Segunda-feira

VALOR ECONÔMICO

'Economistas do Brasil' apontam rumo

Um recuo do Mercosul para zona de livre-comércio e liberdade aos sócios do bloco nas negociações de acordos com outros países, independência do Banco Central com mandato fixo e não coincidente para seus diretores, flexibilização na estabilidade de servidores públicos, unificação do FGTS com o seguro-desemprego, mudanças no Bolsa Família para evitar corte súbito do benefício em caso de entrada no mercado de trabalho, extensão da cobrança de IPVA sobre a propriedade de barcos e aeronaves.

Essas são algumas das propostas incluídas em um amplo documento que os "Economistas do Brasil", grupo com mais de duas centenas de profissionais respeitados na academia e no mercado, divulgam hoje no Rio de Janeiro. Símbolo dos novos tempos: o grupo foi criado por WhatsApp em 2015, começou a receber cada vez mais adesões e hoje é plataforma para um intenso debate online sobre os problemas da economia. Até que neste ano, diante dos desafios colocados para o novo governo, resolveram sair do ambiente virtual e sintetizar o "pensamento médio" do grupo.

Com propostas em 22 áreas, a Carta Brasil será lançada nesta segunda-feira à tarde, no Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV-RJ. "Muitos de nós reconhecemos que estamos numa encruzilhada. Corremos o risco de embarcar em trajetória de longa estagnação ou até de recessão, com baixa produtividade e fragilidade fiscal. A situação é extremamente delicada", diz o presidente da consultoria Inter.B, Cláudio Frischtak, um dos principais organizadores do documento e relator do capítulo sobre infraestrutura.

Algumas reviravoltas são sugeridas. No comércio exterior, por exemplo, a recomendação é de um passo atrás no atual status do Mercosul. Em lugar de união aduaneira, o bloco seria zona de livre-comércio e, segundo a proposta, os sócios do bloco poderiam negociar acordos individualmente. O documento enfatiza a importância de tratados com a União Europeia e com o México, bem como uma adesão do Brasil aos acordos plurilaterais da Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre serviços e tecnologia da informação, mas defende também uma simplificação das tarifas aplicadas sobre produtos importados.

Hoje há uma infinidade de alíquotas - basta respeitar o teto de 35% para bens industriais e de 55% para agrícolas. Os economistas propõem quatro alíquotas - zero, 5%, 10% e 15%. Além dos relatores de cada capítulo, a Carta Brasil tem entre seus signatários nomes como Samuel Pessôa, Alexandre Schwartsman, Otaviano Canuto, Flávio Ataliba, Elena Landau, Joísa Dutra, Octavio de Barros, Márcio Garcia, Márcio Holland e Alexandre Rands.

Em um redesenho dos programas sociais, aconselha-se a fusão do abono salarial e do salário-família, assim como a transformação do FGTS e do seguro-desemprego em um único fundo de poupança compulsória individual, remunerado com taxas de mercado. No Bolsa Família, a sugestão é transferir em média R$ 2,4 mil anuais por família para todas as que estão no segmento dos 15% mais pobres da população.

Quando houver formalização no mercado de trabalho e ganho de renda, haveria redução de 50% do benefício - e não corte integral, como ocorre hoje. Em caso de demissão, o retorno ao programa seria feito automaticamente. No ensino superior, propõe-se a continuidade do Prouni tal como está, mas uma reformulação do Fies. "Os alunos carentes devem receber crédito para estudar em faculdades privadas, mas somente em cursos bem avaliados pelo MEC, sendo que o valor da mensalidade deveria ser o menor disponibilizado pela faculdade."

As recomendações na área de orçamento e gestão pública têm controvérsias: padrões mínimos de responsabilidade e produtividade dos serviços públicos, com eliminação parcial da estabilidade, além de mecanismos que permitam exoneração em caso de mudança do ciclo econômico; fim da vinculação de qualquer despesa orçamentária do salário mínimo ou do PIB; intervenção fiscal nos entes subnacionais que comprovadamente não podem manter a sustentabilidade das finanças públicas; alíquota maior para o imposto sobre heranças.

"Nenhum de nós concorda com cada palavra do documento, mas houve um processo de convergência e queremos apontar um rumo, sem ambições políticas ou de cargos", afirma Frischtak. "A motivação é simplesmente contribuir, de forma voluntária, em um momento sensível.

 

Joaquim Levy é cotado para o BNDES, mas base de Bolsonaro resiste

É praticamente certa a ida de Joaquim Levy, atualmente diretor financeiro do Banco Mundial, para a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro. Ele entraria no lugar de Dyogo Oliveira, que já foi ministro do Planejamento no governo Temer.

Para oficializar o nome de Levy, no entanto, Bolsonaro aguarda acomodações políticas: precisa vencer resistências de sua base de militância nas suas redes sociais que vem reagindo ao nome de Levy. A argumentação contra diz que Joaquim Levy foi ministro da Fazenda no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e também foi secretário de Fazenda do Rio de Janeiro no governo de Sérgio Cabral, duas participações em governos de pessoas criticadas nas redes.

Levy comandou a pasta da Fazenda no primeiro ano da segunda gestão de Dilma Rousseff, quando iniciou a redução dos subsídios concedidos nos créditos do BNDES, inchados por cerca de R$ 500 bilhões de empréstimos do Tesouro para financiar, sobretudo, o Programa de Sustentação dos Investimentos (PSI). Ainda na transição de governo, em 2014, Levy aumentou a TJLP, juros cobrados nos financiamentos do BNDES, e que estavam bem abaixo da taxa Selic, configurando uma conta de subsídios pesada.

Em 2015, o BNDES devolveu R$ 30 bilhões ao Tesouro. Nos anos seguintes, já com Henrique Meirelles na pasta da Fazenda, a devolução foi acelerada e crucial para o cumprimento da regra de ouro da política fiscal, que proíbe que as operações de crédito da União superem as despesas de capital. O BNDES tem, hoje, uma programação para a devolução antecipada para o Tesouro Nacional.

Na condução da Secretaria de Fazenda do Rio, a marca de Joaquim Levy foi um forte ajuste fiscal nas contas do governo, depois novamente deterioradas. Levy foi sondado oficialmente para o cargo nos últimos dias, quando o novo governo iniciou o processo de transição, segundo antecipou o Valor PRO no dia 4 deste mês.

 

Economistas começam a projetar alta da Selic apenas em 2020

O fim das incertezas eleitorais, o recuo do prêmio de risco dos ativos brasileiros e o bom comportamento da inflação, aliados ao crescimento ainda lento da economia, começam a repercutir nas projeções dos analistas para juros e câmbio. De forma crescente, instituições financeiras têm sinalizado esperar que a taxa básica Selic demore mais para começar a ser elevada, além de um dólar em patamares menores do que o apontado anteriormente. Dentre os grandes bancos, o Itaú Unibanco mudou sua estimativa, para manutenção da Selic durante 2019, na semana passada - movimento já feito por Santander e Fibra, no fim de outubro.

Outras instituições começam a refazer os cálculos e admitem a possibilidade de mudança na expectativa para a trajetória da política monetária, enquanto investidores seguem retirando prêmio dos contratos de juros futuros de curto prazo na B3. Por trás da decisão do Itaú, que até então esperava elevação da Selic para 8% ao fim de 2019, está a última mensagem passada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.

