Quarta-feira

CLIPPING (24.01.2018)

VALOR ECONÔMICO

Crédito a grande empresa ainda demora para voltar

O crédito a grandes empresas, que encolheu nos últimos anos, ainda está em território negativo e vai levar um tempo para se recuperar. Mesmo assim, há boas razões para otimismo: a política saiu da sala, os juros caíram à metade e a atividade econômica volta, aos poucos, a se aquecer. Essa é a leitura de Alberto Fernandes, vice-presidente responsável pelas áreas de banco de investimentos e de atacado do Itaú BBA. "As coisas estão melhorando. As empresas estão se desalavancando, a taxa de juros ajuda bastante, e as vendas estão aumentando", afirma.

O executivo, que concede raras entrevistas, recebeu o Valor para uma conversa sobre o mercado e atuação do banco no segmento corporativo. Segundo ele, a recuperação da atividade tem sido mais rápida que o esperado e os casos problemáticos de companhias - como Sete Brasil e Oi - já não causam mais surpresas desagradáveis para as instituições financeiras. "Está tudo mapeado."

O efeito prático dessas mudanças ainda não aparece nos números do crédito porque há muita ociosidade na indústria e um movimento forte de redução do nível de endividamento. O tombo também não foi pequeno. A carteira de operações do Itaú com grandes empresas encolheu 13,4%, para R$ 105,6 bilhões, no período de 12 meses encerrado em setembro, dado mais recente disponível.

Nas demais instituições, não foi muito diferente. Já se nota estabilidade na proporção entre concessões de empréstimos e amortizações, mas um crescimento mais significativo do volume de financiamentos só deve ocorrer no ano que vem, calcula Fernandes. "Se você perguntar se a carteira de crédito a grandes empresas está se recuperando, a resposta é não, porque isso é lento", diz.

"Mas o mercado está muito melhor. A gente não senta mais com cliente para ficar discutindo política. A gente senta com ele para discutir o que vai acontecer em 2018 ou 2019 com a empresa, com o investimento." Não é que os fatos políticos tenham saído do radar dos empresários ou que a eleição presidencial não seja fonte de preocupação. Porém, existe de um lado a percepção de que a questão fiscal terá de ser atacada seja lá quem for o próximo presidente.

E, de outro, a recuperação econômica impõe uma nova agenda às companhias. "O salário está subindo, emprego lentamente se recuperando e as pessoas estão comprando. Então, se eu ficar sentado aqui e não produzir, não vendo", ressalta Fernandes. Para o executivo, essa percepção dos empresários é o que vai alimentar o crédito.

No entanto, a retomada virá acompanhada de uma mudança profunda no mercado, que já começa a ficar visível. Mantido o cenário atual de estabilidade econômica e taxas de juros estruturalmente baixas, o mercado de capitais tende a ocupar um espaço que antes era quase todo preenchido pelos empréstimos bancários.

Somam-se a esse dois outros fatores. Um deles é que as novas regras de capital vão encarecer os recursos das instituições financeiras. O outro é que a recessão atingiu em cheio as grandes empresas e forçou os bancos a constituir provisões bilionárias em seus balanços - uma experiência que nenhum deles deve querer repetir.

"Antes, a empresa vinha aqui e pedia um crédito por 15 anos, um repasse de BNDES, por exemplo. Agora, vou dar por três anos, cinco anos, mas o longo prazo eu não vou fazer", diz. Essa nova realidade não é ruim para os bancos. Crédito proporciona escala, mas operações de mercado de capitais - como ofertas de ações e emissões de títulos de dívida - são mais rentáveis por consumir menos capital.

De acordo com o executivo, o Itaú BBA se preparou para isso. No fim de 2015, a instituição reorganizou as áreas de atacado e banco de investimentos, que passaram a ter em Fernandes um comando único. Desde então, as equipes olham para o cliente como um todo e identificam quais operações fazem mais sentido para ele. Pode ser um empréstimo, uma captação no mercado de capitais ou uma combinação de ambos.

Essa estratégia foi reforçada com a crise econômica. No início do ano passado, o Itaú BBA criou um comitê de negócios, que reúne executivos de diversas áreas, para analisar as operações de uma forma multidisciplinar. Depois que o comitê de crédito faz uma análise da demanda de um cliente, o comitê de negócios entra em cena e discute que tipo de solução será entregue. Além do dinheiro em si, a oferta pode incluir produtos como câmbio, derivativos e "cash management" (serviços de gestão do caixa).

