Quinta-feira

VALOR ECONÔMICO

Greve de caminhoneiro entra no 4º dia e amplia efeito no abastecimento

A paralisação dos caminhoneiros contra o diesel caro entra no quarto dia. Nesta quinta-feira, há protestos em pelo menos 20 Estados, como São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Minas Gerais. A Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), que lidera o movimento, disse que a greve continua até o presidente Michel Temer sancionar uma lei para zerar a alíquota do PIS/Cofins sobre o diesel.

O novo dia de manifestações é marcado por desabastecimento de combustíveis e de alimentos em diversos Estados. Há postos sem combustível para abastecer os veículos em São Paulo e no Distrito Federal. Naqueles que ainda têm reservas, o registro é de longas filas de carros. Empresas aéreas adotam planos de contingência e, em várias cidades, a circulação de ônibus é revista para lidar com a restrição de combustível.

Em São Paulo, a SPTrans responsável pela administração do transporte público da capital paulista, autorizou as empresas de ônibus a reduzirem em até 40% a frota em operação no horário de pico. Em Porto Alegre, o transporte público também sofreu alterações. No Rio de Janeiro, o sistema de ônibus articulado BRT tinha funcionamento parcial e várias estações foram fechadas.

Ainda no Rio, o atraso na entrega de mercadorias já se traduz em prateleiras vazias de produtos hortifrutigranjeiros. Reação do governo A Câmara dos Deputados aprovou, na quarta-feira à noite, o projeto de reoneração da folha de pagamentos das empresas incluindo artigo que zera a alíquota do PIS/Cofins sobre o óleo diesel até 31 de dezembro. As emendas ao projeto foram rejeitadas e o texto seguirá para debate no Senado Federal. Diante da continuidade da paralisação e suas consequências, o presidente Michel Temer se reúne nesta manhã com ministros e com o dirigente da Petrobras, Pedro Parente.

O encontro ocorre um dia depois de a estatal reduzir em 10% o preço do diesel vendido nas refinarias, o equivalente a R$ 0,23 por litro. A medida, diz a estatal, valerá por 15 dias, sem chance de prorrogação. Nesta tarde, haverá nova reunião entre dirigentes da Abcam e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Carlos Marun (Secretaria de Governo) para tratar do possível fim das paralisações. Após a reunião, a entidade deve dar uma entrevista coletiva na Casa Civil sobre o resultado da conversa.

Os caminhoneiros querem uma política de isenção dos impostos incidentes no oléo diesel e o controle dos aumentos do combustível, conforme a Abcam. Em apoio às reivindicações da categoria, a Força Sindical enviou convocação a todos os sindicatos filiados de São Paulo e da Grande São Paulo para manifestação às 14 horas em frente a sede da Petrobras na avenida Paulista, em São Paulo.

 

Crédito a grandes empresas só volta após eleições, diz Bracher

As eleições são um elemento de "incerteza natural" e afetam o crescimento econômico de forma moderada ao postergar decisões de investimentos. A afirmação é do presidente do Itaú Unibanco, Candido Bracher.

"Essa talvez seja a principal razão pela qual a gente não vê o crescimento da carteira de crédito de grandes empresas", afirma o executivo em entrevista ao Valor. Já nas linhas voltadas a pessoas físicas e pequenas empresas, a retomada do crédito vem ocorrendo de forma "vigorosa", segundo o executivo.

Bracher acaba de completar seu primeiro ano à frente do maior banco privado brasileiro em meio a um novo momento de instabilidade nos mercados. Em maio do ano passado, quando assumiu o cargo, a delação do empresário Joesley Batista, da JBS, que implicou o presidente Michel Temer, inviabilizou a reforma da Previdência e atrasou a recuperação da economia.

Ainda assim, o presidente do Itaú considera favorável para a instituição o período que vislumbra à frente, mesmo com as incertezas no cenário externo e com as eleições. O movimento global de valorização do dólar não deveria assustar e pode até ser saudável para a economia brasileira, na visão do executivo.

