Terça-feira

VALOR

'Os mercados não estão melhorando à toa', diz Figueiredo

Luiz Fernando Figueiredo, sócio da Mauá Capital e ex-diretor do Banco Central, está confiante na capacidade de o governo Jair Bolsonaro aprovar as reformas que o país precisa, sobretudo a da Previdência. Em entrevista ao Valor, ele ressalta que "os mercados não estão melhorando à toa". "A bolsa brasileira não está batendo recordes, o real não está apreciando e a curva de juros não está fechando à toa. Isso é porque as pessoas estão vendo que o mais provável é que aconteçam as coisas que são relevantes para o futuro do Brasil."

Figueiredo divide a sua avaliação das primeiras semanas de Jair Bolsonaro à frente da presidência da República em duas vertentes. Primeiro, a escolha da equipe econômica, que considerou "impecável". Segundo, a postura prudente e com senso de maturidade do governo na sua relação com o Congresso. "O Palácio do Planalto não está tentando impor nomes à sucessão nas presidências da Câmara e do Senado. O governo não pretender liderar o processo. O que o governo quer, na minha ótica, é ter uma base grande e o mais sólida possível."

Essa é uma questão importante porque foi na disputa pela presidência da Câmara que a ex-presidente Dilma Rousseff inaugurou seu inferno astral. Ela bateu de frente com o então postulante do PMDB, deputado Eduardo Cunha (RJ), ao pretender emplacar seu candidato à presidência da Câmara, o então deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), que foi derrotado. "O que eu estou achando muito bom é que esse governo não está entrando em bola dividida." Para ele, os bate-cabeças iniciais do presidente com alguns dos seus subordinados não têm importância e eram, inclusive, previsíveis. Já as denúncias contra o filho do presidente, Flávio Bolsonaro, "desgastam".

Valor: Como o sr. avalia as primeiras semanas de governo? Houve muitos bate-cabeças?

Luiz Fernando Figueiredo: Vejo as coisas sob duas vertentes. A primeira foram as nomeações e posso falar mais da área econômica do que nas outras áreas. Elas foram impecáveis. Todas as pessoas contratadas são muito boas e muito especializadas no que vão fazer. A estrutura montada com supersecretarias ocupadas por pessoas seniores tem muita capacidade de entrega, que é um dos grandes receios que se têm dessa nova gestão.

Valor: O que garante que haverá bons retornos dessas sete secretarias do Ministério da Economia, ocupadas por praticamente vice-ministros?

Figueiredo: Quando você tem gente boa, por mais dificuldade que se tenha para fazer as arrumações no início, é meio caminho andado. Isso vale tanto para o Ministério da Economia quanto para o Banco Central. Outras áreas do governo, como Justiça, foram excelentes; outras, nem tanto.

Valor: Os ruídos iniciais, com o presidente sendo desmentido por seus subordinados, não causaram estranheza?

Figueiredo: Na minha visão, ruídos sempre vão existir. Temos que ver o que é para valer e o que não é para valer. Em todas as entrevistas que eu dei nos últimos três meses, eu dizia que iria ter bateção de cabeças. Você não começa uma empresa ou um governo com 100 pessoas, 200 pessoas que começam a trabalhar juntas que não tenha uma bateção de cabeça. É normal! Eu até acho que a imprensa está focando no lugar errado.

Valor: Por quê?

Figueiredo: Está focando nas pequenas coisas e não está olhando a fotografia geral. Os mercados não estão melhorando à toa. A bolsa brasileira não está batendo recordes, o real não está apreciando e a curva de juros não está fechando à toa. Isso é porque as pessoas estão vendo que o mais provável é que aconteçam as coisas que são relevantes para o futuro do Brasil.

Valor: O bombardeio crescente de denúncias contra o filho do presidente, Flávio Bolsonaro, não é preocupante?

Figueiredo: Desgasta, mas o importante é ficar claro se isso é coisa só do filho ou se o presidente, de alguma forma, está envolvido.

Valor: E a outra vertente?

Figueiredo: É a política. A relação que foi feita com o Congresso, com a questão da presidência da Câmara, tem sido muito bem feita.

Valor: O sr. se refere ao fato de o Palácio do Planalto não tentar impor nomes à sucessão nas presidências da Câmara e do Senado?

Figueiredo: Isso, do governo não pretender liderar o processo. O que o governo quer, na minha ótica, é ter uma base grande e o mais sólida possível. Vale lembrar que o primeiro erro da Dilma [a ex-presidente Dilma Rousseff] foi tentar emplacar o seu candidato à presidência da Câmara e perdeu para o Eduardo Cunha. O que eu estou achando muito bom é que esse governo não está entrando em bola dividida.

Valor: A situação financeira de alguns Estados é lamentável. Qual deveria ser a posição dos novos governadores?

Figueiredo: O Doria [João Doria, governador de São Paulo] disse que a bancada dos governadores vai apoiar a reforma da Previdência. Essa foi uma coisa que o Temer tentou e não conseguiu.

Valor: Será?

Figueiredo: Pela primeira vez em muito tempo a agenda dos governadores não é conflitante com a do governo federal. Porque, para eles, não adianta mais só renegociar as dívidas. O buraco é muito mais fundo. Os governadores terão que fazer reformas profundas e muito rapidamente, senão não vão conseguir governar.

Valor: Isso aumenta muito as chances de aprovação da nova Previdência?

Figueiredo: Exatamente. Quando você olha as condições da reforma andar, elas aumentaram de dois meses pra cá. E aumentaram bem. Um outro elemento que também ajuda são os índices de confiança que deram um salto da eleição para cá. Nunca vou me esquecer do índice que saiu da CNI, logo depois da eleição, referente a novembro, que deu um pulo de nove pontos e, se não me engano, passou de 53 para 62. Acho que isso não acontecia há oito ou dez anos. Um outro aspecto é que quando você olha os próprios sinais de popularidade e de apoio à reforma, eles cresceram bastante nesses últimos dias.

Valor: O sr. vislumbra um aquecimento da atividade?

