Sexta-feira

VALOR ECONÔMICO

Pessimismo com o ano começa a levar projeções do PIB para 1,5%

Atropelado pelos acontecimentos de maio, o PIB do primeiro trimestre - em linha com o esperado - pareceu um número relativo a um período ainda mais distante. Mesmo antes de conhecido o resultado de janeiro a março, a greve dos caminhoneiros já havia provocado uma onda de revisões para baixo nas projeções para 2018. Se antes da paralisação o sentimento entre os economistas era de que a recuperação tinha descido um degrau, depois dela falar em expansão abaixo de 2% parece algo prestes a virar lugar comum.

De 16 instituições financeiras ou consultorias que responderam ao Valor, 12 revisaram para baixo a projeção para o crescimento do PIB deste ano. Com isso, a estimativa média caiu de 2,25% para 1,86%. Além disso, a projeção de pelo menos quatro dessas casas têm viés de baixa. Já não são tão raras projeções mais próximas de 1,5%, como a do Bank of America, e já há quem, como a 4E ou a Arx Investimentos fale em algo até abaixo disso.

Na última quarta, uma frase bastante ouvida entre os analistas foi a de que o ano seria "daqui para pior". A piora na percepção sobre o ritmo da atividade fica clara nas previsões para o segundo trimestre. Antes, se esperava taxa em torno de 0,8%, acima da registrada nos três primeiros meses do ano, Agora, a expectativa é de algo próximo de zero. No primeiro trimestre ante o último do ano passado, o produto cresceu 0,4%.

As estimativas sobre os efeitos diretos e indiretos da greve variam de retirada de 0,3 a 1 ponto percentual no PIB do ano. Além da parada na produção de diversos setores, a leitura é que haverá um abalo na confiança de empresas e consumidores, que já vinha caindo. A piora nas expectativas deve ajudar a frear os investimentos, uma das linhas que mais decepcionaram no PIB do primeiro trimestre.

O PIB de 2018 aponta " claramente para abaixo de 2%", diz o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, que cortou sua estimativa para 1,8%. Um cenário externo menos amigável aos emergentes, as incertezas políticas e a greve dos caminhoneiros não deixam espaço para crescimento no segundo trimestre. "O PIB vai para zero no período. Talvez piore", diz o economista, para quem nas próximas semanas uma onda de revisões deixará a média de projeções mais perto de 1,5%.

Bráulio Borges, economista-sênior da LCA Consultores, observa que a herança estatística deixada pelo período de janeiro a março para o resto do ano, de 0,9%, torna difícil o crescimento de 2,4% projetado pelo consenso mais recente de mercado do Boletim Focus. "O PIB teria que alcançar um ritmo médio dessazonalizado próximo de 1% por trimestre, vindo de um ritmo médio de 0,3% entre o terceiro trimestre de 2017 e o primeiro deste ano", resume ele, que vê como bastante provável uma variação próxima de zero do PIB no segundo trimestre, ainda que seja difícil precisar no momento o impacto da greve sobre a atividade no período.

A LCA, que trabalhava com avanço do PIB de 2,5% neste ano, vê agora "expansão mais próxima" de 2,2%. O banco Fibra acredita que a greve vai tirar 1 ponto percentual do PIB neste ano e por isso revisou a projeção de 2,8% para 1,8%. Desse corte, 0,7 ponto deve-se aos efeitos diretos da paralisação e 0,3 ponto, aos indiretos, como a deterioração das expectativas.

O Votorantim, que reduziu a projeção do PIB de 2,2% para 1,8%, vê impacto negativo de 0,2 a 0,3 ponto. Para o Santander, a greve deve tirar 0,7 ponto percentual do produto em 2018. "Há o impacto direto de perdas de produção, comércio e serviços, e o indireto, que é o abalo da confiança", afirma o economista Rodolfo Margato.

A confiança, que já vinha caindo desde abril, pode recuar mais, o que levaria a um crescimento mais moderado no terceiro e quarto trimestres. Para o período de abril a junho, o banco revisou a estimativa de alta de 0,8% para 0,2%. No ano, a projeção foi de 3,2% para 2%. O 0,5 ponto restante na revisão de 2018 deve-se à frustração com a atividade no início do ano, confirmada pelo PIB do primeiro trimestre.