Na reunião de 31 de outubro, quando manteve a Selic em 6,5% anuais, a autoridade monetária admitiu melhora no balanço de riscos para a inflação, seguindo a redução das incertezas domésticas. "Considerávamos aumento da taxa Selic para 8% a partir da segunda metade de 2019. No entanto, em um contexto de excesso de capacidade na economia, com riscos para inflação percebidos como menos assimétricos pelo Copom e projeções do Comitê em torno da meta para os próximos anos, a política monetária pode estar se aproximando de uma hibernação no patamar atual por um bom tempo, salvo choques. Consideramos agora que uma elevação da taxa Selic ocorrerá em 2020, levando a referida taxa para 8% ao fim daquele ano", afirma Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú, em relatório.

Mesquita destaca também que não há razão aparente para elevação da taxa básica no curto prazo uma vez que as projeções do Banco Central para Selic e câmbio constantes são compatíveis com a trajetória almejada de inflação. Com a Selic a 6,5% e o câmbio a R$ 3,70, o BC projeta inflação a 4,4% em dezembro e 4,2% em 2019, cifras dentro das metas oficiais. Outras casas já consideram alterar suas estimativas. Fernando Rocha, economista-chefe da gestora JGP, mantém projeção de 8% para a taxa básica no fim de 2019, mas acredita que o risco está mais para o lado de não ter aumento de juros no ano que vem.

O economista-chefe do banco Safra, Carlos Kawall, mantém a projeção de Selic a 7% na mesma base de comparação, mas diz que está propenso a reduzir a projeção para 6,5%. "A mudança seria decorrente do quadro benigno da inflação, mercado de trabalho muito deprimido e otimismo com a agenda de reformas estruturais do novo governo, em um ambiente de expectativas inflacionárias ancoradas", diz. Pouco antes do segundo turno, Santander e Fibra alteraram as projeções para manutenção da Selic.

De acordo com Maurício Molan, economista-chefe do Santander, mesmo que o PIB venha a crescer acima do esperado, não será necessária uma elevação do juro com o dólar abaixo de R$ 4, o amplo hiato do produto e as expectativas da inflação ancoradas. Nesse cenário, o IPCA se manterá abaixo das metas por três anos consecutivos, diz. É possível observar ainda a percepção dos investidores ao analisar o comportamento dos juros futuros. Enquanto os contratos de longo prazo subiram desde o segundo turno das eleições com o mercado aguardando indicações concretas da composição do governo de Jair Bolsonaro, os curtos continuaram o movimento de queda visto em outubro.

O DI para janeiro de 2020, por exemplo, passou de 7,37% na sexta-feira que antecedeu o segundo turno para 7,10%. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de outubro surpreendeu positivamente e corrobora a visão de tranquilidade para a inflação. Enquanto o mercado aguardava uma alta de 0,56% no índice, o avanço foi de apenas 0,45%. Por outro lado, vale destacar que a leitura de postergação na alta dos juros ainda não é unanimidade no mercado.

O Boletim Focus do último dia 5 mostrou que as estimativas para a taxa básica de juros ainda estavam em 8% para 2019, patamar estimado há 43 semanas. Para o câmbio, Itaú Unibanco e Bradesco atualizaram seus cenários. A equipe do Itaú estima agora que o dólar terminará o ano em R$ 3,75, ante R$ 3,90 na leitura anterior, refletindo a percepção de mercado de menor incerteza sobre a implementação de reformas.

Os especialistas ponderam, no entanto, que o cenário de queda de prêmio de risco poderá ser revertido caso não haja avanço na aprovação de ajustes e reformas no Brasil. O dólar comercial ficou em R$ 3,735 no pregão de sexta-feira, acumulando duas altas semanais seguidas, com alguma realização de lucros após firme queda em outubro. O pano de fundo dessa perda de fôlego, entretanto, é o aumento da ansiedade com os futuros anúncios do governo eleito. Ainda assim, analistas apontam que os fundamentos econômicos jogam a favor do bom comportamento do câmbio.

O Bradesco alterou a projeção para o fim deste ano de R$ 3,90 para R$ 3,70 e para o ano que vem de R$ 3,80 para R$ 3,70. "Os fundamentos das contas externas ainda indicam um valor justo para a moeda abaixo de R$ 3,70, mesmo diante da maior incerteza global, mas esses patamares dependem de uma maior alocação vinda dos estrangeiros e do avanço da agenda de reformas", apontam os especialistas do Bradesco, liderados pelo economistachefe Fernando Honorato.

 

Sob efeito Trump, cresce dependência brasileira da China

A disputa comercial liderada pelo americano Donald Trump contra a China já é sentida pelo Brasil, que nunca foi tão dependente das exportações para o país asiático como neste ano. Os chineses, que de janeiro a outubro de 2017 já respondiam pela compra de 22,5% dos embarques brasileiros, ampliaram a fatia para 26,8% nos dez primeiros meses deste ano.

Como resultado do conflito comercial com os EUA, a China comprou mais produtos básicos brasileiros (grãos, carnes e minério, por exemplo). Quase metade deles (47,7%, ou US$ 47,3 bilhões) foi para o país asiático no acumulado até outubro, um avanço de 6,1 pontos percentuais em relação a igual período do ano passado.

O desempenho fez os chineses aumentarem sua vantagem como maior parceiro comercial do Brasil. Os EUA, segundo lugar nas exportações, têm menos da metade: 12%. Desde 2001, as exportações de commodities não estavam tão concentradas em um único destino. Naquele ano, a União Europeia respondeu por 50,6% das vendas brasileiras de commodities, que somaram US$ 13,2 bilhões no período, mas em uma pauta muito menor. As commodities já representam US$ 99,2 bilhões das vendas de janeiro a outubro deste ano.

As exportações totais para os chineses aumentaram em 28,8% neste ano (para US$ 53,2 bilhões), ritmo muito maior que os 8,5% no total das exportações - sem os chineses, a alta foi de 2,6%. A maior dependência vem num momento de tensão nas relações sino-brasileiras em razão das declarações do presidente eleito, Jair Bolsonaro, que durante a campanha demonstrou que vê com restrições os investimentos chineses.

Na sequência da vitória de Bolsonaro, o jornal estatal "China Daily" afirmou que o "Trump tropical" - como chamou Bolsonaro - arrisca gerar um custo pesado para a economia brasileira caso decida romper com Pequim.

Welber Barral, sócio do escritório Barral M Jorge e ex-secretário de Comércio Exterior, diz que, na magnitude em que se deu, o crescimento das exportações brasileiras à China é resultado não somente do aumento da demanda do país asiático e da elevação de preços de algumas commodities, como também da retaliação chinesa aos EUA. "É em parte um desvio de comércio, e não criação de comércio. Por isso o efeito não deve ser perene."

A participação das iniciativas de Trump é inegável em dois dos três principais produtos vendidos para a China: soja e petróleo. Com a disputa comercial aberta pelo republicano contra os chineses, as vendas da oleaginosa subiram 27% em valor para US$ 24 bilhões (em volume a alta foi próxima de 20 4%)

27% em valor, para US$ 24 bilhões (em volume a alta foi próxima, de 20,4%). O principal produto de exportação brasileiro se beneficiou da briga aberta pelo mandatário americano, de quem Bolsonaro tem buscado aproximação. Segundo o governo dos EUA, o Brasil responde por 66% das importações chinesas de soja, ante 48% na safra passada. Este avanço se deveu em grande parte aos EUA, que viram sua fatia cair em dez pontos percentuais, para 29%.

