Segunda-feira

VALOR ECONOMICO

Selic poderia voltar a dois dígitos com 'choque eleitoral'

O cenário de juros baixos no país pode se tornar insustentável caso um candidato pouco comprometido com reformas fiscais seja eleito. A reversão das perspectivas para os ajustes econômicos traria tamanho impacto nos mercados financeiros, principalmente no câmbio, que a Selic voltaria aos dois dígitos já no começo do ano que vem. Essa é a conclusão de um estudo da MCM Consultores Associados.

Conforme esse cenário "pessimista", a taxa básica teria de ser elevada para 10% no primeiro trimestre de 2019, permanecendo por algum tempo nesse nível. Isso representaria um aumento de 3,75 pontos percentuais ante a mínima histórica de 6,25% ao ano, que se espera para a Selic neste ciclo de cortes. Vale destacar que esse cenário alternativo coloca a Selic num nível bem mais elevado que o apontado pelo mercado.

Os juros futuros projetam taxa básica próxima de 7,22% em abril do ano que vem e de 9,17% no encerramento de 2019. As apostas também têm sido afetadas pelas incertezas políticas. Para o curto prazo, a chance de corte da Selic em maio, do nível atual de 6,50% para 6,25%, está em 63%, após tocar 85% há duas semanas.

O principal catalisador de uma piora seria uma disparada do dólar, que teria efeitos inflacionários no país. O dólar sairia de R$ 3,50 em setembro de 2018 para até R$ 4,40 em junho de 2019, diz o estudo. Sem a reação da autoridade monetária, a inflação projetada terminaria o ano que vem em 6,4%, bem distante do centro da meta para o ano que vem, de 4,25%.

Logo, o Banco Central seria forçado a agir para controlar os preços e reduzir as expectativas de inflação. Sob uma atuação mais firme do BC, a inflação voltaria para 4% no fim de 2020, atingido o alvo do ano. A deterioração da economia poderia fazer o novo governo aprovar algumas reformas. "Sem isso, o descontrole fiscal fará a política monetária perder eficácia, gerando impactos profundamente negativos sobre a formação das expectativas de inflação", afirma a MCM Consultores.

O quadro eleitoral ainda é rodeado de incertezas mesmo com o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva cada vez mais distante da disputa. O petista é considerado um dos principais riscos à continuidade das políticas econômicas atuais. Por outro lado, os candidatos reformistas, mais "amigáveis" na avaliação do mercado, ainda patinam nas pesquisas de intenção de voto. E a indefinição tende a gerar instabilidade no câmbio, já que a possibilidade de vitória de um candidato com visão econômica fora do tradicional não pode ser desprezada.

"O cenário político continua caótico", na avaliação do Commerzbank. Com a saída de Lula, que liderava as pesquisas, a eleição está mais aberta do que nunca. E o segundo colocado na intenção de votos, segundo as pesquisas, Jair Bolsonaro, "não seria realmente uma alternativa do ponto de vista do mercado financeiro", acrescenta. Com a aproximação das eleições, a volatilidade no câmbio deverá aumentar.

O Commerzbank projeta que o dólar chegará em R$ 3,50 antes das eleições. Ainda assim, o mercado põe suas fichas na vitória de um candidato favorável a reformas na eleição presidencial deste ano. Não se descarta, contudo, a chegada de um "quase reformista". Esses candidatos são aqueles que defendem as reformas, mas levantam dúvidas sobre seu comprometimento ou capacidade de tocar essas pautas no Congresso.

Para a consultoria Eurasia, esse é o caso do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, que já se filou ao PSB. Se confirmada a sua entrada na corrida eleitoral nesta semana, cresce a chance de um candidato "quase reformista" ganhar. A chance atualmente é de 40%, pelos cálculos da consultoria.

 

FOLHA DE SÃO PAULO

Agência reduz juros em linhas de crédito para empresas

A Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) vai reduzir as taxas de juros de seus empréstimos em cinco linhas de crédito.

O movimento ocorre após dois anos seguidos de queda no volume de empréstimos concedidos a empresas.