Segundo Margato, um crescimento abaixo de 2% não é o cenário do banco, mas há essa possibilidade. Ele pondera que, antes da paralisação, já havia cortes nas estimativas de atividade, um movimento que deve se tornar mais amplo a partir de agora. "O Focus deve mostrar nas próximas semanas revisões consideráveis no PIB".

Quanto ao resultado do primeiro trimestre, o mercado de trabalho foi determinante para a desaceleração em relação ao previsto. Nesse aspecto, as perspectivas não são das melhores. "O ritmo do emprego formal está bem abaixo do exigido para chegar à nossa previsão de 900 mil vagas criadas neste ano". Essa lentidão na retomada do emprego continuará a ter seus efeitos sobre o comércio e os serviços. A decepção de janeiro a março foi a alta de 0,6% no investimento, diz Margato, que estimava 1,1%.

Nesse quesito, a construção civil frustrou, após uma melhora apontada no fim de 2017. "E esse componente do investimento é o que mais vai sentir o abalo da confiança à frente." Por isso, o Santander reduziu a projeção para a formação bruta de capital fixo de 7% para 4,5% neste ano. Para Gonçalves, do Fator, a perspectiva para o investimento nos próximos trimestres é "horrível". "É difícil alguma empresa definir planos antes de outubro. Estão com a mão no freio."

Ele chama atenção para o fato de que, em 12 meses, o investimento ainda tem queda, ainda que pequena, de 0,1%, para um PIB que cresce 1,3%. O dado do investimento vai puxar as revisões de mercado para baixo porque embute um crescimento abaixo do esperado no início do ano, afirma o economista-chefe da Mogno, Vagner Alves. "Quem tinha 3% de projeção acreditava num crescimento mais forte dos investimentos", diz.

A Mogno revisou o PIB de 2,2% para 1,7%. Outra casa a cortar a estimativa foi a Rosenberg, de 2,2% para 2%. A consultoria espera expansão de até 0,2% de abril a junho. Para o consumo das famílias, que cresceu 0,5% no primeiro trimestre, ante o quarto do ano passado, a perspectiva também é de baixo crescimento, diante de uma taxa de desemprego insistentemente alta. "Houve de fato um crescimento no primeiro trimestre, via crédito, mas o que já se conhece de abril e maio e a perspectiva para junho não são favoráveis", diz Gonçalves, do Fator.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, revisou a estimativa para 2018 de 2,5% para 1,9%, diz que essa previsão só é válida "se tudo der certo". Mas o segundo trimestre não traz sinais animadores. "Os dados têm mostrado piora adicional em abril, que ao se juntar com a greve dos caminhoneiros pode levar a um resultado do segundo trimestre ainda mais baixo do que foi o primeiro".

A conjunção de fatores negativos em âmbito doméstico e externo fica evidente na piora do investimento no trimestre, avalia. Para a MB, apesar do bom desempenho do setor agropecuário este ano e do esperado impacto positivo do câmbio sobre as exportações, não deve haver um efeito de difusão sobre a economia, em meio às expectativas negativas. "A preocupação se estende para 2019, ano que deverá ser de continuidade de ajuste fiscal e incerteza sobre impactos adicionais da política monetária, no meio de uma possível normalização da inflação para próximo da meta."

 

"Acho mais fácil um PIB de 1% do que de 2%"

O economista-chefe do Rabobank, Mauricio Oreng, evitou fazer mudanças significativas em suas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) em momentos de amplas alterações das estimativas do mercado. Dois exemplos são a crise deflagrada pela gravação da conversa entre o presidente Michel Temer e o empresário Joesley Batista e as diversas revisões feitas no começo do ano, quando o otimismo se espalhou pelo mercado.

Mas as projeções do economista do Rabobank não resistiram às turbulências recentes, como a crise dos combustíveis e a piora das condições financeiras. Na quarta-feira, ele revisou as suas estimativas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, de 2,2% para 1,6%, e do próximo, de 3,2% para 2,6%, com impactos significativos principalmente sobre os investimentos, onde batem "os principais ventos contrários" atualmente. Por tudo isso, Oreng não descarta uma nova revisão de sua projeção para o crescimento da atividade neste ano. "Não dá nem para descartar um PIB mais próximo de 1%", diz.