No caso do petróleo, a participação de Trump foi indireta. O preço do barril, que no mês passado atingiu sua máxima em quatro anos, foi alimentado pelas ações do republicano, especialmente a decisão de retirar os EUA do pacto nuclear com o Irã e a retomada das sanções contra o país do Oriente Médio.

Com isso, as vendas de petróleo para os chineses cresceram 84% em valor e 57% em volume. Elas somaram US$ 11,5 bilhões até outubro e superaram com folga as de minério de ferro (US$ 8,6 bilhões). É a primeira vez em mais de 20 anos (contando o período de janeiro a outubro) que o Brasil vende mais petróleo para a China do que minério de ferro. Esse aumento reflete em parte uma série de acordos que a Petrobras tem feito nos últimos anos com empresas chinesas em troca de financiamento. Já em 2017, o Brasil foi o sétimo maior fornecedor de petróleo para os chineses, superando a Venezuela e ficando só atrás de tradicionais produtores como Rússia, Arábia Saudita e Irã.

Para Anna Jaguaribe, presidente do Instituto de Estudos Brasil-China e membro do conselho curador do Centro Brasileiro de Estudos Internacionais (Cebri), a dependência de um único país não é necessariamente negativa e lembra o caso da Austrália, que em 2017 vendeu 30% dos seus produtos para a China. Ela ressalta, porém, que cabe ao Brasil diversificar a disponibilidade de itens de exportação.

Já Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), diz que eventual perda de exportações em razão de restrições à atuação da China agravaria a trajetória de deterioração das exportações como um todo. Ele destaca que o resultado da balança comercial está confortável, mas o desempenho das exportações, principalmente de manufaturados, tornou a exportação brasileira mais dependente dos produtos básicos. As exportações de manufaturados, destaca Cagnin, mantêm crescimento, mas a ritmo menor.

O embarque desses bens subiu 5,7% de janeiro a outubro deste ano ante os mesmos meses de 2017, considerando a média por dia útil. Em igual período do ano passado, na mesma comparação, a alta foi de 12%. Os semimanufaturados, que também são bens industrializados, diz ele, têm desempenho ainda pior, com queda de 2,9% de janeiro a outubro deste ano. Os básicos também não estão no melhor dos mundos, avalia Cagnin.

Embora com alta, os embarques de básicos também passam por desaceleração. O crescimento de exportação dessa classe de produtos caiu de 28% em 2017 para 13% este ano, considerando o acumulado até outubro. Para Barral, eventual restrição do Brasil a investimentos chineses em áreas que poderiam ser consideradas estratégicas não teria grande efeito para as exportações. Isso porque a demanda da China é muito alta.

Para a soja, exemplifica ele, há além do Brasil, apenas dois grandes fornecedores, que são Argentina e EUA, com o qual já protagoniza um conflito comercial. Jaguaribe, do Cebri, considera que as críticas de Bolsonaro à China se devem em parte a rumores de campanha e que, uma vez no poder, as decisões serão mais pragmáticas, e não ligadas a "fantasmas do passado". Os chineses, segundo ela, são mais parte da solução que um problema. A China, diz Barral, será importante no superávit comercial brasileiro neste ano. De janeiro a outubro, o saldo positivo com os chineses somou US$ 25 bilhões, mais da metade do superávit de US$ 47,7 bilhões do total da balança comercial brasileira nesse período.

 

FOLHA DE SÃO PAULO

Não sabemos ainda as implicações econômicas do conservadorismo cultural, diz Armínio Fraga

Nos últimos meses, o economista Armínio Fraga aprofundou reflexões sobre o papel da economia no desenvolvimento do Brasil. Chegou à conclusão de que o país demanda respostas mais completas.

“Mesmo quando falamos de economia, precisamos incluir hoje, aqui no Brasil, temas como Estado de Direito , respeito às minorias, fim da desigualdade, combate à violência —com uma postura de paz em relação à violência”, diz.

Ex-presidente do Banco Central na gestão de Fernando Henrique Cardoso, ele espera que o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), tenha sensibilidade para perceber o quadro político e social complexo que herdará.

Numa entrevista à Folha, o sr. disse que o Brasil precisava de uma nova retórica na economia, deixar de ter vergonha da austeridade. Com esse novo governo há espaço para essa nova retórica?

Ali naquela altura, um dos temas de discussão era a austeridade. É polêmico. Virou palavrão em algumas partes do mundo. Eu tentava explicar por que é bom para as pessoas e países viverem dentro de seus limites.

Hoje, eu diria que uma resposta adequada para os desafios econômicos e sociais do Brasil  —que são agudos por causa dessa monumental recessão que está agora se dissipando— envolve questões mais completas.

As pessoas precisam de um bom sistema econômico, e esse sistema econômico vive grudado umbilicalmente ao sistema político e à sociedade. Ele precisa dar respostas a vários temas. Mesmo quando falamos de economia, precisamos incluir hoje, aqui no Brasil, temas como Estado de Direito, respeito às minorias, fim da desigualdade, combate à violência —com uma postura de paz em relação à violência. Se não tocarmos nesses grandes temas, estamos deixando algo muito importante de fora.

Esses fatores não apenas influenciam a vida das pessoas e como elas se sentem. São fatores que têm grande peso nas decisões econômicas tanto de curto quanto de longo prazo. De curto prazo, afetam decisões diárias de trabalhadores e de empresas. De longo prazo, definem investimentos públicos e privados.

Você ainda tem o lado social clássico, propriamente dito. No caso dele, idem. No Brasil, você tem uma versão mais aguda de uma crise global. Temos um desemprego muito alto, um grau elevado de desalento, desesperança, frustração.

A sensação é que a desigualdade é algo permanente, estrutural —o que, infelizmente, a nossa história sugere que, se não é permanente e estrutural, é um problema de prazo longo, que existe desde sempre.

Esse tema precisa de respostas econômicas mais do que nunca. E isso inclui aquilo que afeta diretamente a vida das pessoas: o emprego, a renda, a capacidade de o indivíduo se desenvolver, de se educar. São questões que exigem respostas mais eficientes dos economistas.

Eu diria que os governos Fernando Henrique e Lula colocaram isso no mapa de uma forma muito clara. Mas o Brasil segue carente nessas áreas e os economistas precisam entender: o que se faz na economia tem por objetivo final melhorar o padrão de vida das pessoas, reduzir desigualdades e aumentar oportunidades. É algo assim. Isso não pode ser só retórico. Precisa estar no discurso e ser acompanhado de ações concretas. Ultimamente tenho pensado muito nesse tema nessa fase de mudança.

O sr. mencionou a importância do Estado de Direito, de se reconhecer minorias, o peso do desemprego. Ouvimos muitas declarações controversas a respeito desses e outros temas sociais durante e após a campanha. Bolsonaro disse há poucos dias que tem uma farsa no cálculo do desemprego; eleitores dele questionam o Bolsa Família, a legitimidade de o Estado dar auxílios aos mais pobres. Como o sr. interpreta questionamentos dos temas que acaba de mencionar, considera isso sensível? 