A agência, ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, é responsável por apoiar projetos que gerem inovação.

Em 2017, a Finep fechou contratos de empréstimos com valor total de R$ 1,3 bilhão. É o equivalente a apenas 15% dos R$ 8,6 bilhões concedidos em 2014.

As linhas da agência dedicadas aos projetos de tecnologias estratégicas para o país e de inovação pioneira, com maior grau de inovação, terão redução de 0,5 ponto percentual e 1 ponto percentual, respectivamente.

A primeira passa de TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo, atualmente em 6,75% ao ano) para TJLP menos 0,5%.

Já a inovação pioneira vai de TJLP mais 1,5% para TJLP mais 0,5%.

Além da redução, os empréstimos podem ter suas taxas diminuídas em até dois pontos percentuais adicionais, caso as empresas façam seus projetos com universidades ou centros de pesquisa ou tenham alguma garantia financeira para oferecer (fiança bancária, seguro garantia ou penhor de aplicações).

Também houve cortes em linhas dedicadas a diferenciação de produtos; redução de custos e difusão tecnológica.

COMPETITIVIDADE

Marcos Cintra, presidente da agência, atribui a forte queda nos financiamentos da Finep nos últimos anos à crise econômica, que reduziu a confiança dos empresários e o interesse deles por crédito.

Além disso, as seguidas reduções na taxa básica de juros promovidas pelo Banco Central vinham diminuindo a competitividade da Finep em relação a outras instituições financeiras, diz.

Isso ocorre porque a queda na Selic, que foi de 14,25% ao ano em outubro de 2016 para os atuais 6,5%, não ocorreu em patamar semelhante na TJLP (taxa de referência para os empréstimos da Finep), o que aproximou os percentuais cobrados pela agência dos oferecidos pelo mercado, explica Cintra.

Em outubro de 2016, a TJLP era de  7,5% ao ano.

Cintra espera que a Finep conceda R$ 3,5 bilhões em crédito neste ano. A melhora viria tanto como resultado das taxas mais atrativas como também da recuperação econômica.

 

Desafio da nova equipe é cortar gastos

Com o governo sem força para dar continuidade à agenda de ajuste fiscal no Congresso, a equipe econômica que assume esta semana terá o desafio de fechar os cofres do Tesouro. Uma medida que deve ser especialmente sentida em ano eleitoral e diante da pretensão do presidente Michel Temer de se reeleger. A tarefa deve resultar em um embate maior entre as alas econômica e política do governo.

Os dois lados já incorporam vitórias e derrotas. O staff econômico perdeu um dos coordenadores do processo de privatização da Eletrobrás, o secretário executivo do Ministério das Minas e Energia, Paulo Pedrosa, preterido para a titularidade da pasta. A ala política tentou, sem sucesso, barrar a escolha de Eduardo Guardia para substituir Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda.

De perfil técnico e discreto, Guardia é conhecido por ser duro nas negociações com o Congresso e por ter batido de frente com os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral). Mas agora foi aconselhado a adotar um tom mais conciliador se não quiser virar alvo de fritura já na largada de sua gestão.

Apelidado de “Sr. Não”, terá de passar a dizer ao menos “talvez” para as demandas do Congresso, segundo fontes da área econômica. O líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), lembrou que não há “imposição” e que Guardia precisará ter sensibilidade e compreensão para negociar.

Apesar de ser a indicação de Meirelles, Guardia não era consenso no meio político. Mesmo após sua confirmação no comando da Fazenda, o clima é de insegurança em relação ao compromisso do governo com a atual política econômica. Caso haja sinal de mudança nessa orientação, o mais provável é que haja um desmonte de toda a equipe. O sentimento é de derrota diante das fissuras deixadas pelas recentes mudanças.

A reforma ministerial provocou mais baixas do que o previsto no roteiro inicial. Com a escalação de Dyogo Oliveira para a presidência do BNDES, o comando do Ministério do Planejamento também foi transferido para um técnico, Esteves Colnago, que recebeu apoio do líder do governo no Senado, Romero Jucá (MDB-RR).

