Sexta-feira

VALOR

Prisão de Temer tumultua política e ameaça reforma

A prisão do ex-presidente Michel Temer acirrou ontem a tensão existente entre o presidente Jair Bolsonaro e a base de partidos aliados ao governo no Congresso. Além de Temer, a Polícia Federal prendeu o ex-ministro Moreira Franco, padrasto da mulher do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com quem Bolsonaro e seus filhos têm travado permanente disputa nos bastidores de Brasília.

O caso tomou ares de crise e, agora, ameaça a tramitação da reforma da Previdência. Após a prisão de Moreira Franco, Maia cancelou todos os compromissos agendados para ontem. Ele está irritado com o presidente desde o fim de semana, quando o convidou para almoçar, em Brasília, e ao presidente do STF, José Dias Toffoli.

Bolsonaro levou 20 ministros e assessores e, assim, evitou que o encontro fosse reservado. Ao sair da reunião, escreveu nas redes sociais ataques à "velha política" e à pressão por cargos. O desconforto escalou nos dias seguintes, quando o vereador Carlos Bolsonaro (PSL-RJ) criticou articulações de Maia sobre a reforma.

O presidente da Câmara se queixou com o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, mas nada mudou. Ontem, Carlos postou no Instagram fotos de Maia e do ministro da Justiça, Sérgio Moro, acompanhadas de uma indagação: "Por que o presidente da Câmara anda tão nervoso?", referência ao fato de Maia ter suspendido a tramitação do pacote anticrime do ministro. Por causa de atritos com Moro, bolsonaristas procuraram intimidar Maia nas redes socias, criando a "hashtag" #RodrigoRespeitaSergioMoro" e mencionando inquéritos na Justiça Federal a que o presidente da Câmara responde.

Ontem, Maia, que vinha negociando pessoalmente apoios para a reforma da Previdência, disse a aliados que, a partir de agora, terá papel apenas "institucional" em relação ao tema e, portanto, ao encaminhamento da tramitação da proposta. O presidente da Câmara tem servido como porta-voz da reclamação de deputados por espaço no governo. Tornou-se alvo de Bolsonaro, que faz o discurso de que não aceitará o "toma-lá-dá-cá" e que governará com a pressão da sociedade sobre o Congresso, por meio das redes sociais.

 

Entrevista – Diretor do FMI

'É ingênuo pensar que reforma terá efeito imediato na economia'

2019 será um ano de transição para a economia brasileira, diz o diretor para o Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI), Alejandro Werner. Para o mexicano, a proposta de reforma da Previdência apresentada pelo governo é "ambiciosa", sendo a peça mais importante para resolver o quebra-cabeça da situação das contas públicas e uma das medidas mais importantes para o Brasil seguir o caminho do crescimento mais elevado e mais sustentável, mas obviamente não é única.

Werner considera "um pouco ingênuo" pensar que a aprovação da mudança do sistema de aposentadorias terá um efeito imediato sobre a economia, que leve a um crescimento bem mais rápido já neste ano. "É mais importante ser realista, sabendo que 2019 é um ano de transição, em que as pessoas vão julgar se o sistema político vai apoiar essa agenda importante de reformas", diz ele. "Uma vez que a incerteza comece a ser reduzida, haverá um retorno progressivo do investimento no futuro."

Werner conversou com o Valor na semana passada, em visita ao Brasil, quando falou com alguns integrantes do governo, tendo se reunido também com economistas do setor privado e participado do lançamento do livro "Brazil: Boom, Bust and the Road to Recovery", organizado por economistas do Fundo.

Ele diz estar otimista com o país. "Nós vemos alguns sinais de que há um governo com uma agenda muito clara, com o objetivo de gerar sustentabilidade fiscal, ganhos significativos de produtividade e investimento na economia", diz Werner, destacando ainda haver indicações de que, "depois do que o Brasil passou, a sociedade reconhece que mudanças importantes são necessárias" para levar o país de volta ao crescimento inclusivo e sustentável.

"Nós temos repetido em todos os nossos estudos que é muito importante para a sociedade brasileira entender que os desafios do Brasil são tão grandes que a reforma da Previdência sozinha não vai resolver todos eles", afirma Werner, ressaltando que o país vai precisar de significativos esforços adicionais.

