Terça-feira

VALOR ECONÔMICO

"O Brasil está embalsamado", diz Paulo Delgado

No momento em que muito se fala de renovação, a greve dos caminhoneiros serviu para mostrar velhos políticos em ação, uma pauta carcomida e que parecia superada - a concessão de subsídios - e certo descompromisso com as normas legais, algo que os sociólogos classificam como anomia. O país não está preparado para a economia de mercado, escreveu uma publicação estrangeira. "O Brasil está embalsamado", sintetiza o sociólogo Paulo Delgado, ex-deputado pelo PT de Minas Gerais, hoje presidente do Conselho de Sociologia e Política da Fecomercio e coordenador nacional do Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee).

Delgado não aponta soluções definitivas. No Congresso, vigora, na sua opinião, o estatuto da gafieira - "quem está dentro não sai, quem está fora não entra". Para o ex-militante histórico do PT, a força da política é "tirar a revolta do povo e não agravá-la". E os políticos, testemunha, "estão em campanha e não fizeram nada para solucioná-la".

Ao contrário. Um candidato (Luiz Inácio Lula da Silva) faz campanha preso. "Há um componente atlético e uma escuridão na política que confunde o eleitor e aproxima os extremos." O sociólogo vê saída numa Constituinte, desde que exclusiva: "A Constituição virou uma peteca nas mãos do STF. E não vê solução no candidato espetacular, mágico: "O presidente tem que ser normal e previsível."

Sobram críticas ao gigantismo do Estado, que não consegue mais se financiar nem funcionar de modo a atender a população. O tráfico, na sua avaliação, funciona com mais agilidade. "Não existe o aviso cocaína disque 1, maconha disque 2, crack disque 3", ironiza. Abaixo, os principais trechos da entrevista concedida ao Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor:

Valor: O país atravessa uma de suas piores crises e a política não dá uma resposta. O que aconteceu com os nossos políticos?

Paulo Delgado: Se encapsularam negando até a lei da evolução das espécies. A lei eleitoral garante a autofecundação das oligarquias partidárias concentrando tempo de televisão e fundo partidário nos donos de legenda. Será a maior não renovação do Congresso desde os anos 80. Um estatuto da gafieira: quem está dentro não sai, quem está fora não entra. O presidencialismo de cooptação tornou o parlamento consanguíneo e hereditário.

Valor: A política está em baixa em todo o mundo.

Delgado: De maneira diferente em cada país. Onde há parlamentarismo há mais controle e eficácia. Nos Estados Unidos, o excêntrico [Donald] Trump é controverso, mas governa como um republicano. Na Itália, no entanto, a vitória dos políticos não políticos está um desastre, mas não é estática. A América Latina é que continua o ninho de cobra do presidencialismo.

 Valor: O que diferenciou a última greve dos caminhoneiros das anteriores?

Delgado: Embora decretada por organizações sindicais foi pilotada de forma descentralizada por líderes avulsos. Através do WhatsApp foram criados os grupos de ação, definidos os pontos de bloqueio, indicados os líderes da operação. Os caminhões são naves espaciais interconectadas, o caminhoneiro é um narrador natural que anda longe e tem mais o que contar do que os meios de comunicação. Em toda estrada tem líder, pelos mais diferentes motivos e lealdades locais, comunitárias. Quem confere sua liderança é a estrada. A política de frete e pedágios extorsivos aumentou a bronca. A insensibilidade monopolista da Petrobras compôs o enredo.

Valor: Pesquisas dizem que mais de 80% da população apoia a greve de caminhoneiros, apesar dos prejuízos para ela própria. Não é um paradoxo?

Delgado: Quem quis dar uma de líder foi logo desmoralizado. O rosto da greve é o diesel S-50/10 que deste outubro de 2016 tem seu preço definido pela Bolsa de Valores. A política de alinhamento a preços internacionais está errada. Os países-baleia, continentais como o Brasil, é que deveriam ser a referência. Entidades de classe alertaram ao governo da bomba-relógio armada. Do lado da Petrobras não havia líder também não. Uma alienação dos três monopólios: combustível estatal, matriz de transporte ultrapassada, império da rodovia. A greve acabou pela ação do Palácio, a identificação do locaute oportunista, o risco de convulsão por desabastecimento. Quanto ao prejuízo, seu horizonte é tão distante para o homem comum que ele realiza a dificuldade contando piada das peripécias sobre a corrida aos postos. Os militares usaram sua experiência em operações de paz. Quando encontraram a Polícia Militar de alguns Estados pegando carona na greve não quiseram confrontar, operaram como diplomatas da desobstrução. Demorou mais, mas me pareceu mais adequado do que a ação incisiva.

