Segunda-feira

FOLHA

Minha Casa chega aos 10 anos esvaziado e com futuro incerto

Maior iniciativa para habitação popular da história do Brasil, o Minha Casa Minha Vida (MCMV) completa dez anos em meio a incertezas sobre seu futuro.

Restrições orçamentárias impostas pelo governo no início do ano travaram os repasses ao programa. E o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), principal fonte de recursos do MCMV, dá sinais de sua limitação crônica.

Diante disso, pesquisa da FGV (Fundação Getulio Vargas) mostra que, em fevereiro, empresários do programa estavam mais pessimistas do que aqueles de fora.

Lançado em 25 de março de 2009 pelo então presidente Lula, o MCMV hoje oferece a famílias com renda de até R$ 9.000 taxas de financiamento menores, além de subsídios que chegam a 90% do valor do imóvel.

O segmento representa dois terços do mercado imobiliário do país, de acordo com José Carlos Martins, presidente da Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção).

Mas as contratações de novas unidades emperraram em 2019, quando o Ministério das Cidades, gestor do programa, foi incorporado à pasta do Desenvolvimento Regional (MDR). O que pesou mesmo, porém, foi o contingenciamento do governo para os três primeiros meses do ano.

Unidades da faixa 1 do programa, praticamente doadas às famílias, são bancadas pela União. O Tesouro Nacional entra ainda com 10% dos subsídios para as faixas 1,5 e 2 —os 90% são custeados pelo FGTS. A 3 não tem subsídio.

O Orçamento da União prevê R$ 4,8 bilhões para o MCMV neste ano: R$ 3,9 bilhões para pagar obras já contratadas na faixa 1 e R$ 900 milhões em subsídios para as outras faixas.

Esses repasses, no entanto, foram afetados por um decreto que limitou as despesas mensais de janeiro a março a 1/18 do total previsto na lei orçamentária de 2019.

O FGTS nem pode antecipar a parte do Tesouro, porque isso seria uma pedala fiscal.

O MDR solicitou então ao Ministério da Economia a antecipação de limites de pagamento e conseguiu, no início de março, a ampliação até setembro de mais R$ 450 milhões mensais. Com isso, esperava sanar todas as pendências financeiras no decorrer deste mês.

Mas o programa pode levar outro golpe, já que o governo anunciou na sexta-feira (22) um bloqueio de R$ 29,8 bilhões no Orçamento. Detalhes das áreas afetadas ainda serão anunciados, mas construtores veem risco de nova restrição aos repasses.

Para Eduardo Fischer, copresidente da MRV Engenharia, maior em habitação popular no país, a confusão não assusta. “É uma mudança grande de governo. É natural que as pessoas que sentem lá queiram entender como funciona.”

O MDR afirmou que o programa é uma prioridade do governo federal. Mas sua sustentabilidade depende também da capacidade de o FGTS continuar provendo recursos.

O fundo tem R$ 62 bilhões para aplicar em habitação popular neste ano.

“Sabemos que é pouco porque a Caixa nos disse que o banco já tem sob análise mais de R$ 120 bilhões em projetos”, diz Ronaldo Cury, vice-presidente de habitação do SindusCon-SP (sindicato da construção do estado de São Paulo).

E a chance de haver suplementação em 2019 com verbas remanescentes do fundo, como ocorreu em anos anteriores, também é menor.

“Os recursos do FGTS para o programa estão no limite. E o governo está em uma situação fiscal complexa para ampliar investimentos”, afirma Ricardo Ribeiro, presidente da Direcional Engenharia.

Pensar em incremento do MCMV, diz, exige que o país entre em ritmo efetivo de crescimento e geração de empregos, o que pode elevar contribuições ao FGTS. “Mas esse não é o cenário por enquanto.”

Segundo o SindusCon-SP, a Caixa sinalizou que pode colocar mais R$ 20 bilhões em jogo, mas, se a economia crescer, pode ser insuficiente. O banco não comentou.

O Minha Casa foi uma política anticíclica para fazer frente à crise financeira que contaminou o mundo após o crash dos Estados Unidos de 2008.