Para ele, será preciso privatizar, abrir a economia e tornar o sistema tributário mais eficiente, entre outras medidas, para o Brasil poder crescer a taxas de 3%, 3,5%, no médio prazo. O FMI projeta para este ano uma expansão de 2,5%, estimativa feita antes da divulgação do PIB do quarto trimestre de 2018, que deixou uma baixa herança estatística para 2019.

Na conversa, Werner também falou do efeito da desaceleração global sobre a América Latina e sobre as perspectivas para a política monetária nos EUA. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Valor: Como o enfraquecimento da economia global afeta os países da América Latina e o Brasil?

Alejandro Werner: O importante enfraquecimento da economia global no quarto trimestre de 2018 nublou o modo como os analistas olham para 2019. Isso levou a revisões para baixo nas projeções de crescimento para este ano. Nós fizemos isso em janeiro e muitos outros analistas fizeram a mesma coisa. Nós esperamos que a economia global cresça 3,5% em 2019 [antes, a projeção era de 3,7%] e vimos perda de força na China e na Europa, mas mantivemos as nossas estimativas para os EUA. Nós ainda vemos uma economia americana relativamente forte. No caso da América Latina, vemos algumas forças que vão puxar a atividade em direções diferentes. De um lado, uma economia global mais fraca é ruim para o comércio e também é negativa para os preços de commodities. Ao mesmo tempo, há o ponto positivo de ocorrer com condições financeiras mais favoráveis. As economias mais dependentes de fluxos de capitais com algum tipo de vulnerabilidade no lado de financiamento veem um ambiente melhor. Já as que têm uma situação financeira relativamente saudável estarão mais sujeitas às influências um pouco mais negativas de uma economia global que cresce a uma taxa um pouco menos expressiva. Isso vai machucar ligeiramente as economias da América Latina, mas eu diria que, quando se olha para a região, os principais fatores que vão determinar o crescimento em 2019, 2020, 2021 são domésticos.

Valor: Quais as perspectivas para os principais países da América Latina?

Werner: A Argentina passa por uma transição importante, do gradualismo para um ajuste expressivo para corrigir os desequilíbrios macroeconômicos. O Brasil está com uma importante agenda nova, que indica o enfrentamento dos desafios macroeconômicos de médio prazo, mas também os seus desafios de crescimento. O atual governo apresentou uma agenda muito importante para modernizar a economia, para torná-la mais eficiente, mais aberta, mais liderada por forças de mercado. No caso da outra grande economia da região, o México, também há uma nova administração, questionando elementos significativos de como as coisas eram feitas no passado e, com isso, promovendo uma mudança significativa de políticas, com mais ênfase na distribuição de renda e redução da pobreza. Ao mesmo tempo, o governo se comprometeu a manter e fortalecer a estabilidade macroeconômica. Mas, sempre que há uma mudança relevante nas prioridades, os agentes econômicos dão um passo atrás e esperam para ver quais serão as novas regras do jogo.

Valor: E os outros países da região?

Werner: Há outras economias da região que passam por um ciclo econômico mais normal, sem grandes mudanças no arranjo de políticas, como Chile, Peru e Colômbia. Eles estão na verdade acelerando o crescimento, especialmente a Colômbia. Peru e Chile já exibiram taxas de expansão maiores em 2018 e vão continuar a exibi-las em 2019. Essas economias podem ficar um pouco sujeitas a mudanças nos preços de commodities. O crescimento pode ser mais dependente de fatores externos, dado que domesticamente não há um fator novo que possa mudar as coisas no curto prazo.

Valor: E a Venezuela?

Werner: A Venezuela é umas das poucas economias nos últimos 50 anos que sofreram uma queda tão dramática na atividade econômica e hiperinflação. Nos últimos cinco anos, a economia contraiu em mais de 50%. No ano passado, a inflação foi de 2.000.000%. Neste ano, nós esperamos 10.000.000%. As pessoas esperam que a economia caia mais 20%. Este não é o nosso número, que nós vamos divulgar em abril, mas é a expectativa que as pessoas têm. A produção de petróleo está em colapso e as condições sociais se deterioraram ao ponto de se dizer que cerca de 10% da população terá emigrado do país até o fim deste ano. Há uma situação humanitária e econômica muito grave em Venezuela. Nós esperamos que essas tendências continuem em 2019. As pessoas perguntam às vezes sobre o impacto da crise da Venezuela no resto da região. O contágio financeiro para o resto da região nunca ocorreu num nível importante. O efeito real pelo declínio das exportações para a Venezuela já ocorreu. As importações da Venezuela do resto do mundo caíram cerca de 80%, 90%. O mais importante hoje é a questão humanitária, a migração para o resto da região. Além disso, questões de saúde estão sendo canalizadas para outros países por meio da migração.

