VALOR
Em dez anos, participação do poder público na construção encolheu quase 25%, aponta IBGE
Em uma década, a participação do setor público brasileiro na construção encolheu quase 25%, segundo a Pesquisa Anual da Indústria da Construção, divulgada nesta quarta-feira, 29, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Considerando a geração de valor das obras, a representatividade do setor público como cliente no total da indústria da construção passou de 42,7% em 2008 para 31,7% em 2017. A maior perda de participação do setor público foi no valor das obras de infraestrutura, que passou de 60,3% em 2008 para 52,4% em 2017.
A atividade da construção gerou R$ 280 bilhões em valor de incorporações, obras e serviços no ano de 2017. As obras de infraestrutura, que respondiam por 47,4% do valor da atividade em 2008, diminuíram para 32,2% em 2017. Por outro lado, aumentou a representatividade da construção de edifícios (de 37,2% de participação em 2008 para 45,8% em 2017) e dos serviços especializados (de 15,4% para 22,0%).
O setor da construção tinha 126,3 mil empresas ativas em 2017 e aproximadamente 1,91 milhão de pessoas trabalhando na área. O gasto com salários, retiradas e outras remunerações foi de R$ 53,5 bilhões.
Em relação a 2008, porém, houve redução tanto no emprego quanto na remuneração paga pelo setor. A média de pessoal ocupado nessas empresas caiu de 32 para 15 pessoas em 2017, enquanto o salário médio mensal encolheu de 2,7 para 2,3 salários mínimos.
Todos os segmentos tiveram queda na média de pessoal ocupado entre 2008 e 2017. A mais acentuada foi a das obras de infraestrutura, de 93 trabalhadores para 42 pessoas, com redução também na remuneração: a média salarial passou de 3,5 para 2,9 salários mínimos.
BC quer permitir contas em dólares no país e em reais no exterior
O Banco Central (BC) pretende permitir a abertura de contas em dólar no país e também adotar medidas para facilitar a abertura de contas em reais no exterior, afirmou o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto.
Segundo Campos Neto, o objetivo do BC é criar nesta gestão as condições para a conversibilidade total do real. Como essa agenda envolve medidas que dependem da aprovação do Congresso, ele frisou que não é possível estabelecer prazos muito claros. “A primeira minuta vai sair em breve, aí vamos ver a reação”, afirmou Campos Neto em entrevista coletiva para anunciar a nova agenda estrutural do banco.
Ela é um desdobramento da agenda BC+, tocada na gestão Ilan Goldfajn, agora batizada de agenda BC# porque envolve uma dimensão tecnológica mais forte. O presidente da autoridade monetária também comentou estudo divulgado pelo BC nesta semana que reforçou avaliação de que o custo de crédito no país está mais relacionado à baixa concorrência do que a concentração bancária no país.
“Quando olhamos se o sistema é muito concentrado ou não, comparativamente mostra que o Brasil não é muito diferente dos outros países”, afirmou. Campos Neto destacou que o país enfrenta imperfeições em vários componentes do spread bancário, mas que o mais problemático é o da inadimplência. Parte da questão está relacionada ao tema da informação assimétrica, que será endereçada com o cadastro positivo e o projeto de 'open banking', que abrirá as plataformas dos grandes bancos para empresas de tecnologia financeira, as chamadas "fintechs".
Ele também destacou a importância de organizar o sistema de garantias e o processo de recuperação do crédito. “É importante para nós no BC podermos contribuir para o crescimento da economia”, disse ele. “Existe um esforço de medidas que possam destravar a economia.” Por trás delas, acrescentou Campos Neto, tem a premissa de reduzir a participação do setor público na economia e aumentar o do setor privado.
Segundo ele, há uma correlação forte entre o crescimento do PIB per capita e índices de participação de títulos privados na economia e do mercado acionário. O presidente do BC reiterou que a principal contribuição que a autoridade monetária tem a dar para o crescimento econômico é agir para manter a inflação na meta. “É importante não cair na tentação de trocar inflação por crescimento maior de curto prazo”, afirmou.
Questionado sobre a fixação da meta de inflação para 2022, Campos Neto afirmou que a decisão será tomada em breve pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). “O Banco Central é um voto de três, vamos levar nossa proposta”, afirmou.
