Terça-feira

VALOR

Para governo, resultado no trimestre ainda ficará no terreno positivo

Apesar de o IBC-Br apontar PIB negativo para o segundo trimestre do ano, a equipe econômica do governo continua com avaliação de que o resultado do PIB no período de abril a junho será positivo. Uma fonte do governo lembrou que há diferenças metodológicas envolvendo os números do PIB, calculados pelo IBGE, e os do IBC-Br, divulgados pelo Banco Central. Esse interlocutor aponta que não houve mudança significativa de cenário para o ano, que continua em torno de 0,8% de crescimento, e tampouco para o segundo trimestre.

"Dificilmente haverá um PIB negativo no segundo trimestre. Uma recessão técnica não é provável", comentou a fonte, acrescentando que, para esse quadro ter alguma consistência, as projeções para o ano deveriam estar em torno de 0,4%. Sobre a surpresa negativa no setor de serviços, que teve queda de 1% em junho, o interlocutor argumentou que de fato a situação da economia brasileira ainda não é boa, e isso se evidencia nos dados correntes.

A fonte aposta que a economia começará a melhorar nos próximos meses, principalmente devido à liberação do FGTS, mas ainda de forma insuficiente para que dados como emprego e renda tenham avanços significativos neste ano. "Com o FGTS vai melhorar a partir de agora. A medida atinge 46% da população [um total de 96 milhões de pessoas], com efeito maior nos mais pobres", reforçou.

A tese dos técnicos, como informou recentemente o Valor, é que essa liberação do dinheiro do fundo terá um impacto mais forte no consumo do que o verificado naquela promovida no governo Michel Temer, dado que não só atinge mais gente, como também alcança pessoas de renda mais baixa, com propensão maior a consumir ou quitar dívidas para voltar ao mercado.

Apesar de oficialmente trabalhar com impacto de 0,35 ponto porcentual no PIB em 12 meses, fontes admitem que o efeito pode ser maior, por causa dessa característica da atual liberação. A equipe econômica tem há meses insistido em descartar a hipótese de uma recessão técnica no Brasil neste ano.

O principal argumento é metodológico, pois os técnicos do Ministério da Economia consideram que o modelo deles espelha melhor a realidade e o cenário macroeconômico do que o do IBC-Br. Não é uma crítica ao indicador produzido pelo BC, apenas uma leitura metodológica. De qualquer forma, a realidade tem se impondo também sobre as visões mais otimistas da área econômica do governo e do mercado. Têm sido constantes neste ano as revisões para baixo nos prognósticos para o crescimento do país.

O cenário começou com uma estimativa de expansão de 2,5% para o PIB de 2019. Caiu para 2,2%, 1,6% e agora está na casa de 0,8%. Mas o governo mantém um viés favorável para prazos mais longos, apostando não só no FGTS, que terá impacto também em 2020, mas principalmente no efeito da reforma da Previdência, cuja aprovação na Câmara já ocorreu e agora depende da votação pelo Senado. Na visão da área econômica, embora não seja suficiente, a reforma será um divisor de águas em termos de segurança para os investidores, contribuindo para o país crescer mais.

 

Projeção para crescimento volta a desacelerar no Focus e vai a 0,81%

A mediana das projeções do mercado para o crescimento da economia em 2019 voltou a cair, de 0,82% para 0,81% - depois de interromper, três semanas atrás, uma série de 20 quedas consecutivas -, de acordo com a pesquisa semanal Focus, divulgada pelo Banco Central com estimativas coletadas até o fim da semana.

Para 2020, o ponto-médio das expectativas para a economia brasileira permaneceu inalterado em 2,10%, nível em que está há cinco semanas agora. A mediana das projeções dos economistas do mercado para a inflação oficial em 2019 voltou a cair, de 3,80% para 3,76%, segundo a pesquisa. Para 2020, o ponto-médio das expectativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) manteve-se nos mesmos 3,90% em que está há cinco semanas.

Para os próximos 12 meses, a pesquisa indicou aceleração, de 3,66% para 3,68%. A mediana das projeções para a inflação oficial em 2019 entre os economistas que mais acertam as previsões, os chamados Top 5, de médio prazo, caiu de 3,82% para 3,77%, segundo a pesquisa do Banco Central. A mediana das estimativas para a taxa básica de juros no fim de 2019 caiu de 5,25% para 5% entre os economistas do mercado, de acordo com o Focus.

