VALOR
Seis Estados à beira do colapso somam rombo superior a R$ 74 bi
Os Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Goiás e Mato Grosso iniciam 2019 com um rombo conjunto de R$ 74,1 bilhões. O valor soma os déficits projetados para 2019 às despesas herdadas de gestões anteriores. Dos seis Estados, todos, com exceção de Goiás, tiveram calamidade financeira decretada neste mandato ou no anterior. Rio Grande do Norte e Mato Grosso, junto com Roraima, entraram na lista dos Estados em calamidade neste ano.
O Rio de Janeiro é o único que está no Regime de Recuperação Fiscal oferecido pela União aos governo em desequilíbrio fiscal. Ana Carla Abrão, sócia da Oliver Wyman, diz que o problema dos Estados é sistêmico, não pontual. "Agora são seis Estados, que logo virarão oito, dez, quinze. Todos terão que passar por racionalização dos gastos de pessoal, com revisão de folhas, de plano carreira, interrupção nas progressões automáticas, eventualmente congelamento de salários. Essas ações podem ser coordenadas pelo governo federal, mas é fundamental que os Estados enfrentem o problema."
Minas e Rio são os Estados com maior insuficiência de recursos projetada. O governo de Minas prevê déficit de R$ 11,5 bilhões em 2019. Débitos pendentes de gestões anteriores, porém, elevam o rombo para R$ 30 bilhões -conta que inclui repasses pendentes a municípios e o 13º salário de servidores, para o qual ainda não há previsão de pagamento, segundo a Fazenda mineira.
No governo fluminense também são as despesas não pagas em gestões anteriores que fazem a diferença. O déficit orçamentário projetado para este ano é de R$ 8 bilhões, e o passivo herdado, de R$ 17,5 bilhões, composto em boa parte de débitos com fornecedores. A gestão de Wilson Witzel (PSC) iniciou o ano com um contingenciamento de R$ 12 bilhões do orçamento estadual.
Desse total, R$ 8 bilhões são para cobrir o déficit projetado para o ano. Outros R$ 3 bilhões estão relacionados a operações de crédito desenhadas para a quitação de restos a pagar. O R$ 1 bilhão restante é de receitas extraordinárias de ICMS que não devem se repetir em 2019. O contingenciamento é insuficiente para cobrir o rombo total estimado para o ano, que alcança R$ 25,5 bilhões.
Dentro do esforço fiscal para ampliar a arrecadação e diminuir as despesas, o novo titular da Fazenda, Luiz Cláudio Rodrigues de Carvalho, já anunciou medidas de curto prazo, como o combate à sonegação e a revogação de incentivos fiscais para empresas que usufruem de benefícios, "mas não dão a devida contrapartida para o Estado".
A primeira investida da Fazenda fluminense no combate à sonegação em 2019 teve como alvo 18 empresas do setor de siderurgia no Sul Fluminense. Ao longo de dois meses, 18 auditores fiscais vão avaliar a atuação de 36 empresas suspeitas de irregularidades a fim de recuperar cerca de R$ 500 milhões.
A folha de pagamento do Rio está em dia desde abril do ano passado, quando foi quitado o 13 º de 2017. Em reunião como seu secretariado, no dia 12, Witzel garantiu que o Estado terá condições de arcar plenamente com a folha de pagamento a partir da arrecadação do Tesouro fluminense e de royalties e participações especiais que incidem sobre a produção de óleo e gás.
No Rio Grande do Norte, a calamidade financeira foi decretada logo após a posse, no dia 2 de janeiro, lembra o secretário estadual de Tributação, Carlos Eduardo Xavier. "Foi um alerta à sociedade de que o Estado está falido", diz ele.
O rombo no Estado, explica Xavier, é de R$ 4,46 bilhões, valor que equivale a praticamente 40% da receita do Estado no ano passado. Da insuficiência total, R$ 2,66 bilhões são passivos de gestões anteriores, principalmente débitos com fornecedores e pagamentos atrasados a servidores.
O Estado ainda não conseguiu saldar parte do 13º relativo a 2017. O R$ 1,8 bilhão restante corresponde ao déficit orçamentário projetado para 2019. Xavier explica que não há ainda previsão de prazo para o Estado voltar ao reequilíbrio financeiro. Uma das prioridade é pagar em dia pelo menos os salários dos servidores devidos em 2019. Entre as medidas fiscais mais urgentes, diz o secretário, estão o corte de despesas e a reavaliação de contratos.
Segundo ele, o Estado não estuda entrar no regime de recuperação fiscal porque o seu endividamento é baixo. Por isso, a maior vantagem do regime, que é a suspensão do pagamento do serviço da dívida com a União, não faria diferença representativa para o fluxo de caixa do Estado.
Em Goiás, a secretária de Fazenda, Cristiane Schmidt, enfrenta problema diverso. "Entrar no regime de recuperação é imprescindível para o Estado ter alívio financeiro." A dúvida é se Goiás preenche todos os requisitos para adesão: a preocupação, diz ela, é com a exigência de que a receita corrente líquida do Estado seja menor do que a dívida consolidada líquida no último exercício.
