Segunda-feira

ESTADÃO

Estagnada, indústria tem a menor fatia do PIB desde o final dos anos 40

Os números deste início de ano não deixam dúvida: a crise que a indústria brasileira há tempos atravessa ainda não dá sinais de reversão. No primeiro bimestre, a atividade industrial recuou 0,2% em relação ao ano passado. Esse fraco desempenho reforça uma tendência que vem se verificando desde os anos 80: a queda de participação da indústria de transformação na composição do Produto Interno Bruto (PIB). No ano passado, esse setor respondeu por apenas 11,3% da atividade econômica do País, o patamar mais baixo em mais de 70 anos – não há dados anteriores a 1947.

No fim dos anos 80, a indústria de transformação (que exclui a indústria extrativa) chegou a ter uma fatia próxima de 30% do PIB, mas essa participação depois veio diminuindo rapidamente. Segundo economistas, é provável que 2019 registre um número ainda mais baixo que o de 2018. “É um risco que corremos e uma tendência que vem de longo prazo. Os países continuam avançando na indústria mais sofisticada, e o Brasil não”, diz o economista Rafael Cagnin, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Apesar da perda de espaço na economia ser um fator estrutural – no mundo todo, os serviços têm ganhado participação –, há indícios de que, no Brasil, esse fenômeno vem sendo fortalecido por questões conjunturais, como as crises sucessivas. Isso ocorre porque, nas recessões, a indústria costuma recuar mais do que o PIB total, mas, nos períodos de crescimento econômico, ela não avança de forma mais acelerada.

O economista Paulo Morceiro, do Núcleo de Economia Regional e Urbana da USP, lembra que, entre 2000 e 2008, período de crescimento mais significativo, a indústria apenas acompanhou o ritmo do PIB. “A indústria não avançou mais porque perdeu competitividade para o importado”, diz.

Um estudo de Morceiro mostra que o PIB do setor industrial caiu de forma acelerada desde 2013 e hoje se encontra em um patamar próximo ao de 2004. Apesar de as importações também terem recuado nos últimos cinco anos por causa da recessão, elas mais do que dobraram desde 2004.

Gargalos

Para o Iedi, a falta de mecanismos de financiamento, os gargalos na infraestrutura, o sistema tributário complexo e um apoio ineficiente à ciência e tecnologia têm comprometido a produtividade industrial. “Nesse ritmo, a indústria brasileira caminhará para um porcentual do PIB inferior a dois dígitos, algo que pode acontecer dentro dos próximos dois anos se as tendências em curso de retrocesso industrial e de vazamento de demanda para o exterior continuarem”, diz um documento do instituto publicado recentemente.

 

VALOR

'Motor de crescimento da economia sofreu um dano estrutural'

O motor de crescimento da economia brasileira sofreu um dano estrutural, avalia o economista Alberto Ramos, diretor de pesquisa para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos. Para ele, o problema é resultado de fatores como o "baixo nível de investimento, a grande alavancagem [endividamento] financeira dos três grandes agentes da economia - famílias, empresas e governo - e a má alocação de recursos causada pelas distorções da Nova Matriz Macroeconômica" - uma referência às medidas intervencionistas adotadas a partir do segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva e principalmente no primeiro mandato de Dilma Rousseff.

Com grande ociosidade e inflação e juros baixos, porém, haveria espaço para a aceleração da recuperação cíclica, mas isso tampouco tem ocorrido. Ramos estima que o PIB crescerá 2% neste ano, avisando que a projeção tem viés de baixa. Na visão do economista, a retomada cíclica não ganha força por esbarrar em especial na incerteza política e institucional ainda relativamente elevada. Também atrapalha o nível de endividamento de famílias, de empresas e do governo.

Para destravar o crescimento e aumentar a capacidade do país de crescer a taxas mais elevadas de modo sustentado, Ramos ressalta a importância de uma agenda de reformas ambiciosa, que precisa ir muito além da Previdência. Ele diz que o governo não deveria concentrar os esforços apenas na reforma do sistema de aposentadorias, embora enfatize que ela é essencial para a sustentabilidade das contas públicas. "O governo e o Congresso têm que focar em tudo ao mesmo tempo. O Congresso não é unidimensional", diz ele.