Valor: Qual a sua avaliação sobre o resultado do PIB do primeiro trimestre?

Mauricio Oreng: Os números do PIB e os dados de alta frequência apontam para uma recuperação gradual da economia. O crescimento do primeiro trimestre mostra uma demanda doméstica não tão ruim. Houve contribuição negativa do setor externo, porque as importações estão se recuperando, o que tem a ver com o crescimento da economia. A demanda doméstica em si - que inclui consumo das famílias, governo e investimentos - foi relativamente fraca no trimestre, por causa do governo, cujo consumo caiu 0,4 %. Em termos anualizados, o consumo das famílias e os investimentos cresceram 1,8% e 2,5% respectivamente, o que não é exuberante. Ao que parece, houve alguma formação de estoques, o que é consistente com as sondagens da indústria. Além disso, aparentemente foi um aumento de estoques desejável, o que não sugere que será necessário um ajuste no segundo trimestre. De certa forma, é uma boa notícia, que vai na linha de uma recuperação gradual. É como se as empresas estivessem se preparando para um ambiente relativamente bom ou pelo menos melhor do que nos últimos anos.

Valor: E o que esse quadro pode dizer a respeito do resto do ano?

Oreng: Tudo isso, claro, é uma foto do primeiro trimestre. O problema são as coisas que aconteceram no segundo trimestre, e isso de fato tem implicações para o crescimento anual. No acumulado em quatro trimestres, que mostra uma tendência mais suave, o crescimento acumulado é de 1,3%, o melhor desempenho desde o segundo trimestre de 2014. A demanda doméstica está crescendo 1 2% Então de fato há uma recuperação doméstica está crescendo 1,2%. Então, de fato, há uma recuperação.  O mercado ficou muito otimista no fim do ano passado, quando elevou as projeções para a casa de 3%. Agora pode ser que o mercado exagere para o outro lado. E a minha visão está mais ou menos no meio do caminho, de que esta é uma recuperação gradual mesmo, de melhora aos poucos, com sinais claros. A questão é a velocidade.

Valor: O senhor não mudou a sua projeção quando houve o vazamento da gravação da conversa entre o presidente Michel Temer e o empresário Joesley Batista. Há alguns meses foi realizada uma onda de revisões para cima, mas o senhor também não mudou a sua projeção. Agora todo mundo está fazendo revisões para baixo. O senhor continua prevendo crescimento de 2,2% para este ano?

Oreng: Há dois pontos importantes. Um é o choque cambial. Eu já não estava muito otimista com os investimentos neste ano, calculava quase uma estabilização, um crescimento muito pequeno, com uma alta maior no ano que vem. Isso não mudou, mas houve o choque cambial e a deterioração das condições financeiras, que se somam à incerteza eleitoral, algo que já era um fator que pesaria sobre os investimentos. E agora tem essa piora das condições financeiras: câmbio mais depreciado, impactos no mercado [financeiro]. Isso chama a atenção das empresas e tende a apresentar efeitos sobre o crescimento.

Valor: E há a paralisação...

Oreng: Esse é o outro ponto. Aparentemente as coisas estão voltando a funcionar, de forma gradual. O impacto nos serviços tende a ser maior. Certos segmentos agropecuários conseguem recuperar boa parte do que foi perdido. Dependendo das condições de demanda, a indústria consegue fazer mais turnos, ao longo de semanas, meses. Mas os serviços, não, eles não são estocáveis. A pessoa não vai duas vezes ao restaurante que deixou de ir no fim de semana. A tendência é que isso tenha um impacto importante no segundo trimestre.

Valor: De quanto pode ser esse impacto?

Oreng: Não dá para ter uma ideia muito precisa, mas por enquanto calculo [negativo] 0,3 ou 0,4 ponto percentual (p.p.) para o crescimento. Então um PIB que cresceria 0,5% ou 0,6% no segundo trimestre iria para 0,2%. Isso contamina as expectativas para o ano. Somando piora de condições financeiras e paralisação, além de uma leve decepção no primeiro trimestre, estamos revisando a projeção do PIB em 0,6 p.p. para baixo. Estávamos com 2,2%, agora calculamos 1,6%, e os riscos estão levemente enviesados para baixo. O impacto da greve pode ser maior do que se imagina, as condições financeiras também podem piorar. O cenário eleitoral pode afetar a execução de investimentos. Mesmo para o consumo no terceiro trimestre, há riscos de baixa importantes. Não dá nem para descartar um PIB mais próximo de 1%. Acho mais fácil um PIB de 1% do que de 2%.