“O programa foi fundamental para incrementar a atividade naquele período”, diz Ana Maria Castelo, coordenadora de Estudos da Construção Civil do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

Em dez anos, contratou 5,5 milhões de unidades habitacionais em todo o país (4 milhões já entregues).

No período, houve queda significativa na habitação precária, por exemplo, mas gastos excessivos com aluguel cresceram. Resultado: o déficit habitacional do Brasil atingia 7,8 milhões de famílias em 2017, alta de 6% em relação a 2009.

Para Luiz Antonio França, presidente da Abrainc (associação das incorporadoras), o número sustenta a continuidade do programa. “Há uma necessidade muito grande de habitação popular.”

CRÍTICAS

O alcance do Minha Casa Minha Vida e o foco na baixa renda são méritos do programa, mas eles não ajudaram a estruturar o crescimento das cidades, dizem urbanistas.

“Na busca por custo mais baixo, levaram empreendimentos e moradores a regiões sem infraestrutura”, diz Luciano Guimarães, presidente do CAU-BR (Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil).

No caminho até essas construções, foram criados “vazios urbanos”, pedaços de terra cujos preços dispararam e pressionaram aluguéis do entorno, afirma Ermínia Maricato, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, coordenadora do projeto BrCidades e uma das idealizadoras do Ministério das Cidades, criado em 2003.

Isso ajudaria a explicar a disparada do ônus excessivo com locação na composição do déficit, diz Maricato.

Construtoras reconhecem que as críticas fazem sentido na faixa 1.

“Para a conta do incorporador fechar, ele buscou terreno fora da malha urbana. Além disso, a dinâmica de sortear imóvel cria pouco senso de sociedade; muitos deixaram de pagar condomínio ou repassaram unidades”, diz Rodrigo Osmo, diretor-presidente da Tenda, que não atua na faixa 1.

 

VALOR

Ciclo de crédito pode apoiar investimentos

Alguns dos economistas mais otimistas com o crescimento da atividade neste ano estão se fiando nos efeitos do juro menor e da expansão do crédito, por meio de diferentes canais, para apostar numa alta mais firme do investimento e do Produto Interno Bruto (PIB). Embora a visão não seja a dominante e vários especialistas façam ponderações sobre o ritmo de retomada, uma questão é mais consensual: se a intenção de investir vier com força, as formas de financiar esse ciclo estão dadas e o papel que costumava caber ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) já vem sendo ocupado.

 Dados consolidados periodicamente pelo Centro de Estudos do Mercado de Capitais da Fipe (Cemec-Fipe) mostram claramente que o banco de fomento encolheu nos últimos anos, mas ainda assim cresceu o montante total de financiamento a projetos com ajuda de outros meios (ver quadro abaixo). A força que o mercado de capitais demonstrou, sobretudo no ano passado, somada às mudanças que vêm acontecendo no mercado de crédito, com novos instrumentos, desburocratização e maior concorrência, já mostra que há recursos e canais disponíveis.

Em 2018, as emissões atingiram o recorde absoluto de R$ 208,4 bilhões, enquanto o BNDES voltou a níveis da década de 1990, com desembolsos de R$ 69,3 bilhões, bem distante do pico de R$ 190 bilhões de 2013. Para o presidente do Banco Ribeirão Preto (BRP), Nelson Rocha Augusto, os efeitos da Agenda BC+ e da potência do mercado de capitais já são visíveis e devem se intensificar neste ano, o que levaria o PIB deste ano ao ritmo de 2,6% de alta.

Além disso, ele acredita que, à parte o BNDES, bancos públicos e privados devem expandir a carteira em 2019, seja pela maneira formal, seja por novos instrumentos, como já sinalizou a Caixa. Rocha Augusto aposta ainda na recuperação da construção civil como vetor importante para elevar investimentos: "Houve retomada forte de lançamentos no ano passado que não surtiram efeito ainda na atividade, mas que terão neste ano, pois será necessário começar a colocar os empreendimentos de pé", diz.

Na avaliação da Tendências Consultoria Integrada, o ciclo de expansão dos investimentos iniciado no ano passado deve ganhar força em 2019. A estimativa da consultoria é que o crescimento da formação bruta de capital fixo (FBCF, medida do que se investe em máquinas, equipamentos, construção civil e inovação) passe de 4,1% em 2018 para 4,8% neste ano.

