Quarta-feira

CLIPPING (27.12.2017)

VALOR ECONÔMICO

Incorporadoras começam a repor banco de terrenos

As incorporadoras que atuam nos segmentos de média e média-alta renda, na cidade de São Paulo, estão recompondo seus bancos de terrenos para se preparar para lançamentos de projetos residenciais e de uso misto no segundo semestre do próximo ano e, principalmente, em 2019. "O mercado de terrenos para imóveis dos padrões médio e médio-alto tem apresentado melhora gradual", afirma Ronny Lopes, sócio da Arquimóvel, empresa que representa incorporadoras na aquisição de áreas.

A demanda se concentra nas regiões dos chamados eixos estruturantes - próximos de metrôs e corredores de transporte público, onde o potencial construtivo aumentou com o novo Plano Diretor de São Paulo. Apesar de a procura por áreas ter aumentado nos últimos meses, os preços se mantém estáveis, nominalmente, desde 2014, de acordo com Lopes, o que significa perda real para a inflação.

Por outro lado, a fatia desembolsada em dinheiro por áreas em que serão desenvolvidos "produtos especiais, em regiões premium", cresceu em relação ao valor total pago, segundo o presidente da Brasil Brokers, Claudio Hermolin. A maior parte do pagamento ainda ocorre, porém, por meio de permuta. Tem havido um "otimismo controlado" por parte das incorporadoras na aquisição de terrenos, de acordo com Rodrigo Bicalho, sócio do escritório especializado em direito imobiliário Bicalho e Mollica Advogados.

Há demanda, segundo ele, por áreas para incorporação de projetos dos segmentos econômico, médio e de alto padrão. Desde setembro, o volume de operações de compra de terrenos tem ganhado força, conforme Bicalho. "No segundo semestre, ficou mais claro que a reforma trabalhista seria aprovada e que Temer [Michel Temer, presidente da República] não iria cair", diz o presidente da Brasil Brokers, acrescentando que juros em queda contribuem para a melhora do setor imobiliário. Bicalho afirma que o cenário econômico é "visto como bom para 2018, apesar da incerteza referente às eleições".

Na avaliação do sócio do Bicalho e Mollica, as incorporadoras têm comprado terrenos com a intenção de realizar lançamentos no próximo ano, mas o momento efetivo de apresentação desses projetos ao mercado depende da concessão de licenças pela Prefeitura de São Paulo. "A aprovação tem sido um gargalo terrível", afirma o advogado.

De acordo com Hermolin, as incorporadoras estão buscando terrenos para lançar no período de dez a 12 meses. A EZTec, por exemplo, desembolsou R$ 100 milhões, neste ano, na compra de áreas, na capital paulista, para projetos de pequeno porte direcionados às classes média-alta e alta. Não houve queda de preços de terrenos para projetos com esse perfil, segundo o diretor financeiro e de relações com investidores da companhia, Emílio Fugazza.

A retomada de lançamentos pela EZTec de projetos de maior porte, direcionados para a média renda depende da melhora dos níveis de emprego, de solução para os distratos e dos rumos das eleições de 2018. A Gafisa informou que seu banco de terrenos para 2018 está formado e que tem buscado áreas para lançamentos em 2019.

Haverá parcela maior de pagamento em dinheiro pelos terrenos para projetos a serem lançados no curto prazo do que por áreas destinadas a empreendimentos a serem apresentados em períodos mais longos. A companhia encerra 2017 com lançamentos de R$ 560 milhões. Segundo o seu presidente, Sandro Gamba, a incorporadora tem condição de lançar de R$ 900 milhões a R$ 1 bilhão, no próximo ano, mas estima Valor Geral de Vendas (VGV) similar ao de 2017. Além da aprovação de projetos, a Gafisa leva em conta a liquidez do mercado para definir lançamentos.

A Even Construtora e Incorporadora tem sido bastante ativa na aquisição de terrenos, segundo o diretor financeiro e de relações com investidores, Vinicius Mastrorosa. De janeiro a setembro, foram compradas doze áreas, para projetos cujo VGV soma R$ 1,8 bilhão. Os terrenos estão localizados em São Paulo e Porto Alegre, e a maior parte será direcionada a empreendimentos de alto padrão.

