Segunda-feira

VALOR

Levy sai do BNDES e o banco deve ter função redefinida

A "usina de crises" do governo entrou em ação novamente no fim de semana. A bola da vez foi Joaquim Levy, que ocupava a presidência do BNDES. No sábado, o presidente Jair Bolsonaro fez um ataque direto a Levy, cobrando que revertesse a nomeação de Marcos Barbosa Pinto para a diretoria de mercado de capitais do banco porque ele havia trabalhado no governo do PT.

As falas do presidente da República levaram ao pedido de demissão dos dois executivos, Barbosa e Levy. Embora parte da equipe econômica já demonstrasse insatisfação com a gestão de Levy, a ação de Bolsonaro pode ser vista também como mais uma ingerência direta na área econômica, atropelando o ministro Paulo Guedes. Ele já interferiu antes na política de preços da Petrobras, na propaganda do Branco do Brasil e em sua política de juros.

A principal reclamação contra Levy era pela suposta lentidão dele em duas iniciativas: devolver recursos do banco ao Tesouro - Guedes quer R$ 126 bilhões neste ano - e vender ações da carteira do BNDESPar. Cobrava-se também de Levy a abertura de suposta "caixa-preta" do banco, onde estariam comprovados desvios ocorridos no governo do PT.

O ataque derradeiro, no sábado, veio em declaração pública de Bolsonaro com embalagem ideológica. O ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga considerou "um absurdo" o veto ideológico a Barbosa, com quem já trabalhou.

Discreto, Levy pediu demissão a Guedes, divulgou nota e recusou-se a comentar a renúncia. "Esse assunto acabou", disse ao Valor e informou que pretende se dedicar a alguns cursos que já vinha "namorando" desde o ano passado, sobre inteligência artificial e blockchain. Ao escolher o novo presidente do BNDES, o governo terá de definir o que pretende fazer com o banco e seu papel no desenvolvimento do país, que perdeu importância nos últimos três anos - os financiamentos anuais caíram de R$ 180 bilhões para R$ 70 bilhões.

No governo, há quem defenda a extinção do banco. Nomes para o lugar de Levy começam a ser ventilados, como os dos secretários do Ministério da Economia Salim Mattar e Carlos da Costa, do expresidente do BC Gustavo Franco, que preside o conselho do BNDES, e de Solange Paiva Vieira, superintendente da Susep.

 

Saída de Levy do BNDES causa temor de intervenção na economia, diz FT

O pedido de desligamento feito por Joaquim Levy da presidência do BNDES, neste domingo (16), após sofrer críticas do presidente Jair Bolsonaro, repercutiu na imprensa internacional. Segundo o jornal britânico Financial Times, o fato pode desestabilizar investidores, que temem o retorno da intervenção do Estado na economia.

O jornal ressalta que Levy foi indicado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes — descrito como czar econômico do governo. O jornal ressalta ainda que Levy era um dos “Chicago boys’, como são descritos economistas que estudaram na Universidade de Chicago. Mesmo assim, nunca contou com a confiança integral do presidente por ter atuado em governos petistas. Levy foi secretário do Tesouro no governo Lula e ministro da Fazenda na gestão de Dilma Rousseff.

O estopim da crise que culminou com a saída de Levy foi a nomeação de Marcos Barbosa Pinto como diretor de Mercado de Capitais, o que irritou o presidente Bolsonaro, pois Barbosa Pinto também já havia trabalhado no banco no governo do PT, como chefe de gabinete de Demian Fiocca, quando ocupou a presidência do banco de fomento.

Na noite deste sábado (15), Barbosa Pinto renunciou ao cargo citando o descontentamento manifestado pelo presidente. Também no sábado, Bolsonaro afirmou que Levy estava com a “cabeça a prêmio” e que, se não demitisse o diretor, ele seria demitido. Neste domingo, Levy entregou a carta de renúncia ao ministro Guedes.

A AFP destaca que a saída de Levy pode alimentar a crise política e lembra que ocorre após semana turbulenta para o governo que, com menos de seis meses, já teve a demissão de seu terceiro ministro, Carlos Alberto dos Santos Cruz, da secretaria de Governo. A agência lembra ainda que, na semana passada, Bolsonaro decidiu demitir o presidente dos Correios.