 "Não se vai aprovar tudo no mesmo dia, mas não há por que diferentes comissões não possam avançar e amadurecer as diferentes questões. É importante que não se crie outro tipo de conflito que possa atrapalhar. Mas nós já perdemos muito tempo, já perdemos mais de uma década", aponta o economista. "Há uma agenda muito vasta e, quanto mais rápido se avançar, melhor."

Entre as medidas necessárias, Ramos diz que elas "passam pela redução do peso do Estado, por aumentar a eficiência do gasto público, pela abertura comercial, pelo aumento da poupança privada, por investir mais em capital físico e em capital humano". Segundo ele, é uma agenda bem conhecida, que passa também por uma simplificação e por uma reforma tributária. "Toda essa agenda que levaria a um ciclo de investimento e a um aumento da produtividade na economia."

Ramos nota que o capital político do governo é sempre maior no início do mandato. "É por isso que eu digo para tocar tudo simultaneamente", afirma ele, advertindo para os riscos do "gradualismo excessivo". A ideia de fazer ajustes muito graduais pode causar problemas, como mostra o caso da Argentina. Com desequilíbrios fiscais e externos, o país vizinho optou por ajustá-los gradativamente.

No ano passado, sofreu grave crise cambial e foi obrigado a um ajuste abruto numa forte recessão. "A Argentina é uma lição que já deveríamos ter estudado com cuidado." Ele nota ainda que o entorno externo, hoje, está "um pouquinho mais favorável" do que há alguns meses. "Mais favorável em termos de condições de liquidez [internacional[ e de preço dessa liquidez, abundante e relativamente barata", diz ele, numa referência à mudança de atitude do Federal Reserve (Fed, BC dos EUA) em relação à política monetária, indicando a possibilidade de não elevar mais os juros neste ano. Mas permanecem as questões relacionadas a um crescimento global mais fraco, pondera Ramos.

Para ele, "a incerteza política e institucional ainda é relativamente elevada", sendo "um aspecto importante que está contendo o espírito animal e empreendedor da economia". Isso dificulta a aceleração da retomada cíclica, mesmo depois do mau desempenho desde 2014. A despeito de algum dano estrutural no motor de crescimento, a economia poderia crescer por um tempo acima do ritmo potencial (aquele que não gera pressões inflacionárias), que Ramos estima entre 2% e 2,5%.

A indefinição, porém, atrapalha a retomada cíclica. Segundo o economista, a incerteza política e institucional não se resume às dúvidas quanto à tramitação da reforma da Previdência. "É tudo. É o próprio relacionamento do governo com o Congresso e até entre os três poderes, incluindo o Judiciário", diz ele.

"É um ambiente de fricção institucional que faz as pessoas tomarem um pouco mais de cautela. Ninguém sabe como a situação vai evoluir do ponto de vista político e essa costura vai ser muito relevante para o futuro das reformas." Para ele, também dificulta a retomada o fato de que "todos os grandes agentes da economia têm um grau de alavancagem [endividamento] financeira muito maior do que tinha lá atrás".

Ramos lembra que o governo tem muito mais dívida, não podendo impulsionar o crescimento com alívio da carga tributária ou aumento do gasto. "As famílias, apesar de alguma melhora nos últimos dois ou três anos, têm um nível de alavancagem financeira bem elevado, muito maior do que há dez, 15 anos. As empresas também." O nível dos juros não é o problema, na visão de Ramos.

Para ele, a política monetária é hoje estimulativa e a inflação projetada está na meta. Não haveria então motivos para o BC cortar mais a Selic. Ao tratar dos problemas estruturais, Ramos lembra que o investimento caiu mais de 30% na crise. "O estoque de capital é muito baixo." Na conversa, Ramos fala da sua expectativa e a dos investidores sobre a reforma da Previdência. "Eu não sou o psicólogo do mercado, mas acho que o mercado tem uma atitude relativamente realista em relação ao que é possível entregar e fazer."