"A gente exacerbou o controle de portfólio. Vamos fazer concessões de prazos menores, ajudar mais o cliente com solução de mercado de capitais, e ser mais proativos", afirma Fernandes. O portfólio ficou menos concentrado, numa tentativa de evitar as flutuações na carteira vistas nos últimos anos. "Quem dá crédito perde em algum momento. Faz parte", diz. "O que não pode é ter duas ou três operações que, se dão problema, arrebentam com seu portfólio inteiro."

De acordo com o executivo, a lógica agora no banco é ter uma carteira de crédito um pouco mais pulverizada e oferecer às empresas uma solução mais estruturada. "Não é mais uma questão de eu dou o dinheiro e ele faz o que quer", afirma.

O vice-presidente do Itaú BBA reconhece, porém, que em dado momento os próprios bancos incentivavam as empresas a tomar empréstimos de longo prazo. Quando veio a crise, muitas dessas operações desembocaram em inadimplência e num volume recorde de renegociações de dívida e processos de recuperação judicial.

O sistema financeiro atravessou esse período sem grandes problemas, mas executivos do setor têm sido unânimes ao dizer que a relação com o crédito corporativo mudou. "A gente continua com uma vontade louca de dar crédito porque esse é o nosso negócio", afirma Fernandes. "Mas o perfil tem que ser diferente".

 

Meirelles: Interesse externo pelo Brasil é maior, mas ainda há cautela

O interesse dos investidores estrangeiros pelo Brasil hoje é bem maior do que um ano atrás, mas ainda existe uma certa cautela devido ao período eleitoral, disse o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a jornalistas nesta terça-feira em Davos após encontro com investidores num almoço promovido pelo Itaú. “O país vai entrar num periodo eleitoral, e muitos mostram mais cautela aguardando o desenrolar dos acontecimentos. Mas o interesse ainda é muito grande e o IDE (Investimento Direto Estrangeiro) no Brasil tende a crescer”, afirmou.

Segundo Meirelles, os investidores não se manifestam em termos de preocupação ou entusiasmo, mas com a intenção de fazer um monitoramento mais completo da situação política. Candidatura Indagado se recebe apelos para se candidatar à Presidência da República, o ministro respondeu que isso é recorrente, mas voltou a dizer que está 100% focado na economia e que vai tomar sua decisão somente em abril. Sobre a eventualidade de ser candidato a vice-presidente, ele respondeu firme: “de jeito nenhum”.

 

Inflação baixa reabre debate sobre as metas

A prévia da inflação de janeiro, divulgada ontem, ficou em 0,39% e foi menor do que o 0,41% esperado pelo mercado financeiro. Com os índices de preços teimosamente baixos, especialistas em política monetária voltam a defender a revisão das metas de inflação já estabelecidas para os próximos anos para chegar mais rápido aos 3% adotados por vários países emergentes.

O Banco Central está acompanhando esse debate, mas segue resistente em baixar as metas estabelecidas para este ano, de 4,5%; para o ano que vem, de 4,25%; e para o seguinte, de 4%. "Essa velocidade já indica que queremos continuar a ter inflação mais baixa, numa convergência das metas", disse o presidente do BC, Ilan Goldfajn, numa entrevista coletiva há duas semanas. O Banco Central está jogando fora uma oportunidade de ouro para reduzir a inflação? Não é consenso que o Brasil deva almejar uma inflação na casa de 3%, mesmo entre nomes mais alinhados com o pensamento econômico convencional. Um dos argumentos é que o Brasil tem uma forte rigidez nos gastos públicos, sobretudo salários e benefícios, e que a inflação mais alta é uma espécie de lubrificante que permite fazer ajustes nas contas públicas.

Mas, pelo menos no governo Temer, há certo consenso de que meta pode ser menor. O próprio Ilan citou o desejo de chegar a 3% em entrevista ao Valor, em 2016. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, também disse que a meta decrescente entre 2018 e 2020 pode ser entendida como uma tendência para levar a inflação para os padrões vigentes em economias emergentes. A questão, portanto, é em que velocidade o Brasil vai chegar à meta de 3%.

Quando diz que prefere seguir com a trajetória de metas definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para os próximos anos, porém, Ilan provavelmente é menos resistente a adotar uma convergência mais rápida a 3% do que a violar o arcabouço de metas de inflação. Sob Ilan, o Banco Central tem revelado uma preocupação enorme em resgatar os princípios do regime de metas - e isso implica a estabilidade das metas, sobretudo quando a política monetária já está sendo calibrada para atingi-las.

Se o governo agir de forma oportunística para reduzir a meta agora que a inflação está baixa, quem garante que não vai subi-las quando os índices de preços estiverem mais altos? Não é nenhum exagero defender a estabilidade das regras. Nos Estados Unidos, a discussão é sobre subir a meta, hoje de 2%, para ter juros nominais suficientemente altos para combater a próxima recessão.