 

Mercado vê Selic a 5,75% ao ano no fim de 2019

A fraqueza da economia levou a mediana das estimativas para a taxa básica de juros no fim de 2019 a cair de 6,50% ao ano para 5,75% ao ano entre os economistas do mercado, segundo a pesquisa semanal Focus, divulgada pelo Banco Central (BC) nesta segunda-feira, com base em projeções coletadas até o fim da semana passada.

Entre os economistas que mais acertam as previsões, os chamados Top 5, de médio prazo, o ponto-médio para a Selic no fim de 2019 também caiu de 6,50% ao ano para 5,75% ao ano. Para 2020, as estimativas também recuaram, de uma mediana de 7,00% ao ano para 6,50% ao ano entre os economistas em geral, permanecendo nesse mesmo percentual, em que já estava na semana passada, entre os campeões de acertos.

O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa básica de juros em 6,5% ao ano pela nona reunião seguida, no começo de maio, em linha com o esperado pelo mercado. A autoridade monetária descartou a possibilidade de um corte de juros no futuro próximo, ao reiterar que precisa de tempo para avaliar a economia brasileira.

A próxima reunião do Copom terá início amanhã, com a apresentação de cenários, e anúncio da decisão sobre a Selic após o pregão de quarta, 19. Por outro lado, as medianas das estimativas para o dólar no fim de 2019 ficaram estacionadas em R$ 3,80 entre os economistas em geral e R$ 3,85 entre o Top 5. Para 2020, o ponto-médio das expectativas também permaneceu inalterado, em R$ 3,80 considerando todas as apostas e R$ 3,90 entre os campeões de acertos.

 

BTG entra no mercado de imóveis retomados

A Enforce, empresa do BTG Pactual especializada em recuperação de créditos estressados, vai entrar de vez no mercado de imóveis pulverizados. O alvo são as unidades residenciais que estão na carteira de outros bancos, que retomaram os bens devido a inadimplência no crédito. O orçamento reservado só para este ano para compra desse tipo de imóvel é de R$ 1bilhão, sendo que R$ 250 milhões devem ser investidos até o fim deste mês.

"Esse mercado é enorme. Estamos montando nossa estrutura para lidar com esse segmento desde junho do ano passado", contou ao Valor Alexandre Camara, sócio do BTG Pactual responsável pela área de créditos estressados e pela Enforce. Somente os cinco principais bancos brasileiros - Caixa, Bradesco, Santander, Itaú e Banco do Brasil - têm atualmente em carteira o equivalente a R$ 18,7 bilhões em imóveis pulverizados.

Desse total, quase 62% são da caixa. A quantidade de unidades espalhadas nas cinco instituições supera 102 mil. Neste momento, já foram mapeados cerca de 5 mil imóveis na carteira desses bancos pela Enforce e que serão os primeiros a serem adquiridos. O valor de mercado dessas propriedades é da ordem de R$ 1,25 bilhão. A estrutura preparada a que Camara se refere é dedicada à regularização de toda documentação, desembaraço dos imóveis e ainda o preparo físico dos ambientes para serem revendidos.

Além da compra de unidades, a Enforce também vê oportunidade em fazer a gestão de carteiras de bancos com esses bens, conforme explicou o executivo. Um caminho para isso, por exemplo, é criação de fundos de direitos creditórios (FIDC) dedicados. A atuação com imóveis não é exatamente novidade para a Enforce porque muitas vezes apareciam como ativos dentro de processos de recuperação de crédito. Contudo, a partir de agora, haverá uma área dedicada a esse mercado.

A empresa já tem hoje quase 400 unidades próprias em seu portfólio - há ainda outros quase 1.700 relacionados a processos de recuperação de crédito, cujos direitos foram adquiridos pela companhia do BTG. Para compor o sistema que será dedicado a isso, o BTG comprou o controle da Resale.

Fundada em 2015 pelo empreendedor Marcelo Prata, que atua no mercado de imóveis há mais de uma década, a empresa é uma plataforma de tecnologia dedicada justamente a facilitar a venda de imóveis recuperados pelos bancos. Prata contou que ao longo desses quatro anos de existência mais de 2 mil imóveis foram vendidos dentro desse canal.