Questionado sobre a disputa presidencial, Bracher disse que é um assunto sobre o qual tenta não pensar por ora. "Há muito pouco do que é possível aprender a respeito do resultado das eleições até agosto", diz, referindo-se ao mês em que as chapas serão definidas. No entanto, afirma que está relativamente tranquilo em relação a boa parte dos nomes que se apresentaram até agora, especialmente os que já tiveram alguma experiência administrativa. "De maneira geral, foram fiscalmente responsáveis e promoveram reformas se preocupando com a produtividade nos seus Estados."

Na conversa, realizada numa sala contígua ao comitê executivo do Itaú, Bracher também falou sobre concentração bancária, spreads e a compra de uma participação na XP Investimentos, sempre no estilo sereno que é sua marca registrada. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Valor: Como o senhor avalia seu primeiro ano à frente do Itaú, período marcado por recuperação da economia e instabilidade política?

Candido Bracher: Até 17 de maio do ano passado, quando havia acabado de entrar, as expectativas eram muito melhores. Esperava-se que haveria a aprovação da reforma da Previdência e isso significaria um avanço maior para a economia do que tivemos. As ocorrências de maio frustraram essas expectativas e trouxeram um crescimento mais modesto, mas ainda assim foi um crescimento e o fim de um ciclo de recessão muito agudo. Partindo do princípio de que não se pode escolher o ambiente econômico com o qual se trabalha, foi um ambiente favorável.

Valor: A preocupação com os juros nos Estados Unidos e a incerteza eleitoral no Brasil atrapalham a retomada da economia?

Bracher: As eleições são um elemento de incerteza natural a cada quatro anos. Trazem sempre, ou com muita frequência, a postergação das decisões de investimento, principalmente por parte das grandes empresas. Nesse sentido, afetam, sim, o crescimento, de forma moderada. Essa talvez seja a principal razão pela qual a gente não vê crescimento na carteira de crédito de grandes empresas. Mas não vejo maiores impactos ainda do processo eleitoral. Naturalmente, investidores se retraem um pouco, mas é assim a cada quatro anos.

Valor: E o cenário externo?

Bracher: Temos finalmente o processo de saída da crise de 2008/2009. Esse movimento, aliado à economia americana crescendo com força e com um nível de desemprego muito baixo, provoca essa maior instabilidade nos mercados e uma grande força no dólar. O reflexo disso no Brasil é uma desvalorização cambial, que eu acho que não deve nos assustar especialmente.

Valor: Por que não?

Bracher: Acho que há três fatores por trás da desvalorização cambial. Um é a incerteza das eleições, que hoje é o que pesa menos. O segundo fator é a força internacional do dólar contra todas as moedas. O terceiro é que tínhamos uma diferença de taxa de juros com os Estados Unidos que saiu de 12% a 13% para 3% a 3,5%. Esse diferencial trazia uma pressão de baixa sobre o dólar muito poderosa. É natural que, à medida que se retire esse fator, o dólar possa se elevar um pouco mais. É natural e desejável. Não acho que seja um problema, ao contrário. Se não houver grande volatilidade, esse fenômeno da desvalorização cambial é saudável para nossa economia. Eu vejo as empresas, de uma maneira geral, funcionando melhor, desde que haja uma certa estabilidade.

Valor: Como o senhor avalia a atuação do Banco Central ao manter a taxa Selic e aumentar a atuação no câmbio?

Bracher: A decisão de manter a Selic foi correta, embora eu concorde com alguns comentários no mercado de que a comunicação poderia ser melhor. Mas, francamente, o BC tem conduzido a política monetária tão bem que tem crédito para esse pequeno equívoco de comunicação. A atuação no câmbio deve ser tal que não pretenda conduzir a taxa para determinado lugar artificialmente, mas atenuar movimentos naturais do mercado para que haja menos volatilidade.

