Sexta-feira

VALOR

Investimento encolhe e PIB deve ficar abaixo de 1%

O resultado do PIB nos primeiros três meses do ano confirmou a letargia da atividade econômica brasileira, que há mais de dois anos tenta engatar uma recuperação mais firme. No primeiro trimestre, a economia encolheu 0,2% em relação ao trimestre anterior, feito o ajuste sazonal, arrastada por mais uma queda forte do investimento, de 1,7%, e pela perda de fôlego do consumo das famílias, que teve alta de apenas 0,3%.

Combinados, esses dois componentes da demanda, com peso de cerca de 80% no PIB, recuaram pelo segundo trimestre consecutivo. No acumulado em quatro trimestres, o PIB cresce apenas 0,9%, o pior resultado nessa base de comparação desde a queda de 0,1% do terceiro trimestre de 2017. Pelo lado da oferta, chamou a atenção o tombo de 6,3% da indústria extrativa, reflexo do colapso da barragem da Vale em Brumadinho, em Minas Gerais.

O PIB industrial caiu 0,7%, e o do segmento de transformação, 0,5%. Com o mau resultado do PIB nos primeiros três meses do ano e as informações desanimadoras sobre o segundo trimestre, vários analistas cortaram as estimativas para o crescimento em 2019 para menos de 1% - menos que o 1,1% registrado em 2017 e também em 2018.

Para crescer 1% neste ano, o PIB precisa avançar a um ritmo de cerca de 0,5% em cada um dos três trimestres restantes do ano, na comparação com o trimestre anterior, diz Bráulio Borges, economista-sênior da LCA Consultores. É uma taxa que o Brasil tem dificuldade em atingir na pífia recuperação iniciada no começo de 2017. A incerteza na economia continua elevada, em boa parte por causa de dúvidas sobre o andamento da reforma da Previdência, tida como fundamental para corrigir o desequilíbrio das contas públicas.

A crise na Argentina, por sua vez, atrapalha a indústria, por afetar as exportações de manufaturados. Além disso, há fatores estruturais que travam a economia, como o nível de investimento muito baixo. A queda de 0,2% foi o primeiro recuo trimestral do PIB desde o quarto trimestre de 2016, o momento que marcou o fim da recessão iniciada no segundo trimestre de 2014.

Como o PIB do quarto trimestre de 2018 teve a sua variação mantida em 0,1% - havia quem apontasse o risco de revisão para o terreno negativo -, a economia não entrou em recessão técnica, fenômeno caracterizado por retração em dois trimestres seguidos. Para o diretor de pesquisa para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, contudo, a sensação na economia é quase de recessão, já que a combinação do consumo das famílias e do investimento caiu, sim, por dois trimestres seguidos.

Nos últimos quatro, houve baixa em três. Borges vai na mesma linha, dizendo que a demanda "privada" entrou em recessão técnica, o que não ocorria desde 2016, embora as quedas tenham sido modestas. Segundo ele, o conjunto formado por consumo das famílias e o investimento recuou 0,5% no quarto trimestre de 2018 e 0,4% no primeiro trimestre deste ano, em termos anualizados.

Borges observa que a combinação desses dois componentes é uma aproximação da demanda privada, porque a formação bruta de capital fixo (FBCF, medida do que se investe em máquinas e equipamentos, construção civil e inovação) inclui o investimento público e o das estatais. O investimento continua a mostrar um desempenho especialmente ruim. Com a incerteza política, a grande ociosidade e a demanda anêmica, o setor privado investe pouco. O investimento público é ainda menor, dada a situação de penúria das contas públicas da União e de muitos Estados e municípios.

A formação bruta de capital fixo está 28,5% abaixo do nível alcançado no segundo trimestre de 2013. Nos primeiro trimestre, a taxa de investimento ficou em 15,5% do PIB, um pouco acima do 15,2% do PIB do mesmo período do ano anterior. No entanto, é um nível bem inferior aos 20,7% do PIB dos primeiros trimestres de 2011 a 2014.

O consumo das famílias desacelerou. Depois de crescer 0,6% e 0,5% nos dois trimestres anteriores, avançou apenas 0,3% no primeiro trimestre deste ano, num cenário marcado pela fraqueza do mercado de trabalho - o número de desempregados é de 13,4 milhões de pessoas.

O consumo do governo, por sua vez, cresceu 0,4%, depois de quatro quedas consecutivas. Foi uma alta inesperada num quadro de controle dos gastos públicos. Ramos enfatiza a fraqueza da atual recuperação, a mais lenta desde que há registro. O PIB per capita ainda está 9,1% abaixo do pico anterior, atingido no primeiro trimestre de 2014, nota ele. Ramos diz que a retomada fraca reflete o efeito da incerteza elevada sobre decisões de gastos, mas avalia que podem ser mais importantes os "danos estruturais aos principais motores do crescimento ocorridos nos últimos anos".

Segundo ele, a recuperação também tem sido limitada pelo declínio do estoque de capital da economia, dado o tombo forte do investimento, pelos níveis elevados de endividamento, em especial do governo e das famílias, e pelo efeito do alto desemprego por um período prolongado sobre as habilidades dos trabalhadores. As exportações também foram mal, num cenário marcado pela grave crise na Argentina, que prejudica as vendas de manufaturados brasileiros.

No primeiro trimestre, elas caíram 1,9% em relação ao trimestre anterior, enquanto as importações subiram 0,5%. No primeiro trimestre, pelo lado da oferta, a agropecuária, a exemplo da indústria, também ficou no vermelho, com queda de 0,5% em relação ao trimestre anterior. Apenas os serviços tiveram alta, de 0,2%. A construção, por sua vez, caiu 2% nos três primeiros meses de 2019. Com isso, o setor se encontra ainda 32% abaixo do pico anterior, alcançado no primeiro trimestre de 2014.

Para o pesquisador Leonardo Carvalho, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a crise da construção se arrasta além do previsto, travando o investimento e a recuperação do emprego. Ao mesmo tempo, a paradeira prolongada do setor acende um alerta para um crescimento mais forte da economia, sobretudo pelo atraso na solução de gargalos de infraestrutura, diz ele. "A construção emprega muito e poderia, no curto prazo, ajudar a melhorar o mercado de trabalho formal."

Vários analistas reduziram ontem mesmo as suas projeções de crescimento para 2019. Foi o que fez o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, que cortou a sua estimativa de 1,1% para 0,9%. "O segundo trimestre não tem dado sinais de melhora", observa ele, em relatório.