Lei cambial
Não há nenhum estudo que conclua que a maior conversibilidade tenha levado a uma dolarização da economia, sustentou o presidente do BC. Segundo ele, apesar dos receios, o efeito não ocorreu. “Se mostrou até o contrário”, disse. "Em vez de gerar volatilidade, teve uma volatilidade menor."
O diretor de Regulação do BC, Otavio Damaso, confirmou que os pontos que estão em estudo na nova lei cambial envolvem temas como o curso forçado da moeda, o conceito de operações ilegítimas de câmbio, proibição para contas em moeda estrangeira e exigência de cobertura cambial nas exportações.
Segundo ele, uma dos ganhos da nova legislação é dar maior segurança jurídica, ao reunir cerca de 450 artigos dispersos em diversas normas. “O arcabouço não facilita a vida do produtor, da indústria, de quem investe no país”, disse Damaso, que apontou que mudanças dessas envergadura devem ser feitos com “prudência, segurança, nada que coloque em risco a segurança do sistema.”
Campos disse que, na área de gestão de reservas, as medidas não envolvem uma eventual definição sobre o nível ideal dessas reservas. Segundo ele, as prováveis mudanças dizem respeito a aspectos como a gestão das reservas e os instrumentos de intervenção no mercado.
O diretor de Política Monetária do BC, Bruno Serra, afirmou que as mudanças recentes feitas pela autoridade monetária na oferta de linhas de empréstimo em dólar são um exemplo do que está sendo estudado. Nessas operações, o BC fez a rolagem antecipada de vencimentos, com prazos mais dilatados.
As discussões sobe o compulsório, disse Campos, não tem objetivo de estimular a economia, mas, sim, adequar os volumes exigidos às reais necessidades. Segundo ele, o volume de compulsórios é excessivo em relação às necessidades de gestão de liquidez.
Análise: Principal risco é a dolarização da economia
Desde pelo menos o Plano Real, o Brasil estuda dar passos mais ousados na liberalização cambial, derrubando barreiras aos fluxos de capitais, adotando um grau mais profundo de conversibilidade da moeda e permitindo que mais empresas e até o cidadão abra contas em dólares dentro do país.
Esses projetos, que envolvem uma revisão de uma legislação cambial que remonta à década de 1920, foram sendo adiados, com receios de que os fundamentos econômicos não são sólidos o suficiente para evitar os riscos de uma dolarização da economia. Funcionários mais antigos do Banco Central, que têm na memória os períodos de graves crises do balanço de pagamentos, costumavam defender que a liberdade cambial fosse concedida na prática e na legislação inferior, sem abrir mão de salvaguardas legais que poderiam ser úteis em períodos de crises agudas.
Há cerca de uma década, por exemplo, o Banco Central eliminou os resquícios de controles cambiais, numa medida do Conselho Monetário Nacional (CMN) que unificou os mercados de câmbio livre e flutuante. A exigência de cobertura cambial foi diluída com permissão de que os recursos fossem internalizados em períodos muito dilatados.
Dessa forma, o BC procurou auferir os ganhos da maior liberdade cambial — como mais acesso a capitais estrangeiros e queda dos prêmios de risco e custos de hedge cambial — garantindo ao mesmo tempo salvaguardas para se proteger se o pior acontecer.
Nesse arcabouço, inclui-se a possibilidade de fazer a centralização cambial, que é basicamente o governo assumir o controle de todas as operações de câmbio. Também está a conceituação de ilegítima das operações que cursam fora dos estabelecimentos autorizados pelo BC. Os controles de capitais, como a imposição de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), também foram considerados importantes, nos últimos governos, para lidar com fortes fluxos de capitais, como os que ocorreram depois da crise de 2008, que levou à excessiva apreciação cambial.
Sempre houve resistência, também, a uma liberação mais geral das contas em dólares no país. O receio era que, sem fundamentos mais sólidos, a moeda de melhor qualidade — no caso, o dólar — tenderia a tomar o lugar da de menor qualidade. O risco é a dolarização, como ocorreu na Argentina.
Nessas circunstâncias, o Banco Central tem menos poder para estabilizar a economia interna via política monetária e pode se ver em apuros para fazer assistência de liquidez ao sistema bancário numa moeda que não emite. Para que não haja dolarização da economia, o cidadão precisa confiar mais na sua própria moeda do que na de outro país.