Valor: Voltando às eleições, que perfil seria desejável para o próximo presidente?

Bracher: Se eu fosse capaz dessa autodisciplina, o ideal seria não pensar nas eleições até meados de agosto. Há muito pouco que é possível aprender sobre o resultado das eleições até agosto. Os candidatos ainda não estão claros. Vejo duas linhas de pensamento: uma que diz que o próximo presidente não será um político tradicional. Alguns candidatos se encaixam nisso. Outra leitura diz que o futuro presidente precisa ter características pessoais que o façam aceitável para a maioria, dinheiro para campanha, uma grande base de prefeitos e tempo de televisão. Se você achar que essa é a linha correta, chegará aos outros candidatos.

Valor: Qual é a linha correta?

Bracher: Para saber, a gente precisa esperar a campanha começar. Procuro exercer a disciplina de não pensar muito nisso porque há pouco que eu possa ganhar. O meu candidato preferido não faz diferença, tenho que me preocupar com o candidato que será o novo presidente. E aqui acho que, do ponto de vista econômico, ele tem duas tarefas muito grandes. A primeira é estancar o crescimento da dívida pública sobre o PIB. Para isso, precisa fazer a reforma da Previdência. Mas, se fizer só isso, haverá uma grande frustração. Há uma série de outras reformas que visam dar maior produtividade que precisarão ser feitas. Acho importante olhar para o que os candidatos com experiência administrativa fizeram. E quando faço isso fico relativamente tranquilizado. De maneira geral, foram fiscalmente responsáveis e promoveram reformas se preocupando com a produtividade nos seus Estados.

Valor: Quando podemos esperar uma retomada mais vigorosa do crédito pelos bancos?

Bracher: O crédito em geral está sendo retomado vigorosamente. As nossas concessões de empréstimos para pessoas físicas e pequenas e médias empresas crescem a um ritmo maior de 25%. Até isso se refletir no tamanho na carteira, demora. Nas grandes empresas, a concessão está estável. Nesse caso, é preciso esperar as eleições. Conforme o resultado, vai haver uma recuperação mais ou menos rápida.

Valor: São justas as críticas aos bancos por não repassarem integralmente a queda da Selic para as taxas cobradas no crédito?

Candido Bracher: Um colega aqui no banco dizia que felicidade é igual a realidade menos expectativa [risos]. Se você tem uma expectativa que não está bem fundamentada, é difícil que a realidade te satisfaça. E a expectativa de que os spreads bancários deveriam cair na mesma proporção da Selic é absolutamente infundada. A Selic caiu a menos da metade. Esperar que os spreads caiam na mesma proporção é o equivalente a você cobrar de uma montadora a redução no preço do carro na mesma proporção que o preço do aço. É acreditar que o custo do dinheiro é o único componente do spread, o que absolutamente não é verdade. O custo do dinheiro, conforme a linha de crédito, tem um peso maior ou menor. Sabe qual o spread médio do Itaú Unibanco? Em torno de 8% a 9% ao ano. Esse número você nunca vê nos jornais. Quando se fala do spread altíssimo dos bancos, olham cheque especial e cartão de crédito.

Valor: Por que o custo dessas linhas é tão alto?

Bracher: No cartão de crédito, o tamanho da nossa carteira que paga juros é de R$ 5,5 bilhões. A carteira de cheque especial é de R$ 4,5 bilhões. As duas juntas não chegam a 2% da carteira de crédito inteira, que é de R$ 600 bilhões. Nossa carteira total de cartão de crédito é de R$ 65 bilhões, incluindo o parcelado sem juros e compras feitas no mês. O spread cobrado nos R$ 5,5 bilhões precisa ser suficiente para fazer frente à inadimplência de todos os R$ 65 bilhões. Claramente é uma situação de subsídio cruzado. Quem paga juros no cartão de crédito subsidia quem paga no parcelado sem juros. Vai ser interessante se formos capazes de criar uma modalidade de parcelado com juros e que a motivação dos lojistas seja receber em um prazo mais curto. Não que seja obrigatório, mas uma opção a mais. De outra forma, não vejo muito caminho porque hoje existe essa disparidade.