Valor: A que o sr. atribui a recuperação lenta? A eleição e a capacidade ociosa da economia estão atrapalhando a retomada?

Oreng: São dois fatores importantes, que pesam particularmente sobre os investimentos. De forma geral, a economia brasileira ainda está digerindo os efeitos da política econômica anterior. Naqueles anos, houve muita antecipação de demanda, com programas de estímulos. A greve dos caminhoneiros até ilustra isso. Foram feitos programas de estímulo para caminhões, e no fim a demanda não era toda aquela.

Valor: Isso derrubou o preço do frete...

Oreng: Exato. A mesma coisa serve, por exemplo, para a construção civil. O setor aparentemente não digeriu os excessos do passado, mas que também foram criados pela recessão. Então, há uma série de ajustes que a economia ainda está digerindo. É um processo lento mesmo. Saímos de uma recessão muito forte. Não é que todos os setores vão sofrer eternamente, mas alguns deles ainda sofrem e vão se recuperar de forma mais lenta. Tudo isso se soma à questão eleitoral e à capacidade ociosa, que, de certa forma, também é efeito da recessão.

Valor: O spread alto tem atrapalhado a retomada?

Oreng: Eu olharia mais pelo lado da oferta de crédito. No caso das pessoas físicas, houve uma boa desalavancagem. Mas isso não significa que há espaço para voltar aos mesmos níveis de endividamento de anos atrás, porque aquilo foi um pouco forçado, fruto de políticas de expansão creditícia promovida pelo governo. Certamente não voltaremos para aquele pico de endividamento. Um exemplo disso foi o do ano passado, quando houve o incentivo do FGTS. Parte daquilo foi para pagar dívida. De certa forma, até o consumidor também está evitando um endividamento maior. Então, não culparia os spreads bancários pela retomada gradual do consumo. Lembrando também que o mercado de trabalho está se recuperando de forma gradual.

Valor: E no caso das pessoas jurídicas?

Oreng: Nas pessoas jurídicas, há um processo ainda em curso de desalavancagem. Algumas empresas acessaram o mercado de capitais, explicando pelo menos parte da desaceleração do crédito para companhias. Mas ainda há companhias com questões de balanços, refletindo efeitos não econômicos. O spread é alto há muito tempo por questões estruturais. A política monetária está fazendo o que pode, o Banco Central já cortou bastante a taxa de juros para um patamar expansionista. Agora, o Banco Central está trabalhando para reduzir estruturalmente os spreads. Isso é um trabalho que precisa ser feito. Não estou dizendo que [reduzir] o spread não serve para nada. É importante. Mas isso não explica uma questão até cíclica. Eu vejo mais pelo lado de algumas dificuldades estruturais que a economia brasileira ainda está vivendo e alguns efeitos da recessão.

Valor: O sr. citou também o mercado de trabalho. Ele é causa dessa recuperação lenta, consequência ou um pouco dos dois?

Oreng: O mercado de trabalho é ao mesmo tempo causa e consequência, porque ele anda simultaneamente com a economia. Agora está em linha com a economia, com queda gradual do desemprego. O Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) mostra que a economia já está criando empregos formais, talvez não em um ritmo exuberante, mas passo a passo. A queda da inflação ajudou a aumentar o poder de compra, a massa salarial está crescendo, também não em um ritmo exuberante, em torno de 2% (na comparação anual). O emprego informal se recuperou antes do formal, o que de certa forma também tem implicações a respeito desse ritmo gradual do consumo. O formal dá mais confiança para a pessoa ir lá e gastar. Vejo o mercado de trabalho dentro desse contexto de recuperação gradual.

Valor: Dentro dessa nova projeção de alta de 1,6% para o PIB, o que pode aparecer como destaque?

Oreng: Há um ambiente razoável para o consumo. Tendo a achar que ele vai melhor do que o PIB neste ano, com crescimento de 2,7%. Pode ser que os investimentos cresçam mais do que o consumo. Mas o ponto é que o consumo será um fator mais importante para este ano, com uma contribuição maior do que a dos investimentos [em função da maior participação do consumo no PIB].