O Estado, declara, poderia ter cumprido esse requisito se algumas despesas não pagas tivessem sido contabilizadas, o que não aconteceu. Segundo a secretária, a gestão de Ronaldo Caiado (DEM) herdou R$ 1,09 bilhão em despesas não empenhadas e não pagas. Ou seja, foram gastos que não chegaram a ser lançados no orçamento.
Fora isso, diz Cristiane, há um passivo de R$ 1,85 bilhão em restos a pagar, relacionados a despesas previstas em orçamento, mas não saldadas. Adicionalmente, há projeção de déficit de R$ 3,24 bilhões resultante do fluxo de receitas e despesas de 2019. O rombo total é de R$ 6,2 bilhões. Parte do passivo herdado inclui pagamentos em atraso a servidores e fornecedores.
A atual gestão do governo goiano, diz Cristiane, não deixará de fazer o pagamento dos servidores, mas provavelmente haverá parcelamento de pelo menos parte do passivo herdado, "façam os servidores greve ou não". "Quantas parcelas? "Depende da ajuda do governo federal", diz a secretária.
Para o pagamento dos salários de dezembro, diz ela, é preciso esperar ainda a aprovação pela Assembleia Legislativa do orçamento de 2019. Isso porque os valores não foram empenhados no ano passado. Segundo ela, em três ou quatro meses o Estado deve fazer um diagnóstico de medidas estruturais para conter o avanço da folha de ativos e inativos. "O ajuste não é popular, mas eu não tenho problema em ser impopular."
Com calamidade financeira decretada na quinta-feira, o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (DEM), pediu ao governo federal a edição de uma medida provisória (MP) para garantir o repasse da parte do Estado no Fundo de Auxílio Financeiro para Fomento às Exportações (Fex). Segundo o secretário de Fazenda do Estado, Rogério Gallo, o valor seria de R$ 420 milhões. O recurso contribuiria para trazer liquidez, avalia. E a situação de calamidade financeira, defende o secretário, configuraria a situação de urgência e relevância que exige a edição de uma MP.
A atual gestão, de acordo com o secretário, herdou R$ 2,1 bilhões em restos a pagar sem lastro. Soma-se a isso R$ 1,9 bilhão em déficit orçamentário previsto para 2019, resultando num rombo total de R$ 4 bilhões que precisará ser enfrentado por Mato Grosso neste ano. O secretário lembra que o Estado busca também encaminhar soluções para um ajuste fiscal estrutural.
No dia 10, segundo ele, foram encaminhadas à Assembleia Legislativa propostas nesse sentido. Uma delas, diz Gallo, cria uma lei de responsabilidade fiscal estadual que deve propiciar um acompanhamento mais rigoroso da despesa de pessoal. Os gastos com folha também estão na mira do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB).
Segundo ele, é inevitável a mudança na carreira dos servidores, com alvo no sistema de promoções e progressões automáticas e em licenças que ainda existem. "Determinei à minha equipe que toda a legislação possível de ser feita de forma infraconstitucional no Estado em relação à previdência e às carreiras dos servidores, que nós façamos essas medidas", defende ele. A ideia é enviar projeto de lei nesse sentido à Assembleia Legislativa e aprovar ainda durante o primeiro semestre do ano.
Também nesse período, Leite quer aprovar uma nova proposta para adesão ao Regime de Recuperação Fiscal dos Estados. Nessa questão, uma das discussões é em torno do Banrisul, que Leite não pretende vender. Segundo ele, o Estado tem outros ativos que podem garantir a adesão ao programa. O governo gaúcho deve enfrentar neste ano rombo de R$ 4 bilhões, valor que inclui o déficit orçamentário do ano e passivos herdadas de exercícios anteriores, parte com folha de pagamento e também com fornecedores.
Ibovespa se aproxima do nível inédito de 100 mil pontos
Falta pouco para o Ibovespa chegar aos 100 mil pontos. E, para analistas, alcançar essa marca é só uma questão de tempo. A expectativa dos investidores com a reforma da Previdência e a trégua na percepção de risco nos mercados globais vêm dando sustentação ao índice, que na última semana rompeu recorde atrás de recorde e está agora a apenas cerca de 4% de bater a marca simbólica.
Dado o nível de confiança dos gestores, a nova barreira pode ser quebrada até mesmo antes da aprovação do ajuste fiscal. O Ibovespa sobe 9,3% em janeiro e terminou o pregão de sexta-feira no inédito patamar de 96.096 pontos (em alta de 0,78%). Com o desempenho, algumas casas já se preparam para revisar cenários e estabelecer novas projeções para o índice. E reafirmam: está mais do que na hora de estar posicionado na renda variável.
Luiz Cherman, estrategista de renda variável para o Brasil do Itaú BBA, disse ao Valor que já está discutindo a revisão para cima da atual projeção da casa para o Ibovespa ao fim de 2019, de 100 mil pontos. Isso porque as perspectivas favoráveis para a economia levaram a uma recente revisão para cima das estimativas de lucro das empresas neste ano. Os analistas do banco esperam agora um crescimento de 36% nos ganhos das companhias listadas em bolsa, ante uma previsão anterior de 29% de alta do lucro.
