Terça-feira

VALOR ECONÔMICO

Mercado prevê inflação menor e crescimento de 1,5% para PIB em 2018

A mediana das projeções dos economistas do mercado para a inflação oficial em 2018 saiu de 4,15% para 4,11%, segundo a pesquisa semanal Focus, do Banco Central (BC), divulgada nesta segunda-feira. É a segunda queda consecutiva, depois de oito semanas seguidas de alta. Para 2019, as expectativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) se mantiveram em 4,10%, patamar em que está já há seis semanas agora.

Para os próximos 12 meses, a estimativa teve seu nono corte consecutivo, de 3,77% para 3,70%. Entre os economistas que mais acertam as previsões, os chamados Top 5, de médio prazo, a mediana para a inflação de 2018 foi de 4,10% para 4,09% e seguiu em 4,06% no caso de 2019.

Na sexta-feira passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o IPCA-15, uma prévia do IPCA do mês, desacelerou de 1,11% em junho para 0,64% em julho e ficou abaixo das projeções coletadas pelo Valor Data. Em 12 meses, contudo, a inflação acumulada saiu de 3,68% em junho para 4,53% no mês seguinte.

No caso da atividade econômica, os economistas consultadas pelo BC projetam expansão de 1,50% em 2018 e de 2,50% em 2019, sem mudança. Taxa de juro No Focus, as medianas das estimativas para a taxa básica de juros não sofreram alterações entre os economistas em geral: permaneceram em 6,50% no fim deste ano e em 8% no próximo calendário. Entre os economistas Top 5 de médio prazo, a previsão para a Selic no encerramento de 2018 permaneceu em 6,50%, mas recuou de 7,75% para 7,63% no fechamento de 2019.

Câmbio

Os economistas do mercado decidiram elevar suas apostas para o dólar no fim de 2019 pela segunda semana consecutiva, de R$ 3,68 para R$ 3,70. A cotação é a mesma que a estimada para o fim de 2018, patamar em que está há quatro semanas agora. Considerando os economistas Top 5, de médio prazo, a projeção para o dólar em 2019 foi de R$ 3,63 para R$ 3,65 entre uma pesquisa Focus e outra. Para este ano, a expectativa continuou em R$ 3,55.

 

Pessimismo é 'complexo de vira-lata', diz Lopes

Ex-presidente do Banco Central e dono da consultoria Macrométrica, Francisco Lopes, de 75 anos, enxerga pessimismo exagerado do mercado sobre o desempenho da economia neste ano, o que chamou de "complexo de vira-lata", além de otimismo exagerado sobre a inflação, que prevê estourar o teto da meta e chegar a 7% em meados do ano que vem, num movimento que batizou de "corcova".

Mineiro de Belo Horizonte, o economista formado pela UFRJ e pós-graduado pela Universidade de Harvard, defende que o próximo presidente vai encontrar a economia brasileira numa posição "extremamente favorável" - com teto dos gastos públicos, âncora monetária em operação, elevadas reservas cambiais, superávit em transações correntes e uma economia que estará crescendo perto de 3%. "Mesmo a inflação, que vai subir e fazer a corcova, deverá recuar na sequência", disse Lopes, frisando que o cenário prevê um presidente eleito "não disruptivo".

"Fico nervoso quando vejo alguns pré-candidatos querendo abolir o teto dos gastos e quando economistas respeitáveis de pré-candidatos dizem coisa do tipo: o teto dos gastos é 'um pouco promessa de alcoólatra'", disse, numa referência à entrevista dos economistas Eduardo Giannetti da Fonseca e André Lara Resende, assessores de Marina Silva, pré-candidata à Presidência do Rede. Lopes recebeu o Valor em Copacabana, no Rio, no apartamento em que mora há décadas, em frente à favela do Pavão-Pavãozinho.

Nos aparadores da sala de dois ambientes e piso de tábuas corridas estão as fotos dos filhos e netos - o mais novo deles tem dois anos e meio. É no imóvel que o economista, que se define como "meio aposentado", dedica-se, sobretudo de quarta-feira domingo, à produção de cenários e boletins da Macrométrica, consultoria por ele criada em 1984. Não revela nomes de clientes, mas reconhece que a crise varreu dois terços da receita.