Entre os Top 5, o ponto-médio para a Selic no fim do ano também caiu para 5,00%, ante 5,13% na sondagem anterior. Depois de mais de 16 meses sem mexer na taxa básica de juros, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu de maneira unânime pelo corte de 0,5 ponto percentual na Selic na última reunião, de 6,5% para 6% ao ano, e indicou que o ciclo de corte de juros terá continuidade no próximo encontro, em setembro.

As medianas das estimativas para o dólar no fim de 2019 ficaram estacionadas em R$ 3,75 entre os economistas em geral e R$ 3,80 entre os que mais acertam as previsões. Para 2020, o ponto-médio das expectativas também permaneceu inalterado, pela 14ª semana em R$ 3,80.

 

Com avanço lento da Previdência, clima econômico tem pior resultado de 2019

O clima econômico no Brasil percebido por analistas apresentou em julho o pior resultado do ano, devido à ausência de sinais mais concretos na retomada da atividade, segundo a Sondagem Econômica da América Latina, indicador trimestral da Fundação Getulio Vargas em parceria com o instituto alemão IFO.

Na pesquisa, o Índice de Clima Econômico (ICE) do Brasil registrou saldo negativo de 23,2 pontos em julho, após mostrar 21 pontos negativos na pesquisa anterior, de abril. O saldo é a diferença entre respostas positivas e negativas entre os 112 especialistas pesquisados. Em janeiro, o saldo do ICE do Brasil era positivo em 3,6 pontos.

Segundo Lia Valls, pesquisadora da FGV, as expectativas relacionadas ao Brasil continuam em alta, mas isso não seria suficiente. É preciso, na análise da economista, algum tipo de melhora real e concreta na economia brasileira, para assim impulsionar o ICE do país. Valls detalhou que o resultado negativo de clima econômico foi motivado por piora na avaliação de momento presente.

O Índice de Situação Atual (ISA), um dos dois subindicadores do ICE, se manteve com saldo negativo de 75 pontos entre abril e julho. O Índice de Expectativas (IE) do país, por sua vez, passou de saldo positivo de 53,3 pontos para 50 pontos. Um dos tópicos que frustraram as avaliações foi a condução da reforma da Previdência, cujo trâmite foi mais lento que o esperado pelo mercado.

O texto-base foi aprovado na Câmara somente em 10 de julho. "E, mesmo depois da [aprovação em primeiro turno] reforma, houve alguns sinais de turbulência política em julho", disse. Na comparação com os dados do ICE latino-americano, Valls considera que a avaliação de situação atual do Brasil "é muito pior". Houve um aprofundamento do saldo negativo do índice do continente, de 21,1 pontos negativos para 26,4 pontos negativos entre abril e julho, devido à piora nas relações entre EUA e China.

Dentro do ICE da América Latina, o saldo do Índice de Situação Atual (ISA) foi de 61,3 pontos negativos - menos desfavorável do que o Brasil. Questionada se o ICE do Brasil pode mostrar saldo negativo nas próximas apurações, ela foi cautelosa. Acha difícil prever algo no momento, tendo em vista que ocorrem muitos anúncios na condução de política econômica brasileira. Valls ressaltou que o ambiente internacional não oferece bom cenário para o Brasil, com a disputa comercial entre EUA e China podendo afetar de forma expressiva a cotação do dólar, e "respingar" na economia brasileira.

Para a técnica, é preciso algum tipo de melhora real na economia brasileira, com indícios de retomada mais expressivos. "O que temos, até o momento, é todos apostando em melhora [na economia brasileira] que nunca vem", resumiu.

Na América Latina, o ICE brasileiro teve o quinto pior resultado em julho. Os piores saldos foram Venezuela (-100 pontos), Equador (-77,5 pontos), México (-55,1 pontos) e Uruguai (-34,2 pontos).

 

Bolsonaro e Maia descartam volta de CPMF em reforma tributária

O presidente da República, Jair Bolsonaro, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), condenaram ontem a possibilidade de recriação da CPMF, no âmbito da reforma tributária. Em Barra do Ribeiro (RS), Bolsonaro foi taxativo: "Determinei que não existirá nova CPMF. Nós vamos é fundir impostos".

