao ano, deve cair para 6,75% em fevereiro, podendo encerrar 2018 nesse nível ou até em 6,5%. O mercado de crédito também deve beneficiar o consumo, avalia Kawall.

Para o PIB, ele acredita em crescimento de 2,5% em 2018, esperando alta de 4% do investimento. Embora deva fechar a média deste ano em baixa, o investimento começou a reação no terceiro trimestre quando cresceu 1,6% em relação ao trimestre anterior, feito o ajuste sazonal. O tombo da FBCF entre o quarto trimestre de 2013 e o segundo trimestre deste ano, contudo, foi assustador, chegando a quase 30%.

Kawall observa que o setor de construção civil tem sido "o principal gargalo quando se trata da recuperação desse componente do PIB". Para ele, "os investimentos do setor imobiliário e de infraestrutura devem retornar em ritmo bastante lento, considerando os estoques elevados no primeiro caso e as restrições fiscais do setor público no segundo, mesmo considerando a expectativa de alguma retomada em função das privatizações". Já a situação no setor de máquinas e equipamentos é melhor, avalia Kawall.

Nas contas Alessandra a projeção de uma alta de 6,2% do investimento em 2018 embute uma expansão de 3,1% da construção e de 11,8% do consumo aparente de bens de capital (a soma da produção e da importação, excluindo a exportação). O economista-chefe do UBS Brasil, Tony Volpon, espera um avanço de 6,5% da formação bruta de capital fixo, mesmo com a grande ociosidade na economia.

Ele diz ver com ceticismo os índices de utilização de capacidade instalada. "São pesquisas que mostram a percepção sobre a capacidade ociosa do empresário", afirma Volpon, destacando o aspecto subjetivo dessa avaliação, ainda mais depois de uma recessão tão longa. Outro ponto, segundo ele, é que, num momento recessivo, os empresários deixam de lado primeiro a parte menos eficiente de suas linhas de produção. Quando é necessário reativá-la, é possível que ela tenha sofrido uma depreciação muito grande e demande investimentos, avalia Volpon.

Por fim, ele diz que o investimento não se resume apenas a máquinas ou à construção, mas também a softwares, por exemplo. Numa economia em que serviços respondem por mais de 70% do PIB, isso tem relevância. Mesmo com essa visão um pouco mais otimista sobre a FBCF, Volpon diz que a estrela da retomada ainda será o consumo das famílias. A situação patrimonial dos consumidores melhorou mais que a das empresas

Para Volpon, o consumo das famílias vai avançar 3,7% no ano que vem, ajudando a garantir um crescimento do PIB de 3,1%. Um fator que pode refrear decisões de investimento é a incerteza em relação ao quadro eleitoral, o que traz interrogações sobre como a precária situação das contas públicas será encaminhada a partir de 2019. Boa parte dos cenários de bancos e consultorias embute a aposta na vitória de um candidato comprometido com as reformas e a o ajuste fiscal, como o Safra.

Em relatório, os economistas liderados por Kawall observam que "a incerteza política com relação à eleição presidencial de 2018 será anormalmente maior do que em episódios passados". Na visão do banco, "se o compromisso com as reformas cessar e o populismo econômico for restabelecido", o cenário desenhado para a economia mudaria drasticamente para pior. "O ciclo político será, portanto, o elemento-chave do cenário econômico brasileiro no próximo biênio."

Para o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, a questão eleitoral pode limitar, mas não interromperá o investimento em 2018. Otimista quanto à atividade, Oliveira aposta numa expansão do PIB de 4,1% no ano que vem, destacando o impacto do juro baixo. O mercado de trabalho continuará em recuperação e a retomada do crédito vai prosseguir, diz Oliveira, que vê o consumo com maior destaque no primeiro semestre - o investimento deve ganhar mais espaço no segundo.

