VALOR ECONÔMICO
Empresas reforçam proteção cambial mesmo com alívio no dólar
A firme queda do dólar ao longo de outubro não parece ter sensibilizado o setor corporativo a baixar a guarda contra novos solavancos da moeda. Mesmo com o recuo de quase 8% da cotação durante o mês das eleições, as empresas reforçaram a proteção de seus passivos para o caso de valorização da divisa americana. De acordo com dados da B3, as companhias compraram mais dólares do que venderam pelo quinto mês seguido, em operações típicas de “hedge” (proteção).
Especialistas apontam que há espaço para redução dessas posições, mas um desmonte não deve acontecer tão cedo. Por mais que a perspectiva para o mercado brasileiro seja favorável, ainda persistem dúvidas sobre o futuro da economia num contexto global mais adverso a emergentes. No mês passado, as empresas adquiriram um total de US$ 16,35 bilhões via contratos de câmbio a termo (NDF, na sigla em inglês) registrados na B3, num reforço que surpreendeu alguns profissionais.
Foi o terceiro maior volume de compras em 2018, ficando atrás, mas próximo, de junho (US$ 17,73 bilhões) e agosto (US$ 16,51 bilhões). Em geral, as compras se intensificam quando há temor de um salto adicional do dólar. Nas eleições de 2014, por exemplo, os picos de aquisições vieram em volumes próximos de US$ 24 bilhões, em março e abril daquele ano, pouco antes da moeda adentrar uma firme escalada. Em 2018, entretanto, o mês de outubro foi marcado pelo alívio da pressão sobre o câmbio.
A moeda americana recuou 7,80%, saindo de R$ 4,03 para R$ 3,72, enquanto as incertezas sobre a corrida presidencial foram se dissipando, até a confirmação das apostas do mercado com a eleição de Jair Bolsonaro (PSL). “Aparentemente, as empresas não baixaram a guarda, apesar da queda da divisa americana. Vimos muitas empresas renovando suas operações de hedge e comprando dólar”, diz Luciano Diaferia, superintendente de produtos markets do Itaú BBA.
Isso significa que, em vez de ficarem descobertas com o vencimento de contratos, as companhias se asseguraram com a compra de outros papéis com prazo mais longo. Pelo quinto mês seguido, as compras de dólares superaram as vendas. O saldo líquido no mês passado foi de US$ 4,50 bilhões em compras. Em outubro, as companhias se desfizeram de um total de US$ 11,85 bilhões via contratos de NDF, o quarto volume mais baixo do ano.
Os contratos de NDF são instrumentos de hedge negociados em balcão, permitindo que as empresas — principalmente importadores e exportadores — “travem” uma cotação para uma data futura, dando mais previsibilidade às operações contra o risco de volatilidade no mercado. “O movimento de compras em outubro veio um pouco mais forte e até me surpreendeu”, diz Fábio Zenaro, diretor de produtos da B3. A expectativa era que o volume já fosse menor, dadas as aquisições feitas nos meses anteriores “Algumas empresas parecem ter aproveitado o recuo do dólar para ‘travar’ uma cotação baixa, de olho em alguma operação em aberto”, acrescenta. P
Para Zenaro, a sazonalidade de fim de ano ainda deve manter as compras em nível elevado em dezembro, mas as empresas agora parecem estar mais protegidas. Sendo assim, a tendência daqui para frente é de desaceleração na busca por hedge contra a alta do dólar. “Mas o que vai ditar o ritmo é o comportamento da moeda no mercado. Então, vamos ter de esperar um pouco para avaliar”, diz.
“Como tivemos uma surpresa em outubro, isso pode se repetir.” As incertezas eleitorais terminaram com o mês de outubro e, na avaliação de profissionais de mercado, as perspectivas econômicas e de ajuste das contas públicas são mais favoráveis sob o novo governo. Mas incertezas em relação à execução da agenda de reformas, proposta pela equipe de Bolsonaro, ainda permeia o ambiente de negócios — e risco de solavancos do dólar não está descartado.
Sinal disso foi a disparada do dólar na terça da semana passada, quando a moeda voltou a fechar acima de R$ 3,80, diante do ambiente externo mais adverso, por causa da volatilidade das commodities, e algum desânimo no mercado com sinais de que a reforma da Previdência vai ficar para 2019. Na sexta-feira, entretanto, a moda voltou para R$ 3,7372. “Esperamos que a busca por seguro se mantenha elevada, seja para proteção contra alta ou queda do dólar. Tivemos um movimento de baixa da moeda numa onda positiva no mercado com o fim da eleição, mas não existe uma garantia sobre o rumo da economia dos próximos anos nem do cenário internacional”, diz Luiz Masagão, diretor de tesouraria do Santander.
O que facilita a contratação de hedge atualmente é o fato de que o custo das operações de curto prazo ficou mais barato, por causa dos juros baixos no país. A taxa básica de juros, a Selic, está em 6,5%, sua mínima histórica. “Como não temos uma perspectiva de aumento de juros ou grande elevação de taxas nesse momento, é um aspecto que facilita o trabalho de quem quer proteger o passivo contra alta do dólar”, diz o tesoureiro de um banco estrangeiro, que preferiu não se identificar.