Valor: O senhor vem dizendo que os partidos trabalham com públicos quando a indignação é da sociedade de massa. O que fazer?

Delgado: O Brasil não devia ser um salão de baile onde cada um dança como quer. O diagnóstico do desregramento está feito e não temos tempo a perder. Nosso problema é interno, costumes ruins enraizados na dinâmica institucional que desequilibra a relação Estado-sociedade. Estamos numa encruzilhada. As profissões produtivas foram suplantadas por funções improdutivas de ofícios públicos que oneram a todos, a sociedade de favores. O contracheque humilhou a carteira de trabalho e os jovens estão adoecendo estudando para concurso público sem terem vocação pública.

Valor: Os candidatos ao Planalto responderam adequadamente à greve?

Delgado: Não estamos em guerra, estamos em crise. E a crise é do Estado muito forte, guloso, tributador impune, monopolista e concentrado em sua folha de pagamento e despesas correntes crescentes versus uma política fraca, um governo de transição ameaçado diariamente pelo canibalismo judicial e partidário. Por isso, se a energia dessa eleição continuar sendo a de querer abordar os problemas do país pelo lado da dependência individual e subordinação ao Estado teremos um outubro paralisante. A depreciação do político é fruto da sua dissolução no meio econômico, pendurado no Estado. A campanha é até secundária, importante é saber quem tem perfil e capacidade para, de fato, assumir a governabilidade do país. Até agora o que temos visto é papo de bajulador de eleitor. Acabou o tempo do candidato espetacular, mágico. O presidente tem que ser normal e previsível.

Valor: O presidente da Petrobras caiu. O Brasil não está preparado para as leis de mercado ou o governo é que está fraco?

Delgado: São coisas diferentes. [Pedro Parente] É um técnico reconhecido, mau gestor de emergência. Depois, prejuízo à sociedade não é considerado prejuízo no Brasil. O que prevalece é que cada um luta com seus próprios sentimentos. É certo que o interesse político não pode se sobrepor ao domínio técnico da questão, mas não é bom presidente de estatal que é cego diante da angústia de uma sociedade prisioneira de petróleo.

Valor: Nesse Brasil anômico como o senhor vê o fato de um candidato a presidente fazer campanha de dentro da cadeia?

Delgado: Mais um capítulo triste do desregramento geral. Todos estão fingindo que não estão vendo que o objetivo é deformar o entendimento do caso e desmoralizar a Justiça. Os visitadores usam as entrevistas para mandar recado eleitoral. A velha fixação publicitária de explicar como glória a contraglória. Só que, ao impedir que a realidade venha à tona, mais ampliam seu autoengano e tornam inútil seu partido. Este talvez seja o centro do diagnóstico de nosso tempo, não seremos uma sociedade livre se cada um puder criar o seu próprio contexto. Há muita gente que não está ligada à lei dos outros. Possuem suas próprias leis. Será que ninguém se dá conta de que se um líder político não aceita a coerção legal agir sobre ele, num país em que o crime é dirigido das penitenciárias, nada melhor para o mundo do Marcola do que um ex-presidente esculhambar o sistema penal aumentando a tolerância ao delito? Num mundo de plateias quem aplaude o erro também alarga a indolência diante da lei.

Valor: O surgimento de uma direita orgânica no Brasil, que lidera as pesquisas na ausência de Lula, é resultado do fracasso da esquerda no governo?

Delgado: Há um componente atlético e uma escuridão na política que confunde o eleitor e aproxima os extremos. O país não é uma cômoda em que um candidato acha que pode ir enfiando e tirando de suas gavetas o que quiser. Quando a crise é abertamente política, como é a atual, aumenta a força do tagarela e do superficial. Logo, logo, se quiser ter chance, terá que desacelerar e escrever uma carta aos brasileiros dizendo que entendeu. O Brasil não é de esquerda nem de direita. Somos social-democratas mambembes e autoritários, o que confunde os conceitos e os candidatos ligeiros.

Valor: Nessa situação, como evitar os extremos?