A proposta do governo sobre reforma tributária deve ser entregue ao Congresso nos próximos dias. Já existe em tramitação na Câmara a proposta de emenda constitucional 45, apresentada pelo deputado Baleia Rossi (MDB-SP). Bolsonaro disse que estará atento à repercussão popular em relação ao tema. "Tudo aquilo que porventura surja de novo, vamos sondar a opinião pública para tomar decisão nesse sentido", disse.

Em São Paulo, durante evento no Banco Santander, Rodrigo Maia afirmou que "a única certeza" que tem é que a CPMF não será retomada "sob hipótese nenhuma". Maia garantiu que existe ambiente favorável no Congresso para a discussão da reforma tributária, sem que haja disputas entre Câmara e Senado - propostas distintas tramitam paralelamente nas duas Casas.

Segundo o presidente da Câmara, os parlamentares terão de construir uma saída para que nenhum setor econômico seja taxado com alíquotas maiores do que possa pagar. De acordo com Rodrigo Maia, as grandes empresas avançaram muito na defesa de seus interesses nos últimos anos, com base em leis aprovadas no Legislativo Federal. "Ao longo dos anos foi ficando claro que entregamos orçamento para eles, teve R$ 400 bilhões de incentivo fiscal. E não temos mais orçamento pra atender sociedade e espaço para aumentar imposto", afirmou. "Tem setores da economia hoje que pagam muito pouco imposto", criticou.

Segundo o presidente da Câmara, mesmo que a carga tributária não seja reduzida, apenas simplificar a estrutura de impostos vai acabar com distorções existentes hoje. Maia também defendeu a redução do texto constitucional como medida para facilitar alterações legislativas, quando forem necessárias, e afirmou que muito do ativismo do STF é responsabilidade da Política.

"Quanto mais reduzido o que está escrito na Constituição, melhor. Só uma norma geral [na Constituição] e o resto por lei que facilita, inclusive, mudanças futuras em qualquer um dos temas. Nós tentamos isso na reforma previdenciária e não foi possível. Mas era uma defesa do cidadão. Acho que na tributária poderia ser possível. Seria um caminho que evitaria milhões de ações na Justiça", afirmou em entrevista coletiva.

Segundo o presidente da comissão especial da reforma tributária, deputado Hildo Rocha (MDB-MA), a expectativa é concluir a análise da proposta apresentada por Baleia Rossi no colegiado na primeira quinzena de outubro. O relator do texto, o líder da maioria na Câmara, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), se reunirá com o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), na manhã de hoje para fechar o cronograma da comissão especial antes da apresentação do plano de trabalho.

"Queremos votar na comissão em até dois meses. É importante que consigamos cumprir esse calendário para que o plenário tenha tempo suficiente para concluir os dois turnos ainda neste ano", disse Rocha. O plano de trabalho será apresentado na sessão da comissão especial de hoje. Segundo Rocha, o plano de trabalho está "enxuto", porém, "completo".

Ele explicou que, além das audiências públicas na comissão especial, o relator fará seminários nas cinco regiões do país para conversar com governadores, prefeitos, empresários e representantes da sociedade. O objetivo é debater a reforma e "os aspectos da proposta de um Imposto sobre Valor Agregado (IVA)", explicou o parlamentar.

 

Troca de dívida pública por privada eleva PIB, diz Campos

A substituição do financiamento público pelo mercado de capitais é muito benéfico para o crescimento e para o próprio governo, aponta o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em evento ontem na capital paulista.

Conforme Campos, o BC desenvolveu uma métrica batizada de índice de mercado privado, que inclui total de bolsa mais o total de dívida privada, para ter dimensão do desenvolvimento do mercado de capitais do país. "Chegamos à conclusão que a cada 10% que aumentasse esse índice aumentaria o PIB em 0,4 ponto percentual."

De acordo com o presidente do BC, o crescimento do mercado de capitais traz ainda um efeito de substituição de dívida pública pela privada, o que melhora custos de financiamento para empresas, aumenta liquidez, resulta em prazos de financiamento mais longos e tem efeito multiplicador. "Para cada R$ 100 bilhões de dívida pública que tiro do mercado, consigo emitir R$ 140 bilhões ou R$ 150 bilhões de dívida privada", afirmou Campos.

