Segunda-feira

VALOR ECONÔMICO

Peso do spread no juro final segue em alta

O peso do spread bancário (a diferença entre custo de captação e do repasse via crédito) na taxa final de juros aos consumidores e empresas tem aumentado significativamente nos últimos anos, incluindo o período do atual governo, que registrou as menores taxas básicas de juros da história. É o que mostram dados elaborados pelo economista e especialista em crédito Gilberto Borça Júnior.

Com base em números do Banco Central (BC), o economista montou uma série com a relação entre o spread e as taxas finais do crédito, inclusive separando entre os segmentos de pessoas física e jurídica. Os dados mostram que a proporção entre spread e custo do crédito atingiu em fevereiro passado o nível mais alto da série iniciada em março de 2011, tanto para pessoas físicas como para jurídicas. "Isso significa que a taxa de captação tem se reduzido de maneira mais intensa que a taxa ao tomador final. Spreads elevados atrapalham o mercado de crédito e atrasam a recuperação da economia", disse Borça Júnior ao Valor.

Para o economista, o dado mais marcante é o da pessoa física, que evidencia mais claramente que o spread bancário está "fora do lugar". Ao longo da atual gestão da política econômica, marcada por uma queda relevante nos custos de captação dos bancos mesmo antes do início do atual ciclo de queda da Selic, em outubro de 2016, essa razão cresceu com o tempo. Em maio de 2016, quando o atual governo assumiu, a proporção entre o spread geral e o custo do crédito era de 69,6%, atingiu 71,8% em outubro daquele ano, quando teve início a trajetória de corte de juros, e chegou a 75,8% em fevereiro deste ano.

No caso do crédito para pessoa física, essa razão passou de 76,3% em maio de 2016, chegou a 78,2% em outubro do mesmo ano e bateu 81,4% no dado mais recente. Para as empresas, no início do atual governo estava em 54,7%, passando para 56,4% em outubro e chegando agora a 62%.

Embora reconheça que o spread bancário elevado no Brasil reflita uma série de fatores, como custos administrativos, inadimplência, impostos indiretos, compulsórios, além, é claro, da margem de lucro dos bancos, Borça Júnior destaca que a economia brasileira vive uma situação de riscos menores, por conta do fim da recessão, da forte redução do endividamento das famílias e da melhora gradual do emprego e da renda. "O spread deveria refletir esses riscos menores. E o nível atual não é compatível", disse, explicando que nesse quadro era de se esperar que o spread tivesse queda no mínimo igual ao do custo de captação.

A inadimplência, por exemplo, fechou em 5,1% em fevereiro no crédito com recursos livres para pessoa física, menor patamar da série histórica iniciada em 2011. E mesmo no período mais agudo da crise, a inadimplência das famílias se manteve comportada. Foram as empresas que puxaram a taxa de calotes no período recente.

Mesmo vendo alguma melhora nas concessões, Borça Júnior enxerga uma postura excessivamente conservadora dos bancos no crédito. "Isto atrapalha enormemente a recuperação da economia. O crédito é uma variável importante para o crescimento", disse. "Os bancos poderiam ser um pouco menos cautelosos", acrescentou, ressaltando que o modelo de negócio das instituições financeiras no Brasil claramente está ancorado em preço e não em volume de financiamentos.

A questão do spread bancário elevado tem sido tema de crescentes debates no Brasil e foi tema também de box no mais recente relatório de inflação do BC, divulgado hoje, que mostrou que o comportamento do crédito no atual ciclo de distensão monetária tem sido semelhante ao dos ciclos anteriores.

O presidente do BC, Ilan Goldfajn, disse recentemente que embora a análise do relatório sobre crédito mostre que o movimento atual dessas taxas é compatível com outros cinco episódios anteriores de ciclo de queda da Selic, isso não significa que o regulador não gostaria de ver uma queda mais rápida nas taxas.

Ele disse que a autoridade trabalha para a queda das taxas de juros bancárias. Nesse sentido, ele afirmou que o BC vê o compulsório exclusivamente como uma forma de afetar o custo do crédito. Segundo Ilan, o sistema tem vários custos, operacionais, de inadimplência, impostos, regulatórios e o próprio compulsório. "Estamos tentando atacar todos esses itens", disse, complementando que o BC também trabalha para estimular a competição no sistema financeiro.

Para o presidente do BC, se conseguir manter a Selic e a inflação mais baixas haverá redução contínua do spread. Segundo Ilan, o spread já está caindo, "mas estamos fazendo esforço para que desta vez caia de forma mais rápida". Na quarta passada, o BC reduziu e simplificou alíquotas do depósito compulsório, o que vai liberar mais de R$ 25 bilhões no fim de abril e começo de maio.

 

Política monetária alimentará recuperação

A recuperação da atividade econômica mostrou-se mais lenta do que se previa nos primeiros meses de 2018, o que coloca no radar um risco de o desempenho do PIB neste ano ficar aquém das expectativas. Mas, para o economista-chefe do Itaú Unibanco e exdiretor de Política Econômica do Banco Central, Mario Mesquita, existem fatores importantes trabalhando a favor da recuperação econômica, cujo resultado deve ser observado nos próximos meses: a evolução do crédito, em especial para as famílias, e o efeito defasado da política monetária do Banco Central. "A recuperação tem sido e vai ser mais alimentada pelos efeitos defasados da política monetária", afirma Mesquita.

O Banco Central iniciou o ciclo de corte de juros em outubro de 2016 e, desde então, já reduziu a Selic em 7,75 pontos percentuais. "A economia não reflete parte importante dos cortes de juros que o BC já fez na segunda metade do ano passado. Isso vai começar a ter efeito maior sobre a economia agora e no segundo semestre deste ano." Isso explica a sinalização feita pelo BC na quinta-feira passada, na divulgação do Relatório de Inflação, de que deverá haver uma "pausa" no ciclo de corte de juros a partir de junho, quando a Selic já deverá estar em 6,25%.