Num debate recente em Washington, o ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o BC americano) Ben Bernanke reconheceu o problema, mas ponderou que mudar a meta seria jogar fora o investimento em credibilidade conquistado com a sua adoção. Com toda a sua aversão a mudar regras no meio do jogo, porém, o BC brasileiro tem um problema prático para lidar.

A inflação está em 3% ao ano, e os núcleos de inflação, em 3,5%. O BC projeta uma inflação de 4,2% em 2018, já contando com um corte de juros, dos atuais 7% ao ano para 6,75% ao ano em fevereiro. O cumprimento rigoroso da meta de 4,5% significaria baixar ainda mais os juros nesse começo do ano para inflacionar um pouco mais a economia. Mais para o fim do ano, porém, seria necessário apertar de novo para baixar a inflação para a meta de 4,25% em 2019.

E seguir nessa toada para baixar de novo em 2020, para chegar à meta de 4%. Faz sentido esse ziguezague? Os analistas econômicos, de forma geral, acham que não, por isso o consenso da pesquisa Focus é que a inflação fique em 3,95% em 2018. A mediana das projeções do mercado para a inflação de 2019 segue em 4,25%, ancorada na meta, mas a média das projeções já está em 4,19%.

A mediana dos Top 5 de longo prazo, que inclui os analistas que mais acertam suas projeções, já está em 4% para 2019. O que está implícito nessas previsões é que o BC vai fazer uma convergência "por baixo" para a 4%. Ou seja, vai deixar a inflação ficar um pouco abaixo das metas de 2018 e de 2019 para seguir um caminho menos sinuoso para o alvo. Essa seria uma quebra das regras do jogo? Não, se o BC explicar que uma linha reta em direção a 4% impõe menos custos para a economia do que esquentar a economia para em seguida esfriá-la. O regime de metas de inflação é flexível o suficiente para o BC adotar uma estratégia que minimize a flutuação da economia.

Uma outra discussão entre os especialistas é se, já que a inflação está na casa dos 3%, não seria uma boa oportunidade para deixá-la permanentemente nesse nível, que é o desejo do governo lo para o longo prazo. Um ex-dirigente do BC diz que essa oportunidade foi perdida. Em junho do ano passado, a inflação estava muito baixa, e a economia, no chão. Seria uma boa oportunidade para o CMN reduzir a meta de 2018 e adotar uma escadinha até chegar a 3%.

Agora, a inflação deixou sua mínima, e o BC já contratou estímulos que vão acelerá-la. De fato, o cenário central do Banco Central já contempla a convergência da inflação para meta. Mas existe um porém: o BC diz que os núcleos de inflação emitem sinais ambíguos. Alguns confirmam que a inflação vai subir para o centro da meta, confirmando o seu cenário central; mas outros sugerem um cenário alternativo em que seguirá mais perto do piso da meta, de 3%.

Um outro economista com passagem pelo BC avalia que, se não houver nenhum choque novo que mude a trajetória de preços, hoje está mais com cara de que a inflação seguirá entre esses dois cenários, o central e o alternativo, ficando próxima de 4%. Nesse percentual, ele acha que o BC deveria fazer a convergência "por baixo" da inflação para a meta de 2020.

Carlos Kawall, do Banco Safra, diz que será preciso monitorar a evolução da inflação para decidir o que fazer. Se os índices de preços continuarem baixos e, ao longo de 2018, houver mais segurança de queda dos juros neutros, será o caso de rediscutir a meta. O primeiro encontro seria na reunião do CMN de junho, quando deveria se considerar queda mais forte da meta em 2021, para algo como 3,5%. Mas para o fim do ano, poderia ser o caso até mesmo de ajustar as metas já definidas.

 

Não vamos ter nenhuma guerra civil, afirma Delfim

Aos 89 anos, o economista Antonio Delfim Netto não vê riscos graves com as tensões no país, diante do resultado do julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, hoje. Ex-ministro da Fazenda, da Agricultura, professor emérito da USP e integrante da Assembleia Constituinte de 1988, ele diz que as ameaças de conflitos severos não devem ser levadas a sério. "Essa ideia de que vai ter sangue, guerra civil, é conversa mole. "Estão transformando 24 de janeiro de 2018 em 14 de julho de 1789", afirma, em referência ao Dia da Queda da Bastilha.

Delfim faz elogios a Lula, de quem já foi interlocutor mais próximo, e defende que seria melhor para o país que o petista fosse derrotado "nas urnas". Mas afirma que a decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) tem de ser respeitada e vai se impor: "O que a Justiça decidir, nós temos que obedecer". Já a eleição presidencial sem Lula tende a ser uma incógnita maior. "Você joga o dado e o que der, deu", diz. Mesmo com tamanha incerteza, "a força da gravidade" pode pender para o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), afirma Delfim, tido como interlocutor constante do presidente Michel Temer.