Para ele, a melhora da economia fará um candidato reformista ganhar espaço já no primeiro semestre, diminuindo as incertezas eleitorais. Isso ajuda a entender a projeção de um crescimento de 4,1%.

 

BC prevê alta de 3% no crédito em 2018, primeiro crescimento nominal

O Banco Central (BC) projeta um crescimento de 3% para o estoque de crédito em 2018. Caso se confirme, os empréstimos do sistema bancário apresentarão o primeiro crescimento nominal em três anos, favorecidos pela recuperação gradual da economia, pelo avançado grau de desalavancagem das famílias e pelo início da estabilização do mercado de empréstimos para pessoas jurídicas.

Mas, em termos reais — isto é, descontada a inflação — 2018 marcará o quarto ano consecutivo de retração no estoque de empréstimos e financiamentos bancários. Levando em consideração a projeção do próprio BC para a inflação medida pelo IPCA para 2018, de 4,2%, o saldo das operações de crédito terá uma retração real de 1,15%. Para este ano, a queda é estimada em 3,7% em 2017, depois de uma baixa histórica de 9,21% em 2016 e um recuo de 3,59% em 2015.

Segundo o chefe do departamento de Estatísticas do Banco Central (BC), Fernando Rocha, a expansão nominal representa o início da melhora do mercado de crédito, com destaque para operações com recursos livres e para o segmento de pessoas físicas. “O ponto a destacar é a volta do crescimento nominal depois de uma redução dos saldos do mercado de crédito. Isso mostra que o pior momento já passou. Será gradual.

Um crescimento de 3% é abaixo do IPCA projetado para o ano que vem. Já na composição, os setores que saem na frente terão crescimento real, caso da pessoa física”, disse. Para 2018, o BC trabalha com um crescimento de 4% no estoque de crédito livre, liderado pelas operações com pessoas físicas, com alta estimada em 7%.

O saldo de pessoas jurídicas deve avançar 1%. Para o crédito direcionado, a estimativa da autoridade monetária é de alta de 1%, com expansão de 7% para a pessoa física e queda de 6% para pessoa jurídica. Em 2017, nos dados acumulados até novembro, o saldo total caiu 1,4%, para R$ 3,063 trilhões.

Houve uma retração de 2,5% do crédito direcionado, puxada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que encolheu 10,1% no ano até novembro. No segmento de crédito com recursos livres, houve leve queda de 0,2%. Sinais positivos Sustentando a perspectiva de recuperação, Rocha apresentou, em entrevista à imprensa, os resultados da pesquisa trimestral das condições de crédito.

As perspectivas para o primeiro trimestre de 2018 são positivas em todos os segmentos, na comparação com o período imediatamente anterior. No caso das empresas, as projeções são favoráveis tanto para as grandes quanto para as pequenas e médias. Para as pessoas físicas, há boas perspectivas para o consumo, mas o destaque, segundo Rocha, é o crédito habitacional.

“Se os dados se confirmarem, será o primeiro trimestre em que todos os segmentos crescem ou permanecem estáveis desde o segundo trimestre de 2011”, disse. Na pesquisa feita pelo BC, as instituições financeiras são questionadas sobre perspectivas de demanda, oferta e aprovação em comparação com o trimestre anterior. A amostra cobre 92% do sistema.

Em novembro, o estoque de crédito bancário da economia avançou 0,4%, após elevação de 0,1% em outubro. O crédito com recursos livres liderou a expansão, com avanço de 1%, enquanto o total de operações direcionadas recuou 0,3%. Rocha observou que o crédito sobe desde o fim do ano passado para as pessoas físicas e mantém-se em queda no caso da pessoa jurídica.

Mas, segundo ele, parte dessa retração para as empresas tem sido compensada por captações no mercado de capitais. Somando os dois segmentos — crédito e mercado de capitais — a comparação janeiro outubro de 2017 revela um crescimento de 1,8% no volume de financiamentos às companhias. “Existem evidências de que a retração no mercado de crédito está sendo compensada pelo maior dinamismo no mercado de capitais”, disse ele, citando um aumento de 75% no volume captado neste ano em relação a 2016, quando as emissões domésticas foram as menores em quatro anos.