Para Mesquita, a partir daí, a política monetária deverá estar em "ponto morto" até meados de 2019. A perda de dinamismo que se observa nos dados de atividade levou o Itaú a rever, de forma preliminar - ainda há números relativos a esse período a serem divulgados -, sua estimativa para o crescimento no primeiro trimestre de 1% para 0,5%. Para o ano, a projeção ainda é de crescimento de 3%, "com viés de baixa."

O ritmo mais lento da retomada, que mantém bastante elevado o nível de ociosidade da economia, ajuda a explicar os núcleos de inflação mais baixos e também contribuem para consolidar uma tendência declinante dos índices de preço. Mas para garantir que a inflação torne-se estruturalmente baixa, Mesquita afirma que é preciso ainda garantir que o ajuste fiscal aconteça. "Todo esse progresso que a gente teve no campo da inflação só acontece porque a gente tem confiança que a situação fiscal será colocada nos trilhos, que a dívida será posta numa trajetória estrutural sustentável", afirma.

Além disso, é preciso ter uma meta de inflação mais baixa. O Conselho Monetário Nacional (CMN) já definiu uma redução da meta para 4,25% no próximo ano e para 4% em 2020. "Uma redução para 3,75% em 2021 seria bastante apropriada. Isso seria uma forma de tentar travar esse patamar de inflação mais baixa que a gente atingiu agora", afirma.

A seguir, os principais pontos da entrevista:

Valor: O que explica o comportamento da inflação neste primeiro trimestre, que seguidamente veio abaixo do previsto pelos analistas?

Mario Mesquita: A inflação, de fato, surpreendeu todo mundo, o mercado e próprio Banco Central neste início de ano. Houve um comportamento melhor do que o antecipado na questão dos alimentos, que é algo que a gente está acompanhando há um tempo. Nas nossas projeções para o ano, elas embutem uma normalização do preço de alimentos. Voltaria a ter inflação de alimentos, ainda que moderada. Teve também a questão das bandeiras tarifárias, que volta e meia surpreendem.

Valor: A atividade, um pouco mais fraca, também ajuda a explicar essa inflação?

Mesquita: Não há dúvida de que o hiato do produto é amplo. A gente estima, por exemplo, que a taxa de desemprego que não provoca aceleração mais generalizada dos salários deve estar em torno de 10%. Estamos consideravelmente acima disso, mais para 12,5%. Olhando especialmente para o mercado de trabalho, a gente não vê nenhuma pressão mais pronunciada de inflação. A recuperação tem sido e vai ser mais alimentada pelos efeitos defasados da política monetária. Mas é verdade que os indicadores no início do ano também mostraram uma certa perda de dinamismo. É normal essa oscilação nesse tipo de processo de recuperação econômica. Por enquanto, é algo mais para a gente monitorar do que uma evidência definitiva de que a atividade econômica vá arrefecer na frente. Mas há um sinal que requer alguma atenção nos dados que foram divulgados recentemente. Houve uma pesquisa de serviços que veio abaixo do esperado e isso nos levou a reavaliar, por exemplo, a nossa estimativa preliminar do PIB do primeiro trimestre, para algo mais próximo a 0,5%, e estava mais próximo a 1%. E tem, sim, alguns sinais enfraquecendo. Por outro lado, olhando a atividade nos próximos meses, tem alguns fatores muito positivos, como a evolução do crédito, em especial o crédito para as famílias, como mostram os dados do Banco Central.

Valor: O que explica esse avanço dos empréstimos para as pessoas físicas mesmo com os spreads altos?

Mesquita: A inadimplência das famílias está caindo. A demanda por crédito por parte das famílias tem aumentado. Elas desalavancaram de fato durante muito tempo a partir de 2012 e tem um momento que elas voltam a tomar crédito para consumir. Acho que é isso que está acontecendo.

Valor: Sua projeção para o PIB no ano também mudou?

Mesquita: Não. Estamos com projeção de 3%. Mas talvez o risco seja assimétrico na direção de um crescimento um pouco menor do que isso. Por ora, em função esses dados um pouco mais fracos no começo do ano, com viés de baixa.

Valor: Do lado da demanda, mudou o cenário para o consumo das famílias ou para os investimentos?

Mesquita: Não, estamos vendo uma retomada do crédito que tende a favorecer de forma importante o consumo das famílias. O crédito para o consumo principalmente está até avançando mais rapidamente do que o crédito corporativo. Por isso que não mudamos a nossa projeção para o ano, por enquanto. Pode ser que em algum momento a gente tenha que fazer isso, mas por enquanto é mais uma questão de mudança no balanço de riscos, que ficou mais assimétrico em direção a um crescimento um pouco menor, do que mudança do cenário central.

Valor: Mas qual o peso desses números mais fracos no primeiro trimestre na surpresa inflacionária observada no primeiro trimestre?

Mesquita: O hiato do produto, a capacidade ociosa que existe na economia, funcionam melhor para explicar a tendência da inflação ou as medidas de núcleo do que para explicar a inflação cheia, que é muito influenciada por fatores mais voláteis ou administrativos, como a gente mencionou. Bandeiras tarifárias ou preços de alimentos têm menos a ver com o grau de ociosidade da economia.

Valor: O que dessa inflação baixa a gente já pode considerar que realmente é estrutural?

