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Recuperação da economia demanda persistência nas reformas, diz Ilan
É preciso ter persistência nas reformas e, assim, combater privilégios e retirar distorções na economia para manter a perspectiva de recuperação da economia, diz Ilan Goldfajn, ex-presidente do Banco Central (BC) e atual presidente do conselho do Credit Suisse no Brasil. Ele destaca que, enquanto a mediana das estimativas do mercado para crescimento da economia brasileira em 2020 está em 2% pela pesquisa semanal Focus, o Credit Suisse projeta 2,5%.
Ilan comentou que o país passou por vários desafios que conseguiu ultrapassar, como planos econômicos, hiperinflação e negociação da dívida externa. Hoje, nota, o país está diante de uma nova realidade.
Um dos grandes desafios do Banco Central, lembra, eram os juros altos. Agora, ressaltou, o Brasil entrará num período de taxas estruturalmente mais baixas, com projeção de juro real de 1% no curto prazo e de 3% no longo prazo. “Isso pode cair ou subir, mas a faixa é muito diferente da do passado.”
O quadro com juros baixos, observa o ex-presidente do BC, significa um desafio para o sistema financeiro. “É uma revolução, muda tudo.” Os juros baixos, avalia, mudam a necessidade de subsídios para crédito direcional e há demanda para quem olha para ativos reais, como fundos de investimento e de infraestrutura.
Os ativos reais, diz, vão gerar uma linha para o crescimento. Mas, pondera, há ventos contrários. Além da questão fiscal, tributária e de alto endividamento, nos últimos dois a três anos, a recuperação econômica foi afetada por fatores como a greve de caminhoneiros em 2018 e a crise argentina.
Em 2019, diz Ilan, existe “vento contra mundial”, com desafios comerciais e a crise entre Estados Unidos e China. Isso afeta o Brasil, diz ele, considerando a exportação do país para a China. Foram vários fatores que pressionaram o crescimento para baixo, diz ele, para quem, a despeito disso, há perspectiva de crescimento para o país. Ilan participa do 12º Encontro de Líderes da Comunitas em São Paulo.
Demanda fraca e excesso de dívida travam cenário global
O mundo desenvolvido deve seguir em trajetória de baixo crescimento, num ambiente marcado por insuficiência crônica de demanda e excesso de endividamento público e privado. Mudanças estruturais nos países avançados e a perda da eficácia dos instrumentos de política monetária para estimular a atividade apontam para um cenário econômico mais fraco, ainda que uma recessão pareça pouco provável, apontam os economistas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). Nesse quadro, o Brasil terá de encontrar sozinho os motores para acelerar a mais lenta retomada já registrada após uma crise, por não poder contar com a ajuda da “mão externa”, avaliam.
Na visão de José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV, as economias desenvolvidas se encontram em uma encruzilhada ao tentar encontrar soluções para um duplo desafio: as forças da “estagnação secular” e o alto endividamento do setor privado não financeiro. “Temos um problema de fraqueza crônica de demanda. Sem resolver isso, o mundo não vai sair desse estado de desaceleração”, afirmou Senna, durante debate no Valor.
Em 2013, o ex-secretário do Tesouro dos EUA Lawrence Summers apresentou a hipótese da estagnação secular para tratar do baixo crescimento das economias desenvolvidas. Ela se caracteriza pela fraqueza da demanda agregada, observa Senna. “Não haveria juro real [descontada a inflação] positivo capaz de equilibrar poupança e investimento no pleno emprego”, diz o economista do Ibre. Nas palavras do próprio Summers, a essência da estagnação secular é uma sobra de poupança não efetivamente canalizada para o investimento.
Segundo Senna, as forças da estagnação secular causam uma queda dos juros neutros, aqueles que permitem a economia crescer sem pressões inflacionárias. A mudança demográfica, com o aumento da expectativa de vida, leva as pessoas a poupar mais.
Senna também lista fatores que afetam o investimento, como a percepção de baixo crescimento potencial no futuro, devido ao lento avanço da produtividade, e o uso de tecnologia, que derruba os preços de bens de capital.
Além disso, projetos modernos são pouco intensivos em capital. A queda dos juros intensificou-se após a crise financeira global de 2008. A resposta dos países avançados apoiou-se principalmente na política monetária. Os bancos centrais baixaram agressivamente os juros e promoveram o chamado afrouxamento quantitativo (QE, na sigla em inglês, a compra maciça de ativos financeiros, para manter baixas as taxas de longo prazo).