Valor: Por quê?

Oreng: Há essa recuperação gradual do mercado de trabalho, a renda está subindo. Isso tende a continuar. Existe incerteza em relação ao cenário fiscal, mas as empresas vão esperar, ninguém vai sair demitindo antes de ter uma visão muito clara do que vai acontecer. Ninguém tem interesse em fazer grandes contratações, mas a roda está girando. Há sinais positivos do consumo de certos bens. Os principais ventos contrários à economia neste ano batem mais nos investimentos do que no consumo. Se você está com o pátio meio vazio, vai esperar chegar a um nível de produção mais alto para começar a pensar em expansão. Tem a questão da eleição. Nos serviços, também. O sujeito não vai ampliar ou comprar mais restaurantes, ele vai esperar o que vai acontecer. Claro que o consumidor também olha para a frente, mas ele tem um pouquinho mais de espaço para um crédito, os juros estão mais baixos. Nos investimentos, você se compromete por mais tempo.

 

Economistas de candidatos à presidência falam sobre causas da fraqueza da atividade

Com a divulgação do resultado do PIB do primeiro trimestre, o Valor perguntou aos economistas responsáveis pela elaboração das propostas econômicas de cinco dos principais candidatos à Presidência o que explica a fraqueza da atividade e o que deve ser feito para impulsioná-la. Responderam Persio Arida, coordenador das propostas econômicas de Geraldo Alckmin (PSDB), Mauro Benevides Filho, responsável pelo programa econômico de Ciro Gomes (PDT), e Marcio Pochmann, um dos coordenadores do plano de governo de candidato do PT, que hoje o partido aponta como Luiz Inácio Lula da Silva. Preso em Curitiba, o ex-presidente não deverá poder disputar a eleição, por ter sido condenado em segunda instância. Paulo Guedes, que formula as propostas de Jair Bolsonaro (PSL), não respondeu.

Eduardo Giannetti, um dos coordenadores das propostas econômicas de Marina Silva (Rede), disse que o programa da candidata para essa área está "ainda em processo de definição". A seguir, as respostas de Arida, Benevides Filho e Pochmann.

Valor: O que explica a fraqueza da economia nos primeiros meses do ano? E o que deve ser feito para impulsionar a atividade nesse cenário de recuperação lenta?

Persio Arida:

Mudou a conjuntura internacional, com a elevação da taxa de juros dos EUA, a volta do protecionismo, o aumento dos preços internacionais de petróleo e o início de uma aversão ao risco de países emergentes. Além dos fatores externos, o insucesso na terceira tentativa de aprovar a reforma da Previdência e a desistência de privatizar a Eletrobras, acoplados ao risco de eleição de candidatos populistas ou aventureiros, terminaram por afetar as expectativas para o futuro, levando a um menor ritmo de contratações e menos investimento. Os desacertos do governo diante da greve aumentaram a incerteza e aumentaram o déficit público. Temos que enfrentar o problema fiscal, eliminando o déficit público e fazendo a reforma da Previdência, inclusive para tirar os privilégios do sistema de aposentadoria. Precisamos também incentivar a iniciativa privada e o empreendedorismo, desburocratizando a economia, reduzindo o custo Brasil, aumentando a segurança jurídica e fortalecendo o marco regulatório. O investimento terá que vir do setor privado e cabe ao governo criar o ambiente de negócios para estimular o aumento da produtividade. Temos que privatizar as estatais operacionais e fechar as outras, para que o Estado tenha como prioridades a educação, saúde e segurança pública. Temos que fazer uma reforma tributária que simplifique o sistema, criando um IVA para substituir ICMS, ISS, PIS, Cofins e IPI, e o torne socialmente mais justo, acabando com as isenções tributárias dos mais ricos. Temos que modernizar o país, acabando com subsídios e distorções e implementando a abertura econômico e financeira para integrar o Brasil no mundo. Parte fundamental do esforço de modernização é promover a igualdade de oportunidades através de mudanças no ensino básico e fundamental que ajudem efetivamente a integrar os menos favorecidos ao mercado de trabalho.