"Ao longo de 2017, houve um pequeno aquecimento no interesse [do mercado] por terrenos, mas não sinto reflexo nos preços", disse o diretor de relações com investidores. De acordo com Mastrorosa, a Even tem condições de lançar VGV no próximo ano superior ao de 2017, mas o total a ser apresentado ao mercado dependerá das vendas de lançamentos e de estoques. "Temos banco de terrenos, calendário de aprovações, time e balanço para lançarmos mais em 2018 do que em 2017", diz o diretor da Even. Focada na produção para o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, a Tenda estima elevar em 25% o desembolso com terrenos no próximo ano, ante o patamar de R$ 100 milhões a R$ 130 milhões em 2017.

 

"Os bancos centrais criaram um monstro" , diz Stephen Roach

O economista americano Stephen Roach defende uma normalização mais rápida da política monetária pelos bancos centrais dos países desenvolvidos. Professor da Universidade de Yale, ele diz que "o fracasso em fazer isso pode levar a bolhas de ativos, bolhas de crédito e uma variedade de perturbações nos mercados financeiros". Para Roach, é necessário reduzir mais agressivamente os estímulos monetários - o Federal Reserve (Fed, o BC americano), por exemplo, deveria elevar os juros básicos e diminuir o seu balanço com mais rapidez.

Na visão de Roach, "os bancos centrais basicamente criaram um monstro" com a política de juros no chão e compras maciças de ativos, como títulos públicos. "A maior parte das maiores economias do mundo está muito mais dependente de preços de ativos para impulsionar a atividade econômica do que ocorreu historicamente."

Para Roach, um dos grandes desafios no ano que vem é como a economia global reagirá quando o ciclo de liquidez começar a mudar de direção. "O mercado de ações está sobrevalorizado. O mercado de 'junk bonds' [títulos com baixa qualidade de crédito] está sobrevalorizado. O bitcoin está ridículo." São bolhas? "Eu classificaria como sobrevalorizações", diz Roach, que foi da equipe de economistas do Fed nos anos 1970.

Em artigo recente, Roach cita como exemplo de risco a normalização gradual feita pelo Federal Reserve entre 2004 e 2006, quando o BC americano promoveu 17 altas de 0,25 ponto percentual, num aperto que ele vê como gradativo demais. Foi nesse período, segundo Roach, que se semeou a crise financeira global de 2008 e 2009. "Nós estamos aparentemente ignorando essa lição dolorosa", afirma ele.

No artigo, Roach alerta que há mais de US$ 6 trilhões circulando nos mercados financeiros globais, distorcendo preços de ativos. Esse valor é a diferença entre o aumento dos ativos nas mãos dos BCs dos EUA, da zona do euro e do Japão de 2008 ao começo de 2017, um salto de US$ 8,3 trilhões, e o quanto cresceu o PIB nominal dessas economias no período - uma alta de US$ 2,1 trilhões.

Ex-presidente do Morgan Stanley Asia e ex-economista-chefe do banco, Roach também é um especialista na China, tendo uma visão mais otimista sobre o país asiático do que muitos analistas. Para ele, a China deve conseguir evitar um pouso forçado, além de ter "amplos recursos para usar como amortecedor no caso de uma perturbação nos mercados de dívida".

O alto endividamento chinês é apontado por muitos economistas como um dos grandes riscos para o país. Roach prefere não opinar sobre o Brasil, por considerar que o seu conhecimento sobre o país é limitado.

A seguir, os principais trechos da entrevista.

Valor: O sr. parece ter uma visão relativamente otimista sobre a economia chinesa, argumentando que a obsessão pelo número do PIB negligencia questões mais profundas que moldam o debate sobre o crescimento da China. O que as pessoas negligenciam?