Há um receio, bastante difundido, sobre o que pode acontecer nessas áreas em função de declarações e posições históricas do presidente eleito. Isso é algo que só ele pode resolver. Ele foi claro no discurso que apresentou no dia da eleição. Mas isso precisa ser posto em prática.

No dia seguinte, por exemplo, atacou a Folha. Não quero dizer que as pessoas não possam reclamar e questionar coberturas jornalísticas de uma maneira mais genérica, mas um ataque mais estrutural, assim, preocupa.

Estamos numa fase de observar o que vem por aí. Eu sempre entendi que temos de dar o benefício da dúvida, mas acompanhar. A partir daí, quem pode se posicionar e entrar nesses grandes temas que se posicione.

Temos grandes questões. O que fazer com a violência, com o crime organizado? Como lidar com essa questão de maneira efetiva? Fazer algo vai muito além de adotar a chamada “postura de rigor com o crime”.

O crime está muito espalhado na nossa sociedade. O crime organizadotem muitos tentáculos. Ele acabou de se posicionar. Anunciou o juiz Sergio Moro como ministro da Justiça.

Como o sr. viu a indicação de Moro, que também foi alvo de questionamentos?

Moro é um ícone. O trabalho dele como juiz foi extraordinário pela extensão e coragem. Foram inúmeras decisões, deliberações e condenações contra pessoas que, historicamente, em outro momento, teriam se safado de uma forma ou de outra. Moro acumulou um imenso respeito.

Sempre há, por outro lado, polêmicas com pessoas que cruzam de um braço do governo para outro —e isso, de alguma maneira, está na cabeça das pessoas. É fácil para quem está olhando de fora dizer: “Ah, mas será que ele já teria agido como agiu pensando nisso?” Eu não creio, mas ao menos é o que a gente lê.

A nomeação agradou muita gente, provavelmente a maioria. Caberá a ele e ao novo governo mostrarem a quantas veem. Mas não é um movimento apenas com benefícios. Tem custos.

Na área econômica, os primeiros anúncios indicam corte de ministérios, como o Mdic [Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços]. É o caminho certo? 

O caminho, no geral, parece seguir a longa história de Paulo Guedes, que é alguém mais liberal e com visão de disciplina fiscal.

Na prática, apresenta avanços no desmonte da fracassada nova matriz econômica [nome dado à política adotada no governo Dilma Rousseff que previa expansão fiscal, crédito barato de bancos públicos, câmbio desvalorizado]. Acho que faz sentido.

Mas os primeiros sinais mostram que não há tanto apoio assim às privatizações. Na questão da reforma tributária, que é urgente, apareceu a palavra CPMF —que faz com que eu comece a me coçar quando escuto. É cedo ainda. Acho que precisamos dar mais tempo para saber a equipe que ele está montando.

Mas existem grandes temas de caráter político-ideológico, que precisam ser discutidos. Todos os sinais são de que a opção envereda por uma linha liberal-conservadora.

O que o sr. chama de política liberal-conservadora? 

É liberal no sentido de desejar a concorrência, minimizar a presença do Estado na economia. Essa parte, a meu ver, é uma solução progressista também. Mas há a questão ideológica.

Eu não acredito que seja possível encolher tanto o Estado nas suas funções mais fundamentais. Algumas coisas podem tentar. Paulo sempre defendeu o uso de vouchers na educação, por exemplo. São possibilidades a conferir. Ele vai caminhar nessa direção.

Mas ainda não sei muito o que dizer das implicações econômicas do conservadorismo cultural, que também está aí, desde a presença maior da religião até outros aspectos que são menos claros e alguns são difíceis —ah, vamos lá— são impalatáveis, falando diretamente.

O que o sr. considera impalatável?

Questões ligadas a temas de minorias, de gênero, de raça. Aparece ali um peso maior para aspectos religiosos, e os outros temas, pelos discursos históricos, certamente estão ameaçados. Que implicações econômicas isso têm também são perguntas importantes. Tudo isso está dentro de um caldeirão que pode esquentar.

Caldeirão pressupõe que não sabemos qual pode ser a reação social. É isso?

Exato. Desde 2013, está muito claro que a turma não vai mais ficar passiva acompanhando as coisas.

Num país que já está muito polarizado esse é um tema prioritário para o governo que venceu —ao menos deveria ser. Ele precisa dar uma acalmada. Eu gostei do discurso [de Bolsonaro]. Ouvi e depois li.

Gostei do trecho em que ele diz algo na linha “as pessoas têm de ter o direito de fazer suas escolhas; escolhas precisam ser respeitadas”. Maravilha. Foi um sinal. Mas precisa ser posto em prática.

O sr. conhece o Paulo Guedes há quanto tempo?

Conheço bem o Paulo. Fui aluno dele em 1979, na PUC-Rio.

Como ele era como professor?

Fiz dois cursos com ele. Um foi de tópicos de teoria monetária. Ele tinha recém-chegado de Chicago. Adotou uma linha diferente da usada aqui, que na época era mais concentrada na tentativa de se compreender a inércia inflacionária. O segundo grande tema era crise cambial.

Bem o Brasil daquela época...

Sim, bem o Brasil. E a PUC era onde mais se estudava isso. A PUC não era propriamente heterodoxa, mas o Brasil era um país meio heterodoxo e você precisava achar soluções que atendessem.

E o Paulo chega falando sobre temas mais associados à Universidade de Chicago, um centro hiper-importante, cheio de Prêmios Nobel. Foi ótimo o curso. Era complementar ao que estudávamos. Depois, ele deu matemática no mestrado. Dava exemplo, mas esse curso era mais árido. Por mais que se dê exemplos, matemática é matemática.

A partir de então, sempre tive algum contato com ele. Estamos no meio dos economistas do Rio.

Ambos acreditaram a candidatura do apresentador Luciano Huck.

Ele primeiro. Foi um período interessante porque trazia uma grande novidade. Acaba que eu fiquei mais perto dele desde então. Quando eu me envolvi mais, o Paulo começava a conversar com Bolsonaro. Eu estive com o Paulo quando o Luciano anunciou que não iria concorrer. Acho que foi em fevereiro.

Muita gente duvida da capacidade de gestão de Guedes por falta de experiência no setor público e a controvérsia cresce porque já anunciaram a criação de superministério da Economia sob o comando dele. Isso é um problema? 

A falta de experiência é uma realidade. Mas ele conhece economia e conhece o Brasil. Ele pode compensar isso contratando pessoas e usando a seu favor a máquina que vai estar lá, à disposição dele. Faz falta a experiência, sim.

Mas é inegável ser importante para o governo novas ideias. Ainda mais num momento como este. Essa é uma questão que pode ser administrada.

O superministério é outra coisa. É bom reduzir o número. Com 30, 40 ministérios, o presidente não consegue se reunir com a equipe. É uma estrutura hierárquica inadministrável. Em tese, você pode reduzir a dez. Mas tudo que acontece nos ministérios, de uma forma ou de outra, continuaria existindo.

O Marcílio Marques Moreira foi do ministério da Economia e funcionava. O ministro vai apenas ter de delegar mais. Mas reduzir ministério pode ser uma panaceia danada. Não quer dizer nada. Também vamos ter de esperar para ver.

Como foi a entrega da proposta de reforma da Previdência?