Mas a maior ruptura deve ocorrer no Ministério de Minas e Energia, que pode ser assumido por Moreira Franco. Com o nome do emedebista liderando a disputa da cadeira, o secretário executivo da pasta, Paulo Pedrosa, entregou sua carta de demissão. Ainda há dúvidas sobre a permanência do presidente da Eletrobrás, Wilson Ferreira Jr. Os dois estavam à frente do processo de privatização da estatal e veem risco de o projeto de venda da companhia ser sabotado pelas lideranças do MDB no Norte, Nordeste e em Minas Gerais.

Reação. Com a possibilidade crescente de frustração na privatização da Eletrobrás e também a aprovação de medidas pelo Congresso que significaram renúncia de receitas, a área econômica já avisou que haverá reação. Qualquer perda de arrecadação obrigará a uma nova revisão do Orçamento deste ano e mais bloqueio de recursos.

Guardia e Colnago ainda terão de sair da retaguarda das negociações reservadas de gabinete para fechar a proposta de Orçamento para 2019 e resolver o impasse em torno do cumprimento da “regra de ouro”, que impede a emissão de dívida para o pagamento de despesas correntes. O rombo na regra para o ano que vem está próximo de R$ 200 bilhões.

A elaboração e negociação do Orçamento do ano que vem será o maior desafio dos dois técnicos porque o nível de despesas discricionárias, que o governo pode cortar, ficará em torno de R$ 100 bilhões, valor considerado baixo e que praticamente inviabiliza o funcionamento da máquina pública. Esse é o patamar que o governo vai poder gastar em custeio e investimento respeitando o teto de gastos.

O economista Gabriel Leal de Barros, diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado, diz que há risco real de o nível de compressão das despesas discricionárias dificultar o cumprimento do teto de gastos em 2019.

 

Mercado tem reagido de forma simplista com Lula, diz consultor de risco político

O mercado financeiro elegeu como preocupação número um a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e agora comemora.

Mas Lula fora da campanha eleitoral tende a favorecer uma união maior das forças de esquerda, o que fortaleceria um nome como o de Ciro Gomes (PDT) para o segundo turno e recolocaria em cena as incertezas em relação à aprovação de reformas, diz Christopher Garman, diretor-executivo para as Américas da consultoria americana de risco político Eurasia.

Garman vê certa complacência do mercado financeiro em dois cenários: tanto ao acreditar que Geraldo Alckmin (PSDB) pode aglutinar a direita e ganhar as eleições quanto ao avaliar que ter o economista Paulo Guedes ao lado de Jair Bolsonaro (PSL) garante o encaminhamento das reformas econômicas. Para ele, há dúvidas se o candidato do PSDB realmente vai para o segundo turno, mas as chances de Bolsonaro estar lá são imensas.

Folha - Qual será a reação do mercado com Lula virtualmente fora da campanha eleitoral à Presidência?

Christopher Garman - O mercado financeiro tem reagido de forma simplista com relação a Lula. A prisão poderia não mudar o cenário, com a esquerda permanecendo dividida, Jair Bolsonaro seguindo forte e Geraldo Alckmin com dificuldades de decolar, mas avançando. Mas acredito que esse não é o cenário mais provável. A condenação de Lula no TRF-4 [o tribunal de segunda instância] foi vista com bons olhos, assim como o julgamento do habeas corpus no STF [Supremo Tribunal Federal], porque o resultado seria Lula fora das eleições. Paradoxalmente, o mercado financeiro não está vendo que aumentou a possibilidade de votos mais unidos em torno da esquerda, o que favoreceria um segundo turno entre Bolsonaro e Ciro Gomes.

Com Lula fora da campanha, Ciro seria favorecido?

Sem Lula presente na campanha eleitoral, a potência do candidato do PT se reduz e aumenta a potência de crescimento do candidato Ciro Gomes. Na verdade, as chances de Ciro ir para o segundo turno aumentaram.

E quem iria com ele?

