Quinta-feira

VALOR

FMI adverte para risco com juro baixo

Um mundo de taxas de juros muito baixas, onde a busca por melhores retornos amplia o risco e a vulnerabilidade dos mercados, exige mais atenção por parte dos formuladores de políticas. E já há sinais de alerta que devem ser monitorados. Essa é a mensagem central do Relatório de Estabilidade Financeira do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgado durante a reunião anual do organismo.

O FMI estima que a parcela de dívida de empresas com fraca capacidade de pagamento da dívida já é considerável em várias economias importantes. E, num cenário de desaceleração da economia global, poderia atingir US$ 19 trilhões — o equivalente a 40% de toda a dívida corporativa das economias desenvolvidas —, volume superior ao observado na crise financeira de 2008.

“As dívidas das empresas que são incapazes de cobrir os gastos com juros com suas receitas, o que chamamos de dívida corporativa de risco, podem subir para US$ 19 trilhões em um cenário que tem quase a metade da severidade da crise financeira global”, afirma o diretor do Departamento de Mercado de Capitais e Monetário do FMI, Tobias Adrian.

O FMI observa que, nos últimos seis meses, o vaivém da guerra comercial atingiu o mercado financeiro, fazendo com que o clima de negócios piorasse e crescessem as preocupações com os riscos de desaceleração econômica. A atuação dos bancos centrais, que deram mais incentivos monetários, muitas vezes adotando juro negativo, contribui para amenizar esses riscos de desaceleração no curto prazo.

Mas, ao mesmo tempo, essa política eleva os riscos financeiros e aumenta a vulnerabilidade, colocando em risco o crescimento a médio prazo. Hoje, o volume de bônus que rende juro negativo já equivale a US$ 15 trilhões, sendo mais de US$ 7 trilhões de bônus de governos de países desenvolvidos.

Os juros de 10 anos agora estão negativos em países como Áustria, Dinamarca, Finlândia, Bélgica, França, Alemanha, Japão, Países Baixos, Suíça e Suécia. Quando se olha para os preços de mercado, a expectativa é que cerca de 20% dos bônus soberanos estarão negativos até 2022. Em alguns casos, os juros desses papéis de longo prazo caem sem que haja fundamentos que justifiquem esse movimento. Esse quadro de juros baixos tem incentivado seguradoras e fundos de pensão e outros investidores institucionais a aplicarem em ativos mais arriscados e menos líquidos.

Segundo o FMI, hoje, a vulnerabilidade dessas entidades cresceu e permanece elevada em 80% das economias com setores financeiros sistemicamente importantes. Essa fatia é semelhante à observada no auge da crise financeira de 2008 e 2009. O avanço do endividamento do setor privado não financeiro é um foco de atenção, com riscos a serem observados no médio prazo, alerta o FMI.

“Há um bom número de empresas não financeiras frágeis nessas economias que ainda estão conseguindo rolar a dívida e continuam a acumular dívida por causa de taxas de juros muito baixas. A preocupação é que no caso de uma desaceleração econômica essas companhias possam experimentar dificuldades para pagar suas dívidas e tenham que alavancar. E quando isso acontece, elas cortam investimentos, empregos, e isso exacerba a recessão”, acrescenta Anna Ilyina, do Departamento de Mercados de Capitais e Monetário do fundo.

O fluxo de capitais para mercados emergentes é outro efeito provocado pelos juros baixos nas economias desenvolvidas. Esse movimento tem dado suporte ao aumento do endividamento: a mediana da dívida externa cresceu ao equivalente a 160% do volume de exportações dos países, ante uma taxa de 100% observada em 2008. Em alguns países, essa proporção chega a 300%. Na eventualidade de um brusco aperto das condições financeiras, esse aumento de empréstimos pode elevar o custo de rolagem e os riscos de sustentabilidade da dívida.

Dados do FMI mostram que, no fim de 2018, o total da dívida global, pública e do setor privado não financeiro, atingiu US$ 187,5 trilhões, o equivalente a 226,5% do PIB. O volume representa um crescimento de 61,2% em dez anos. Desse total, US$ 68,7 trilhões são dívida pública e US$ 118,8 trilhões estão nas mãos do setor privado. Somente o grupo dos países que integram o G20 detinha, no fim de 2018, um total de US$ 155,9 trilhões, ou 240,1% do PIB. Nesse caso, houve um avanço de 66,7%.