Stephen Roach: Eles deixam de lado as mudanças no mix do PIB - a transição da manufatura para os serviços, que é muito forte, a emergência do consumidor chinês e, em terceiro lugar, o ímpeto muito poderoso da economia digital. Nada disso é capturado pelo número do PIB, mas nas mudanças no mix do PIB, uma característica muito importante da trajetória do crescimento chinês.

Valor: O sr. acredita que a China evitará um pouso forçado? Há analistas que projetam há anos que isso ocorrerá com o país.

Roach: Eu acompanho de perto a China há 15 anos e eu diria que em quase todos esses anos houve muita preocupação sobre um pouso forçado. Isso não quer dizer que não possa ocorrer, mas a China tem uma abordagem estratégica para lidar com muitos de seus problemas, além de um compromisso muito forte com a estabilidade e em evitar perturbações que possam causar um pouso forçado. Não há nenhuma garantia, mas o foco deles na estabilidade financeira, por exemplo, é muito alto. Há um grande contraste com a falta de foco nessa questão nos países avançados.

Valor: No começo de dezembro, o FMI disse mais uma vez que a dívida chinesa é muito alta e que ela representa uma ameaça à estabilidade financeira. Essas preocupações são exageradas ou a dívida crescente da China ameaça a China e a economia global?

Roach: Eu li com muito cuidado o que o FMI disse. Na visão do FMI, há um problema de dívida, mas concentrado em empresas estatais. Eu concordaria com o FMI que a China demorou em avançar na reforma das estatais. É importante para a China fazer isso, mas acho que eles têm amplos recursos para usar como amortecedor no caso de uma perturbação nos mercados de dívida. Para mim, isso sugere que não é um risco grave à estabilidade financeira.

Valor: O país continuará a ser um motor poderoso para a economia global nos próximos anos?

Roach: Sim, acho que a China vai continuar a ser muito forte. Se não fosse pela China, a recuperação fraca da economia global depois da crise não teria ocorrido. O mundo teria caído de novo em recessão. A China é responsável por 20% a 25% do crescimento global desde 1980. Talvez um pouco menos agora que a taxa de crescimento desacelerou, mas ainda é uma fonte realmente importante para a atividade econômica global.

Valor: Os economistas sempre dizem que a China precisa fazer a transição de uma economia liderada pela indústria e pelo investimento para uma puxada pelos serviços e pelo consumo. Essa mudança tem sido bem sucedida?

Roach: Esse processo tem três componentes principais. O primeiro é a mudança da indústria manufatureira para serviços. Há muito mais crescimento do emprego por unidade do PIB do que na manufatura intensiva em capital e na construção. Houve um bom avanço aí. A fatia dos serviços no PIB é de 52%, o que ainda é baixo, mas, comparado com uma década atrás, é um aumento de 9 pontos percentuais do PIB. É impressionante. O segundo é que eles precisam aumentar a média dos salários dos trabalhadores, o que fizeram por meio da urbanização, deslocando pessoas de empregos na agricultura e no campo para empregos que pagam mais em áreas urbanas. A diferença de pagamento entre os empregos urbanos e os rurais é de 2,5 para 1. O terceiro ponto é convencer as famílias chinesas a gastar a renda nova gerada no setor de serviços, mas os resultados têm sido decepcionantes, em grande parte porque eles não foram agressivos o suficiente em financiar a rede de proteção social. Há muito medo em relação ao futuro incerto, o que é uma restrição séria.

Valor: Quais são os maiores riscos para a China?

Roach: O risco em que eu estou mais concentrado é a reforma das empresas estatais, porque isso tem a ver com o conceito do papel do Estado e o papel dos mercados. A quem os ativos pertencem? Será que eles serão utilizados de modo eficiente para gerar atividade econômica? Eu não acredito que o governo tenha capacidade de fazer isso no longo prazo, mas reconheço que o Estado pode oferecer algumas diretrizes importantes no curto para o médio prazo. Além disso, a questão da reforma das empresas estatais também personifica a persistência de blocos de poder profundamente entrincheirados em governos locais e mesmo no governo central, agarrando-se a importantes fontes de capital e poder na China. Isso está muito ligado aos problemas de corrupção e à necessidade de ter uma disposição do poder econômico mais justa, equitativa e baseada no mercado. Ao ficar com os pés sobre a reforma das estatais, o governo, intencionalmente ou não, está permitindo que esses blocos de poder se mantenham no lugar, o que não é bom. O avanço em enfrentar essa questão tem sido decepcionante.