Figueiredo: A atividade começou a dar uma aquecida, o que faz com que também o ambiente melhore. Tudo isso corrobora para ser aprovada a reforma.

Valor: O governo já não deveria ter pronta uma proposta para a Previdência?

Figueiredo: Veja, uma outra coisa que me pareceu de muito bom senso, foi o Paulo Guedes [ministro da Economia] e a equipe estudarem as várias propostas para, no final, ter a melhor reforma possível. E até onde se tem informação, ela deve ser uma reforma mais robusta do que aquela do Michel Temer. Ela deverá contemplar a criação do sistema de capitalização, que começará um processo de solução mais definitiva para a Previdência no longo prazo. Nunca uma reforma da Previdência é completamente definitiva, mas a do governo está com uma cara mais permanente.

Valor: Já foram publicadas tantas alternativas de mudanças que tenho dificuldade de ver o que é efetivo e o que não é...

Figueiredo: Várias coisas que eles disseram mostram um grau de ambição maior. Por exemplo, aparentemente será uma reforma com um prazo de transição mais curto, não de 20 anos como consta da proposta do Temer, mas de 15 anos. Isso faz com que o valor presente dela seja bem maior. Essa, por si só, já é uma mudança relevante. O regime de capitalização que vai junto. Ou seja, pelo jeito não será mais uma reforma fatiada.

Valor: Parece que o presidente será o porta -voz da proposta final. Isso é bom?

Figueiredo: Essa é outra coisa muito importante que não vi nenhum outro governo fazer com tanta ênfase. Pelo que foi dito, o próprio presidente Jair Bolsonaro vai ser o porta-voz da reforma. Tudo isso somado faz com que a gente olhe e diga: 'Bom, nós temos uma reforma que é muito importante, mais ambiciosa do que a que está em tramitação no Congresso e cujas chances de aprovação estão crescendo'. Ninguém pode se iludir e achar que só na conversa as coisas vão continuar melhorando, não vão. Nós precisamos aprovar a reforma.

Valor: O programa econômico do governo, porém, não se esgota aí. É preciso não só arrumar a área fiscal, mas buscar ganhos de produtividade. Afinal, não é possível um trabalhador no Brasil produzir um quarto do que produz um trabalhador nos Estados Unidos, não é?

Figueiredo: É verdade. Há uma agenda que está vindo aí que é uma agenda de desburocratização, de limpeza de um monte de coisas, fora a própria privatização, a abertura da economia, a simplificação tributária. E há, também, uma série de coisinhas, de pequenos símbolos, de excessos que este governo está cortando que, somadas, formam uma percepção relevante.

Valor: Quais coisinhas?

Figueiredo: Eu até fiz uma lista de umas cinco ou seis medidas. Por exemplo, foi cancelada a dotação de R$ 44 milhões destinada ao programa de desenvolvimento de criptomoedas, aprovada no apagar das luzes do ano passado; teve o corte de R$ 2,5 bilhões de verba para publicidade da Caixa, que é um banco quase quebrado; e teve, também, a notícia de que 520.148 pessoas solicitaram desligamento voluntário do Bolsa Família, em ação de combate a fraudes. A própria redução do número de ministérios, para 22. São ações que dão às pessoas a sensação de que pela primeira vez em muito tempo estão começando a levar a sério o dinheiro público. Isso é só o início, são as primeiras medidas, mas o caminho é o que estava todo mundo esperando.

Valor: O sr. se referiu ao comportamento dos mercados nas últimas semanas, que indica boas expectativas. Não há um pouco de torcida para que as coisas deem certo?

Figueiredo: Não. Porque ninguém toma risco com torcida; toma risco porque acredita, porque tem a expectativa do que vai acontecer. O mercado não acredita em conto da carochinha. Ninguém vai tomar um risco se a probabilidade de dar certo for baixa. É quase que um consenso entre os agentes econômicos de que as chances de nós avançarmos numa agenda bem razoável de reformas aumentou muito. Eu não estou falando uma novidade aqui.

Valor: Mas o que comprova a existência desse quase consenso?

Figueiredo: Olha o que aconteceu com o risco Brasil, por exemplo. O Credit Default Swap (CDS), que mensura o risco do Brasil, fechou uma barbaridade! Se olharmos o rating da Standard & Poor's, ele está dois graus acima. Se a agência seguisse o que acontece com o CDS, o país deveria ter um upgrade. O problema é que as agências de rating são mais lentas e precisam ver o quanto vai avançar a reforma da Previdência.

Valor: Essa percepção de melhora já mudou o quadro no setor real?

Figueiredo: Estamos bem no início de um processo, mas você vê as vendas aumentando, os pedidos aumentando. Ninguém está falando em investimento, certo? Mas, até por conta da eleição, passou um longo tempo em que se inibiu o consumo. O mês de dezembro, em termos de vendas, foi muito bom. As pessoas estão voltando a consumir. Agora, ninguém está falando em uma taxa de crescimento absurda. Nossa previsão para este ano é de 3%.

Valor: O país só estará em uma situação confortável quando houver expansão do investimento e este não apresenta sinais de crescimento.

Figueiredo: É, mas a expansão de investimento é uma segunda onda. No primeiro momento tem o aumento da demanda, o crescimento das vendas. Já o investimento para valer precisa ser mais do que só expectativa. Os mercados líquidos vivem de expectativa. Se as expectativas não se traduzem em aumento de demanda, não vai ter investimento, não vai ter nada.

Valor: O que lhe garante que estamos no início de um ciclo bom?

Figueiredo: Do primeiro mandato da Dilma para o segundo mandato, o legado que ela recebeu de si mesma era um desastre. O que acontece com o Bolsonaro hoje é exatamente o contrário. Ele encontrou a economia com ociosidade e com inflação baixa e juros baixos. As empresas reduziram fortemente os seus custos e têm, agora, muita capacidade de crescer o faturamento sem aumentar custos. Elas se desalavancaram e como há muita ociosidade, não é preciso mais juros durante algum tempo. Acho que os juros não precisam, agora, nem ir para a taxa neutra, pode esperar um pouco mais. O balanço de pagamentos está consolidado. Então, Bolsonaro pegou a economia prontinha para recuperar. Caso ele consiga - e a probabilidade está aumentando - aprovar uma agenda razoável, a componente cíclica se transforma em estrutural.