Mauro Benevides Filho:

O PIB do Brasil cresceu apenas 0,4% no primeiro trimestre de 2018 comparado com o último trimestre de 2017. Diversos fatores estão associados a essa lenta retomada. Dentre elas, pode-se citar o fato de que grande parte das empresas apresenta um expressivo endividamento, o que impõe a necessidade de manter ajustes e cortes em seus planos de investimentos. Isso está refletido no crescimento da formação bruta de capital fixo nesse período, de apenas 0,6% em relação ao trimestre anterior. Para além disso, mesmo com a redução significativa da taxa Selic, o mercado de crédito ainda não apresentou uma reação suficiente para provocar melhoria nas condições de financiamentos. Outro fator importante é o cenário de descontrole das contas públicas nos três níveis da federação, reduzindo também os investimentos públicos a níveis históricos. Isso é atestado pela queda do consumo do governo. Por fim, vale a pena ressaltar que a renda das famílias não tem crescido como o esperado, uma vez que a maioria dos empregos que estão sendo criados são informais, inibindo o consumo. Diante desse quadro, o Brasil terá grandes dificuldades para apresentar uma retomada mais vigorosa do crescimento, a não ser que se equacione principalmente a questão fiscal do Estado e o alívio no endividamento das famílias e empresas.

Marcio Pochmann:

A divulgação pelo IBGE do comportamento do PIB no primeiro trimestre de 2018 permite situar a economia brasileira após dois anos da mais grave recessão vivida pelo país. Mesmo que positiva, a variação do PIB não aponta, necessariamente, o sentido da recuperação econômica consistente, mas o de sua estagnação, resultante de certo equilíbrio entre ação governamental de estímulo e desestímulo à produção e ao emprego da força de trabalho. De um lado, a queda lenta e contida na taxa de juros que acompanhou a baixa da inflação não se mostrou suficiente tanto para desmotivar a preferência pela liquidez dos empresários como tornar mais relevante a taxa de retorno dos investimentos. Por isso, o crescimento possível depende da ocupação da capacidade ociosa por gastos das famílias ou pelas exportações, mas ambas sem expectativa de importante expansão. De outro lado, a baixa na desvalorização cambial tornou mais atrativa a retomada das importações, fazendo depender o gasto da família da estabilidade do custo de vida, uma vez que o nível de emprego contamina-se pelo avanço da precarização e o alto desemprego. A crescente instabilidade em relação ao futuro governamental permite identificar o quanto a mudança de pauta das reformas neoliberais para a de insegurança pública deslocou o tema da economia para a política nacional, desfazendo o inicial ciclo político que o banco central procurou fazer. O ano de 2018 parece estar perdido do ponto de vista da recuperação econômica, sobretudo se combinar a variação do PIB deste primeiro trimestre com os efeitos negativos gerados pela crise atual do desabastecimento de combustíveis. A superação do cenário de estagnação econômica passa pela recuperação da legitimidade e da credibilidade governamental, somente passível de resolução por meio da realização de eleições livres e democráticas. De todo o modo, o Brasil está carente de um plano de emergência que possa impulsionar o crescimento econômico, para além a ocupação da capacidade ociosa. Para tanto, o uso marginal de recursos alocados nas reservas externas para retomar obras paradas e motivar iniciativas nos governos estaduais e municipais poderia ser uma contribuição importante, ademais da difusão do crédito e o rebaixamento de seus custos.

 

O ESTADO DE SÃO PAULO

Para bancar ‘bolsa caminhoneiro’, governo corta até gastos sociais

Sem espaço para aumentar impostos, o governo cortou incentivos para setores da indústria para bancar os R$ 13,5 bilhões da “bolsa caminhoneiro”, destinados aos subsídios ao diesel. Desse total, R$ 4 bilhões virão com o aumento da arrecadação gerado pelo fim de programas de incentivos às empresas. Os R$ 9,5 bilhões restantes serão pagos com reservas financeiras do governo e corte de verbas para várias áreas, inclusive saúde, educação, moradia e saneamento básico. O governo também cancelou despesas de 40 obras em rodovias, além de patrulhamento.

Para compensar a redução dos tributos que incidem sobre o diesel, o governo extinguiu benefícios às indústria química e de bebidas, além de quase zerar incentivos dados a exportadores. Só com a redução do porcentual de 2% para 0,1% do programa que desonera empresas exportadoras, o Reintegra, o governo arrecadará R$ 2,27 bilhões neste ano.