Sem revelar o valor da transação, o empreendedor, que continuará no projeto apesar da venda de fatia majoritária, explicou que 80% dos recursos que foram injetados pelo BTG no negócio serão voltados ao desenvolvimento de tecnologia e inteligência artificial para expansão da forma de atuar. "A carteira dos bancos hoje é quase como o pré-sal do mercado imobiliário. Há muito a ser explorado", disse Prata.

Segundo ele, foi essencial para o negócio a definição de que a Resale não será dedicada ao BTG e à Enforce e continuará atuando com diversas instituições. O investimento em tecnologia e inteligência artificial são vitais para o mercado de recuperação de crédito.

A Enforce, presidida por Ricardo Cardoso, já investiu mais R$ 22 milhões desde que foi adquirida pelo BTG Pactual, em 2016. Hoje, faz a gestão de um total de R$ 35 bilhões em créditos estressados e imóveis e se transformou em uma das principais nesse ramo em toda a América Latina.

 

Mercados parecem ainda minimizar riscos crescentes

É possível que os mercados estejam, de alguma maneira, "quebrados"? A pergunta pode soar estridente, mas alguns analistas e investidores estão nervosos, achando que há alguns ruídos esquisitos vindo dos bastidores do mercado financeiro, com zumbidos que deviam preocupar a todos.

Temores sobre o crescimento econômico estão se alastrando, e os investidores têm embutido nos preços a previsão de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) fará cortes nas taxas de juros até três vezes este ano, começando no mês que vem. E, no entanto, vários indicadores de volatilidade do mercado estão surpreendentemente moderados.

O índice Vix, o "termômetro do medo" de Wall Street, que mede a volatilidade implícita nos preços de opções, está mais alto desde maio, assim como seu equivalente para o mercado de bônus do Tesouro dos EUA, o índice Move. Mas, se comparados com o contexto em deterioração, eles parecem singularmente baixos.

Aqui eles contrastam com o Índice de Incerteza da Política Econômica, que mede as divergências em previsões e menções de jornais à incerteza. Não é apenas um sentimento vago de inquietação que está aumentando.

 A versão global do Índice de Surpresa Econômica do Citi - que reflete como as informações chegam, em comparação com as expectativas - está travada no seu mais longo período registrado dentro do território negativo. Em outras palavras, os dados econômicos têm sido decepcionantes por um intervalo inquietantemente longo. Talvez o mais preocupante seja que a maior parte da curva de juros dos bônus do Tesouro americano está "invertida": ou seja, quando as rentabilidades dos bônus de longo prazo estão mais baixas dos que as de curto prazo.

Historicamente, isso é um presságio de recessões, e o próprio modelo derivado da curva do Fed de Nova York indica que existe chance de quase 30% de que haja uma recessão nos próximos 12 meses. Isso levou alguns analistas a encorajar investidores a se prepararem para turbulências pela frente.

 "Com o crescimento global em declínio desde 2018, menos margem para o relaxamento monetário e fiscal e volatilidade prolongada das ações, comprar na baixa parece cada vez mais arriscado e, em vez disso, pode ser o momento de vender em qualquer alta, já que as quedas podem se tornar maiores e durar mais tempo", argumenta Christian Mueller-Glissmann, estrategista do Goldman Sachs.

E ainda assim o índice do Bank of America de risco do mercado global que se baseia em opções - uma espécie de "super Vix" que reflete a volatilidade esperada de ações, moedas, bônus e commodities - está relativamente tranquilo.

Também parece haver uma divergência de opiniões dentro do mercado de bônus. Enquanto as taxas de retorno ("yields") dos bônus do governo estão gritando que a economia global está em má situação e pode ter dificuldades ainda mais profundas, os bônus com grau especulativo, que deveriam ser extremamente sensíveis a qualquer sinal de problemas econômicos, atingiram uma nova alta recorde.

Até os desprezados títulos com classificação "CCC" tiveram retorno de mais de 8% este ano. Seria possível argumentar que os bônus do Tesouro, o crédito e as ação não seguem realmente a mesma cartilha.

Em vez disso, todos estão embutindo nos preços a probabilidade de uma desaceleração econômica que obrigue os BCs, com o Fed à frente, a relaxar a política econômica, prevenindo uma recessão plena e dando aos mercados mais do bálsamo monetário de que desfrutaram desde a crise. Mas Matt King, estrategista do Citi, argumenta que existe uma explicação mais "sinistra".