Ainda assim, essa aceleração não será suficiente para impactar de maneira relevante a atividade, pelo menos até dezembro. "O crédito já vem ajudando os investimentos", diz Alessandra Ribeiro, coordenadora de macroeconomia e política da Tendências.

Ela cita dados do Banco Central que mostram um crescimento de 52,3% do crédito para investimentos entre 2017 e o ano passado. A maior parte desses empréstimos foi para a aquisição de veículos, como caminhões e tratores, que tiveram alta de 69,4% em 2018. Para outros bens, como máquinas e equipamentos, a expansão foi mais modesta, de 6,3%.

"Esse crescimento tem a ver com a demanda, mas também com a oferta, com os bancos mais dispostos a oferecer crédito em condições de prazo e preço mais favoráveis", afirma. Parte da expansão dos investimentos vista no ano passado pode ser explicada pela queda da Selic para o menor patamar da história, segundo a economista.

Agora, como a estimativa da Tendências leva em conta a manutenção da taxa básica de juros em 6,5% até o fim de 2019, outros fatores devem cumprir esse papel. Entre eles, está a queda dos juros para o consumidor final, puxada tanto pelo avanço da Agenda BC+ quanto pelo recuo da inadimplência. "Isso fortalece o crescimento do crédito, dando apoio à formação bruta de capital fixo", diz Alessandra.

Ela aposta também que, neste ano, parte da contribuição virá do mercado de capitais. Números da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram um crescimento de 44,6% da emissão de debêntures na comparação com 2017. "Com os juros baixos, esse movimento deve continuar. Não só as debêntures, mas os IPOs, por exemplo", diz. "Está saindo mais barato, e em geral com um trâmite mais rápido, para as empresas captarem recursos no mercado do que no BNDES."

Para Alessandra, os investimentos devem ainda mudar de composição. O mais provável, de acordo com ela, é que a construção civil volte para o terreno positivo em 2019, depois de anos de queda. Já a aquisição de máquinas e equipamentos também deve ter alta, mas menor do que a registrada em 2018. Do lado oposto, a capacidade ociosa da indústria é apontada por Alessandra como um empecilho à retomada mais forte da FBCF.

De qualquer maneira, a Tendências ainda prevê uma expansão de 2% da atividade neste ano, número classificado por Alessandra como "moderado". Apesar do cenário favorável para os investimentos, o consumo das famílias (previsão de alta de 2,3%) e o do governo (recuo de 0,5%) devem impedir um crescimento maior da economia.

O diretor do Cemec-Fipe, Carlos Antonio Rocca, também vê a retomada mais robusta do crescimento ainda com parcimônia. Um dos motivos é exatamente a capacidade ociosa elevada. Embora as pesquisas do CemecFipe mostrem que um dos vetores com maior capacidade de impulsionar investimentos em projetos seja justamente as projeções de crescimento do PIB animadoras à frente, ele avalia que o atual quadro não anima tanto, por enquanto. "Uma perspectiva de alta de 2,5% por alguns anos após uma recessão brutal como a que tivemos ainda é um pouco frustrante", observa.

Mesmo assim, máquinas e equipamentos já demonstraram alguma reação e, caso as expectativas e reformas animem de fato um início de ciclo de projetos, ele está convicto de que o mercado de capitais dará conta do financiamento.

"Os números de 2017 e 2018 deixam isso claro, e os dados mostram que não foram só as grandes companhias abertas que acessaram os instrumentos. Dois terços das companhias que emitiram debêntures ou notas promissórias são fechadas e o fizeram por meio da instrução 476", diz Rocca.

Há quem seja mais ousado e acredite num espaço ainda para a queda dos juros. "O que pode impactar a atividade neste ano seria uma nova rodada" de corte da Selic promovida pelo BC, diz Manoel Pires, coordenador do Observatório de Política Fiscal do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV) e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. Para ele, "de outubro para cá", os dados inflacionários têm apresentado "resultados muito bons", com os números cheios abaixo da meta e os núcleos próximos do piso. "Além disso, a evolução dos preços dos ativos se tornou mais favorável para a economia brasileira", diz, citando o quadro visto no início do ano.