Foi por email. Ele está ocupado, com muita coisa na cabeça. Essa parte eu prefiro não comentar. A decisão de o que fazer é deles. O que não foi muito divulgado, mas também entregamos para eles foram sugestões de projetos de lei complementares. Mas agora que reforma, como e quando é uma questão para eles. Não fazemos parte dessa discussão.

Nossa proposta é abrangente e impactante. Quando se olha o tamanho do ajuste que é preciso fazer e o tamanho do gasto, me parece mais importante uma reforma assim, impactante. Mas a gente abre o jornal e vê que estudam aquela que está no Congresso. Ok.

As decisões são do governo. Não temos ilusões sobre resistências em relação a alternativas. A decisão que não pode ser evitada é a do ajuste fiscal. O governo pode até num primeiro momento utilizar receita extraordinárias, mas depois precisa do ajuste.

Eles já falaram que em um ano, um ano e meio, é possível zerar o déficit primário [resultado da contabilidade pública em que despesas superam as receitas, sem contabilizar ganhos e perdas com juros]. Isso é viável?

Se computarem como receita o dinheiro que vem do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], que vem da Petrobras, pode até ser. Na minha contabilidade, zerar o déficit medido corretamente, não. Você pode compensar uma parte do impacto que a não zerada do déficit teria vendendo ativos.

Mas o que seria zerar o déficit de verdade?

Hoje o déficit está perto de 2% do PIB [Produto Interno Bruto]. Para zerar, seria reduzir esses 2%. Mas eu acho que precisa de um com 5%, 6%, para inverter a trajetória de aumento da dívida. E mesmo um de 5%, 6% faz uma trajetória de queda suave. Mas pegar o dinheiro do BNDES produz apenas um efeito contábil. Ele fica rendendo juros que reverte recursos para o caixa do governo. O dinheiro da Petrobras sim, o governo recebe e pode dizer contabilmente ele faz parte da receita. Na medida que existe essa transferência ameniza o crescimento da dívida.

Mas para que o Brasil dê um salto de confiança, é inevitável que o Brasil faça um ajuste que coloque o resultado primário num superávit de 4% do PIB, calculado de maneira rigorosa, sem usar receitas extraordinárias de maneira abusiva.

O sr. foi coautor de um artigo que fala em reformar o RH do governo. Ele teria efeito nesse ajuste?

No longo prazo pode ajudar. A folha de pagamento do governo é alta em proporção do PIB, quando se compara com outros países. Mas não tem impacto no curto prazo a não ser dar um sinal do Estado e uma satisfação para a sociedade.

Seria uma verdadeira mudança no paradigma de gestão, onde tudo seria avaliado: a estrutura e os órgãos, com transparência, até o nível das pessoas, que também serão avaliadas para que suas promoções passem por essas avaliações.

As carreiras são diferentes, as pessoas precisam de metas e devem ser avaliadas e promovidas conforme essa avaliação.

Ninguém entendeu muito bem a ideia, mas Bolsonaro e Onyx Lorenzoni [deputado federal indicado ministro da Casa Civil] falaram em meta para o câmbio. O que lhe parece um sistema assim?

A experiência geral no mundo mostra que isso não funciona. Conhecendo o Paulo, sei que ele sempre defendeu regras e não políticas discricionárias. Não ficou mesmo claro sobre o que falavam. 

E qual a sua opinião sobre a proposta de reduzir as reservas internacionais?

Isso é outra questão. Eu separaria. O governo pode fazer um estudo e concluir que pode usar. Eu acho bom o número que está aí, mas não foi fruto de nenhuma análise sistemática sobre o que representa.

Acho que seria saudável fazer um seminário, uma reflexão sobre qual seria o nível adequado de reservas. Se chegarem à conclusão que é preciso reduzir, precisa fazer um planejamento para vender. Lembre-se que vai colocar pressão sobre o câmbio.

Essa discussão poderia ser feita de maneira mais organizada –mas não estou cobrando nada do futuro ministro porque sei que ele vai caminhar nessa direção em função de tudo que ele defendeu a vida inteira.

Ele agora está sendo pressionado por perguntas de tudo quanto é lado. Nessas horas você vê que ele está debaixo de uma pressão enorme.

Muita gente falou que o mercado financeiro apoiou o candidato Bolsonaro, impondo calmaria e altas à Bolsa, queda no dólar. A tendência, porém, é de piora no cenário internacional. Como isso pode afetar o desempenho do novo governo?

Primeiro, acho que o mercado reagiu ao PT e ao não PT. Pelo histórico recente do partido, até pelo que disse o candidato, que rejeita reformas, rejeitou falar em mudar coisas aqui e ali. Do outro lado, você tinha o Paulo, e todos sabem o que ele pensa.

Agora, a visão parece ser -e é correta- que haveria espaço para crescer sem inflação. Até certo ponto. Houve um colapso do investimento. O problema é se vai haver investimento.

De fato, as condições pioraram no mundo. Acabou a era do dinheiro de graça. Os períodos de alta de juros sempre foram penosos para a periferia. Há protecionismo, que é ruim para todo mundo. E mesmo o grau de endividamento do mundo aumentou. O nível geral vem crescendo no planeta.

Ou seja, há uma certa fragilidade financeira. Isso caracteriza um quadro de condições adversas para frente. O Brasil entra frágil nesse ciclo.

O sr. é da geração que cresceu durante o que Bolsonaro chama de revolução e outras pessoas chamam de ditadura. Como o sr. vê o retorno dos militares ao poder?

Há uma diferença muito grande entre ex-militares assumindo posições no governo e militares no poder, baixando coisas como AI-5 [Ato institucional número 5, de dezembro de 1968, que suspendeu direitos constitucionais e impôs a censura].

A presença de mais militares parece garantida, resta saber o que exatamente vão fazer. Eles são preparados.

Não creio que militares da ativa têm interesse de assumir a encrenca que está aí. Não vejo esse ímpeto. Não temos mais Guerra Fria, essas coisas. Mas a conferir o que vem. Eles tendem a ser mais adeptos ao planejamento e adotar um certo dirigismo.

Pelo esboço, até o momento, os militares dariam diretrizes na área de infraestrutura, onde há problemas regulatórios e obras paradas.

Problemas não faltam aí. Independentemente de quem fique, a realidade é que o governo está quebrado, não tem dinheiro para fazer o que fez na década de 1970 –mesmo lá se endividou bastante. Será preciso um modelo que mobilize capital privado.

A estrutura regulatória vai ter de ser reforçada em, alguns casos, refeita. Isso não foi prioridade nos governos do PT. A área foi tratada como cabide de empregos. Já era claro o problema há dez anos.

Quem quer que venha -fique nas mãos de executivos com formação militar ou não- , a operação vai exigir a criação de um ambiente de confiança nas regras.

Temos como exemplo de sucesso recente a área de petróleo. As regras mudaram e o capital veio. É por aí. Ser militar ali ou não, em tese, não quer dizer nada. Precisa entender a arquitetura e acertar a regulação.

Na gestão dos militares foi o período em que mais se investiu em infraestrutura e menos no social. Isso muda no governo de Fernando Henrique, que coloca mais recursos em educação e saúde e criou um arcabouço regulatório.

É o que tentamos resgatar agora, dando uma boa arrumada no que se fez na regulação nos últimos anos.