As contratações de NDF ao longo deste ano já superam o volume total de 2017. Somando operações de compra e venda de dólares pelas empresas, o volume de operações fica em US$ 268,53 bilhões no acumulado de 2018, até outubro, acima do montante de US$ 260,94 bilhões em todo o ano passado, conforme dados da B3. Com o juro em 6,5% ao ano, uma operação de hedge cambial para 12 meses sai a menos de 3% ao ano, segundo as cotações de mercado na última sextafeira, sem considerar o spread cobrado adicionalmente conforme o tipo de operação e o risco da companhia.
O custo é bem menor que a taxa de 10% cobrada no fim de setembro de 2016, quando a Selic ainda estava em 14,25%. Isso significa que, com o dólar no patamar de R$ 3,80, uma operação de hedge já vale a pena se a moeda americana superar o nível de R$ 3,90 daqui um ano, variação equivalente à taxa de 2,50% do hedge.
A mediana das projeções dos analistas no Boletim Focus para novembro de 2019 coloca o dólar em R$ 3,75, enquanto a máxima das coletas está em R$ 4,30. O custo do hedge é resultado da diferença entre o juro prefixado para o período (DI) e o cupom cambial (o custo de se emprestar em dólares no Brasil) — valor que vem diminuindo por causa do afrouxamento monetário e da expectativa de que a Selic pode ficar baixa por mais tempo. O custo mais baixo aumenta a viabilidade de contratar proteção. “Isso é algo estrutural. A distorção da taxa de juros, que tornava o hedge tão caro no Brasil e quase proibitivo, não acontece mais. Agora, tem todo o incentivo para eliminar a incerteza do negócio”, diz Masagão.
FOLHA DE SÃO PAULO
Após eleições, otimismo de empresas brasileiras atinge maior nível em mais de quatro anos
O fim da incerteza eleitoral injetou otimismo nas empresas brasileiras e levou, em outubro, o indicador que mede a expectativa com os negócios ao maior nível desde junho de 2014, aponta, em relatório, a IHS Markit, empresa de informações.
A confirmação da vitória de Jair Bolsonaro (PSL) aumentou a confiança na atividade das empresas e também teve influência positiva em suas perspectivas de receita, lucro, empresa e investimento, mostra o documento.
Em outubro, 67% das empresas esperavam melhora em seus negócios, ante 44% em junho. É o maior patamar desde junho de 2014, última vez em que o indicador esteve acima dos 60%.
“O sentimento é o mais intenso em nível global, com melhoras evidentes nos setores de indústria e serviço”, indica o relatório.
A injeção de confiança é baseada na percepção de que o novo governo eleito vai gerar estabilidade monetária, econômica e política.
“As companhias também preveem mais investimentos, oportunidades de exportação, criação de empregos, ajustes políticos e possíveis reduções de impostos como oportunidades-chave de crescimento.”
Pollyanna de Lima, principal economista da IHS Markit, afirma que o Brasil teve um dos melhores desempenhos no indicador, mesmo em um cenário de enfraquecimento da confiança no mundo.
Segundo ela, o país registrou, em outubro, os mais fortes graus de otimismo em relação a atividade de negócios, investimentos, lucro e empregos.
“Em todos os casos, o sentimento melhorou desde o meio do ano, refletindo a eliminação de preocupações políticas e econômicas em meio ao fim das eleições presidenciais.”
Ela diz ser particularmente animador olhar para as intenções de contratação, que se fortaleceram até chegar a uma máxima em seis anos, o que reforça a expectativa de redução dos níveis de desemprego.
No trimestre encerrado em setembro, a taxa de desemprego no país recuou para 11,9%, com um total de 12,5 milhões de brasileiros sem trabalho.
Além disso, prossegue a economista, os planos das empresas indicam que os investimentos nos negócios podem desempenhar um papel importante em fortalecer o crescimento.
Apesar do otimismo, as companhias ainda identificam desafios, entre eles a desvalorização do real, que pode elevar os preços de itens importados, dificultar os investimentos e atrapalhar a evolução tecnológica do país.
Outras ameaças citadas são os gargalos em infraestrutura, pressões concorrenciais e riscos de veto de reformas pelo Congresso.
A inflação é uma preocupação, com muitas empresas vendo aumento de preços por pressão de combustíveis, materiais importados e do setor agrícola.
“Algumas empresas também aumentaram a preocupação com relação ao poder de monopólio de produtores de plástico e com a maior presença de produtos chineses no Brasil”, indica o relatório. Por esses fatores, as companhias preveem aumentar os preços nos próximos 12 meses.
Antes de ser sentido pelas empresas, o efeito Bolsonaro já havia sido identificado no mercado de capitais brasileiro.
O candidato era visto como opção mais amigável ao mercado em comparação com o risco de um governo Fernando Haddad, do PT. O otimismo confirmado pela empresa no relatório já era patente no mercado financeiro.
A partir do momento em que ficou evidente a vitória do capitão reformado, o dólar passou a cair e a Bolsa voltou a subir. A desvalorização acumulada da moeda americana desde setembro é de 8,2%, enquanto o Ibovespa avança 15,4%.
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