Será que o Brasil chegou lá? Há dois indicadores críticos que levantam dúvidas. A inflação baixou nas ultimas décadas, mas o histórico é alto mesmo comparando com outros países emergentes. O fantasma da dominância fiscal ainda está bastante presente, com uma dívida pública que é recorde em relação aos pares.
Ideia é razoável, mas não sei se é precipitação, diz Delfim
Para o ex-ministro Delfim Netto, o objetivo da conversibilidade do real e da autorização para se ter contas domésticas em dólares é correto, “mas não sei se não é uma precipitação”. Os rumos da nova legislação cambial, anunciados sem muitos detalhes ontem, pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, partem do princípio de que o Brasil não terá mais crise cambial, decorrente de desequilíbrios no balanço de pagamentos. Com reservas de quase US$ 400 bilhões, realmente não se espera problemas dessa natureza.
Delfim avalia, portanto, que trata-se de uma ideia “razoável” e faz sentido como instrumento de estímulo ao comércio exterior, embora dependa de vários “se”: “Se houver a crença de que não há mais risco de crise cambial, se os sul-americanos decidirem faturar em reais e se o Banco Central puder assegurar o livre fluxo de moedas”.
Depois desses comentários, o ex-ministro — que enfrentou a mais grave crise de balanço de pagamentos da história do país, em 1982/83 — fez algumas ponderações sobre prioridades e problemas cruciais a serem atacados de imediato. “Temo que estejamos criando mais problemas do que soluções”, diz.
Ele explicou: “Estamos cometendo um erro. Pusemos um obstáculo, que é a reforma da Previdência, e consideramos que depois de aprovada o país voltará a ter confiança absoluta e que os investimentos voltarão”. É fato que, sancionada a nova Previdência, as expectativas vão melhorar, admite ele. Mas o maior problema, que afasta investidores nacionais e estrangeiros do país, hoje, é a “insegurança jurídica”.
E, nessa questão, a decisão monocrática do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, tomada na segunda-feira, foi um banho de água gelada nas expectativas. Fachin determinou que a venda da Transportadora Associada de Gás (TAG) pela Petrobras, concretizada em abril, seja feita por licitação. “O Supremo tem que entender que ele só é supremo no pleno”, afirma.
O ex-ministro criticou a frequência com que o STF toma decisões monocráticas e que estas, que deveriam ser guardadas para situações emergenciais, geram insegurança jurídica, travando os investimentos que são cruciais para o crescimento e para a geração de empregos no país. “O Toffoli (Dias Toffoli, presidente do STF ) está certo! É preciso que cada poder volte para sua caixinha de competência”, afirma o ex-ministro.
Voltando a falar sobre Banco Central, Delfim concluiu: “A maior contribuição que o BC pode dar ao país, hoje, é submeter o sistema financeiro a um choque de competição” — tarefa que a direção da instituição, tanto a anterior quanto a atual, disse ele, procura levar adiante.
Citi vê PIB fraco e Previdência de R$ 500 bi
O economista-chefe do Citi Brasil, Leonardo Porto, tem uma visão cautelosa sobre as perspectivas de crescimento da economia brasileira para este ano e para os próximos, apontando motivos cíclicos e estruturais para o ritmo fraco de expansão - do cenário global mais adverso ao efeito contracionista da política fiscal, passando pelo menor PIB potencial. Para 2019, ele projeta um avanço de 1,4%, estimativa que tem um "inequívoco viés de baixa", prevendo 2% para 2020 e também para 2021.
Segundo Porto, há uma preocupação grande dos investidores estrangeiros com as contas públicas, que passa pela Previdência, mas há "em paralelo uma preocupação adicional quanto ao baixo crescimento do Brasil nos últimos anos". Porto acredita que a reforma da Previdência será aprovada pelo Congresso no quarto trimestre, com uma economia de R$ 500 bilhões em dez anos - consideravelmente abaixo do R$ 1,25 trilhão embutido na proposta original do governo.
Nas contas do economista, os R$ 500 bilhões resolvem "mais ou menos um terço" do problema fiscal brasileiro, o que significa que serão necessárias medidas adicionais para completar o processo de consolidação fiscal, como uma nova regra de reajuste do salário mínimo e a contenção dos gastos com o funcionalismo. É preciso sair de um déficit primário de 1,5% do PIB para um superávit de 2% do PIB, afirma Porto, referindo-se ao esforço requerido para estabilizar a dívida bruta como proporção do PIB, considerando o resultado fiscal sem gastos com juros.