Para o estrategista, os investidores que desejam aproveitar as boas perspectivas para a bolsa neste ano "não devem esperar a aprovação da reforma, mas sim estarem posicionados na renda variável desde já". As expectativas estão guiando os preços para cima a cada dia, e o Ibovespa pode facilmente ultrapassar os 100 mil pontos nesse contexto. São necessários apenas dois ingredientes: o exterior com mínimas condições favoráveis para os emergentes e um governo que siga ancorando as expectativas dos gestores na agenda liberal.
Para Eric Hatisuka, gestor da Rosenberg Investimentos, o Ibovespa deve trabalhar no patamar entre 95 mil e 100 mil por um tempo, antes de buscar novas máximas, pois subiu muito rápido. Mas a tese, hoje, é "comprar e segurar". "Nossa visão para o ano é de mercado de alta, de forma que não vale a pena para o investidor sair na máxima local para tentar comprar mais barato daqui a alguns meses."
O Santander também aposta no rompimento da faixa dos 100 mil pontos em algum momento deste ano - o banco projeta que o índice terminará 2019 no patamar de 115 mil pontos. No entanto, na avaliação dos analistas do banco, sinais mais sólidos a respeito da reforma da Previdência podem ser necessários para que o Ibovespa consiga sustentar a atual trajetória de alta. "Os 100 mil pontos podem representar uma divisão entre o que é expectativa e o que é concreto", diz Ricardo Peretti, analista da Santander Corretora.
Ele afirma que o encaminhamento da proposta de reforma ao Congresso, em fevereiro, pode ser o divisor de águas. Quanto ao conteúdo do texto em si, ele ressalta que a questão da idade mínima aparece como ponto mais importante, dado o impacto relevante desse item nas contas do governo.
O papel do investidor estrangeiro também é importante nessa busca do Ibovespa por recordes. Um gestor de uma asset internacional avalia que o Fórum Econômico Mundial representa uma boa oportunidade para o governo brasileiro mostrar comprometimento com as reformas econômicas, afastando eventuais dúvidas dos agentes financeiros globais. "Se o governo souber vender bem a reforma da Previdência, há um bom espaço para a bolsa caminhar", diz o gestor.
Segundo os dados mais recentes da B3, os não residentes têm se mostrado mais propensos a aumentar a exposição à bolsa brasileira ao longo dos últimos dias, mas o movimento ainda é tímido. No acumulado do ano, até o dia 16 de janeiro, o fluxo de recursos estrangeiros está positivo em apenas R$ 12,2 milhões - houve entrada líquida de recursos em sete dos últimos oito pregões até a última quarta-feira.
A retomada do fluxo de investimento estrangeiro em bolsa também é apontada por Ronaldo Patah, estrategista do UBS Wealth Management, como fator importante para que o Ibovespa dê continuidade à trajetória de alta - e as sinalizações do Federal Reserve (BC americano) quanto ao ritmo mais lento de alta de juros nos Estados Unidos e o avanço nas negociações comerciais entre os governos americano e chinês contribuem para diminuir a aversão global ao risco.
Para Ivan Kraiser, gestor-chefe da Garín Investimentos, o mercado está "totalmente concentrado" na mudança das regras de aposentadoria, sobretudo em qual será a poupança gerada a partir do texto, ponto essencial para medir a trajetória do endividamento brasileiro. Os fundos de ações da Garín estão 100% comprados em bolsa, enquanto os multimercados também continuam "com um viés de forte compra".
'Temos que mostrar uma narrativa de superação em Davos'
Em sua sexta ida ao Fórum Econômico Mundial, o presidente do conselho de administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, se prepara para uma bateria de perguntas em Davos sobre o novo governo. "Este será um ano diferente para os brasileiros." Trabuco ainda não havia subido os Alpes suíços em 2003, quando a elite política e financeira do planeta parou para ouvir os planos de Luiz Inácio Lula da Silva, mas nunca viu tamanha expectativa sobre o Brasil como agora, para a estreia internacional do presidente Jair Bolsonaro.
O país, na avaliação do banqueiro, acaba de deixar para trás uma "tríade de déficits" que vai muito além da necessidade de ajuste fiscal: "São os déficits de moral, de confiança, de esperança". Chegou a hora, acrescenta Trabuco, de quebrar o espelho retrovisor e contar ao mundo a nossa "narrativa de superação".
Nesta entrevista, ele defende uma reforma da Previdência ampla e universal. Aponta a crise dos Estados como favorável à aprovação da proposta, imaginando que os governadores vão pressionar mais suas bancadas. Avisa que os bancos estão com liquidez e têm "excepcionais condições de suportar um novo ciclo de crescimento".
Graduado em Filosofia, devorador de séries da Netflix e conhecido pelo jeito agregador, Trabuco aproveita as participações em Davos não só para ter uma visão privilegiada sobre os rumos da economia global. É presença garantida nas sessões de "mindfulness" que reúnem autoridades, CEOs e prêmios Nobel. "O fórum nos permite a possibilidade de compartilhamento de ideias, atualização de informações e até de renovação do espírito em sessões que saem do mundo estritamente econômico."
Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
Valor: Qual mensagem o sr. pretende levar para Davos sobre este novo momento do Brasil? E sobre o que espera ser mais questionado?
Luiz Carlos Trabuco: Este será um ano diferente para os brasileiros em Davos. O Brasil está sendo observado com muita expectativa. E o novo governo vai apresentar o país livre de algumas amarras no modelo econômico. Uma pesquisa da Bloomberg relacionou as melhores opções de países para ações, bonds e até moedas em mercados emergentes neste ano. O Brasil ficou em primeiro lugar nas três categorias. Em 2019, temos que mostrar ao mundo uma narrativa de superação. É uma narrativa derivada do próprio processo eleitoral, que mostrou a solidez das instituições e a consolidação da democracia. Por outro lado, não podemos desconsiderar que os últimos anos foram marcados por uma crise econômica, política e moral. Passamos por uma tempestade perfeita: recessão, desemprego, inflação, custo de capital muito alto. E por uma tríade de déficits que vai além da questão fiscal. São os déficits de moral, de confiança e de esperança. Em Davos, o Brasil tem esse papel de olhar para o futuro e quebrar o espelho retrovisor. O nosso trabalho é para mudar as expectativas. A equipe econômica transmite serenidade, mas também perseverança. Teremos uma presença auspiciosa no fórum. É por isso que essa narrativa de superação precisa ser valorizada.
Valor: De certa forma, a política externa "antiglobalista" do governo não se choca com esse discurso de abertura da equipe econômica?
Trabuco: Não podemos confundir globalização com globalismo. A globalização tem uma vertente econômica e ganhos irreversíveis. O globalismo é uma posição mais política, ideológica, que às vezes enseja até ondas protecionistas. E o protecionismo impede ganhos de competitividade. Lembro a frase do [presidente chinês] Xi Jinping há dois anos em Davos ["O protecionismo é como trancar-se em uma sala escura: o vento e a chuva podem até ficar do lado de fora, mas também bloqueia-se a luz e o ar"]. Não podemos nadar contra uma onda, que foi positiva em todo o mundo, de eliminação da pobreza. A globalização ajudou o mundo a superar alguns desafios. Lógico, trouxe outros, mas que derivam mais de guerras e do nacionalismo.
Valor: A reação inicial dos mercados ao novo governo tem sido positiva, com alta da bolsa e queda do dólar, mas ainda existe muito pouco de concreto. Não tem havido uma hipervalorização das promessas de ajuste, liberalização e reformas?
Trabuco: O direcional é de mudanças e de reformas. Não só a reforma da Previdência, mas a reforma do Estado, que é um processo mais demorado, mas igualmente importante. Estamos só no primeiro mês. O novo governo, por si só, traz uma perspectiva de mudança. E aí é trabalhar essas expectativas com a agenda de reformas, privatizações, um enxugamento do Estado, abertura da economia. Tudo isso gera alento. O grande objetivo que o Brasil tem é buscar novamente o grau de investimento. É um ponto de chegada. Por que não temos grau de investimento? Se pegarmos todas as variáveis das agências de rating, temos condições de chegar ao grau de investimento mais rápido. Pegue o indicador de dívida externa como proporção do PIB. A média dos países com AAA ou B+ é de 52%; no Brasil é 27%. Se você pega a média das reservas internacionais, eles têm US$ 139 bilhões; nós temos US$ 377 bilhões. O déficit em conta corrente, que é de 3,3% na média do mundo, fica em -0,3% no Brasil. Onde é que perdemos o grau de investimento? Na nova matriz econômica, que acreditou um processo de subsídios muito grande, que bateu na dívida interna e colocou o déficit fiscal no centro dos nossos problemas. A lição que fica é: não basta ter uma excepcional política monetária e uma péssima execução fiscal. Se não consertar o fiscal, outras conquistas serão contaminadas. Usando a linguagem da agricultura, as eleições limparam o campo e prepararam a terra. Agora começa a semeadura. Após a semeadura, vem a colheita do crescimento. Mas isso passa por um caminho doloroso, que é zerar o déficit.
Valor: Teremos uma etapa importante da semeadura, nos próximos dias, que é a proposta para a reforma da Previdência. Quais elementos precisam constar do texto?
Trabuco: Os ganhos de curto prazo com a reforma da Previdência são incrementais. O que ela vai definir é o futuro e a sustentabilidade das despesas. É desejável ter uma reforma ampla e universal, com estabelecimento de idades e tempos de transição. Pode-se até adaptar a reforma para algum setor, mas seria bom ter pelo menos a idade mínima para todos, mesmo com uma transição. Pode ser algo faseado, com um aumento a cada ano. O importante é que houve uma expansão da consciência da sociedade sobre a reforma e há chances concretas
Valor: O que leva o sr. a apostar agora na aprovação da reforma?