Mesquita: Vários países, quando há uma recessão profunda e prolongada e a política monetária é conduzida de forma adequada, têm essa mudança de patamar inflacionário. Uma economia bem diferente da nossa, mas um caso que vem à mente, é o de Israel, que teve essa transição de inflação e taxas de juros altas para inflação e taxas de juros mais baixas na esteira de uma recessão e de outros choques econômicos também. Essas mudanças acontecem. Aqui, do lado estrutural, falta, contudo, o ajuste fiscal. Todo esse progresso que a gente teve no campo da inflação só acontece porque a gente tem confiança que a situação fiscal será colocada nos trilhos, que a dívida será posta numa trajetória estrutural sustentável, o que requer a continuidade da agenda de reformas, em especial a aprovação de uma reforma da Previdência, talvez até mais ampla do que a que esteve para ser votada nos últimos meses. E para travar uma inflação mais baixa, é preciso ter uma meta de inflação mais baixa. O Banco Central sinalizou que gostaria de ver uma meta mais parecida com a dos países da região - você tem 3% no México, na Colômbia e no Chile, no Peru é até mais baixa. Mas não acreditamos que o Conselho Monetário vá fazer um pulo de 4% em 2020 para 3% em 2021. Acho que uma redução para 3,75% em 2021 seria bastante apropriada. Isso seria uma forma de tentar travar esse patamar de inflação mais baixa que a gente atingiu agora.

Valor: A discussão sobre a independência do Banco Central também é essencial?

Mesquita: Eu acho que a independência do Banco Central ajudaria muito a gente conseguir manter a taxa de inflação mais baixa com juros mais baixos. Enquanto o BC não for legalmente independente, vão existir em maior ou menor grau dúvidas sobre a capacidade de a autoridade monetária agir de forma não correlacionada com o ciclo político. Hoje, nós temos um período de altíssima credibilidade do Banco Central, que tem a ver com a atuação da diretoria do BC, tem a ver com a forma como a sociedade, o governo entendem essa atuação. Mas isso não está estabelecido na lei, é algo que pode ser alterado em outra conjuntura política.

Valor: O Banco Central sinalizou com a ideia de uma pausa do ciclo de alívio monetário. Essa parada pode estar relacionada com a proximidade da eleição?

Mesquita: Eu acho que o BC está muito corretamente atuando de forma pouco correlacionada com o ciclo político. Mas é óbvio, contudo, que se a incerteza, seja por ordem eleitoral, seja por razão externa, vier a afetar o funcionamento da economia, o BC vai levar em consideração em seu processo decisório. Você pode ter uma reconfiguração do preço de ativos que implique maiores riscos inflacionários à frente, e o BC vai levar isso em consideração. Por outro lado, pode ter um aumento da incerteza que iniba a recuperação da economia. Também é algo que o BC vai pesar e vai ver o que vai ter maior influência. Eu acho que a sinalização das autoridades na direção de uma pausa tem a ver com a magnitude da flexibilização monetária já feita e a defasagem dessa política. A economia não reflete parte importante dos cortes de juros que o BC já fez na segunda metade do ano passado. Isso vai começar a ter efeito maior sobre a economia agora e no segundo semestre deste ano. É razoável que o BC espere algumas reuniões para avaliar se precisa ou não flexibilizar mais a política monetária.

Valor: Como fica o cenário do Itaú para a taxa de juros?

Mesquita: Esperamos que o BC corte a Selic mais uma vez em maio e depois fique parado durante um bom tempo. Voltando ao que mencionei antes, temos uma folga, uma capacidade ociosa, principalmente no mercado de trabalho, bastante importante e que deve demorar a ser reduzida. Dessa forma, a gente não vê a emergência de pressões inflacionárias ao longo deste ano. No ano que vem, aí sim, teríamos um início da normalização do processo de elevação da taxa de juros, mas em meados ou no segundo semestre do ano. Uma qualificação que eu faço é que esse cenário embute que em algum momento de 2019 a gente vai retomar a agenda de reforma fiscal com sucesso. Se isso não acontecer, pode haver uma reconfiguração dos preços de ativos que levaria a um incremento das expectativas e das pressões inflacionárias, suscitando talvez a necessidade de o BC antecipar um processo de normalização de taxa de juros. Não é no que acreditamos, mas é um risco que existe.

Valor: No relatório de inflação, a projeção para o IPCA de 2020 está em 4%, considerando-se a projeção para Selic da Focus, de 8%. Isso indica que o juro neutro está na casa de um dígito?

Mesquita: Acho que há sinais de que o juro neutro está mais baixo do que ele foi no passado. Se ele vai permanecer nesse patamar, vai depender, volto a repetir, das reformas. Depende da meta de inflação também. Se a gente reduzir a meta, você pode ter sim um juro neutro mais baixo, mais para 8%. Se mantivermos a meta inflação onde está, daí o neutro provavelmente vai ficar acima desse valor.

Valor: Por que os spreads bancários estão demorando tanto a cair? Essa agenda do governo, de cadastro positivo, vai realmente ajudar?

Mesquita: O crédito está retomando, os dados do BC corroboram isso. O cadastro positivo, muito provavelmente, contribuiria para aumentar a competição dentro do sistema bancário, porque as informações sobre os tomadores de crédito ficam disponíveis de forma mais disseminada. Sobre o ritmo de redução do spread, isso tem a ver com o ritmo também demorado da redução da alavancagem e da inadimplência em alguns segmentos, notadamente no crédito corporativo. E ele vai acontecer. Em alguns ciclos ele é mais rápido, em outros é mais demorado, mas vai acontecer desde que a gente preserve esse ambiente de taxas de juros mais baixas que, volto a dizer, depende de aprovação das reformas.

Valor: A redução dos compulsórios anunciada pelo BC vai ter impactos relevantes sobre os spreads?