Os juros menores ou negativos forçam as famílias a poupar ainda mais para garantir um mesmo patamar de renda para um período de aposentadoria cada vez mais longo em comparação com a idade ativa de trabalho - deprimindo ainda mais o consumo. Essa política também permitiu que o setor privado se endividasse cada vez mais, alimentando os receios sobre novas crises.
Senna pondera que o alto endividamento das empresas é um movimento que foi só acentuado após os principais bancos centrais despejarem recursos para socorrer as grandes companhias. De 2008 a 2018, a dívida das companhias não financeiras subiu de 242% para 267% do Produto Interno Bruto (PIB) dos países desenvolvidos. Mas duas décadas atrás esse número já equivalia a 205%. Logo, o temor é que esse fenômeno tem sido contínuo e sem sinais de reversão.
Como resultado, a relação entre dívida pública e PIB dos países desenvolvidos também aumentou desde a crise, de 78% para 103% do PIB em 2018, um desestímulo para que os governos ampliem o gasto com investimento.
Para Armando Castelar, coordenador de Economia Aplicada do Ibre/FGV, há ainda um desdobramento extra que reforça o crescimento lento. “Juro baixo e muito crédito para empresas baixam o aumento da produtividade porque você está financiando muitas empresas que já deveriam ter quebrado”, afirma.
Segundo Senna, a armadilha em que se encontram os países desenvolvidos ocorre porque os fenômenos se retroalimentam. Com consumo e investimentos em queda ou estagnados, as perspectivas de inflação permanecem baixas. Como os BCs globais já operam com juro próximo ou igual a zero, ou ainda negativo, há pouco a fazer para quebrar este ciclo. Neste cenário, empresários e famílias tornam-se ainda mais avessos a gastar.
“Nas circunstâncias de hoje, a política monetária está perdendo ou já perdeu a capacidade de estimular a economia”, diz ele. Para Luiz Guilherme Schymura, diretor do Ibre/FGV, a evolução das taxas nominais dos títulos de dez anos de Alemanha, EUA, Japão e Reino Unido atesta que o excesso de poupança no mundo é algo sistemático. “Agora, de 2018 para cá, há um sinal claro da ação dessa política monetária mais ativa”, diz ele.
Segundo Castelar, a falta de mecanismos para conter eventuais novas crises é uma preocupação crescente. “Os BCs estão se colocando num ‘córner’. Com esse endividamento alto, qualquer desaceleração pode levar a uma quebradeira geral”, afirma.
Segundo Senna, é nesse contexto em que se começa a discutir opções para reverter esse quadro. “O que não foi tentado ainda, pelo menos de modo explícito, é algo mais potente, que é misturar políticas fiscal e monetária.” Segundo ele, economistas e banqueiros centrais rejeitam a ideia já de largada pelos riscos de que a inflação suba além do previsto e que ocorra perda de credibilidade institucional. “A maior parte das pessoas morre de medo de cooperação entre banco central e a autoridade fiscal”, diz.
Para Castelar, seria preciso delimitar com cuidado como isso seria feito para evitar ruídos. “Essa política não acabaria com o BC dando dinheiro para o Tesouro, seria uma combinação entre ambas”, afirma. O saldo final para o Brasil, afirma Senna, é pessimista. “Não tem possibilidade de a mão externa aparecer tão cedo. Falta demanda aqui também e temos de nos arrumar com reformas. Uma saída externa via exportação, que é sempre um negócio interessante, não deve ocorrer”, afirma.
Apesar de pintar um quadro externo delicado, Senna não vê uma recessão global, avaliando que deve ocorrer uma perda de fôlego da atividade mundial. De acordo com ele, dos anos 1980 para cá, desacelerações fortes ou recessões vieram de choques monetários (alta de juros), crises financeiras ou uma combinação desses dois fatores.
“Há uma ausência de sinais desse tipo”, diz o economista, embora ressalte que a possibilidade de uma recessão não possa ser totalmente descartada. Segundo ele, trata-se de um desdobramento de um “processo já crônico em que se meteu o mundo” desde a crise financeira global, marcado por crescimento, inflação e juros baixos.