"A reforma da Previdência é uma parte importantíssima desse processo, mas não é suficiente para resolver a questão fiscal", ressalta Porto. Ela tampouco conseguirá destravar sozinha o crescimento, ainda que, se aprovada, vira-se a página de uma incerteza relevante. Porto nunca teve uma previsão das mais otimistas para o crescimento de 2019 - em novembro de 2018, projetava 2,2%. Houve quem estimasse 3,5%. O resultado decepcionante da atividade no primeiro trimestre deflagrou uma onda de redução nas previsões - hoje, o consenso de mercado é de 1,23%.
O economista do Citi Brasil lembra que tem havido "um otimismo contínuo" nas expectativas em todo começo de ano, com a aposta de que o crescimento ficará bem acima do que foi no ano anterior. "Para entender isso, existem explicações cíclicas e estruturais", avalia ele. Porto começa pelas estruturais. A primeira é que o PIB potencial brasileiro caiu significativamente nos últimos anos, diz Porto, falando do ritmo de expansão que não gera pressões inflacionárias.
Ele observa que o aumento da mão de obra caiu pela metade, de 1,8% em 2008 para cerca de 0,9% hoje. No caso do avanço do estoque de capital, a taxa de investimento rodava pouco acima de 20% do PIB e hoje está perto de 15% a 16% do PIB, nota ele. Além disso, há o problema da produtividade. "Se a gente disser que ela está crescendo, já seria um cenário positivo. A dúvida é se a produtividade não está contraindo", afirma Porto, para quem hoje o PIB potencial está em torno de 1% a 1,5%. Em 2008, era de cerca de 3,5%, segundo ele.
"E o crescimento cíclico tem sido mais lento do que se imaginava", diz Porto. "Com os estímulos monetários, esperava-se que a reação fosse mais rápida do que está acontecendo." Ele enfatiza que, enquanto a política monetária é expansionista, com os juros básicos em níveis historicamente baixos, a política fiscal é contracionista, com União, Estados e municípios segurando gastos. A política de crédito dos bancos públicos também vai na mesma direção.
Para completar, "o crescimento mundial não é tão robusto como foi no período de 2003 a 2008", diz Porto, observando que, nesse quadro, "o vento a favor vindo de fora é menor", não havendo um ciclo de commodities favorável como na década passada. "A expansão mundial esperada para 2019 pelo Citi é de 2,9%. Foi 3,2% no ano passado e 3,4% em 2017", nota Porto. "Quando você coloca tudo no mesmo pacote, há o vento a favor da política monetária, mas outros ventos contrários mitigam um pouco esse estímulo."
Para o resultado do PIB do primeiro trimestre, a ser divulgado amanhã, Porto projeta estabilidade em relação ao trimestre anterior, feito o ajuste sazonal. Ele vai revisar a sua projeção para o PIB de 2019 depois do anúncio das contas nacionais. "Se o PIB apresentar uma queda mais pronunciada -- e aí eu não estou falando de um recuo de 0,1%, 0,2%, porque isso é em torno de zero -, um cenário de um crescimento menor que 1% começa a entrar na mesa", afirma ele. A média das projeções de 32 analistas consultados pelo Valor Data é de baixa de 0,2% na comparação com o trimestre anterior.
Porto lembra que o PIB tem crescido a uma média de 0,3% por trimestre desde o primeiro trimestre de 2017. "É um crescimento bem baixo, em torno de 1,2% anualizado. Qualquer vento contrário que aconteça no meio do caminho, essa economia pode estagnar", diz ele, enumerando então alguns pequenos obstáculos que atrapalham o país desde os últimos meses do ano passado. O primeiro foi a revisão para baixo de crescimento do PIB mundial, que começou a partir do quarto trimestre, afirma Porto.
"O segundo vento contrário é a questão da Argentina, que se intensificou. Se a gente pegar a exportação de automóveis para lá, ela caiu brutalmente a partir de meados do ano passado." O terceiro é a situação do mercado de trabalho. Segundo Porto, ela "vinha melhorando desde março de 2017, com quedas contínuas [da desocupação]", mas, a partir de outubro, novembro, os dados de desemprego ficaram oscilando em torno de um mesmo nível. Além disso, o salário real (descontada a inflação) dá sinais de que cresce cada vez menos.