Mesquita: As mudanças também aumentaram certas exigibilidades, então o impacto líquido não é enorme, é limitado, embora seja um sinal na direção de favorecer a expansão do crédito.

Valor: Nos últimos dias, o real tem apresentado um desempenho um pouco pior do que outros pares. Isso pode ter relação com a queda do diferencial entre o juro brasileiro e o americano?

Mesquita: O diferencial de taxa de juros tem uma influência sobre o comportamento das moedas no curto prazo. Ele se tornou menos favorável ao real, isso deve estar tendo algum impacto. A contratação de proteção cambial fica mais barata, então os agentes que têm exposição cambial se sentem mais à vontade de fazer esse tipo de operação, e também aqueles que querem aumentar o componente dolarizado do seu patrimônio, o custo de fazer isso também diminui nessa conjuntura. Dito isso, sempre foi comentado especialmente por alguns analistas que o Brasil era vítima do "carry trade", que distorcia a formação de preços da economia, levava à sobrevalorização cambial, causava toda sorte de malefícios. Agora a gente está com inflação baixa, taxa de juros mais baixas, política monetária muito crível. Isso permitiu ao BC reduzir a taxa de juros e também esse "carry trade".

Valor: O mandato do presidente Michel Temer está no fim, a reforma da Previdência ficou para o ano que vem, há mudanças nos ministérios, pessoas próximas ao presidente foram presas. Em que o governo deveria concentrar esforços nesse últimos meses?

Mesquita: A prioridade número um do lado fiscal é a Previdência. Mas eu entendo que conseguir maioria constitucional nesta altura do mandato presidencial é muito difícil, em qualquer mandato. Você chega no fim e o capital político do governo já foi decaindo com o tempo. Então medidas como cadastro positivo, talvez a reoneração [da folha de pagamento], privatização da Eletrobras, acho que são medidas muito importantes, não tão críticas do ponto de vista fiscal quanto a Previdência, mas importante, meritórias. Acho que o governo deveria focar nessas questões.

Valor: O BC fez muitas mudanças na condução da política monetária, inclusive em sua comunicação. E foi acusado de ser excessivamente conservador em algum momento. O que pode ter sido determinante nos resultados que se vê hoje na inflação?

Mesquita: Acho que houve sim avanços na comunicação, mas a melhor comunicação sobre decisões de política econômica erradas não salva. Então acho que as decisões foram fundamentalmente corretas. Em um país com um histórico inflacionário bem ruim como o nosso, o BC se preocupar, como foi o caso nesta gestão, primeiramente em ancorar as expectativas para depois flexibilizar a política monetária foi a sequência adequada. Isso merece elogios, porque não foi uma opção fácil na época. Uma coisa que o presidente do BC tem falado, e falou na posse dele, é muito "back to basics", olhar o modelo, olhar a economia e tomar as decisões com calma e tranquilidade, focando sempre na estabilidade de preços. Acho que é isso que eles têm feito. Herdaram uma situação um tanto complicada, com inflação alta e economia em recessão, uma conjuntura difícil. Não acredito que mudanças de 50 pontos base [na Selic], de um lado ou de outro, fossem fazer uma grande diferença no ritmo de retomada.

Valor: Aqui e ali, o mercado começa a colocar em pauta que pelo menos parte dos diretores do Banco Central permaneça no cargo no ano que vem. Essa é uma possibilidade concreta?

Mesquita: Na prática brasileira, a gente tem tido, em geral, não sempre, transições, por exemplo a de 2003, em que boa parte da diretoria do BC ficou depois da mudança na Presidência da República. Faz parte da governança dos BCs que os mandatos da diretoria não coincidam com o mandato do presidente da República. Isso não está no nosso arcabouço legal. No entanto, no nosso arcabouço legal o diretor do BC segue nessa posição enquanto ela não se demitir ou for demitida. Então o mandato presidencial expira dia 31 de dezembro e a diretoria do BC continua trabalhando, a menos que o novo presidente remova a diretoria ou se algum diretor queira sair. Então não tem nenhum problema legal, não tem nenhum empecilho legal. Do ponto de vista de desempenho, eu, como cidadão brasileiro, gostaria que eles continuassem, porque acredito que têm prestado excelentes serviços para população. Se eles vão ou não ficar, seria uma boa ideia quem quer que seja eleito em outubro conversar com eles e tentar convencê-los a ficar, continuar a fazendo o excelente trabalho que vêm fazendo. Se vão continuar ou não, eu não sei, mas torço para que continuem.

 

Reforma não neutraliza incerteza de Lula e Temer

O segundo trimestre começa com maior grau de incerteza no país. Até sábado, 7 de abril, quem pretende disputar as eleições deve estar filiado a algum partido. Também até sábado quem ocupa algum cargo no governo, e pretende disputar um cargo diferente, deve deixar o posto atual. Com o Brasil a exatos seis meses das urnas, os aspirantes às funções de presidente, governador, prefeito, senador e deputado federal e estadual terão ao seu lado vigilantes apoiadores e adversários dispostos a monitorar o cumprimento do calendário eleitoral.

Quando todos estão à caça de deslizes de todos, desconfie da estabilidade prolongada dos ativos financeiros e de relações platônicas entre o Banco Central (BC) e mercado financeiro. Se em algum momento o mercado tiver sua funcionalidade ameaçada, o BC estará pronto para intervir nos negócios. Sem paixão. E sem pudor. Especialmente nesses tempos de Brasil incerto e a caminho de uma eleição completamente aberta e com inédita pulverização de candidaturas a presidente da República, fique atento aos eventos econômicos e políticos internacionais.