O maior crescimento ocorreu, no entanto, no volume de dívida de países emergentes que integram o G20. Para esse grupo, o total da dívida atingiu US$ 44,5 trilhões, um avanço de 295%. Em proporção do PIB, essa dívida representa 139,5%. A dívida soberana somou US$ 11,8 bilhões, enquanto privada, US$ 32,7 trilhões.

O alerta feito pelo FMI é que a busca por retornos num período prolongado de juros baixos pode levar a uma disparada nos preços de alguns ativos pelo mundo, o que aumenta o risco de uma correção brusca e repentina das condições financeiras — com efeitos sobre a capacidade de crescimento econômico no médio prazo. Sinais de atenção já são percebidos nos mercados de ações de países desenvolvidos.

A volatilidade implícita dos ativos de renda variável, contudo, diminuiu, em média, este ano, a despeito dos riscos impostos pela guerra comercial e das incertezas sobre o crescimento econômico global. Essa contradição reflete a crença do mercado de que os bancos centrais estarão dispostos a agir para sustentar os preços num cenário de aperto financeiro. Quadro que eleva o desafio da comunicação dos bancos centrais.

Para o FMI, as bolsas do Japão e dos EUA parecem supervalorizadas. Desde abril, as bolsas americanas subiram, enquanto os fundamentos pioraram, devido ao aumento das incertezas sobre crescimento de lucros. Já os mercados de ações de países emergentes parecem ter valor mais justo, pois já foram “temperados” pelas dúvidas sobre a guerra comercial e as perspectivas fracas de crescimento. Também os bônus soberanos de emergentes parecem estar sobrevalorizados desde o terceiro trimestre de 2019 para mais de 30% dos emissores incluídos no índice de mercados emergentes (Embi), calculado pelo J.P. Morgan.

Segundo o FMI, os formuladores de políticas precisam estar preparados para enfrentar a próxima desaceleração econômica, e uma das maneiras é acompanhar o custo das dívidas corporativas. “Esforços devem ser feitos para aumentar a transparência nos mercados financeiros não bancários, a fim de permitir uma avaliação mais abrangente dos riscos.

Nas economias em que a dívida geral do setor corporativo é considerada sistemicamente alta, além das ferramentas prudenciais setoriais específicas para os bancos, os formuladores de políticas podem considerar o desenvolvimento de ferramentas prudenciais para empresas altamente alavancadas.

Reduzir o viés nos sistemas tributários que favorece a dívida sobre o financiamento de ações também ajudaria a reduzir os incentivos para empréstimos excessivos”, destaca o FMI. Outro ponto a ser atacado é o aumento da participação de títulos mais arriscados e ilíquidos por investidores institucionais.

A recomendação do FMI é que a supervisão de entidades financeiras não bancárias deve ser reforçada. “As vulnerabilidades entre investidores institucionais podem ser tratadas por meio de incentivos adequados [por exemplo, para reduzir a oferta de produtos com retorno garantido], padrões mínimos de solvência e liquidez e divulgação aprimorada”, diz o fundo, no relatório.

Adrian também ressaltou que as incertezas comerciais agem junto com vulnerabilidades financeiras, que são mecanismos amplificadores de más notícias. “Quando há más notícias no fronte comercial, quanto mais alta a vulnerabilidade financeira, pior é a amplificação”, diz ele. “Urgimos aos formuladores de políticas ao redor do mundo que continuem a trabalhar juntos para resolver essas tensões comerciais, já que elas são uma fonte significativa de incerteza.”

 

FMI recomenda estímulo fiscal em cenário de crise

O uso de estímulos fiscais pode ser a melhor alternativa para algumas economias desenvolvidas, num cenário de forte crise. Essa é a avaliação do Fundo Monetário Internacional (FMI), que divulgou nesta quarta seu Monitor Fiscal. Segundo o fundo, os países já usaram de forma ampla a política monetária. E, com a inflação e as expectativas abaixo das metas e com juros já no terreno negativo, agora é o momento para que os países que têm espaço orçamentário utilizem essa ferramenta para dar suporte à demanda agregada.