Valor: Qual é uma estimativa razoável para o crescimento da China nos próximos anos?

Roach: À medida que a economia continuar a transição para os serviços e o consumo, a taxa de crescimento nos próximos 10 ou 15 anos vai definitivamente desacelerar, provavelmente para a casa de 5%. Em 2020, já deveremos ver o crescimento começando a flertar com o limite de 6%, talvez abaixo disso.

Valor: Vamos falar sobre a economia global. Há uma recuperação mundial sincronizada, o que não se via há um bom tempo. O que explica essa tendência? E ela é sustentável?

Roach: É algo encorajador. [Mas] Acho que apenas reflete o fato de que levou muito tempo para se curar da crise de 2008 e 2009. A cura avançou em ritmos diferentes e graus diferentes na maior parte das principais economias no mundo. Os EUA e a Europa de fato mostram alguma melhora, assim como o Japão. Na China, o crescimento está um pouco mais lento. O Reino Unido está sob pressão por causa do Brexit [a saída do Reino Unido da União Europeia]. Mas nós temos que ser cuidadosos antes de abrir o champanhe. Apenas agora a economia global começa a voltar à tendência de crescimento de longo prazo, oito anos depois da crise. E, mesmo assim, os mercados globais de trabalho e de produtos ainda estão com muita ociosidade em relação ao potencial que poderia ter sido atingido. A economia global está melhor, mas não é necessariamente uma era dourada de crescimento mundial.

Valor: Em que medida essa melhora é o resultado da política monetária ultraexpansionista adotada pelos bancos centrais dos países desenvolvidos?

Roach: Acho que se dá muito crédito à política monetária. É exatamente o que nós fizemos depois da recessão suave do começo dos anos 2000. A política monetária tem sido excessivamente acomodativa, injetando uma enorme quantidade de liquidez nos mercados financeiros nesta retomada fraca. Acho que um dos grandes desafios para o mundo no ano que vem é como a economia global reagirá quando o ciclo de liquidez começar a mudar de direção.

Valor: Num artigo recente, o sr. instou os bancos centrais a normalizar a política monetária mais rapidamente. Por quê?

Roach: Porque o fracasso em fazer isso pode nos levar a bolhas de ativos, bolhas de crédito e uma variedade de perturbações nos mercados financeiros. A maior parte das maiores economias do mundo está muito mais dependente de preços de ativos para impulsionar a atividade econômica do que ocorreu historicamente. Os bancos centrais basicamente criaram um monstro. Enquanto oferecem liquidez para alimentar o monstro, eles podem minimizar essa ameaça, mas, quando se movem na outra direção no ciclo de liquidez, as economias dependentes de ativos podem ficar sujeitas a pressões significativas.

Valor: O sr. vê bolhas de ativos nos EUA e em outros lugares, por causa da política monetária ultraexpansionista?

Roach: O mercado de ações está sobrevalorizado. O mercado de "junk bonds" [títulos com baixa qualidade de crédito] está sobrevalorizado. O bitcoin está ridículo. Nós certamente atingimos avaliações em várias das principais classes de ativos nos EUA...

Valor: O sr. as classificaria como bolhas de ativos?

Roach: Eu classificaria como sobrevalorizações.

Valor: Mas um aperto menos gradual da política monetária não pode colocar em risco a recuperação global que começou a ganhar mais força?

Roach: Há sempre um risco de alguma pressão sobre o crescimento. Mas nós criamos uma situação em que as economias dependentes de ativos do mundo querem preços de ativos elevados. Isso se torna um risco real para administrar. Se não o enfrentarmos mais cedo, teremos que fazê-lo depois, e possivelmente com preços mais esticados e com as economias mais dependentes dos mercados de ativos.