Há quem diga que Lula na prisão esvaziaria a candidatura de Bolsonaro. Eu discordo. A base de apoio de Bolsonaro é sólida. Mais do que um candidato que construiu sua candidatura com um discurso anti-PT, Bolsonaro é antiestablishment. Ele canaliza essa raiva contra a corrupção e toda essa desilusão com a política. Eu não vejo a candidatura dele minguando sem o Lula na campanha. Com todo esse desencanto, na verdade, ele deve sair fortalecido. Acho que ele tem mais chance de ir para o segundo turno.

O mercado continua apostando em um nome como o de Alckmin para tocar reformas?

Alckmin poderia ser um nome, ele tem muito tempo de TV. Mas, na margem, o potencial de Ciro sobe sem Lula na campanha. E tem ainda Joaquim Barbosa, que pode pescar em várias áreas: pode ser visto como um candidato anticorrupção. É um candidato negro e, por ter origem humilde, pode atrair um eleitorado mais à esquerda, pode atrair o Nordeste. Ele tem um tipo de perfil que coloca medo em várias candidaturas. Mas ainda não foi testado.

Ter um economista liberal como Paulo Guedes ao lado de Bolsonaro é suficiente para tranquilizar o mercado?

Com Paulo Guedes, por ora, a preocupação do mercado financeiro com Jair Bolsonaro se reduziu. A dúvida é quanto tempo essa parceria pode durar. Mas eu acho também que existe certa complacência do mercado acreditando que Alckmin pode ganhar ou que, com Paulo Guedes, as coisas se resolvem. Bolsonaro vai dar carta-branca a Paulo Guedes? E, se der, vai conseguir reunir uma base consistente no Congresso Nacional para aprovar as reformas necessárias? Na minha avaliação, são dois riscos importantes dessas eleições.

As incertezas vão aumentar daqui até as eleições?

A tensão social aumentou, com todo esse cenário da prisão do ex-presidente, da fala do general [o comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas] antes da julgamento do STF. Mas a instabilidade tende a passar. Os nervos estão à flor da pele, mas não estamos em um quadro de crise institucional, e acho que os investidores estrangeiros veem assim.

 

Temer solta freio dos gastos e joga peso do déficit para sucessor

Michel Temer soltou o freio dos gastos e das concessões financeiras para aliados.

No momento em que busca apoio político para tentar viabilizar um candidato que represente seu governo, o presidente tem atuado em várias frentes: fecha os olhos para medidas que elevam despesas, não avança no Congresso com projetos que melhorariam a arrecadação e ainda age pela retomada de empréstimos suspensos da Caixa, o que levará à ampliação de despesas de estados e municípios já endividados.

O governo também afrouxou a defesa de medidas do pacote de ajuste fiscal, o que já criou controvérsias com a equipe econômica.

Considerando o que vai sair a mais e o que não vai entrar no caixa público como um todo, as manobras envolvem mais de R$ 50 bilhões.

Pelo lado da União, haverá aumento de despesa da ordem de R$ 5,1 bilhões com o reajuste para servidores e de outros R$ 725 milhões em verbas a funcionários públicos que hoje fazem estourar o teto remuneratório. Temer tentava adiar o reajuste para janeiro de 2019 e impor o cumprimento do teto neste ano.

Pelo lado da receita, o pacote de ajuste fiscal, apresentado pela área econômica no fim de 2017, não saiu do papel.

O governo deixou expirar o prazo de validade da medida provisória que tributaria os fundos de investimentos individuais exclusivos, o que teria impacto positivo de R$ 6 bilhões na arrecadação de 2019.

Além disso, deixou em ponto morto a reoneração da folha de pagamento na Câmara. O projeto foi desidratado pelo relator Orlando Silva (PCdoB-SP), e a economia prevista de R$ 8,9 bilhões já sofreu corte de pelo menos 30% só com o atraso no cronograma.

A resistência do funcionalismo público também sepultou o reajuste da contribuição previdenciária de 11% para 14%, além da reestruturação das carreiras que previa um salário inicial menor para servidores federais do Executivo, de R$ 5.000 (leia ao lado).