Valor: E o cheque especial?

Bracher: Nesse caso, não se trata de um produto de crédito. Ninguém liga para um banco pedindo um crédito de cheque especial. Você entra no banco e abre uma conta corrente, que é o produto mais caro, com maior custo administrativo. Nos Estados Unidos, o cheque especial é mais caro no Brasil. Lá, toda a vez que se faz um saque no negativo, paga-se uma taxa. Na comparação com outros países onde também há essa taxa o diferencial não é tão alto.

Valor: Como o Itaú pretende manter margens diante da tendência de queda dos spreads?

Bracher: Da maneira mais saudável possível, que é crescendo a carteira de crédito. É preferível ter uma carteira grande com spread mais baixo a ter uma carteira pequena com spread mais alto. Para o banco, é bom uma taxa de juros mais baixa, que permita o crescimento maior dos ativos e cumprir melhor nossa atividade fim. Não só o volume de crédito pode crescer como o mix vai se alterar. As linhas de spread mais baixo estão crescendo menos e as com spread mais alto estão crescendo mais. Isso deve permitir que a gente mantenha a margem como um todo.

Valor: O banco ainda tem muita ineficiência, como custos para manter agências, por exemplo?

Bracher: Eu não diria que há ineficiência, mas existe muita possibilidade de ganho de eficiência, especialmente com as novas tecnologias. A migração de sistemas para a nuvem, o uso de inteligência artificial, "machine learning", que temos feito de forma intensiva, devem permitir um ganho de eficiência.

Valor: Em que ponto do processo de digitalização o Itaú está?

Bracher: É difícil você dizer em que ponto você está em relação a uma jornada que não termina nunca. Porque ela não terminará, ao contrário. O ritmo de mudanças tende a se acelerar. Quando olho em relação à concorrência, em relação ao mundo, acho que estamos bem. Não vamos encerrar um banco velho e abrir um banco totalmente novo com uma tecnologia totalmente nova. Estou contente com o ritmo de progresso do banco nesse sentido.

Valor: Vocês já sentem esse impacto no negócio?

Bracher: Temos sentido todo dia. Tenho a impressão de que parte importante da melhora que a gente sentiu na inadimplência já é em função disso, especialmente na pessoa física.

Valor: A tecnologia tem ocupado mais espaço na sua agenda?

Bracher: Está cada vez mais difícil separar a tecnologia do negócio. O negócio é a tecnologia em grande parte hoje. Não tenho mais aquilo que eu tinha quando era responsável pelo banco de atacado: negociar uma grande operação com um grande cliente. Eu acompanho os grandes números do desempenho do atacado, do crédito, mas acompanho no varejo muito de perto a evolução da tecnologia. No dia em que tomei posse, há um ano, escrevi uma carta para todos os funcionários dizendo quais eu achava que eram as seis principais frentes que a gente tinha que trabalhar. Dessas, há três que são frentes de transformação e há três que são de aprimoramento contínuo. As de transformação são as que me ocupam mais: clientes, tecnologia e pessoas. As outras três, que também são muito importantes, são gestão de risco, manter níveis diferenciados de rentabilidade, e internacionalização, onde [o objetivo] não é crescer internacionalmente, mas sim melhorar o desempenho para chegar ao nível dos melhores bancos dos países onde a gente atua.

Valor: A concentração bancária aumentou no Brasil nos últimos anos. É possível ter um sistema competitivo mesmo assim?

Bracher: Não tenho nenhuma dúvida, e sinto isso na pele todos os dias. A competição entre os bancos no Brasil é muito intensa, sempre foi. Nossa concentração não se diferencia muito da concentração da maior parte dos mercados emergentes ou desenvolvidos. Os Estados Unidos são um ponto fora da curva, e não quer dizer que lá as coisas sejam muito mais baratas. A concentração no Brasil aumentou nos últimos 15 anos, acho que aumentou no mundo todo. E aumentou em grande parte em atendimento a uma exigência da sociedade.