Valor: Quais as perspectivas para a política monetária nos EUA? O ciclo de alta dos juros acabou?

Werner: Nós estamos vendo uma economia americana indo relativamente bem. Ela fechou 2018 com um crescimento de 2,9% e esperamos para 2019 uma expansão de 2,5%. Talvez façamos algumas revisões no encontro de primavera [a ser realizado em abril, em conjunto com o Banco Mundial], devido ao "shutdown" [a interrupção parcial das atividades do governo, ocorrida entre 22 de dezembro de 2018 e 25 de janeiro de 2019]. Mas, de modo geral, a economia americana continua com dinamismo. Nós esperamos que os EUA tenham mais um ano de crescimento acima do potencial. No entanto, dados todos os sinais de incerteza na economia global, de alguma perturbação nos mercados no fim do ano passado, o caminho de normalização da política monetária, como afirmou o presidente do Fed, Jerome Powell, parou de ser tão automático quanto antes e começou uma fase em que é significativamente mais dependente dos dados e muito mais cauteloso. Em alguma medida, reflete um balanço de riscos em que as autoridades pesam mais a possibilidade de uma desaceleração da economia do que de uma inflação ligeiramente mais alta. Nós achamos que um caminho mais cauteloso se justifica, dadas as fontes de risco. E, quando você se aproxima da taxa neutra [aquela que permite a economia crescer sem gerar pressões inflacionárias], um parâmetro incerto, é necessário ser mais cauteloso e mais dependente dos dados.

Valor: Em que medida as tensões comerciais entre os EUA e a China podem causar uma desaceleração global mais forte?

Werner: Em alguma medida o que nós vimos e o que muitos analistas concluíram é que a desaceleração na economia global no quarto trimestre de 2018 refletiu um pouco as tensões comerciais. Por causa delas, houve antecipação de atividades comerciais. Exportadores e importadores talvez tenham tentado se antecipar ao aumento nas tarifas. Não vimos o impacto sobre a atividade antes porque as pessoas estavam tentando se acomodar à entrada em vigor das tarifas mais elevadas. No quarto trimestre, contudo, houve uma significativa desaceleração do comércio mundial e da atividade manufatureira ao redor do mundo e uma importante desaceleração do investimento em vários mercados-chave. Todos esses sinais indicam que as tensões comerciais tiveram um efeito importante. Além disso, as ações de empresas mais vulneráveis às tensões comerciais foram muito mais afetadas.

Valor: O Brasil passou por uma recessão grave e profunda. O pior ficou para trás, mas nós tivemos dois anos de baixo crescimento. O que explica uma recuperação tão lenta?

Werner: Há vários fatores que explicam isso. De um lado, o Brasil tomou várias medidas para lidar com a sua crise fiscal, como a adoção do teto de gastos. Mas a situação fiscal brasileira exige muitas outras medidas para que de fato seja solucionada. Ainda há incertezas muito importantes relacionadas à consolidação fiscal. A reforma da Previdência é talvez a mais importante peça do quebra-cabeças para resolver a situação das contas públicas. Não é suficiente, mas é a mais importante. Enfrentar esse componente das despesas é muito relevante para reduzir significativamente a incerteza futura sobre a estabilidade macroeconômica no Brasil. Em segundo lugar, o país passou por um período eleitoral. É preciso entender as prioridades do novo governo. Embora as explicações para o público tenham sido bastante positivas do ponto de vista do que os economistas acham que o Brasil precisa fazer para recuperar a estabilidade e o crescimento, isso ainda gera um ambiente de incerteza. As pessoas querem saber se o sistema político brasileiro vai colaborar integralmente para passar essas reformas e avançar nessa agenda de consertar a Previdência, tornar o sistema tributário mais eficiente, reduzir o tamanho do setor público. O Brasil foi capaz de conter a natureza extrema da crise, mas, de outro lado, não enfrentou os problemas subjacentes que foram construídos depois de várias décadas.