PIB fraco ameaça reformas, diz diretor da Eurasia
O cenário para o Brasil tem ficado mais favorável a partir da premissa de que a agenda de reformas terá continuidade, mas a permanência de um ambiente de fraco crescimento pode colocar tudo a perder, avalia Christopher Garman, diretor para Américas da consultoria Eurasia. O consultor tem olhado com lupa as projeções para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro para o próximo ano.
Em evento com clientes do Citi sobre sua visão para o país realizado na sexta-feira e ao qual o Valor teve acesso exclusivo, Garman lembrou que já houve grande frustração com o ritmo de recuperação da atividade neste ano. Nesse sentido, as estimativas de expansão ao redor de 2% para o PIB em 2020, mesmo sendo modestas, representam, segundo ele, uma luz no fim do túnel. E a principal preocupação política em relação ao Brasil no momento é que essa perspectiva não se concretize. “O ponto é que, se estivermos em um equilíbrio de menor crescimento, isso terá consequências políticas”, afirmou.
Em seu cenário principal, Garman considera que, mesmo sem conseguir formar uma ampla maioria no Congresso, o governo Jair Bolsonaro deve ter apoio dos parlamentares para sua plataforma reformista, que vai prosseguir após a aprovação da reforma da Previdência.
Após ter estado recentemente em Brasília e se encontrado com integrantes do Ministério da Economia, o cientista político afirmou estar convencido de que em breve será encaminhada uma nova rodada de propostas, que englobam três temas: a mudança do pacto federativo, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 438, que endurece gatilhos no caso de descumprimento da “regra de ouro” (que impede o endividamento para pagar despesas correntes), e, por fim, uma reforma administrativa. Já a proposta de reforma tributária do governo deve ser apresentada até o fim deste ano.
A lógica que levou à votação bem-sucedida da reforma previdenciária no Congresso - na qual o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) teve papel relevante - dificilmente será a mesma para o próximo ciclo de reformas, ponderou Garman. Mesmo assim, ele avalia que governo terá o apoio necessário para prosseguir com sua agenda, uma vez que os líderes partidários também têm interesse na aprovação das medidas que prometem melhorar o ambiente de negócios.
“Eles vão poder se apropriar de parte dos ganhos dessa agenda.” Por isso, a aceleração do crescimento no próximo ano adquiriu importância política: o ganho de ritmo econômico será considerado por deputados e senadores como um sinal de que as medidas do governo caminham na direção correta, explicou Garman. “O risco é como as lideranças no Congresso podem reagir a um equilíbrio de crescimento mais baixo do que o esperado, combinado a um ambiente de insatisfação popular”, disse.
Se uma nova frustração com o desempenho do PIB provocar um “minipânico” na classe política - que hoje é muito mais sensível à opinião pública -, os parlamentares poderão adotar uma postura contrária à do governo nas votações, o que levaria a um círculo vicioso, reforçando o ambiente de baixo crescimento, afirmou o consultor.
Nesse cenário mais pessimista, podem ser aprovadas propostas como a PEC que eleva a participação da União no financiamento do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), além de um eventual relaxamento do teto de gastos sem uma reforma mais profunda das despesas obrigatórias, observou Garman. “Essas medidas são passos para trás na agenda fiscal, num contexto que o ajuste fiscal está ainda incompleto. A reação do mercado pode ser ruim”, disse.
Outra preocupação da consultoria está na capacidade de execução do governo em um ambiente de opinião pública desafiadora e sem base parlamentar no Congresso, disse. O cientista político ressaltou, porém, que a Eurasia atribui maior probabilidade ao cenário mais positivo, no qual as reformas vão desencadear um “círculo virtuoso”.
Para que essa hipótese seja confirmada, os próximos dez meses serão cruciais, apontou o consultor e, por isso, a agenda de reformas não pode mais ser adiada. “Se o Congresso der um passo atrás, o mercado vai reagir negativamente e teremos uma segunda metade do governo difícil”.
Próxima crise requer coordenação fiscal e monetária, diz BlackRock
Uma coordenação sem precedentes entre a política monetária e a política fiscal será necessária para responder à próxima piora mais acentuada da economia, aponta um estudo recente do BlackRock Investment Institute. Em relatório, os analistas defendem o uso de um mecanismo fiscal com financiamento monetário, para atingir um objetivo de inflação explícito. Ligado à gigante da gestão de recursos BlackRock, o instituto tem como consultor-sênior Stanley Fischer, ex-presidente do banco central de Israel e ex-vice-presidente do Federal Reserve (Fed, o BC americano).