Para ele, os investidores já sabem que a tramitação da reforma vai levar tempo, e que o dividendo fiscal será apenas uma fração do que o governo propõe, pela diluição que haverá no Congresso. "A nossa expectativa é que a reforma passe na Câmara provavelmente em julho e agosto, possivelmente no Senado até o fim do ano", diz Ramos, para quem a proposta será "infelizmente" algo desidratada. "A reforma que foi apresentada é muito boa do ponto de vista técnico. A poupança de R$ 1,1 trilhão em dez anos é o ideal. Eu até diria que, quanto mais, melhor", avalia.

"Em relação ao dividendo fiscal da reforma, esperamos qualquer coisa entre R$ 700 bilhões e R$ 800 bilhões. Menos do que isso, entre R$ 600 bilhões e R$ 700 bilhões, se perde um pouco uma oportunidade de fazer uma reforma que valha para vários anos", diz ele, para quem "qualquer coisa abaixo de R$ 500 bilhões seria extremamente desapontador". O mercado tenderia a reagir mal.

Ramos trata então do esforço fiscal necessário para enfrentar a escalada da dívida bruta, que hoje já supera 77% do PIB, um nível elevado para um país emergente - a média desse grupo é um pouco superior a 50% do PIB. Para ele, a reforma da Previdência é fundamental para prevenir que o buraco fiscal fique ainda maior "daqui a 5, 10, 15, 20 anos", mas não resolverá a necessidade de melhorar o resultado primário (que exclui gastos com juros). Hoje, há um déficit primário de 1,5% do PIB.

Para estabilizar a dívida, Ramos calcula ser necessário um superávit de 2% do PIB. No entanto, quando o esforço primário chegar lá, a dívida estará na casa de 80% a 90% do PIB, nível muito alto e que não confere espaço de manobra à política fiscal. Desse modo, o ideal é alcançar um superávit que a reduza, o que seria algo na casa de 3% a 3,5% do PIB -ou seja, é preciso uma melhora do resultado primário de cinco pontos percentuais do PIB em relação ao atual. Ramos acredita que a recuperação do crescimento pode contribuir com 2 pontos do PIB. Ainda faltarão, porém, três pontos do PIB, que terão de ser obtidos com corte de gastos ou aumento de impostos. Os números dão uma ideia do tamanho do desafio fiscal.

 

As dúvidas do BC sobre a recuperação da atividade

O Banco Central investiga as causas do baixo crescimento da economia. O diagnóstico final não é para agora - dependerá do exame de dados que serão divulgados ao longo do tempo. Quando ficar pronto, terá um peso importante na definição da direção da taxa básica de juros, hoje fixada em 6,5% ao ano.

Para fins de entendimento, é útil dividir os estudos do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC em dois grupos. Um deles procura verificar se os choques que atingiram a economia no ano passado levaram a uma desaceleração temporária da atividade. O outro tema é observar se os estímulos monetários injetados pelo BC entre 2016 e 2018 estão se transmitindo à economia pelos canais esperados.

A expansão do Produto Interno Bruto (PIB) em 2018, de 1,1%, ficou abaixo do 1,3% previsto pelo Banco Central. A autoridade monetária rebaixou a sua projeção de expansão do PIB para 2019, de 2,4% para 2%. Além disso, reconheceu em documentos oficiais que "indicadores recentes de atividade econômica apontam ritmo aquém do esperado".

A avaliação do BC, porém, é que, apesar de tudo, a economia segue se recuperando num ritmo gradual. As projeções do BC e dos analistas econômicos do mercado para a expansão do PIB de 2019 foram reduzidas basicamente para se adequar ao fato de que, no ano de 2018, a economia terminou em um nível mais baixo - o que se chama tecnicamente de efeito carregamento.

O Banco Central e o mercado, segundo essa linha de raciocínio, teriam mantido suas previsões para a expansão da economia trimestre a trimestre. Um dado ilustrativo é que, ao mesmo tempo em que reduziu de 2,5% para 2% as projeções de crescimento para 2019, o mercado financeiro elevou de 2,5% para 2,75% a projeção de expansão para 2020. Apesar de ter ratificado que a economia segue se expandindo num ritmo gradual, o Copom indicou que está aberto a mudar de opinião.