Valor: E se não der certo?

Figueiredo: Veja, hoje está mais difícil dar errado do que dar certo.

Valor: Por que?

Figueiredo: Não tem nenhum sinal - nenhum, zero - de que o governo não está, de fato, indo pra uma agenda liberal na área econômica. Pelo contrário: todas as indicações reforçam que isso está acontecendo. E esse governo tem uma diferença de governos anteriores, quando havia conflito dentro da equipe entre desenvolvimentistas e ortodoxos.

Valor: O sr. enfatizou as boas perspectivas. E os riscos, quais são?

 Figueiredo: Bom, tem um risco de o ambiente externo piorar muito, a economia americana entrar em recessão e o mundo desacelerar muito. No fim do ano os mercado tinham, implícito, o risco de 50% da economia americana entrar em recessão em 2020. É muito. Esse risco já reduziu. Esse não é o cenário principal, mas tem que ser monitorado. O ambiente externo vai ser volátil.

Valor: Internamente, quais seriam?

Figueiredo: É o risco de o governo não conseguir conduzir bem no Congresso a tramitação da reforma. Mas até agora, o presidente tem dado sinais de muita maturidade.

 

'América Latina verá cada vez menos populistas'

A América Latina está se afastando cada vez mais do populismo econômico e adotando uma agenda liberal, mas as eleições presidenciais da Argentina e do Uruguai - ambas em outubro - são críticas para consolidar esse novo panorama político na região, segundo o executivo Ricardo Villela Marino, da família acionista do Itaú Unibanco.

De uma rápida passagem por Buenos Aires, em dezembro, ele extraiu de conversas com empresários, clientes e economistas locais que o presidente Mauricio Macri tem "mais de 90%" de chances de reeleição. Deslocado em 2018 para a presidência de um novo conselho estratégico do Itaú para a América Latina, Marino enfatiza que a instituição pretende ser reconhecida como "o" banco da região". Está no caminho: fica entre os cinco principais bancos do Chile e da Colômbia, entre os três primeiros do Paraguai e do Uruguai e é o maior no segmento corporativo e de investimento na Argentina.

 Hoje as operações latino-americanas representam de 7% a 8% do resultado total do Itaú Unibanco e 28% de seus empréstimos. Argumentando que não tem mandato interno para falar sobre o Brasil, evita fazer comentários sobre a reforma da Previdência. No entanto, manifesta expectativa positiva com a agenda que será apresentada pelo presidente Jair Bolsonaro no Fórum Econômico Mundial, em Davos. "Resta conhecer a capacidade de articulação política do governo para viabilizar a boa execução de todo esse plano."

Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

Valor: Qual é sua expectativa sobre a mensagem que o novo governo brasileiro deve trazer a Davos?

Ricardo Villela Marino: É positiva. Primeiro, porque concordamos com o diagnóstico que a equipe econômica fez sobre os principais entraves que estão segurando o crescimento. Segundo, porque também concordamos que as primeiras medidas sugeridas para lidar com esses entraves são as mais adequadas. Terceiro, porque temos enorme respeito pela qualidade dos profissionais que compõem a equipe. Resta conhecer a capacidade de articulação política do governo para viabilizar a boa execução de todo esse plano. A expectativa do mercado e dos participantes [do fórum] é que detalhem mais quais serão as prioridades nos primeiros cem dias, principalmente no que tange às reformas. O desafio não é apenas delinear o que vão fazer, mas como executar isso no dia a dia e negociar essas prioridades junto ao Congresso.

Valor: E quais são os potenciais impactos econômicos do governo Bolsonaro para a América Latina?

Villela Marino: Se essas reformas forem bem-sucedidas e o Brasil de fato crescer o que está sendo esperado pelos nossos economistas, de 2% a 2,5%, isso pode ter impacto muito positivo para o PIB argentino - em torno de 0,7 ponto percentual. O Brasil, indo bem, ajuda a Argentina, e eles torcem para que esse governo dê certo. Outro exemplo de impacto é a Venezuela. É um governo que está se posicionando pela primeira vez com relação à crise econômica, política, social e humanitária da Venezuela. Parece que será mais duro do que os anteriores e que a ditadura venezuelana não será mais tolerada. Dados a liderança e o peso do Brasil na diplomacia regional, a Venezuela ficará mais excluída agora.

Valor: Como o sr. vê a crise argentina e a possibilidade de recuperação econômica do país vizinho?

Villela Marino: Estive na Argentina em dezembro. Ouvi nossos economistas, clientes, executivos, gente do governo. Ficou claro que está havendo uma normalização da produção agrícola. A recuperação do Brasil provavelmente ajudará a atividade industrial e o crescimento do PIB em 2019. Os indicadores de demanda interna permanecem fracos, devido aos ajustes fiscais e monetários. Hoje, os economistas do Itaú na Argentina projetam crescimento zero neste ano, com riscos até enviesados para baixo. No entanto, a recessão e taxa de câmbio mais depreciada estão colaborando para estreitar o déficit comercial. Estimamos redução do déficit de conta corrente para 1,2% do PIB em 2019, que será financiado pelos recursos do FMI. Estamos trabalhando com a hipótese de que a meta de déficit primário zero vai ser cumprida. Os principais riscos estão relacionados às eleições.

Valor: E o que o sr. espera das eleições presidenciais de outubro?

Villela Marino: Elas podem ser um entrave à economia, provocando nova depreciação do peso, mantendo a inflação em patamares altos e impedindo o BC de promover queda nas taxas de juros. Pode haver consequências negativas para a atividade, a popularidade do governo e as chances de reeleição do presidente Mauricio Macri. Mas, quando você fala com economistas e com o empresariado local, além do próprio governo, eles apontam uma probabilidade de mais de 90% de o Macri conseguir a reeleição e colher, no início de 2020, os frutos de seus ajustes.