O FMI ressalta que a maioria das economias ainda não está em condição de seguir esse caminho: nesses casos, a política monetária ainda não é restritiva e a dívida pública é alta e crescente. “Portanto, aconselhamos os formuladores de políticas a seguir estratégias fiscais prudentes, ancoradas por uma estrutura de médio prazo. Caso contrário, como já aconteceu no passado, a complacência alimentada pelas baixas taxas de juros pode levar a superexposição, seguida de pânico e disrupção dos mercados”, diz o FMI.

Nos mercados emergentes e nos países em desenvolvimento de baixa renda, os índices de dívida pública são altos e crescentes. O custo do serviço da dívida também está aumentando, diferentemente das economias avançadas, onde as baixas taxas de juros têm compensado os altos níveis de dívida. Além disso, alguns países são vulneráveis a choques cambiais e de juros.

Na China, a maior economia emergente, a desaceleração econômica e o estímulo fiscal podem elevar o déficit. “Recomendamos que a política fiscal ajude a atenuar o impacto negativo no crescimento das disputas comerciais e que apoie o reequilíbrio a longo prazo da economia”, diz o relatório.

No caso do Brasil, o diretor do Departamento de Assuntos Fiscais do FMI, Vitor Gaspar, afirmou que há indicadores positivos sendo observados e citou, especificamente, a estabilidade da inflação e a perspectiva de aprovação da reforma da Previdência como fatores que devem contribuir para que o país retome o crescimento. “Quando foi, nos últimos anos, que a inflação no Brasil caminhou significativamente abaixo da meta?”, observou.

De acordo com o FMI, a trajetória esperada para a dívida bruta do Brasil está ligeiramente melhor a partir de 2022. Mesmo com a queda, entretanto, as estimativas para todo esse período sobem ano a ano, até 2024, e permanecem com folga acima dos 90%. A dívida bruta deve alcançar 91,6% do PIB neste ano, projeção superior aos 90,4% previstos em abril.

Para 2020, a dívida bruta deve atingir 93,9% do PIB (ante 92,4% projetados anteriormente) e, em 2021, deverá ser de 94,1% (94,5% no relatório de abril). É partir daí que o FMI passa a projetar algum recuo: para 2022, a projeção cedeu para 95,3%, de 95,6%; para 2023, de 96% para 95% e, para 2024, há uma queda expressiva, de 97,6% para 94,9%.

As estatísticas referentes à dívida pública são diferentes das divulgadas pelo governo brasileiro porque contabilizam também os títulos públicos que são emitidos pelo Tesouro Nacional e estão nas mãos do Banco Central — as contas do governo excluem esses papéis do cálculo. Segundo o FMI, o Brasil segue com a mais elevada dívida bruta em proporção ao PIB dentre os emergentes.

A média das projeções para esse grupo de países está em 53,8% do PIB para 2019 e em 63,9% para 2024. A situação do Brasil também é pior do que a média dos países da América Latina, que devem ter, em média, uma dívida bruta equivalente a 71,7% do PIB neste ano, de 71,3% no ano que vem e podem chegar a 2024 com um resultado de 69,1%. A despeito da leve melhora da trajetória da dívida bruta esperada para os próximos anos, as projeções para a evolução do superávit primário — que exclui despesas com juros — sofreu pouco alívio. Para este ano, o FMI projeta um déficit de 1,9% do PIB, ante 1,8% estimado em abril.

 Em 2020, o FMI espera déficit de 1,4%, maior do que a projeção anterior, de 1%. Somente em 2022 é que será possível zerar o déficit. Para 2023, o FMI projeta superávit de 0,5% (0,6% anteriormente) e, para 2024, de 1,1% do PIB, levemente melhor do que a estimativa anterior, de 1%.

 

Cortes na Selic voltam ao foco e impõem queda aos juros futuros

Consequência do processo de desaquecimento da economia mundial, o ambiente desinflacionário ao redor do globo voltou a influenciar o humor dos investidores, que renovaram as apostas em um cenário ainda mais agressivo de acomodação monetária pelo Banco Central (BC).