Numa outra frente, Temer tenta preservar influência sobre bancos públicos. Intercedeu na AGU (Advocacia-Geral da União) por solução jurídica para a retomada de mais de mil operações suspensas. Os empréstimos seriam garantidos com recursos dos fundos de participação de estados (FPE) e de municípios (FPM), abastecidos com dinheiro da arrecadação.

As medidas foram alvo de questionamentos do Ministério Público no TCU (Tribunal de Contas da União) e expuseram uma disputa interna entre a secretária do Tesouro, Ana Paula Vescovi, que comanda o conselho da Caixa, e o então presidente do banco, Gilberto Occhi, que é do PP, partido da base de Temer.

A manobra garantiria a liberação de R$ 20 bilhões em empréstimos reivindicados por governadores e prefeitos.

DESAVENÇAS

Houve também flexibilizações na negociação de dívidas, que ajudariam a melhorar a receita. Pressões políticas fizeram o governo aumentar benefícios a contribuintes pelo Refis e Funrural, programas que preveem o refinanciamento de dívidas tributárias e o parcelamento de pendências com a Previdência de ruralistas, respectivamente.

Nas discussões internas, o secretário da Receita, Jorge Rachid, manifestou contrariedade com a perda de arrecadação no Congresso na última semana. Em acordo com os congressistas, Temer acertou a derrubada do veto ao Refis das micro e pequenas empresas e a parte do Funrural.

No segundo caso, parlamentares ampliaram a perda de receitas para R$ 10 bilhões somente neste ano.

No caso do Refis das micro e pequenas, a previsão é de perdas de R$ 7,5 bilhões a partir de 2019.

Programas de parcelamento de dívidas tributárias foram lançados por Temer no ano passado e ajudam no cumprimento das metas de 2018.

Para 2019, porém, a situação é mais apertada. Pessoas envolvidas na elaboração do Orçamento dizem que, no ritmo de perdas de receitas, ficará difícil baixar a previsão de déficit de R$ 139 bilhões.

 

Taxa de juros nesse nível trará mudança radical no sistema financeiro, diz Ilan

Em visita aos Estados Unidos, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, defendeu os avanços da economia brasileira, dizendo que se a Selic (taxa básica de juros), que frisou estar agora no menor patamar da história, for mantida nesse nível haverá uma mudança radical no sistema financeiro.

“O Brasil nunca conviveu com essas taxas baixas”, disse em Boston, em um encontro organizado por alunos de Harvard e MIT.

“É o insumo principal à queda das taxas bancárias. Mas isso depende das reformas e dos ajustes", afirmou.

Ele falava, no caso, sobre a votação da reforma da Previdência e outras medidas fiscais que precisam ser implementadas para manter a taxa básica de juros, hoje em 6,5% ao ano, nesse patamar.

Goldfajn também comentou a ideia de regular a inflação usando a taxa de câmbio defendida por Ciro Gomes, pré-candidato ao Planalto pelo PDT, dizendo que essa é uma estratégia equivocada.

Esclarecendo que ele não fazia uma avaliação da proposta de um candidato específico, o presidente do Banco Central disse que “é importante que a taxa de câmbio não seja usada para controlar a inflação porque já tentamos isso e não deu certo”.

“Se a gente não puder repetir os mesmos erros, já é um avanço. Não vamos congelar preços para ter que soltar”, disse Goldfajn.

“A gente congelou preços da Petrobras, deu tudo errado. Tivemos a crise cambial porque o câmbio é mais rígido. Proponha erros novos e não os antigos.”

O presidente do Banco Central comentou ainda a votação do cadastro positivo no Congresso na semana que vem, defendendo a medida e dizendo que espera “não haver surpresas” na aprovação.