Estados Unidos e China estão sob crescente tensão evidenciada inicialmente na taxação de importações de aço e alumínio e em migração para alta tecnologia após o vazamento de dados pelo Facebook, que renderá a Mark Zuckerberg uma exposição ao Congresso americano. Esta primeira semana de abril pode ser pedagógica e mostrar que, sem passado resolvido, o futuro não tem lugar.

O evento doméstico mais relevante dos próximos dias está pré-agendado para a quarta-feira, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) vai retomar o julgamento do habeas corpus do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva, interrompido há dez dias. Ao não concluir a apreciação da matéria na sessão original, a Corte concedeu a Lula um salvo-conduto que impede que ele seja preso pelo menos até esta quartafeira, dia 4.

Sem o salvo-conduto ele poderia ter sido preso há uma semana pela legislação vigente, quando o Tribunal de Segunda Instância TRF-4, da 4ª Região, confirmou a condenação de Lula - decretada anteriormente - a 12 anos e 1 mês de prisão em regime fechado. O ex-presidente Lula deseja, por óbvio, não ser preso e muito menos tornar-se inelegível.

O ex-presidente quer disputar a presidência pela terceira vez. E, mostram as pesquisas de opinião, poderá ser eleito se concorrer. Ficaram para esta semana os desdobramentos da Operação Skala, deflagrada pela Polícia Federal na quinta-feira, como parte das medidas solicitadas pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, para colher provas para o inquérito que investiga se o presidente Michel Temer patrocinou um decreto com o objetivo de favorecer empresas do setor portuário em troca de propina.

A operação foi autorizada pelo ministro do STF, Luiz Roberto Barroso, a pedido da procuradora, e nove pessoas, inclusive amigos do presidente, foram presas. No sábado, novamente a pedido de Raquel Dodge, Barroso revogou a prisão porque já haviam prestado depoimentos satisfatórios para o andamento do inquérito. É cedo para dizer o quanto a Operação Skala pode atrapalhar os objetivos de Michel Temer.

O presidente, que por muito tempo disse não ter intenção de concorrer à reeleição em outubro, cedeu e se apresentou como o defensor mais qualificado dos feitos do seu governo. E assumiu candidatar-se à reeleição. A reeleição, para Temer, não é um traço de patriotismo desvairado e, sim, a tentativa de obter foro privilegiado após 31 de dezembro, quando estará fora do governo, com seus atos subordinados à avaliação da Justiça comum.

As consequências da Operação Skala para Temer tendem a repercutir nos objetivos do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Há muitas semanas, o ministro demonstra sua ambição pelo cargo majoritário. Temer registrou o movimento de Meirelles. E, jeitoso, passou a tratar o titular da Fazenda como candidato a vice em sua chapa. Inabalável, Meirelles se mantém na Fazenda e continua se apresentando como aspirante à presidência.

O ministro comprometeu-se a filiar-se amanhã, terça dia 3, ao MDB de Michel Temer. Não prometeu para amanhã informar se será candidato. Homem de inteligência rara, enquanto não toma sua decisão, Henrique Meirelles inferniza a vida dos outros. Não está claro que Meirelles topa ser vice de Temer e/ou se ambos conseguiriam os votos necessários para vencer concorrentes mais populares.

Contudo, ele vem indicando que não pretende permanecer na Fazenda, para preocupação de um grupo de participantes do mercado e surpresa de outro que considera "dadas" as condições da economia brasileira. E com o Banco Central na linha de defesa. No sábado, o Palácio do Planalto dava como maior a probabilidade de o secretário-executivo Eduardo Guardia ser promovido a ministro da Fazenda, no lugar do Meirelles, que deve sair da pasta para concorrer às eleições.

Dyogo Oliveira, ministro do Planejamento, vai ocupar a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Na semana passada, o economista Paulo Rabello de Castro, afastou-se do comando da instituição porque também pretende disputar a eleição presidencial. O ex-presidente da Caixa Econômica Federal, Gilberto Occhi, assumirá o comando do Ministério da Saúde, no âmbito da reforma presidencial, em substituição ao ministro Ricardo Barros (PP-PR), mais um integrante do governo Temer que concorrerá às eleições em outubro.

A Caixa, por sua vez, passará a ser presidida por Nelson Antônio de Souza, atual vice-presidente de Habitação do banco. O atual diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), Valter Casimiro Silveira, será o novo ministro dos Transportes, substituindo Maurício Quintella. Os três novos ministros tomarão posse nesta segunda, às 10h30, no Palácio do Planalto.

 

BC deve decidir rumo da Selic apenas após eleições

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) poderá precisar de "algumas reuniões" para decidir os seus próximos passos de política monetária, depois de baixar os juros dos atuais 6,5% para 6,25% ao ano em maio. É o que informou o presidente da instituição, Ilan Goldfajn, em entrevista de divulgação do Relatório de Inflação, na semana passada.

O mercado financeiro entendeu que esse período de "algumas reuniões" significa pelo menos três encontros. Isso quer dizer que somente em outubro, após as eleições presidenciais, o BC estará avaliando de fato o rumo que dará para a taxa básica, depois de levá-la ao menor percentual já registrado no regime de metas de inflação. O Copom sinalizou na sua reunião de março que pretende cortar os juros novamente em 0,25 ponto percentual no encontro de maio.

Na reunião seguinte, em junho, o cenário mais provável indicado é uma pausa no corte de juros, a menos que surjam novidades que alterem de forma significativa o cenário inflacionário. Em seguida, haverá um encontro na virada de julho para agosto, e a pausa de três reuniões prevista no mercado se completaria em setembro. O Copom só voltará a se reunir em 30 e 31 de outubro, depois do segundo turno das eleições presidenciais, marcada para 28 de outubro.