Segundo Rocha, a expectativa é que o mercado de capitais continue apresentando dinamismo, mas o crédito também deve mostrar uma “situação melhor” no próximo ano. Spreads As taxas de juros no crédito bancário retomaram o movimento de queda em novembro, depois de uma breve alta em outubro. O juro médio do sistema fechou em 26,8%, baixa de 0,5 ponto percentual em um mês e 5,4 pontos no ano. Nas operações com recursos livres, as pessoas físicas pagaram, em média, 58,1% ao ano em novembro, 1,4 ponto menos que em outubro, e 14,3 pontos de queda frente a dezembro de 2016.

A taxa é a menor desde maio de 2015 e, nesse intervalo, chegou a se aproximar dos 75% ao ano. No mês passado, o spread médio com recursos livres cedeu 1 ponto percentual, para 34,2 pontos, acumulando queda de 6,1 pontos no ano. O patamar de spread é o menor desde o fim de 2015. No lado da inadimplência, o mercado caminha para encerrar o ano com estabilidade na média geral, com taxa de 3,6% no fim de novembro.

No crédito com recursos livres, a taxa de calotes recuou 0,4 ponto no ano, para 5,3% no mês passado, enquanto os calotes com recursos direcionados se mantiveram estáveis em 1,8%. Enquanto a inadimplência das famílias caiu 0,6 ponto no ano para 5,4% em novembro, a das empresas está praticamente estável em 5,1%.

 

Alckmin é o favorito, afirma analista

Caso se confirmem os prognósticos do cientista político Marcus Melo, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), as eleições de 2018 ocorrerão sem a candidatura do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e haverá uma alta taxa de renovação no Legislativo, mas não nos cargos majoritários para presidente e governadores. Melo prevê um "processo curioso, meio esquizofrênico" de mudança na classe política que compara à imagem de um queijo suíço. Caciques poderão ser "varridos do mapa", o PMDB será tóxico, a candidatura de Jair Bolsonaro definhará por estar longe das preferências do eleitor mediano, e o grande favorito para subir a rampa do Planalto em 1 de janeiro de 2019 é o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).

Em sua opinião, o tucano só não vence se acontecer falta de coordenação ou algo como se passou na eleição a prefeito do Rio, com o colapso do centro que permitiu a chegada improvável de um bispo - Marcelo Crivella (PRB) - e de um "comunista" - Marcelo Freixo (Psol) - ao segundo turno. "Esse cenário carioca, porém, é improvável na eleição a presidente", diz. Sobre a chance de haver, por exemplo "três cavalos" querendo ocupar a mesma faixa, Melo afirma que essa possibilidade é reduzida, pois Luciano Huck, João Doria e Aécio Neves são cartas fora do baralho.

Também não acha crível o PMDB lançar um candidato ou mesmo apoiar alguém do núcleo governista, como o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD). "Quem cogita a candidatura dele não tem a menor ideia do que é o perfil do eleitorado brasileiro. É preciso me apontar o sucesso nas urnas de outro ex-banqueiro com muito menos carisma do que o Alckmin - o que é difícil encontrar - e que foi CEO do grupo J&F, maior empresa implicada na Lava-Jato ao lado da Odebrecht ", diz.

A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao Valor:

Valor: Lula conseguirá ser candidato a presidente?

Marcus Melo: Todos os desdobramentos são marcados pelas incertezas, mas as evidências do padrão do TRF-4 indicam a sustentação da condenação. Haverá judicialização, o caso chegará à Corte Suprema e o STF terá que se manifestar. Tudo se encaminha para Lula não ser candidato.

Valor: Mas Lula disse que desistirá de concorrer se for condenado.