Valor: Que exigência?

Bracher: Com a crise de 2008, a sociedade no mundo todo disse: nós não estamos mais dispostos a usar dinheiro público para resgatar bancos em episódios de crise sistêmica. Isso se tornou palavrão. Então, os bancos precisam ser muito mais capitalizados para que, num episódio de crise, tenham reservas suficientes. Houve um processo de capitalização. Dobrou a relação de capital para ativos, e isso conduziu naturalmente a concentração. Você não consegue ter uma coisa sem outra. Essa concentração foi provocada em boa medida por uma exigência da sociedade, que é não ter mais que socorrer bancos em situações de crise sistêmica. Isso é uma observação. A outra é que, pelo índice IHH [Herfindahl-Hirschman], o setor bancário é o 15º mais concentrado no Brasil. A concentração bancária não se diferencia internacionalmente, estamos na média nos países, e não se diferencia, dentro do Brasil, em relação aos demais setores da economia. Essa é uma falsa questão.

Valor: Na crise econômica, a percepção é que os bancos conseguiram manter os lucros elevados mesmo depois de absorver perdas importantes, enquanto outros setores tiveram prejuízo...

Bracher: Os bancos são tão capitalizados que é muito difícil terem prejuízo. E, se um banco tiver prejuízo, não é bonito o que acontece no mercado. Você tem que pensar no seguinte: o capital tem que ser remunerado. As pessoas quando compram ações de banco ou de qualquer empresa esperam ser remuneradas. As empresas mais capitalizadas, caso dos bancos, têm uma tendência de ter resultados maiores. É a lógica. Agora, existe uma crença de que os bancos ganham muito porque cobram muito caro. Crédito não é um negócio especialmente rentável para os bancos. Se você comparar o retorno da atividade de crédito com o custo de capital, vê que não é uma atividade especialmente rentável. Nesse primeiro trimestre, o nosso custo de capital foi de 13,5% no Brasil, e a rentabilidade do crédito foi de 14,1%. Em 2015 e 2016, a rentabilidade do crédito foi bem abaixo do custo de capital. No ano passado, empatou.

Valor: O ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga disse que o investimento do Itaú na XP acentua a concentração bancária. Como o senhor vê essa avaliação dele e de outros analistas?

Bracher: Eu acho que é uma interpretação superficial, discordo dela frontalmente. Nossa operação com a XP aumenta a concorrência, e não diminui.

Valor: É difícil entender esse raciocínio...

Bracher: Vamos lá. A XP tem um modelo essencialmente diferente dos bancos. É uma forma de atuação em que você é muito especializado num tipo de produto e você tem vários especialistas, analistas e agentes comerciais atendendo os clientes com grande profundidade nesse produto. Não é algo que um banco possa reproduzir de maneira econômica. Vendo que essa é uma modalidade que tende a crescer e é algo que não somos capazes de reproduzir, e querendo participar do crescimento disso, nós dissemos: vamos investir. Então fizemos a compra dessa participação minoritária na XP. E por que ajuda a competição? Porque a XP fica muito mais forte tendo o capital do Itaú. E não tem nenhuma ingerência nossa no negócio. A XP continua absolutamente independente, como se não fôssemos sócios praticamente. A gente só acrescenta credibilidade. Então, ela vai se expandir ainda mais.

Valor: Mas isso só na primeira fase, referente à compra da participação minoritária...

Bracher: É só disso que a gente está falando agora. Mais para frente, o Cade e o Banco Central terão que ser ouvidos novamente. Nessa primeira fase, acho indiscutível que aumenta muito a competição, porque a XP se torna mais forte.

Valor: Ao fortalecer a XP, outras "XPs" não podem ser impedidas de competir?