O ex-ministro também defende, de maneira veemente, a principal bandeira do emedebista neste último ano de mandato. "É do interesse de todo sujeito que é candidato empurrar para o Temer a reforma da Previdência", diz. Ainda no terreno em que é especialista, Delfim afirma que a indústria brasileira foi destruída "deliberadamente" nos últimos 30 anos e cobra políticas públicas que permitam um salto do setor. "O mundo está indo para a indústria 4.5. Nós estamos na 1.5 e ouvindo falar na 4.0", diz.

A seguir, trechos da entrevista concedida na segunda-feira:

Valor: É uma semana agitada?

Antonio Delfim Netto: Tem muita confusão. Minha impressão é que não vai acontecer nada. A primeira coisa que a gente tem que entender é o seguinte: ou você confia na Justiça do seu país, ou então não tem país. De forma que o resultado do tribunal, seja ele definitivo ou sujeito a correção superior, tem que ser respeitado e ponto final. Nossas preferências pessoais são coisas diferentes. Honestamente acho que, da forma como estamos hoje, o ideal seria o Lula poder disputar. Se é para vencê-lo, tem que ser nas urnas. Queira ou não, são 20% de pessoas apaixonadas, com alguma razão. O Lula fez um governo bastante razoável, do ponto de vista econômico, ainda que se possa discutir outros aspectos. Mas a gente teve uma melhoria mesmo. Não adianta tentar explicar que isso só foi possível porque ganhamos de presente a melhoria através da relação de troca. Essa é uma conversa de economista, que ninguém acredita. Agora, se ele for impedido por motivos legais, não há o que discutir. Tem que atender e ponto final.

Valor: Mas o resultado parece já bastante esperado.

Delfim: Se você acredita que existe esse ente metafísico chamado "mercado", vê que ele tem uma aposta forte de que o Lula não vai participar [da eleição]. É quase uma consciência geral do mercado de que o Lula será afastado da eleição, por causa da ficha suja.

Valor: Como é a eleição sem Lula?

Delfim: Terá uma dispersão muito grande. É o que digo: o resultado da eleição é um dado dodecaédrico, com 12 faces. Você joga o dado, o que der deu. Paciência.

Valor: Há quem acredite que o discurso econômico liberal pode convencer, depois da crise.

Delfim: Isso é uma crença. Acho que até agora não surgiu nenhuma candidatura que dê a impressão de que vai colar, de que vai agrupar. Na minha opinião, com todos os problemas que existem, a força da gravidade trabalha para o Alckmin, que é das estruturas, que está amadurecido. De forma que no fim talvez seja por aí. Ou vai surgir outro candidato. Hoje há alguns partidos unidos, mas não vejo ainda com muita clareza; as coisas ainda estão muito separadas. Você vê o Meirelles de um lado, o Maia de outro, o Bolsonaro do outro, o Lula do outro. Tudo isso ainda é muito fluido. O Ciro, a Marina. Acho que na ausência do Lula todos se normalizam. Cada um vai ter seus 10%, aleatório. O resultado pode ser qualquer um.

Valor: E como seria com Lula?

Delfim: A disputa com o Lula exige alguém com grande capacidade de lutar. O Lula é um lutador, um negociador. Fico espantado quando vejo as pessoas imaginando que ele é revolucionário. Lula é um reacionário muito bem colocado, com a cabeça no lugar, de forma que, se disputar a eleição, vai ser uma parada. Mas estão transformando 24 de janeiro de 2018 em 14 de julho de 1789. Toda essa ideia de que vamos à luta, vai ter sangue, vai ter guerra civil, é pura conversa mole. Nada disso vai acontecer. O que a Justiça decidir vai acabar se impondo, sem confusão. O próprio Lula sabe que não vai chegar lá pela revolução.

Valor: E se ele chegar lá?

Delfim: Se ele chegar lá pelo voto vai ser a mesma coisa que aconteceu. Vai depender do Congresso. O Lula é um negociador. Sempre brincava com ele que se ele tivesse estudado na USP estava perdido. Ia conhecer um tal de Aristóteles. Ainda que algumas pessoas não queiram reconhecer, ele foi beneficiado de uma maneira brutal pela conjuntura externa [quando era presidente]. Houve aumento das relações de troca que permitiu aquela distribuição sem distribuir renda do presente. Quando acabou o presente, ficou claro que não podia continuar distribuindo. O socialismo termina quando acaba o dinheiro dos outros.

Valor: E aí veio a Dilma.

