Quinta-feira

TRIBUNA DO NORTE

Codern quer licitar obras em ampliação do Porto de Natal até maio

A Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern) pretende ampliar os pátios de carga do Porto de Natal até agosto deste ano. O local da construção é a antiga área da comunidade do Maruim, no bairro das Rocas. A primeira fase, para delimitar a área das obras, será licitada até o fim deste mês, de acordo com o diretor-presidente do órgão, Emerson Fernandes. O objetivo é que o novo pátio esteja pronto no mês em que as exportações de frutas tropicais, principal movimentação comercial, crescem no Estado. A obra terá custo total de R$ 2,5 milhões.

A ampliação do pátio é um antigo plano da companhia para aumentar a capacidade de exportação do Porto de Natal. Pensada desde a década de 80, a obra se tornou mais palpável com a desocupação da comunidade do Maruim em 2016, quando a maioria das famílias que residiam no local foram para um residencial no bairro das Rocas. A área do local é de 15 mil metros quadrados e 7,5 mil metros quadrados estão sob responsabilidade da Codern. O restante está com a Prefeitura do Natal, que tem um projeto de reurbanização.

Depois de dois anos de estudos, a licitação para delimitar o espaço da Codern com a construção de um muro está previsto para ser lançado no fim deste mês. Logo depois, as obras para instalação do pavimento e da iluminação do pátio serão lançadas. “Primeiro, queremos delimitar a área em que vamos ficar. Logo em seguida, tem a licitação para o pavimento e iluminação, provavelmente em maio. A ideia é que fique pronto até agosto, quando as exportações aumentam, para a gente ter capacidade de atender mais cargas”, declarou Emerson Fernandes, diretor da Codern.

A terceira licitação não faz parte da ampliação do Porto em si, mas é uma contrapartida da Codern à Prefeitura do Natal pela cessão do terreno. Trata-se da construção de uma nova sede para a Colônia de Pescadores e de uma Capela que, atualmente, ficam na área do antigo Maruim. O local escolhido para os imóveis, segundo Emerson Fernandes, fica próximo ao Mercado da Pesca, nas Rocas. “É uma área que já é da Codern e, isso, facilita as obras. A ideia é que seja construída em paralelo à ampliação do pátio, para não deixar os pescadores desamparados”, contou diretor. “A ideia é que a licitação saia assim que a primeira, do muro, sair”.

A ampliação da área de cargas no terreno do antigo Maruim faz parte de um plano maior do Porto de Natal para aumentar as exportações. No ano passado, 805 mil toneladas de frutas tropicais passaram pelo Porto, tornando-o o maior do ramo no nordeste. Somente outros dois (Porto de Pecém, no Ceará; e Salvador, na Bahia)  exportam o produto. “Queremos aumentar esse número para 900 mil toneladas, e para isso precisamos de mais espaço para cargas e manobra de cargas”.

Prédio da Colônia de Pescadores será derrubado. Nova sede será erguida em área próxima ao Mercado     

Os R$ 2,5 milhões para as obras já estão em mãos da Codern. Eles foram repassados pelo Governo Federal para a ampliação geral do Porto de Natal, que, além dos pátios do Maruim, conta com expansão do cais. Entretanto, o valor enviado é insuficiente para a obra completa. “O que nós temos dá para a obra do Maruim, mas não dá para o restante. No entanto, é um avanço que nós conseguimos fazer”, concluiu o diretor da Codern.

Números

R$ 2,5 milhões é o valor total da obra de ampliação do pátio de cargas do Porto de Natal, incluindo a construção da Colônia de Pescadores das Rocas;

7,5 mil m² é a área de construção do pátio de cargas.

 

Renováveis: estado não tem projetos arrematados

O leilão de energia nova A-4 realizado na manhã desta quarta-feira, 4, pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e que resultou na contratação de 39 novos empreendimentos de geração, com potência de 1.024 MW e um deságio médio de 59,07%, foi considerado um sucesso pelas autoridades governamentais. O certame, porém, não garantiu novos projetos para o Rio Grande do Norte.