Delgado: Os espinhos da eleição cuidam disso. No parlamento o padrão do discurso e do voto da direita furiosa e da esquerda verbal é muito parecido. São estatistas, corporativos, gastadores, falam aos gritos e com o mesmo método de agir. A força da política é tirar a revolta do povo e não agravá-la. Tem uma saída: é certo que o afrouxamento moral dos últimos anos ampliou a crise da inteligência, mas como a contenção do dinheiro na campanha não permitirá comprar a eleição desta vez, essa é a eleição do eleitor livre. Só ele pode devolver a racionalidade à escolha. E espero que se dê conta que o pior candidato pode ser o melhor presidente.

Valor: O que é preciso fazer para restabelecer a autoridade das instituições no Brasil?

Delgado: Pé no chão. Falta talento de civilização às autoridades brasileiras. Olhando bem há menos arrogância numa reunião de prêmios Nobel do que no diálogo entre autoridades dos três Poderes. As instituições públicas impuseram seu monopólio sobre a gestão da sociedade para se autopreservarem. A vida é mais rica que o mundo oficial. A nação se move por fundamentos e hoje o Estado sufoca a criatividade da sociedade. O Brasil está embalsamado. A prioridade são as pessoas e sua vida, o contribuinte, não os interesses dos funcionários ricos do Estado. Nasceu no Estado uma classe alta escandalosamente privilegiada, um principado sem sentido.

Valor: Executivo e Congresso estão em crise, atropelados pela Lava-Jato. Mas o Judiciário também não está ajudando a tensionar a crise?

Delgado: A Constituição virou uma peteca nas mãos do Supremo, que tirou o caráter normativo do Direito e fez da interpretação da lei objeto de fruição pessoal. São maus costureiros, encheram o país de alfinetes. São as botas togadas do Estado, parecem gostar mais de triunfar do que julgar. Extravagância e exibicionismo moral não ficam bem na Justiça.

Valor: Está na hora de rever a Constituição?

Delgado: Há sim necessidade de simplificação constitucional, uma nova explanação, mas não vejo nenhuma centelha de sabedoria disponível. Se for para fazer outra tem que ser exclusiva, com deputados constituintes avulsos presentes. É justo que nem todos queiram ser representados por partidos.

Valor: O presidencialismo de coalizão se esgotou?

Delgado: A crise é o esgotamento da Constituição de 1988. O modelo político brasileiro atual, de 1985 a 2018, conhecido como "Nova República", com sua estranha combinação de estabilidade institucional precária e crises político-econômicas periódicas, chegou ao máximo de sua falta de virtude, e cai como folha seca. Produziu sete eleições presidenciais diretas com duas destituições de eleitos. É entender sua ruína que pode nos fazer encontrar uma saída melhor para o país. O Congresso está em frangalhos, o Executivo loteado e o Judiciário querendo ganhar com a confusão.

Valor: Chegamos ao ponto de a minoria comandar a maioria.

Delgado: Sempre foi assim, democracia é governo de minoria legítima. Onde o eleitor é amestrado nem sempre a eleição é capaz de formar bons governos. Porque eleição é um fato periódico onde a maioria do povo filtra, pelo voto livre, a minoria legítima que vai governar. Não é, pois, problema o mercado eleitoral ser volátil, fragmentado e autônomo. É da sua natureza. O eleitor não é o culpado pelo erro dos candidatos. Quem escolhe, registra e atesta a honorabilidade são os partidos, cartórios e o TSE [Tribunal Superior Eleitoral], o maior deles. Precisamos é de boas leis pois a eleição não é prova de honra. É pedir demais ao voto. Se um desonesto se eleger cabe à lei impedir que ele consiga ser ladrão.

Valor: Neste ano não é maior o desafio por causa das investigações de corrupção?

Delgado: Maior, o desafio é de reconstrução e simplificação com um eleitor historicamente desatento e pragmaticamente conservador. Ninguém dará ao brasileiro o que já não existe nele mesmo. Será uma eleição de escolha dura, e não de rejeição vulgar. Quem ganha uma eleição precisando governar contra o Estado? Como confiar na sinceridade se nenhum candidato está sob juramento? Existem bons candidatos, felizmente. Mas vai começar a hora da mentira e da manipulação. Quem está na frente vai começar a esconder o que é. Por isso acho que o melhor é desobedecer as estatísticas e votar "errado", contra as pesquisas. De que adianta estar na frente se você está na estrada errada?