Seu objetivo, ele diz, é traçar cenários realistas, baseados em modelo econométrico, e não participar de concursos de projeção. Para Lopes, a greve dos caminhoneiros, ocorrida em maio, afetou as expectativas para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, principalmente por meio do setor de serviços.

Ele sugere que a indústria, porém, mostra recuperação, além de ter antecipado a produção em abril, por alguma "informação privilegiada", diz, em tom jocoso. Suas projeções mais recentes indicam avanço de 1,7% do PIB em 2018 e de 2,8% no ano que vem.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.

Valor: O senhor escreveu aos clientes que o mercado está muito pessimista em relação ao PIB. O que o sr. vê de diferente?

Francisco Lopes: Precisamos de uma postura realista, mas temos que evitar excesso de pessimismo. Nossa economia tem aspectos muito favoráveis, de médio e longo prazos. Existe uma tendência entre alguns economistas e na imprensa de certo "complexo de vira-lata", que precisamos evitar. Tivemos uma recessão muito severa, mas claramente o nível da atividade está se recuperando. Quando falamos de crescimento da economia, o convencional é olharmos a produção total de um ano e compará-la à produção total do ano anterior. Por esse comparativo, na minha projeção, o crescimento anual do PIB em 2018 vai ser de 1,7% a 1,8%. Mas essa é uma medida imperfeita do que está ocorrendo na economia em determinado ano. No quarto trimestre de 2018, o país estará crescendo 2,5% na comparação ao quarto trimestre do ano passado. Ao que tudo indica, a economia vai crescer, a partir daí, 3% ao ano. É algo muito bom, dado o potencial da economia brasileira. Isso significa, em termos de crescimento per capita, um aumento de 2,5% ao ano, o que permitiria dobrar a renda per capita em 25 anos.

Valor: A que o sr. atribui esse pessimismo do mercado?

Lopes: À falta de informação. A greve dos caminhoneiros foi um evento muito anormal. A paralisação foi resultado de um erro enorme da Petrobras, que deveria ter sido mais cuidadosa com a fixação de preços. É uma empresa grande, com quase o monopólio do mercado, e não pode olhar só para o acionista. Ela não percebeu o problema criado para os caminhoneiros independentes. A greve gerou um problema de oferta na economia, e os números assustaram muita gente. Uma das consequências foi a queda no nível de produção em maio. O PIB de transportes teve perdas que não serão recuperadas. O transporte que não foi feito meio que sumiu. Por outro lado, começamos a ver forte recomposição na indústria, após a queda de mais de 10% da produção. O setor produziu mais em junho e julho para recompor os estoques usados durante a greve para atender à demanda. Além disso, parece que a indústria antecipou que haveria a greve dos caminhoneiros: a atividade do setor em abril foi acima do normal, como se tivesse tido uma "informação privilegiada". Seria natural, a indústria conversa com sindicatos. Ou seja, houve um impacto pontual, de problema de oferta. Isso me leva a crer que podemos estar mais próximos de um crescimento de 2% do que de 1,5% na média deste ano.

Valor: Qual sua tese para o crescimento da economia brasileira nos próximos anos?

Lopes: A posição atual da economia é extremamente favorável. Isso porque o teto do gasto vai operar, a âncora monetária está operando, temos um monte de reservas, superávit em transações correntes. As condições iniciais do próximo presidente vão ser extremamente favoráveis. Então, é muito fácil não errar. O PIB agropecuário vai continuar muito forte em 2019 e crescer 7,2%. O setor exportador também será extremamente dinâmico. Caminhamos para um superávit comercial de US$ 80 bilhões neste ano e acima de US$ 90 bilhões em 2019. Isso significa que a economia poderá fazer um superávit em transações correntes próximo de 1% do PIB em 2019. Depois, o superávit vai cair, porque a taxa de câmbio vai recuar com a passagem da eleição e os números extremamente favoráveis de crescimento. O real deve voltar a se apreciar e fechar este ano em R$ 3,70 e o próximo ano em R$ 3,40, a menos que eleição presidencial gere resultado disruptivo, chance que considero pequena. Com isso, vamos crescer 2,8% na média de 2019.

Valor: O sr. também acredita, por outro lado, que os economistas estão otimistas demais em relação à inflação. Por quê?