Valor: Seria importante evitar a tentação populista na Argentina?

Villela Marino: Sem dúvida. O que vai acontecer na Argentina é muito análogo ao que houve no Brasil. De um lado, teremos o Macri, com uma candidatura mais de centro-direita. Do lado populista, virá de novo a Cristina Kirchner, que seria um cenário [parecido com] Lula. Ela sempre tem força na base da pirâmide, aqueles quase 30% dos votos. E, pelo centro, está indefinido o peronista ou a peronista que vem para desequilibrar o jogo. No mercado, a aposta é que essa balança penderá para Macri.

Valor: Em vários países onde vocês atuam - Chile, Colômbia, Paraguai - houve eleições presidenciais recentes com vitórias de candidatos liberais. Essa tendência está consolidada na América do Sul?

Villela Marino: É a sabedoria da própria democracia como um todo. Tivemos experiências com governos mais populistas, que ficavam só no discurso, mas que deixavam os bolsos vazios e com corrupção no meio. O nível de intolerância com isso é crescente. Cada vez menos veremos populistas vencendo na América Latina, o que permite um desenvolvimento mais sustentável da economia, com atuação mais liberal. O Iván Duque, na Colômbia, tem ótima formação, é uma liderança pró-mercado, seus ministros estão na média dos trinta e poucos anos, todo sábado vão ouvir as demandas da população e implementar isso dia a dia no governo. São governos que querem estar próximos dos cidadãos, sem ser populistas e em prol do crescimento. As eleições na Argentina e no Uruguai são críticas para consolidar o panorama político latino-americano.

Valor: Como estão os negócios do Itaú na Argentina?

Villela Marino: O banco Itaú Argentina é pequeno, é o 15º do país, mas somos o primeiro no segmento corporativo e de investimentos. Fazemos os grandes negócios da Argentina e da região. Estamos investindo muito pioneiramente em banco digital. Coisas que não estamos fazendo nem mesmo no Brasil estamos fazendo lá em caráter piloto, justamente porque não vamos crescer comprando bancos nem abrindo novas agências.

Valor: Então, resta o digital como única aposta para a expansão?

Villela Marino: Dada a proximidade geográfica e cultural que temos com os países ao redor do Brasil, a América Latina é prioridade na expansão internacional. O nosso propósito é sermos conhecidos como "o" banco da América Latina, sermos uma referência na região para todos os serviços prestados a pessoas jurídicas e físicas. Nestes últimos anos, consolidamos nossa presença no nicho de operação que queríamos na Argentina, no Chile [após a fusão com o CorpBanca ], no Paraguai e Uruguai. Nesses países, atendemos todo o varejo bancário, empresas, corporate e tesouraria, com foco principal na atividade de banco comercial. Com essa recente fusão entre Itaú Chile e CorpBanca, asseguramos também presença na Colômbia e no Panamá. O banco criou um conselho estratégico para a América Latina. Queremos consolidar a visão de longo prazo do Itaú na região, com um olhar muito especial em inovação e tecnologia.

Valor: O fato de ter um vice-presidente do Facebook no conselho estratégico indica que vocês pensam em algo com essa plataforma?

Villela Marino: Só para recapitular, esse conselho é formado hoje por membros internos e externos. Os internos são Roberto Setubal, Candido Bracher, Caio David. Os externos convidei Andrés Velasco [ex-ministro da Fazenda do Chile], Ángel Corcóstegui [que "latino-americanizou" o Santander ], a economista mexicana Sonia Dulá [que era do Bank of America Merrill Lynch para a América Latina] e Alfonso Prat-Gay [ex-ministro da Argentina]. Por fim, Hugo Barra traz a presença de alguém que não é do sistema bancário, para pensar fora da caixa, com a mentalidade de inovação, digitalização e canais alternativos. Ele cuida do produto óculos no Facebook, de realidade aumentada. Quem sabe, no futuro, as pessoas estarão com seus óculos fazendo o "banking" como um todo. Precisamos de alguém que conheça tecnologia e nos provoque.

Valor: De toda maneira, o ano de 2018 foi de certa estagnação na América Latina. O quanto isso freou a expansão internacional do Itaú?

Villela Marino: O banco, em si, teve um ano muito bom. Estamos entre os cinco principais bancos do Chile e da Colômbia, entre os três primeiros do Paraguai e do Uruguai. Mesmo na Argentina, com toda essa volatilidade, tivemos um bom resultado e nos protegemos bem da oscilação no câmbio. Com relação à economia, estamos prevendo zero para o crescimento do PIB da Argentina neste ano, mas 3% de recuperação para 2020. Na Colômbia, esperamos 3,3% em 2019 e 3,6% no ano que vem. No Chile, aceleração de 3,5% para 4%. São mercados que estão crescendo quase o dobro do Brasil.

 

Brasil vai crescer menos sem reforma da Previdência, avisa FMI

O Brasil vai crescer menos se a reforma da Previdência não for aprovada. Foi a mensagem deixada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) nesta segunda-feira ao atualizar em Davos suas projeções de crescimento global. A projeção da entidade é de crescimento no Brasil de 2,5% neste ano, ou 0,1 ponto percentual a mais comparado à projeção de outubro, e de avanço 2,2% em 2020.

Para o FMI, a economia brasileira tem muito espaço para crescer, depois da pior recessão dos últimos tempos, mas há muitas questões abertas, disse o diretor-adjunto do Departamento Econômico da entidade, Gian Maria Milesi-Ferretti, ao ser questionado pelo Valor sobre a estimativa menor de expansão do PIB em 2020.

''Parte do crescimento em 2019 vem do reforço da economia, do que aconteceu no ano passado, e parte é retomada depois da recessão'', disse, reafirmando que o Brasil está saindo de profunda recessão e tem crescimento modesto. “O Brasil precisa de mais espaço para fechar o hiato de produto [capacidade de a economia crescer sem gerar inflação]”, acrescentou.