Depois que apostas de uma Selic a 4% em 2020 entraram no radar do mercado, instituições não descartam que esse cenário se faça presente ainda este ano, enquanto projetam que o juro pode cair abaixo desse nível no próximo ano. É o caso da gestora de fundos de investimento do Itaú Unibanco, a Itaú Asset Management, que passou a projetar o juro básico a 4% no fim deste ano e a 3,75% no fim de 2020, enquanto a inflação medida pelo IPCA ficaria em 3,6% no ano que vem.

No cenário da instituição, o juro real brasileiro ficaria bem próximo de zero no próximo ano. Esse contudo, não é o consenso do mercado. Na pesquisa Focus, do BC, a estimativa é de Selic a 4,75% no fim deste ano. O cenário de juro real perto de zero é visto com reticência pela Porto Seguro Investimentos. “A lentidão na retomada da atividade doméstica tem gerado diversas revisões nas projeções de inflação de curtíssimo e de médio prazo. Mesmo assim, acho difícil chegarmos a um nível de juro real zero”, afirmou o economista-chefe da instituição, José Pena.

A Porto Seguro vê, por enquanto, o fim do ciclo de afrouxamento do BC com a Selic a 4,75%, mas ressalta que o cenário está sendo revisto e que o juro básico deve terminar o atual ciclo em 4,50% ou 4,25%, nível que seria mantido ao longo do próximo ano.

Os economistas Cassiana Fernandez e Vinicius Moreira, do J.P. Morgan, acreditam que, neste ano, a Selic encerrará em 4,50%, mas enfrentará um novo corte de 0,25 ponto percentual em fevereiro, encerrando a fase de acomodação monetária atual em 4,25%. “Um mês atrás, argumentamos que um ciclo de afrouxamento ainda mais profundo estava a caminho devido a condições globais e domésticas.

Nas últimas semanas, as condições se moveram ainda mais favoravelmente para uma flexibilização monetária do que o antecipado”, escreveram em relatório. Para o J.P. Morgan, contudo, o BC deve efetuar altas de 0,25 ponto percentual nas três últimas reuniões do Copom de 2020, o que levaria o juro básico a encerrar 2020 em 5%, “já que esperamos que o hiato do produto se feche, enquanto o núcleo da inflação deve ganhar um pouco de força”.

Pena, da Porto Seguro, argumenta que as perspectivas para a política monetária brasileira deverão acompanhar de perto os desenvolvimentos internacionais. Para ele, o BC “vive o mesmo drama que qualquer um de nós, com dificuldades em antecipar quais serão os próximos desdobramentos do conflito comercial entre Estados Unidos e China”, entre outros itens que afetam o ambiente externo. Para ele, um cenário de Selic a 4% em 2020 “está no campo do possível, mas ainda não está no campo do provável”, tendo em vista que “tudo depende do que irá acontecer lá fora”.

Hoje, os resultados do comércio varejista americano frustraram as estimativas do mercado e fizeram com que os rendimentos dos títulos públicos dos EUA se mantivessem em baixa. No fim da tarde, o yield da T-note de dez anos caía para 1,747%. Diante desse cenário de projeções, no fim da sessão regular desta quarta-feira (16), às 16h, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2020 caiu de 4,92%, no ajuste anterior, para 4,904%; a do DI para janeiro de 2021 cedeu de 4,61% para 4,54%; a do DI para janeiro de 2023 recuou de 5,63% para 5,53%; e a do contrato para janeiro de 2025 passou de 6,32% para 6,23%.

Nos cálculos da Quantitas, a curva a termo precifica 99% de chance de um corte de 0,50 ponto percentual na reunião de outubro do Copom e há 1% que precifica a possibilidade de a Selic ser cortada em 0,75 ponto no fim deste mês. “Não há muito prêmio na ponta curta da curva nos níveis atuais e mantemos em vigor nossa recomendação que aponta para um achatamento na curva dos DIs nos vértices de 2021 a 2025”, escreveu o estrategista Bertrand Delgado, do Société Générale.