A indústria de bebidas não terá mais benefício para produzir concentrado para refrigerantes na Zona Franca de Manaus e o setor químico perde o regime especial de impostos.</IP> Outras medidas afetam 39 setores que deixam de ter desoneração da folha de pagamento. Essas iniciativas geravam benefício tributário para esses setores em troca da promessa de mais empregos e aceleração da atividade.

As medidas provocaram reação. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, disse que o setor será penalizado de novo ao pagar essa conta.

Há, ainda, medidas para compensar o gasto de R$ 9,5 bilhões que a sociedade terá de pagar pelo subsídio às produtoras e importadoras do combustível até o fim do ano. Boa parte dessa conta virá de reservas financeiras do governo, que perderam R$ 6,2 bilhões. Esses recursos estavam previstos no Orçamento para eventualidades em vários órgãos, como na Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional.

A equipe econômica anunciou também o cancelamento de gastos do próprio governo, como recursos para reforçar o capital de estatais e despesas diretas de órgãos. Boa parte desse corte, que soma R$ 1,2 bilhão, já estava bloqueada, destacou o secretário de gestão do Ministério do Planejamento, Gleisson Rubin.

O Sistema Único de Saúde (SUS) deixará de receber R$ 135 milhões. A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) cobra mobilização social para reverter a decisão. Em nota, a associação ressalta que entre os cancelamentos estão recursos que iriam para o fortalecimento do SUS, políticas públicas contra as drogas e violência contra mulheres. Para o presidente da Abrasco, Gastão Wagner, a atitude do governo é lamentável. “É um equívoco.”

O chefe da assessoria especial do ministro da Fazenda, Marcos Mendes, fez forte defesa do novo sistema de subsídio. Para o técnico, a subvenção tem como objetivo suavizar preços em um “momento atípico” e criar previsibilidade no preço ao consumidor.

 

Pacote traz economia para contas de 2019

O pacote tributário para bancar o “bolsa caminhoneiro” – o subsídio ao preço do diesel que entrou em vigor ontem – vai garantir uma economia de R$ 16,23 bilhões para  as contas públicas em 2019. Isso porque  as medidas adotadas para compensar a queda de R$ 0,46 no preço do diesel nas refinarias, acordada entre o governo e os líderes dos caminhoneiros, terão efeito permanente. Com isso, o governo minimiza, em 2019,  parte do impacto negativo da greve dos caminhoneiros para as contas públicas.

Por outro lado, o efeito de queda na arrecadação de tributos ainda não foi dimensionado pela equipe econômica, mas já é esperado por causa  da parada de produção de muitos setores da economia.

A maior parte da economia em 2019 virá com a redução do Reintegra, subsídio que é dado para os exportadores de produtos manufaturados. O governo vai economizar R$ 10 bilhões em 2019 com a redução do benefício para 0,1%.

O projeto de reoneração da folha vai permitir uma economia adicional no ano que vem de R$ 3,6 bilhões. O aperto na tributação dos concentrados para refrigerantes produzidos na Zona Franca de Manaus vai render mais R$ 1,9 bilhão. E outros R$ 730 milhões virão da extinção do Reiq, programa de incentivo para a indústria química.

Reações.

Mal o governo anunciou as medidas fiscais, elas já provocaram reação. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disse ao site BR18 que não ficou satisfeito com a decisão do governo de vetar a redução da alíquota do PIS/Cofins para o óleo diesel. “Na minha opinião, a forma mais correta para reduzir R$ 0,46 no preço do diesel seria diminuindo a alíquota do PIS/Cofins”, disse.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, engrossou as críticas. Segundo ele, a indústria é o setor que vai pagar a conta das medidas tributárias anunciadas para bancar o diesel mais barato para os caminhoneiros. “O problema é que o governo está querendo pagar a conta do subsídio ao diesel tirando incentivos muito importantes para a indústria. E sempre ela que está sendo penalizada”, afirmou.