Quando você tira o governo do longo prazo alivia o risco fiscal, acrescenta Campos. "Esse movimento de substituição que está começando agora vai se intensificar. Não significa que podemos tirar o setor público todo de uma vez. Mas já conseguimos verificar que o multiplicador é maior que um."

No cenário internacional, Campos destaca que mercado tem precificado atualmente uma nova era de crescimento global mais baixo e mais longo. Conforme o comandante da autoridade monetária, o momento de incertezas vai além da questão das tensões comerciais entre Estados Unidos e China. "O tema vai além da tensão comercial e o mercado está precificando neste momento é que temos uma nova era de crescimento mais baixo e mais longo", considera.

Para Campos, "as grandes empresas entenderam que vão precisar produzir bens de forma distinta e alterar a cadeia produtiva para alinhar ao novo padrão". O presidente do BC acrescenta acreditar que a nova realidade produtiva e o realinhamento da cadeia significam "juros [globais] mais baixos e mais longos". "O mundo está passando por uma forte desaceleração da economia", afirmou.

Segundo o comandante da autoridade monetária, após a redução das expectativas de expansão global pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), de 3,7% para 3,3% neste ano, "houve rapidamente uma desaceleração também nas expectativas para 2020". Para Campos, "muito provavelmente, olhando para os últimos dados que vieram esses números [de crescimento da atividade] devem cair mais".

O presidente do BC enfatiza que houve ainda uma reprecificação de juros, "no sentido que o mundo enxerga que vamos viver com juros mais baixos tanto nos EUA, quanto na Inglaterra e na Europa". Segundo o chefe do BC, há quatro fatores que têm, provavelmente, influenciado na desaceleração do crescimento global. "Entre os fatores estão das tensões comerciais, o envelhecimento da população mundial, os problemas geopolíticos e a polarização política .

Campos citou a situação da Argentina, onde após a prévia das eleições de outubro realizadas ontem, a moeda chegou a cair 30% e o banco central do pais teve de elevar os juros para 74% ao ano para conter a desvalorização. As prévias trouxeram a vitória da chapa Alberto Férnandez e Cristina Kirchner, que obteve 47% dos votos contra 32% daquela encabeçada pelo atual presidente Mauricio Macri, preferido pelo mercado. "A polarização política tem tido importância em várias partes do mundo e a Argentina é um exemplo disso", afirmou o presidente do BC.

 

FOLHA

BC diz que investidor ainda está avesso a risco

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que o movimento do mercado financeiro nesta segunda-feira (12) é desafiador, mas que o Brasil está preparado para enfrentar crises externas.

Segundo ele, apesar do ambiente internacional de juros baixos, o investidor ainda está bastante avesso a risco.

“Para esse nível de juros, esperávamos um fluxo maior”, afirmou ao citar a entrada de capital em países emergentes. “O ambiente é favorável, mas a instabilidade aumentou.”

Campos Neto disse que os problemas na Argentina, que elevou os juros para conter a desvalorização do peso, são parte desse cenário e afirmou que isso mostra os efeitos da polarização política sobre a economia.

“Hoje é um dia desafiador, mas o Brasil está preparado para enfrentar crises”, afirmou Campos Neto durante evento organizado pelo Santander.

Para o presidente do BC, o cenário externo é de produtividade e crescimento mundial mais baixos e por tempo mais prolongado.

Sobre o Brasil, ele citou o dado do IBC-Br, que mostrou queda na atividade no segundo trimestre deste ano, e afirmou esperar resultados melhores para o PIB (produto interno bruto) na segunda metade do ano.

Além do evento do Santander, Campos Neto afirmou ter participado nesta segunda-feira de reunião com os presidentes de bancos para tratar de temas como spread bancário.

 

ESTADÃO

Queda de juros fará com que bancos se voltem à base da pirâmide, diz presidente do Santander

O presidente do Santander Brasil, Sergio Rial, afirmou que o atual patamar de juros no Brasil, de 6% ao ano, fará com que as instituições financeiras se voltem à base da pirâmide. "Temos que passar a olhar o Brasil, que tem uma pirâmide gordinha na sua base. A Selic a 6% ao ano, a 5%, a 4%, não importa. A taxa de juros que estamos vivendo hoje vai fazer com que todas as instituições financeiras, sem exceção, voltem a ser também para a base de pirâmide", disse ele, durante enceramento de evento promovido pelo banco em sua sede, em São Paulo.