Bracher: Não foi o que aconteceu. Depois do anúncio do negócio, outras XPs têm surgido e crescido. Nós não somos os únicos investidores no mercado. Você tem todos os fundos de private equity, os outros bancos, várias pessoas que poderão investir. Nós vimos a XP ficar mais forte para competir com o setor bancário. Perdemos depósitos para a XP todos os meses. Ganhamos mais depósitos do resto do setor do que perdemos para eles, é verdade. E a XP fez com que os bancos mudassem. Abrimos nossa plataforma de investimentos, criamos o Personnalité 360. Enfim, essas mudanças na economia, essas inovações, são boas para o sistema. Obrigam todo mundo a melhorar. Seria extremamente míope da nossa parte pretender fazer a XP funcionar "menos bem" para que ganhássemos mais mercado. Isso iria ajudar todos os demais bancos e só nós iríamos pagar a conta, seria até pouco inteligente.

Valor: O banco tem um plano B caso o negócio não seja aprovado?

Bracher: Nenhum plano B. Aguardamos serenamente a decisão do Banco Central.

Valor: Falando em competição, o senhor disse recentemente que a área de cartões é uma em que o banco vê cenário mais competitivo. Como lida com isso?

Bracher: Tem duas áreas que vejo como aquelas onde há significativas oportunidades de melhora de desempenho do banco. Adquirência, com a Rede, e seguros. Na adquirência, é a situação de um mercado muito competitivo, onde surgiu uma série de competidores novos, atuando até em partes que não eram atendidas, como as empresas muito pequenas. É natural que essa nova concorrência traga compressão de margens e uma disputa por "market share". Acho que aqui demoramos um pouco a reagir, mas estamos fazendo isso aumentando muito nossa oferta integrada para clientes, aumentando a força de vendas para atuar com as empresas que não são correntistas e produtos novos para ser lançados. Aqui acho que vamos conseguir estancar esse processo. No caso de seguros, vejo com grande interesse a possibilidade de abrir nossa plataforma, de atuar mais na distribuição de produtos de terceiros usando nossa força de distribuição, que é uma das principais do banco e é onde se concentra boa parte da receita em seguros.

Valor: Quando essa abertura em seguros deve ocorrer?

Bracher: Já distribuímos seguro dental hoje em dia [da Metlife ]. Todas essas coisas vamos fazer ao longo dos próximos anos. O objetivo na gestão do banco, aquilo que eu gostaria de conseguir, é que o Itaú Unibanco se torne permanentemente preparado para a transformação. Mais do que transformar o banco desse ponto para aquele ponto, é capacitar o banco para enfrentar transformações constantemente, porque isso é que vai ser a realidade daqui para a frente.

Valor: Chamou muito a atenção o nível de distribuição de dividendos ("payout") do banco. Esse patamar vai ver se repetir neste ano?

Bracher: Não temos um compromisso com nível de dividendos. Temos compromisso com nível de capital. Nosso apetite é ter capital de nível 1 [de melhor qualidade] de 13,5%, de maneira que todo início de ano vou olhar a perspectiva de crescimento da carteira [de crédito], a eventual perspectiva de alguma aquisição, alguma mudança regulatória que possa exigir mais capital. Olhado para essas três coisas, vou ver, da perspectiva de lucro, quanto vai sobrar de capital acima de 13,5% e vou distribuir isso. Neste ano, a gente ainda deve ter um payout bastante elevado.

Valor: Isso significa que o banco não vê nenhuma perspectiva de aquisição no Brasil ou no exterior?

Bracher: No curto prazo, não estou vendo nada.

 

Com ajuda de Fed, dólar cai pelo 3º dia em meio à ação do BC

O dólar cravou a terceira queda consecutiva frente ao real nesta quarta-feira, o que não acontecia desde meados de abril. No fechamento, a moeda americana caiu 0,56%, a R$ 3,6248. Na mínima, chegou a R$ 3,6181, bem distante dos patamares de quase R$ 3,80 alcançados na semana passada.