Para ele, a manipulação dos investidores, mudanças estruturais e uma "relutância residual em apostar contra os bancos centrais" significam que os mercados estão errando em precificar os riscos subjacentes e, portanto, estão vulneráveis a reavaliações repentinas e violentas. Isso pode se mostrar doloroso, como a turbulência do mercado em dezembro, exacerbada pela baixa liquidez, demonstrou.

Liquidez pode ser definida como a capacidade de negociar sem alterar demais os preços. Nesse sentido, muitos mercados parecem ter secado nos últimos anos. Há várias maneiras de tentar medir isso, mas uma boa aproximação é o número de contratos futuros do índice S&P 500 que são cotados dentro de uma faixa de 1 ponto com relação a seu nível atual.

O "E-Mini", como é chamado, é o contrato futuro mais negociado no mundo, mas a profundidade desse mercado tem se deteriorado de forma marcante. A certa altura em dezembro, a liquidez era menor do que durante o pior período da crise financeira. Além disso, a recuperação recente da liquidez do E-Mini tem sido fraca, apesar dos mercados mais calmos.

É por isso que investidores disseram no mês passado, em pesquisa do J.P. Morgan, que um "colapso na liquidez do mercado" era seu maior temor, na frente de riscos políticos como guerras comerciais. Isso, por sua vez, parece tornar a própria volatilidade mais volátil. Os mercados estão tendo períodos mais calmos e mais longos, mas choques mais frequentes e violentos.

O índice VVIX, a volatilidade implícita no índice de volatilidade Vix, teve uma leitura média de cerca de 87 na década encerrada em 2016, mas, desde então, sua média é de mais de 94. Se se define um choque como uma queda de um dia que é cinco vezes maior que o desvio padrão médio diário ao longo do último mês, então houve cinco quedas violentas desse tipo desde 2016.

É preciso voltar até os anos 40 para encontrar um período de três anos com tantas quedas tão abruptas. "Para nós, [a turbulência do mercado de 2018] não foi uma anomalia estranha na qual os investidores reagiram de forma exagerada a um discurso do Fed e então descobriram que a falta de liquidez sazonal amplificava os movimentos do mercado quando eles tentavam retirar o seu dinheiro. Isso foi uma mostra de como os mercados deveriam ter precificado os riscos desde o começo", diz King.

 

FOLHA

Setor produtivo critica e mercado financeiro minimiza queda de Levy

O pedido de demissão de Joaquim Levy da presidência do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) neste domingo (16) foi visto com preocupação pela iniciativa privada. Há expectativa em relação ao sucessor e temor por interferência política.

Para José Roriz Coelho, ex-presidente da Fiesp (federação das indústrias de São Paulo) e presidente da Abiplast (associação da indústria plástica), Levy era um dos melhores quadros do governo.

“É um excelente nome, foi corajoso ao levantar questões importantes como a redução do tamanho do estado quando ministro do governo Dilma [Rousseff]. É muito ruim perder um nome como ele em um momento como este, em que o Brasil precisa de reformas.”

Sobre a crítica de Jair Bolsonaro à nomeação de Marcos Barbosa Pinto, que trabalhou no governo Luiz Inácio Lula da Silva, para uma diretoria do BNDES, Roriz diz não ver problema na indicação.

“O Brasil precisa de pessoas competentes independentemente de ter passado por governo de esquerda ou direita. Agora devemos ter o mínimo de mexida possível [na equipe econômica] e priorizar a entrega do que foi anunciado.”

A mudança de perfil do banco, que sofreu cortes no orçamento, vinha sendo bem conduzida pelo ex-ministro da Fazenda. “O banco fazia grandes empréstimos mal alocados e agora foca a pequena e média empresa. Seria importante que isso permanecesse”, diz.

A queda de Levy é uma crise mais política que econômica, segundo Fernando Figueiredo, da Abiquim (associação da indústria química).

“O banco está em um momento em que as linhas de crédito não são as mais vantajosas para financiar investimentos empresariais, dedica-se mais a projetos de infraestrutura. Esse perfil é criticado pelo setor [químico], mas não acredito em mudança na linha de atuação”, afirma.

Apesar de elogiar Levy, ele diz que a saída do economista do BNDES não deve ter grande impacto no mercado, desde que a agenda econômica do governo se mantenha.