Trabuco: Há um novo Congresso e a necessidade está muito evidente porque o sistema, do jeito que está, vai depauperar as finanças públicas. Um outro fato que nos leva a ter mais confiança na aprovação é o envolvimento dos governos estaduais. Salvas algumas exceções, todos estão em situação de crise fiscal, principalmente pela questão dos servidores inativos. Os governadores serão, digamos assim, mobilizadores das suas bancadas para a aprovação. Esse é o desafio central.
Valor: E o regime de capitalização, deve ser incluído na proposta?
Trabuco: Não dá para sair de um para o outro. Em um processo de transição, os novos entrantes podem ir para o novo sistema. Isso não deve encontrar grandes resistências. Mas, no pilar da previdência pública no regime de repartição e com um seguro social para tirar as pessoas da pobreza, não se pode criar a expectativa de um benefício superior ao salário médio. Se você promete isso, tem subsídio entre as classes sociais. Por isso, é tão importante a discussão sobre o teto. Esse regime está embasado em um pacto entre gerações. Se continuar assim, vamos gerar um conflito de gerações, porque o Estado deixará de ter recursos para investimentos.
Valor: Parece haver um consenso sobre a desaceleração da economia global. Esse novo ambiente pode atrapalhar a retomada no Brasil?
Trabuco: A recuperação brasileira tem condições endógenas de acontecer, mas a desaceleração global é um fato que merece avaliações. O PIB mundial vai desacelerar. Até porque os EUA tiveram crescimento de 3% em 2018, taxa de desemprego de 3,2%, até pela natureza cíclica. É um ano com determinadas lideranças internacionais fragilizadas: o Macri na Argentina, o Trump com seus desafios, o Macron com problemas internos, a Theresa May no Reino Unido. A política fiscal americana segue trajetória insustentável. Tem o capítulo da guerra comercial, o protecionismo está pintando por aí. A boa notícia é que o Brasil estará em outro ciclo. O capital estrangeiro vai nos olhar com preferência. Estou otimista com o país.
Valor: O governo Bolsonaro promete mais abertura econômica e comercial. Os bancos também serão afetados, pela concorrência maior das fintechs, por exemplo?
Trabuco: Esse processo da revolução 4.0, a digitalização da sociedade, está provocando mudanças estruturais na indústria financeira de todo o mundo. Os grandes bancos internacionais estão fazendo um esforço muito grande, em termos de investimento, na digitalização. As fintechs comparecem com uma oferta diferenciada e outras regras de regulação para competir. Para nós, aqui no Bradesco, a questão é como sermos competitivos para manter a sustentabilidade no médio e longo prazos.
Valor: E o sr. acha que o Bradesco está sendo suficientemente veloz na transição do físico para o digital?
Trabuco: Temos estado na linha de frente no uso de tecnologias disponíveis, inteligência artificial, identificação de voz. É um esforço grande e reconhecido. Criamos um banco novo, praticamente do zero, que é o Next. A missão é atender os "millennials". Isso foi dando condições de avançarmos em pessoas que são nascidas digitais ou com digitalização incremental [o Next alcançou 550 mil clientes].
Valor: Alguns analistas têm chamado atenção para os índices de rentabilidade do Bradesco, que têm se mantido mais estáveis, enquanto se nota crescimento no Santander. Isso pode ser lido como mau sinal?
Trabuco: Essa questão precisa ser avaliada com mais profundidade. A nossa rentabilidade está ao redor de 20%, é boa e o mercado reconheceu isso na valorização das ações. Nesse rali de valorização da Bolsa, tivemos valorização maior que a dos nossos concorrentes. A nossa função é sempre avaliar os modelos de negócios. Temos um posicionamento estratégico e acreditamos nele. Somos um banco de cobertura nacional e com ampla plataforma de correntistas. Se estamos em 2 mil cidades em que a concorrência não está, acabamos capturando tudo o que uma economia em recuperação pode oferecer de bom, mas também incorporamos todos os ajustes de um processo recessivo.
Valor: E o que essa capilaridade do Bradesco pode nos dizer sobre inadimplência, demanda por crédito, recuperação da economia?
Trabuco: A recuperação da economia brasileira em 2019 e em 2020 está garantida, por questões cíclicas. Chegamos ao fundo do poço e estamos crescendo depois da recessão. Prevemos recuperação acelerada neste ano. A inflação está baixa, temos taxa de juros na mínima histórica, inadimplência em queda e demanda por crédito em alta. Se o PIB crescer em torno de 2,5%, 2,6% neste ano, os economistas acreditam que seria possível criar vagas formais de trabalho.
Valor: Se a reforma da Previdência for aprovada, qual seria o impacto adicional para o PIB?
Trabuco: É fácil imaginar que a reforma da Previdência, consolidando um direcional de médio e longo prazos com relação ao ajuste fiscal, valeria um ponto percentual de crescimento da economia. A reforma acaba dando um bônus extraordinário ao PIB. Mas, voltando ao ponto do mercado de crédito, ele tem excepcionais condições de suportar um novo ciclo de crescimento. Os bancos em geral, e o Bradesco em particular, estão com liquidez muito grande. É por isso que, no mercado de capitais, está se trabalhando com spreads em níveis mínimos, sempre abaixo de 110% do CDI e emissões de até oito anos. Redução de custo de capital e aumento do prazo. As empresas melhoraram. Na pessoa física, estamos com o nível mais baixo de comprometimento da renda familiar. Se você tem o balanço das empresas ajustado, rentabilidade favorável, estimativas de lucro, 20% das empresas cotadas em bolsa, comprometimento baixo da renda nas famílias e menor inadimplência, o espaço para crescimento do crédito é grande. Quando os bancos divulgarem seus guidances, seguramente vão refletir uma visão muito positiva para 2019.