Valor: Quais problemas precisam ser enfrentados?

Werner: O Brasil tem um setor público muito grande, o que leva a impostos relativamente altos. Numa economia que não tem um crescimento elevado da produtividade, isso gera um grande custo de fazer negócios. Leva a uma baixa taxa de investimento e, com isso, a uma baixa taxa de crescimento. É preciso enfrentar a questão da Previdência, abrir a economia, gerar um sistema tributário mais eficiente, promover um programa importante de privatizações.

Valor: Como o sr. avalia a proposta de reforma da Previdência apresentada pelo governo?

Werner: Com base nos estudos que o nosso time fez no passado, a proposta atual está no lado mais ambicioso do intervalo que estudamos. Se implementada, é uma reforma muito positiva para ancorar o processo de consolidação das finanças públicas. Além disso, se ela for adiante em termos de avançar em direção a um sistema de capitalização, pode dar um impulso significativo para o desenvolvimento do mercado de capitais. A reforma é um dos pontos mais importantes para o Brasil seguir o caminho do o crescimento mais elevado e mais sustentável, mas obviamente não o único. Nós temos repetido em todos os nossos estudos que é muito importante para a sociedade brasileira entender que os desafios do Brasil são tão grandes que a reforma da Previdência sozinha não vai resolver todos eles. O Brasil vai precisar de significativos esforços adicionais de políticas, com privatizações, com a abertura da economia, com [medidas para tornar] o sistema tributário mais eficiente, para realmente ver a economia crescendo a taxas de 3%, 3,5% no médio prazo.

Valor: Muitos analistas dizem que a reforma da Previdência é fundamental para reduzir a incerteza e destravar uma onda de investimento empresarial. O sr. acha que uma reforma da Previdência vai levar a crescimento mais rápido neste ano?

Werner: A reforma da Previdência é um pedaço muito importante do quebra-cabeça para começar a corrigir os desafios da economia brasileira. Isso reduziria significativamente a incerteza em relação à sustentabilidade das finanças públicas e ao crescimento potencial futuro da economia brasileira. Mas é muito improvável que haja um efeito num prazo tão curto quanto 2019. Você está numa posição melhor do que eu para julgar quando a reforma da Previdência será aprovada, mas todos nós sabemos que ela não ocorrerá no próximo mês ou nos próximos dois meses. É necessário que a reforma da Previdência seja aprovada, depois é preciso que as empresas avaliem o que elas querem fazer no Brasil e que os conselhos das companhias aprovem os planos. É um pouco ingênuo pensar que é possível haver um efeito tão imediato para ser refletido neste ano. É mais importante ser realista, sabendo que 2019 é um ano de transição, em que as pessoas vão julgar se o sistema político vai apoiar essa agenda importante de reformas. Mas, uma vez que a incerteza começar a ser reduzida, haverá um retorno progressivo do investimento no futuro. Se você olhar para a maior parte dos países que tiveram um aumento importante do investimento, isso levou algum tempo. Não é imediato.

Valor: O FMI sempre destaca a importância de o Brasil aumentar a produtividade. Quais deveriam ser as prioridades do Brasil para elevá-la?

Werner: O Brasil precisa aumentar a produtividade e aumentar o investimento. Muitas vezes essas coisas andam juntas. Quando há investimento novo, ele vem com novas tecnologias, o que aumenta a produtividade. De uma perspectiva de médio e longo prazo, as pessoas que estudaram essas questões terminam com o foco em educação, educação e educação. Toda a América Latina fez um esforço importante para aumentar a cobertura da educação, mas a região fica significativamente atrás de outros mercados emergentes em termos de qualidade da educação. É um foco importante para o médio prazo. No curto prazo, é muito importante fazer o sistema tributário mais eficiente e abrir a economia, reduzindo o custo de insumos estrangeiros, tornando mais fácil para o Brasil participar das cadeias globais de valor. Infraestrutura é outro ponto-chave. Aumentar a qualidade da infraestrutura tornaria o Brasil mais competitivo.