“É uma pena sua saída, Levy é um nome suprapartidário e tem um nível de qualidade técnica de excelência”, diz Sergio Mena Barreto, presidente da Abrafarma (associação de grandes redes de farmácia).

Para ele, Levy teve pouco tempo para mostrar resultados concretos no banco, e sua saída tende a ser mais política.

“Não adiantaria ele ficar em uma posição desgastada [com Bolsonaro] porque prejudicaria o governo e a imagem do Brasil junto ao mercado.”

Mena Barreto diz acreditar na nomeação de alguém alinhado com o discurso de Guedes e Bolsonaro.

“Seria interessante ter alguém do setor privado”, afirma, sobre a possibilidade de Salim Mattar, fundador da Localiza e atual secretário de Desestatização, assumir o cargo.

“A saída é um mau sinal para o mercado do ponto de vista de governança porque o presidente atropelou o ministro Guedes”, afirma Sandro Cabral, professor de políticas públicas no Insper.

A eventual reticência de Levy em cumprir as devoluções de recursos ao Tesouro pelo BNDES pode ter sido um dos fatores de desgaste.

“Guedes prometeu coisas sem exibir cálculos, metas que parecem inexequíveis. A receita que ele esperava do banco [R$ 126 bilhões] certamente ajuda [a desgastar a relação].”

“O governo precisa de um nome com perfil similar ao de Levy, com conhecimento da máquina pública, mas será difícil encontrar quem aceite dado esse histórico”, diz.

No mercado, a chancela que Guedes deu às críticas de Bolsonaro a Levy deve manter sob tranquilidade as operações desta segunda-feira (17), dizem economistas.

Eles consideram, porém, ruim a forma como a situação se desenrolou e avaliam negativamente a saída de Levy do banco público de fomento.

“O fato é ruim porque é mais um problema que vai se acumulando, mas acho que deve ficar um pouco em segundo plano diante de notícias envolvendo a Previdência e também o cenário externo”, diz Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos.

No sábado (15), após as declarações de Bolsonaro contra Levy, Guedes disse em entrevista a Gerson Camarotti, do G1, que entende “a angústia do presidente”.

“É Bolsonaro sendo Bolsonaro. Considerando isso e que ele agiu sobre um ator que não estava com muita repercussão nem com seu chefe, acho que não terá muito ruído [no mercado] amanhã [segunda-feira]”, diz João Mauricio Rosal, economista-chefe da Guide Investimentos.

Segundo Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, a perspectiva de operadores financeiros ao olhar para episódios como esse é entender o que a situação demonstra a respeito da equipe econômica —e, principalmente, sobre a permanência de Guedes.

“O primeiro sinal foi estranho. Mas seria ruim se fosse um evento isolado do presidente, porque o mercado poderia entender como um desmantelamento da equipe econômica”, afirma Vieira.

Rosal diz que, após o BNDES ter sido “um das pernas do desenvolvimentismo de governo do PT”, o banco sofre uma “crise de identidade”. Mas, na sua avaliação, Levy tentou dar os primeiros passos para trazer a instituição “de volta a seu espírito anterior”, de financiamento a empresas menores.

“Um banco de fomento tem de ter carteira pulverizada. Levy, quando assumiu, disse que faria, mas não se reduz e pulveriza uma carteira em três, seis meses. É coisa de ao menos um ano”, diz o economista João Augusto Salles, especialista em análise de bancos.

O mercado está de olho agora em quem substituirá Levy. “Vamos procurar entender como as peças vão se mexer, quem virá no lugar e quem vai ser fortalecido”, diz Rosal.

André Perfeito, economista-chefe da Necton, destaca que a saída de Levy é a primeira baixa na equipe econômica.

“Até agora, a gente imaginava que a economia estava vingada”, diz. Para ele, o nome indicado “tem de ser alguém com algum peso político”.

 

ESTADÃO

Ex-diretores do BC se dividem sobre nova Selic

Ex-diretores do Banco Central (BC) se dividem sobre quando a instituição deve começar a cortar a taxa de juros básica da economia (Selic). Enquanto uma ala defende uma redução imediata – ou ao menos uma sinalização mais firme sobre o começo desse movimento –, uma outra parte avalia que o BC deve manter a estratégia adotada até agora e esperar uma definição sobre a reforma da Previdência para rever sua política monetária. A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central começa amanhã.