Melo: Tudo que o Lula está dizendo agora faz parte de sua estratégia de defesa. Não podemos tomar a declaração pelo valor de face. Há certa ambiguidade nestas situações [de condenação em segunda instância], por causa de liminares. Há precedentes em eleições anteriores de candidatos que conseguiram participar, sub judice. Mas o desenlace deve ser o impedimento de se candidatar. Se concorrer, a rejeição dos eleitores o derrubará.

Valor: Com a condenação é provável que venha também a prisão?

Melo: Aí o cenário é mais nebuloso ainda. Mas a prisão interessa menos aos atores envolvidos do que a condenação. Como solução em futuro não muito distante, pode haver um perdão presidencial. A conciliação é uma tradição nossa desde 1853 com o Marquês do Paraná [primeiro-ministro do período imperial que reuniu liberais e conservadores em seu ministério]. A anistia ocorreu em todos os períodos monárquicos e republicanos. É usada amplamente e está presente nas melhores democracias, pois há casos dessa natureza, em momentos de grande importância. Gerald Ford anistiou Nixon. Na Revolta da Armada, no fim do regime militar, não me surpreenderia se acontecesse com Lula. Aliás, quase aconteceu com o [José] Dirceu [o petista recebeu perdão de pena imposta a ele no julgamento do mensalão, mas continuou preso por condenação na Lava-Jato].

Valor: Qual será a marca das eleições de 2018?

Melo: Haverá uma demanda brutal pela renovação, aumentará a chance de outsiders como não se via há décadas, depois dessa exposição pornográfica da corrupção. A escala do que se tem assistido é o equivalente funcional de uma revolução. Um ex-governador e dois ex-presidentes da Câmara estão na prisão, uma presidente foi alvo de impeachment, magistrados julgam um expresidente de enorme popularidade. Historiadores no futuro verão essa época como de grande transformação. Por outro lado, nunca se assistiu reação tão grande das forças que operam no viés pró-incumbente. A começar pelo fundo de campanha de quase R$ 2 bilhões e as regras aprovadas que favorecem os detentores dos atuais assentos. O PMDB ou o candidato que ele apoiar estará sentado em mais de R$ 1 bilhão. Mas o saldo líquido será no sentido da renovação.

Valor: Quais são os sinais?

Melo: Tenho uma pesquisa, com Lúcio Rennó e Ivan Jucá, que estima o impacto de escândalos de corrupção sobre as chances de reeleição de deputados federais entre 1994 e 2010. Um escândalo reduz em 18% a probabilidade de recondução ao mandato. Isso em tempos normais. Com a Lava-Jato será muito grande. Por mais recursos que um deputado do PMDB possa mobilizar dificilmente ele vai evitar. O PMDB se tornou tóxico. Não tivemos eleição desde que começou a Lava-Jato, exceto a municipal, no ano passado, quando o PT perdeu 40% de suas prefeituras, antes de muita coisa vir à tona, como escândalo da JBS e da Odebrecht. No mensalão e no escândalo dos sanguessugas, entre 2005 e 2006, 69 deputados foram envolvidos, dos quais só nove foram eleitos. O impacto de um escândalo de corrupção não é trivial.

Valor: Apesar disso, não teremos uma eleição parecida com a da Itália depois da Operação Mãos Limpas, que arrasou o sistema partidário e resultou em Silvio Berlusconi.

Melo: Berlusconi é um outlier. Não temos ninguém assim. Era o equivalente a alguém que fosse ao mesmo tempo dono do Corinthians e da Rede Globo, um dos mais ricos do país. Luciano Huck não é comparável. É uma estrela de TV, mas não é dono da maior emissora. Alguém com esse cacife não é facilmente encontrável em outros países. Berlusconi não é da extrema-direita, é mais de centro-direita. Qualquer paralelo com ele é difícil.

Valor: Não há um candidato como ele, mas os partidos brasileiros estão de pé, muito diferente do resultado na Itália.