Milesi-Ferretti reforçou que há questões abertas no país, mencionando o alto endividamento público e a reforma da Previdência. "A reforma da Previdência pode não passar'', disse. ''Mas esperamos que passe. É essencial para o Brasil colocar as finanças públicas em bases sustentáveis." O posicionamento também veio da economista-chefe do FMI, Gita Gopinath, que ressaltou que o Brasil tem expansão cíclica, mas ainda há risco na perspectiva, com alto endividamento.

A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, também foi incisiva ao aconselhar os países a se prepararem para o caso de uma desaceleração maior da economia global. PIB per capita O Produto Interno Bruto (PIB) per capita, medida do padrão de vida do brasileiro, pode crescer 1,4% em 2019 e 1,8% em 2020 no país, conforme projeção do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas.

Em relatório sobre a ''Situação Econômica Mundial e Perspectivas 2019'', a ONU projeta crescimento econômico global de 3% em 2019, comparado a 3,1% em 2018, e avalia que a expansão da atividade atingiu provavelmente seu ponto culminante. No caso do Brasil, os economistas da ONU revisaram para baixo o crescimento da economia brasileira em 2018, para 1,4%, e para 2,1% neste ano - bem menos otimista que o FMI, que prevê expansão de 2,5%.

Para 2020, o crescimento brasileiro poder aumentar para 2,5%, segundo a ONU. Quanto ao PIB per capita, no Brasil chegou a sofrer contração de 4,2% em 2016, ilustrando empobrecimento do brasileiro no rastro da recessão. Depois, teve alta de 0,2% em 2017 e de 0,6% em 2018, na projeção da ONU. Agora, no cenário de maior crescimento, a alta do PIB per capita pode passar para 1,4% e 1,8%, neste e no próximo ano, respectivamente.

O relatório da ONU enfatiza que se as perspectivas econômicas melhoraram globalmente nos últimos dois anos, vários grandes países em desenvolvimento viram sua renda per capita diminuir. Segundo as previsões, em 2019 o crescimento da renda por habitante deve continuar a baixar ou ser fraco na África, na Ásia ocidental e na América Latina e Caribe, regiões onde parte importante da população vive na pobreza extrema.

A ONU conclama os governos a reduzir os riscos que ameaçam a economia mundial, como vulnerabilidades financeiras e provável intensificação de conflitos comerciais. A organização insiste na importância da elaboração de políticas globais na luta contra a mudança climática, com financiamento sustentável, produção e consumo sustentáveis, e correção de desigualdades.

 

Aposta em reforma explica sangue-frio de investidor

O bombardeio de denúncias contra o senador eleito Flávio Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, mudou de escala neste fim de semana e, ainda assim, o mercado preserva um grau de otimismo. Ninguém nega que há risco de que esse tipo de ataque atinja o capital político do novo governo, mas investidores continuam com o foco firme num único tema: a reforma da Previdência. E é isso que justifica a aparente calma diante do noticiário.

A sensibilidade ao clima político mais negativo dependerá da confirmação do projeto que o governo encaminhará ao Congresso. A aposta que prevalece - e que justifica o Ibovespa ainda perto dos 96 mil pontos e o dólar na casa dos R$ 3,75 - é que as propostas de mudança das regras previdenciárias serão mais ousadas do que o projeto encaminhado pelo governo de Michel Temer, o que pode assegurar o cumprimento do teto de gastos, reforçar a confiança do investidor e, portanto, estender a onda positiva para os ativos brasileiros.

Somente quando essas informações estiverem disponíveis é que o mercado vai começar a operar a capacidade de implementação da reforma. Há uma espécie de cronograma a seguir. Primeiro, o investidor quer conhecer o projeto. Depois, saber se o governo conseguirá encaminhar sua reforma apenas com a alteração da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 287, já aprovada em comissão especial da Câmara - o que daria muito mais agilidade ao processo - ou se começará tudo do zero, o que abriria espaço para uma reforma mais ampla, mas tornaria o trâmite mais moroso.

Depois, vai acompanhar a definição do presidente da Câmara, que acontecerá no começo de fevereiro. Sobre esse tema, a variável chave é a vitória de Rodrigo Maia na disputa, considerado neste momento fundamental para um encaminhamento bem-sucedido da reforma.

Nesse momento, o radar vai se voltar para as movimentações das bancadas em torno da proposta. É aí que, provavelmente, o impacto dos escândalos envolvendo a família de Bolsonaro poderá ser sentido. O mercado sabe que o noticiário pode ter um custo para o governo mas, com a onda positiva que se formou para o Brasil, vai esperar para ver.

 

ESTADÃO

Noticiário político não desanima comitiva de banqueiros em Davos

As notícias envolvendo a família Bolsonaro, apesar de terem agitado os bastidores políticos no Brasil, ao que parece ainda não contaminaram a expectativa que a comitiva brasileira de banqueiros levou para Davos. Sustenta o otimismo dos brasileiros as falas do presidente eleito Jair Bolsonaro e ainda do ministro da Economia, Paulo Guedes, tidos como a ponte consolidadora de uma agenda positiva para o Brasil. O tema, porém, não passa desapercebido. Ao desembarcar nos Alpes suíços, um banqueiro, ainda sem se situar do ambiente, diz que é “provável” que a expectativa continue positiva apesar dos casos envolvendo o filho do presidente, Flávio Bolsonaro, e seu ex-assessor Fabrício Queiroz. “Amanhã conheceremos o mood (humor)… espero que positivo”, acrescenta.

Frozen

Ao reclamar do frio de -14º C, um banqueiro avalia que a confiança no governo está mantida. “Mantemos a confiança no governo e seu desejo de realizar e rápido”, afirma, acrescentando que Flávio Bolsonaro e Queiroz têm de ser se explicar como qualquer brasileiro.

Time alpino

Os pesos pesados dos bancos estão no interior da Suíça. Comitivas do Bradesco, Itaú Unibanco e BTG Pactual estão entre os destaques. A cúpula dos bancos públicos não foi ao Fórum.