Segundo Ilan, "provavelmente estamos em um mundo novo". Nele, disse, o BC tem que se equilibrar entre a necessidade de garantir uma velocidade adequada de convergência da inflação de volta para a meta e assegurar que as conquistas da inflação baixa perdurem mesmo diante de incertezas e possíveis choques que ocorram no futuro. Entre incertezas e riscos, o presidente citou, de um lado, a surpresa inflacionária do primeiro bimestre e os baixos núcleos de inflação.

De outro, eventual frustração dos mercados com o andamento das reformas, como a da Previdência, em especial se houver virada de humor no mercado externo. Ilan destacou, em especial, as incertezas sobre a transmissão da política monetária, incluindo o tempo em que leva para os cortes de juros chegarem à inflação, que serão avaliadas no período de pausa neste ciclo de distensão. "Será que o Copom já deu estímulos suficientes e a inflação vai convergir tanto ou mais do que imaginamos?", questionou ele.

"Ou será que vai levar mais tempo do que imaginamos?", acrescentou. O chefe da autoridade monetária disse que a sinalização da necessidade de uma pausa de "algumas reuniões" foi o ponto de divergência entre os membros do Copom em sua última reunião. Alguns integrantes defenderam, segundo ele, que fosse sinalizada apenas uma pausa nos cortes de juros. A mensagem de consenso foi que "o comitê vê como adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária, visando avaliar os próximos passos".

 

"Uma pausa parece ser ideal", disse Ilan.

"Considero que a parte mais difícil do trabalho vai começar agora, que é garantir que o que fizemos até agora se mantenha mais adiante", prosseguiu, referindo-se às expectativas ancoradas na meta e os níveis mais baixos de juros na economia.

O presidente do BC inaugurou, na última quinta-feira, uma nova fase na comunicação de política monetária. Inspirado nos bancos centrais de outras partes do mundo, como Estados Unidos e Europa, ele vai conceder entrevistas quatro vezes por ano na divulgação do relatório de inflação, na semana seguinte às reuniões do Copom de março, junho, setembro e dezembro.

Até então, o relatório era apresentado apenas pelo diretor de política econômica, Carlos Viana de Carvalho, que continua a participar dessas entrevistas. Segundo Ilan, as projeções de inflação do relatório apontam a convergência dos índices de preços às metas anuais em "velocidade adequada".

Para 2018, o BC projeta inflação de 3,8%, abaixo da meta de 4,5%, considerando juros e câmbio projetados pelo mercado. Mas para 2019 a projeção é de uma inflação de 4,1%, perto da meta de 4,25%; e para, 2010, 4%, na meta. O BC manteve em 2,6% sua projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).

 

FOLHA DE SÃO PAULO

Melhora no mercado atrai investidor para fundos imobiliário

O impacto positivo da recuperação econômica sobre o preço e a vacância dos imóveis deve levar os fundos imobiliários ao quarto ano seguido de valorização. A aplicação entra na mira do investidor também em razão do atual cenário de juros em patamares mínimos históricos. O produto é boa alternativa para quem quer aproveitar a melhora no mercado imobiliário e diversificar seus investimentos com um ativo que paga um rendimento isento de Imposto de Renda e tem potencial de ganho com a valorização das cotas.

Esse tipo de fundo abrange em sua carteira imóveis de diferentes segmentos, como shoppings, lojas e galpões comerciais. Como todo instrumento de renda variável, se beneficia da queda de juros. Isso porque a Selic (taxa básica de juros do país) em baixa faz com que o investidor tenha de se arriscar mais para manter o ganho que tinha na renda fixa.

Neste ano, o impacto da queda de juros sobre esses fundos será menor do que em 2017, quando a Selic recuou de 13% para 7%. Atualmente, a taxa básica está em 6,5%, e o Banco Central sinalizou que fará um último corte de 0,25 ponto percentual na reunião de maio. “Ainda existe espaço para se beneficiar dessa queda de juros, mesmo que a taxa tenha pouco espaço para novas quedas representativas”, afirma Gustavo Pires, responsável pela plataforma de fundos e previdência da XP Investimentos.

“A outra ponta do ganho, que deverá ser mais relevante neste ano, é a melhora na economia que a gente vem observando e, com isso, a redução da vacância e a alta do aluguel, o que contribui para a performance dos fundos.” Fernando Silva Telles, sócio-diretor da corretora Coinvalores, também aposta na melhora do mercado.

“A gente vê pelos nossos fundos que imóveis que estavam vagos no começo do ano passado já não estão mais, foram alugados. Tudo com muita negociação.” Anita Scal, sócia da Rio Bravo, e Alexandre Rodrigues, analista da área de investimentos imobiliários da gestora, dizem que o mercado está em crescimento.

Segundo eles, a vacância dos imóveis AAA —de alto padrão— em São Paulo hoje é de 14%. No ano passado, era de 26%, de acordo com dados da consultoria CBRE. A retomada terá um ritmo diferente para cada tipo de imóvel, afirma Marcelo Prata, presidente do Canal do Crédito, de comparação de empréstimos. “Não dá para dizer que todo o mercado vai se recuperar. O comercial vai sofrer um pouco antes de melhorar”, diz.

“No residencial, tem o tripé emprego, renda e confiança do consumidor. Quando melhora um dos pilares, o brasileiro pensa em comprar.” A melhora de cenário já faz com que algumas gestoras busquem estruturar mais fundos imobiliários Rodrigo Godoy, sócio responsável pela área de serviços fiduciários do Brasil Plural, diz que há conversas com gestores imobiliários. “Pelo menos oito fundos estão em estruturação para lançamentos ou em conversas. É um número bem expressivo quando se compara com o ano passado e meses anteriores”, afirma.