Delfim: No primeiro ano até que a Dilma fez uma administração razoável. Em 2011, o PIB cresceu 3,5%, a inflação foi de 6%, reduziu a relação dívida/PIB. Ela começou a meter o pé pelas mãos no final de 2011, início de 2012, quando inventou intervenção na energia, depois intervenção nos juros, sem dar para o [então presidente do Banco Central Alexandre] Tombini as condições fiscais adequadas. Mas ela não errou sozinha. É só olhar o Datafolha: a cada erro, a aprovação subia. Ou seja: Dilma atingiu o máximo de sua popularidade quando cometia o máximo dos seus erros. Quem leva a sério pesquisa de opinião deve tomar muito cuidado. Aprovação em geral significa que a pessoa está errada.

Valor: Então boa parte da população ainda quer Estado grande?

Delfim: Uma das coisas mais trágicas no Brasil é que se pegar a população de 17 a 25, 30 anos, tem pelo menos 5 milhões de brasileiros estudando para cursinhos para serem admitidos no funcionalismo público. O brasileiro tem uma parte empreendedora que é muito mais a classe trabalhadora do que essa classe média universitária. Esses estão à procura de uma aposentadoria. O drama da organização pública é que ela tem um DNA em que ela própria vai perdendo qualidade. A administração pública tem que ser restrita a algumas coisas.

Valor: Há risco de a retomada do crescimento mascarar os problemas nas contas públicas?

Delfim: As coisas estão realmente melhorando, e acho que vamos terminar 2018 crescendo 2,5%, 3%, mas vamos também ter que enfrentar esse problema da Previdência. Não tem jeito, está marcado nosso encontro com ele. Se não resolver agora, o próximo presidente vai ter que resolver, porque se não resolver vai ser impedido em 2019. O que é surpreendente é que você não consegue convencer a sociedade de que ninguém que ganha até três ou quatro salários mínimos vai ser atingido. Porque esse sujeito já se aposenta por idade, com 65 anos. Quem vai ser atingido de verdade? Uma casta da administração superior, não eleita, que se apropriou do poder. É disso que se trata.

Valor: Uma classe poderosa.

Delfim: Antes da Constituição de 88, segurança, saúde, educação e movimentação urbana eram deveres do Estado. Na Constituição, tudo isso foi transformado em direitos do cidadão. E junto com isso você fez uma coisa muito importante: armou o Ministério Público para o controle da Justiça. A combinação essas duas coisas produziu uma enorme judicialização da política e uma equivalente politização da Justiça. É muito difícil administrar o país hoje. Qualquer que seja a decisão do Executivo pode ser contestada. Não há mais nada que caminhe linearmente.

Valor: Aprendemos algo com essa crise?

Delfim: Estamos aprendendo. Uma coisa é segura: haja o que houver, o novo presidente terá que exercer protagonismo muito maior para reequilibrar os poderes. Para isso ele vai depender do Congresso. Há também grande ilusão das pessoas que imaginam que o Congresso vai ser uma coisa muito diferente. Acho que terá renovação muito parecida com a da média, de 40%, 45%. A única coisa boa que vejo é que é a primeira vez que você encontra uma classe média empresária e empreendedora começando a se preocupar com a política. Estamos na iminência de um enriquecimento dos quadros políticos, começando a atrair para a política uma nova geração com outra concepção do mundo.

Valor: E essa discussão sobre uma nova assembleia constituinte?

Delfim: Essa coisa é mais séria do que parece. Não é Carnaval. Carnaval é para todo ano. Constituição era para sempre. Essa brincadeira de cada vez que dá um problema: "ah, vamos fazer uma nova". Eu fui constituinte. A grande falta que sinto é que não tínhamos lá nenhum constitucionalista, nenhum Clóvis Beviláqua. Mas é uma boa Constituição, que põe a liberdade em primeiro lugar, que põe a busca pela igualdade como algo importante. Igualdade e liberdade são contraditórias, uma mata a outra. Você precisa então obtê-las em proporções adequadas. E é uma Constituição que compreende também o seguinte: para gozar de liberdade e igualdade, é preciso tempo. A Constituição combina esses valores: liberdade relativa, igualdade relativa e eficiência produtiva relativa.

Valor: Como fazer caber no Orçamento todos os direitos que ela prevê?

Delfim: Vamos ter que entender que se todos esses direitos puderem concedidos livremente não há Orçamento, não há administração, não há crescimento. Vai ter desorganização, miséria. Sempre termina assim. Quando o processo distributivo supera todos os outros valores, mata a liberdade primeiro, depois produz a miséria.

Valor: Em que ponto estamos?