 

Para Trabuco, Bolsonaro precisa dar um choque na Previdência; e rápido

Pela primeira vez em Davos como presidente do conselho de administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, que completa 50 anos de casa em 2019, tem um recado bastante claro para o presidente Jair Bolsonaro: é preciso fazer um "choque" nas regras da Previdência, sem gradualismos. "Não dá para deixar de ter senso de urgência", afirmou em entrevista concedida ao Estadão/Broadcast nesta segunda-feira, 21, no centro de convenções do Fórum Econômico Mundial de Davos.

Para ele, ainda que Bolsonaro tenha dito quando chegou aos Alpes que seu discurso na terça-feira, 22, será curto, o presidente deve tocar no tema da reforma da Previdência, que é o sinal mais aguardado pelos investidores estrangeiros para voltarem a colocar recursos no País. "O novo governo, por si só, já é suficiente para mudar a percepção dos agentes – por um tempo. Senso de urgência é uma palavra de ordem. Temos que despautar esse tema este ano", afirmou.

Passado esse obstáculo, o executivo acredita na retomada do grau de investimento pelo Brasil, ainda na atual administração. Trabuco também falou sobre desaceleração da economia global, tensão comercial entre Estados Unidos e China, empoçamento da liquidez mundial e recuperação do mercado de crédito doméstico, entre outros temas. Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

Estadão/Broadcast: Temos o discurso do presidente brasileiro, que está atraindo bastante curiosidade aqui em Davos. Qual é a sua expectativa?

Trabuco: O que eu já vi passar de gente por aqui (no Fórum), de lideranças que eclipsaram... Esta é a oitava ou nona vez que venho, já são quase 10 anos, e nesse período o mundo mudou muito, principalmente a liderança dos países. Aqui passaram David Cameron, Angela Merkel, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas neste eu não estava, a presidente Dilma Rousseff, o Mauricio Macri, que foi estrela daqui por dois anos. Ao interpretar a história, vimos que um dos lugares em que a Argentina errou foi em acreditar no gradualismo. Nos últimos dois anos, Xi Jinping e Donald Trump. Era inimaginável na ocasião uma guerra comercial tão intensa. A única coisa boa que essa guerra hoje tem é que eles ainda estão dispostos a dialogar. Uma radicalização poderia jogar o mundo num processo recessivo.

Estadão/Broadcast: O FMI diminuiu suas projeções para o crescimento global e a diretora-gerente, Christine Lagarde, fez vários alertas sobre o aumento dos riscos. Como o senhor vê isso?

Trabuco: Eu interpretaria essa colocação assim: o mundo caminha para a recessão? Pode. O mundo caminha para a desaceleração? Sim. O ajuste americano já é de favas contadas. Nem os ciclos da economia e nem os da vida foram revogados. Então, essa ascensão dos líderes que por aqui passaram é parte de um processo natural de substituição. Os EUA devem ter expansão de 3% em 2018 e 3,2% de desemprego. Não tem como continuar melhorando. E a desoneração fiscal e tributária imposta à economia americana vai cobrar um preço, que deve ser um déficit fiscal por volta de 6% em 2022. Aí ou se provoca uma recessão brutal ou tem política monetária agressiva. Como estamos saindo de uma frouxa, é previsível que tenha uma reação nessa linha agora.

Estadão/Broadcast: Mas o Federal Reserve já vem tirando o pé do acelerador, não?

Trabuco: Sim, porque há sinais de que o calor da economia vai diminuir.

Estadão/Broadcast: O senhor ressaltou os líderes, mas não estamos justamente em um momento de falta de líderes?

Trabuco: O mundo tem uma carência de lideranças. Na Inglaterra está faltando uma liderança forte. A Alemanha está saindo de uma liderança forte, mas não tem um sucessor. O Emmanuel Macron está sendo testado, pois pode ser uma liderança muito de aparência. A busca por lideranças é um fato necessário. No Brasil, que tem lições de casa muito fortes a fazer, a eleição deu a possibilidade de ter uma liderança determinada, forte, em um hora de mudança do modelo econômico. Esse ambiente é que faz o pessoal de Davos olhar o Brasil com interesse. Um País que tem densidade territorial e populacional, bônus da agricultura e das commodities, a discussão sobre seu futuro provoca atenção em todos. Parece que estamos sempre postergando esse encontro marcado com o futuro do País. Mas agora mudou. Com a mudança do governo, do modelo econômico, da recusa da chamada nova matriz econômica, tudo isso deu um hálito novo, um clima de esperança. Vivemos mais do que uma lua-de-mel. Isso está no preço do dólar, da bolsa e dos bônus. Então, somos um objeto de desejo.

Estadão/Broadcast: Muitos investidores parecem interessados no Brasil, mas não têm confiança suficiente para colocar recursos, de fato. Quando chegou a Davos, o presidente disse que seu discurso será curto. Não seria jogar fora uma oportunidade de falar para a elite financeira do mundo que, se não investe, faz intermediação dos investimentos?

Trabuco: Acho que teremos esses sinais amanhã, com o almoço do ministro da Economia, Paulo Guedes, e o discurso de Bolsonaro. Vamos acabar ouvindo isso. Investidores estrangeiros chegaram a ter 18% da dívida interna brasileira, num gesto de confiança. Hoje, está por volta de 11%. Então, há espaço para investidores internacionais que acreditam na solvência do Estado brasileiro. E, se isso acontece, a redução do custo de capital no Brasil é uma coisa formidável.

Estadão/Broadcast: O senhor falou que a Argentina pode ter pecado pelo gradualismo. No caso da Previdência, se vier uma reforma gradual pode ser um risco?