A dinâmica de preço do câmbio denota que o endurecimento de tom do Banco Central, algo cobrado pelo mercado nos últimos dias, tem surtido efeito. Em entrevista ontem ao Valor PRO, Ilan Goldfajn, presidente do BC, disse não ter “preconceito” contra a venda de swaps cambiais e reiterou que a queda do estoque desses contratos desde que assumiu o cargo dá à autoridade monetária poder de fogo.

A expectativa é que mais US$ 3 bilhões sejam injetados até o término do mês. Os US$ 6,5 bilhões que entrarão no mercado representarão a maior venda líquida de dólar via swap desde maio do ano passado, quando a colocação chegou a US$ 10 bilhões. Hoje, a queda do dólar no Brasil voltou a refletir a combinação de mais oferta de moeda pelo BC e um dia mais ameno para divisas emergentes como um todo.

O dia começou com algumas preocupações com países específicos, com a lira turca em amplo “sell-off”, o que levou alguns agentes a retomar o tema de contágio de risco entre emergentes. Mas ao longo do pregão tanto o real quanto outras moedas se mantiveram alheias à questão turca.

De toda forma, a atuação do BC da Turquia, que elevou os juros em 300 pontos-base, ajudou a acalmar os ânimos de forma geral. E, consolidando o dia positivo para moedas, o Federal Reserve (Fed, BC americano) trouxe, na ata de sua última reunião de política monetária, elementos considerados “dovish” pelo mercado. Era o argumento que faltava para investidores intensificarem as vendas de dólares em todo o mundo.

A Icatu Vanguarda destaca o comentário do Fed de que as taxas neutras de juros nos EUA podem estar atualmente mais baixas do que as estimativas para o longo prazo. Além disso, também é vista como “dovish” a referência sobre o objetivo “simétrico” para a inflação no longo prazo, o que sugere que o Fed toleraria alta da inflação acima da meta.

No fim da tarde, enquanto o real ganhava 0,56%, a lira turca saltava 2,6%, o rand sul-africano se apreciava 0,9%, o peso mexicano subia também 0,9%, e o peso chileno somava 0,2%. “Não acredito que seja o caso de falar em contágio entre emergentes”, diz Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, em referência a crescentes preocupações sobre uma crise mais ampla em emergentes.

Ele acrescenta que não há razões fundamentais para a continuidade da escalada do dólar vista no Brasil. Ainda assim, Rosa não espera que o dólar volte aos patamares em torno de R$ 3,20 praticados meses atrás. “Agora devemos voltar para um patamar mais razoável aos níveis de risco, que aumentaram desde então. Por isso acredito que um patamar entre R$ 3,50 e R$ 3,60 faça mais sentido.”

Neil Shearing, economista-chefe para mercados emergentes da consultoria Capital Economics, também vê a moeda oscilando nessa banda, mais especificamente em R$ 3,58 ao fim do ano. Mas chama atenção para os riscos não só relacionados à política monetária americana ou ao cenário eleitoral doméstico. E destaca que as perspectivas de longo prazo para a China - grande importador de commodities - têm ficado menos animadoras.

 

Desaceleração do IPCA-15 em maio reacende debate sobre taxa de juros

A inflação voltou a ficar abaixo do esperado pelo mercado, uma constante desde o ano passado, e reacendeu o debate sobre a recente decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que manteve a taxa básica de juros estável em 6,50% ao ano. Ao fazer essa opção, a autoridade monetária contrariou sinais que analistas interpretaram como mais um corte de 0,25 ponto percentual na Selic.

Conforme divulgado ontem pelo IBGE, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) desacelerou para 0,14% em maio, de 0,21% em abril. O resultado ficou bem abaixo do consenso dos analistas ouvidos pelo Valor Data, que previam aceleração para 0,26%. O indicador foi o mais baixo para o mês desde 2000 (0,09%). No acumulado em 12 meses, a prévia do índice oficial de inflação recuou para 2,70%, de 2,80% do mês anterior.