Valor: A política fora dos partidos, a sociedade de massa que o senhor chama de nova oposição, não é muito anárquica?

Delgado: É um grande paradoxo. A tecnologia vai derrubar todos os cartórios. A internet nos libertou dos donos externos tradicionais, mas fez um curral em nossas cabeças. É o lugar ideal para a política da ira, o padrão de todo oposicionista brasileiro. Facebook, Google, Twitter, WhatsApp não são mais empresas de comunicação. São agências de incerteza, distração e velocidade que, com suas conexões, estão produzindo um cidadão novo, uma comunidade de públicos vociferantes e ativos. São mitos fortes contra a onipotência da política. Nem sempre é o melhor, concordo.

Valor: Explique melhor o que o senhor define como mitos fortes criados pelos movimentos fora da política: reclamação e fiscalização.

Delgado: É uma sociedade incivil. Para o brasileiro, reclamar e fiscalizar tem mais prestígio do que empregar e trabalhar. São milhares de plateias, essa sociedade de públicos e guetos que podem se encontrar inesperadamente como meteoros sobre a terra. A Europa acordou agora para a questão. A China, que tem 200 cidades com mais de 1 milhão de habitantes, não brinca em serviço, não deixa rede social surfar na cabeça do povo assim. Porque também sabe, por tradição e senso de dever com sua multidão de pessoas, que nenhum planeta novo tem o poder de alterar o horóscopo. O que falta ao Brasil é cultura do dever, coesão, propósito e um Estado menos alienado e fechado em si mesmo.

Valor: A nova oposição tem resposta para esses problemas?

Delgado: A maioria dos cidadãos está livre como um táxi. Pressiona com indiferença calculada o mundo dos partidos que não representam classes nem movimentos sociais reais. Seu papel é ampliar a fronteira da autonomia e desmoralizar a mentira eleitoral. Há centenas de grupos independentes de partidos debatendo o Brasil. Ninguém menospreza o que quer comprar, mas o preço da política vai ter que abaixar.

Valor: Até que ponto a questão fiscal é responsável pela ruína? O Rio não é um exemplo preocupante, onde quem manda é o narcotráfico, a milícia. as denominações evangélicas?

Delgado: Essa cultura da mão para a boca, sem poupança, déficit em conta corrente, sem previsibilidade e persistência é o conceito de prosperidade que predomina no Estado. É preciso mudar o sistema de funcionamento do poder simplificando a vida e a rotina do funcionário público. Quem quiser ficar rico deve sair do mundo dos três Poderes. Outra coisa é a burocracia. Os serviços de entrega do que é errado são mais eficientes do que os serviços públicos. Ninguém fica na fila para comprar droga ou se meter em corrupção. Não existe nada do tipo cocaína disque 1, maconha disque 2, crack disque 3, o traficante atrasou, não chegou, já saiu, deixe recado com uma das 15 secretárias, seu pedido ainda não foi analisado... Se para o mal tudo é rápido, para o bem a demora inutiliza seu valor. E há um escandaloso e lucrativo mercado dos pobres disputado por igrejas e partidos.

Valor: É possível apontar um responsável por essa situação de desgoverno total?

Delgado: Vários. Há muita hipocrisia no ar. Ninguém ousa admitir o que ganha com a desgraça dos outros. Nenhum governante deveria supor que a soberania simbólica da sua autoridade pressupõe a legalidade de qualquer dos seus atos. No Brasil, essa pretensão produziu a maioria das suas crises. Como pode um servidor público lucrar com aplicação de uma multa ou receber honorário de causa ganha pelo Estado? Auxílio-moradia para quem tem casa própria? É o fim do mundo. Do lado dos políticos é triste não compreenderem que são cedidos pela sociedade ao Estado. Ou seja, o bom político não está lotado no Estado, como um tijolo na parede.

 

Cenário eleitoral reforça pressão sobre os juros de longo prazo

O risco de candidatos fora do centro - Ciro Gomes e Jair Bolsonaro - se enfrentarem no segundo turno da eleição entrou claramente no radar dos investidores. Esse cenário, que ganhou ainda mais força com o episódio da greve dos caminhoneiros, explica a resistência dos juros de longo prazo em níveis elevados, mesmo com a intervenção do Tesouro Nacional e a trégua vista no exterior.