Para o banco francês, o Copom deve dar prosseguimento ao ciclo de cortes na Selic, que chegaria a 4,50% no fim deste ano e se manteria nesses níveis ao menos até o primeiro trimestre de 2021. Na avaliação de Delgado, “a aprovação da reforma da Previdência e de mudanças tributárias, juntamente com privatizações, ajudaria a estabilizar a dinâmica da dívida e manteria as taxas de longo prazo atraentes”. Assim, o Société Générale aposta que a taxa do DI para janeiro de 2029 deve cair “ainda mais”. No fim da sessão regular desta quarta, o retorno desse contrato estava em 6,86%, ante 6,94%, no fim da tarde de terça (15).

 

Gestora do Itaú projeta Selic a 3,75% no final do ano que vem

A equipe econômica da gestora de ativos do banco Itaú, a Itaú Asset Management, cortou nesta quarta-feira (16) projeção para a taxa básica de juros no final de 2019 e também de 2020.

Para o final deste ano, a instituição reduziu a perspectiva para a Selic de 4,75% para 4%. Para o final do ano que vem a projeção caiu de 4,5% para 3,75%, de acordo com nota a clientes.

O prognóstico da área de gestão de recursos do maior banco privado do país, que já havia ajustado estimativa de 2019 no começo do mês (de 5% para 4,75%), vem poucos dias depois de a área de macroeconomia do banco revisar seu cenário.

A equipe do Itaú Unibanco comandada por Mario Mesquita divulgou na última segunda-feira (14) que espera que a Selic encerre 2019 a 4,5% e 2020 a 4%.

A Itaú Asset Management manteve as estimativas para o PIB (Produto Interno Bruto) deste ano, de crescimento de 1%, e para a taxa de câmbio no final de 2019, de R$ 4,10 por dólar; e para o IPCA, de 3,3%.

Para 2020, vê o PIB crescendo 3%, o dólar a 4,20 reais e o IPCA em 3,6%.

 

ESTADÃO

Secretário da Economia diz ter 'feeling' de que economia brasileira crescerá entre 2,5% e 3% em 2020

 Responsável pela área que faz as previsões oficiais do governo para o crescimento, o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, diz ter um "feeling" que a economia brasileira vai crescer entre 2,5% e 3% em 2020. A previsão oficial, no entanto, ainda continua em 2,17%. Entre os fatores que vão proporcionar essa expansão mais forte, segundo o secretário, estão os efeitos da reforma da Previdência e dos saques do FGTS, além da abertura comercial e do programa de privatizações.

Sachisida lança amanhã o documento  “Muito Além da Previdência: A economia nos primeiros nove meses do governo". No documento, a secretaria prevê que os modelos que estimam os efeitos de médio prazo das reformas (Previdência, tributária, liberação dos saques do FGTS, abertura comercial, privatizações e concessões) apontam resultados relevantes para o crescimento do PIB na próxima década. Começa em 2020, segundo o secretário, e vai se acelerar de forma sustentável para 3,5%.

O que é possível esperar de crescimento da economia?

O Brasil está numa encruzilhada. Temos duas opções, iremos avançar com as reformas ou não iremos avançar.  Caso o Brasil decida avançar, e eu acredito que o nosso governo veio para isso, podemos ter taxas de crescimento de longo prazo acima de 3% ao ano já a partir do ano que vem. Contudo, se nós não avançarmos na agenda de reformas, os estudos da SPE indicam que o crescimento sustentado de longo prazo da economia brasileira estaria entre 1% e 1,5% (ao ano). Essa é a escolha que nós queremos fazer. Quando falo de crescimento longo prazo nesses valores, não quer dizer que ano que vem vai crescer de 1% a 1,5%. Estou falando do crescimento de longo prazo. O ano que vem vai crescer mais.

Mais do que isso?

Eu acho que ano que vem vai ser muito mais que isso.  Na economia você tem tendências e ciclos.  Hoje, dadas as condições atuais da economia, acho que teremos surpresa positiva de crescimento no ano que vem. Acho que no ano que vem vai ser muito melhor do que alguns estão achando.

Por quê?