Desta forma, ficou mais distante do piso da meta de inflação, de 3% no ano - o centro da meta é de 4,5%, com margem de 1,5 ponto, para mais ou para menos. O mercado esperava aceleração do indicador para 2,83%. Essa baixa da inflação na prévia de maio foi explicada pela perda de fôlego do grupo serviços, que teve rara taxa negativa no mês: 0,19%. Para economistas, a redução de preços reflete a recuperação mais lenta da atividade e o elevado grau de ociosidade na economia.

A alimentação fora do domicílio recuou 0,28%, primeira baixa em mais de uma década. "As pessoas ainda não estão consumindo serviços como antes, por exemplo, em restaurantes. É uma variação em linha com o indicador da atividade de serviços, ainda enfraquecido, frustrando neste início de segundo trimestre", disse Yan Cattani, economista da Pezco.

Ele acrescentou que até esperava desaceleração desses preços, mas numa velocidade menor. A baixa nos serviços compensou os a alta dos itens administrados - como são chamados os bens e serviços monitorados pelo governo. Esse conjunto de preços acelerou, na média, para 0,79% em maio, puxado por itens importantes no custo de vida das famílias, como remédios (1,04%), planos de saúde (1,06%), energia elétrica (2,18%) e gasolina (0,81%).

O aumento da gasolina de 0,81% na prévia de maio, a despeito de reajustes maiores nas refinarias, mostraria que a alta de alguns preços não está sendo repassada ao consumidor, diz Luiz Fernando Castelli, economista da consultoria GO Associados. Para ele, a surpresa em diversos itens pode levar o BC a rever a sua política de juros. "Esse resultado pode gerar uma compensação sobre a postura do Banco Central de manter a taxa de juros em 6,50%. Será que a decisão foi acertada? Será que não há mais espaço para queda de juros?", questiona Castelli, que previa o IPCA-15 em 0,30% no mês, mais do que o dobro da leitura divulgada pelo IBGE na manhã de ontem.

O economista Fábio Romão, da LCA Consultores, foi mais enfático. Para ele, o Banco Central errou ao manter a Selic em 6,50% ao ano, em vez de cortá-la em 0,25 ponto. "Estavam preocupados com pressões da depreciação do câmbio. Ainda que existam efeitos dessa desvalorização, fica evidente que há grande espaço para a inflação absorver choques", disse. Um dos indicadores que demonstram isso é a inflação subjacente de serviços - que exclui itens como turismo e serviços domésticos, menos sensíveis à política monetária. Esse índice teve queda de 0,13% em maio, a primeira baixa mensal desde 2000.

Em 12 meses, o indicador foi de 2,97%, abaixo do piso da meta de inflação, de 3%. A avaliação não é unânime. Elson Teles, economista do Itaú Unibanco, concorda que a fraca atividade econômica pode atenuar o repasse da pressão do câmbio e do combustível na inflação, mas a transferência vai acontecer. Segundo ele, a gasolina deve ficar 2% mais cara em maio e 2% em junho, refletindo as altas nas refinarias. Além disso, ele acha que a bandeira tarifária da conta de luz deve passar para vermelho - nível 1 em junho e nível 2 em julho, pressionando mais o índice.

Dessa forma, a expectativa do economista é que a inflação brasileira acumulada em 12 meses acelere rapidamente para 3,80% em julho, aproximando-se do centro da meta. "O BC tem consciência de que a situação deste ano está tranquila, mas já está olhando para 2019. A política monetária não tem mais efeito para 2018. Acho que 80% do foco estão em 2019. E a meta do ano que vem não tem mais folga. O câmbio depreciado pode influenciar em 2019, por exemplo, fertilizantes usados pelo agronegócio, o que pode ter impacto nos dos preços de alimentos", disse Teles.

 

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