"Parece ficar claro que a reforma da Previdência é uma condição necessária, mas cada vez mais longe de ser suficiente para que a economia comece a se recuperar", diz Vale. Por isso, 2020 tende a ter crescimento maior do que 2019, mas não muito, diz ele. "Os 2% esperados para o ano que vem estão arriscados, pois, além das dificuldades políticas do governo, há riscos que surgem do cenário internacional."

O Citi Brasil, por sua vez, reduziu a sua estimativa de 1,4% para 0,9%. "Olhando adiante, ainda consideramos que o PIB não apenas continuará a crescer, mas também a acelerar em relação aos trimestres anteriores, refletindo o estímulo monetária já em andamento", afirma o banco. "Dito isso, reconhecemos que desde o quarto trimestre de 2018 há mais sinais de que a economia tem enfrentado ventos contrários internos e externos, reforçando a perda de força" da atividade.

No cenário externo, o Citi Brasil destaca a desaceleração da economia mundial e a recessão argentina. No cenário interno, além do colapso da barragem de Brumadinho, os economistas mencionam as recuperações gradual e cíclica dos mercados de trabalho e crédito, que também desaceleraram desde o fim do ano passado. O desempenho da economia no segundo trimestre tem sido fraco, com queda da confiança de empresários e consumidores.

Ainda que não se espere uma nova queda do PIB no período, as estimativas com base em indicadores divulgados até agora não são animadoras. A estimativa preliminar do Itaú Unibanco é de alta de 0,1% sobre o trimestre anterior, o que coloca em risco a projeção da instituição de crescimento de 1% em 2019, diz o economista Luka Barbosa.

 

Análise

Silvia Matos e Luana Miranda são economistas e pesquisadoras do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV)

Primeiro trimestre frustra, mas projeções podem sofrer novos cortes sem reformas

Conforme previsto pelo mercado, e ligeiramente abaixo das projeções do Boletim Macro Ibre, o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2019 recuou 0,2% em relação ao trimestre imediatamente anterior e cresceu apenas 0,5% em relação ao primeiro trimestre de 2018. Mais uma vez, o pior resultado dentre os três grandes setores da atividade foi o da indústria, com retração de 1,1% na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior e 0,7% em relação ao quarto trimestre de 2018.

Este resultado veio em linha com as nossas projeções. Podemos elencar um amplo conjunto de fatores que explicam o péssimo desempenho desse setor. A crise econômica na Argentina e a piora das projeções a respeito do futuro de nosso principal parceiro comercial de bens manufaturados pressionaram ainda mais a já fragilizada indústria de transformação brasileira no primeiro trimestre.

Mas a fraqueza da demanda doméstica também contribuiu para uma segunda contração consecutiva neste setor. Além disso, o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho e seus desdobramentos sobre outras unidades produtivas impactaram fortemente a produção nacional de minério de ferro, o que levou a indústria extrativa a recuar significativos 6,3% no primeiro trimestre.

Os serviços, contudo, registraram alta de 0,2% no trimestre, compensando parcialmente a queda verificada na indústria. Todavia, os números poderiam ter sido muito melhores se o resultado da indústria tivesse ajudado. A economia encontra-se estagnada, empresários e consumidores parecem estar em compasso de espera. A incerteza desacerbada a respeito da condução da agenda política, tanto em relação à aprovação da reforma da Previdência quanto do avanço de outras reformas microeconômicas, tem gerado dúvidas a respeito da capacidade de crescimento do país.

O resultado de tamanha incerteza e confiança abalada foi a diminuição de 1,7% do investimento no trimestre. Após contrair 4% nos dois últimos trimestres, hoje o investimento está 29% abaixo do pico registrado em 2013, não muito longe do pior momento durante a recessão, quando marcou retração de 32%. Como podemos pensar em crescimento econômico sem investimento? Para este ano, esperamos um crescimento do PIB de 1,2%, isto é, um resultado próximo ao registrado no ano passado. Com relação ao investimento, nossa projeção é de um crescimento de apenas 2,5%.

Esta previsão inclui a contabilização das importações de plataformas de petróleo realizadas no passado. Se as desconsiderarmos, o investimento cresceria apenas 1,2% no ano, menos que no ano passado (alta de 2%), um resultado muito frustrante. Para 2020, mantemos a nossa previsão de crescimento em 2%.

Mas, se esse quadro negativo se acentuar, o mais provável é que façamos novas reduções nas previsões de crescimento para 2019 e para o ano que vem. Essas previsões assumem implicitamente que a reforma da Previdência será aprovada até setembro e com magnitude suficiente para impedir uma deterioração das contas públicas. Além disso, trabalhamos com a hipótese de que ela será seguida por outras medidas, tanto na área fiscal como em termos de reformas estruturais.

De qualquer forma, o quadro econômico e político atual tem contribuído para que empresários e consumidores fiquem mais apreensivos e pessimistas, um círculo vicioso que gera apenas menor crescimento econômico. Esperar demais para restabelecer um mínimo de previsibilidade quanto aos rumos da economia pode ter custos significativos. Não há tempo a perder.

 

Plano para reaver consumo inclui saque do FGTS

O governo projeta que pode permitir o saque de até R$ 20 bilhões do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) sem que haja comprometimento das ações como habitação e saneamento básico financiadas com recursos dos trabalhadores. A ideia surge em um momento em que a economia brasileira dá sinais de fraqueza.

Após crescimento de 0,1% no último trimestre de 2018, o PIB nacional encolheu 0,2% de janeiro a março. Segundo fonte ouvida pelo Valor, a equipe econômica tem estudos para autorizar que o trabalhador saque até 30% de seu saldo no fundo, o que poderia representar a liberação de R$ 120 bilhões.

O Ministério da Economia, no entanto, negou a possibilidade de a liberação chegar a 30%. O percentual, conforme o ministério, ainda não está fechado. Mas a avaliação da equipe econômica é que não há possibilidade de a saída de recursos chegar a R$ 120 bilhões pois prejudicaria a saúde financeira do fundo.

O ministro Paulo Guedes (Economia) disse que pretende liberar o saque de contas ativas e inativas do FGTS e do PIS/Pasep. Qualquer mudança nas regras de saque do FGTS, no entanto, depende de edição de medida provisória ou aprovação de projeto de lei. Segundo o ministro, a autorização para saque do FGTS deve seguir os mesmos moldes adotados no governo de Michel Temer.

Porém, agora, também será permitida a retirada de recursos de contas ativas. Em 2017, o governo Temer autorizou o saque em contas que estivessem inativas até dezembro de 2015. A medida injetou cerca de R$ 44 bilhões na economia, estimulando o pagamento de dívidas e o consumo dos brasileiros. O saque teve uma contribuição para o PIB de 2017 estimada em 0,5 ponto percentual, de uma expansão da economia de 1%.