Percepção minha. Um “feeling”. É claro que quando eu escrevo as projeções da SPE eu não posso escrever meu feeling, tenho que colocar dados. E os nossos dados são 2,17% para o ano que vem. Mas quando você olha cenários, conjecturas e probabilidades de ocorrência de cenários, que eu não posso incluir nos relatórios, quando se permite olhar para frente, eu vislumbro um crescimento surpreendendo positivamente o mercado em 2020. Acho que boas notícias estão a caminho.

O seu “feeling” é baseado em que fatores?

Eu estou olhando para frente e sei que o FGTS vai dar resultado. Os dados mostraram? Ainda não, então não entra na conta. Da mesma maneira que não entra para o bem, não entra pra mal. Agora, se você me permite um “feeling”, e aí eu estou colocando meu nome na linha de tiro, um “feeling” que eu tenho é que o crescimento no ano que vem vai estar entre 2,5% e 3%. É um “feeling” que eu tenho baseado na medida (liberação) do FGTS, na redução das taxas de juros, no aumento da confiança, na queda do CDS (risco de calote do País), num amplo conjunto de medidas econômicas que estamos fazendo, que não maturaram ainda, mas vão começar a dar os resultados já a partir de setembro e vão se materializar de maneira muito clara a partir do ano que vem.

Há certa frustração com o emprego e a retomada do crescimento, não?

Exato, mas a retomada está mudando de figura. Passamos de 2006 a 2016 com a ideia de que a retomada tem que ser feita pelo governo. É o governo que tem que liderar a retomada, é o governo gastando dinheiro, é o crédito direcionado. Nós começamos agora uma agenda completamente distinta. É a economia pelo lado da oferta. Não é questão de demanda. Chega de o governo orientar recursos, chega de o governo ser o grande motor do crescimento, isso tá errado.

Críticos dizem que o saque do FGTS é uma medida keynesiana (de incentivo à demanda) envergonhada...

Envergonhada para alguns que não sabem teoria econômica. Quando você olha o problema, havia um claro problema de má alocação. Você tinha R$ 40 bilhões em excesso em um fundo. Esse dinheiro estava parado lá. Nós não olhamos e dissemos ‘vamos dinamizar a demanda’, não foi essa a medida. A medida foi ‘existe um problema de má alocação no FGTS, vamos corrigir’. Tiramos de um lugar menos eficiente e passamos para quem melhor sabe o que fazer com o dinheiro, que é o consumidor. Isso gerou um aumento da demanda para o consumidor, mas isso é decorrência da correção de um problema. Toda correção de má alocação gera aumento de demanda em algum lugar, porque você tira o recurso de onde ele era ineficiente e passa para onde ele é eficiente. Essa é uma medida claramente pelo lado da oferta. Me desculpem os críticos, até entendo as piadinhas, faz parte, mas a medida que foi desenhada, como ela está escrita, ela claramente é uma medida estrutural de oferta.

O sr. falou das reformas. Qual afinal vai ser a prioridade do governo após a Previdência? Mudou da tributária para administrativa?

A prioridade sempre foi a mesma: o pacto federativo. O que acontece é que ele engloba todas as outras reformas. Quando a gente fala de pacto, as pessoas associam muito rápido ao relacionamento do governo federal com governos estaduais e municipais.

Mas a reforma tributária não está no pacto federativo.

Agora não porque a Câmara começou o processo e nós tivemos que destacar. Mas originalmente estava a reforma tributária, a reforma administrativa... a agenda era realmente bem mais ampla. Agora, o pacto federativo engloba a reforma administrativa.

Qual é o diagnóstico dessa reforma administrativa?

Ela é fundamental. A reforma administrativa não é só uma questão econômica, é importante ressaltar isso. É uma questão moral. Será que é justo um País inteiro pagar R$ 15 mil, R$ 20 mil, para uma pessoa de 23 anos que acabou de sair da universidade e que não pode ser demitida? Isso é uma questão moral importante, não é uma brincadeira. Todo mundo tem parente, tem família. Há pessoas desempregadas. Tem pessoas com formação fortíssima, pessoal para ganhar R$ 10 mil, R$ 15 mil no setor privado é dificílimo. Será que é justo no primeiro emprego pagar isso? Tá errado.