Valor: O FMI projeta um crescimento de 2,5% para 2019 e 2,2% para 2020. Desde que a estimativa foi divulgada, em janeiro, houve a divulgação do PIB do quarto trimestre, o que levou alguns analistas a reduzir a projeção para este ano. O Fundo vai cortar a previsão para 2019?

Werner: Se eu responder a essa questão, você não vai olhar as nossas publicações em abril com o mesmo interesse na reunião de primavera. Mas houve uma surpresa negativa no fim de 2018, o que tem um efeito sobre a herança estatística para 2019. No entanto, isso é mais uma questão aritmética. O importante será ver o quarto trimestre de 2019 em relação ao quarto trimestre de 2018. Se a economia brasileira, por essa métrica, tiver uma boa aceleração, isso vai significar que a recuperação cíclica está se firmando. Mas ainda mais importante do que isso é se o sistema político brasileiro, a sociedade brasileira, é capaz de avançar nos passos necessários para elevar o crescimento de médio prazo. Eu não me importaria se o crescimento neste ano fosse 2,3%, 2,1% ou 2,7%. Eu prefiro 2% e que as reformas sejam aprovadas e o país cresça mais rápido no futuro de modo sustentável do que crescer 2,7% neste ano e não ser capaz de manter essa dinâmica, com dúvidas dos investidores sobre a situação fiscal e volatilidade significativa no futuro. Este país viu o custo de ter políticas insustentáveis, focadas no curto prazo, que na verdade levam a desequilíbrios macroeconômicos e colocaram a economia numa recessão grave. Para mim, o curto prazo não é tão importante.

Valor: O sr. está otimista em relação ao Brasil?

Werner: Depois desta viagem e de duas viagens do Antonio [Spilimbergo, chefe da missão do FMI no país] ao Brasil eu diria que nós estamos otimistas. Nós vemos sinais de que há um governo com uma agenda muito clara, com o objetivo de gerar sustentabilidade fiscal, ganhos significativos de produtividade e investimento e também vemos alguns sinais de que, depois do que o Brasil passou, a sociedade reconhece que mudanças importantes são necessárias para o país ter resultados relevantes e levar o Brasil de volta ao crescimento inclusivo e sustentável.

 

Prisão de Temer assusta investidor e derruba mercados

A prisão do ex-presidente Michel Temer e do ex-ministro Moreira Franco deu um verdadeiro susto nos investidores brasileiros, derrubando os preços dos principais ativos locais. A preocupação no mercado é que esse novo capítulo de turbulência política respingue de alguma forma na já atribulada tramitação da reforma da Previdência, cujo debate foi iniciado pelo ex-presidente em 2016. O receio entre os investidores é que parlamentares de seu partido, o MDB, e aliados ao ex-presidente sejam, de alguma maneira, atingidos pelas investigações que culminaram nas prisões.

Na avaliação de especialistas, tudo isso coloca à prova um dos pontos mais delicados do governo Jair Bolsonaro: a capacidade de aglutinar forças no Congresso. O resultado disso foi uma clara busca por proteção, tanto na bolsa quanto nos mercados de câmbio e de juros. Na mesma semana em que atingiu um recorde intradiário de 100.439 pontos, o Ibovespa devolveu boa parte do que ganhou, enquanto o dólar chegou a ultrapassar os R$ 3,83. Na tentativa de evitar o risco, os investidores também ajustaram posições nos contratos futuros de juros, e a taxa do DI com vencimento em janeiro de 2015 fechou a 8,52%, depois de tocar 8,67% na máxima do dia.

O Ibovespa terminou a sessão regular com queda de 1,34%, aos 96.729 pontos. Houve relativa melhora em relação ao pior momento do dia, logo que as prisões foram anunciadas: na mínima, o Ibovespa chegou a cair 2,64%, aos 95.456 pontos. E o giro financeiro foi expressivo, de R$ 14,1 bilhões, acima da média diária negociada nos pregões de 2019, em torno de R$ 12 bilhões.

O dólar também desacelerou a alta, para 0,98%, aos R$ 3,8009, mas ainda impôs ao real a pior desvalorização entre as principais divisas globais. "O evento agita ainda mais o ambiente político, em um momento em que é necessário encontrar espaço para articulação entre governos, partidos, e buscar maior normalidade para construir a base para votar a Previdência. Tem um aumento de incerteza", diz Ricardo Ribeiro, analista político da MCM Consultores.