Guedes não se comprometeu com prazos para implementação das medidas e disse que serão adotadas após a aprovação da reforma da Previdência. "Se você abre essas torneiras sem as mudanças fundamentais, é o voo da galinha. Voa dois, três, quatro meses porque liberou, mas aí afunda outra vez", disse.

Segundo fonte ouvida pelo Valor, se o governo resolvesse autorizar apenas o saque das contas inativas, injetaria cerca de R$ 8 bilhões na economia, o que é considerado pouco para dar fôlego para o PIB. Por isso, a necessidade de liberar um percentual dos saldos depositados nas contas ativas. A dificuldade, no entanto, é fixar um percentual que não atrapalhe as atribuições do fundo. A liberação de PIS/Pasep, que também foi adotada por Temer, teria um impacto menor que o FGTS.

Hoje, há aproximadamente R$ 26 bilhões parados no PIS/Pasep. A equipe econômica chefiada por Guedes tem dito que o FGTS vai passar por mudanças. Recentemente em entrevista ao Valor, o secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues, disse que o governo faria mudanças no FGTS para construir um modelo "completamente diferente" do atual.

Entre as medidas estudadas pelo Ministério da Economia, está a que permite investidores, inclusive estrangeiros, comprar cotas de participação do maior fundo público brasileiro. Além disso, o governo pode fechar o braço de participações em infraestrutura, o FI-FGTS. O objetivo das mudanças é elevar a transparência da gestão e a rentabilidade dos recursos para os trabalhadores. Além do saque de contas ativas e inativas, o governo pensa em transferir toda a despesa com descontos concedidos no programa Minha Casa, Minha Vida para o FGTS.

Atualmente, o fundo banca 90% do subsídio e o restante é financiado pelo Tesouro Nacional. Essa é a forma de viabilizar a execução do programa nas faixas mais baixas de renda em momento de forte restrição orçamentária do governo.

 

Construção civil recua 2,0% no primeiro trimestre, aponta IBGE

A construção civil recuou 2,0% no primeiro trimestre do ano, na comparação com o quarto trimestre do ano passado, apontam os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do Produto Interno Bruto (PIB) na manhã desta quinta-feira, 30. Com as incertezas políticas e econômicas, os três primeiros meses do ano foram de retração de 0,2% no PIB. Essa foi a primeira queda na atividade econômica desde o quarto trimestre de 2016. 

Na comparação com o trimestre imediatamente anterior, a queda da construção foi a maior desde o primeiro trimestre do ano passado, quando o setor recuou 2,4% em relação ao três últimos meses de 2017. Na base acumulada em quatro trimestres, são 19 quedas consecutivas.

"A situação da construção civil preocupa, por ser um setor que emprega um grande número de pessoas, que hoje estão fora do mercado consumidor. Mas o avanço nas vendas de imóveis no primeiro trimestre no começo do ano mostra que a demanda por imóveis existe e se manifesta mesmo em um ambiente em que o consumidor e o empresário ainda não se sentem completamente seguros", diz Luiz Antonio França, presidente da Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias).

"Apesar de os resultados do primeiro trimestre terem vindo abaixo do que se imaginava no início do ano, a expectativa para os próximos meses continua positiva, caso se consiga avançar nas reformas."

Para o gerente executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flavio Castelo Branco, o setor foi o primeiro a sentir a recessão e deve ser o último a se recuperar. "A construção acabou afetada pela infraestrutura - que sofreu com a crise fiscal e espera avanços nas concessões - e, no setor imobiliário, pesa a redução de projetos para famílias de baixa renda."

Ele lembra que o setor imobiliário teve resultados positivos no primeiro trimestre, mas partindo de uma base fraca e abaixo das expectativas que o setor tinha no início do ano.

O economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio, de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fabio Bentes, analisa que o descompasso nas relações entre Executivo e Legislativo corroeram as expectativas que os empresários e consumidores tinham no começo do ano e ajudaram a postergar o reaquecimento da economia. "Quando a gente olha os indicadores da economia, a análise é preocupante, com queda na indústria e estagnação nos serviços e no consumo das famílias", disse.

"Por mais que o mundo esteja lidando com uma guerra comercial entre China e Estados Unidos e o comércio internacional esteja ameaçado, o problema hoje do Brasil é interno. A condução da principal bandeira do governo, que a reforma da Previdência, teve um ritmo de avanço abaixo do esperado. O adiamento das principais votações para a segunda metade do ano criou um clima de cautela do setor produtivo. Assim, fica difícil de destravar investimentos."

A queda na construção está diretamente ligada ao desempenho ruim do mercado de trabalho, avalia o presidente da Câmara Brasileira da Indústria de Construção (Cbic), José Carlos Martins. "É urgente a votação da reforma da Previdência para que o investimento volte. Só o setor da construção pode alavancar o investimento e será o grande motor do crescimento sustentado do País." Ele lembra que a indústria da construção já perdeu mais de 1 milhão de trabalhadores por conta da crise.

 

Ambiente para cortar juro está sendo criado, diz ex-diretor do BC

A lenta retomada econômica pede que o Banco Central (BC) retome o processo de corte de juros, na avaliação de Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor da autoridade monetária e fundador da Mauá Capital. "O ambiente para isso (corte de juros) está se formando. A atividade é a primeira razão pela qual está se configurando esse ambiente", diz, citando outros fatores, como perspectivas piores para a economia mundial.

Na visão de Figueiredo, a tendência é que o mercado comece nas próximas semanas a revisar para baixo as projeções para a inflação do ano que vem. Atualmente, a mediana do Boletim Focus está em 4%, justamente a meta para 2020. Caso essas revisões se confirmem, haveria espaço para novos cortes da Selic, que somariam de 1 a 1,5 ponto percentual até o fim do ano.

Assim, a taxa básica de juros, atualmente em 6,5% ao ano, encerraria 2019 entre 5% e 5,5%. Como esse cenário está condicionado à melhora das expectativas, Figueiredo não acredita nem defende que o primeiro dos cortes seja realizado já na reunião de junho do Comitê de Política Monetária (Copom). "Ele [Roberto Campos Neto, presidente da autoridade monetária] tem toda a razão, quando diz que, enquanto não houver uma projeção de inflação muito abaixo da meta, o BC não tem que reduzir juros", afirma.