Com as condições financeiras num patamar mais estimulativo, a "política monetária poderia ganhar potência", ajudando a justificar novos cortes da Selic. "Juntando todos os pedaços desse quebra-cabeça, a impressão é que hoje o caminho para uma nova redução dos juros, feita com calma, é mais favorável do que era há um tempo", afirma, o que teria impactos positivos tanto sobre os investimentos quanto sobre o consumo.

O Ibre-FGV calcula crescimento de 4,6% da FBCF e de 2,1% do PIB neste ano O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) também espera um crescimento da FBCF na casa dos 5% neste ano. "Mas não é um número tão otimista quanto parece", dado o tamanho da queda recente, diz Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo da entidade. Entre 2014 e os últimos dados disponíveis do ano passado, os investimentos passaram de aproximadamente 22% do PIB para algo em torno de 16%, afirma.

Na visão do diretor-executivo do Iedi, o mercado de capitais "já ajudou e continuará ajudando" a recuperação da FBCF. "Mas não vai suprir a lacuna deixada pelo encolhimento do BNDES", afirma. Segundo ele, o prazo do financiamento oferecido pelo setor privado para a infraestrutura, por exemplo, é de cinco a sete anos - intervalo muito menor do que o necessário, de 25 a 30 anos.

Fatores como uma Selic um pouco menor, um programa de infraestrutura mais abrangente e um cenário econômico mais claro ajudariam a acelerar a atividade, para a qual o Iedi espera crescimento de 2,5% neste ano. "O empresário precisa de horizonte, que eventualmente passa pelo melhora fiscal, mas que também dê segurança de que o crescimento veio para ficar", diz.

 

BC espera a poeira baixar para decidir se corta juro

Boa parte do mercado financeiro vem apostando desde fins do ano passado que, devido à fraca recuperação da economia, o Banco Central será levado a cortar os juros. Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC reconheceu que o ritmo de expansão da economia está aquém do esperado, mas manteve a taxa Selic em 6,5% ao ano e indicou que vai observar o comportamento da economia ao longo do tempo antes de definir o que pretende fazer.

Muita gente acredita que o Banco Central esteja apenas ganhando tempo até obter mais informações sobre as chances de aprovação da reforma da Previdência. Com seu comunicado da semana passada, teria tirado o foco do curto prazo. Eliminou do radar a sua próxima reunião, no começo de maio, e empurrou as expectativas para a seguinte, em junho. Espera-se que até lá o governo Bolsonaro tenha mostrado qual é a sua real capacidade de mobilização no Congresso Nacional.

É bem provável que essa seja uma das preocupações do BC. Mas, mesmo que de fato seja, o encaminhamento da reforma não seria suficiente para selar uma baixa de juros. O Copom já considera há muito tempo no seu cenário básico a aprovação de alguma reforma da Previdência. Com ela, a projeção oficial é que a inflação fique basicamente na meta em 2019 e 2020, o que significa que - a menos que tenha melhora - os juros devem ficar onde estão.

A reforma da Previdência é, na realidade, um risco para o cenário inflacionário. Se ela emperrar e a economia internacional azedar de vez, os juros teriam que subir. Foi isso que o Copom ameaçou fazer, ainda que de forma gradual, pouco antes das eleições, quando o balanço de riscos teve o seu momento mais desfavorável.

De qualquer forma, para abrir espaço para juros menores, é necessário antes se certificar de que não será preciso subi-los. Mas isso não seria suficiente para levar a mais estímulos monetários: é preciso que as projeções de inflação caiam, ou pelo menos aumente o risco de o IPCA ficar abaixo da meta. O desempenho mais fraco do que o esperado da atividade poderá levar, pelo menos em tese, a essa inflexão no cenário.

Para checar se de fato isso está ocorrendo, o BC indica que espera a poeira baixar. O Copom está em período de silêncio e só nesta semana, com a divulgação da ata de sua reunião e do Relatório de Inflação, será possível ter alguma indicação sobre quais dados e informações, exatamente o colegiado pretende observar ao longo do tempo "com menor grau de incerteza e livre do efeito de diversos choques a que foi submetida no ano passado", como disse em seu comunicado da semana passada. Os núcleos de inflação, porém, certamente terão um papel importante na definição dos próximos passos, a exemplo do que tinham no começo de 2018.