Delfim: Começando a entender esse problema. Hoje é claro, pelo menos para mim e para a maioria das pessoas com quem eu converso, que não existe truque capaz de fazer o desenvolvimento inclusivo e relativamente justo sem crescimento econômico robusto. E isso exige harmonia entre o que é consumido e o que é investido do PIB. Cada vez que você exagera... É um jogo entre a urna e o mercado. Se a urna diz: "distribua muito", o mercado responde reduzindo a quantidade. Se o mercado diz: "esquece a distribuição". A urna vem e diz: "não te dou demanda". Um jogo que caminha na direção dessa sociedade mais civilizada.

Valor: Mais equilibrada...

Delfim: A acumulação de riqueza se transformou em um impedimento. Você tem um exagero, e todo mundo compreende que esse exagero não é produzido pelo mérito, mas pelo oportunismo do mercado financeiro, que é um mercado de prazo curto. Isso produziu nos Estados Unidos essa confusão que está aí. O Trump é produto dessa desorganização. É o que está acontecendo na Europa. Felizmente houve na França uma mudança e na Alemanha demorou um pouco, mas parece que vai ter um caminho.

Valor: E o Brasil?

Delfim: Nesse jogo nós somos irrelevantes. O que aconteceu nos últimos 30 anos? O Brasil foi posto fora do mundo. Nos últimos 20 anos a paridade de poder de compra do mundo cresceu 69% e o Brasil, 36%. Quer dizer o que é o Brasil hoje, de verdade? Um grande fornecedor de água para a China.

Valor: Não nos desenvolvemos...

Delfim: Destruímos a indústria brasileira deliberadamente. A inflação foi controlada com o câmbio, a agricultura se expandiu de forma muito mais eficaz através da Embrapa, que agora está em crise. Toda empresa do governo, toda organização caminha para a entropia, não adianta. Qualquer organização precisa absorver energia. O Estado tem uma energia e dissolve. Poucas organizações do governo são capazes de gerar energia. Essa consciência está se formando. A ideia de que a empresa estatal é capaz de ser eficiente é muito menor. Em geral hoje quem acredita nisso é o corpo restrito que já está nela.

Valor: O teto de gastos sobrevive?

Delfim: O teto é instrumento importante, mas sem o controle da Previdência não tem a menor chance de sobreviver. Vai ser um problema sério. Em 2018 a coisa vai estar um pouquinho melhor. Mas, se não fizer a reforma, em 2019 serão necessárias várias mudanças na Constituição e algumas delas na direção errada.

Valor: O sr. tem esperança ainda na aprovação da reforma?

Delfim: Tenho alguma esperança. Cada um desses candidatos está ouvindo algum economista. E com raríssimas exceções todos sabem que o fator de desequilíbrio no orçamento é a Previdência. Então é do interesse de todo candidato empurrar para o Temer a reforma. É surpreendente que não tenha sido aprovada. E não adianta discutir: se ele não aprovar, o sujeito que pegar o abacaxi vai ter que fazê-lo.

Valor: O sr. mencionou o Alckmin, tem conversado com ele?

Delfim: Muito raramente. Gosto muito dele, foi meu colega no Congresso, um bom deputado. Essa lei de proteção ao consumidor ele foi o relator, fez um bom trabalho. O Alckmin tem valor, mas não tenho nenhuma ligação maior com ele.

Valor: E com o Lula?

Delfim: Agora menos, mas gosto muito do Lula. Considero ele um negociador. É mais democrático do que os que o cercam.

Valor: O maior incentivo à indústria seria o câmbio?

Delfim: O câmbio é simplesmente um instrumento, quase um sinalizador. O que houve com o Brasil é que você destruiu ao longo desses 30 anos, 35 anos, todas as condições isonômicas da exportação. Aumentou dramaticamente a tributação e não permite que desconte na exportação. Permite na lei, mas não permite o que você se permite. Criou um câmbio em geral valorizado, mas o mais importante é que, para valorizar o câmbio, teve taxas de juros muito superiores às do mundo externo. Foi colocando pesos muito difíceis de carregar. Quando compara o Brasil com a China, por exemplo, você vê as facilidades chinesas para a exportação, e os subsídios de todas as naturezas, os mais escondidos, transporte, tudo quanto é coisa.

Valor: Como fica o PIB potencial do país?

Delfim: Se você acreditar que isso existe... Temos hoje uma capacidade ociosa de 3% a 4%. De forma que há um campo para crescer esses 4% sem investimento. Mas vai bater no teto. Se não voltar a investir... Mas muito mais importante do que voltar a investir é a qualidade do investimento. A indústria brasileira está antiquada. O mundo está indo para a indústria 4.5. Nós estamos na 1.5 e ouvindo falar na 4.0. É uma mudança radical, e esse não é um problema brasileiro. Se você olhar no mundo inteiro, há uma preocupação enorme com esse processo. Em todo lugar o Estado está ajudando dramaticamente o ajuste do setor industrial. Basta olhar a Inglaterra, Estados Unidos, Alemanha.