Valor: E esse cenário de crescimento do crédito não recrudesce o debate sobre os spreads bancários?
Trabuco: O debate é sempre latente e, no Brasil, vai ser mais acentuado. Mas a tendência [do spread] é de queda. Desde o ano passado, percebe-se que as quedas são fortes. E o aumento do volume pode levar a uma queda ainda maior. Quando o crédito está em processo de stop-and-go, como a inadimplência é dividida por uma massa de crédito menor, a expansão dos empréstimos favorece a redução dos spreads [como resultado de uma taxa de inadimplência menor].
Brasil levará anos para recuperar grau de investimento, diz Ilan
O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, afirmou que levará anos para o Brasil retomar o grau de investimento, ou seja, o selo de "bom pagador" pelas agências de rating. Em entrevista ao jornalista Fernando Rodrigues, do site Poder 360, ele disse que o custo do CDS já caiu, mas recuperar o grau de investimento não se resolve em poucos meses.
"Em um perspectiva otimista, pode levar menos anos. Mas não são questões de meses, são anos. O que pode acontecer - e já está começando a acontecer - é que o risco medido pelo mercado financeiro no CDS já está caindo. Já está com 180 e poucos pontos. Isso já indica que mesmo que as agências de classificação levem mais tempo, no mercado o custo já está começando a cair", afirmou.
Questionado sobre o crescimento econômico ainda fraco do Brasil, ele respondeu que a política monetária não é a única determinante no crescimento. "A política monetária é às vezes estimulativa, como acredito que ela esteja agora. No mais, depende de algumas outras questões. [...] Falta ainda completar o ciclo de reformas para depois conseguir ter mais investimento, mais consumo, e com isso, crescimento maior", explicou.
Sobre os principais riscos para o Brasil atualmente, Ilan disse que o cenário internacional não é mais tão positivo como em junho de 2016, quando ele assumiu o comando do BC. "Não significa que vai piorar sempre, mas acho que aquele cenário de juro muito baixo, com a economia internacional crescendo, já não vai ter mais".
Ele disse não acreditar que os EUA terão uma desaceleração muito forte, já que o país vive um momento de 'boom' no crescimento e com desemprego baixo. "A grande questão é a China. Como nós temos um comércio relevante com a China, a desaceleração mundial para a gente é o que acontece na China e se isso vai gerar algum impacto no preço das commodities e se isso vai acabar influenciando a nossa economia. Esse é o risco hoje". Assim como tem feito nos últimos meses, Ilan ressaltou que o Brasil precisa implementar reformas estruturais, em especial a da Previdência, e que isso tem impacto na inflação.
"É claro que a reforma da Previdência vai gerar impactos. Nós temos dito que no médio, longo prazo - não é uma questão de 2019 - não tem como manter uma inflação baixa e juros baixos se não forem feitas as reformas. Principalmente a reforma da Previdência", afirmou.
Segundo ele, quanto mais ampla for a reforma da Previdência, melhor. "Sob o ponto de vista do Banco Central, quanto melhor a reforma, melhor para a inflação, melhor para os juros, melhor para o crescimento. É claro que tem outras avaliações, que fogem da minha 'expertise'. São avaliações políticas do que se consegue passar", ponderou.
Ainda segundo Ilan, não é só a questão da Previdência que vai influenciar a inflação neste ano, cuja meta é menor, de 4,25%. Ele citou variáveis como a atividade, a inércia, eventuais choques. "As expectativas da inflação para este ano estão abaixo de 4%. Ou seja, a gente tem uma certa folguinha para o caso de ter alguma pressão. E as expectativas para a inflação implícita, aquela que você tira dos ativos financeiros, também estão abaixo de 4%. Então estamos começando o ano relativamente bem comparado com a nossa meta de 4,25%", afirmou.
Em relação ao projeto de independência formal do BC, Ilan disse que os comentários que tem escutado, seja em público ou privado, são favoráveis a essa questão. "Tem sempre um cálculo de: 'Consegue passar? Quando que vai passar? O momento é agora?'. Tem sempre essa avaliação. Agora, eu tenho a impressão que tanto no Congresso como no governo temos hoje o melhor ambiente para passar essa reforma [independência do Banco Central] que a gente teve no Brasil. Por décadas foi bem mais difícil, o discurso, o debate... Eu estou achando que hoje nós temos condições um pouco melhores".
Fundos imobiliários registram em 2018 o seu melhor ano
Os fundos imobiliários viveram o melhor ano de sua história em 2018. E por várias métricas: patrimônio líquido, valor de mercado, número de investidores e volume anual negociado, média mensal e diária atingiram os maiores níveis em todos os tempos - 2019 também promete. Na opinião de especialistas, o bom momento do mercado tende a continuar em meio à consolidação de um novo ciclo de crescimento do setor de imóveis.