Melo: Tem razão. O sistema do pentapartito - os cinco partidos que dominavam - desmoronou e depois foi reconstruído. No Brasil, infelizmente, o sistema partidário continua de pé. Vai haver renovação, mas não a esse ponto. Nosso quadro é de hiperfragmentação. Em sete Estados todos os deputados federais são de partidos diferentes. A terapia - o fim das coligações proporcionais - só começa pra valer em 2020 [a partir de 2018, entra em vigor também a cláusula de barreira]. Esse sistema já entrou em colapso. Com Dilma, o partido presidencial tinha apenas 11% das cadeiras da Câmara.

Valor: Apesar da fragmentação, o poder do PMDB continua o mesmo ou maior, agora que está na Presidência.

Melo: Tem protagonismo, mas o seu DNA é o de partido não presidencial por excelência. Não tem nome [para eleição ao Planalto], mas tem recursos [políticos]. O PSDB tem nome e alguns recursos. O PT e o PDT não tem máquina política relevante, somente em alguns entes subnacionais, e algum acesso a recursos partidários. O 'swing voter', aquele eleitor volátil, que votou em Lula e Dilma a partir de 2002, não volta mais para o PT. Não têm identificação programática com o PT. Aderiram porque o PT produziu ganhos, mobilidade social vertical, inclusão, isso tudo acabou.

Valor: O primeiro balizador de uma eleição, em regra, é se predomina o desejo de mudança ou de continuidade em relação ao governo de plantão. A questão da corrupção vai embaralhar essa definição?

Melo: A exposição da corrupção nos últimos anos foi pornográfica, mas não vai ser a questão central. Porque o nível e abrangência da Lava-Jato produziram uma sensação de corrupção sistêmica. Quanto maior a exposição, menos a corrupção deixa de ser parâmetro, produz um quadro de cinismo cívico, d que todos são corruptos. Ainda assim, para a maioria a corrupção será definidora. O PMDB e outros partidos e candidatos ancorados em igrejas ou instituições que despertam lealdade muito resiliente podem escapar, mas quem não tiver tem muita chance de ser varrido do mapa. O eleitor poderá deixar de votar no deputado governista que lhe levou benefícios, ao pensar que a maioria dos recursos o parlamentar botava no bolso e o que sobrava é que ia para a região.

Valor: Que candidatos terão vantagem?

Melo: O voto nulo vai crescer muito. A taxa de renovação na Câmara em 2014 foi de 43%. Ela vai se elevar, mas talvez elegendo candidatos dentro das mesmas estruturas. Para os movimentos de renovação, como Agora! e Acredito, creio que poderão ter problemas de coordenação, de acesso aos recursos dos partidos por onde concorrerão.

Valor: Onde haverá renovação de fato?

Melo: Acho difícil que ocorra no nível federal ou nos governos dos Estados porque as barreiras de entrada nestas eleições majoritárias são altas, as campanhas são caras e quase R$ 2 bilhões estarão nas mãos dos partidos. Ocorrerá mais nas eleições proporcionais, via celebridades, por exemplo. Será um processo curioso, mais parecido com um queijo suíço. Algumas estruturas partidárias vão sofrer, mas sobreviver. Alguns caciques escaparão e outros serão varridos, vai ser uma renovação meio esquizofrênica.

Valor: O que muda sem a candidatura de Lula?

Melo: Será um clima bem diferente, acho que forças pró-governo vão agir no sentido de favorecer a candidatura Alckmin. Há um mês ficou mais claro. Aécio se enfraqueceu brutalmente. Na convenção, levou uma vaia, ficou desolado e nem discursou. Isso o neutraliza e fortalece a candidatura do PSDB, pois ele era um legado tóxico. Alckmin é sem sombra de dúvida o candidato. Vai ter o apoio no segundo turno, no que seja, do PMDB, ao fim e ao cabo. E isso torna a candidatura muito forte, a despeito de ser uma eleição de renovação. Alckmin é o establishment há 24 anos em São Paulo e malgrado isso é o que tem maior cacife, recursos do fundo eleitoral e a máquina de São Paulo.