Valor: E como fazemos?

Delfim: Vamos imitar a Alemanha? É impossível. Não temos alemão. Qual foi o grande avanço? É que lá qualquer empresa com mais de cinco funcionários tem um representante na administração. É para ver: olha, seu emprego aqui só vai dar certo se nós tivermos essa demanda externa. Se você exigir aumento de salário superior a X, não vai ter exportação e você também não vai ter emprego. É uma política de acomodação entre o capital e o trabalho que funciona. Para ter o crescimento, precisa que ele seja harmônico entre o consumo e o investimento. Se você bloqueia o crescimento, a única solução é distribuir o que está produzido. A distribuição do que já está produzido é conflituosa. Para reduzir o nível de conflito, é preciso crescimento.

Valor: Este será um ano crucial?

Delfim: É um ano em que eu espero que essa ideia de que existe limitação vai estar muito mais forte do que está hoje. As pessoas não acreditam nas identidades da contabilidade nacional. E quando você não acredita na existência de limitações, produz só bobagem. Porque não adianta, tem uma restrição física. Lula conseguiu distribuir mais porque recebeu de presente as relações de troca. Quando terminou isso, não podia continuar com a distribuição. Já não tinha. Essas restrições físicas, se você não obedece, tem ou inflação ou déficit em conta corrente.

Valor: E o que teremos?

Delfim: A situação externa brasileira é calmíssima. São US$ 370 bilhões em reservas, os preços da agricultura estão bastante razoáveis. Acredito que haverá recuperação da indústria, se tivermos um pouco de inteligência. Em relação à inflação, tivemos uma sorte inacreditável. O grosso dessa vitória foi um fato singular, que foi a produção [agrícola] de 2016 e 2017. O Ilan [Goldfajn, presidente do BC] soube fazer a coisa com cuidado e tivemos um sucesso muito grande. A inflação, a tendência de se repetir é muito alta, tem uma histerese, de forma que tem uma garantia de inflação de uns 4%, provavelmente, nos próximos 18 meses, 20 meses. E hoje tem um controle muito melhor. O BC está fazendo uma grande mudança na política monetária. Estou entusiasmado. Estão tratando de coisas essenciais, agindo muito em medidas infraconstitucionais, de regimento. O BC está se comportando muito bem.

Valor: A pauta dessa eleição, então, vai ser o conflito distributivo?

Delfim: Não tenho dúvida. O problema é que não é só distribuir, é convencer as pessoas de que o conflito distributivo só pode ser resolvido com a razão, com a paixão não dá certo. Pode até dar a impressão de que está resolvendo, mas termina sempre muito mal. Não tem exemplo no mundo. O mundo tem 30 países bem-sucedidos. Todos fizeram a mesma política. Não tem o que inventar.

 

O ESTADO DE SÃO PAULO

‘Nosso principal problema hoje é fiscal,’ diz Bracher

O presidente do Itaú Unibanco, Cândido Bracher, está otimista com as perspectivas de curto prazo para o Brasil. Segundo ele, o País entrou, em 2018, em condições favoráveis – com inflação baixa, juros em queda e a possibilidade de crescer 3% –, mas com a dívida pública aumentando de forma insustentável. Em Davos, para participar da reunião do Fórum Econômico Mundial, o novo presidente do maior banco da América Latina disse que o desafio econômico mais premente do Brasil é resolver a questão fiscal, mas para crescer no ritmo de outros emergentes o País precisa cuidar do problema estrutural da produtividade e, portanto, da educação.

Para Bracher, o governo precisa indicar ao mercado a disposição de conter a dívida pública – e o maior símbolo dessa disposição, no momento, é a reforma da Previdência. “Não creio que o mercado ainda aposte numa reforma neste ano. A expectativa, agora, é de aprovação no próximo ano.”

A economia mundial, segundo Bracher, está num bom momento, com inflação baixa, taxas de juros muito moderadas e crescimento generalizado. Falta saber se a valorização dos ativos é uma bolha. Mas os preços, acrescenta, parecem justificados quando se considera a perspectiva de juros subindo moderadamente e de inflação ainda contida apesar da recuperação do emprego.

Nesse quadro, o banco se prepara, de imediato, para um crescimento da demanda por crédito e produtos financeiros em geral, depois de uma fase de estagnação. O ambiente de risco é bom, com inadimplência bem comportada, comenta Bracher. Para o médio prazo, o objetivo mais importante é a adaptação às transformações culturais em curso no mundo.