Outro ponto é que a taxa média de empréstimos do Sistema Financeiro Nacional, que caiu por vários trimestres de modo sistemático, parou de recuar e começou a mostrar leve alta a partir de dezembro, diz Porto. Por fim, as tensões comerciais entre EUA e China voltaram a aumentar neste mês. O governo americano elevou as tarifas de importação sobre produtos do país asiático, e os chineses fizeram o mesmo com os bens comprados dos EUA
. "Houve uma escalada das tensões comerciais, mas nós não esperamos que haja novas escaladas para frente nem acreditamos que vai haver um acordo sustentável no curtíssimo prazo. Ou seja, a incerteza fica presente, de certo modo", afirma ele, notando que isso tende a ser prejudicial para os preços de commodities.
Com a aprovação de uma reforma da Previdência de R$ 500 bilhões em dez anos, Porto acredita que não haveria um efeito significativo sobre os preços dos ativos brasileiros (como câmbio, bolsa e risco-país), nem para melhor nem para pior. Já se passar uma versão mais robusta, que poupe algo como R$ 1 trilhão, o impacto pode ser expressivo. O dólar, por exemplo, tenderia a cair com força, e também poderia haver a redução do juro real de equilíbrio (o que permite a economia crescer sem acelerar a inflação), dada a percepção de maior sustentabilidade das contas públicas no longo prazo.
O espaço para cortes maiores dos juros básicos aumentaria e haveria um efeito positivo sobre a confiança, um cenário propício para uma expansão mais forte da economia. Não é esse, porém, o cenário-base de Porto. Na sua hipótese central, não haverá redução da Selic no curto prazo. Ele estima que a taxa vai permanecer em 6,5% ao ano até o quarto trimestre de 2020, apesar da combinação de crescimento mais baixo e inflação sob controle.
Porto vê quatro restrições a um corte dos juros no curto prazo: a atual comunicação do BC, que aponta para uma Selic parada como cenário mais provável; o fato de haver uma nova diretoria na instituição, tentando estabelecer a sua credibilidade; o espaço limitado para baixar a taxa - inferior a 1 ponto percentual, na visão do Citi Brasil; e a elevada indefinição sobre o impacto fiscal da reforma da Previdência.
Haveria 30% de chance de corte da Selic na segunda metade do ano, diz Porto, avaliando que os obstáculos relativos à comunicação da política do BC, à credibilidade da diretoria e a incerteza sobre a Previdência podem perder relevância.
Agenda de reforma microeconômica do BC prevê redução do compulsório
A agenda de reformas microeconômicas do Banco Central, que foi rebatizada de BC#, inclui uma redução estrutural do nível de recolhimentos compulsórios, considerado excessivo pelo seu presidente, Roberto Campos Neto. Também prevê aperfeiçoamentos operacionais na administração das reservas internacionais, incluindo a gestão dos recursos aplicados no exterior e também as formas de intervenção no mercado de câmbio. “Temos um pano estrutural de redução de compulsórios no longo prazo”, disse Campos.
Segundo ele, o volume de depósitos compulsórios mantidos pelo sistema financeiro no Banco Central caiu de R$ 500 bilhões para R$ 420 bilhões nos últimos anos. “Teve uma redução tímida, e a gente acha que tem espaço para fazer mais reduções.” No governo Temer, o então presidente do BC, Ilan Goldfajn, implementou uma agenda de simplificação das normas sobre depósitos compulsórios, unificando regras e reduzindo o uso desse instrumento para o fomento de setores da economia, como construção civil e fabricantes de motocicletas.
Agora, Campos quer dar um passo adiante, reduzindo o volume total desses recolhimentos, que são mais altos no Brasil do que em outras economias. Durante a crise financeira de 2008, esse alto volume de compulsórios foi visto como uma vantagem, porque a liberação de recursos permitiu combater um aperto de liquidez bancária ocorrida naquele período. O presidente do BC diz que o sistema financeiro tem sofrido modificações estruturais nos últimos anos e que, hoje, poderia conviver com menores níveis de compulsórios.
“Os depósitos a vista estão estagnados, hoje existe uma interconexão muito grande entre fundos e bancos, maior do que existia no passado.” Segundo ele, quando o BC faz testes de estresse de liquidez que incorporam essa nova configuração do sistema bancário, as necessidades de compulsórios são menores do que foram no passado.