Em termos de liquidez, o mercado atingiu um patamar jamais visto. Conforme levantamento da B3, o volume média diário de negociação dos fundos com cotas negociadas em bolsa atingiu R$ 46 milhões em 2018, melhor marca histórica e 43,75% superior ao recorde anterior, registrado em 2013, quando o giro por sessão alcançou R$ 32 milhões. A tendência de aumento da liquidez tem se mantido nos primeiros pregões do ano.
No último mês do ano passado, segundo levantamento do Valor Data, a média diária já havia subido para R$ 52 milhões. Em janeiro até dia 9, o giro médio por sessão alcançava R$ 57,4 milhões. Em 2018, o segmento movimentou mais de R$ 1 bilhão por mês em cinco ocasiões: fevereiro, março, maio, outubro e dezembro, de acordo com a B3. Nos demais meses, só movimentou menos de R$ 800 milhões em junho.
Ainda assim, os R$ 776 milhões vistos no período ficaram acima da média mensal de 2017, quando o mercado girou R$ 606 milhões, conforme dados da B3. No ano passado, o volume financeiro por mês cresceu 52,3% em relação ao período anterior. O número de investidores também atingiu o maior nível de todos os tempos em 2018. O crescimento foi de 76% na comparação com a quantidade vista no fim de 2017.
Hoje, já são mais de 205 mil aplicadores em cotas de fundos imobiliários na bolsa. De acordo com o gestor de fundos imobiliário da Rio Bravo, Guilherme Politi, o aumento de liquidez e da quantidade de investidores ocorre como efeito direto da queda da taxa básica de juros para a mínima histórica, hoje em 6,5% ao ano, e pelo fato de a taxa Selic ter permanecido nesse nível desde então. "Com juros baixos, os investidores saíram em busca de rendimentos e os fundos imobiliários têm surfado essa onda", afirma.
Para se ter ideia, a taxa de retorno apenas com aluguéis pagos pelos fundos imobiliários, conhecida como "dividend yield", segundo levantamento da Economatica, foi superior inclusive aos dividendos pagos no mercado de ações em 2018, que teve um ano positivo (o Ibovespa subiu pouco mais de 15%).
Conforme a consultoria, a mediana dos dividendos das carteiras imobiliárias listadas na bolsa em 12 meses até outubro de 2018 alcançou 7,13% - acima do juro básico e bem superior ao provento de 1,8% na mediana das ações. Vale lembrar que o rendimento distribuído pelos fundos imobiliários conta com isenção tributária, tornando o segmento ainda mais vantajoso na comparação com a renda fixa.
Para o cálculo foram considerados apenas os papéis com presença em todos os pregões do período em ambas as categorias. Politi, da Rio Bravo, explica ainda que a percepção de início do ciclo de expansão imobiliária tornou o efeito da queda dos juros ainda mais atrativo. "Os fundamentos vêm se fortalecendo e a tendência de queda de vacância e aumento de preços se consolida desde o ano passado."
Como consequência do avanço do segmento observado no ano passado, o valor de mercado dos fundos listados em bolsa atingiu a maior cifra da história - R$ 45,6 bilhões em outubro, marca que recuou para R$ 41,6 bilhões no último mês do ano.
Conforme os dados da B3, o patrimônio líquido dos 405 fundos imobiliários registrados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em dezembro do ano passado, de R$ 90,4 bilhões, também é o maior valor já registrado. O crescimento em 2018 foi de 24,6% na comparação com o ano anterior. Em outra métrica, a carteira do Índice de Fundos Imobiliários (IFix) da B3 alcançou em dezembro do ano passado o maior valor de mercado em reais, aos R$ 32,8 bilhões. Trata-se de um crescimento de 14,5% em relação às cifras vistas no fim de 2017.
Alguns números ficaram no quase, caso do valor das ofertas que alcançou a segunda melhor marca histórica, aos R$ 12,8 bilhões, somente atrás dos R$ 15,7 bilhões de 2012, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
O volume de emissões cresceu 36,8% na comparação com o ano anterior. Mas em quantidade, as 80 ofertas do ano passado se tornaram novo recorde, ao superar as 79 de 2017 e as 74 emissões de 2012. Mas o ano estelar dos fundos imobiliários em 2018 levanta dúvidas sobre o desempenho do segmento nos próximos meses.
Especialistas, no entanto, ainda enxergam potencial de ganhos para os investidores, devido ao momento de retomada do setor. "Há uma convergência benigna entre o cenário macroeconômico e o ciclo imobiliário favorável", aponta o sócio-fundador da Hedge Investments, André Freitas.
Segundo o especialista, "o mercado imobiliário vai crescer mais do que o PIB neste ano e a recuperação de preços, em especial no segmento de lajes corporativas premium, será superior à inflação". Para Freitas, em um período de três a cinco anos, "o ganho real de preços pode alcançar entre 30% e 50%".