 

 ‘A agenda liberal está sendo usada de forma oportunista’

Ex-presidente do Banco Central e um dos formuladores do Plano Real, Gustavo Franco vê “oportunismo” de partidos e políticos que buscam abraçar a agenda liberal sem real convicção ou afinidade com o tema – caso de Geraldo Alckmin, do PSDB, partido do qual já foi filiado, e do MDB, de Michel Temer. Para Franco, o interesse em tal ideário decorre da adesão às ideias liberais pela população após sucessivos escândalos de corrupção e o colapso financeiro de governos estaduais. “Isso transmitiu a ideia de que o Estado redentor, pai dos pobres, não passa de mito.”

Franco, que é sócio-fundador da Rio Bravo Investimentos, deixou o PSDB e filiou-se ao Novo, onde atua como coordenador do programa de João Amoêdo à presidência. Ele defende um debate “ambicioso” sobre o ajuste fiscal, que envolva criação de um sistema de previdência complementar, e uma “reforma trabalhista 2.0”.

O sr. deixou o PSDB e aderiu ao Novo. Sentiu que era preciso fazer parte de um partido?

Minha decepção com o PSDB construiu-se gradualmente. O partido foi se afastando das ideias do Real. Por mais que se queira vesti-lo como iniciativa motivada por ideais da social-democracia, o Real foi resultado do esforço de reformas liberais. Isso foi sendo esquecido. A decepção foi se acumulando e somou-se à do quesito ético, com o tratamento que acho que deveria ter sido dado a Aécio Neves. Então veio o Novo, onde ideias liberais podem se expressar com sua própria voz.

O sr. acredita que o ambiente é mais favorável a essas ideias?

O clima mudou completamente. Porque o País amadureceu ou porque a experiência de Dilma Rousseff foi um fracasso retumbante. Como exemplo, vejo a postura em relação à Petrobrás. Geraldo Alckmin, o candidato do PSDB que, no passado, vestiu jaqueta e boné com escudos de estatais, agora é como se estivesse vestindo aquela jaqueta do avesso. Acho que em nenhum dos dois casos ele foi sincero.

Alckmin pensa o quê, então?

É outro assunto, que não é mais meu. O fato é que está na moda e muitos partidos estão tentando, ao meu juízo de forma oportunista, abraçar essa agenda. Inclusive o governo Michel Temer, que trouxe para sua área econômica pessoas com credenciais liberais impecáveis. Os escândalos de corrupção diminuíram a fé das pessoas na ideia de que o Estado resolve todos os problemas. No Rio, a ausência de eficácia do Estado resultou no colapso financeiro. Tudo isso transmitiu a ideia de que o Estado redentor, varguista, pai dos pobres, não passa de um mito.

Por que o Congresso não acordou para essa agenda? A reforma da Previdência foi barrada.

Acho que acordou, sim. Os partidos e os candidatos perceberam e estão tentando se adaptar. Gosto do Novo porque ele vem da base, que é predominantemente de pequenos empresários e profissionais liberais de classe média para baixa. Há 92 milhões de pessoas trabalhando no País, sendo 33 milhões com carteira assinada. Mas há 27 milhões de empreendedores: profissionais liberais e pequenos empregadores. Essas pessoas querem um Estado que ajude o empreendedor e não que atrapalhe e oprima por meio da legislação tributária, trabalhista e da burocracia. Se o Novo ocupar esse espaço, talvez seja um dos principais partidos daqui a pouco.

O sr. não deseja ser político?

Não contemplo essa possibilidade. Gosto de colaborar. Mas tenho minha profissão.

O sr. classificou a pauta reformista de Temer como acanhada. O que seria a pauta ambiciosa?

Os temas são similares. Mas a discussão da Previdência que foi colocada é limitada. Trata somente da reforma paramétrica, de modificar parâmetros do sistema previdenciário atual, centrado no INSS. É um sistema pelo qual quem trabalha paga a aposentadoria de quem está aposentado. No decorrer do tempo, fica difícil fechar a conta e o princípio passa a ser de alterar a contribuição, a idade de aposentadoria, para que a conta fique menos negativa. O mais ambicioso seria fazer reforma em conexão com o segundo pilar, da previdência complementar.

Como fazê-lo?