Para ele, o Brasil vive a transformação da Selic e do varejo, que ainda se utiliza de um modelo de desindexação da inflação. "Ainda compramos a prazo, achando que é sem juros no cartão. A verdade na relação de troca vai chegar. Vai chegar mais acelerada e estamos super bem-posicionados", acrescentou.

Rial chamou atenção para o potencial de produtos como microcrédito, financiamentos ao agronegócio e imobiliário no Brasil. Segundo ele, a carteira de empréstimos voltados ao setor de agro do banco chegará "com muito esforço" a R$ 21 bilhões no final deste ano, mas os players privados ainda não têm forte presença neste segmento, que pode crescer já que os produtores não são alavancados como outros setores. "Há tudo por fazer no País. A gente precisa ter paciência com intensidade e gestão", destacou Rial.

Ele também criticou a perda da capacidade da sociedade de dialogar, empurrando boa parte dos seus problemas para o judiciário ou câmara de arbitragem. "É muito caro. A agenda de produtividade onde tudo escoa para a judicialização mostra um fracasso da sociedade como um todo de ser capaz de perpetuar diálogos positivos, mesmo na oposição e na discórdia, mas com vontade de resolução e não de terceirizar as decisões e conflitos", disse Rial.

Na visão do presidente do Santander, conflito é inerente de um processo de transformação e, por isso, que a gestão é importante. "Gestão é gerir conflitos e ser capaz de trazer opiniões extremamente opostas a um denominador comum", afirmou.

Rial também passou um recado direto à equipe econômica do governo de Jair Bolsonaro. Disse que o mundo está cheio de ideias e boas intenções, mas a arte está na gestão e capacidade de fazer acontecer. "É o desafio que fica para o Ministério da Economia para um corpo que nunca tivemos como País e cabe a nós, agentes do sistema financeiro, poder ajudar na gestão e priorização de temas importantes no Brasil", acrescentou.

Dentro do tema gestão, o presidente do Santander comparou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com uma fábrica de projetos e lançou o desafio da capacitação dos prefeitos de 5,6 mil municípios. Essa é uma ideia, conforme ele, que o BNDES e o setor financeiro como um todo deveriam abraçar no intuito de levar ferramentas para trabalhar os orçamentos das cidades que, na maioria das vezes, são inexistentes.

Para o presidente do Santander, os Correios são um ativo relevante, considerando a complexa logística do País, mas seu valor mudou nos dias de hoje e, por isso, sua privatização talvez tenha de ser diferente do formato tradicional. "Os Correios são extremamente importantes para aquelas empresas que veem o Brasil como potencial enorme de penetração. As Amazons da vida", avaliou Rial. "A gente não pode esquecer que os Estados Unidos acabaram de criar cinco novos estados que são as cinco plataformas de tecnologias, cada uma delas com US$ 1 trilhão de valor", acrescentou.

Para Rial, a guerra fria vista hoje tem pouco a ver com o financiamento do comércio exterior e tudo a ver com a predominância e abrangência de controle e domínio de tecnologia. "Esse é um mundo que já chegou para transformar de forma absurda todos os modelos de negócios, não só o sistema financeiro, mas hospital, mobilidade urbana", avaliou, chamando atenção para a importância da ciência e tecnologia no século atual.

Ele clamou ainda para a necessidade de se praticar a palavra liberal, pensamento que guia a atual equipe econômica, e ainda a palavra risco e não a negação dele. Em um cenário de juros baixos, com os investidores buscando retornos acima do CDI, conforme Rial, é muito importante voltar a pensar os erros do passado, quando não foi explicado o risco existente em torno dos investimentos.

"Estamos vivendo em um mundo onde parece que o risco desapareceu. Aquele investidor que está comprando papel há dez anos passa a comprar ativos em busca de retorno. Nós temos um papel importante de voltar a trazer a palavra risco à mesa", avaliou o presidente do Santander, que disse que está otimista e que "sofre dessa doença".

Rial encerrou a 20ª Conferência Anual do banco, em São Paulo. Participaram o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, dentre outros.