No petróleo, entraram vários estrangeiros. Chineses investem pesado no setor de energia e Bolsonaro também deu declarações sobre fazer restrições aos chineses. Qual o risco dessa posição para a retomada?

Com frequência se ouve a palavra estratégico quando se discute a presença de capital estrangeiro, com frequência no caso chinês porque o investimento costuma ser feito por empresas estatais. Sempre se discute o que fazer com isso, que precauções tomar.

Para começar, é bom lembrar que quem investe aqui sempre corre um risco maior do que nós que estamos recebendo o dinheiro.

O chinês coloca dinheiro num empreendimento de energia elétrica e, se algo der errado, não vai carregar o investimento para China;  tampouco vai invadir o Brasil para ficar com ele. Tem questões ligadas à tecnologia: vai trazer ou não vai? São discussões complicadas.

A própria discussão EUA-China, em função de ocorrerem no estilo do atual presidente dos Estados Unidos, escondem algumas questões complexas. Não é só uma postura hipernacionalista simples –é porque é, queremos fechar e ponto.

A discussão sobre tecnologia lá é complexa. Os Estados Unidos é um grande produtor de ideias e tecnologias. É importante que essa produção seja respeitada.

No nosso caso é mais simples, como o Brasil é um país de baixo valor agregado, as exportações são de baixo valor  agregado.

Muitas pessoas dizem: temos de aumentar o valor agregado de nossas exportações. Eu digo: não. Temos de aumentar o valor agregado de tudo. Em isso acontecendo, vamos exportar itens de maior valor agregado. Não tem essa discussão.

A nossa relação com a China sempre vai ser alvo de muita discussão e espero que seja feita de forma racional. Eles são grandes, são duros negociadores, não dão bobeira.

Nós vamos ter de sentar e ter essa relação. Não tem jeito. É do nosso interesse e dos chineses –e essa relação pode ser bem menos barulhenta que a dos Estados Unidos.

De 2014 para cá, tivemos o impeachment, um governo Michel Temer com muitas tensões e agora, enfim, uma nova eleição. O sr. se considera mais tranquilo em relação ao Brasil agora?

Desembocamos num país muito polarizado. O novo governo nem chegou.

A gente não sabe para valer qual é a realidade até que surja um estresse entre todas essas partes que precisam ser atendidas: os desequilíbrios macros, as demandas sociais, as tensões políticas. É cedo para relaxar.

 

ESTADÃO

Economia dá sinais de recuperação após as eleições

O fim das incertezas eleitorais começa a mudar o humor de empresários e investidores no Brasil. Nas últimas duas semanas, desde a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) para presidente da República, empresas começam a retomar planos engavetados nos últimos meses, seja de investimentos, fusões e aquisições e lançamento de ações no mercado (IPOs). Alguns anúncios de investimento já foram feitos apenas alguns dias depois do anúncio de Bolsonaro como próximo ocupante do Palácio do Planalto. Mas o otimismo vem com um alerta: é necessário avançar com as reformas econômicas.

Na última semana, o empresário Carlos Wizard Martins – ex-proprietário da escola de inglês Wizard e hoje dono da rede Sforza, que inclui negócios como as redes Mundo Verde, KFC e Pizza Hut – disse que pretende desembolsar R$ 1,6 bilhão nos próximos anos. Outro negócio que circulava nas rodas de conversa de bancos de investimento havia meses teve o contrato de compra assinado apenas alguns dias depois do fim das eleições: a aquisição de 22% da rede Madero pelo fundo americano Carlyle. O aporte, de R$ 700 milhões, veio após 24 meses de “jejum” do fundo no País.

Grandes bancos brasileiros melhoraram suas perspectivas para a economia do País: o Bradesco agora prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro vá crescer 2,8% no ano que vem (antes, projetava 2,5%), enquanto o Itaú Unibanco elevou sua perspectiva para 2,5% (ante 2%, anteriormente). O economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita, diz que o humor do mercado mudou nas últimas semanas: “Vemos um claro aumento das consultas para fechamento de operações, dado que a sensação é que os mercados de renda fixa e variável reabriram para as empresas brasileiras”.

Ânimo. Se nos bancos comerciais há otimismo, em alguns bancos de investimento a sensação é que o próximo ano guarda grandes possibilidades. No banco Brasil Plural, a estimativa de expansão do PIB para 2019 foi revisada para 3,5%. Para que essa meta seja atingida, porém, ressalva o presidente da instituição, Rodolfo Riechert, é necessário que a reforma da Previdência seja aprovada. De acordo com o executivo, a Previdência virou um “símbolo” da retomada do Brasil. Por isso, em sua opinião, o combate ao déficit previdenciário deve ser a “prioridade zero” da nova administração.

O Brasil Plural está trabalhando na abertura de capital do banco BMG, uma das primeiras ofertas iniciais de ações que foram confirmadas para o mês de dezembro. E Riechert diz que, desde o fim de outubro, projetos que estavam em “banho-maria”, incluindo o auxílio para o IPO de duas empresas de tecnologia de médio porte, voltaram a ficar quentes. “Também fomos procurados por gestoras de fundos imobiliários querendo ampliar sua plataforma aqui o Brasil”, diz o executivo.

Embora concorde que o humor do mercado tenha mudado para melhor, o chefe de fusões e aquisições do escritório Pinheiro Neto Advogados, Fernando Alves Meira, diz, porém, que há “certo exagero”, principalmente por parte de bancos de investimento. “Há quem aposte em 30 aberturas de capital na Bolsa no ano que vem. Não estou tão otimista”, diz. Apesar disso, ele acredita que, com medidas como a reforma da Previdência e a independência do Banco Central, há condição para a economia brasileira consolidar um crescimento de 2,5% a 3% nos próximos anos, “sem muita surpresa negativa”.

O sócio da gestora Vinci Partners, José Guilherme Souza, diz que alguns indicativos demonstram um cenário um pouco mais favorável a novos negócios. Ele destaca que, até as eleições, era difícil até marcar uma conversa com um investidor estrangeiro. Com o fim das indefinições políticas, a gestora já foi procurada por um fundo soberano para falar sobre novas estratégias no mercado brasileiro e tem reuniões marcadas para o fim do mês com investidores estrangeiros. “Isso já um bom sinal, depois da paralisia que vivemos no pré-eleição.”

Entidades. A retomada do otimismo também pode ser verificada nos índices de confiança do mercado. Medido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o indicador de expectativa do consumidor registrou em outubro o maior patamar desde 2014. Os empresários da indústria também voltaram a demostrar mais otimismo no mês passado, depois de registrar queda em setembro.

“Percebemos muita gente ainda em compasso de espera, mas o fato de ter um presidente e um Congresso definido já ajuda a destravar alguns investimentos”, diz a economista-chefe do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), Marcela Kawauti. Segundo ela, até as eleições, os varejistas estavam evitando fazer até mesmo reformas urgentes. “Agora, pelo menos, essas obras estão começando a ser feitas”, completa Marcela, destacando que um movimento mais forte de retomada de investimento só virá com as medidas concretas que venham a ser adotadas pelo novo governo.

O presidente da Associação Nacional dos Revendedores de Material de Construção (Anamaco), Claudio Conz, afirma que o humor no setor melhorou bastante com o fim das eleições, incentivando algumas empresas a desengavetar projetos. “Nossa expectativa é crescer neste ano 6,5% e 10% em 2019. O fim das eleições dissipou uma apreensão grande que tomava conta dos empresários.”