Para analistas e operadores, embora não se saiba a extensão e detalhes sobre a prisão de Temer e Moreira Franco, o evento adiciona preocupação no já difícil campo político do Brasil e ajuda a dar combustível para a realização de lucros dos investidores, que já vinha se desenhando desde a abertura.

Segundo operadores, o investidor local já tinha uma tendência por embolsar os ganhos na bolsa, depois do rali que levou o Ibovespa aos 100 mil pontos. Na opinião de Andrei Roman, cientista político e sócio da consultoria Atlas Político, o Brasil vai, no mínimo, enfrentar um período de grande incerteza, com prolongamento das negociações com os parlamentares, enquanto não se sabe ao certo os desdobramentos das prisões.

Segundo o especialista, até que se saiba o desfecho das investigações, os deputados podem acabar deixando o debate da reforma em segundo plano. "Dificilmente você vai ter nesta semana e na próxima conversas sobre quantos votos tem a reforma, por exemplo. Não sei se a pauta ainda ficará no topo da agenda do Rodrigo Maia", diz Roman.

O cientista político da Atlas ressalta que, além de sogro de Rodrigo Maia - o presidente da Câmara -, Moreira Franco foi preso em um contexto de desentendimentos entre ele e o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.

Maia suspendeu a tramitação do projeto anticrime e anticorrupção de Moro por 90 dias e criticou o pacote. "Essas disputas de poder são uma grande caixa preta, sem grande transparência. Há uma certa dificuldade sobre o que esperar, o que automaticamente gera um clima de apreensão e prejudica articulações. Mudam-se as prioridades", afirma Roman.

Após a notícia das prisões de Temer e Franco, diversas ações acentuaram o movimento de queda, caso dos bancos e da Petrobras. A ação ordinária (ON) do Bradesco fechou em baixa de 3,14%, enquanto Bradesco PN perdeu 2,20%; Banco do Brasil ON teve baixa de 2,10%, e Itaú Unibanco PN desvalorizou 1,76%. No mesmo sentido, Petrobras ON terminou com perdas de 2%, enquanto Petrobras PN recuou 1,42%.

Papéis considerados mais defensivos, pela conexão com preços internacionais de commodities e com o dólar, entraram no foco do investidor, e Suzano ON (3,15%) liderou os ganhos do dia. Para Daniel Weeks, economista-chefe da Garde, a deterioração do ambiente de negócios - com disparada de dólar e juros futuros, além do recuo do Ibovespa - parece ser exagerada.

Se por um lado o comportamento dos mercados mostra preocupação com o mundo político, em um momento de tramitação da reforma da Previdência, por outro, as prisões de Temer e Franco não são motivo para se desfazer da expectativa de aprovação da reforma. "A reação me parece exagerada", afirma. De qualquer forma, as incertezas cobram um pedágio dos investidores locais, que vinham carregando uma firme posição "comprada" em juros futuros e Ibovespa, segmentos que mais sofreram ontem.

 "Tudo isso junto é combustível para o investidor evitar o risco. O mal-estar não é saudável nesse momento", afirma Fernando Barroso, diretor da CM Capital Markets. Para Rafael Cortez, analista político e sócio da Tendências, as prisões também podem reforçar o discurso bolsonarista que defende a ruptura com a política tradicional, o que dificultaria a coordenação com o Congresso. "Isso pode fazer com que o governo queime pontes com o mundo da política, dificultando o apoio para a Previdência", diz.

"É um cenário negativo para a reforma, coloca em risco a aprovação da matéria em 2019. Esses eventos exacerbam as dificuldades políticas da administração Bolsonaro." "Existe um clima de ansiedade com as reformas, mas é um movimento normal. Não era de se esperar que seria um movimento linear", diz Joaquim Kokudai, gestor da JPP Capital. Para ele, ainda é cedo para falar que os ativos mudaram de patamar de preços. "A reforma é uma questão muito importante para o país e, por isso, gera mais volatilidade. A tendência é que seja aprovada, mas não é algo simples", diz.