Valor: No caso do Fed, por exemplo, o sr. recomendaria uma ação mais firme tanto no caso da taxa básica quanto no balanço do banco?

Roach: Sim, uma normalização mais agressiva da política monetária. Pelas informações do Fed, o balanço do banco não vai voltar ao nível desejado antes de 2022, talvez 2023. No período anterior à crise financeira global de 2008 e 2009, o Fed estava terminando uma normalização [monetária] e o que aprendemos é que, se você o faz lentamente, isso não impede os mercados financeiros de criarem excessos que no fim das contas podem criar danos reais às economias. Isso foi exatamente o que ocorreu e nós estamos aparentemente ignorando essa lição dolorosa.

Valor: Jerome Powell foi uma boa escolha para substituir Janet Yellen no comando do Fed a partir de 2018 e administrar essa transição?

Roach: Nós veremos. Ele merece uma chance como todos os outros. Em geral, a maior parte dos presidentes do Fed é testada bastante cedo.

Valor: A estratégia para impulsionar o crescimento nos países desenvolvidos deve se concentrar em medidas para aumentar a produtividade, em vez de se apostar na política monetária?

Roach: É importante reconhecer que nós estamos num período difícil em relação à produtividade, e é algo global. Eu não compro a ideia de que é um problema de medida. É sempre difícil medir com grande precisão a produtividade numa economia do conhecimento e de serviços, mas acho que em geral a produtividade se enfraqueceu e precisa de atenção significativa de autoridades ao redor do mundo, inclusive nos EUA.

Valor: Os EUA têm uma combinação de crescimento moderado, desemprego muito baixo e inflação baixa. É uma nova Grande Moderação? O atual ciclo de expansão pode durar mais alguns anos?

Roach: Acho que certamente pode. Não há nenhuma dúvida de que em geral as expansões não morrem de velhice. Nós sempre repetimos que elas terminam por um aperto monetário pelo Fed, que é causado pela inflação. Sem inflação, é difícil vislumbrar o banco central realmente criando um problema. Mas acho que isso é um modo muito simplista de avaliar a probabilidade da próxima recessão. Nós precisamos ter uma visão muito mais ampla de como isso pode ocorrer. Os riscos da economia dependente de ativos estão no topo em termos do que me preocupa. Além disso, há claramente uma variedade de riscos políticos, especialmente nos EUA, com o risco político em Washington, mas também ao redor do mundo.

Valor: Quão preocupado o sr. está em relação à atitude do presidente Donald Trump em relação à China? Ele vai adotar políticas mais protecionistas em relação à economia chinesa?

Roach: Eu não sei. Uma coisa que eu aprendi no último ano é que qualquer previsão sobre o comportamento de Trump tende a ser errada ou alterada. Ele é o líder mais imprevisível dos EUA que já vi na minha carreira. Mas recentemente ele fez algo a respeito de voltar para as promessas de campanha. A mudança da embaixada em Israel para Jerusalém foi um desses casos. Na campanha, ele gritava todos os dias sobre a China. Há muitos rumores e discussões de que ele está para embarcar num conjunto muito mais duro de políticas a respeito da China.

Valor: Políticas mais protecionistas seriam ruins para os EUA e para o crescimento global?

Roach: Para mim, o maior problema macroeconômico dos EUA é a falta de poupança. Nós tomamos emprestada poupança do exterior. Nós temos grandes déficits comerciais e em conta corrente para atrair capitais. A política fiscal da administração de Donald Trump tende a produzir facilmente US$ 1 trilhão, alguns dizem US$ 1,3 trilhão, em novos déficits nos próximos dez anos. Isso ocorre num momento em que a taxa de poupança já está baixa para o país. O problema da conta corrente se torna mais agudo, assim como o problema comercial. Como você pode ser protecionista ao mesmo tempo em que tem déficits [fiscais] que vão reduzir uma taxa de poupança que já é baixa? É uma política inconsistente.