 

Vitória do kirchnerismo leva pânico ao mercado argentino e afeta o Brasil

A derrota do presidente Mauricio Macri nas eleições primárias, realizadas no domingo na Argentina, provocou pânico no mercado financeiro do país, com efeitos negativos também para o Brasil. O dólar disparou e levou o Banco Central da Argentina a aumentar a taxa de juros em dez pontos porcentuais, para 74%. Com a medida, o dólar recuou, mas ainda encerrou com alta de 8,8%, valendo 52,1 pesos. O índice Merval, o principal da Bolsa de Buenos Aires, caiu 37,9%.

No Brasil, o Ibovespa recuou 2%, fechando aos 101,9 mil pontos. O dólar subiu 1,09% e encerrou o dia a R$ 3,98 – após bater a casa dos R$ 4. Além da situação argentina, um dos principais parceiros comerciais do Brasil, há um clima de aversão ao risco no mercado internacional – decorrente da tensão gerada pela guerra comercial entre EUA e China – que também prejudica o País.

O pânico no mercado argentino deriva da interpretação de que a vitória da chapa opositora, de Alberto Fernández e Cristina Kirchner, nas primárias “põe em xeque a política econômica do governo Macri e o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI)”, avaliou a empresa de serviços financeiros INTL FCStone.

Há também um temor de que medidas intervencionistas – amplamente utilizadas no período dos ex-presidentes Nestor e Cristina Kirchner – sejam retomadas, como o controle de acesso ao dólar e a concessão de subsídios em serviços como transporte e energia.

Na noite de domingo, após a divulgação dos primeiros dados da apuração, Fernández afirmou que sua vitória era uma “mensagem que diz não à reforma trabalhista” de Macri. Acrescentou que, caso ganhe em outubro, não continuará “presenteando” bancos com o pagamento de taxas de juros.

A chapa de Fernández, que tem a ex-presidente Cristina como vice, conquistou 47,6% dos votos, enquanto Macri teve 32%. Se o resultado se repetir em outubro, com os kirchneristas acima da marca de 45%, a oposição levará o pleito no primeiro turno.

Os bancos já dão quase como certa a vitória kirchnerista. Em relatório, o estrategista Tiago Severo, do Goldman Sachs, afirmou que o resultado é “quase irreversível”.

Um economista do mercado financeiro argentino, que pediu para não ser identificado, afirmou ser pouco provável que o pânico na Bolsa mude o resultado das eleições em outubro e relacionou o derretimento do peso argentino à falta de confiança dos investidores no kirchnerismo. Para ele, um possível novo governo kirchnerista não deverá dar calote no FMI, mas tentar renegociar as condições do empréstimo de US$ 56 bilhões concedido a Macri.

Próximo a Fernández, o economista Matías Kulfas tentou acalmar o mercado. Afirmou à imprensa local que o candidato não pretende voltar a controlar o acesso ao câmbio e que há intenção de cumprir com os pagamentos de dívida. “Há algumas semanas, conversamos com enviados do FMI e ratificamos a vontade de diálogo, mas desde uma posição em que se possa modificar o acordo, pois achamos que esse caminho não está atingindo os objetivos (de voltar a crescer)”, afirmou Kulfas.

 

Argentina: a eleição e o mercado

A derrota acachapante de Mauricio Macri nas eleições primárias argentinas (vistas como prévias da eleição presidencial de outubro) dá uma mostra da dificuldade de correntes políticas centristas enfrentarem populismos (seja de esquerda ou de direita) no mundo atual e na América Latina em particular.

Macri optou pelo gradualismo para fazer o ajuste da economia argentina após o período de intenso populismo comandado sucessivamente por Néstor e Cristina Kirchner, e que abarcou todo o tempo de vacas gordas do boom de commodities.

O gradualismo é uma estrada sempre perigosa, porque depende da volátil tolerância externa a financiar países extremamente desequilibrados em termos macroeconômicos. E foi uma aposta derrotada, porque o fim abrupto da indulgência internacional com a Argentina pegou o país ainda muito desarrumado em termos fiscais e vulnerável em termos externos.

Os Kirchner na prática fecharam a Argentina aos fluxos financeiros externos, uma estratégia que funcionou em termos de crescimento por duas razões: saiu-se de uma base muito baixa, após a devastação da crise final do sistema de conversibilidade cambial, na virada de 2000 para 2001; e o boom de commodities deu um fôlego extra a países que são grandes exportadores de matérias-primas, como a Argentina.