A área técnica do BC também tem repetido que, hoje, os compulsórios são menos importantes como instrumento para combater eventuais apertos de liquidez no sistema, depois que foram adotados requerimentos de liquidez dentro das regras de Basileia. Num discurso recente, o diretor de política monetária do BC, Bruno Serra Fernandes, associou a redução dos compulsórios aos planos da autoridade para resgatar as operações de redesconto como instrumento de assistência de liquidez.
Campos destacou que a redução dos compulsórios seria adotada apenas com o objetivo de aperfeiçoar a estrutura do sistema bancário. Não haveria, disse, a eventual intenção de estimular a economia — embora, reconheça ele, medidas dessa natureza tenham impacto monetário. O BC estuda aperfeiçoamentos na operação das reservas — a ideia, porém, é adotar medidas incrementais, que não representam uma ruptura com as políticas atuais. “Não vamos reinventar a roda”, diz Serra. Segundo ele, na gestão das aplicações de recursos, um exemplo de medida foi a redução das aplicações de recursos em países produtores de commodities, que têm ciclos econômicos semelhantes ao do Brasil.
No caso das intervenções, ele citou como exemplo de medida a ser tomada a mudança na sistemática de leilões de empréstimos em dólares. O BC renovou antecipadamente o vencimento de junho e passou a oferecer linhas com correção pós-fixada. Essa agenda para as reservas é apenas microeconômica, disse Campos, e não tem relação sobre a avaliação do nível ideal de reservas.
Campos disse que, entre as medidas da agenda BC#, está uma revisão nos requerimentos de capital para operações agrícolas. O resultado desse ajuste seria liberar mais capital para os bancos que atuam na área. Segundo ele, as medidas seriam adotadas respeitando o arcabouço prudencial de Basileia 3.
Economistas veem sinal de desaceleração do crédito a empresas
A área de Indicadores e Estudos Econômicos da Boa Vista, especializada em risco de crédito, aponta para sinais de uma desaceleração nas concessões de crédito para as empresas em abril diante dos dados do mercado divulgados pelo Banco Central hoje. “O ritmo de crescimento dos novos empréstimos com recursos livres para pessoas jurídicas, já descontados os efeitos da inflação, recuou de cerca de 10% para 7,9%” no mês passado.
Para os economistas, “ainda é cedo para afirmar que o atual ciclo de expansão do crédito às empresas já esteja próximo ao fim, mas esse dado de abril não deixa de ser um alerta quando analisado no contexto de rápida deterioração do cenário econômico”. A Boa Vista chama a atenção para a queda da confiança das empresas observada nos últimos meses. “Diante da revisão para baixo das expectativas para o crescimento da economia e da menor confiança, os empresários tendem a adotar uma postura mais cautelosa, adiar investimentos e evitar o endividamento”, afirmam.
Conforme os economistas, a lenta recuperação da economia tende a encurtar os ciclos de expansão do crédito. “O fraco crescimento da renda limita a capacidade de endividamento tanto das empresas quanto das famílias. Também nas operações para pessoas físicas já se nota uma lenta desaceleração desde o ano passado.”
A inadimplência segue estável e próxima dos menores patamares da história. Considerando as operações com recursos livres, ela atingiu 2,7% em abril, ante 2,8% em março. No caso das pessoas físicas, ela ficou em 4,7%. “Sem recuperação da atividade econômica e do mercado de trabalho, aumenta a probabilidade de que o crescimento dos empréstimos observado nos últimos meses resulte em aumento da inadimplência, o que ainda não estava no radar”, alertam os especialistas da Boa Vista.
Já o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) avalia que os números do setor de crédito mostram sinais de freio na retomada do mercado para pessoa jurídica. “Os dados do BC mostram que, mal começou a melhorar, e o quadro do crédito corporativo já dá novos sinais de retrocesso”, afirmaram os analistas da entidade.
Segundo o Iedi, em abril, assim como em março, as concessões cresceram muito pouco em termos reais, "sinalizando um giro muito baixo dos negócios, mas também o constrangimento de alguns canais de financiamento, notadamente o BNDES”. Os novos empréstimos às empresas, que em termos reais tinham registrado expansão de 18% no 3º trimestre do ano passado, cresceram apenas 9,5% no mesmo período de 2019.