 

O ESTADO DE SÃO PAULO

Crédito para financiamento de imóveis cai pela metade desde o pico em 2014

O volume de crédito destinado ao financiamento de imóveis com dinheiro da poupança caiu pela metade no último ano, na comparação com 2014, antes da crise econômica e quando esses recursos atingiram patamar recorde.

O montante acumulado para financiar a compra e a construção da casa própria em 2017 foi de R$ 83 bilhões, ante os R$ 168 bilhões de três anos antes, segundo dados do Banco Central, em valores reais, já considerado o IPCA (índice oficial de inflação). Os números de 2017 representam a terceira queda seguida do volume de financiamento.

“Com a queda recente dos juros, seria razoável que começasse a ter uma recuperação do crédito imobiliário em 2017, em relação a 2016. É surpreendente que tenha continuado caindo”, analisa o economista Armando Castelar, coordenador de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).

O consumidor só deve recuperar aos poucos a disposição para comprar um imóvel, e a tendência, segundo analistas ouvidos pelo Estado, é que os bancos fiquem menos retraídos para emprestar em 2018 do que estavam no ano passado.

Parte importante da explicação para o recuo do crédito imobiliário está na situação da Caixa Econômica, o banco da habitação. Sem capital para cumprir regras internacionais de proteção, o banco estatal reduziu os financiamentos e aumentou os juros. “Ela tem 70% do mercado, mas não tem capital para continuar no ritmo pré-crise”, diz José Carlos Martins, da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic). Para Miguel Oliveira, da Anefac (associação de executivos de finanças), as dificuldades pelas quais a Caixa tem passado devem limitar a oferta de juros menores para o consumidor.

Segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), o banco estatal foi ultrapassado pelos concorrentes na concessão de crédito com recursos da poupança. Em nota, a Caixa diz que estuda diminuir a taxa de juros do financiamento.

Lenta recuperação. O desemprego, ainda em dois dígitos, é apontado como um dos fatores que mais atrapalham a alta do crédito. A desaceleração do financiamento acompanhou a alta do desemprego, que subiu da casa dos 6% para mais de 13%.

Nos anos recentes, quem estava empregado tinha receio de embarcar em uma dívida que pode se estender por mais de 30 anos. Quem perdeu o emprego não conseguia mais financiar.

O veterinário Erick Almeida, de 32 anos, teve de morar com a mãe por mais tempo. Ele havia começado a pagar um imóvel na planta, até perder o trabalho, em março do ano passado.

“Depois de dois meses procurando uma outra vaga, desisti do imóvel. Sabia que quando o edifício ficasse pronto e o financiamento fosse repassado para o banco, não me aceitariam.”

Também pesou a perda de recursos da caderneta de poupança, que havia ficado menos atrativa para o investidor com a alta dos juros no fim do governo Dilma Rousseff, diz Martins, da Cbic. Para analistas, porém, a tendência é que muitas famílias que não conseguiam contratar um financiamento agora sejam atraídas pelos juros básicos em seu nível mais baixo.

 

'Abertura é a mãe de todas as reformas'

Um dos formuladores do Plano Real, o economista Edmar Bacha defende que o próximo presidente anuncie um amplo programa de integração do País ao mundo, que precipite medidas para reduzir o custo Brasil e aumentar a produtividade. Além de acordos comerciais, o programa incluiria menos restrições à atuação de bancos estrangeiros, reforma no sistema tributário e concessões de infraestrutura. “Para nos abrirmos ao comércio exterior, teremos de nos preparar do ponto de vista tributário, educacional, de infraestrutura. Será o grande indutor do crescimento”, disse ao Estado.

Bacha defendeu mudanças nas regras do funcionalismo, com o fim da estabilidade ou possibilidade de corte nos salários, e restrições ao uso do SUS pelos mais ricos. Ele indicou entusiasmo com a candidatura de Geraldo Alckmin pelo PSDB, seu partido, classificou o PT como o grande adversário da sigla e disse que o discurso de Jair Bolsonaro (PSL) não inspira confiança. “O passado dele o condena”, afirmou.

A ideia mãe deve ser a abertura da economia ao comércio exterior. Esse será o grande indutor do crescimento e das demais reformas que o País necessita. Para se abrir ao comércio exterior, teremos de estar preparados do ponto de vista tributário, educacional, de infraestrutura. Precisamos pensar em medidas que induzam ou forcem a adoção de outras. Ao expor nossas empresas à concorrência internacional e forçá-las a serem eficientes para sobreviver, criaremos foco no custo Brasil. A abertura é a mãe de todas as reformas.

Como promover a abertura?

Há medidas que podem vir agora, como acordo comercial do Mercosul com a União Europeia e entrada do Brasil na OCDE. Minha proposta é que o presidente eleito anuncie um amplo programa de integração do Brasil ao mundo com base nos pilares: redução do custo Brasil – com foco na reforma tributária e nas concessões da infraestrutura –, acordos comerciais e redução da proteção propiciada por medidas protecionistas, como requisitos de conteúdo nacional e impedimentos da atuação de bancos estrangeiros no País, compensada por taxa de câmbio competitiva. O objetivo é assegurar que exportação e importação cresçam fortemente e em paralelo, propiciando aumento da produtividade.

A postura protecionista de Donald Trump atrapalha?

Tudo indica que os movimentos se dirigem primordialmente à China. Tanto assim que Argentina, Brasil, Canadá, Japão, México, União Europeia obtiveram isenção temporária das tarifas de alumínio e aço. A Coreia do Sul obteve isenção permanente. A China reagiu com precaução, indicando não se tratar de guerra comercial, mas de movimentos táticos entre as duas maiores potências mundiais. Nada disso afeta o projeto de abertura do Brasil.