Para virar o jogo, o governo Bolsonaro vai precisar enfrentar o dilema entre o discurso e o pragmatismo. "A busca por marcar um distanciamento da política tradicional, que deve ser reforçada por conta da prisão do expresidente Temer, significa menor chance de coalizão com partidos tradicionais. Portanto, aumenta o risco para a reforma da Previdência", avalia Cortez, da Tendências. "O que pode sair de positivo é o governo entender que precisa construir uma coalizão majoritária no Legislativo."

 

FOLHA

Investidores nos EUA vão esperar Previdência para apostar de fato no Brasil

Investidores e empresários dos Estados Unidos vão esperar a primeira votação da reforma da Previdência no Congresso para decidirem se apostam ou não dinheiro no Brasil.

Após viagem do presidente Jair Bolsonaro a Washington a avaliação é que há boa vontade no mercado em relação à política econômica de Paulo Guedes (Economia), mas é preciso haver ressonância de seu discurso dentro do Planalto para que isso seja transformado em investimento efetivo.

Na segunda-feira (18), Bolsonaro participou de jantar na Câmara de Comércio dos EUA, na capital americana, com uma lista de convidados robusta, que passava por Donna Hrinak, presidente para a América Latina da Boeing, Jane Fraser, CEO para a América Latina do Citigroup, Gary Spulak, presidente da Embraer nos Estados Unidos, e Mack Mclarty, consultor e ex-chefe de gabinete do ex-presidente Bill Clinton.

Participantes do evento ficaram satisfeitos com o protagonismo que Bolsonaro deu a Guedes, mas não se surpreenderam com o discurso do chefe da equipe econômica do governo —que manteve sua retórica liberal, com foco nas reformas e privatizações.

Segundo analistas, a ida de Bolsonaro aos EUA não mudou significativamente o humor dos empresários americanos, que continuam à espera de resultados concretos sobre a reforma da Previdência —somente após o primeiro teste de votação na Câmara será possível saber o verdadeiro tamanho da proposta e o quanto de economia ela trará em alguns anos.

"A visita [de Bolsonaro a Washington] não mexe decisivamente com a expectativa do setor privado americano. O grande teste vai ser uma reforma da Previdência que coloque o Brasil no caminho do controle fiscal", afirma Roberto Simon, do Conselho das Américas.

Como mostrou a Folha, às vésperas da chegada de Bolsonaro aos EUA, empresários e investidores estavam frustrados com a falta de resultados comerciais concretos da visita do brasileiro a Donald Trump.

No entanto, o apoio que o presidente americano prometeu ao ingresso do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) animou o mercado. Isso porque para entrar na organização o país precisa cumprir uma série de requisitos que só serão alcançados com o andamento de uma agenda reformista.

O discurso de Guedes —reafirmado nos EUA— tem ajudado a elevar a confiança do mercado, mas consultores acreditam que essa dinâmica alcança o teto quando o Congresso apreciar o texto de reforma da Previdência.

A partir daí, o que vai gerir as expectativas no setor financeiro serão as falas dos deputados envolvidos nos debates e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que tem operado como articulador da proposta.

De acordo com os empresários que se reuniram com Bolsonaro e Guedes nos EUA, muitas empresas estão deixando de investir em países como Rússia e Turquia, por exemplo, à espera do que vai acontecer no Brasil.

Até lá, aportam montantes menores no país, ganham com especulação, mas prometem maior investimento caso haja concretude na proposta do governo.

Antes do jantar com os investidores, Guedes participou de uma reunião com o Secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, e, em seguida, encontrou-se com o representante de Comércio americano, Robert Lighthizer.

Este era o principal nome do governo Trump contrário ao apoio dos EUA para a entrada do Brasil na OCDE.

A comitiva brasileira chegou a Washington sem esperança de que a pauta estaria na declaração final dos presidentes, após reunião na Casa Branca, mas apostava na impulsividade de Trump com o apelo direto de Bolsonaro.

Foi o que aconteceu. Logo depois da chegada do brasileiro ao Salão Oval, Trump anunciou a jornalistas que apoiaria o ingresso do Brasil no clube dos ricos —apesar de exigir contrapartidas como a perda, por parte dos brasileiros, de tratamento especial na OMC (Organização Mundial do Comércio), por exemplo.

 

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