Destoando do comportamento dos demais ativos domésticos, que mostraram algum alívio na sessão desta segunda-feira, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 terminou a sessão em alta de 3 pontos-base, a 11,330%, enquanto o DI para janeiro de 2027 fechou a 11,730%, em alta de 4 pontos. São retornos atrativos, mas o cenário incerto provoca uma resistência para se montar apostas de longo prazo.

O mercado se depara hoje com uma quebra do roteiro com o qual vinha trabalhando até aqui. O que se esperava era que, no começo de junho, o pré- candidato do PSDB Geraldo Alckmin, considerado favorável a reformas, já estaria crescendo nas pesquisas eleitorais, enquanto Jair Bolsonaro teria encontrado um teto em seu desempenho. A esquerda, por sua vez, estaria completamente pulverizada.

O roteiro esperado era que, com a recuperação da economia, a inflação controlada e um maior apoio da sociedade para as reformas, seria eleito um candidato comprometido com a atual política econômica. Esse prognóstico justificou seguidos recordes do Ibovespa no começo do ano, ajudou a fortalecer o real e manteve os juros de longo prazo na casa de um dígito. O apoio da população à greve dos caminhoneiros, no entanto, escancarou outra realidade.

Há um descontentamento com a atual política econômica, que cresce à medida que a recuperação da atividade perde ímpeto. Esse quadro não apenas fortalece os candidatos com posições extremas como tira deles qualquer estímulo para defender essa política. Isso coloca em xeque o princípio de que qualquer candidato terá, necessariamente, que dar continuidade à defendida agenda de reformas. "A greve foi uma contestação da política econômica e, por isso, vir para o centro hoje não parece uma boa estratégia", afirma o gestor de um grande fundo, que prefere não ser identificado.

Profissionais de mercado tentam quantificar esses riscos, mas esse é um desafio complexo. O que parece certo é que o cenário mais negativo ainda não foi completamente captado pelos preços - o que significa que o potencial de piora ainda é elevado. Em relatório, o economista-chefe do Rabobank Brasil, Maurício Oreng, calcula que o dólar poderia bater em R$ 5,25 no cenário mais extremo, em que a eleição seria tomada por um discurso contrário a reformas e políticas de austeridade.

A piora do ambiente de negócios também p o a do a b e te de egóc os ta bé se traduziria numa disparada do custo do CDS do Brasil - uma espécie de seguro contra calotes - para níveis que não são vistos desde 2015, próximos de 500 pontos-base. Ainda assim, Oreng trabalha com cenário-base de eleição de um reformista, que levaria o dólar para R$ 3,40 e a taxa do CDS para 150 pontobase no fim do ano.

Outro profissional de mercado, também em condição de anonimato, estima que hoje a probabilidade de Ciro e Bolsonaro se enfrentarem num segundo turno é de 35%. Ele fez projeções de quanto deveriam valer os ativos nos diferentes cenários: a vitória de Ciro levaria o dólar para perto dos R$ 5,00, o Ibovespa cairia para 65 mil pontos e o juro de longo prazo (janeiro de 2027) iria para 13%.

Já com Bolsonaro, o dólar subiria para perto de R$ 4,00, o Ibovespa valeria 70 mil pontos, enquanto o juro longo ficaria perto dos níveis atuais, a 11%. Já a vitória de Alckmin poderia colocar o dólar em R$ 3,00, o Ibovespa em 120 mil pontos e o juro longo em 9%. A perspectiva de que Ciro adotaria políticas mais heterodoxas explica o impacto negativo previsto para uma eventual vitória do pré-candidato do PDT.

Sobre Bolsonaro, há uma visão de que sua aproximação com o economista Paulo Guedes possa assegurar uma agenda mínima que atenda aos anseios do mercado. "Hoje, o mercado vê Bolsonaro como uma incógnita e Ciro, como uma certeza [de política heterodoxa]", afirma a fonte.

 

Private equity tem R$ 30 bi para investir no país

Entre novos fundos e outros já captados que ainda não esgotaram o caixa, gestoras de private equity têm R$ 30 bilhões disponíveis para investimentos no Brasil. A conta é da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap). Apenas no ano passado, o volume de novas captações nesse setor foi de R$ 5 bilhões, sendo R$ 4,4 bilhões em fundos de private equity e o restante em venture capital. Isso não contabiliza fundos globais e de infraestrutura.