Os que defendem ao menos um aceno no comunicado dão ênfase à avaliação da modelagem que considera a longa permanência da taxa de desemprego elevada e a ociosidade da economia, indicando boas chances de a inflação seguir rodando abaixo do centro da meta neste e no próximo ano. Do outro lado, há o argumento de que o cenário, antes da aprovação da reforma da Previdência, ainda é arriscado e seria apropriado o Copom aguardar mais.

“Sem dúvida alguma, quando olhamos dados de hoje, vamos estar com a inflação tanto neste ano quanto no próximo bastante abaixo das metas e em um contexto no qual a economia não cresce”, diz Luiz Fernando Figueiredo, sócio-fundador da Mauá Capital. Para ele, pelo modelo que se tem hoje, está na hora de reduzir os juros. Sua projeção para a inflação oficial deste ano é de 3,7%.

Em maio, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve alta de 0,13% – acumulando 2,22% no ano. Já a taxa de desemprego ficou em 12,5% no trimestre terminado em abril. Aliado a isso, há sucessivas revisões para baixo de projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) tanto neste ano quanto em 2020.

Alexandre Schwartsman, da Schwartsman & Associados, espera, ao menos, nesta próxima reunião um reconhecimento e uma sinalização por parte do Copom de que o crescimento menor da economia e o desemprego alto já há algum tempo apontam para riscos baixos para a inflação no médio prazo.

Frustração. Tanto Figueiredo quanto Schwartsman ressaltam que, no início do ano, a expectativa era a de que o ritmo de recuperação da economia brasileira fosse mais significativo, o que foi frustrado. Aliado a isso, o ambiente externo também se deteriorou com perspectivas mais acentuadas de menor crescimento e com os bancos centrais das principais economias desenvolvidas já discutindo cortes nos juros.

Um pouco mais cauteloso, Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco, diz acreditar que a trajetória prospectiva da inflação permitirá ao Copom começar a flexibilizar a política monetária, mas apenas a partir de sua reunião de setembro. Isso, diz, considerando a aprovação da reforma da Previdência em agosto. “A reforma é condicionante porque, sem esta, devemos ter uma nova e, possivelmente, intensa rodada de depreciação cambial, que comprometeria o até aqui benigno cenário inflacionário.”

“Não vejo na inflação razão para cortar juros neste momento”, diz o economista-chefe do USB, Tony Volpon, para quem o BC deve optar pela cautela e aguardar o que resultará da aprovação da reforma da Previdência pelo Congresso – até para ter uma dimensão de quão robusta ela será. “Seria prudente para o BC esperar e ver o que sai dessa reforma.”

 

Expectativa é de estabilidade em 6,50% ao ano para nova Selic

Esta semana, mais uma reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) e, mais uma vez, a expectativa da maioria dos analistas do mercado financeiro é pela manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em 6,50% ao ano.

Se depender das previsões do mercado, a reunião do Copom, nos dias 18 e 19, não trará surpresas. Oportunidade para cortar a taxa existe, já que a inflação está baixa e comportada, a economia parada, o consumidor retraído, sem renda e apetite para compras. Faltaria disposição do Banco Central (BC) por motivos distintos aos que servem de argumento para o mercado em defesa da redução da taxa.

Para quem vê apenas a perspectiva inflacionária, a taxa básica de juro, embora acomodada em nível histórico de baixa, teria espaço para recuar mais um pouco como forma de tentar animar a atividade econômica, via aquecimento do consumo e da produção. O BC tem insistido em que precisa de tempo para avaliar a economia brasileira e decidir-se.

A redução dos juros é uma ferramenta que o BC tem à mão para pôr a economia na dinâmica do crescimento. As condições atuais da economia brasileira, porém, exigiriam muito mais que isso, para engatar a marcha do crescimento. Para analistas e economistas, faltaria sobretudo confiança no rumo da política econômica para a volta do investimento privado, na esteira do público, inviabilizado porque o governo está quebrado.

O BC estaria resistindo à ideia de cortes adicionais na Selic sob o argumento de que, embora baixa, a inflação estimada em um horizonte mais distante não tem recuado no mesmo compasso das revisões para baixo nas projeções de crescimento. E um corte nessas condições poderia ser precipitado e pôr em risco a credibilidade do BC como agente de ancoragem de expectativas caso a inflação desvie da rota prevista.