Valor: Os países emergentes estão preparados para enfrentar a normalização da política monetária nos países avançados? Talvez ela não seja tão rápida como o sr. gostaria, mas ela já começou.

Roach: É uma boa pergunta. Ficou bastante claro durante o "taper tantrum" [a alta forte dos juros dos títulos do Tesouro americano em 2013, ocorrida depois de o Fed acenar com a redução do ritmo de compra de ativos] que os emergentes não estavam preparados. Acho que eles aprenderam uma lição importante. Foi um sinal de alerta. Quanto mais lentamente os bancos centrais normalizarem, contrariamente às minhas próprias esperanças, mais administráveis serão as pressões sobre os mercados emergentes.

Valor: O cenário atual é muito benigno para os emergentes. Há uma combinação de crescimento mais forte e normalização cautelosa da política monetária. Esse também é o cenário mais provável para 2018?

Roach: É uma hipótese razoável, mas eu hesito em dizer que há uma grande probabilidade para bancar esse resultado. Dado o estado dos mercados e o clima geopolítico crescentemente difícil, seja nacionalismo em casa, seja protecionismo de uma perspectiva global, nós estaremos nos arriscando em presumir que o mercado será um fator benigno em seu impacto sobre a economia real. A normalização, seja rápida ou lenta, vai introduzir um novo conjunto de riscos impulsionado pelo mercado e esse será uma questão difícil para a economia global.

Valor: Como o sr. vê o Brasil, que começa uma retomada gradual depois de uma grave recessão?

Roach: Eu prefiro não comentar sobre o Brasil. O meu conhecimento sobre o país é limitado.

 

Câmbio é o principal risco para inflação e juros

O cenário básico do Banco Central (BC) é de certa tranquilidade na cotação do dólar em 2018, mas, se algo der errado ao longo do ano que vem, provavelmente será transmitido para a economia por meio do canal da taxa de câmbio. Na semana passada, o Banco Central apresentou no seu Relatório de Inflação (RI) várias projeções que mostram a perspectiva de cumprimento das metas de inflação nos próximos anos, todas pressupondo uma taxa de câmbio mais ou menos estável.

A projeção do BC com câmbio de mercado utiliza uma cotação do dólar de R$ 3,29 em 2017, de R$ 3,30 em 2018, de R$ 3,40 em 2019 e R$ 3,45 em 2020. A rigor, não se pode tomar essas taxas de câmbio como previsões do BC, já que são apenas projeções condicionais ilustrativas usando cenários de mercado. Mas dá para afirmar que, qualitativamente, essa é a evolução para o dólar implícita no cenário básico de trabalho da autoridade monetária.

O BC, porém, tem citado dois fatores de risco negativo que, caso se concretizem, poderão fazer a inflação ficar mais alta do que o esperado no cenário básico, possivelmente levando a juros maiores e a menor crescimento econômico. Em ambos os casos, esses fatores se transmitiram pelo câmbio. Um dos riscos é, em algum momento, ficar claro para o mercado financeiro que a reforma da Previdência não será aprovada tão cedo como se esperava, no fim do governo Temer ou no início do mandato do presidente a ser eleito em 2018.

O BC tem citado que esse desfecho negativo poderia afetar os prêmios de risco, o que pressionaria a taxa de câmbio, impactaria negativamente as expectativas e levaria a uma inflação mais alta. Outro risco é uma eventual virada nas condições de liquidez favoráveis a economias emergentes no cenário internacional. Isso poderia ser desencadeado, por exemplo, por uma eventual alta mais rápida dos juros nos Estados Unidos.

O BC tem citado que, se o humor internacional azedar, o mercado poderá ficar mais impaciente com a demora em aprovar a reforma da Previdência. Ao mesmo tempo em que aponta esses riscos, porém, o BC tem lembrado que hoje o Brasil está mais protegido contra turbulências internas e externas.