"Incluindo esses fundos, minha estimativa é que o volume captado seja o dobro", diz Piero Minardi, presidente da Abvcap e diretor da gestora Warburg Pincus no Brasil. Em 2016, as captações tinham somado pouco mais de R$ 2 bilhões. O aumento de captações se explica pela retomada econômica brasileira, segundo as gestoras, mas também coincide com um período recorde de desinvestimentos dos fundos no Brasil e com um aumento dos investimentos novos. Isso porque quanto mais vendem o que tem em carteira, os fundos buscam recompor suas carteiras com novos investimentos e, se já estão na fase final dos fundos e retornando capital aos investidores, entram em nova fase de captação.

Esse volume de desinvestimentos de fundos de private equity no ano passado foi de R$ 9,8 bilhões, o maior da história, segundo a Abvcap. Desde 2011, o volume total de ativos vendidos pelos fundos foi de R$ 40,5 bilhões. A reabertura do mercado de ações no ano passado acelerou o movimento de saída de alguns fundos. "Dos nove IPOs da B3, seis eram empresas com participação de private equity", destaca Minardi.

Já o total de investimentos de fundos de participação somou R$ 15,2 bilhões no ano passado, ante R$ 11,3 bilhões em 2016. Desse total, R$ 14,3 bilhões em private equity e R$ 900 milhões em venture capital, investidos em 175 empresas. Aproximadamente 90% dos recursos para fundos de private equity no Brasil vêm de estrangeiros.

Por isso, as gestoras têm se organizado para conduzir tratativas com a Receita Federal e com o Ministério da Fazenda sobre a identificação do investidor original em seus fundos. As gestoras têm recebido autuações da Receita quando falham em comprovar que seus investidores são de fato estrangeiros - e, portanto, isentos de imposto sobre ganho de capital. "Em fase de captação, esses investidores começam a questionar esse risco [de multa]", afirma Fernando Borges, que comanda o Carlyle no Brasil. Representantes da Abvcap devem se reunir com o chefe da Receita Federal, Jorge Rachid, nas próximas semanas para tratar do assunto.

 

Crédito garantido atrelado a câmbio cresce

Quase 70% das operações de crédito garantidas pelo Tesouro Nacional estão atreladas à taxa de câmbio. No primeiro quadrimestre deste ano, o saldo devedor das garantias concedidas a operações de crédito somaram R$ 239,523 bilhões, sendo que a maior parte, R$ 158,846 bilhões (66,3%), é vinculada à variação cambial.

O saldo total subiu em relação ao último quadrimestre do ano passado devido à forte desvalorização do real. Antes, o saldo era de R$ 233,3 bilhões, sendo R$ 151,3 bilhões (64,8%) atrelados ao dólar. A preocupação do governo é que, com o aumento da dívida indexada ao câmbio, o risco de calote pelos beneficiários como Estados, municípios, estatais federais, bancos federais e entidades controladas também possa crescer.

O coordenador-geral de controle de pagamento da dívida, André Proite, ponderou, no entanto, que o risco da desvalorização do real está sendo acompanhado e já foi incorporado aos cenários do Plano Anual de Financiamento (PAF) da dívida. Segundo Proite, a incorporação de novas informações ao relatório de garantias concedidas pelo Tesouro pode ajudar reduzir prejuízo para o governo, diante do cenário que terá mais informações para avaliação da situação de endividamento dos Estados.

O relatório do Tesouro mostra que 8,2% do saldo devedor das operações de créditos garantidas vencerão em até 12 meses. O grosso dos vencimentos (59,1%) tem um prazo superior a cinco anos. O Estado com maior volume de crédito com garantia da União é o Rio de Janeiro, que faz parte do Regime de Recuperação Fiscal (RRF), com R$ 35,594 bilhões. Em seguida, aparece São Paulo com uma dívida garantida de R$ 28,2 bilhões e Minas Gerais com R$ 21,641 bilhões. Em 2018, até o dia 30 de abril, o Tesouro teve que desembolsar R$ 770 milhões por empréstimos que não foram pagos, sendo R$ 743,51 milhões para honrar dívida do governo do Estado do Rio.

 

O ESTADO DE SÃO PAULO

Para Moody's, principal desafio do Brasil é dinâmica fiscal

Nos últimos meses, diversos países de mercados emergentes, incluindo vários na América Latina, registraram desvalorizações cambiais e um declínio nas reservas cambiais. A agência de classificação de risco Moody's atribui esses movimentos ao aperto da política monetária pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e aos desequilíbrios macroeconômicos específicos de cada país, o que acabou afetando os fluxos de capital para os mercados emergentes. Em relação ao Brasil, a Moody's acredita que, embora o País tenha sofrido pressões cambiais nos últimos meses, "a principal vulnerabilidade de crédito é a doméstica, relacionada à dinâmica fiscal desafiadora".