Naquele período, o Banco Central vinha medindo o pulso da inflação para determinar se seria necessário baixar os juros além do que o mercado então previa. Os analistas econômicos esperavam que os juros cairiam a uma mínima de 6,75% ao ano. O Copom, entretanto, levou a taxa a 6,5% ao ano e chegou a sinalizar um corte adicional, a 6,25% ao ano, mas recuou devido à alta do dólar.

A decisão de promover estímulos adicionais foi motivada pela falta de reação da inflação, o que aparecia sobretudo nos núcleos, que o Banco Central considerava baixos. No comunicado da semana passada, o Copom descreve os núcleos de inflação como "em níveis apropriados ou confortáveis".

Para ser exato, porém, ficaram baixos em fevereiro - a maior parte está num patamar mais consistente com o piso da meta do que com o teto. Além dos núcleos baixos, a atividade está aquém do esperado. O Copom provavelmente incorporou essa baixa nas projeções de inflação feitas na sua última reunião. Resta observar o que vai acontecer com a inflação daqui em diante.

O que não se sabe ao certo, provavelmente, é o quanto esse quadro de crescimento abaixo do esperado reflete os choques e as incertezas que afetaram a economia no ano passado. No começo de 2018, os juros reais da economia caíram a pouco mais de 2% ao ano, depois que o BC cortou a Selic ao menor percentual da história. A piora do ambiente externo e as incertezas sobre quem venceria as eleições levaram os juros reais a um pico de 4,5% ao ano. Isso significou um aperto nas condições financeiras da economia, que pode ter atrapalhado a transmissão dos estímulos monetários feitos anteriormente pelo BC.

O choque da greve dos caminhoneiros e as incertezas eleitorais podem ter atrapalhado também as decisões de consumo e investimento ao longo do ano passado. A alta do dólar ocorrida no período, que chegou a um pico de R$ 4,20, levou o BC a traçar dois cenários bem distintos para a inflação - em um deles, seria necessário retirar estímulos. Famílias e empresas se viram diante de cenários também muito díspares para a economia. Ao mesmo tempo, esses choques tiveram impacto direto na inflação, que possivelmente teria sido menor em 2018 se não tivessem ocorrido.

O Copom vem reconhecendo, desde as eleições, uma progressiva redução de riscos negativos para a economia, tanto no encaminhamento das reformas quanto no ambiente internacional. Com um ambiente menos volátil, provavelmente o Banco Central poderá avaliar com mais segurança o que está acontecendo com a inflação. Isso não significa, porém, que tenham sido eliminadas todas as incertezas na economia.

É verdade que o Copom comunicou que o seu balanço de riscos é simétrico, o que significa que os riscos negativos têm o mesmo peso que o risco positivo ligado à baixa atividade econômica. Mas as incertezas no ambiente internacional e na tramitação das reformas continuam relevantes. A alta do dólar na sexta, quando fechou em R$ 3,90, é um lembrete disso. O Banco Central vem chamando a atenção para a reconfiguração dos riscos externos. Solavancos ligados ao processo de retirada de estímulos monetários nos Estados Unidos perdem força, enquanto que causa mais preocupação a desaceleração da economia mundial.

 

Preocupação com Previdência cresce em meio a tombo do mercado

Os mercados financeiros começam a semana carregando o peso de um panorama cada vez mais conturbado no Brasil e no exterior. O risco de desaceleração econômica global e os atritos no complexo xadrez político do país já cobraram um preço elevado dos ativos locais. O Ibovespa perdeu quase sete mil pontos poucos dias depois de superar a marca simbólica de 100 mil pontos, e os juros futuros reverteram qualquer probabilidade de corte da Selic em 2019.

Sinais de desencontros entre membros do governo e do Congresso em relação à reforma da Previdência amedrontaram os investidores, especialmente fundos locais que vinham elevando a exposição na renda variável e nos juros futuros. Principal medida do ajuste fiscal, a revisão do sistema público de aposentadorias é apontada como condição fundamental para o crescimento mais sustentável da economia, com juros mais baixos.