A última estimativa da Mauá Capital apontava para crescimento de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Mas Figueiredo não descarta que esse número fique abaixo os 1,1% de 2017 e 2018. "As reformas serão o fator predominante [para a recuperação]", diz. "Mas em uma economia débil, ainda que a taxa de juros não resolva, ela ajuda." Confira abaixo os principais trechos da entrevista:

Valor: Há espaço para o BC cortar juros neste momento?

Luiz Fernando Figueiredo: Sim. O ambiente para isso está se formando. A recuperação que estávamos vendo no começo do ano quase não aconteceu. O PIB do primeiro trimestre confirmou que a economia está muito ruim. A confiança subiu bastante, mas já voltou para níveis bem parecidos ao do período anterior à eleição. Com isso, a atividade está parada, a ociosidade da economia não se reduz. O BC tem razão quando diz que é preciso cautela, mas a ociosidade da economia está aumentando. Essa ociosidade muito grande levará a uma inflação mais baixa. As projeções de inflação para o ano que vem ainda estão na meta, mas claramente o mercado começará a projetá-las para um valor abaixo da meta nas próximas semanas. Conforme nos aproximamos do fim do primeiro semestre, esses elementos começam a se configurar. Outra coisa importante é que a inflação implícita [proxy da inflação esperada] está em 3,7%, mais baixa do que a projeção do Focus. Isso é um fenômeno raríssimo. A tendência é a inflação convergir para esse número. Todo mundo está chegando à conclusão, dadas as decepções com a recuperação que não houve redução da ociosidade

Valor: Mas há outros fatores que corroboram o corte?

Figueiredo: Apesar do crescimento desapontador, a inflação do primeiro trimestre foi mais alta. Mas isso aconteceu integralmente pelos alimentos, que já começaram a devolver essa alta. A expectativa para a inflação dos próximos meses é muito baixa. A gente também espera uma reforma da Previdência razoável, de ao menos R$ 700 bilhões, R$ 800 bilhões de economia em dez anos. Mas, mesmo com a reforma, não haverá aquela enorme aceleração da atividade. Aparentemente haverá uma aceleração, mas não muito intensa. Ou seja: com a recuperação mais lenta, há mais espaço para cortes. Outro fator que é que a economia global, que se mostrava mais pujante, está com uma cara de crescimento mais lento. O acirramento da guerra comercial entre EUA e China parece ser hoje o cenário mais provável. O mundo está mais "dovish" [inclinado ao afrouxamento monetário], o risco de queda de juros no mundo se acentuou nas últimas semanas, em todas as regiões.

Valor: Mas que impulso o corte pode dar para a atividade?

Figueiredo: Há um elemento que a taxa de juros não consegue trazer, que é a confiança. As reformas serão o fator predominante [para a recuperação]. Para que a confiança pule de patamar de maneira mais permanente, a reforma da Previdência precisa estar aprovada. Isso será no fim do ano. Mas em uma economia débil, parada, ainda que a taxa de juros não resolva, ela ajuda.

Valor: Qual a percepção sobre a atividade no segundo trimestre?

Figueiredo: Abril não foi tão ruim, mas maio piorou bem. Não tem nenhum sinal positivo.

Valor: Por que essa lentidão?

Figueiredo: No início do ano, se imaginou que o governo chegaria, seria feito um "fast track" na reforma, e em dois, três meses ela já estaria aprovada na Câmara, a confiança subiria e o crescimento viria. Tivemos um choque de realidade. Todo início de governo é mais difícil, neste não foi diferente. O modus operandi diferente dos governos anteriores em relação ao Congresso aumentou as dificuldades. É possível que a gente perca quase um ano inteiro na reforma. Nesse ambiente, a confiança, que tinha melhorado muito, deu uma boa desanimada. Quase todos os dias é esse embate entre governo e Congresso, reforma vai, não vai. É claro que isso não deixa ninguém animado. Mesmo assim, o que parece hoje é que as chances da reforma aumentaram bastante, porque ficou muito claro que elas são necessárias, principalmente a da Previdência, independentemente do governo.

Valor: O presidente do BC adotou um discurso conservador nesta semana, que não indicava o corte da Selic neste momento...

Figueiredo: Ele tem toda a razão, quando diz que, enquanto não houver uma projeção de inflação muito abaixo da meta, o BC não tem que reduzir juros. Por isso que eu disse que o ambiente para o corte está evoluindo. O "case" é claro para o corte de juros hoje? Eu diria que estamos indo para ele.

Valor: O Copom já pode cortar os juros na reunião de junho?

Figueiredo: Não, isso é um processo. O BC está muito cuidadoso, com toda a razão. Os juros no Brasil nunca foram tão baixos. Não é trivial reduzi-los.

Valor: Quanto dá para cortar?

Figueiredo: É difícil dizer o número exato, mas diria que entre 100 e 150 pontos-base neste ano, porque sabemos que a taxa de juros já está em um nível relativamente expansionista. Então os juros terão que se acomodar em um patamar mais alto mais lá na frente. A taxa neutra de juros [que permite o máximo de crescimento que não acelera a inflação] é mais alta do que os juros atuais. Mas precisarão ter sido restabelecidas diversas condições, como confiança, risco fiscal muito menor, para a economia crescer com maior ímpeto. Daí a taxa de juros pode voltar para um patamar mais próximo dos juros de equilíbrio. Dadas as condições atuais, mesmo com o câmbio bem mais depreciado, acima de R$ 4, como vimos nas últimas semanas, dificilmente a inflação ficará longe de 3,8%. E a chance de a inflação de 2020 ficar nesse nível, talvez até um pouco abaixo, é crescente, justamente porque a atividade está muito fraca.

 

É cedo para falar em nova recessão, defende Picchetti

A queda de 0,2% do PIB entre o último trimestre de 2018 e o primeiro deste ano, feitos os ajustes sazonais, evidencia um quadro de estagnação econômica, mas é precipitado concluir que a economia caminha para nova recessão. A avaliação é de Paulo Picchetti, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) e integrante do Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), ambos da FGV.

O Codace é um colegiado independente de seis economistas que tem como missão definir a cronologia de expansões e crises do país. As reuniões não têm periodicidade fixa e ocorrem quando algum evento desperta atenção. A conjuntura atual ainda não acendeu "uma luz amarela" suficiente para que seja marcado um novo encontro, diz Picchetti. "Há uma presença muito forte de fatores pontuais nesse número negativo do primeiro trimestre, mas claro que está todo mundo acompanhando incondicionalmente o nível de atividade."