Cortando a dependência financeira externa, a Argentina também ficou mais autônoma para usar e abusar de políticas micro e macroeconômicas irresponsáveis, como a tolerância à alta inflação e o congelamento de tarifas públicas, que podem produzir resultados imediatos em termos de atividade e satisfação popular, mas acumulam desequilíbrios para o futuro.

A partir do fim do boom de commodities, no início desta década, o modelo argentino também trouxe alguns amortecedores, igualmente de curto prazo. O endividamento externo muito pequeno da era Kirchner significou que a Argentina ficou durante algum tempo relativamente insulada das periódicas ondas de mau humor internacional. E a tolerância à inflação também deu certa latitude à manutenção por mais alguns anos de uma política econômica claramente insustentável no longo prazo.

Os ajustes brasileiro e argentino pós-boom de commodities começaram – de forma atrasada, em ambos os casos – com cerca de um ano de diferença, o que não é muito. Eleita em 2014, Dilma virou a chave da política econômica em 2015 com a nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda. Macri assumiu a presidência em dezembro de 2015 com o compromisso de fazer o ajuste.

No caso do presidente argentino, há até quem ache que praticamente não houve ajuste algum. O presidente boa pinta e sofisticado, com sua bela esposa e uma equipe econômica vistosamente ortodoxa, passou ao mundo uma imagem de confiabilidade, e em seguida raspou o tacho de novas oportunidades de financiamento externo que se abriram ao país. Muita conversa, pouco ajuste, e o resultado foi que a onda seguinte de mau humor internacional pegou a Argentina novamente endividada no exterior – e extremamente vulnerável, portanto.

Com a crise, houve uma tempestade perfeita de tudo que ajuda a oposição na Argentina: tarifas mais altas (em consequência do que houve de ajuste), inflação e dólar em disparada, recessão, aumento do desemprego e da pobreza e mais um acordo humilhante com o FMI. O resultado final está expresso no resultado das eleições prévias do último domingo.

A dinâmica política e eleitoral até as eleições de outubro na Argentina será muito interessante de observar (infelizmente à custa do sofrimento e da angústia da população do país).

Os ativos argentinos, moeda, bolsa, títulos, estão previsivelmente reagindo de forma catastrófica ao recém-inaugurado superfavoristimo da chapa peronista de Alberto Fernandez e Cristina Kirchner (como vice) às eleições de outubro. Na situação para lá de delicada da economia argentina no momento, com certeza essa enorme piora do mercado – se for mantida – tornará o quadro ainda mais desesperador.

Em termos eleitorais, uma possibilidade é que a maioria do eleitorado reaja vendo essa piora como a culminância de um desastre patrocinado por Macri – um tipo de narrativa que, por exemplo, Lula com sucesso conseguiu emplacar em relação ao estresse eleitoral causado pelo seu favoritismo em 2002.

Outra possibilidade é que o eleitorado veja a piora como consequência do favoritismo peronista, e retroceda na sua preferência, voltando em parte a apoiar Macri. Naturalmente, Macri tentará de todas as formas fortalecer essa narrativa.

O balanço entre essas duas hipóteses provavelmente definirá se e quando Alberto Fernandez vai procurar aplacar de forma mais veemente o medo dos mercados, sinalizando certa continuidade em relação à política econômica de Macri (o que é bom para acalmar investidores, mas, obviamente, pode ser um disparo de canhão no pé em termos eleitorais).

Se o eleitorado comprar mais a hipótese da culpa de Macri, é provável que a chapa peronista deixe – se deixar – para acalmar o mercado um pouco adiante, num momento em que a provável vitória já esteja mais cristalizada, mas com cuidado para não deixar a turbulência grassar de forma tão intensa que coloque a situação fora de controle quando o novo governo assumir.

Se o eleitorado interpretar a piora das (já muito ruins) perspectivas econômicas da Argentina, a partir de agora, como causada pelo favoritismo peronista, Fernandez provavelmente agirá mais rápido para realçar suas credenciais moderadas e centristas (e ele de certa forma as têm).

Com a eleição de domingo, um novo jogo econômico e político começa na Argentina, e será jogado de forma frenética pela oposição favorita e pelo governo acuado no pouco tempo que resta até a eleição presidencial.

 

 

 

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