Fischer é um dos autores do relatório, que aparece num cenário em que se discute o esgotamento da política monetária para estimular a atividade econômica nos países desenvolvidos. Demanda fraca e excesso de dívida travam cenário global Incerteza mundial inibe crescimento mais forte
Na visão dos economistas do instituto BlackRock, o atual espaço para os bancos centrais globais agirem é limitado, não sendo suficiente para responder a uma desaceleração significativa da economia - muito menos para uma eventual piora mais dramática. A política monetária convencional e a não convencional (como a compra maciça de títulos públicos e privados) funcionam principalmente pelo impacto estimulativo de juros de curto e longo prazo mais baixos.
É um canal quase exaurido, uma vez que um terço dos títulos públicos de países dos mercados desenvolvidos e do universo de grau de investimento já oferecem hoje taxas negativas. A política fiscal, por sua vez, deve ter um papel mais atuante, mas é improvável que seja efetiva por si só, diz o estudo.
O ambiente de juros baixos cria um espaço maior nas contas públicas, mas o instrumento fiscal em geral não é ágil o suficiente, de acordo com os autores, que destacam os níveis elevados de endividamento público. “Uma resposta sem precedentes é necessária quando a política monetária está exaurida e a política fiscal sozinha não é suficiente”, reitera o estudo.
A resposta, segundo os autores, tende a envolver alguma ação direta. Para eles, isso significa o banco central encontrar meios de levar dinheiro diretamente às mãos de quem gaste os recursos, tanto no setor público quanto no setor privado. Uma forma extrema de agir diretamente seria um “financiamento monetário explícito e permanente de uma expansão fiscal, o chamado ‘dinheiro de helicóptero’”, diz o estudo.
Para os autores, um financiamento monetário em tamanho suficiente levará ao aumento da inflação - nesse caso, algo desejável. No entanto, é importante haver limites claros para o mecanismo, sob o risco de minar a credibilidade institucional e levar a gastos públicos descontrolados. Um arranjo prático de ação direta, segundo eles, precisa incluir quatro pontos. Primeiro, a definição das circunstâncias incomuns que exigiriam essa coordenação também incomum entre políticas.
O segundo é que tanto a autoridade monetária quanto a fiscal devem ter responsabilidade por atingir o objetivo de inflação explícito. É necessário ainda que o mecanismo permita o emprego ágil da política fiscal e, por fim, que haja uma estratégia clara de saída. O arranjo seria permanente, mas usado apenas em momentos de exaustão da política monetária e quando a inflação tendesse a ficar sistematicamente abaixo da meta.
Os economistas dizem ainda que a ideia é totalmente diferente do que propõem os defensores da teoria monetária moderna (MMT, na sigla em inglês). “Eles advogam o uso do financiamento monetário na maioria das circunstâncias e minimizam qualquer impacto sobre a inflação. A nossa proposta é para uma coordenação incomum da política monetária e da política fiscal para uma situação incomum - uma armadilha de liquidez - com um ponto de saída pré-definido e um objetivo de inflação explícito.” o estudo aponta as opções de uso do mecanismo para as principais economias mundo desenvolvido, analisando as opções nos EUA, na zona do euro, no Japão e no Reino Unido.
ESTADÃO
O que espera o mercado financeiro na virada do mês
O mercado financeiro chega à última semana de outubro, que termina na próxima quinta-feira, à espera de novidades que encorajem os investidores a assumir posições mais firmes no mercado financeiro, especialmente nos segmentos de ações e de dólar, depois que a reforma da Previdência Social ficou para trás.
A expectativa se volta agora às novas propostas econômicas, formuladas pelo ministério comandado por Paulo Guedes, que reforcem a perspectiva de ajuste gradual das contas públicas, sinalizada pela aprovação da reforma previdenciária, e de retomada do crescimento econômico.