Andrade ressaltou que a indústria paga 32% dos impostos federais e chegou a sugerir que as medidas atingissem outros setores que pagam menos tributos, como a agricultura. “Temos alertado o governo. A CNI teve uma reunião hoje com o governo mostrando os prejuízos que a indústria teve. Isso (as medidas) vai piorar muito a situação das empresas que exportam", criticou.

A Abir, que reúne os fabricantes de bebidas não alcoólicas, informou, em nota,  que foi surpreendida pelo decreto e que a indústria terá impactos com a decisão. A entidade disse que está empenhada em negociar, com o objetivo de evitar prejuízos ao setor e a consequente redução da arrecadação federal.

Já o presidente da Associação Brasileira da indústria Química (Abiquim), Fernando Figueiredo, convocou para hoje uma reunião com as indústrias do setor para discutir quais os impactos na indústria, que movimenta US$ 120 bilhões por ano. Quando a presidente Dilma Rousseff ameaçou tirar o benefício, o setor entrou na Justiça. As indústrias vão decidir hoje se vão fazer o mesmo, segundo Figueiredo.

 

EXAME

Retomada “frágil, lenta e gradual” será atingida em cheio pela greve

Este é o diagnóstico feito por economistas a partir do Produto Interno Bruto (PIB) divulgado nesta quarta-feira (30) pelo IBGE e dos impactos da greve dos caminhoneiros.

O PIB do 1º trimestre cresceu 0,4% em relação ao anterior e 1,2% em relação ao mesmo período de 2017. Dentro das expectativas, mas que já haviam esfriado nas últimas semanas.

“O crescimento pós-recessão, em geral mais rápido, está lento e gradual. Tanto consumo quanto investimento, os dois principais motores, estão fracos. Estamos muito longe de recuperar tudo que perdemos”, diz Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV).

O consumo das famílias, responsável por 70% do PIB, cresceu pela quarta vez seguida na base anual.

É um reflexo de inflação baixa, queda dos juros e melhora do crédito, limitada pelo spread (diferença entre o custo de captação dos bancos e a taxa efetivamente cobrada ao consumidor final).

Mas houve desaceleração no trimestre, a recuperação do mercado de trabalho é muito tênue e segmentos importantes como a Construção seguem em queda.

“A demanda final vem desacelerando há três trimestres. Tirando a supersafra do começo de 2017, o resto continua bem devagar. Indústria e Serviços foram medíocres, com alta trimestral de apenas 0,1%”, diz Alberto Ramos, chefe de pesquisa macroeconômica para América Latina do Goldman Sachs.

O cenário internacional também ficou mais complicado recentemente com maior expectativa de altas de juros nos Estados Unidos, o que torna outros ativos menos atrativos em comparação. A MB verificou desaceleração do crescimento econômico em vários países no começo do ano.

Greve

O dado do 1º trimestre já nasceu velho, e a dúvida agora é sobre o impacto que a greve dos caminhoneiros terá do 2º trimestre em diante.

“A paralisação não gera apenas impactos de curto prazo – ao reduzir, na prática, o número de dias úteis no 2º tri –, mas também efeitos mais persistentes e deletérios no estado de ânimo dos agentes”, escreve Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores, em relatório.

Há efeitos direitos de perda de produção, calculados em R$ 50 bilhões até agora, de atividades não realizadas por causa da falta de transporte e de alta da inflação momentânea com o desabastecimento.

Mas também há efeitos indiretos de desvalorização do real e de empresas como a Petrobras, curva de juros mais acentuada e uma posição defensiva tanto de consumidores quanto de investidores.

“A greve ampliou muito a insegurança. O que aconteceu paralisa qualquer decisão e para o investimento é mortal, além de termos uma eleição ainda mais incerta”, diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.

Ninguém considera uma volta da recessão, e sim uma intensificação de um cenário de crise política que começou a se desenhar em maio do ano passado, com as evidências de corrupção do presidente Michel Temer.

Um governo fraco perde a capacidade de passar reformas e tem pouca legitimidade para gerir o conflito distributivo. Isso estimula grupos corporativos a buscar vantagens fatais diante do rombo fiscal.

“Quando se pega de um lado, se tira de outro. É complicado dar mais benefícios pois não há espaço no Orçamento mas a sociedade, pelo descrédito com a classe política, tem dificuldade de ver isso. A preocupação é com a sensação de soluções fáceis e saídas populistas”, diz Silvia.

 

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