O déficit em conta corrente projetado para 2018 é de apenas 0,88% do Produto Interno Bruto (PIB), menos de um quarto dos investimentos estrangeiros diretos previstos para o próximo ano. O BC tem citado também o alto volume de reservas, de US$ 380 bilhões, e a baixa no volume de swaps cambiais, que somam US$ 23,8 bilhões, como trunfos para poder agir no caso de problemas de falta de liquidez ou de excesso de volatilidade que porventura atinjam o mercado de câmbio.

Mas economistas têm lembrado que hoje a conta financeira do balanço de pagamentos é mais aberta e, em tese, num momento de maiores turbulências investidores nacionais poderão remeter recursos para o exterior, como ocorreu nas eleições de 2014.

Hoje, a taxa de câmbio é citada explicitamente apenas como um risco negativo pelo BC. Isto é, como um fator que poderá fazer a inflação ficar mais alta, e não mais baixa. Mas isso não quer dizer que o risco de valorização cambial não existe. Para o BC, ele é apenas menor do que de uma desvalorização e não está entre os mais representativos. Em tese, o câmbio pode se valorizar no caso de aprovação da reforma da Previdência em 2018 e de eleição de um candidato mais alinhado com a agenda de reformas defendida pelo mercado financeiro.

Outro fator que poderia contribuir é um eventual prolongamento das condições financeiras internacionais favoráveis a emergentes. Em tese, cenários como esse poderiam levar a inflação menor e a cortes mais alentados na taxa de juros. Os juros mais baixos poderiam atenuar a valorização do real, mas não impedir que ela ocorra. Um cenário como esse desafiaria as promessas do BC de intervir pouco no câmbio e respeitar ao máximo a livre flutuação.

 

Confiança do comércio atinge maior nível desde julho de 2014, nota FGV

A confiança do comércio registrou o maior nível desde julho de 2014, mostrou pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV). O Índice de Confiança do Comércio (Icom) avançou 2,4 pontos em dezembro, atingindo 94,8 pontos. Em médias móveis trimestrais, o índice subiu 1,8 ponto pelo quarto mês consecutivo.

A alta do Icom em dezembro ocorreu em 8 dos 13 segmentos pesquisados e foi determinada pela melhora no Índice de Expectativas do Comércio (IECom), que avançou 4,9 pontos, para 104,8 pontos, o primeiro valor acima dos 100 pontos desde março de 2014 (102,0 pontos). Já o Índice de Situação Atual do Comércio (ISA-Com), caiu 0,4 ponto no mês, para 85 pontos.

“A queda do ISA-Com pelo segundo mês consecutivo mostra que a recuperação de vendas continua sendo um processo gradual”, diz o coordenador da Sondagem do Comércio do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV, Rodolpho Tobler. “Após uma acomodação no mês anterior, o Icom voltou a subir em dezembro, sustentado pela melhora das expectativas.

A alta do IE-Com sugere que o setor está otimista com relação à sustentação da fase de recuperação das vendas ao longo do primeiro semestre de 2018. Entre os fatores que vêm impulsionando o otimismo do setor estão a inflação baixa, o ciclo da redução da taxa de juros, as perspectivas de recuperação do mercado de trabalho e a evolução recente da confiança dos consumidores.”

Com a alta registrada em dezembro, o Icom médio referente ao quarto trimestre apresentou recuperação na comparação com os três meses antecedentes. Nos dois primeiros trimestres de 2017, o resultado positivo foi influenciado pelas melhores avaliações sobre a situação atual, mas finda o ano com uma confiança motivada mais pelas expectativas em relação aos próximos meses. A edição de dezembro de 2017 coletou informações de 1.179 empresas entre os dias 1 e 22 deste mês. A próxima divulgação da Sondagem do Comércio ocorrerá em 25 de janeiro.

 

Varejo cresce no Natal e estanca crise

Os primeiros indicadores das vendas deste Natal apontam para uma recuperação do varejo no fim do ano, reduzindo parte das perdas acumuladas a partir de 2014, quando o comércio foi afetado pela maior crise de sua história. Foi o primeiro Natal com expansão em receita nominal após dois anos com índices negativos - a queda chegou a três anos, a depender do segmento do comércio. "Não foi estouro de vendas, mas foi um alento. Voltamos para taxas positivas", disse Luís Augusto Ildefonso, diretor da associação de lojistas de shoppings (Alshop), com 150 empresas associadas, donas de 10 mil pontos de venda.