Mesmo sem novos projetos garantidos, RN segue na dianteira na geração de energia eólica no País     

 “Estamos satisfeitos com o resultado", disse o diretor da agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Tiago de Barros Correia, durante coletiva de imprensa para comentar os resultados do certame, destacando o fato de que foi possível fechar a contratação de toda a demanda indicada pelas distribuidoras com um “desconto expressivo". A declaração foi ratificada pelo secretário Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, Eduardo Azevedo.

Eles salientaram que os preços acertados - da ordem de R$ 67,6/MWh na média para projetos de energia eólica e de R$ 118,07/MWh para energia solar, com deságio de 73,5% e 62%, respectivamente - também são competitivos e expressivos no mercado internacional, considerando valores da ordem de US$ 20/MWh a US$ 35/MWh.

Os executivos minimizaram um potencial impacto do cenário político tenso no certame, lembrando que o processo preparatório dos empreendedores para o leilão inicia-se com cinco a seis meses de antecedência, a partir de quando também são feitas as contas projetando os lances possíveis, enquanto a energia comercializada deve ser entregue daqui a quatro anos. Portanto, o cenário precisa considerar mudanças de governo e no cenário macroeconômico.

Ainda assim, para ele, a realização bem sucedida do leilão, no dia em que todos os olhos estavam voltados para uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) envolvendo a possível prisão do ex-presidente Lula, mostrava “uma resiliência grande do setor elétrico". “O setor aprendeu a confiar em instituições perenes", disse, citando as entidades ligadas ao Ministério de Minas e Energia, incluindo a própria Aneel, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a CCEE, interfaces relacionadas à realização do leilão e posterior acompanhamento dos projetos.

Embora tenha salientado a redução dos preços observada no leilão, Correia disse não acreditar que os valores de energia eólica verificados possam ser considerados um novo valor médio para a fonte. Isso porque foram contratados 4 projetos de um mesmo proprietário.

 

VALOR ECONÔMICO

 

Contando os dias até o fim do ano

O Brasil já está em pleno jogo eleitoral. A comemoração do governo, na terça-feira passada, pela derrota do presidente Michel Temer, que viu derrubados os vetos que fez ao Refis das dívidas tributárias das micro e pequenas empresas e ao Refis das dívidas previdenciárias dos produtores rurais, é a melhor expressão do momento que vivemos. A partir de agora, como lembrou uma autoridade com larga experiência na administração pública, os ministros que permaneceram no governo e aqueles que entraram para substituir os que concorrerão a cargo eletivo ficarão contando os dias até o fim do ano, pois não há muito o que fazer.

Na área econômica, resta apenas um projeto de lei de grande relevância para ser apreciado pelos deputados e senadores. É aquele que permite a privatização da Eletrobras, com o qual o governo espera arrecadar R$ 12,2 bilhões e está incluído na previsão oficial de receita deste ano. As informações disponíveis, no entanto, indicam que o projeto não será apreciado neste ano, ou, pelo menos, não antes das eleições. Dependendo de quem for eleito, o projeto poderá voltar à pauta e ser votado.

Resta à nova equipe econômica encaminhar o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que terá que definir a maneira como será cumprida a chamada "regra de ouro" em 2019. A Constituição determina que o governo só pode aumentar o endividamento para pagar despesa de capital, ou seja, não pode fazer dívida para pagar despesas com pessoal, com a educação, saúde, custeio da máquina, etc. Esse mecanismo foi chamado de "regra de ouro".

Como o governo federal vem registrando déficits primários elevados desde 2014, a regra de ouro só está sendo cumprida com ajuda de arranjos contábeis, como o uso dos pagamentos antecipados pelo BNDES dos empréstimos feitos no passado recente pelo Tesouro. A solução que está sendo estudada pela área econômica para cumprir a regra de ouro em 2019 é a grande surpresa que ainda irá ocorrer antes das eleições.

É possível também que o presidente Michel Temer tenha que editar medida provisória para desvincular recursos depositados na conta única do Tesouro. Esta é uma das formas encontradas pelos técnicos da área econômica para cumprir a regra de ouro neste ano. Temer deve também acabar com o Fundo Soberano do Brasil, permitir o cancelamento mais expressivo de restos a pagar e o repasse para o Tesouro das disponibilidades do extinto Fundo Nacional de Desenvolvimento (FND).