Ademais, cortes na Selic não têm provocado o efeito desejado na economia porque os juros cobrados nas diversas linhas de financiamento andam desgarradas e distantes da trajetória da taxa básica. Apesar da queda da Selic e em alguma proporção no custo do crédito, os juro atuais estão longe de estimular o consumo.

A Selic é o piso de juros da economia, a taxa primária que serve de referência para a formação das demais taxas na economia. Ela define o custo de financiamento para o Tesouro Nacional na colocação de títulos pós-fixados no mercado, como a LFT (Letra Financeira do Tesouro) ou Tesouro Selic, versão pela qual a LFT é conhecida na oferta pela internet na plataforma do Tesouro Direto.

Além de remunerar as LFT, a Selic é referência para a taxa de captação dos bancos. Ela corresponde à remuneração para quem aplica nesse papel, seja como cotista de um fundo de investimento que tem esse título em carteira, seja como comprador do título pela internet no Tesouro Direto.

Um corte na taxa Selic favoreceria, em princípio, o governo, que se financia com a oferta de LFT ao mercado porque o custo com o juro cai, e também os bancos, que passam a remunerar o aplicador com taxa mais baixa na renda fixa, sem necessariamente cobrar menos ao repassar esses recursos ao consumidor na ponta do crédito.

Sem entrar no debate das causas dessa disparidade entre a taxa de captação e de repasse, o chamado spread bancário, mas apenas por constatação, nota-se que o tomador de crédito pouco ou nada tem se beneficiado do ciclo de corte da taxa básica, que recuou de 14,25% ao ano, em março de 2018, para 6,50%.

Os juros cobrados nas diversas modalidades de financiamento seguiram a trajetória descendente da Selic, mas em uma escala de queda bem menor, o que, com raras exceções, mantém os juros do crédito proibitivos e os financiamentos inacessíveis para a maioria dos consumidores.

O segmento que tem captado instantaneamente as seguidas reduções da Selic é o da renda fixa, no mercado de investimentos. Além do achatamento do juro nominal, aplicadores não raro têm visto o ganho real com os juros escoar pelo ralo, tragado pelos repiques sazonais da inflação, como ocorreu no período recente.

Bolsa e dólar

O mercado financeiro gostou do relatório final da reforma previdenciária apresentado na última semana pelo deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), relator do texto na Comissão Especial da Câmara. Apesar da concessão em alguns pontos, já previstos pelos mercados, e da proposição inesperada de outras medidas, como a taxação de bancos, o conteúdo geral do texto foi bem recebido, até porque o resultado final projetado não foge muito das estimativas iniciais.

Foi em clima de sentimento positivo com a aprovação de mudanças na Previdência, após a leitura do relatório, que os investidores decidiram embolsar os ganhos obtidos até agora, à espera dos novos lances da reforma. A Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, recuou 0,74% e o dólar avançou 1,16%, para R$ 3,90, na sexta-feira, movimento influenciado também pelo aumento de tensão no Golfo Pérsico, envolvendo o Irã.

Os investidores decidiram garantir os lucros porque consideram a próxima etapa de tramitação a batalha mais dura que a proposta de reforma vai passar na Câmara. É a fase de debates e de apresentação de emendas em plenário que podem redundar em mudanças do relatório apresentado e alterar as estimativas de ganho com as propostas de mudança no sistema de aposentadoria.

“Os mercados vão acompanhar os debates no plenário para tentar saber os pontos da reforma que vão passar, o que vai permanecer fora e o que pode voltar a fazer parte dela, para tocar os negócios no dia a dia”, analisa o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira.

Um dos pontos que mais atraem o interesse dos investidores, segundo Vieira, se refere à participação ou não de Estados e municípios na reforma previdenciária proposta pelo governo federal –  no relatório aprovado na Comissão Especial, esses entes estão fora.

Mercados e investidores, embora satisfeitos com o teor desse relatório até agora, estarão atentos às prováveis mudanças que serão incluídas durante a discussão no plenário e reagir a elas, positiva ou negativamente, de acordo com as expectativas geradas, diz o economista da Infinity Asset.

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