Agora que as preocupações aumentaram, as chances de uma nova rodada de corte da Selic foram freadas no mercado de juros, depois de chegar a projetar 0,14 ponto percentual de queda na decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) na reunião de setembro. Em sua última decisão de juros, na quarta-feira passada, quando manteve a taxa básica Selic em 6,5%, o colegiado reconheceu que os indicadores recentes de atividade apontam para um ritmo de recuperação econômica mais lento que o esperado e agora o balanço de riscos para a inflação está mais equilibrado, apesar das persistentes incertezas sobre a continuidade das reformas.

Nesta semana, os investidores terão duas grandes oportunidades para verificar a avaliação do Banco Central sobre o cenário. A ata da reunião do Copom será divulgada amanhã e o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), na quinta-feira - sendo acompanhada por entrevista do presidente Roberto Campos Neto. Gestores afirmam que ainda não abandonaram as apostas favoráveis aos ativos locais, mas foi necessário readequá-las ao crescimento do risco.

O Ibovespa terminou a sessão de sexta-feira com queda de 3,10%, aos 93.735 pontos, menor nível desde 11 de janeiro, quando estava em 93.658 pontos. Da máxima intradiária de 100.439 pontos, na terça-feira, até a mínima em 93.380 pontos atingida na sexta-feira, a desvalorização foi de 7%. No acumulado semanal, a queda do índice foi a pior desde a semana encerrada em 10 de agosto de 2018, quando caiu 6,67%, devido à onda de vendas que atingiu os mercados emergentes na época.

No dia, o desempenho do Ibovespa também foi o pior desde 6 de fevereiro deste ano, quando cedeu 3,74%. O índice entrou em um território de correção técnica importante ao encostar nos 93.500 pontos. Assombrados pelas dúvidas sobre o crescimento mundial, os mercados no exterior passaram por uma forte queda generalizada, que atingiu ativos brasileiros negociados lá fora, além de moedas e bolsas emergentes.

"O movimento é generalizado de aversão, com as ações de primeira linha da bolsa em queda muito forte, caso dos bancos, Petrobras e Vale ", afirma Ari Santos, gerente da mesa de operações da H. Commcor. "E, não bastasse o exterior, o mercado virou de uma situação de profundo otimismo com a Previdência para um ambiente de nervosismo." Sinal da tensão no mercado, o dólar disparou em relação ao real e fechou em alta de 2,64%, na marca de R$ 3,9011, renovando as máximas do ano.

Foi o maior salto da cotação em um dia desde junho do ano passado, quando subiu 2,65%. Mais que isso, apenas em 18 de maio de 2017, quando subiu 8,06% na esteira do vazamento do áudio envolvendo o empresário Joesley Batista e o então presidente Michel Temer - o famigerado "Joesley Day".

Se aquele foi considerado o evento que tirou qualquer chance de aprovação da reforma da Previdência durante a gestão de Temer, agora os gestores afirmam que ainda não abandonaram suas apostas. De qualquer jeito, ficou cada vez mais necessário ajustar o tamanho da exposição aos ativos locais.

Desde a prisão do ex-presidente Michel Temer e do ex-ministro Moreira Franco, o receio é grande quanto à articulação do governo Bolsonaro com Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, e outros parlamentares. Diversos integrantes da ala central da articulação política são do MDB como o ex-presidente. O receio do mercado é de que as investigações que deram origem às prisões respinguem de algum modo em outros nomes.

Não bastasse isso, fica claro que a articulação do governo com o Congresso em prol da reforma já enfrenta obstáculos. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o presidente Jair Bolsonaro subiram o tom publicamente em relação ao tema, acentuando os receios de que a reforma pode encontrar ainda mais empecilhos. Agora, fica a expectativa no mercado por algum tipo de reconciliação que ajude a manter a reforma da Previdência entre as prioridades da agenda do Congresso.

Para Roberto Campos, sócio e gestor na Absolute Investimentos, o ambiente de negócios está mais arisco agora, mas não é o caso de desistir da reforma da Previdência. "Vai precisar de mais paciência do investidor, talvez o caminho será mais conturbado, mas prevalece a confiança de que o desfecho será a aprovação", diz.