A entidade divulgou ontem alta de 6% nas vendas dos comerciantes de shoppings em dezembro. No mesmo mês em 2015 e 2016, houve queda de 2% e 3%, respectivamente. Ainda ontem, o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e a Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) informaram elevação de 4,72% nas consultas para vendas a prazo no país entre 18 e 24 de dezembro.

Pelos números da Serasa Experian, a alta foi de 5,6% - maior patamar desde 2010, quando a expansão nesse intervalo foi de 15,5%. O desempenho é atribuído à melhora no ambiente econômico, com a queda dos juros, da inflação e a interrupção no movimento de alta no desemprego. As bases de comparação baixas dos anos anteriores também ajudam a explicar a alta dos indicadores.

Os números positivos do setor impulsionaram as ações das varejistas na bolsa ontem. Os papéis do Grupo Pão de Açúcar valorizaram-se 3,37% e da Via Varejo (dona das redes Casas Bahia e Ponto Frio), 0,38%. Magazine Luiza e B2W subiram 3,61% e 2,97%, respectivamente, e Lojas Renner, 2,73%. Os produtos eletrônicos - principalmente celulares e TVs - e os móveis puxaram o avanço nas vendas de dezembro, superando as expectativas, segundo fontes próximas a grandes redes.

Até setembro, a produção de TVs aumentou 34% neste ano. Fabricantes localizados na Zona Franca de Manaus não projetam estender férias coletivas, como ocorreu em janeiro de 2016. "A folga de final de ano deve ser o período usual, de uma semana, entre Natal e Ano Novo. Como o estoque foi reduzido no Natal, há entrega a ser feita para atender as vendas promocionais de janeiro", diz o diretor de uma fabricante estrangeira de TVs.

Segundo esse executivo, Magazine Luiza e Casas Bahia pediram para antecipar a entrega de eletrônicos para o início do mês para dar conta da demanda. "O que eu iria entregar de 22 a 28 de dezembro, pediram para antecipar para a primeira semana, porque calcularam que a venda poderia subir um pouco mais no Natal. Outras cadeias também solicitaram, mas não deu para atender todo mundo."

As redes identificaram ainda aumento nas vendas por crediário. "Com o maior uso do cartão de credito em compras diárias, como supermercados, o crediário teve expansão maior nas vendas de eletrônicos em dezembro em comparação ao ano passado", disse Carlos Luciano Ribeiro, presidente da Novo Mundo, maior varejistas de eletrônicos do Centro-Oeste, com 140 lojas em dez Estados.

Segundo ele, as vendas pelo site do grupo cresceram 25% e, nas lojas físicas, 17%. O Valor apurou que a Via Varejo registrou em dezembro crescimento na receita líquida acima dos 12% apurados nos nove primeiros meses do ano. No segmento de livros e eletrônicos, a Livraria Cultura apurou alta de dois dígitos nas vendas do site em dezembro e, nas lojas físicas, de um dígito, segundo uma fonte do setor. A Cultura é dona da Fnac. Em alimentos, o desempenho ficou em linha com o previsto entre as cadeias ouvidas - as lojas de atacado foram o destaque no Carrefour e no Grupo Pão de Açúcar (GPA), apurou o Valor, superando com folga o desempenho dos supermercados e hipermercados.

Foi o Natal dos alimentos no atacarejo, disse uma fonte. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) estima que a efetivação de trabalhadores temporários contratados pelo comércio para o Natal de 2017 deverá dobrar na comparação com 2015/2016. Devem ser efetivados aproximadamente 30% dos profissionais chamados para a época de festas. Em 2016, essa taxa foi de apenas 15,2% e em 2015, de 14,4%. Foram abertas 74,1 mil vagas temporárias no país. No fim de 2016, foram 67,4 mil. 

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