Enquanto as novidades não vêm, investidores têm promovido vendas nos mercados de ações e de dólar para embolsar lucros obtidos com as recentes altas. A Bolsa de Valores de São Paulo ou B3 chegou a flertar os 108 mil pontos, após romper a linha dos 107 mil pontos, mas não resistiu às vendas. Ainda assim, fechou a semana com valorização de 2,52%, com o Ibovespa (principal índice de referência da B3) acomodado em 107.363,77 pontos. Com alta acumulada de 2,50% no mês, até agora, a bolsa de valores é a aplicação mais rentável de outubro.
À espera de fatos novos na economia doméstica, os investidores em bolsa acompanham a divulgação da safra de balanços trimestrais das empresas atentos também ao cenário internacional. O sentimento de que a tensão comercial entre Estados Unidos e China diminuiu, com a aparentemente negociação bem-sucedida da primeira parte de um acordo, ditou também um tom mais otimista ao mercado.
Foi o que ajudou a tirar a sustentação do dólar, que sucumbiu também à expectativa de forte ingresso de dólares com o megaleilão de petróleo do pré-sal previsto para o início de novembro. A cotação da moeda americana, que orbitou boa parte do mês ao redor de R$ 4,10, fechou a sexta-feira testando a mínima de R$ 4,00.
O gerente de Tesouraria do Travelex Bank, Felipe Pellegrini, atribui a queda mais forte do dólar nos últimos dias a um cenário que combina três fatores: a perspectiva de um acordo preliminar na disputa comercial entre EUA e China, a conclusão da reforma previdenciária que, embora já estivesse incorporada nos preços, reforçou o otimismo dos investidores, e a expectativa de entrada de dólares, com volume estimado em torno de R$ 50 bilhões, com o leilão da chamada cessão onerosa do petróleo extraído do pré-sal.
Pellegrini diz que investidores estão se antecipando à chegada desse fluxo de capitais, uma pressão de baixa que tende a aproximar a cotação do dólar mais de R$ 3,90 do que levá-la de volta a R$ 4,10. É possível, portanto, esperar por novas baixas da moeda americana nos próximos dias.
Depois de recuar momentaneamente para R$ 3,99 na sexta-feira, o dólar encerrou a semana cotado por R$ 4,00, com desvalorização acumulada de 2,67% no período e de 3,51% no mês, até o momento.
O gerente de Tesouraria do Travelex Bank não acredita que o aumento de tensão política na Argentina, com a vitória do candidato oposicionista nas eleições presidenciais deste domingo, e no Chile, pelos crescentes protestos contra o governo de Sebastián Piñera, venha a provocar instabilidade e alta das cotações no mercado de câmbio por aqui. Pelo menos no curto prazo.
Nova Selic
Na próxima quarta, dia 30, deverá ser anunciada a nova Selic, a taxa básica da economia. Analistas e investidores do mercado financeiro se antecipam e já cravam novo corte de 0,50 ponto e, salvo surpresa, deve ser arredondada para 5% ao ano.
Pelo andar da carruagem de expectativas sobre a inflação e perspectivas para a economia, que não dá sinais de ganhar tração, o ciclo de cortes na Selic deve ser estendido até dezembro. Ou mais, até a virada de 2020.
Para a última do Copom este ano, a ser realizada nos dias 3 e 4 de dezembro, já está no radar do mercado financeiro mais uma redução de 0,50. A última edição do boletim Focus, elaborado com dados de economistas e consultores do mercado coletados pelo Banco Central, aponta que a taxa Selic estimada para o fim de 2019 está 4,50% – um ponto porcentual menor que a taxa corrente, de 5,50%.
As projeções dos juros futuros também estão em linha com o Focus. O mercado futuro de juros da B3, onde são negociados contratos que se baseiam em estimativas de juros para os próximos meses, prevê uma queda perto de um ponto porcentual da Selic ainda este ano, o que derrubaria mesmo a taxa para 4,50%.
Melhora em crédito e em emprego faz mercado rever projeção do PIB
No início do ano, a chegada de um novo governo, de orientação claramente liberal na economia, trouxe uma onda de otimismo, e os analistas previam um crescimento do PIB de 2,5% em 2019. Esse otimismo não durou muito. As dificuldades políticas, a falta de confiança de investidores e empresários e as adversidades externas foram minando as expectativas, e as projeções para o PIB caíram abaixo de 1%. Agora, porém, esse quadro parece que começa a mudar mais uma vez.