 

China e Fed podem afastar risco de recessão, diz diretora da Pimco

“Precisamos rezar para que os estímulos chineses deem certo.” A afirmação da diretora administrativa e especialista em portfólios da Pimco, Geraldine Sundstrom, resume sua interpretação sobre um dos grandes temas do mercado: afinal, o mundo está ou não perto de uma recessão? Geraldine não enxerga o início de uma contração da atividade global nos próximos trimestres, mas, pondera, os riscos têm aumentado a cada mês. No final, porém, tudo vai depender da China.

“O país asiático parece estar no centro dos eventos que vão acontecer em breve e, se tiver sucesso nos estímulos fiscais e monetários lançados neste mês, então não temos razão para esperar uma recessão.”

De acordo com a especialista, que fica sediada em Londres e falou com o Valor em passagem por São Paulo, a volatilidade vai se manter alta neste ano diante de tantas incertezas sobre o rumo do crescimento global. Isso porque o longo período de expansão se encontra em uma encruzilhada: “Se os estímulos chineses funcionarem, então o ciclo poderia ganhar nova vida”. Caso contrário, “precisamos de poucas más notícias para cair na recessão”.

O problema é que há um número considerável de fatores que podem tirar o trem chinês dos trilhos. O acordo comercial com os Estados Unidos, por exemplo, “tem de ser feito”, pondera Geraldine. A falta de entendimento “seria muito danosa para o comércio e a economia global e, particularmente, para o nível de confiança”, considera a gestora. A atual dicotomia entre a renda fixa e as ações globais reflete esse estado de incertezas. “O mercado de renda fixa está mais cético. Eles dizem: ‘bem vou acreditar quando eu ver’. Já o pessoal das ações está mais dispostos a comprar o cenário de estabilidade que pode surgir.”

Leia a seguir os principais pontos da entrevista.

Valor: Quais são as chances de estarmos perto da recessão global?

Geraldine Sundstrom: As chances de uma recessão agora estão muito altas porque a economia global desacelerou muito. Algumas áreas da Europa já estão flertando com a recessão, onde o crescimento já está perto de zero. O tanto a mais de más notícias que precisamos para cair na recessão não é muito. Acho que a questão é se vamos conseguir manobrar e ter um pouso suave e até uma recuperação ou vamos mergulhar rapidamente na recessão. E isso nós vamos saber logo, logo, conforme os dados de março, abril e maio começarem a surgir. No período, vamos precisar ver se os dados vão mostrar só estabilização ou uma pequena melhora daqui para a frente. Ver apenas estabilização, provavelmente, vai nos colocar em posição desconfortável uma vez que o Fed parou de subir os juros, a China colocou em prática grandes estímulos e parte da Europa também. A “prova do pudim”, como dizemos na Inglaterra, ou seja, a prova de fogo, é o que veremos nos próximos meses.

Valor: Então estamos no fim do ciclo de crescimento?

Geraldine: Há uma importante distinção que precisa ser feita, que é do conceito de maturidade do ciclo de expansão e de fim do ciclo de expansão nos Estados Unidos e no mundo, que seria uma recessão. Nossa visão é que estamos em um momento de maturidade do ciclo e não vamos começar uma recessão nos próximos trimestres. Por isso ainda permanecemos investidos, mas de uma maneira prudente. Ou seja, ainda estamos comprados em ações, ainda participamos do mercado de crédito, mas o que temos feito para mitigar o fato de que os riscos estão subindo é que estamos aumentando a qualidade. Agora nosso grande foco é a China. O país asiático parece estar no centro dos eventos que vão acontecer em breve. Temos de ver se a China vai conseguir estabilizar a economia a partir do segundo semestre. O destino de muitos ativos de risco em 2019 está ligado ao sucesso ou fracasso das tentativas chinesas de estabilizar a própria economia.

Valor: Os Treasuries têm mostrado sinais de uma recessão iminente, mas as ações ainda mantêm fôlego. Quem está certo?