O governo não tem muito o que lamentar nas recentes derrotas registradas no Legislativo e no Judiciário. O Supremo Tribunal Federal (STF) não julgou a tempo a ação direta de inconstitucionalidade (ADI) contra a medida provisória 805, que adiou o reajuste salarial dos servidores do Executivo e elevou para 14% a alíquota previdenciária dos funcionários que ganham acima do teto do INSS. A MP perderá validade no próximo dia oito. O prejuízo com a não aprovação da MP 805 já tinha sido incorporado à programação orçamentária e financeira do governo, no início de fevereiro, por causa da liminar concedida pelo ministro Ricardo Lewandowski à ADI.

Por isso, o governo deixou de considerar, em suas contas, a receita de R$ 2,2 bilhões que seria obtida com a elevação da alíquota previdenciária e a redução de R$ 4,4 bilhões nos gastos com o adiamento do reajuste. A mesma coisa aconteceu com a medida provisória 806, que mudou a tributação do imposto de renda nas aplicações em fundos de investimento. A receita prevista com essa MP era de R$ 6 bilhões. Mas como ela não foi aprovada antes do fim do ano passado, as mudanças no IR não teriam validade neste ano. Mesmo que ela fosse aprovada pelo Congresso neste ano as novas regras só seriam válidas em 2019.

No início de fevereiro, a receita foi excluída da previsão oficial. O fato que precisa ser considerado é que, nos primeiros dois meses deste ano, a receita do governo federal foi R$ 15,7 bilhões maior do que estava previsto na primeira programação orçamentária e financeira (decreto 9.276), mesmos com as frustrações. A programação previa uma receita total de R$ 246,7 bilhões no primeiro bimestre deste ano e a arrecadação efetiva foi de R$ 262,4 bilhões, de acordo com os dados do Tesouro.

A receita acima do previsto permitiu ao governo incorporar em suas contas, com sobras, a frustração pela não aprovação do projeto de lei que reonerava a folha de pagamentos de empresas de 25 setores da economia. Isso foi feito em março, quando a área econômica reduziu a sua previsão para a receita previdenciária neste ano em R$ 7,5 bilhões. Ao mesmo tempo, elevou em R$ 2,1 bilhões a previsão para a arrecadação da Cofins. Se houve uma receita adicional de R$ 15,7 bilhões no primeiro bimestre, em relação ao que estava inicialmente projetado, a questão agora é saber como vai ser a arrecadação até o fim deste ano.

Na semana passada, o governo já obteve um ganho adicional expressivo com o leilão da 15ª rodada de concessão de petróleo. Ele tinha previsto uma receita de apenas R$ 3,595 bilhões com a 15ª rodada e com a 4ª rodada de partilha de produção do pré- sal, que será realizada em junho. Somente com a 15ª rodada, a receita obtida foi de R$ 8 bilhões, mesmo sem leiloar os dois blocos mais promissores, que foram retirados do leilão por exigência do Tribunal de Contas da União (TCU).

Agora, o diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Décio Oddone, já fala em arrecadar R$ 11 bilhões com a 15ª e 4ª rodadas. Ontem, a ANP informou que vai propor ao Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) que, além das áreas excluídas da 15ª rodada de licitações e da área de Saturno, que estava prevista para 4ª rodada de partilha, as áreas de Tartaruga Verde e de Pau Brasil também sejam incluídas na 5ª rodada de partilha da produção, que será realizada ainda neste ano.

O governo poderá realizar ainda o leilão dos blocos da área da cessão onerosa da Petrobras. Todas essas receitas adicionais com o petróleo serão mais do que suficientes para compensar a perda de receita com a não aprovação do projeto de lei de privatização da Eletrobras. A receita com o petróleo vai, mais uma vez, salvar as contas da União.