 

Mercado reduz previsão de inflação de 4,40% para 4,23% em 2018

BRASÍLIA- Após a divulgação dos dados mais recentes de inflação, os economistas do mercado financeiro alteraram a previsão para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2018. O Relatório de Mercado Focus, divulgado nesta segunda-feira, 12, pelo Banco Central (BC), mostra que a mediana para o IPCA este ano passou de alta de 4,40% para elevação de 4,23%. Há um mês, também estava em 4,43%. A projeção para o índice em 2019 foi de 4,22% para 4,21%. Quatro semanas atrás, também estava em 4,21%.

O relatório Focus trouxe ainda a projeção para o IPCA em 2020, que seguiu em 4,00%. No caso de 2021, a expectativa foi de 3,97% para 3,95%. Há quatro semanas, essas projeções eram de 4,00% e 3,92%, nesta ordem.

O mercado ainda manteve as projeções para a taxa Selic inalteradas, de 6,50% em 2018, e 8% ao final de 2019, 2020 e 2021. O câmbio ao final de 2018 permenaceu em R$ 3,70, e foi reduzido de R$ 3,80 para R$ 3,76 ao final de 2019. As estimativas para o crescimento do PIB também não sofreram alteração: 1,36% em 2018 e 2,50% em 2019.

Inflação dentro da meta estabelecida pelo CMN

A projeção dos economistas para a inflação em 2018 está dentro da meta deste ano, cujo centro é de 4,5%, com margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual (índice de 3,0% a 6,0%). Para 2019, a meta é de 4,25%, com margem de 1,5 ponto (de 2,75% a 5,75%). No caso de 2020, a meta é de 4,00%, com margem de 1,5 ponto (de 2,5% a 5,5%). Já a meta de 2021 é de 3,75%, com margem de 1,5 ponto (de 2,25% a 5,25%).

Na quarta-feira passada, 7, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o IPCA de outubro subiu 0,45% após 0,48% em setembro. No ano até outubro, o índice acumula alta de 3,81% e, em 12 meses, de 4,56%.

No fim de outubro, ao manter a Selic (a taxa básica de juros) em 6,50% ao ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC atualizou suas projeções para a inflação. No cenário de mercado, que utiliza o câmbio e os juros projetados no Focus como referência, a expectativa para o IPCA em 2018 é de 4,4%. Para 2019, a projeção é de 4,2% e, para 2020, de 3,7%.

No Focus desta segunda-feira, entre as instituições que mais se aproximam do resultado efetivo do IPCA no médio prazo, denominadas Top 5, a mediana das projeções para 2018 passou de 4,28% para 4,08%. Para 2019, a estimativa do Top 5 foi de 3,82% para 4,25%. Quatro semanas atrás, as expectativas eram de 4,50% e 4,23%, respectivamente.

No caso de 2020, a mediana do IPCA no Top 5 permaneceu em 4,00%, igual ao verificado há um mês. A projeção para 2021 no Top 5 foi de 3,88% para 3,75%, ante 3,88% de quatro semanas atrás.

 

Com melhora nas expectativas, fundos imobiliários são aposta para 2019

Após um longo período de dificuldades, o mercado imobiliário deve voltar a mostrar força em 2019, segundo especialistas. Com isso, a perspectiva é de que os fundos de investimento imobiliários (FIIs) apresentem valorização no próximo ano, puxada por ativos ligados à chamada economia real, como fundos de lajes corporativas ou de shopping centers.

 Os FIIs são produtos de renda variável com cotas negociadas em Bolsa. Funcionam como ações, mas, em vez de empresas, o aporte é em imóveis. Eles são uma alternativa para quem deseja alocar capital no mercado imobiliário, mas não possui um montante elevado para adquirir um imóvel.

Esse produto tem se tornado mais atraente após a vitória de Jair Bolsonaro, que já enquanto candidato animava o mercado. A perspectiva de juros baixos, inflação controlada e uma estabilidade econômica maior, que favorece investimentos, abre espaço para a valorização de ativos ligados à economia real, como ações e o setor imobiliário.

Com isso, gestoras passaram a mudar suas recomendações de fundos imobiliários de “fundos de papel”, que aplicam em títulos de renda fixa voltados ao setor imobiliário, como CRIs e LCIs, para “fundos de tijolo”, que investem em ativos físicos, como shoppings ou galpões.

De acordo com o especialista em finanças pessoais da Modal Mais, Conrado Navarro, se as pessoas recuperarem os empregos e tiverem mais dinheiro para consumo, o setor imobiliário seria um grande beneficiário dessa melhora – o que pode favorecer os FIIs. “Essa relação é bem direta. O setor imobiliário é relevante e sempre teve um peso muito grande no Brasil.”

É possível investir com valores baixos – R$ 100, por exemplo – e há fundos com características muito distintas. Por isso, especialistas ressaltam que é importante avaliar os ativos que o fundo contém. Como as cotas são negociadas em Bolsa, estão suscetíveis a variações diárias.

Essa volatilidade pôde ser observada em 2018. Com um primeiro trimestre fraco e greve dos caminhoneiros, as percepções de risco pioraram – o que provocou realocação de recursos para a renda fixa, derrubando o valor das cotas dos FIIs (ver quadro). Com a corrida eleitoral, porém, o produto se recuperou. O Índice de Fundos de Investimentos Imobiliários (Ifix) – indicador do desempenho médio das cotações dos fundos na Bolsa – subiu 6,12% desde o início de outubro, amortizando as perdas até então. Assim, no ano, o índice acumula alta de 1,52%.

“A perspectiva para a frente é positiva e as maiores apostas são em lajes corporativas”, afirma o analista da Guide Investimentos Lucas Stefanini. Segundo ele, o mercado, especialmente em São Paulo, deve se valorizar, já que na cidade se observa um aumento da demanda e um início de recuperação dos preços de aluguéis. Na carteira recomendada de Fundos de Investimento Imobiliários da Guide para novembro, por exemplo, entrou o BTG Pactual Corporate Office, fundo que investe em imóveis de escritórios em São Paulo, Rio de Janeiro e Campinas. O valor da cota é de R$ 100.

Alguns FIIs pagam um valor mensal ao investidor, que é isento de tributação de Imposto de Renda. No entanto, quando o investidor decide vender sua cota, o lucro é tributado em 20%.

Procura. As baixas taxas de juros da economia também estimulam investidores a buscar alternativas para suas carteiras. De acordo com Bernardo Pascowitch, fundador do Yubb, um buscador de produtos financeiros, a procura por FIIs na plataforma cresceu 77,8% em 2018.

Segundo ele, o aumento é relevante, mas o volume de buscas ainda é pequeno quando comparado a outros produtos da plataforma, como fundos multimercado. Ele acredita que isso se deve à complexidade dos FIIs, que acabam misturando componentes da renda fixa, como o pagamento mensal aos cotistas, com a renda variável, com a flutuação das cotas em Bolsa.