Geraldine: Claramente há uma dicotomia entre os mercados de ações e de renda fixa. O mercado de renda fixa está mais cético. Eles dizem: “bem, vou acreditar quando eu ver”. Já o pessoal das ações está mais dispostos a comprar o potencial cenário de estabilidade [a partir do segundo semestre] e tem precificado até mesmo um pouco mais de recuperação. Com o S&P 500 negociando acima dos 2,8 mil pontos, o bom cenário já está parcialmente no preço. Por isso, temos estado um pouco cautelosos com o mercado acionário. Ainda temos exposição considerável em ações, mas está cada vez mais difícil achar papéis baratos. A volatilidade do mercado também vai continuar, porque há muitas incertezas, tanto no sentido de haver possibilidade de recessão, quanto de que as coisas fiquem melhores. Nós esperarmos que a expansão prossiga em 2019, mas também achamos que o caminho poderá ser tortuoso.

Valor: A mudança de posição do Federal Reserve também não indicaria um futuro econômico mais sombrio que o antecipado?

Geraldine: O mercado começou a precificar potenciais cortes de juros pelo Fed neste ano ou um pouco mais. Nossa visão é um pouco menos “dovish” do que a do mercado. Achamos que a interpretação do Fed sobre a economia americana é que não é uma economia que está precisando de corte de taxas. O Fed não parece alarmado com os dados que está vendo. O banco central dos EUA tem de balancear o fato de que a perspectiva permanece boa, mas os dados recentes do primeiro trimestre, por causa do “shutdown” do governo americano, da guerra comercial e da menor demanda global, estão vindo mais fracos. Mas o cenário permanece relativamente morno ou construtivo. É um conjunto complicado de variáveis que o Fed tem de equilibrar. Para os investidores, as preocupações não vêm da economia americana. A economia americana tem se mantido relativamente bem comparada a outras regiões. As áreas onde a fraqueza tem se mostrado mais presente são Europa e China. A Europa tem poucas ferramentas e munição para melhorar sua situação. E precisaremos esperar até o segundo semestre para ver se os estímulos fiscais e monetários da China vão ter um efeito de uma maneira mais disseminada e como vão afetar o crescimento global.

Valor: O grande risco atualmente não está nos EUA?

Geraldine: O grande risco atualmente vem da China. O governo do país asiático embarcou em um conjunto importante de estímulos, mas que é muito diferente em formato e natureza do que já fizeram antes. No passado, o governo chinês costumava gastar muito e investir em infraestrutura e sabia exatamente que, ao gastar um renminbi iria encontrar um renminbi no PIB. Dessa vez, foram cortes de impostos, ações de política monetária e poucos estímulos via infraestrutura. Então não estamos ainda certos do que vai acontecer e dos efeitos multiplicadores que vão ocorrer. Outro ponto que temos de olhar e será crítico para o crescimento global é que o governo chinês está tentando redirecionar a quantidade de crédito disponível para o setor privado que é o principal criador de crescimento e produtividade para o país. Se tiverem sucesso em aumentar a participação do setor privado dos atuais 30% para 50% do volume de crédito isso teria grande impacto nos investimentos e no crescimento global. Realmente, o que temos de esperar e rezar para acontecer é que os estímulos chineses funcionem. Com isso, o crescimento se estabiliza no segundo semestre. A Europa se beneficiaria disso, os emergentes e os EUA também, o que significaria que a expansão poderia ganhar uma nova vida.

Valor: Em um cenário no qual a China seja bem-sucedida no programa de estabilização, os mercados ainda teriam potencial de alta?

Geraldine: Se a China tiver sucesso nos estímulos, então não temos razão para esperar uma recessão. Apesar do rali no início do ano, esse cenário ainda está parcialmente precificado nos ativos de risco. Achamos ainda que os ativos emergentes estarão baratos, se o cenário se concretizar. Seriam os mercados que mais se beneficiariam se sair o acordo comercial entre EUA e China e se os estímulos chineses derem certo. Em nosso portfólio, diante do cenário possível e ainda mais com a mudança de postura do Fed, aumentamos a participação de ativos emergentes, com ênfase em China.

 

 

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O SINDUSCON/RN tem o compromisso com a satisfação do cliente - a comunidade da construção civil do Rio Grande do Norte - representada por seus associados - priorizando a transparência na sua relação com a sociedade, atendimento aos requisitos, a responsabilidade socioeconômica, a preservação do meio ambiente e a melhoria contínua.

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