Segundo Daniel Malheiros, sócio da RBR Capital, "já vemos queda forte de vacância e aumento do preço do aluguel, mas esses movimentos ainda não foram totalmente captados pelo mercado. O investidor que olha para frente vê que tem espaço para ganhos. Os preços estavam há três anos congelados, o que ainda favorece a compra agora". Essa onda já se consolida, por exemplo, em São Paulo entre os imóveis comerciais "triplo A" das áreas mais nobres da capital paulista, como as avenidas Faria Lima e Paulista. Esse tipo de propriedade, que ocupa o topo da cadeia, em geral é o primeiro a capturar a volta do interesse de grandes investidores.
O otimismo dos gestores em relação a este ano também ganha reforço diante da perspectiva de um caminho mais previsível comparado a 2018. Isso porque, embora tenha fechado com vários recordes, o mercado passou muito longe da tranquilidade ao longo do ano passado. Para se ter ideia da volatilidade, entre janeiro e a máxima do ano passado, em 6 de abril, o Ifix acumulou alta de 6%.
Mas, espremido entre as incertezas da greve dos caminhoneiros, em maio, e as eleições de outubro, o índice chegou a recuar 6,2% na mínima de fechamento do ano em junho. Na véspera do primeiro turno ainda exibia queda de 4,2%. Depois do segundo turno, o indicador se recuperou e fechou 2018 com ganho de 5,6%. Nas primeiras semanas do ano, o segmento continua a mostrar fôlego.
Na sexta-feira, o Ifix bateu o recorde nominal, aos 2.398 pontos, com alta de 1,98% no acumulado do ano. E a tendência é de manter o ritmo com menor volatilidade, pelo menos, no curto prazo. O momento atual se mantém positivo para aquisição de ativos imobiliários, pondera Matheus Oliveira, também gestor de fundos imobiliários da Rio Bravo. "Esse cenário vai perdurar por algum tempo, provavelmente, até a metade do ano."
Para o especialista, os preços já começam a subir tanto na locação quanto na venda e, daqui para frente, o potencial de ganhos vai diminuir conforme os aumentos se acelerem e se disseminem. O gestor ressalta ainda que, apesar de os preços estarem mais elevados em relação aqueles vistos há dois anos, "o momento para compra está mais favorável, pois tem uma menor relação de risco-retorno". Isso porque a recuperação do mercado está no rumo, enquanto em 2017 havia menos clareza sobre o início do novo ciclo. O sócio da RBR enxerga ainda um cenário favorável ao crescimento da participação de investidores estrangeiros e institucionais.
Para Malheiros, um dos fatores de impulso para esse crescimento vem da resolução 4661, da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), que determinou no ano passado às entidades de previdência fechada que façam investimentos em ativos imobiliários apenas por meio de instrumentos financeiros, como títulos e fundos.
Na visão do gestor, em cinco anos, o número de investidores em fundos imobiliários pode chegar a 1 milhão. Para Freitas, da Hedge, a maior participação de investidores institucionais tem sido um dos fatores do forte crescimento recente da indústria de fundos imobiliários.
"Fundos de pensão, family offices, fundos de fundos e até fundos de ações que aproveitam oportunidades no segmento têm sido negociadores cada vez mais frequentes no mercado", pondera o gestor. Apesar do cenário de crescimento da atividade, com retomada da expansão de emprego e renda, e do momento de queda de vacância e subida de preços no mercado imobiliário, algumas incertezas surgem no horizonte.
Um risco vem da possibilidade de uma eventual subida de juros pelo Banco Central, que tem mantido a Selic na mínima histórica desde março de 2018. Para Oliveira, da Rio Bravo, a perspectiva de a autoridade monetária voltar a elevar a Selic neste ano fica cada vez mais distante. "Pelo menos até a metade do ano, nós enxergamos como maior possibilidade a manutenção do patamar atual", afirma.
O gestor acrescenta que, se as reformas prometidas pelo novo governo, em especial a da Previdência, forem aprovadas, a Selic pode permanecer na mínima histórica ao longo de 2019 inteiro. Além da expectativa de uma política monetária ainda frouxa neste ano, o momento positivo do segmento pode compensar um eventual aperto nas condições financeiras. "De qualquer modo, o aumento de juros, quando vier, será pequeno e a indústria está madura o suficiente para absorver esse movimento."
Outro risco para o segmento, que tem sido sinalizado pelo novo governo, é o de uma eventual taxação de dividendos, o que incluiria os rendimentos dos fundos imobiliários isentos de imposto de renda. Mas essa possibilidade também é minimizada pelos especialistas. "Primeiro seria uma medida que não viria no curto prazo, mas, de qualquer modo, o mercado mudou, está maior, com gestão mais eficiente e pode compensar tranquilamente essa diferença de rendimento", diz Politi, da Rio Bravo.
O sócio da Hedge reforça a visão de amadurecimento do mercado. "Os novos investidores têm sido atraídos por um momento de maior qualidade de gestão, administração e transparência na comunicação dos fundos, assim como o lançamento de produtos com portfólios maiores e mais diversificados, que servem tanto para mitigar o risco quanto maximizar os ganhos para aos investidores."
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