Por que o Brasil tem dificuldade de realizar a abertura?

Embora os economistas estejam convencidos de que comércio é bom, é muito difícil explicar isso aos políticos. Para eles, bom é exportar e ruim é importar. Proteger o mercado interno tem um apelo extraordinário. Mas tanto a teoria econômica quanto a experiência histórica nos ensinam de maneira cabal a importância de termos um comércio relativamente livre para beneficiar o crescimento.

Temos um problema fiscal a ser enfrentado. O que fazer?

Há certa falta de foco. O problema não é a regra de ouro, por exemplo, mas encontrar um caminho para resolver o problema da regra de ouro. Temos de pensar quais mudanças temos de fazer para abrir espaço no orçamento para que haja investimento – diretamente pelo governo ou pelos instrumentos de garantia através de parceria público e privada. A resposta está na desvinculação de receitas. As receitas já vêm pré-amarradas. Temos de dar mais flexibilidade. Outro problema é que o governo, quando se vê com excesso de gasto com funcionalismo, não tem como resolver diante da norma constitucional da irredutibilidade dos salários nominais e a garantia de emprego dos funcionários públicos. Isso precisa ser resolvido: ou permitir que salários sejam reduzidos ou que possam ser demitidos quando se tornarem ociosos, desnecessários ou excessivamente custosos.

O sr. criticou muito a postura do PSDB no ano passado, em especial em relação à reforma da Previdência. Apoiará a sigla?

Agora está claro que marcharemos sob o símbolo da defesa do legado do Fernando Henrique Cardoso e do prosseguimento da política de reformas implementadas naquele governo. Geraldo Alckmin está completamente comprometido com isso. Tanto que o principal assessor econômico dele se chama Persio Arida. Existe algo melhor para caracterizar a firmeza de seus propósitos com a política de reformas? Existe igual e se chama Arminio Fraga. Ele também estará (no grupo que formatará o programa). Irei contribuir. Outros também virão a seu tempo.

E do lado ético?

Felizmente, quem está com problema com Lava Jato não está sendo endeusado no PSDB, ao contrário do que acontece com o PT. Aécio Neves foi alijado da presidência, está cuidando da sua vida. As pessoas dizem que deviam ter expulsado. Eu até poderia ter gostado disso, mas temos que relativizar na política. O PSDB endereçou a questão muito melhor que o PT, que é nosso grande adversário. Alckmin não está só comprometido com a agenda econômica. Ele é um homem que não tem um tostão a mais do que quando entrou na política. E tem experiência administrativa exitosa.

O sr. citou o PT como grande adversário. Também será nesta eleição? Ou será Jair Bolsonaro?

Fico contente de finalmente termos uma direita assumida como adversária. O PSDB foi jogado na direita por oposição ao PT, mas sempre teve a questão social como ponto fundamental de sua atuação política e a ênfase na questão redistributiva. Nós fizemos reforma na educação com o Bolsa Escola, que é o embrião do Bolsa Família. Fizemos o Plano Real, que beneficiou fundamentalmente a classe assalariada.

Na pauta econômica, há aproximação com o projeto de direita?

É muito difícil saber por que o Bolsonaro aparece como uma espécie de Trump. Não se sabe no que acredita, o que fará em relação ao que está dizendo. O passado dele o condena. Foi o maior adversário do plano Real. Quando eu estava no governo, toda vez que íamos no mesmo voo para Brasília, ele vinha na fila me xingando e dizia que ia matar o Fernando Henrique. Essa é a figura verdadeira do Bolsonaro, que agora ganhou certo prestígio pela questão premente da segurança. Ele é um homem de uma agenda só. Paulo Guedes é uma diversão lateral, com quem ele tenta abanar as elites.

O sr. vê mais espaço para se falar em reformas na eleição?

Depende de como se coloca a questão: precisamos de um Estado que sirva ao público e temos de dar exemplos concretos. A política social brasileira é baseada em três princípios constitucionais: universalidade, integralidade e gratuidade. Isso é a seguridade social brasileira. De fato, o que aconteceu com a aplicação desses princípios constitucionais? Nós gastamos uma baba de dinheiro no que chamamos de gasto social e ele vai todo para a classe média ou para a classe mais rica. O SUS tem de ser reservado para os mais pobres. Na educação, a ênfase tem de ser na educação básica.

O que fazer para aumentar o debate em torno da Previdência?

A questão da equidade é eleitoralmente mais fácil de ser absorvida pelos parlamentares. Se não reformarmos a Previdência, a geração futura não terá dinheiro para se aposentar, a não ser que aumentemos a alíquota de uma maneira extraordinária. A mensagem política tem de ser essa: redirecionar os gastos para os que realmente necessitam.

 

BANCO DE TALENTOS

ÁREA DO ASSOCIADO

O Sinduscon/RN pensa como você, e por isso trabalha:

NOSSA MISSÃO

Representar e promover o desenvolvimento da construção civil do Rio Grande do Norte com sustentabilidade e responsabilidade sócio-ambiental

POLÍTICA DA QUALIDADE

O SINDUSCON/RN tem o compromisso com a satisfação do cliente - a comunidade da construção civil do Rio Grande do Norte - representada por seus associados - priorizando a transparência na sua relação com a sociedade, atendimento aos requisitos, a responsabilidade socioeconômica, a preservação do meio ambiente e a melhoria contínua.

CONTATO

55 84 3206 5362

contato@sindusconrn.com.br

SOCIAL

LOCALIZAÇÃO

Rua Raimundo Chaves, 2182 - Sala 101 Empresarial Candelária - Candelária - Natal/RN

SINDUSCON/RN (C) 2012 - TODOS OS DIREITOS RESERVADOS