Descontada a inflação medida pelo IPCA, a variação anualizada em abril das concessões de financiamentos corporativos atingiu 2,6%. O instituto apontou como principais fatores dessa perda de fôlego a desaceleração do crédito do BDNES, a retração do crédito rural e a volatilidade do financiamento imobiliário. “Assim, a expectativa de o crédito corporativo deixar de ser um obstáculo para a recomposição do financiamento geral da economia pode vir a ser frustrada, caso persista este encolhimento do ritmo de contratação de novos empréstimos às empresas”, disseram os economistas do Iedi.
Os especialistas do instituto também apontam para o aumento das taxas nominais de juros do crédito com recursos livres para pessoa física. Segundo o Iedi, as taxas cobradas das famílias nessas modalidades progrediram de 50,8% ao ano no 4º trimestre de 2018 para 52,7% a.a. no 1º trimestre deste ano e para 53,6% a.a. em abril. “O crescimento do crédito às pessoas físicas pode vir a arrefecer em resposta à evolução das taxas médias de juros”, alertaram os analistas. O fator juros também pode estar pesando no segmento corporativo. De acordo com o Iedi, desde final do ano passado, as taxas nominais destes empréstimos para pessoas jurídicas pararam de cair. “Os dados podem estar sugerindo que o ciclo positivo de expansão do crédito, propiciado pelas reduções passadas da taxa básica de juros Selic começa a se esgotar.”
ESTADÃO
Com PIB negativo no 1º trimestre, crescimento do Brasil do ano deve ficar em 0,8%, diz BNP Paribas
O BNP Paribas projeta um crescimento de 0,8% no PIB deste ano em relação a 2018. A expansão seria resultado de uma retração de 0,3% no primeiro trimestre, seguida por alta de 0,2% entre abril e junho.
"A partir do segundo semestre é que a atividade teria uma tração maior, crescendo 0,5% no terceiro trimestre e 0,7% no último quarto do ano", avalia o economista-chefe do BNP Paribas para América Latina, José Carlos Faria. Para 2020, a estimativa da instituição é de alta de 2,5%.
"Com a economia em retração no primeiro trimestre, o segundo trimestre poderá ter um desempenho enfraquecido, talvez até em estabilidade, diante dos indicadores disponíveis até o momento", declarou o economista em coletiva de imprensa pela internet nesta quarta-feira, 29.
Ela acredita que frustrações com o avanço da agenda de reformas no início do ano, assim como condições mais dura no cenário externo, pesaram sobre o ritmo da atividade econômica brasileira.
Em relação à taxa básica de juros, o banco projeta que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deverá promover três cortes de 0,25 pontos-base até o fim deste ano. "Considerando o encaminhamento da reforma da Previdência, o BC deverá passar a cortar a Selic a partir de setembro, com a taxa encerrando o ano em 5,75%", comentou Faria.
O economista avalia que a reforma da Previdência proposta pelo governo deverá ser diluída em cerca de 50%, oferecendo uma economia entre R$ 500 bilhões e R$ 600 bilhões em dez anos. "Esperamos aprovação da reforma na Câmara em agosto, com votação no Senado em outubro", explicou.
Em relação à inflação, a percepção do BNP Paribas é de que o IPCA poderá encerrar o ano em 4,0%. Como fator de pressão, a peste suína que fez a China reduzir em 30% sua produção poderá ter efeitos sobre indicador de preços. "Este corte é equivalente a toda produção da Europa e provavelmente levará a um aumento das importações chinesas. Com a guerra comercial, a China deve importar mais carne do Brasil", disse Faria.
"É difícil estimar o impacto sobre os preços, até pela substituição de produtos e o efeito sobre preço de insumos (soja). Vemos um aumento de preços de carnes no Brasil entre 15% e 20%, com efeito de 0,5 ou 0,6 ponto porcentual, provavelmente dividido neste e no próximo ano", afirmou.
O cenário de câmbio do BNP Paribas, também considerando a aprovação de uma reforma diluída na Previdência, indica o real subvalorizado atualmente. "Com as contas externas confortáveis e uma reforma da Previdência, dólar pode fechar o ano cotado a R$ 3,50."