 

'BC autônomo fortalece mercado de títulos'

A independência formal do Banco Central é um dos pré-requisitos para desenvolver um mercado privado de títulos de longo prazo no Brasil para financiar empresas, afirma Andreas Dombret, diretor para supervisão bancária do Bundesbank, o banco central alemão. "Sem um banco central independente e crível, é altamente improvável uma moeda estável. Sem uma moeda estável, é muito mais difícil chegar a um próspero mercado doméstico de títulos privados", disse Dombret em entrevista por e-mail.

O executivo participa hoje de um seminário sobre regulação financeira na Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro. A visão brasileira será representada pelo diretor de regulação do Banco Central, Otávio Damaso. Dombret, uma das vozes mais influentes nas discussões internacionais sobre regulação financeira, deu uma palestra recentemente na África do Sul sobre a experiência alemã no desenvolvimento do seu mercado de títulos privados, algo que a equipe econômica do governo Michel Temer ambiciona depois de reduzir o tamanho do BNDES.

Para Dombret, o exemplo alemão mostra que não há incompatibilidade entre bancos de desenvolvimento e um mercado de títulos privados, desde que o papel dos primeiros esteja bem delimitado em leis e normas. "Os bancos de desenvolvimento aumentaram seus negócios na Alemanha e Europa", afirma.

O xerife da supervisão alemã diz que leva a sério os riscos de retrocesso na implantação de Basileia 3, depois que foram eleitos governos nacionalistas na Europa e nos Estados Unidos, mas pondera que está "otimista" para uma implementação abrangente. Dombret considera que a correção dos preços de ações no começo do ano foi "bem-vinda", porque os investidores estão precificando os riscos "dos dois lados" na normalização monetária nos países desenvolvidos. Ele também diz achar que "não é realista" esperar que os bancos centrais passem a emitir criptomoedas em um horizonte próximo.

A seguir, os principais trechos da entrevista.

Valor: O sr. deu recentemente uma palestra sobre como criar um mercado doméstico de títulos privados. O que o Brasil poderia fazer?

Andreas Dombret: Falei sobre as dificuldades e desafios em desenvolver esse mercado na Alemanha do pós-Guerra. É difícil dar uma receita única, os países têm circunstâncias únicas que exigem estratégias adequadas. Ainda assim, na minha visão, o exemplo da Alemanha nos ensina que os bancos centrais podem desempenhar um papel importante, porque podem atuar como facilitadores, por exemplo atuando na administração do mercado.

Valor: Por que um banco central independente seria uma condição para desenvolver esse mercado?

Dombret: Colocando de forma simples: sem um banco central independente e crível, é altamente improvável uma moeda estável. E, sem uma moeda estável, é muito mais difícil chegar a um próspero mercado doméstico de títulos privados. Se a política monetária puder se comprometer com a estabilidade monetária, vai ancorar as expectativas de inflação e criar confiança entre os investidores, que vão desta forma querer investir nos mercados financeiros locais.

Valor: Seria uma boa ideia ter um BC com dois objetivos, inflação e pleno emprego?

Dombret: Há pontos a favor e contra tanto em mandatos duais quanto mandato único. Argumentaria que, quando decidir sobre esse tema, o Brasil terá de levar em consideração a sua situação econômica específica. O sistema do euro, por exemplo, é o banco central de uma união monetária de países que mantiveram a responsabilidade nacional sobre política econômica e fiscal. Certamente se beneficiou por ter um mandato prioritário. Facilitou o processo de tomada de decisões e tornou mais fácil comunicar a política monetária ao público. Sem dúvidas, ajudou a ancorar as expectativas de inflação na zona do euro, o que é uma precondição para uma política monetária bem-sucedida.

Valor: A Alemanha tem bancos de desenvolvimento fortes. Como o Brasil pode garantir que os nossos não ocupem o espaço e dificultem o desenvolvimento do mercado privado, no chamado "crowd out"?