Dirigentes do Itaú Unibanco têm participado habitualmente da reunião do Fórum Econômico, no final de janeiro. A agenda de Cândido Bracher inclui um jantar oficial com o presidente Michel Temer, nesta quarta-feira, 24. A seguir, os principais tópicos da entrevista ao Estado.

Panorama global

“O momento é bom, com baixa inflação, juros baixos e crescimento generalizado. Resta a pergunta: em que medida se pode falar de uma bolha? A situação não está clara, mas há bons elementos para achar que os preços dos ativos se justificam. A perspectiva de juros subindo moderadamente se consolida na medida em que não há sinais de pressões inflacionárias, mesmo com o desemprego em queda. Terá a inflação ficado menos sensível à criação de empregos? A relação pode ter mudado e é possível que, em algum momento, a inflação se manifeste.”

Retomada no Brasil

“Começamos 2018 em situação favorável, com inflação baixa, os juros mais baixos que temos visto, perspectiva de crescimento de 3% e desemprego começando a ceder. Vemos no banco um início de recuperação da demanda de crédito. A inadimplência diminuiu entre empresas e entre pessoas. Fato importante é a boa situação das contas externas, com grande superávit comercial, déficit moderado nas transações correntes e reservas de US$ 380 bilhões. Sem problema cambial as pressões são muito menores.”

“Em oposição a isso há problema fiscal. A dívida pública tem crescido. Em pouco tempo subiu de pouco mais de 50% para 75% do PIB e aumenta de forma insustentável. O governo precisa indicar ao mercado a disposição de conter o avanço da relação dívida/PIB – e o maior símbolo dessa disposição, hoje, é a reforma da Previdência.”

“Se os preços dos ativos estão firmes, hoje, é porque se acredita que o problema será enfrentado. Não creio que o mercado aposte numa reforma ainda neste ano. Mas há a esperança de que ocorra no próximo. O mercado aceita essa perspectiva e isso é comprovado pelos preços dos ativos. Além disso, juros menores ajudam a moderar o aumento da dívida em relação ao PIB.”

Os maiores desafios

“O principal problema econômico, hoje, é o fiscal. É uma questão política – de vontade política e de possibilidade de fazer no Congresso as costuras necessárias para a reforma da Previdência e para outras mudanças necessárias.”

“Mas o problema fiscal depende de medidas simples e conhecidas. Resolver essa questão permitirá um crescimento de uns 3% ao ano. Para o País crescer como outros emergentes, será preciso cuidar de questões estruturais, como a produtividade. Isso dependerá de várias mudanças, como a reforma política, para tornar o sistema mais racional e menos dependente de negociações como as que temos visto, e a reforma tributária.”

“Algumas inovações de grande efeito já foram aprovadas, como a trabalhista, a da TLP (taxa delongo prazo para financiar investimentos) e a do ensino médio. Também na área da educação é preciso cuidar da inclusão digital, desenvolvendo habilidades, aumentando o acesso aos meios eletrônicos e cuidando da segurança cibernética.”

O banco e o novo cenário

“No curto prazo, nos preparamos para um ano de crescimento da demanda de crédito e de outros produtos financeiros, depois de longa estagnação. O ambiente de risco é bom, com inadimplência bem comportada. Os juros mais baixos afetarão a rentabilidade, mas isso será compensado pela maior atividade.”

“Mas isso é o dia a dia do banco. Nosso objetivo mais importante de médio prazo é a adaptação às transformações culturais do mundo. O trabalho será baseado em três pilares: 1. esforço maior de compreensão das necessidades dos clientes, hoje expostos a oferta mais ampla de serviços; 2. atenção à tecnologia. Isso envolverá o desenvolvimento de produtos digitais mais adequados às necessidades dos clientes e, ao mesmo tempo, o aperfeiçoamento dos processos internos do banco, para ganhos de eficiência e qualidade; 3. gestão de pessoas, com incentivos ao desenvolvimento e avaliação baseada em meritocracia.”

“Outros pilares de transformação devem ser a gestão de riscos (incluídos os cibernéticos), a busca de rentabilidade baseada em oferta ampla de serviços, com menor dependência de crédito, e ênfase à internacionalização, especialmente da regionalização na América Latina.”

Cenário

“O momento é bom, com baixa inflação, juros baixos e crescimento generalizado. Resta a pergunta: em que medida se pode falar de uma bolha?”

“O governo precisa indicar ao mercado a disposição de conter o avanço da relação dívida/PIB – e o maior símbolo dessa disposição, hoje, é a reforma da Previdência.”

“Resolver o problema fiscal permitirá um crescimento de uns 3% ao ano.”

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