Lopes: O mercado está incrivelmente otimista em relação à inflação de curto prazo. Eu trabalho com modelo econométrico, então, minha projeção é baseada em dados. O meu modelo prevê o que eu chamo de uma corcova inflacionária. Pela taxa acumulada de 12 meses, o pico será por volta de maio de 2019, quando a inflação estará perto de 7%. Valor: O que isso vai refletir? Lopes: São choques já contratados. É o caso do item energia elétrica no IPCA, que está com alta observada de 19%, por causa das bandeiras tarifárias e uso de termelétricas Então o grupo Habitação vai embora Ele já está com quase 7% em junho, pelo acumulado em 12 meses. Algo semelhante acontece nos combustíveis. O item combustíveis no IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo) está com alta superior a 30%, resultado do câmbio e do preço internacional do petróleo. Então, esse choque está embutido. E também tem o efeito da greve, principalmente em alimentos. Essa combinação torna inevitável que a inflação acelere. Em meados do ano que vem, a taxa de inflação de 12 meses está próxima de 6% a 7%. Mas, como eu acho que a taxa de câmbio vai retroceder de forma gradual, vai haver um efeito corcova. A inflação deve fechar 2018 em 6,4% e 2019 em 4,3%.

Valor: Isso colocaria a inflação acima do teto da meta este ano. O que isso significa em termos de condução da política monetária?

Lopes: Pode ser que estoure o teto. Estou acima de 6%. A minha projeção é econométrica, então, claro, muitos fatores podem transformar essa projeção em um exagero. Mas posso afirmar que estamos começando uma corcova. E o Banco Central (BC), mantendo a disciplina da meta de inflação, vai aumentar a taxa Selic. Então, acho que vamos ter juros básicos em 8% em abril do ano que vem. Curiosamente, isso está fora das projeções do mercado. Torço para estar errado. Mas é algo que não me preocupa tanto em termos de médio e longo prazos. O fundamental não é que a taxa de juros permaneça baixa. Acho que podemos alcançar isso de novo lá para frente, em 2020 e 2021. O importante é que a âncora monetária esteja operacional.

Valor: Diante desse cenário, a redução da meta de inflação foi decisão acertada?

Lopes: Estou mais pessimista sobre inflação no curto prazo, mas no médio e no longo prazo, continuo otimista. A mudança foi gradual e acertada. Ficamos abaixo da meta no ano passado. E quando as projeções apontam para uma inflação abaixo da meta, é sinal de que a meta está um pouco elevada. Então, foi perfeito. A política monetária é uma das razões do meu otimismo de médio e longo prazos com o país. Construímos um Banco Central que é operacionalmente independente e poderíamos formalizar isso através de um mandato. O Brasil também conseguiu uma âncora fiscal, que foi a emenda constitucional 95, que criou o teto dos gastos. É uma regra de ajuste fiscal em função do crescimento. Ou seja, vamos ajustar crescendo, sem precisar cortar gastos. É uma ideia brilhante.

Valor: Recentemente vimos pré-candidatos e seus assessores econômicos defendendo a inviabilidade do teto dos gastos. Isso preocupa?

Lopes: Eu fico preocupado porque vejo alguns dos pré-candidatos apresentando soluções pouco convencionais. Por exemplo, vi um précandidato dizendo que quer usar reservas internacionais para financiar a indústria, o que é uma idiotice total. Assusta quando políticos resolvem achar que entendem de economia. Fico nervoso quando vejo alguns pré-candidatos querendo abolir o teto dos gastos e quando economistas respeitáveis de précandidatos dizem coisa do tipo: o teto dos gastos é "um pouco promessa de alcoólatra". É algo meio poético. Tem gente se referindo ao teto de gastos como "excêntrico", medida "excessiva" ou "inexequível". Isso acho muito ruim. Nesse processo político, economistas não defenderem essa medida é muito ruim, porque é a âncora fiscal que faltava.

Valor: Mas sem a reforma da Previdência, o teto não fica inviabilizado?

Lopes: Quando o então ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, desenhou o teto dos gastos, ele fez algo que a rigor não seria justificável, que foi colocar o teto sobre um item de despesas que ele não controla diretamente, como no caso dos benefícios do INSS. Isso criou um problema. Os benefícios do INSS são 45% das despesas totais do governo central. Acho que até políticos do PT concordam que a Previdência precisa ser reformada a longo prazo, dada a mudança do perfil demográfico. É razoável, então, a gente apostar que alguma Reforma da Previdência será feita. O que não está claro é se essa reforma para a qual existe consenso é suficiente para cobrir o problema fiscal. Mas não vai ser aquela que o Meirelles pensou que encaixava a Previdência dentro do teto do gasto.