A melhora em alguns indicadores importantes, como criação de empregos e aumento no crédito, vem transformando o humor dos analistas. Há duas semanas, o Itaú, por exemplo, elevou sua estimativa de crescimento da economia este ano de 0,8% para 1% – havia pelo menos três anos que o banco não elevava o número projetado.
Também no começo deste mês, o Safra alterou sua projeção de 0,8% para 0,9%. “Pode parecer pouco, mas é uma diferença significativa. No fim de julho, esperávamos 0,8%, mas achávamos que podia ser até 0,5%. Agora, temos 0,9%, mas pode ser mais que isso”, diz o economista-chefe do banco, Carlos Kawall. Votorantim e Bank of America também dão sinais de que reverão seus números para cima. Hoje, eles têm 0,7% e 0,8%, respectivamente.
O Boletim Focus, elaborado pelo Banco Central e que reúne projeções de bancos e consultorias, indica que o mercado estima alta de 0,88% para 2019. Em agosto, a previsão era 0,8%. Os números mostram que, embora ainda distante de uma arrancada forte, a economia pode estar começando a ganhar tração.
Motores. Um dos indicadores que mostram isso é o de empregos. Os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) apontam que o saldo de vagas formais no País foi positivo por seis meses consecutivos. No acumulado do ano, são 761,7 mil vagas criadas. Segundo cálculos das instituições, uma alta de 2% no PIB é compatível com a criação de até 900 mil postos de trabalho formal no ano.
Para o economista Luka Barbosa, do Itaú, outro indicador importante de que a economia está mais forte é a concessão de crédito para pessoa física, que cresceu 14% nos últimos 12 meses. Essa alta tem permitido um avanço no comércio e deve se espalhar pela economia. “É questão de tempo para outros dados, como a indústria, indicarem melhora”, afirma.
Economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif também afirma que o crédito tem sido o responsável por alavancar a economia. “Setores ligados ao crédito têm puxado a melhora e o mercado de trabalho, incluindo a construção civil. Tudo ainda muito lento, mas melhorando”, pondera.
A XP aposta em um crescimento do PIB de 0,9% neste ano. Para Zeina, a liberação do FGTS também deve ajudar o PIB a avançar um pouco mais, dependendo de quanto os trabalhadores destinarem de seus saques para o consumo. A economista, no entanto, não se anima a mudar sua projeção. “Confesso que tenho um certo medo.”
Embora haja bancos e consultorias oficializando números maiores para a economia, há mesmo, ainda, uma certa relutância nesse movimento. O chefe de economia e estratégia do Bank of America no Brasil, David Beker, diz que erros cometidos pelos economistas nos últimos anos, com previsões de crescimento que não se confirmaram, deixaram os analistas com receio de rever seus dados para cima. “O mercado está cético. Tem medo de errar de novo.”
A economista Silvia Matos, do Ibre/FGV, também destaca o papel do FGTS para movimentar a economia. “Antes da notícia da liberação, prevíamos um aumento de 1,8% no consumo, agora vemos 2%, podendo ser melhor porque o governo antecipou os saques.”
Como Zeina, Silvia também mantém sua previsão para o crescimento do PIB, de 1,1%. “Nunca achei que seria menos de 1%. Mas também não revejo para cima porque pode haver algum choque.”
Relação PIB e emprego. Um dos fatores que levaram o Itaú a projetar um PIB maior neste ano foi o saldo positivo de vagas formais nos últimos dois meses: 121 mil em agosto e 157 mil em setembro. Nos dois meses anteriores, o número havia ficado na casa dos 40 mil. Se conseguir manter uma média de 50 mil vagas com carteira assinada por mês em 2020 – ou 600 mil durante o ano –, o Brasil deve ter um PIB de 2%. Segundo pesquisa do banco, caso o ritmo do mercado de trabalho fosse de 20 mil postos por mês, o PIB ficaria ao redor de 0,8%.
A economista Silvia Matos, do Ibre, tem um cálculo um pouco mais otimista. Segundo ela, um PIB de 2% é compatível com a criação de 900 mil vagas formais. Estudos do Banco Votorantim, por sua vez, apontam que um crescimento de 1% ao ano na economia brasileira pode significar um milhão de vagas a mais. Nessa conta, porém, também são contabilizados empregos informais.
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