Citando estimativas do Ibre, o pesquisador aponta que, juntos, a queda das exportações de veículos para a Argentina e o impacto do desastre de Brumadinho (MG) retiraram 0,2 ponto do PIB de janeiro a março. Assim, é possível falar que a atividade está estagnada. Picchetti concorda com o expresidente do Banco Central e também membro do Codace Affonso Celso Pastore.

Recentemente, Pastore defendeu que o Brasil ruma para uma depressão. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

Valor: Qual sua avaliação sobre os resultados do primeiro trimestre?

Paulo Picchetti: Infelizmente não teve nenhuma surpresa. O número veio em linha com a previsão de praticamente todo mundo do mercado, e a avaliação que se fazia não mudou. Há uma fraqueza muito grande de todos os componentes da demanda agregada, com exceção do consumo, que cresceu, mas ainda assim em ritmo muito modesto, e isso tem se traduzido num ritmo de recuperação lento desde a saída da recessão.

Valor: Por que a retomada tem sido tão lenta?

Picchetti: O crescimento tem que sair de algum lugar. Em 2005, o que puxou foi a demanda externa. Em outros momentos, como em 2011, o governo ainda tinha algum grau de liberdade na política fiscal para incentivar a economia e liderou investimentos. Todos estes canais estão inoperantes. Não temos um governo com condições de aumentar gastos, o setor externo não está dando impulso à economia. A economia global está em desaceleração e particularmente a Argentina, nosso parceiro comercial, em queda muito grande. Pelo lado externo não vem esse estímulo. Do lado interno, o consumo das famílias está prejudicado por vários fatores. O desemprego está muito elevado, o salário real vem crescendo em ritmo muito baixo. O canal do crédito já foi importante para impulsionar o consumo privado, mas a taxa de juros baixa não está funcionando porque as famílias estão mais cautelosas. Não tem nenhum desses canais permitindo recuperação forte.

Valor: Diante do desempenho pífio da demanda, o Banco Central deveria cortar os juros?

Picchetti: Tem espaço para isso, mas lendo as intenções do BC pelas atas e relatórios, se por um lado há espaço, aparentemente ainda há preocupação grande com a inflação. Só consigo associar isso à questão cambial. Se houver frustração com a aprovação de reformas e a percepção de risco for afetada, o impacto sobre o câmbio será forte e causará aceleração inflacionária. Esse é o único argumento mais forte para o BC manter os juros no patamar em que estão.

Valor: Uma redução adicional da Selic poderia melhorar o atual cenário de letargia da atividade?

Picchetti: A resposta mais honesta é que ninguém sabe atualmente, porque há toda uma discussão sobre a taxa de juros neutra, que parece ter caído com esse nível de desemprego. Não é claro qual o papel e estímulo potencial que uma redução da taxa de juros pode dar hoje em dia. Pela teoria, viria um estímulo daí, mas estamos enfrentando uma mudança no regime de como a política monetária influi.

Valor: Diante desse quadro, o que pode ser feito para melhorar a trajetória do PIB?

Picchetti: É preciso melhorar a percepção de risco em relação ao ambiente de negócios. A primeira grande medida é o lado fiscal, com reforma da Previdência, e depois fazer a reforma tributária também é importante. Tem questões de melhora do marco regulatório que têm que vir junto das reformas.

Valor: Há algum fator novo no cenário deste ano que atrapalhou a retomada?

Picchetti: Há uma frustração com a articulação política. Toda a reversão de expectativas da virada do ano era fundamentada no diagnóstico, ao meu ver correto, dos problemas da economia, que se traduziu na percepção de que seriam tomadas medidas para corrigir esses pontos. Apesar do diagnóstico continuar correto, muitas coisas esbarraram na capacidade de articulação política.

Valor: Em que medida a dúvida em relação ao 'timing' e ao tamanho da reforma da Previdência atrapalhou a atividade?

Picchetti: É difícil calcular, mas acredito que teve papel importante, porque as expectativas do empresariado são uma profecia autorrealizável. Se não há percepção de que as coisas estão caminhando, obviamente o efeito sobre a atividade será ruim, principalmente num contexto de capacidade ociosa muito grande, que é herança da recessão. Muito antes de o empresário ter confiança de investir e o consumidor ter confiança de se endividar novamente, há uma parte do ciclo para a economia crescer algum tempo até começar a esbarrar na capacidade instalada e gerar novos investimentos. Está todo mundo em compasso de espera.

Valor: No quarto trimestre de 2018, a economia ficou virtualmente estagnada, com crescimento de 0,1%, e agora recuou 0,2%. Há risco de entrarmos em recessão novamente?

Picchetti: Risco sempre tem, mas por enquanto acho precipitado falar em recessão. Em particular, o número negativo do primeiro trimestre tem efeitos pontuais importantes. O principal deles é o desempenho da indústria extrativa mineral, com o problema de Brumadinho. Nos cálculos do Ibre, se juntarmos isso com a redução da exportação de veículos para a Argentina, o impacto negativo sobre o PIB do primeiro trimestre foi de 0,2 ponto, que é a própria queda do PIB. Não fossem esses dois fatores pontuais, o resultado poderia não ter sido negativo.

Valor: Mas é possível falar em estagnação? O que os indicadores antecedente e coincidente (IACE e ICCE, calculados pelo Ibre em parceria com o Conference Board) estão mostrando?

Picchetti: O indicador coincidente ainda não está no nível das últimas recessões. Ele mostra que estamos numa fase do quadro de ciclo de expansão, apesar de os indicadores que fazem parte dele, como emprego e produção industrial, terem mostrado desempenho ruim. Já o indicador antecedente teve efeito negativo forte da redução das expectativas nos últimos meses, mas ele sozinho não conta uma história. Para termos recessão, as expectativas ruins têm que se concretizar. Acho que os indicadores são um argumento adicional para dizermos que não estamos em recessão. Agora, estagnação não tem uma definição formal quantitativa. O artigo de [Affonso Celso] Pastore, que também é membro do Codace, que dá esse nome para o quadro atual, tem bons argumentos e eu concordo com ele. Passamos por uma recessão muito profunda e tivemos um crescimento que mais parece um voo de galinha. Estamos parados.

 

FOLHA

Contra PIB em queda, empresários pedem reação além das reformas

Os números desanimadores do PIB pedem uma reação imediata para além das reformas, segundo o ex-presidente da Fiesp José Ricardo Roriz Coelho, hoje à frente da Abiplast (associação da indústria de plásticos).

"Somos totalmente favoráveis às reformas propostas, mas em paralelo às negociações, vemos que as empresas estão com capacidade ociosa grande e as famílias sem poder de compra. Se as pessoas e as companhias não têm acesso a crédito, a engrenagem do consumo não gira", afirma.