Dombret: É difícil comparar as situações da Alemanha e do Brasil, pois isso exigiria uma análise muito detalhada. O que posso afirmar é que os bancos de desenvolvimento aumentaram seus negócios na Alemanha e Europa. Na Alemanha, as tarefas dos bancos de desenvolvimento são estabelecidas nas leis federais ou estaduais, na regulação ou em outros normativos. Eles estabelecem um perímetro rigoroso para as atividades de fomento dos bancos. Os bancos de desenvolvimento conduzem a maior parte dos seus empréstimos por meio ou em cooperação com bancos comerciais, operando de forma não competitiva e não discriminatória. Finalmente, comparado com outros instrumentos, como títulos, os empréstimos bancários tradicionalmente desempenham um papel muito maior em financiamentos para pequenos e médios negócios na Alemanha. Todos esses pontos mantêm sob controle as chances de "crowd out".

Valor: O acordo de Basileia 3 está em risco, com a eleição de governos mais nacionalistas que pregam menos regulação?

Dombret: Essa é, certamente, uma ameaça que levo a sério. Porém, mesmo à luz de algumas tendências nacionalistas, definir um padrão mínimo global é um êxito importante. Contribui para estabilizar o sistema financeiro global. Muitos governos, com destaque para França e Alemanha, estão buscando uma agenda construtiva no que toca a cooperação europeia e global. Então estou otimista que uma implementação disseminada vá acontecer. O que é importante é que os países não selecionem os elementos que melhor se adequem a eles. Todos os princípios devem ser totalmente implementados para regular os bancos com atividades internacionais. As exceções para as regras seriam para bancos menores e regionais, com modelos de negócio de menor risco. As regras de Basileia 3 não são, necessariamente, feitas para essas instituições menores. Para elas, seria sensato regulações menos onerosas.

Valor: Os mercados acionários tiveram uma forte correção no começo do ano. Qual é o risco para a estabilidade financeira?

Dombret: A volatilidade no mercado acionário aumentou principalmente porque investidores ajustaram as suas expectativas sobre as perspectivas para a inflação nos Estados Unidos e, consequentemente, para a trajetória de normalização da política monetária. Levando em conta esse pano de fundo, é bem-vindo que os investidores estejam, mais uma vez, precificando os riscos dos dois lados, em vez de se apoiar em um esperado anteparo dos bancos centrais. Devem provavelmente ser esperados alguns episódios adicionais de volatilidade ao longo dos próximos meses, mas eles não devem ser necessariamente vistos como causa de preocupação. Ao mesmo tempo, a reação dos mercados deve servir como um lembrete tempestivo dos perigos associados com a normalização do grau de acomodação monetária num estágio tão avançado de tempo.

Valor: Há uma bolha no mercado de títulos públicos, depois de juros tão baixos por tanto tempo? Estamos preparados?

Dombret: As taxas de retorno dos títulos estão um tanto baixas. Fundamentos explicam apenas parte dessa situação. A inflação tem sido persistentemente tênue nos últimos anos, e há muitos fatores estruturais em jogo, como mudanças na demografia. A política monetária acomodatícia explica outra parte. Espero que a normalização de política monetária prossiga gradualmente, ao lado da recuperação na inflação e de outros fatores. Ausentes choques não antecipados, participantes de mercado prudentes devem ser capazes de se ajustar apropriadamente ao novo ambiente.

Valor: A volatilidade no mercado em fevereiro foi amplificada pelos "exchange traded products" (ETPs). Deveríamos nos preocupar mais com o uso especulativos desses derivativos tão complexos?

Dombret: É um tanto complexa a forma como certas estratégias de investimento interagem com outros segmentos de mercado. Há uma falta de transparência única na natureza dessas estratégias e sobre os volumes envolvidos. Considero, dessa forma, difícil formar hipóteses sobres os riscos potenciais. É uma área em que certamente mais trabalho precisa ser feito.

Valor: Bancos e reguladores devem se preocupar com o Brexit (saída do Reino Unido da UE)?

Dombret: O quanto o Brexit representa riscos para o setor bancário depende de como os bancos - e outras empresas - reagem às incertezas sobre as futuras relações entre o Reino Unido e a União Europeia. Eles podem esperar pelo melhor ou aceitar que a incerteza vai persistir por algum tempo - e se preparar completamente para as consequências de todos os resultados, em particular para os piores. Devem considerar um cenário em que nenhum acordo amplo é alcançado para os serviços financeiros entre o Reino Unido e a Europa, e descobrir o que isso significa para a estrutura da empresa, paras as licenças que ela precise, os contratos em vigor e daí por diante. Se os bancos e outras empresas levarem isso com seriedade, os riscos do Brexit são administráveis. Meu lema: espere pelo melhor, prepare-se para o pior.