O que esperar da reforma administrativa?

Tem que corrigir isso.  Vamos atacar é a questão do salário de entrada do funcionalismo público que é extremamente alto. No passado, havia concursos públicos em que jovens de 23 anos, sem experiência nenhuma, entravam ganhando R$ 15 mil, R$ 20 mil.  Contratar um jovem sem experiência por esse valor é algo complicado. Gastou-se muito dinheiro ali. Como se corrige? Não corrige. Já tem estabilidade, direito adquirido. 

Como vai resolver?

Vamos mexer para que no futuro os próximos que entrarem sigam o que é correto. Entrar com um salário menor. À medida que vai se desenvolvendo, vai ganhando produtividade, e o salário vai aumentando. Não dá para um funcionário entrar numa empresa e cinco anos depois estar no topo da carreira. Está errado.  É necessário que o salário inicial seja compatível com as condições de mercado. Nenhuma empresa do setor privado paga R$ 15 mil para um jovem sem experiência.  Por que o setor público deveria fazer isso?

Mas há uma avaliação de que para as carreiras de Estado a maioria que entra não é a pessoa que recém saiu da universidade...

Não discordo. Mas o que eu quero dizer é que o salário é igual para todo mundo. Tanto o cara com mais experiência vai receber mais, como uma com menos. São essas distorções de quem se revistas. De maneira nenhuma se discorda que pessoas mais produtivas têm que ganhar mais.

Mas reduzindo o salário de entrada o profissional mais experiente e qualificado será atraído?

O Brasil é um país de renda média.  Tirando em Brasília, onde se acha que ganhar R$ 10  mil por mês é pouco, no resto do País é um salário para lá de razoável. Não é fácil ganhar R$ 10 mil. Brasília nos ilude.  Está no topo salarial do Brasil.

E a estabilidade? Tem muita gente que não quer mudar isso...

Muita gente quer mudar o paradigma atual. Questões honestas. Você vê vários servidores públicos encarando questões importantes. Boa parte da minha equipe é de funcionário público, e todos eles defenderam a reforma da Previdência, mesmo indo contra interesses deles. Da mesma maneira, vemos funcionários públicos, como eu, falando que tem coisas que estão erradas, que têm que mudar, mesmo que isso custe salário, bem-estar para mim. Está errado ficar impondo isso ao resto da sociedade. Agora, nós estamos numa democracia, temos que fazer isso passo a passo.

A reforma tributária vai sair?

Está andando. Tenho duas áreas trabalhando nela. Agora, acho que as pessoas têm pouca percepção sobre o desafio que é isso. Ah, vamos fazer um IVA federal, que é o texto que escrevemos no Ipea. (Dizem) Ah, juntar PIS e Cofins é pouco. Se é pouco, por que ninguém fez? Me explica isso! Já que é tão fácil e tão pouco, eu gostaria que alguém me explicasse por que alguém há dez anos não fez isso. Porque não é pouco, é dificílimo fazer isso. Quando você fala em juntar tributos, caminhar para um novo sistema, você tem que lembrar que as empresas hoje vão ter que mudar junto.

Alguns setores como construção têm regime especial de tributo.

É, e aí você vai mudar tudo? Não pode ser feito assim. Isso tem que ser feito passo a passo, com muita cautela. Tem várias questões. O que estamos fazendo é propor algo passo a passo, na direção correta.

Vai ser então primeiro só PIS/Cofins, sem Imposto de Renda?

Tem muita coisa sendo estudada. Agora, aqui é uma opinião minha, não é decisão do Ministério. Me parece muito arriscado mandar muita coisa ao mesmo tempo na área tributária. Não só você corre o risco de não avançar, mas estamos falando aqui de empregos, investimento. O empresário precisa de previsibilidade, saber exatamente o que vai acontecer numa linha de futuro. É por isso que é importante a prudência. As coisas têm que ser sinalizadas com muita antecedência. Isso vale para PIS/Cofins, para Imposto de Renda. A linha mestra da reforma tributária é o extremo cuidado que nós estamos tendo com a previsibilidade.

O que podemos esperar do crédito?