Por isso vai se dedicar, durante um período que extrapola o curto prazo, a fazer estudos e observar as novas informações. Uma tese do BC que deverá ser testada é se, de fato, o crescimento abaixo do esperado em fins de 2018 e começo de 2019 é reflexo de choques e incertezas que atingiram a economia brasileira no ano passado. A lista de fatores é imensa: o estresse no mercado provocado pela processo de alta de juros nos Estados Unidos; a greve dos caminhoneiros; a crise que afetou a Argentina; as incertezas das eleições presidenciais; e a desaceleração da economia mundial.

Ao longo do tempo, o BC tem se empenhado em estimar, quantitativamente, os efeitos de alguns desses eventos na economia. Há um ano, o Copom divulgou um estudo no seu Relatório de Inflação tentando destrinchar como episódios de incerteza econômica afetam a inflação. O modelo econômico apresentado explora dois canais: a alta do dólar leva a uma pressão inflacionária quase imediata; mas num prazo mais longo ocorre um pequeno efeito desinflacionário, refletindo os impactos das incertezas sobre a atividade.

Gráficos apresentados nesse estudo mostram uma relação inversa entre dois indicadores, o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) e o Indicador de Incerteza Econômica (IIE-Br). A relação é a esperada e um tanto óbvia - a incerteza leva a maior capacidade ociosa -, mas o estudo ainda assim é relevante para explorar a intensidade e as defasagens com que esses fenômenos ocorrem, dois aspectos importantes para cálculos sobre como a política monetária deve reagir.

A indústria foi, do lado da oferta, uma das maiores frustrações no desempenho da economia em 2018. O ano começou bem, com um crescimento de 4,5% no primeiro trimestre, mas o quadro mudou em meados do ano. Um evento importante foi a greve dos caminhoneiros, que levou a uma forte queda na produção em maio, seguida de uma alta em junho. Mas, a partir daí, o desempenho foi frustrante, chegando no ultimo trimestre com uma expansão de 1,8%.

Outro estudo, publicado na edição do Relatório de Inflação divulgado há duas semanas, tenta entender como dois fatores em especial prejudicaram o desempenho da indústria em 2018 - a crise na Argentina e a decisão dos produtores de destinar a cana-de-açúcar à produção de etanol em vez da de açucar.

O BC estima que a queda das exportações para a Argentina teve um impacto de 0,38 ponto percentual sobre a indústria; a destinação da cana para o etanol em vez de açúcar teve um impacto de 0,58 ponto. O BC diz que esse eventos não explicam toda a frustração da indústria, mas têm um peso relevante. Ao mesmo tempo em que junta indícios de que o baixo crescimento recente pode estar influenciado por choques e incertezas, que tendem a afetar a economia de forma temporária, o Banco Central tem colhido sinais convincentes de que o estímulo monetário tem se transmitido.

No Relatório de Inflação, o BC informa que aumentou a sua projeção para a expansão do estoque de crédito em 2019, de 6% para 7,2%. A alta será particularmente mais acentuada no segmento de crédito livre, com um avanço de 12,5%, ante 10,5% estimados em dezembro. Essa é a parte do mercado mais sensível aos estímulos monetários. As famílias passaram por um processo de desalavancagem e suas dívidas são historicamente baixas.

O BC não divulga projeções sobre o crescimento das concessões de crédito, cuja velocidade de crescimento tem oscilado mês a mês. Mas, na apresentação do Relatório de Inflação, o diretor de política econômica do BC, Carlos Viana de Carvalho, destacou a tendência de aumento das concessões dessazonalizadas desde o começo de 2017. Outro fator de sustentação do PIB que tem sido citado pelo Banco Central é o aumento da massa salarial real.

Embora o crescimento do nível de emprego tenha sido mais baixo, houve uma contribuição importante dos baixos níveis de inflação. O BC, porém, pode estar enganado no seu diagnóstico sobre a atividade. Nessa hipótese, os sinais são de que cortará mais os juros, se os demais condicionantes da política monetária permitirem: expectativas de inflação, balanço de riscos (incluindo a reforma da Previdência e o ambiente externo) e projeções de inflação.

 

 

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