Valor: Num cenário em que não avança na reforma da Previdência, o que é possível fazer para preservar o teto dos gastos?

Lopes: Sem avançar nada na reforma da Previdência, o que acho pouco provável, o que é possível fazer é uma alteração na emenda constitucional, a única alteração permitida. No texto da emenda, a saída seria incluir que, para o caso do poder Executivo, o limite individualizado para despesas primárias se aplica ao total das despesas excluindo os benefícios do INSS. E a trajetória do teto seria então recalculada excluindo os benefícios do INSS e tomando como base o ano anterior à essa pequena alteração na Emenda Constitucional. A partir daí, a emenda do teto vai permitir que gastos obrigatórios, que inclui salários e aposentadorias públicas, e os discricionários possam crescer juntos com a inflação. Essa poderia, inclusive, ter sido a definição original. Mesmo se tivesse sido assim desde o início, a emenda do teto funcionaria no longo prazo, mas com efeito mais lento, e não teríamos o incentivo a mais que existe hoje para a reforma da Previdência. Mas a reforma não deveria ser determinada pelo ajuste fiscal, mas sim pela consistência de longo prazo. Dívida pública envolve uma redistribuição de renda entre gerações. Quando faço dívida pública, estou taxando meus descendentes, netos e bisnetos, que pagarão impostos para financiar o meu consumo. E, infelizmente, os meus descendentes não têm representação parlamentar. Falta este partido político, o partido do futuro.

Valor: O sr. tem simpatia por algum dos candidatos?

Lopes: Quer que eu declare voto? [risos] Existe a tendência de as pessoas politicamente corretas quererem ser de centro. Mas eu acho que os candidatos de centro, ou chamados de centro, parecem pouco viáveis nessa eleição. E acho que isso tem a ver com a questão da ética, moralidade e da corrupção. As forças políticas de centro, na minha opinião, não tomaram uma posição muito clara anticorrupção. Isso, na minha opinião, afeta o sucesso eleitoral delas. Já os nomes dos candidatos disruptivos estão bem claros, eu acho. São candidatos que acham que entendem de economia e que acham que tem propostas inovadoras. São um risco grande. Não preciso dar nomes. Acho que é importante entender que, mesmo que um candidato do centro não ganhe a eleição presidencial, o centro certamente ganhará uma maioria parlamentar. Então, por exemplo, acho fundamental que economistas do centro se coloquem como defensores fortes do teto dos gastos, com a mesma intensidade que eles estão dispostos a defender a âncora monetária. Nossa estabilidade é baseada em fundamentos: o razoável grau de não interferência do governo na economia, o câmbio flutuante, o Banco Central. E tudo isso pode ser desfeito com uma canetada.

Valor: O sr. está atualmente dedicado exclusivamente à Macrométrica?

Lopes: Hoje estou meio aposentado e tenho poucos clientes. Perdi infelizmente muitos clientes da área de siderurgia, com a recessão. Perdi dois terços da receita. Acho que isso vale para todo mundo. Minha consultoria é centrada num relatório semanal. Temos esse modelo econométrico de grande porte, com mais de 300 variáveis, atualizado semanalmente. O trabalho não é baseada em projeções, mas em fazer um cenário plausível. Eu não participo de concurso de projeção. Também trabalho muito na "nuvem", já que a minha consultoria tem forte utilização de softwares. E boa parte do meu trabalho está automatizada. Tenho o banco de dados Macrodados, que também é comercializado para clientes, que facilita tremendamente o meu trabalho.

 

 

FOLHA DE SÃO PAULO

FMI reduz para 1,8% previsão de crescimento do Brasil em 2018

Atribuindo a decisão à paralisação dos caminhoneiros e à piora das condições econômicas globais, o FMI (Fundo Monetário Internacional) revisou para baixo, nesta segunda-feira (23), a previsão de crescimento do Brasil em 2018.

A estimativa, agora, é que o país cresça 1,8% neste ano —antes, esse número era de 2,3%.

O anúncio interrompe uma melhora nas perspectivas da economia brasileira, segundo o Fundo: desde o ano passado, o órgão vinha revisando suas previsões para o país para cima, saindo de uma expectativa inicial de 1,5% e chegando a 2,3% três meses atrás.