Para ele, é importante que a população sinta que as coisas estão melhorando. A reforma da Previdência é necessária, "mas a corda está muito esticada, é preciso dar algum fôlego para as empresas se reaquecerem".

A média de ociosidade da indústria de plásticos, segundo ele, varia entre 30% e 35%, índices considerados altos, o que desestimula o investimento. "Os aportes são feitos quando existe alguma perspectiva de aumento de vendas, o que não ocorre agora. Uma liberação de crédito feita de maneira responsável iniciaria esse processo", afirma.

Para José Adauto, presidente da rede Bristol, que possui 34 hotéis, a situação econômica do segmento hoteleiro piorou a partir de fevereiro e se aprofundou com o consumo em baixa e as passagens aéreas em alta.

"O setor vinha em retomada desde junho de 2018, mas estagnou. Ainda vejo o futuro com certo otimismo e mantive os investimentos. Lançaremos 11 empreendimentos nos próximos 12 meses, que foram planejados entre 2013 e 2014 e atrasados propositadamente para esperar o fim da crise."

Adauto considera que a aprovação da reforma da Previdência seria um marco importante para a retomada da economia. "Vejo com certa preocupação as rusgas [entre governo e Congresso] na negociação do texto, mas sou otimista [quanto ao avanço do projeto no Congresso]".

Mesmo com um início de ano fraco, o grupo projeta crescer 5%.

"No meu caso, estou fora da curva do mercado, em função de uma reestruturação da companhia e reposicionamento da marca", diz Sergio Bocayuva, diretor-executivo da marca de calçados Usaflex, que recentemente lançou linhas de produtos com preços 15% menores que a média do portfólio.

A companhia tem buscado expandir a rede de 234 lojas por meio de franquias e quer elevar a fatia da receita com exportação de 8% para perto dos 15%.

"A aprovação de uma reforma da Previdência que gere economia próxima dos R$ 800 bilhões trará retomada de investimentos estrangeiros. A população está insegura agora, mas voltará a consumir depois disso, ainda que em patamares menores que antes da crise", diz.

 

Com recuo do PIB dentro do esperado, Bolsa atinge máxima do mês

A queda de 0,2% do PIB (Produto Interno Bruto) no primeiro trimestre não freou a alta da Bolsa brasileira nesta quinta-feira (30). Em sua quarta alta consecutiva, o Ibovespa retomou os 97 mil pontos. O dólar se manteve estável, a R$ 3,98.

A retração da economia foi de acordo com a expectativa dos economistas, que previam o percentual de 0,2%. Eles também ponderam que o resultado negativo foi, em grande parte, devido à tragédia de Brumadinho.

"Esta retração tem um contexto não recorrente que é a questão da Vale. Além disso, os resultados da Petrobras no período não foram tão satisfatórios, com queda na produção de petróleo. Mas, com a economia fraca, temos um incentivo para a taxa Selic cair, algo que anima os investidores", afirma Glauco Legat, analista-chefe da Necton Investimentos.

No exterior, o viés foi misto com a segunda leitura do PIB americano. No primeiro trimestre, os Estados Unidos cresceram 3,1% —na primeira leitura, a taxa estimada era de 3,2%. O resultado atestou o fortalecimento da economia do país, que deve registrar dez anos de expansão em julho, o mais longo período já registrado.

Com a notícia, as pprincipais Bolsas americanas e europeias recuperaram perdas da véspera. Londres subiu 0,46%. Paris, 0,51% e Frankfurt, 0,54%. Os índices Dow Jones e S&P 500 tiveram 0,18 de alta. Nasdaq subiu 0,27%.

O crescimento está, no entanto, diminuindo. A produção industrial e as encomendas de produtos manufaturados de longa duração declinaram em abril, uma vez que as empresas fizeram menos pedidos nas fábricas. As vendas no varejo também foram fracas no mês passado e o mercado imobiliário continua em dificuldades.

O Federal Reserve de Atlanta está prevendo que o PIB subirá a um ritmo de 1,3% no segundo trimestre.

A moderação no crescimento reflete, em grande parte, o enfraquecimento do estímulo dos cortes de impostos e aumentos de gastos do governo Trump no ano passado. Do outro lado, a guerra comercial com a China.

Nesta quinta, o presidente Donald Trump disse que os EUA estão indo bem nas negociações comerciais e que Pequim deseja firmar um acordo com Washington. Já o vice-ministro das Relações Exteriores adotou outro tom.

"Esse tipo de disputa comercial deliberadamente provocativa é puro terrorismo econômico, chauvinismo econômico, intimidação econômica", disse Zhang Hanhui.

As declarações de Zhang derrubaram os índices asiáticos. O índice CSI300, que reúne as Bolsas de Xangai e Shenzhen, caiu 0,62%. A Bolsa japonesa cedeu 0,3% e Hong Kong, 0,44%.

No Brasil, o otimismo com a aprovação da reforma da Previdência e tom mais conciliatório do Governo Bolsonaro continuam a animar o mercado. O Ibovespa subiu 0,92%, a 97.457 pontos. O giro financeiro foi de R$ 14 bilhões.

"Esta movimentação do mercado vem dos investidores domésticos, que já contam como certa a aprovação da reforma com o Legislativo assumindo a responsabilidade pelas mudanças na Previdência", diz Legat.

O saldo de investimentos estrangeiros na Bolsa brasileira é negativo em R$ 4,7 bilhões em 2019.

 

Economia está parada à espera de reformas e só decola no 2º semestre, diz Guedes

A estagnação do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro no primeiro trimestre do ano não foi novidade para o ministro Paulo Guedes (Economia), que condiciona a retomada do crescimento à aprovação da reforma da Previdência, o que ajudará o país a “decolar”.

Nesta quinta-feira (30), o IBGE informou que o PIB recuou 0,2% de janeiro a março, na primeira queda trimestral em dois anos.

“Isso não é novidade para nós. Nós sempre dissemos que a economia brasileira está estagnada”, afirmou o ministro ao sair de uma reunião com deputados do partido Novo no Ministério da Economia. “A economia está parada, à espera das reformas.”

Guedes disse ter confiança em que a “retomada vem aí”. “Temos que começar pelas coisas mais importantes. O voo da galinha já fizemos várias vezes. Você faz uma liberaçãozinha aqui, baixa artificialmente os juros para reativar a economia...aliás, foi assim que o último governo caiu. Não vamos fazer truques nem mágica, vamos fazer as reformas sérias, fundamentos econômicos. Aprovada a reforma da Previdência, o horizonte de investimentos clareia.”