Não vamos conseguir fazer o segundo pilar a partir do primeiro. Não se pode desviar as contribuições que hoje pagam aposentadorias para capitalizar novo fundo de pensão que somente lá na frente poderá pagar aposentadorias. A ideia é transformar o FGTS num fundo de pensão. Muito provavelmente é possível incorporar o FAT e o antigo sistema do PIS, que paga o abono, nessa equação para que seja um fundo de pensão de maior dimensão. O FGTS é uma poupança das pessoas que o governo usa para seus propósitos, meio que tributando o dinheiro que não lhe pertence. É um caso onde o administrador escraviza o dono do dinheiro. Essa ideia é interessante porque, primeiro, começa a corrigir a distorção que é o FGTS e, em segundo lugar, porque esse dinheiro passará a irrigar o mercado de capitais. As pessoas vão receber uma notícia boa: o FGTS vai render mais.

Haveria uma transição?

Os sistemas se sobrepõem. As pessoas já têm uma aposentadoria mínima, que vem do primeiro pilar. O segundo é complementar. Não precisa haver migração integral. Mas, ao longo do tempo, o primeiro pilar terá de fazer reformas paramétricas, porque a demografia exigirá o equilíbrio. Reformar o primeiro pilar torna-se agenda enjoada de enfrentar se você não tiver outra coisa, que é a previdência complementar, para suprir a ansiedade das pessoas em relação à velhice.

O que mais tem de ser feito?

É essencial a reforma trabalhista 2.0, que consiste em pensar a missão da Justiça do Trabalho e do Ministério do Trabalho como órgãos que promovem emprego e produtividade, e não como entidades que estão em função de quem tem emprego contra quem cria emprego. É preciso estabelecer a convergência de interesses entre empresa e trabalho. A luta de classes ficou para trás e é conceito obsoleto para observar a sociedade dos nossos dias. A ideia de um contra o outro estava perdendo sua substância e foi trazida de volta pelos governos do PT, o “nós contra eles”, a oposição de classe. Essa nova filosofia abre espaço para negociação e para relações de trabalho mais complexas, terceirizadas, quarteirizadas, que vão se tornando cada vez mais a regra, e não a exceção. A carteira assinada é meio como o concurso público. Duas categorias do mesmo sonho: de pular para uma situação de conforto material assegurado. A vida não é assim.

Há algum setor em que o Estado tem de estar ou a privatização tem de ser irrestrita e imediata?

Não. Se vamos vender para abater dívidas, temos de vender direito. Há casos em que as empresas estão prontas para serem vendidas e meu exemplo predileto é o Banco do Brasil. Ele poderia ser privatizado, sem descaracterizar a marca e a instituição, para um grupo que não contenha Bradesco, Itaú e Santander. Faria um bem gigantesco. Esse é o fácil.

E os difíceis?

O objetivo não é privatizar por privatizar, mas fazer com que as pessoas tenham acesso ao serviço. A Cedae (companhia estadual de água e esgotos do Rio de Janeiro) poderia ter sido privatizada lá atrás e a vida poderia ter sido diferente para todas as pessoas que tiveram dengue. Não podemos esquecer que a prioridade é o cliente. No caso do saneamento, quem teve picada de mosquito, quem quer água e esgoto em casa. A pergunta a ser feita às pessoas não é se elas gostam de privatização, mas se elas gostam de ter dengue.

O que fazer com o dinheiro levantado com as vendas?

Às vezes nem vai levantar. No caso do saneamento, há déficit de investimento. Esse dinheiro os governos estaduais e federal não têm. O setor privado tem. Por que não trazer para o jogo esse ator? Em alguns casos, a tarifa vai aumentar sim. Mas tarifa cara é não ter o serviço.

O Novo tem pouca chance à presidência. Apoiaria o PSDB?

Não sei. Gosto muito do Persio Arida (coordenador do programa econômico de Alckmin), trabalhei com ele e temos inúmeras afinidades em muitas ideias. Mas o projeto do PSDB não é o do Persio. Assim como o de Jair Bolsonaro (PSL) não é o do Paulo Guedes. O concurso não é de economistas. O concurso é para outro emprego.

 

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