O diretor do FMI para as Américas, Alejandro Werner, afirmou que a paralisação dos caminhoneiros, em maio, que durou cerca de dez dias, foi um fator “muito importante” nessa revisão.

Também pesou a incerteza das eleições presidenciais –cujo resultado ainda pode alterar as previsões de crescimento para baixo.

O FMI voltou a destacar a necessidade de uma reforma da Previdência no Brasil, considerada “uma medida fundamental” rumo ao equilíbrio fiscal.

Mas Werner afirmou que o país deve manter seu ritmo de crescimento moderado, puxado pelo consumo e pelo investimento privados. Para 2019, o fundo manteve a previsão de 2,5% de crescimento.

O economista ponderou que a recuperação econômica na América Latina tem sido mais difícil para alguns países.

“Pressões do mercado em nível global foram amplificadas por vulnerabilidades específicas”, afirmou, citando as tensões no comércio internacional após a introdução de tarifas pelos EUA e condições financeiras mais restritivas.

A previsão de crescimento para a região também caiu, de 2% para 1,6%, em comparação a abril.

Na última semana, a equipe econômica do governo Temer confirmou que a projeção para o PIB foi revisada de uma alta de 2,5% para 1,6% neste ano, por causa da paralisação dos caminhoneiros.

A deterioração de expectativas também fez o Ministério da Fazenda cortar a previsão para a expansão da atividade em 2019 de 3,3% para 2,5%.

 

O GLOBO

Com juro menor e risco eleitoral, empresas antecipam quitação de financiamento com BNDES

O recuo na taxa de juros e o cenário político indefinido têm levado empresas dos mais variados setores a anteciparem o pagamento de dívidas. Esse movimento foi intenso nos primeiros seis meses do ano no BNDES, quando o fim dos subsídios e a aproximação da taxa de financiamento com as de mercado reduziram a atratividade dos empréstimos. Entre janeiro e junho, o pré-pagamento de dívidas alcançou cerca de R$ 14 bilhões, 60% mais que os R$ 8,8 bilhões registrados no primeiro semestre de 2017.

Mas a tendência não se restringe ao banco de fomento nem indica um novo ciclo de investimento. Muitas companhias têm recorrido ao mercado de capitais para trocar dívidas antigas por outras mais baratas e com prazo de vencimento maior. Buscam, assim, reduzir despesas e tornarem-se menos vulneráveis à volatilidade do mercado, em um cenário de cautela que tende a aumentar com a proximidade das eleições.

Uma das que optaram pela liquidação antecipada de dívidas foi a Energisa, que atua na distribuição e transmissão de energia. A companhia tinha contratado empréstimo de mais de R$ 800 milhões com o BNDES em 2015. No fim daquele ano, a Selic, a taxa básica de juro, estava em 14,25% ao ano. Já a Taxa de Juro de Longo Prazo (TJLP), que era usada em boa parte dos financiamentos do banco até dezembro, era metade: apenas 7% ao ano.

A empresa viu no crédito barato o caminho para financiar investimentos do grupo. Com a redução da Selic ao patamar mínimo histórico (6,5%), o custo dos recursos tomados junto ao BNDES deixou de ser vantajoso, pois a TJLP não caiu no mesmo ritmo — em junho, estava em 6,6% ao ano.

A empresa, então, optou por pagar a dívida, que vencia em 2021. Foi quitada em parcelas, entre fevereiro e abril. “A redução da TJLP não acompanhou a redução da Selic, o que acabou tornando as dívidas do BNDES caras em relação às alternativas dos mercados de capitais”, disse a Energisa. “Com a queda dos juros básicos e com condições mais favoráveis no mercado, a Energisa optou pelo pré-pagamento desse financiamento”, completou. Segundo o BNDES, o pagamento antecipado ocorreu em cinco áreas: energia, indústria, comércio exterior, saneamento e operações indiretas (aquelas intermediadas por bancos comerciais).