Valor: Como os supervisores devem reagir às criptomoedas?

Drombret: Por ora, os riscos para o sistema financeiro permanecem limitados. Primeiro e acima de tudo, os supervisores do sistema financeiro devem se assegurar de que as entidades que eles supervisionam lidam com prudência com os riscos. Na Alemanha, estão em vigor marcos jurídicos certos para que a supervisão funcione direito. No que diz respeito à proteção do consumidor, os "cripto-tokens" certamente seguem como um tema quente, já que são altamente voláteis e expõem os investidores ao risco de perda total. Apenas os investidores que podem assumir essas perdas devem fazer investimentos especulativos como esse.

Valor: Os bancos centrais devem emitir moeda digital?

Dombret: Para muitas economias, em especial aquelas com sistemas de pagamentos desenvolvidos, que funcionam bem, pode-se debater o propósito de uma moeda digital emitida por um banco central. Uma minoria dos bancos centrais vê a necessidade de substituir o dinheiro em espécie, de diminuir fortemente o seu uso, mas essa não é uma visão amplamente observada. Além disso, dar acesso ao público geral ao balanço do banco central, sob a forma de contas digitais, poderia levantar questões fundamentais sobre a natureza do sistema financeiro e sobre a economia em geral. Não acho que prover dinheiro digital do banco central para uma ampla gama de usuários é uma opção realista num horizonte visível, diante de tantas questões sem resposta, de consequências difíceis de avaliar para a política monetária e para a estrutura e estabilidade do sistema financeiro e de benefícios pouco claros.

Valor: Quais seriam as consequências de uma guerra comercial, mais próxima depois de o presidente Donald Trump sobretaxar o aço?

Dombret: Não é do interesse de ninguém a eclosão de uma guerra comercial, já que nesse tipo de conflito não há vencedores, apenas derrotados. Uma das críticas do governo dos Estados Unidos aparentemente refere-se ao nível das tarifas comerciais internacionais. Assumindo como verdadeira a palavra dos EUA, vamos sentar na mesa de negociação para trabalhar em uma vasta redução nas tarifas existentes. No entanto, isso não iria envolver apenas aquelas tarifas que estão incomodando o presidente Trump, mas também aquelas que estão altas nos EUA. A União Europeia e os Estados Unidos poderiam unir esforços para uma rodada na Organização Mundial do Comércio (OMC) para tratar desse tema.

 

Preocupação com o cenário político ganha força no mercado

O julgamento do habeas corpus do ex-presidente Lula pelo Supremo Tribunal Federal (STF) colocou o mercado em uma nova fase, em que a política entra de vez no centro das atenções dos investidores. A decisão da ministra Rosa Weber, negando o pedido da defesa de Lula na noite de ontem, deve gerar um alívio nos mercados no curto prazo - o voto dela era considerado decisivo para o rumo do julgamento. Mas a cautela deve permanecer. Sem o suporte do ambiente internacional, menos inclinado ao risco, o investidor passa a discutir agora como fica o xadrez eleitoral. E, para esse risco, o mercado ainda não se preparou.

O processo de julgamento de Lula, líder nas pesquisas eleitorais em qualquer cenário, foi o principal fator na cena política que vinha movimentando os investimentos desde o começo do ano. E o andamento de sua condenação nas duas primeiras instâncias contribuiu para o expressivo ganho da bolsa que se viu em janeiro. A leitura era que, sem o petista no páreo, cresciam as chances de um nome reformista ganhar a eleição, como prefere o mercado.