O ministro voltou a dizer que a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) levou às previsões otimistas de que o país já cresceria 3% no primeiro ano. “A eleição do Bolsonaro significa que o Brasil não ia virar a Venezuela, mas não garantiu que o Brasil não vire a Argentina. O governo [de Cristina] Kirchner quebrou a economia.

O governo [de Mauricio] Macri entrou e não fez as reformas com a profundidade necessária”, avaliou.

Segundo Guedes, com a reforma da Previdência, o Brasil não vira mais a Argentina e volta a crescer. Ele vê ainda crescimento no segundo trimestre do ano, e ressaltou que, “de julho em diante, o Brasil começa a decolar.”

A reforma da Previdência é o primeiro passo, disse o ministro, porque permite a retomada dos investimentos. Mas ele também considerou necessária a aprovação da reforma tributária e do pacto federativo, que vai ajudar a “colocar os estados e municípios de pé de novo.”

Após as reformas passarem, estimou o ministro, o Brasil pode crescer por até 15 anos. “Nós fizemos nos últimos anos o caminho da estagnação. O investimento está caindo no Brasil nos últimos 15 anos, está descendo. Todo ano descia um pouco.”

FATORES EXTERNOS

A Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia divulgou uma nota técnica nesta quinta-feira em que explica a retração do PIB de 0,2% em relação ao último trimestre de 2018 como consequência de fatores externos.

Para a secretaria, o país amargou queda no comércio exterior e no fluxo de investimentos —ingredientes importantes na composição do PIB— devido ao crescimento mais lento da economia mundial.

“Com isso, projetos foram adiados e a recuperação da economia revelou-se mais lenta do que o esperado no início do ano,” diz a nota.

A agropecuária sofreu com a “intempéries climáticas” do início do ano. Mas, ainda segundo a secretaria, as estimativas apontam para uma recuperação da safra ao longo do ano, “contribuindo para a retomada do PIB do setor agropecuário”.

Na indústria, o rompimento das barragens da Vale causando um dano ambiental drástico na região de Brumadinho (MG) teve reflexos na produção extrativa mineral. Em outra frente, a crise na Argentina prejudicou a comercialização de bens manufaturados brasileiros.

Houve desempenho positivo somente no comércio que, segundo a secretaria, deverá gerar um “efeito carregamento” sobre o PIB de serviços de 2% neste ano.

De um ponto de vista mais amplo, a SPE considera os gargalos estruturais da economia como entraves ao crescimento. Dentre eles, destacam-se a má alocação de recursos promovida por “políticas de estímulos a setores” [desoneração de folha de pagamentos e a política de campeões nacionais] e a deterioração das contas públicas provocada, principalmente, pelo aumento dos gastos.

“O quadro atual ainda é resultado desse ambiente construído por muitos anos.”

Para reverter esse quadro, a secretaria defende a aprovação da nova Previdência, para equacionar o quadro fiscal, e um “amplo conjunto de políticas pró-mercado, que está em elaboração com o objetivo de melhorar a produtividade da economia.

Dentre as medidas estão a reforma tributária, abertura comercial, aperfeiçoamento do mercado financeiro e de capitais, programas de concessão e privatização na área de infraestrutura, choque de energia barata, combate à corrupção e aos desperdícios no setor público, e eliminação de gastos tributários e subsídios financeiros e creditícios ineficientes.

Esse pacote vai tentar melhorar a competição nos diversos setores da economia. Para a SPE, a economia brasileira foi marcada por baixo crescimento nos últimos 40 anos mesmo com diversas políticas de estímulo ao consumo. Desta vez, a política de estímulo será pelo lado da oferta.

 

ESTADÃO

'O investimento segue catastrófico para um País do tamanho do Brasil', diz economista

A economista Monica de Bolle, pesquisadora do Instituto Peterson de Economia Internacional, em Washington (EUA), viu nos números divulgados nesta quinta-feira, 30, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) uma demonstração de como a economia brasileira perdeu dinamismo - de janeiro a março, o Produto Interno Bruto (PIB) do País recuou 0,2%. Na avaliação dela, o País está sem rumo e sem perspectivas de curto prazo.

Para piorar, a economista não vê no governo pessoas com “imaginação” suficiente para tirar o País dessa trajetória de paralisia. Para ela, não há motor de crescimento pelo lado da oferta, pelo lado do serviço e pela indústria. E, para piorar, diz, o "investimento segue absolutamente catastrófico para um País do tamanho do Brasil".

A seguir, os principais trechos da entrevista.

Qual a sua avaliação sobre o resultado do PIB no primeiro trimestre?

Foi horrível. É claro que tivemos os efeitos da tragédia de Brumadinho e a crise na Argentina, mas isso não explica tudo o que vimos no primeiro trimestre. Vejo algumas coisas importantes: uma delas é que, desde que o Brasil saiu da recessão (no início de 2017), parece que as forças de crescimento estão completamente emperradas, não por motivos de curto prazo ou que possam ser resolvidas rapidamente. Elas estão emperradas por razões estruturais muito sérias.

Quais razões são essas?

O Brasil está com uma cara de economia que perdeu completamente o dinamismo. Vemos isso olhando os resultados de agora e também os anteriores.  Temos uma indústria que não tem dinamismo nenhum, já estamos vendo isso há 20 anos, mas se agravou continuamente até chegar no ponto atual; o setor de serviços é dependente da capacidade de consumo das pessoas; e o consumo das famílias está num ritmo de expansão muito fraco desde a saída da recessão. De um lado porque o desemprego está muito alto e de outro por causa das incertezas causadas exatamente pela falta de emprego e pelas discussões sem rumo econômico do País. A renda real está crescendo num nível muito baixo e os empregos criados, inclusive por causa da reforma trabalhista, têm sido muito precários, em que as pessoas não têm segurança. Tudo isso conspira para tornar o consumo das famílias fraco. Portanto, não há motor de crescimento pelo lado da oferta, pelo lado do serviço e pela indústria.

E os investimentos também continuam caindo.

O investimento segue absolutamente catastrófico para um País do tamanho do Brasil, o que sinaliza exatamente as fragilidades estruturais sobre as quais eu comentei. Investimento é uma coisa que não depende das variáveis de curto prazo. Ele reflete as perspectivas futuras de como as empresas estão vendo o futuro do País. Já tivemos ocasiões em que, mesmo com o quadro econômico ruim, o investimento não caiu tanto quanto agora e até reagiu porque havia uma perspectiva de melhoria futura. Não tem sido o caso dos últimos três anos. Quando a gente olha para trajetória dos investimentos tem sido sistematicamente fraca porque existe essa visão do setor produtivo brasileiro de que falta dinamismo para que as empresas tenham vontade investir e aumentar a capacidade produtiva. Isso reforça o quadro de demanda reprimida.