R$ 60 bilhões em títulos no primeiro semestre

A mudança na taxa de referência nos financiamentos do banco, que, ao longo dos próximos cinco anos vai se aproximar gradualmente dos juros de mercado, também retirou a atratividade do crédito oficial, avaliam especialistas. Segundo fontes de mercado, as restrições impostas pelo banco em alguns empréstimos, como a limitação para distribuição de dividendos, também reforçaram a busca por novas fontes de financiamento. O superintendente da área financeira do BNDES, Selmo Aronovich, reconhece que a mudança de taxa levou a uma corrida para liquidar antecipadamente dívidas, mas minimiza esse movimento:

- Houve um aumento do pré-pagamento no fim do ano passado e no início deste ano, mas essas operações estão voltando à normalidade. Ou o cliente encontrou fonte mais interessante (de financiamento) ou está fazendo adequações em seu perfil de endividamento. Ou o projeto já maturou, está gerando receita, e a empresa não precisa mais da dívida — afirma Aronovich, informando que o volume pago antecipadamente no primeiro semestre representa 2,68% da carteira de crédito. - Quando a companhia faz isso, cria bases de um novo ciclo de crescimento da economia, de contratações de crédito, conosco ou com outros agentes.

A procura por novos empréstimos junto ao BNDES tem caído há vários meses. Entre janeiro e março, as consultas - primeira etapa do financiamento e um termômetro da disposição do empresariado para investir - recuaram 36% ante igual período de 2017. Houve retração no montante desembolsado: queda de 26%, para R$ 11 bilhões. O banco divulga hoje os dados do ano até junho.

Com os juros mais baixos, muitas empresas estão recorrendo ao mercado de capitais para trocar dívidas antigas e caras por mais baratas e longas. Nos primeiros seis meses do ano, foram emitidos R$ 60 bilhões em debêntures (títulos da dívida), o dobro do volume de emissões do primeiro semestre de 2017. A maior parte dos recursos (29,3%) foi usada no refinanciamento de dívidas. Levantar capital de giro ficou em segundo lugar (26,7%), seguido por investimento em infraestrutura (17,6%).

- As empresas anteciparam as emissões para o primeiro semestre para fugir da volatilidade do mercado nos próximos meses, com as eleições, e da incerteza do primeiro ano de mandato de um presidente ainda não definido. E aproveitaram o cenário de juros baixos para trocar dívidas mais caras por mais baratas — avalia Ricardo Carvalho, diretor sênior da área de Corporate da agência de classificação de risco Fitch. — Foi o caminho de várias empresas que tinham crédito com o BNDES. Antes, valia a pena aceitar as amarras impostas pelo banco, pois o financiamento era subsidiado. Agora, não.

Carvalho pôde perceber a maior busca por debêntures na própria Fitch. Entre janeiro e junho de 2017, a agência atribuiu notas de crédito a 19 emissões, totalizando R$ 8,8 bilhões. Nos últimos seis meses, foram 31 emissões, que somaram R$ 18,8 bilhões. Para ele, o salto também é favorecido pelo maior apetite por risco de fundos institucionais, como de estatais. O investimento em títulos do Tesouro é seguro, mas está rendendo menos com a baixa da Selic. Como esses fundos precisam bater metas atuariais, diz Carvalho, acabam sendo empurrados para títulos privados, que rendem mais embora com risco maior.

RESGATE ANTECIPADO DE TÍTULOS

A locadora de veículos Unidas — recentemente comprada pela Locamerica — conseguiu levantar R$ 500 milhões no mercado com uma emissão em abril, recurso que usou para refinanciar dívidas que venciam em 2018 e 2019.

- Fizemos o refinanciamento antecipado porque temos política de alongar dívidas que vencem entre um e dois anos, deixando o cronograma de vencimento longo, trazendo um conforto de liquidez para a companhia, principalmente em cenários de incertezas, como o momento atual - disse Marco Tulio Oliveira, diretor financeiro da Unidas.

As empresas estão resgatando antecipadamente os títulos de dívida com recursos levantados com a emissão de novo papéis, atrelados a juros menores. Com isso, o prazo médio de vencimento das debêntures no mercado já caiu à metade, de seis para três anos, de acordo com cálculos de Renato Vilela, do núcleo de estudos em mercados e investimentos da Faculdade de Direito da FGV. A Energisa, que antecipou o pagamento de crédito do BNDES, liquidou debêntures antecipadamente de três de suas distribuidoras, para refinanciar dívidas dessas empresas.

- As debêntures acabam sendo uma solução no cenário de juros baixo porque a remuneração segue o CDI, referência dos empréstimos interbancários que acompanha a Selic. Isso significa que as debêntures refletem de forma quase imediata a queda dos juros, tornando-se uma opção mais barata de financiamento - explica Vilela.

 

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