"Na medida em que as flutuações cambiais são impulsionadas por saídas de capital - ou entradas significativamente mais baixas - elas são negativas em termos de crédito para países com grandes necessidades externas de financiamento", disse o analista Renzo Merino, da Moody's. Para ele, "embora as condições atuais não coloquem pressão negativa sobre o crédito da maioria dos soberanos na América Latina, vimos pressões significativas em particular para a Argentina".

Para a agência, a desvalorização do peso argentino foi um resultado da reação adversa do mercado à decisão das autoridades de aliviar as metas de inflação no fim do ano passado e de um imposto sobre ganhos de capital sobre as participações estrangeiras de instrumentos de dívida denominados em pesos que entrou em vigor em abril. "Além disso, o perfil de crédito da Argentina incorpora fraquezas macroeconômicas subjacentes, incluindo a presença de grandes déficits em conta fiscal e inflação persistentemente alta", afirmou a Moody's.

A agência disse, ainda, que, embora menos vulneráveis do que a Argentina, a Costa Rica, o Chile e o Paraguai "se destacam por suas grandes necessidades de financiamento externo em relações às reservas". Já a presença de fatores mitigantes no Chile, como fluxo estável de receita em moeda estrangeira, e no Paraguai, como superávits em conta corrente que contribuem para a acumulação de reservas, "limitam os riscos de crédito nesses países".

 

EXAME

Inflação em alta, PIB em baixa: os efeitos da greve na economia

O fantasma da greve segue à espreita, pelo menos em grupos de WhatsApp Brasil afora. Uma nova paralisação de caminhoneiros, supostamente marcada para hoje, não passa de “fake news”, segundo o governo. Seja como for, a greve dos últimos dias deve deixar marcas indeléveis na economia brasileira, como devem mostrar resultados a serem divulgados a partir desta semana.

Segundo relatório do banco Morgan Stanley os primeiros efeitos devem ser vistos na sexta-feira, quando o governo divulga o IPCA de maio, que deve começar a mostrar o impacto do aumento dos combustíveis e de outros produtos na inflação. Os principais efeitos, para o banco, devem vir mesmo nos resultados futuros.

“Em virtude da extrema dependência de caminhões para a logística do Brasil, a greve terá impactos diretos nos números macroeconômicos de maio e junho, especialmente no crescimento e na inflação”, afirma o relatório assinado por Arthur Carvalho. “Podem haver efeitos mais duradouros na confiança, o que pode impactar principalmente o crescimento, e levar mais incerteza às eleições”.

Um exemplo de como a greve pode afetar a economia brasileira, segundo o Morgan Stanley, está na Colômbia, onde uma greve de caminhoneiros se alongou por um mês e meio em 2016. Por lá, o movimento derrubou de imediato a produção industrial do país e fez a inflação disparar no mês seguinte, de cerca de 3% para a casa dos 8% na base anual. O mesmo pode acontecer no Brasil, sobretudo em produtos frescos, segundo o Morgan Stanley. Ainda assim, o índice deve ser normalizar no segundo semestre, sem grandes alterações na inflação final de 2018.

O impacto econômico, por sua vez, deve ser mais duradouro. Os cálculos iniciais do banco preveem uma perda de até 0,3 ponto percentual no PIB anual por um misto de efeitos concretos e de incertezas no longo prazo. O concreto é preocupante: segundo a empresa de pagamentos Cielo, a queda total no varejo chegou a 28% no final de maio, mesmo com uma alta de 54% nos supermercados em virtude da preocupação dos consumidores com a falta de produtos. O longo prazo vai depender da queda na confiança.

Os números do primeiro trimestre, vale lembrar, já não foram animadores, com crescimento do PIB de apenas 0,4% e queda de 0,6% nos investimentos, na comparação com o trimestre anterior. Economistas já afirmam que o crescimento econômico para o ano, antes previsto para a casa dos 3%, pode ficar em apenas 1,5%. A greve durou longos dez dias; seus efeitos, infelizmente, continuarão a ser vistos ao longo de 2018.

 

 

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