O GLOBO
Caixa renegociará dívidas de até 600 mil mutuários da casa própria que estão inadimplentes
A Caixa Econômica Federal anunciará dentro de um mês um programa de renegociação de dívidas para os mutuários da casa própria que estão inadimplentes. A medida, segundo fontes do banco, vai beneficiar até 600 mil clientes que estão com as prestações atrasadas há mais de 90 dias e correm o risco de perder a moradia. Estão em estudo várias alternativas para as diferentes faixas de renda, englobando todos os tipos de contratos, desde os enquadrados no programa Minha Casa Minha Vida até aqueles com recursos da poupança e de mercado (acima de R$ 1,5 milhão).
O programa será acompanhado de uma ação educativa para que os beneficiados não voltem a ficar inadimplentes. Eles vão receber informativos alertando que o imóvel irá a leilão em caso de atraso no pagamento de duas prestações.
Segundo fontes a par das discussões, a Caixa não vai dar desconto no valor da prestação, mas avalia isentar o pagamento de multas e demais ônus da cobrança da dívida para quem aderir ao programa. O cliente poderá incorporar no saldo devedor as parcelas em atraso. Elas serão recalculadas obedecendo ao comprometimento de renda do tomador.
Dessa forma, resolve-se o passado e o cliente volta a ter o compromisso de pagar só uma prestação a cada mês. Outra possibilidade é o uso do saldo da conta do FGTS para quitar prestações vencidas. Quem está com dificuldades de honrar os pagamentos, mas ainda não está na situação de inadimplente, também poderá negociar uma pausa no pagamento. A extensão do prazo de pagamento do contrato também é possível.
A ideia é esclarecer para os clientes todas as possibilidades de renegociação. A Caixa fará campanha e ampliará a oferta de serviços pela internet, telefone, rede social, agências e pontos de atendimento, replicando as mesmas iniciativas da campanha de renegociação de dívidas de pessoas físicas e jurídicas, lançada na terça-feira.
O programa também pode ajudar a melhorar o resultado da Caixa, que fez uma provisão de cerca de R$ 5 bilhões no balanço para perdas esperadas com calote nos financiamentos imobiliários. Além disso, o banco quer evitar aumento no estoque de imóveis retomados por falta de pagamento. Líder no mercado imobiliário, o banco tem 60 mil unidades nessa situação e quanto mais tempo demorar para se desfazer deles, mais crescem as despesas com IPTU e condomínio, além da desvalorização dos imóveis.
No ano passado, a Caixa chegou a anunciar um leilão de imóveis “no atacado”, com a oferta de até 6 mil unidades em todo o país. A iniciativa, porém, não deu certo, pois não apareceram investidores.
Segundo o analista Carlos Daltozo, da Eleven Financial, todos os bancos enfrentam problemas com o crédito imobiliário em decorrência da crise na economia, aumento do desemprego, que atinge 13,4 milhões de pessoas no país, e queda na renda. Como esse tipo de financiamento tem garantia real, que é o próprio imóvel, as instituições entram com ações para retomar o bem, embora esta solução não seja a ideal. Ele lembrou que o estoque de bens retomados no setor bancário por falta de pagamento vem subindo desde 2015 e encerrou 2018 em valor correspondente a R$ 18,7 bilhões, sendo que R$ 16,8 bilhões são imóveis.
- Por isso, os bancos vêm realizando feirões e concedendo descontos no valor dos imóveis — disse Daltozo, acrescentando que os valores referentes a bens retomados constam do balanço das instituições, comprometendo a margem para a liberação de novos empréstimos.
Dados divulgados pelo Banco Central (BC) mostram que os bancos estão com o pé no freio nas concessões de crédito imobiliário. Números encerrados em abril mostram uma queda de 7% no número de operações entre abril de 2019 e igual mês de 2018. No mesmo período, o estoque subiu apenas 0,6%. O índice de inadimplência na modalidade passou de 1,2% em dezembro para 1,6% em abril.
O novo programa não é a única iniciativa em curso que deve ajudar a melhorar as contas do banco. Na última terça-feira, a Caixa lançou um programa de renegociação de dívidas chamado de “Você no Azul”, com a oferta de descontos de 40% a 90%. O pagamento, porém, precisa ser feito à vista. A campanha tem como alvo 2,9 milhões de clientes entre pessoas físicas e empresas, que devem à Caixa R$ 28,6 bilhões.
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