O gerente comercial da Easynvest, Fabio Macedo, acredita que a melhora nos fundos será generalizada, não se restringindo apenas aos fundos de tijolo. Mas, segundo ele, é importante que o investidor pesquise com cuidado o que está comprando e veja se os objetivos do fundo estão alinhados aos seus. “Há sites especializados que oferecem relatórios sobre o mercado imobiliário. Também no site da B3 há uma lista completa dos fundos, que compila informações importantes para o investidor”, afirma.

Segundo o coordenador do laboratório de finanças do Insper, Michael Viriato, os FIIs podem ser uma alternativa interessante para diversificar a carteira, mas devem ser entendidos como investimentos de longo prazo.

Ele concorda com as expectativas dos gestores para os fundos imobiliários, mas com ressalvas. “A melhora da economia precisa vir. Por enquanto, temos uma série de intenções do governo, que ainda precisa virar fatos. Caso contrário, o mercado pode se decepcionar”, afirma.

 

EXAME

Inadimplência atinge 62 milhões de brasileiros e afeta 3% do crédito

A taxa de inadimplência ao crédito do sistema financeiro no Brasil chegou a 3,04%, ou em termos absolutos R$ 96,6 bilhões de um saldo total de R$ 3,168 trilhões. Os dados preliminares, relativos ao mês de setembro, são do Banco Central (BC). Os valores não discriminam as contas em vermelho de empresas e pessoas físicas. A inadimplência diz respeito a dívidas em atraso há mais de 90 dias.

A dívida a bancos, operadores de cartão de crédito, financeiras e leasing aflige metade (52%) dos brasileiros com “nome sujo” no Serviço de Proteção ao Crédito, o SPC Brasil. Conforme o birô de crédito, em setembro, 62,6 milhões de pessoas estavam “negativados”, equivalente à população da Itália ou pouco menos de um terço da população adulta com 20 anos ou mais - conforme cálculo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há 209 milhões de brasileiros,194 milhões com idade a partir de 20 anos (conforme cálculo estimado na última quinta-feira,8).

Em relação às instituições financeiras, tabela das Estatísticas Monetárias de Crédito, disponível para download na página do BC, a inadimplência junto a essas instituições equivalem a 2,7% dos saldos. No caso das instituições financeiras privadas nacionais, a proporção é de 3,8%. Para as instituições financeiras estrangeiras, o percentual é de 2,6%.

A maior parte do montante da inadimplência é devida aos bancos públicos (46,27%). Em segundo lugar, às instituições privadas de capital nacional (41,28%). Em terceiro lugar, às instituições de capital estrangeiro (12,45%).

 Crise, desemprego e dívida

“A inadimplência sempre cresce com o desemprego. Quando o país entrou em crise, a partir de 2014, nós tínhamos 51,8 milhões de CPF negativados. A crise, de 2014 pra cá, colocou mais 10 milhões na inadimplência”, descreve Luiz Rabi, economista da Serasa Experian.

Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil, confirma que a recuperação do trabalho, e portanto da renda, é o que faz com que quem esteja inadimplente possa colocar em dia as contas em atraso, especialmente os mais pobres. “Quando o consumidor que tem a renda menor voltar para o mercado de trabalho, ele vai pagar a dívida, resolver esse problema”.

Entre 2014 e 2017, cerca de 6,5 milhões de pessoas ficaram sem ocupação (dessas 3,3 milhões tinham empregos formais). Os números do IBGE contabilizam que no período a média anual da taxa de desocupação das pessoas de 14 anos ou mais idade no Brasil passou de 6,8% (o menor índice da história) para 12,7% - mesmo percentual de junho de 2018, quando a inadimplência atingiu recorde na Serasa.

 Cartão, cheque e empréstimo

As dívidas com o setor financeiro são monitoradas pelo Banco Central. Segundo a autoridade monetária, R$ 2 de cada R$ 5 do saldo inadimplente são de cartão de crédito rotativo, que junto com o cheque especial tem o maior custo de financiamento.

O peso da dívida no cartão é desproporcional ao volume de operações realizadas. “Embora represente apenas 2% do saldo de operações de crédito, o cartão de crédito na modalidade rotativo corresponde a 20,8% da carteira inadimplente”, descreve o Banco Central em documento preparado para IV Fórum de Cidadania Financeira, que ocorreu semana passada em Brasília.

Além da dívida do cartão, 13,5% são de crédito pessoal; 12,9% de crédito consignado; 11% de financiamento habitacional e 9,8% de aquisição de carros – um terço do restante inadimplente é formado por diferentes tipos de créditos e financiamentos.

 Dívida em família

No mês de maior inadimplência, a faixa etária com a proporção de mais inadimplentes em junho era a de 36 a 40 anos (47,3%). Mas preocupava especialmente à Serasa o crescimento do percentual de pessoas inadimplentes com mais de 61 anos (35%), 2,6 pontos percentuais a mais do que o verificado em 2016.

Por trás de cada modalidade de crédito é possível levantar inúmeras histórias de pessoas e famílias que passam por dificuldades. Esse é o caso da empresária e relações públicas, de 33 anos, moradora de Recife, Maria Clara, nome fictício a pedido para não ser identificada, que se viu forçada pelo banco a ter que contrair dois empréstimos para quitar dívida do cartão de crédito de sua empresa de eventos.

“A dívida de um mês que estava em R$ 18 mil passou para R$ 60 mil. Está no nome da pessoa jurídica, mas quem sofre é a pessoa física”, descreve a empresária que relata que tem todo mês descontados R$ 1.910 do faturamento e ainda encontra dificuldades com o cheque especial. “Tem meses que o plano de saúde fica atrasado", conta.

O pai de Maria Clara é funcionário público federal, tem estabilidade de emprego, mas mesmo sem se arriscar ao abrir um negócio como a filha se vê endividado e sempre renegociando seus empréstimos consignados e pessoais. “A gente pensa que voltando ao banco e mais uma vez pegando o dinheiro emprestado vai finalmente resolver”, diz Léssio Ferreira, nome fictício.

Segundo ele, com 61 anos, já poderia estar aposentado do trabalho de técnico laboratorista, mas segue trabalhando e agora tenta voltar a ter um segundo emprego “para reequilibrar as contas”.

Dados do Banco Central mostram que a proporção de endividamento das famílias brasileiras com o sistema financeiro em agosto era de 41,93% da renda acumulada em 12 meses - excluindo as dívidas com a casa própria, essa proporção cai para 23,68%. O pico da proporção do endividamento das famílias foi em abril de 2015 (46,39%).

 

 

 

BANCO DE TALENTOS

ÁREA DO ASSOCIADO

O Sinduscon/RN pensa como você, e por isso trabalha:

NOSSA MISSÃO

Representar e promover o desenvolvimento da construção civil do Rio Grande do Norte com sustentabilidade e responsabilidade sócio-ambiental

POLÍTICA DA QUALIDADE

O SINDUSCON/RN tem o compromisso com a satisfação do cliente - a comunidade da construção civil do Rio Grande do Norte - representada por seus associados - priorizando a transparência na sua relação com a sociedade, atendimento aos requisitos, a responsabilidade socioeconômica, a preservação do meio ambiente e a melhoria contínua.

CONTATO

55 84 3206 5362

contato@sindusconrn.com.br

SOCIAL

LOCALIZAÇÃO

Rua Raimundo Chaves, 2182 - Sala 101 Empresarial Candelária - Candelária - Natal/RN

SINDUSCON/RN (C) 2012 - TODOS OS DIREITOS RESERVADOS