Valor: Em 1 de janeiro de 2019, teremos Alckmin subindo a rampa do Planalto?

Melo: É o cenário mais provável. Sem Lula, Alckmin tem mais chance ainda e provavelmente polarizaria com Marina ou Ciro. A polarização Lula x Bolsonaro só ocorreria em caso de colapso do centro, o que não é o caso, ou um colapso de coordenação, com uma competição predatória da centro-direita, com Alckmin, Huck e Doria, três cavalos querendo ocupar a mesma faixa, mas isso já está definido. Huck, Doria e Aécio são cartas fora do baralho. Geraldo Alckmin se fortaleceu com o enfraquecimento de Aécio. Ele se beneficia de todos os fatores pró-incumbentes. Não sai ileso, mas na elite política é um dos menos afetados pela Lava-Jato.

Valor: Mas a Lava-Jato pode atrapalhá-lo?

Melo: Sim, porque na Lava-Jato você puxa uma pena e sai uma galinha. Pode aparecer o "cisne negro", ou seja, um evento de baixíssima probabilidade, mas que quando ocorre causa um grande impacto.

Valor: Isso aumentaria a chance de Bolsonaro?

Melo: Há uma hipervalorização da candidatura Bolsonaro. Se houver uma disputa entre a direita e a centro-direita a eleição estará resolvida antecipadamente. Alckmin teria vantagem. Bolsonaro não tem uma bandeira social. Para a maioria dos cidadãos brasileiros, que ganham dois salários mínimos, querem uma saúde pública melhor, metade é miscigenada, ele não tem nada a dizer. Está longe destas demandas. A única bandeira dele é a segurança, e por isso ele não tem zero percentual nas pesquisas.

Valor: Trump também não foi subestimado nos Estados Unidos?

Melo: De maneira nenhuma Bolsonaro se aproxima dele. É um 'insider' por excelência, está há 30 anos na política. Tem muita vulnerabilidade também, e se puxar uma pena vem uma galinha, assim como todas as barbaridades que ele falou ao longo do tempo. Ele só teria chance no cenário carioca, algo que a ciência política já modelou. Os extremos só são viáveis com o colapso do centro, como ocorreu no Rio, na eleição a prefeito do ano passado, quando se armou uma disputa improvável entre um bispo e um comunista, entre Marcelo Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (Psol). E Crivella foi hábil ao migrar para a centro-direita. Se você tem um candidato de centro, ele sempre terá apoio à esquerda ou à direita quando chega a escolha binária no segundo turno. O quadro federal é muito diferente porque o centro está intacto. É o PSDB, a centro-direita, que não entrou em colapso, como o PMDB no Rio.

Valor: E o PT e a esquerda sem a candidatura Lula, como ficam?

Melo: O candidato de centro-esquerda tradicional é sempre o PT, que se enfraqueceu brutalmente em 2014, perdeu 17 deputados federais. Isso vai se acentuar e o PT vai ficar como partido médio. Quem ocupa o espaço é o Ciro Gomes (PDT) que não tem nem de longe o cacife para isso. Uma disputa entre Guilherme Boulos (Psol) e Bolsonaro seria o equivalente no nível federal ao cenário carioca de Freixo versus Crivella.

Valor: O ano de 2018 representará o nascimento de um novo padrão de competição política, sem um partido de esquerda?