O crédito para família e para empresa está aumentando, 12%, é o maior crescimento da série história. Está acontecendo algo que poucos estão notando, está mudando o mix do crescimento econômico. Antes tinha um modelo orientado pelo governo e passou a ser crescimento econômico orientado pelo mercado. É por isso que houve essa demora, você mudou a composição do crescimento. Hoje é orientado pela eficiência.

Onde se vê isso nos dados?

A redução do crédito público, do tamanho dos bancos públicos. Crédito direcionado caiu, crédito de bancos públicos caiu. Isso tá fazendo que você deixe de ter muito governo na economia e passe a ter mais setor privado. Está tendo uma substituição do governo pelo mercado. Agora o dinheiro está indo para onde ele é mais eficiente.

A secretaria apresenta um estudo sobre as principais medidas econômicas em sete meses.  Elas não têm aparecido?

Isso não é uma peça propaganda do governo.  É uma peça de informação à sociedade que foi feita. Temos uma agenda que está muito além da previdência. A gente fala muito de previdência porque é uma reforma tão grande que acaba sendo o grande centro. Existe um amplo rol de outras medidas que foram executadas. Foram identificados dois problemas  econômicos seríssimos na economia. A nossa agenda foi baseada nisso. O problema urgente que é a situação fiscal e a produtividade baixa.

Mas a agenda do governo  é criticada por deixar de lado a pobreza?

De jeito nenhum. Desde a época da campanha, Paulo Guedes avisa: Chicago é liberalismo e fraternidade.  De maneira alguma, os pobres foram deixados de lado. Pelo contrário, mostramos no documento é que as políticas passadas pioraram e muito  a situação dos pobres. Por exemplo, pega a taxa de desemprego no Nordeste e compara com o resto do Brasil. Estamos falando de governos sociais, democráticos, que ficaram mais de 20 anos no poder e,  quando se olha a taxa de desemprego no Nordeste, não é que ele é acima do resto do Brasil, ela é muito acima. O Nordeste, na média, tem os Estados mais pobres. Como é que essa política ajudou os pobres, se duas décadas o desemprego continua mais alto lá?

Qual o lado social do governo?

O  lado social desse governo estamos fazendo.  Foi anunciado o 13º do Bolsa Família. É medida concreta. Esse é um instrumento direto de melhorar o programa de maior sucesso, na minha opinião e de todos os especialistas, de combate à pobreza. Um grande mérito dos governos passados. Esse governo mostra que as boas ideias nós estamos mantendo. Agora, queremos melhorá-lo. É um programa que focaliza muito bem.

O 13º será renovado no ano que vem?

Vai ter. O que acontece é que tem espaços burocráticos para colocar isso no Orçamento. Por exemplo, estamos reescrevendo a lei orçamentária que será mandada de novo.  Me parece que é um política permanente. Essa parte social do governo é importante.

Focar mais o  programa Bolsa Família vai ajudar a melhorar o programa e reduzir a desigualdade?

Creio que sim. Me parece que o Bolsa é uma resposta que existe hoje e que temos que usá-la.

Onde o Ministério da Economia pode melhorar o lado social?

Temos que achar espaço orçamentário. O Bolsa Família é um exemplo disso. É trabalhar para que tenha uma chance para os mais pobres. Temos que melhorar isso. É importante esse apoio que a Economia dá tentando arrumar recursos.

Com o teto dos gastos é possível achar esse espaço?

Claro que é. Daí o nosso esforço de mostrar como é importante desvincular e tomar medidas que diminuam os gastos obrigatórios (pessoal e Previdência, por exemplo). O ministro Paulo Guedes diz que não podemos desperdiçar uma crise. Estamos alinhando medidas de liberar o teto de gastos (mecanismo que proíbe que as despesas cresçam em ritmo superior à inflação) com medidas economicamente corretas.

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O SINDUSCON/RN tem o compromisso com a satisfação do cliente - a comunidade da construção civil do Rio Grande do Norte - representada por seus associados - priorizando a transparência na sua relação com a sociedade, atendimento aos requisitos, a responsabilidade socioeconômica, a preservação do meio ambiente e a melhoria contínua.

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