Trabuco: Sou um crítico dos mecanismos de gradualismos porque no trato dos desafios econômicos eles eram adequados quando o mundo era mais simples, com o padrão ouro, Breton Woods... Mas após a globalização, que é um conceito econômico, a digitalização, a moeda internacional, os ratings internacionais ficaram muito presentes. Então, não se pode contentar em fazer transformações muito gradualistas. Tem que dar um choque. O que se propõe no Brasil deste momento é um choque de liberalismo, em que o capital privado possa ter protagonismo. Até porque o capital estatal ficou diminuto porque estamos em déficit.

Estadão/Broadcast: E em que prazo isso precisa acontecer?

Trabuco: Chegamos a um nível de consciência tão grande da necessidade da reforma da Previdência, que não haverá um governador que não vá se empenhar para a aprová-la. O novo governo, por si só, já é suficiente para mudar a percepção dos agentes – por um tempo. Senso de urgência é uma palavra de ordem. Temos que despautar esse tema este ano. Por isso que a reforma ficou emblemática, necessária e temos que desenhar um sistema que seja autossustentável no longo prazo.

Estadão/Broadcast: O senhor está falando da proposta de capitalização?

Trabuco: Sim. Para os entrantes, essa proposta é possível, necessária e desejável. Para o pessoal que já está, é preciso fazer regra de transição. A reforma da Previdência tem de ser feita, está umbilicalmente ligada ao conceito do País. Tem de ser colocada no gerúndio, no sentido de se trabalhar em etapas, com implantação gradual. A reforma da Previdência é colocada porque é uma mudança de gerações. Ela tem duas vertentes: uma é dos ajustes gerenciais, como combate à fraude, aumento de arrecadação, espaço para formalização de trabalhadores que sejam contribuintes.

Estadão/Broadcast: Mas como formalizar trabalhadores com uma reforma trabalhista indo na outra direção?

Trabuco: A flexibilização e terceirização não eliminam a possibilidade de se formalizar trabalhadores. A outra vertente é estrutural, quando se mexe no que os cálculos atuariais demonstram que não é sustentável no longo prazo. A Previdência brasileira precisa de um choque atuarial. O déficit fiscal é o único ponto que nos torna distante do grau de investimentos. O que nos amarra é a perspectiva de solvência pública para o médio e longo prazos.

Estadão/Broadcast: O senhor acredita no retorno do grau de investimento nesta gestão?

Trabuco: Acho que tem condições. Parece que estamos saindo de uma espécie de círculo vicioso e a nova gestão e a equipe econômica devem migrar isso para um círculo virtuoso.

Estadão/Broadcast: O senhor é sempre um otimista. Também fez avaliações positivas no governo anterior. O senhor é daqueles que olham o copo meio cheio?

Trabuco: Sabe por quê? Porque o Brasil oferece possibilidades. Não podemos ficar presos aos gargalos da infraestrutura, isso é uma verdade, mas do outro lado do copo há uma grande oportunidade. Há um portfólio de obras que pode atrair muitos investimentos. Para isso, é preciso ter modelo econômico de muita coerência, se não fica no stop and go. Isso prejudica muito o Brasil. O País é viável, tem estrutura produtiva, é diversificado, então é de oportunidades. Mas não dá para deixar de ter senso de urgência. Chegamos ao fundo do poço com a recessão.

Estadão/Broadcast: O senhor chegou hoje a Davos. Como sente o clima em relação ao Brasil?

Trabuco: A demanda por contatos é muito grande. O mundo está líquido ainda e a mudança da política monetária, de mais frouxa para mais restrita, pode gerar o voo para a segurança. O Brasil tem condições, no entanto, de apresentar taxa de retorno muito adequada. O dinheiro precisa trabalhar e o mundo tem um empoçamento de liquidez muito grande e esse capital precisa de taxa de retorno. O Brasil tem condições de oferecê-la.

Estadão/Broadcast: Mesmo com a Selic em patamar historicamente baixo?

Trabuco: A Selic está formidável, não podemos subestimar a capacidade de uma política monetária que trouxe o juro para 6,5% ao ano. Isso dá resultado no crescimento. Mas mesmo com essa taxa e com o câmbio controlado, é um retorno excepcional.

Estadão/Broadcast: O senhor falou de crescimento. Com as mudanças no BNDES, os bancos estão preparados para oferecer mais crédito às empresas?

Trabuco: A liquidez do sistema bancário brasileira também é muito alta e tem outra liquidez alta, que é a dos fundos de investimento. Então, a retomada da economia fará com que esse dinheiro vá trabalhar. O crescimento da economia este ano, em torno de 2,6%, pode surpreender. Se a economia cresce 2,5%, o crédito geral cresce a 10%, o melhor período do crescimento do crédito dos últimos cinco, seis anos. Os bancos estão preparados: têm indicadores de Basileia, têm solvência, liquidez...

Estadão/Broadcast: Falando em Basileia, o senhor acredita ser possível uma flexibilização das regras que vieram com a crise internacional de 2008?

Trabuco: Sim, e sem causar bolhas. Os ciclos não foram revogados e os de crédito historicamente imitam o movimento do coração, de sístole e diástole, se retraindo e se expandindo. Nos EUA, houve o movimento a favor.

 

Recuperação do PIB 'está quase parando', afirma economista

Os dados da atividade econômica mostram que o processo de recuperação "está tão lento que está quase parando", alertou Juliana Carvalho da Cunha, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 0,3% em novembro ante outubro de 2018, segundo o Monitor do PIB, divulgado nesta segunda-feira pelo instituto. Houve aumento em todos os componentes da demanda em novembro ante outubro, mas o cenário é de estagnação. A economia manteve uma média de crescimento mensal de 0,1% nos últimos cinco meses.

"Se você tirar os meses afetados pela greve dos caminhoneiros, que bagunçou um pouco os números, você tem essa estagnação desde março de 2017. Ou seja, desde que saiu da recessão, a economia está sem impulso para crescer. Isso é um pouco preocupante", explicou Cunha.

O Monitor do PIB antecipa a tendência do principal índice da economia a partir das mesmas fontes de dados e metodologia empregadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pelo cálculo oficial das Contas Nacionais.