Melo: Durante algum tempo a simetria vai continuar. O Brasil não é a Guatemala, tampouco a Colômbia, onde a disputa é entre a direita e a centrodireita. Há países em que o eleitorado é majoritariamente de centroesquerda, como o Uruguai, onde a direita é desabitada. Nas pesquisas em que se mede a autoidentificação do eleitor, o Brasil é muito equilibrado na distribuição de frequências. Somos mais parecidos com o Chile e a Argentina, com dois campos claros à esquerda e à direita. A Lava-Jato produziu um Bolsonaro, mas ele não tem apelo em outras dimensões, não tem o que dizer na área social, no tema racial. O eixo fundamental é a disputa redistributiva. Alguém que não tenha discurso redistributivo não tem a menor chance. Quem está mais próximo do eleitor mediano terá política social forte. Não é o caso do Bolsonaro. Ele tem um nicho importante para disputa proporcional. Não ganha uma eleição a governador, mesmo no Rio. Só se o centro entrasse em colapso. Não pode caminhar para o centro, depois de 30 anos dizendo o contrário. Quando a campanha começar ele vai desidratar, desaparecer.

Valor: E terá pouco tempo de TV e recursos do fundo eleitoral.

Melo: Mesmo sem o apoio do PMDB, o PSDB pode ter R$ 1 bilhão do fundo, o partido do Bolsonaro terá R$ 8 milhões. Será a disputa do bilhão, que usa robôs na internet, contra R$ 8 milhões. É um partido nanico [Bolsonaro está colonizando o PEN, que se chamará Patriota]. A mesma coisa vale para o [exministro do Supremo] Joaquim Barbosa, ainda que o PSB seja maior e ele possa ter uma votação razoável.

Valor: E a candidatura de Henrique Meirelles?

Melo: Há duas coisas que não fazem sentido. Há um certo exagero sobre o potencial do Bolsonaro e outro exagero sobre o potencial da candidatura de Meirelles. Quem cogita a candidatura dele não tem a menor ideia do que é o perfil do eleitorado brasileiro. É preciso me apontar o sucesso nas urnas de outro ex-banqueiro com muito menos carisma do que o Alckmin - o que é difícil encontrar - e que foi CEO do grupo J&F, maior empresa implicada na Lava-Jato ao lado da Odebrecht. Não tem a menor visibilidade política.

Valor: Nem se a economia melhorar?

Melo: Em hipótese alguma, porque o PSDB pode reivindicar, crivelmente, o crédito pelo sucesso na estabilização e mesmo que não chegue a personalizar pode dizer que tem a competência para fazer isso, pode ser herdeiro desse legado. O PSD e o PMDB atraem só meia-dúzia do mercado em São Paulo. Por mais que o efeito "feel good" favoreça o incumbente, o atual incumbente é figura que não vale para análise política tradicional. Só foi alguém para solução da crise do impeachment e cujo assessor foi flagrado carregando mala com R$ 500 mil. O incumbente não existe e se tornou tóxico. Querem transferir a candidatura para o Meirelles, mas não funciona assim.

 

FOLHA DE SÃO PAULO

 

Depois de sete quedas consecutivas, construção de imóveis deve subir em 2018

A construção de imóveis deve retomar em 2018, depois de sete quedas anuais, prevê a consultoria Neoway, que elabora um indicador desse setor com a Tendências, uma outra consultoria.

"A quantidade de metros quadrados a serem erguidos no ano que vem deverá subir 1,2%, e os lançamentos, 25%", diz Cristina Della Penna, diretora da Neoway.

O crescimento ocorre sobre uma base de comparação muito baixa, ela ressalta. O setor passou por sucessivos recuos desde 2012 e, hoje, está em níveis semelhantes aos de 2007.

Os juros mais baixos, o déficit habitacional e o cenário político relativamente estável são os fatores que levam à melhora, afirma.

Durante a crise, os diferentes segmentos de moradias tiveram desempenhos distintos. O de casas populares não sofreu como os outros, e seguirá em crescimento, diz Eduardo Fischer, co-presidente da construtura MRV.

"Imóveis residenciais de baixa renda têm financiamento equilibrado, que é o FGTS, e uma demanda muito forte porque a demografia favorece essa faixa."