Nos últimos dias, com a proximidade do julgamento, o mercado reforçou a cautela, posicionando-se para o risco de concessão do habeas corpus, cenário que elevaria a chance de uma candidatura do petista - ainda que ele esteja sujeito à Lei da Ficha Limpa, por ter sido condenado pela Justiça. Desde meados de março, o dólar subiu de R$ 3,25 para os quase R$ 3,37 alcançados na máxima de ontem. Em 30 dias, a moeda avança 2,8%, o que deixa o real entre as divisas de pior desempenho no período. Ontem, ainda sem um desfecho no STF, o dólar terminou a sessão valendo R$ 3,34, alta de 0,07%. Já o Ibovespa caiu 0,31%, aos 84.360 pontos.

A ansiedade dos investidores foi tamanha que o ritmo de negócios caiu 15% no período da tarde: nas duas primeiras horas de pregão, o volume médio de negócios com Ibovespa foi de R$ 1,157 bilhão por hora, ante giro médio de R$ 984,1 milhão por hora no período da tarde. Parte do prêmio de risco acrescentado aos preços nos últimos dias deve ser devolvido nesta sessão.

Ontem mesmo, o iShares MSCI Brazil Capped Index, conhecido como EWZ - maior fundo de índice de ações brasileiras negociado no exterior -, reagiu em alta de 1,85% no "after market" dos Estados Unidos. No horário de negociação regular americano, o indicador fechou com leve queda de 0,05%. Já os contratos futuros de real negociados nos Estados Unidos apontavam alta de 0,9% no início da noite de ontem. Mas o que analistas veem neste momento é pouco espaço para otimismo.

O fluxo estrangeiro que sustentou o investidor neste começo de ano já diminuiu, em grande parte por causa da volta da volatilidade no mercado internacional. Até o dia 2 de abril, o saldo do capital externo da bolsa está positivo em R$ 171,3 milhões, depois de ter somado mais de R$ 5 bilhões até fevereiro. Para o cientista político Andrei Roman, diretor do Atlas Político, o mercado financeiro tem concentrado suas análises sobre o futuro de Lula, mas tem de certa forma ignorado os riscos que se colocam num cenário sem a participação do petista do pleito.

Hoje, diz Roman, o cenário mais provável é de um embate entre Jair Bolsonaro e Ciro Gomes num segundo turno, ambos candidatos com uma bandeira de política econômica ainda mais desalinhada à do mercado do que o próprio petista. "Parece impossível que Bolsonaro não vá para o segundo turno e, hoje, o mais provável é que seja Ciro a enfrentá- lo", afirma. "E são nomes ainda mais imprevisíveis do que Lula."

O estrategista de um banco estrangeiro acredita que, até aqui, o mercado mostrou um relativo sangue-frio diante do risco eleitoral. Mas, reforçado o cenário de que Lula não concorrerá, passará a reagir à ausência de um candidato forte de centro-direita. "O mercado opera uma coisa de cada vez e, até aqui, olhou para o Lula. Agora, deve começar a discutir a falta de uma alternativa clara", explica.

Paulo Celso Nepomuceno, da Coinvalores Corretora, não se pode desconsiderar o cenário de avanço de candidatos fora do eixo centro-direita - que não é o básico do mercado. "Existe um receio com a falta de vigor das candidaturas mais de centro", afirma. Já o analista político Ricardo Ribeiro, da MCM Consultores, vê chance de mudança na estratégia de campanha do Partido dos Trabalhadores (PT) e uma polarização do voto popular a partir da decisão do STF. "Com Lula preso, ele não conseguirá fazer campanha, dificultando o processo de transferência de votos para o candidato do PT", diz.

Para Marcos Mollica, sócio e gestor da Rosenberg Investimentos, o fluxo para mercados emergentes vem se reduzindo depois de uma força maior no começo do ano, com efeitos maiores para o Brasil, onde os preços "estavam mais esticados". Ele diz haver uma certa resiliência da bolsa em 84 mil pontos há um bom tempo. Mas, ainda que a tendência de longo prazo para seja positiva, com a cena política ainda turva, é difícil estimar até onde o Ibovespa poderia ir nos próximos meses. "Um Ibovespa perto dos 80 mil não é um absurdo no contexto atual, é mais condizente com o risco político", afirma. "Mas não mudaram os aspectos econômicos, de juro mais baixo e um crescimento da atividade, que dão força para o mercado."