E quais medidas o governo precisa tomar?

O problema é que no momento não há espaço para tomar medidas anticíclicas nem para dar respiro de curto prazo. O investimento público caiu loucamente. Mas acho que tem algo do qual tem se falado pouco no tempos que é o papel do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). No passado, sempre que a economia não estava indo bem, as empresas podiam contar com certo auxílio do BNDES. Não estou falando de crédito do BNDES nos moldes da Dilma (Rousseff), mas a nossa realidade é que o sistema para funcionar ainda é muito dependente do BNDES. E o BNDES está fazendo exatamente o contrário e segurando o crédito. Então tem um nó aqui que é: vamos fazer o que com o BNDES, que papel ele terá na economia brasileira. Enquanto isso não é respondido, as empresas ficam a ver navios porque os bancos privados só concedem crédito a taxas extremamente elevadas. Tem um problema aí que ninguém consegue explicar. Por que os bancos só concedem a taxas elevadas? Se não tem crédito circulando, não tem como ter investimento.

O desempenho do agronegócio também não ajudou no primeiro trimestre. Isso pode prejudicar o crescimento do ano?

A agropecuária foi o único motor de crescimento da economia brasileira nos últimos três anos. Em 2017 e 2018 foi muito forte porque teve uma supersafra. Neste ano, não tivemos uma supersafra e não tivemos crescimento do PIB no primeiro trimestre. Sem isso, o resto do ano fica muito fragilizado porque o segundo e o terceiro trimestres são mais fracos e vão estar contaminados por essa discussão em torno da reforma da Previdência e, no quarto trimestre, já estaremos entrando num clima de ano eleitoral – em 2020 teremos eleições municipais. O quadro é muito ruim.

Há risco de nova recessão?

Não está descartado. Há risco de nova recessão. Acho que o cenário por enquanto é de crescimento próximo ao de 2017 e 2018, de 1%. Mas estou começando a duvidar desse crescimento exatamente porque em 2017 e 2018 o resultado, de crescimento de 1,1% foi decorrente da reação do agronegócio no primeiro trimestre e neste ano não tivemos isso. Só mesmo se a gente acreditar que a reforma da Previdência vai ter algum impacto extraordinário sobre a expectativa, o que eu duvido. Porque a reforma da Previdênciavai demorar para passar e isso não tem efeito no curto prazo. Para mim, acho que o cenário de crescimento é abaixo de 1%.

A reforma da Previdência não tem capacidade de trazer novos investimento? Há quem diga que há investimentos represados esperando a reforma passar.

Não acredito em nada disso. Para mim, é realismo mágico, claramente. Cadê o investimento represado? Olho em volta e não vejo nada. São os investidores externos? Não. O Brasil está perdendo relevância externa, rapidamente.

Por que?

O PIB de hoje não ajuda muito. Mostra uma economia sem dinamismo. E qual investidor vai querer colocar dinheiro numa economia sem dinamismo? Antes disso, acho que tudo que a gente viu nos primeiros quase seis meses de governo Bolsonaro é muito indicativo do tipo de governo que é esse. É um governo que está mais empenhado em criar barulho e ruído e em falar para a base do que fazer coisas que possam colocar o Brasil em algum tipo de rumo. O investidor estrangeiro, e tenho conversado com alguns deles, já se deram conta de que esse governo está muito aquém do que imaginavam há seis meses. Então não estou  vendo investimento represado. Estou vendo muito mais cautela e até um certo descaso em relação ao Brasil. Podem dizer que o Brasil é uma economia importante, a maior da América Latina, mas é uma economia que não tem dinamismo nenhum. Não vale a pena. Os riscos são altos.

O cenário internacional pode ser um entrave a mais para a retomada da economia brasileira?

Sim. No meio disso tudo temos a guerra comercial entre Estados Unidos e China, que tende a ter um efeito ainda pior sobre países emergentes com vulnerabilidade como o Brasil. Não adianta achar que a soja vai nos salvar, não é verdade. Olha o desempenho da soja no primeiro trimestre de 2019.

Há uma carência muito grande de investimentos. O governo não tem dinheiro e investidores estão sem apetite. Tudo está no limite.

Tá tudo muito no limite, sem perspectivas de investimentos e sem ter um governo que tenha capacidade de colocar a cabeça no lugar e pensar fora da caixinha extremamente liberal, excessivamente liberal, que é o que permeia o Ministério da Economia. Tudo passa pela reforma da Previdência, reforma tributária e privatização. Nenhuma dessas coisas é fácil de fazer. A reforma da Previdência está mais avançada; a tributária tem muita discussão, tem o nó dos Estados em crise. As privatizações também não são fáceis. Você não sai vendendo empresas de um dia para o outro. Tem um processo. Tem de desenhar o pacote de privatizações, escolher os ativos e ver se há apetite dos investidores por esses ativos. Além disso, o que entra de caixa é temporário. Esse é um governo sem imaginação. São bons técnicos, são pessoas sérias, tem boa cabeça, mas não têm imaginação. O Brasil precisa pensar fora da caixa. O que podemos fazer?

O que?

Já levantei a questão das nossas reservas, a única coisa que temos de sobra. Boa parte dela, que não está comprometida com nada, é um seguro e uma poupança. O pedaço que é excedente não serve para nós como seguro, serve mais como poupança. E podemos usar essa poupança para abater dívidas, que não têm efeito muito indireto sobre demanda agregada. Outra maneira é usar as reservas para respaldar linhas de créditos, que podem ser concedidas pelo BNDES para investimentos específicos que venham a ser feito pelo setor privado. Aí você daria um papel para o BNDES, impulso no crédito e com retorno maior da poupança do que temos hoje, que é o rendimento do título americano de dez anos. Por que não estamos botando a cabeça para pensar nessas coisas? Ficam com essa coisa refratária. Aí é uma paralisia completa.

A queda no PIB já era esperada?

Embora o mercado diga que sim, todo mundo achava que a economia ia crescer 2,5% em 2019. Esse cenário se foi, não tem probabilidade de isso ocorrer com esse resultado do primeiro trimestre. O problema é que esse desempenho afeta a expectativa de muita gente, do pequeno comerciante ao trabalhador. Pode ser um número de retrovisor, mas afeta as expectativas.

 

 

 

 

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