Na passagem outubro para novembro, o PIB Agropecuário caiu 1,2%, enquanto o PIB Industrial encolheu 0,2%. A indústria de transformação ficou estável (0,0%), enquanto a construção teve retração de 1,8%. Ainda sob a ótica da oferta, os Serviços cresceram 0,3% no período.

"A indústria é um dos motores da economia, então o resultado gera cautela", acrescentou Cunha. O PIB teve uma alta de 1,1% em 2017. A expectativa para 2018 é de avanço de 1,3% em 2018, calcula a FGV. Para Claudio Considera, coordenador do Monitor do PIB, a falta de fôlego da economia está associada ao desequilíbrio fiscal e à necessidade de reformas macroeconômicas.

Na comparação com novembro de 2017, a atividade econômica teve elevação de 1,5% no mês de novembro de 2018. Houve recuo apenas nas atividades da indústria de transformação (-1,1%) e da construção (-2,3%), o que puxou para baixo o PIB da Indústria no período: -0,7%.

Pelos demais componentes da oferta, a Agropecuária cresceu 5,6%, enquanto os Serviços avançaram 1,6%. Pela ótica da demanda, o Consumo das Famílias aumentou 2,0% em novembro, e o Consumo do Governo subiu 0,7%. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) teve expansão de 3,7% em relação a novembro do ano anterior. As exportações cresceram 22,6%, enquanto as importações aumentaram 10,6% em novembro de 2018 ante novembro de 2017.

Em termos monetários, o PIB totalizou cerca de R$ 6,206 trilhões em valores correntes de janeiro a novembro.

 

Mercado diminui previsão do PIB em 2019 para crescimento de 2,53%

Na esteira da divulgação do Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br), na última quinta-feira, a expectativa de alta para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2019 passou de 2,57% para 2,53%, conforme o relatório Focus, divulgado nesta segunda-feira, 21, pelo Banco Central. Há quatro semanas, a estimativa de crescimento também era de 2,53%.

A projeção mediana para a inflação em 2019 marcada pelo IPCA passou de 4,02% para 4,00%, conforme o Focus. Há um mês, o porcentual calculado estava em 4,03%.

PIB

Para 2020, o mercado aumentou a previsão de alta do PIB, de 2,50% para 2,60%. Quatro semanas atrás, estava em 2,50%.

A projeção do BC para o crescimento do PIB em 2019 é de 2,4%. Esse porcentual foi divulgado no Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de dezembro.

Na quinta-feira, 17, o BC informou que o IBC-Br de novembro subiu 0,29% ante outubro, na série com ajuste sazonal. Em relação a novembro de 2017, o indicador avançou 1,86%, na série sem ajuste. No acumulado de janeiro a novembro de 2018, o IBC-Br avançou 1,38%. 

No relatório Focus desta segunda, a projeção para a produção industrial de 2019 seguiu indicando alta de 3,04%. Há um mês, estava em 3,30%. No caso de 2020, a estimativa de crescimento da produção industrial permaneceu em 3,00%, igual ao visto quatro semanas antes.

A pesquisa Focus mostrou ainda que a projeção para o indicador que mede a relação entre a dívida líquida do setor público e o PIB para 2019 passou de 56,80% para 56,30%. Há um mês, estava em 56,40%. Para 2020, a expectativa passou de 58,65% para 58,16%, ante 58,60% de um mês atrás.

Inflação

No caso de 2020, a projeção do IPCA dos últimos 5 dias úteis permaneceu em 4,00%. Há um mês, estava no mesmo patamar. A atualização no Focus foi feita por 82 instituições.

A previsão para o IPCA em janeiro de 2019, de 0,37% para 0,40%, conforme o Relatório de Mercado Focus, divulgado pelo Banco Central. Um mês antes, o porcentual projetado estava em 0,38%.

Para fevereiro, a projeção foi de 0,43% para 0,42% e, para março, passou de 0,33% para 0,35%. Há um mês, os porcentuais eram de 0,44% e 0,33%, respectivamente.

No dia 11 de janeiro, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o IPCA de 2018 fechou com taxa de 3,75%.

Em dezembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC havia atualizado suas projeções para a inflação. No cenário de mercado, o BC projeta IPCA de 3,9% em 2019, 3,6% em 2020 e 3,7% em 2021.

A mediana das projeções do IGP-M de 2019 passou de 4,21% para 4,15%. Há um mês, estava em 4,31%. No caso de 2020, o IGP-M projetado foi de 4,08% para 4,00%, ante 4,00% de quatro semanas antes.

Calculados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), os Índices Gerais de Preços (IGPs) são bastante afetados pelo desempenho do câmbio e pelos produtos de atacado, em especial os agrícolas.

Dólar

O relatório de mercado mostrou ainda alteração no cenário para a moeda norte-americana em 2019. A mediana das expectativas para o câmbio no fim do ano passou de R$ 3,80 para R$ 3,75, ante os R$ 3,80 de um mês atrás.

Para 2020, a projeção para o câmbio no fim do ano passou de R$ 3,80 para R$ 3,78. Quatro pesquisas atrás estava em R$ 3,80.

 

 

 

BANCO DE TALENTOS

ÁREA DO ASSOCIADO

O Sinduscon/RN pensa como você, e por isso trabalha:

NOSSA MISSÃO

Representar e promover o desenvolvimento da construção civil do Rio Grande do Norte com sustentabilidade e responsabilidade sócio-ambiental

POLÍTICA DA QUALIDADE

O SINDUSCON/RN tem o compromisso com a satisfação do cliente - a comunidade da construção civil do Rio Grande do Norte - representada por seus associados - priorizando a transparência na sua relação com a sociedade, atendimento aos requisitos, a responsabilidade socioeconômica, a preservação do meio ambiente e a melhoria contínua.

CONTATO

55 84 3206 5362

contato@sindusconrn.com.br

SOCIAL

LOCALIZAÇÃO

Rua Raimundo Chaves, 2182 - Sala 101 Empresarial Candelária - Candelária - Natal/RN

SINDUSCON/RN (C) 2012 - TODOS OS DIREITOS RESERVADOS