Para Fábio Carvalho, chefe da área de equities da CM Capital Markets, é o cenário político que vai continuar pautando o movimento da bolsa - e garantindo uma dose de cautela. Segundo ele, economia e política ainda estão descoladas no Brasil, portanto ainda é arriscado falar de um Ibovespa acima de 90 mil pontos.

 

Spread vai cair, mas não se reduz taxa com 'canetada', afirma Lazari

As taxas de juros cobradas pelos bancos e, por consequência, os spreads (diferença entre a taxa de captação e os juros dos empréstimos) vão cair, mas a velocidade dessa redução não é a mesma da taxa básica de juros (Selic). A afirmação é do presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Junior. "Temos a convicção de que as taxas vão cair, mas não se reduz o juro ou o spread com canetada", disse ontem a jornalistas.

A redução dos spreads bancários não vem acompanhando a Selic, que atingiu as mínimas históricas, nem a queda da inadimplência. Em fevereiro, a taxa chegou a subir em relação ao mês anterior, de 32,9 para 34,1 pontos nas linhas de crédito a pessoas físicas com recursos livres. Lazari afirmou que todos os custos dos bancos estão embutidos nessa taxa, e não apenas a Selic e a inadimplência. Ele deu como exemplo as despesas com a rede de agências, incluindo a presença de vigilantes armados.

O presidente do Bradesco disse que os bancos estão adotando medidas de conscientização do uso do crédito. Entre elas está o anúncio das novas regras para o cheque especial, que deve ocorrer neste mês. Ele afirmou, porém, que é preciso evitar a "satanização" da linha. "Muitos clientes sabem usar o cheque especial com sabedoria", afirmou.

Lazari afirmou que a medida do Banco Central de limitar as taxas cobradas nas transações com cartão de débito é correta e deve beneficiar principalmente os pequenos comerciantes. Ele disse que o impacto para o Bradesco deve ser pequeno, porque as taxas do banco já são próximas do teto estabelecido pelo BC.

O Bradesco tem como objetivo registrar uma expansão no crédito perto do teto da projeção (guidance) dada pelo banco para este ano, que varia de 3% a 7%, segundo Lazari. Nas linhas para pessoas físicas, o banco pretende crescer em produtos como o crédito imobiliário, que trazem uma maior fidelização do cliente.

Em março, o Bradesco bateu um novo recorde nos empréstimos para a compra da casa própria, com o desembolso de R$ 1,1 bilhão, segundo Lazari. O presidente do Bradesco vê uma recuperação mais lenta nas linhas para pessoas jurídicas, cuja demanda ainda se concentra no crédito de curto prazo.

Mas ele se mostrou otimista para o desempenho dos empréstimos a empresas, entre outros fatores, pela redução da participação do BNDES. "Há quase R$ 200 bilhões que eram atendidos pelo BNDES que devem ser supridos por bancos privados." Os juros têm condições de se manter baixos por um longo período se as reformas avançarem, em particular a da Previdência, segundo Lazari. "Há uma clara indefinição em relação às eleições, mas estamos otimistas", disse.

Para ele, a agenda para o país de continuar o caminho atual é mais simples do que tentar mudar tudo. Em sua primeira apresentação em um evento do banco na condição de presidente, Lazari enfatizou o que deve ser um mantra de sua gestão: ganhos de escala. "Estamos focados em voltar a crescer, vender produtos e atrair clientes." Esse avanço deve acontecer tanto do processo de bancarização da população quanto do ganho de participação (market share). Mesmo em um cenário de juros baixos, o Bradesco tem condições de apresentar um retorno maior, segundo o executivo.

"Vamos disputar cliente a cliente", disse. Com a escolha do comando da seguradora e da área de gestão de recursos, as mudanças no primeiro escalão do banco estão completas, segundo Lazari. Ele disse que não há previsão de indicação de um substituto para a vaga de Domingos Abreu no conselho de administração do banco. Réu na Operação Zelotes, que investiga a suspeita de compra de sentenças no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), ele renunciou ao cargo na semana passada, antes de assumir a posição.

 

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