A empresa é hoje a que mais constrói no Brasil, e anunciou um plano para investir R$ 50 bilhões em dez anos.

Ela também atuará em um mercado com um perfil um pouco mais alto que o atual: casas de 50 m², com dois quartos. "Na recuperação haverá lançamentos de todos os padrões, porque já faz dois anos que não surge quase nada."

 

O ESTADO DE SÃO PAULO

Em 2018, economia no ritmo da eleição

O ano que chega ao fim trouxe notícias alentadoras para a economia. Para o economista José Márcio Camargo, que assina um dos 11 artigos desta edição especial, reformas aprovadas durante o ano, como a trabalhista e a troca da TJLP pela nova TLP nas taxas de juros do BNDES, terão efeitos importantes para a atividade econômica já a partir do ano que vem.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, lembra que o País chega a dezembro com uma taxa de inflação rodando abaixo de 3% e uma taxa de juros de 7% ao ano, nível nunca antes visto. A taxa de desemprego vem em trajetória de queda. “Estamos convictos de que teremos boas surpresas com nossa economia nos próximos anos”, diz.

Isso não quer dizer, evidentemente, que os problemas estão resolvidos. Como quase todos fazem questão de ressaltar, o País ainda vive uma situação fiscal delicadíssima. A dívida líquida sobe de forma consistente, saindo de cerca de 30,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2013 para 50,7% do PIB este ano, de acordo com o economista Luiz Schymura, da FGV Ibre. “A economia ainda necessita de um profundo ajuste fiscal”, diz a economista Monica de Bolle.

O rombo nas contas públicas, de R$ 159 bilhões projetados para este ano e também para 2018, deixa claro que há mudanças estruturais importantes que ainda precisam ser encaminhadas.

A reforma da Previdência, talvez a mais importante dessas mudanças, ficou para o ano que vem – e, para muitos, só deve ser votada mesmo quando um novo governo for eleito. Mesmo assim, para o economista José Roberto Mendonça de Barros, já houve uma vitória nessa questão: hoje, já não pairam mais dúvidas sobre a necessidade de uma reforma. “O diagnóstico de que não existem problemas está hoje restrito à extrema esquerda e aos representantes das corporações públicas.”

Para a economista Zeina Latif, há o reconhecimento dos investidores de que a reforma da Previdência está na agenda política brasileira, devendo ser aprovada pelo próximo presidente. O problema, diz, é se a reforma não for ambiciosa o suficiente para sinalizar que o País conseguirá estabilizar sua dívida pública.

Eleição. O tema da Previdência, assim como das outras reformas, deve estar no centro do debate político em 2018, ano de eleições para presidente da República, governadores, senadores e deputados federais e estaduais. Para Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura, essas questões terão “decisiva influência no resultado das urnas” no ano que vem.

O cientista político Murillo de Aragão avalia que a aprovação da reforma previdenciária, seja ela qual for, poderá fortalecer o governo e seus pré-candidatos na disputa eleitoral.

Mas, segundo o também cientista político Carlos Melo, a recuperação econômica pode ter um efeito eleitoral menor que o esperado pelos candidatos do autodenominado “centro democrático”. “Candidatos de oposição enfatizarão problemas econômicos, lacunas e insatisfações, apontando também o agravamento de questões sociais”, diz. Seja como for, José Luis Oreiro, professor da Universidade de Brasília, afirma que os problemas estruturais do País terão de vir à tona e devem ser discutidos seriamente pelos candidatos em 2018.

A recuperação econômica brasileira também pode enfrentar ameaças externas. Barry Eichengreen, professor da Universidade da Califórnia em Berkeley, lembra que paira sobre o mundo o risco Trump – que pode, por exemplo, desencadear uma guerra comercial com a China ou o México, ou uma guerra, mesmo, contra a Coreia do Norte, com resultados desastrosos para todo o planeta.

 

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