VALOR
País deve crescer entre 2% e 2,5% em 2020, diz Guedes
O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou ontem que a economia brasileira já voltou a crescer e o ritmo deve acelerar entre este e o próximo ano, num ciclo mais autossustentável. Segundo Guedes, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve avançar entre 2% e 2,5% em 2020, mais do que o dobro da taxa a ser observada em 2019.
Comparando a economia brasileira a uma baleia ferida, o ministro disse que o governo está “tirando os arpões e ela está voltando a se mexer”. Enquanto a agenda de reformas dará sentido de consolidação ao regime fiscal, a economia já está crescendo mais do que antes e deve acelerar ainda mais, afirmou.
Com os “descaminhos” produzidos pelo passado de descontrole de gastos, é ingenuidade achar que o Brasil vai passar a crescer a taxas mais robustas, entre 4% e 5%, da noite para o dia, mas o crescimento já está voltando, ponderou.
Guedes falou ontem no Estadão Summit, evento do qual participou num painel com outros economistas, em São Paulo. Ao mesmo tempo, a taxa neutra de juros da economia brasileira, que permite que a atividade cresça sem pressionar a inflação, também é mais baixa do que no passado recente, o que, por consequência, reduz as despesas do governo com os juros da dívida, acrescentou o ministro. “Teremos um círculo virtuoso”, comentou, respondendo pergunta sobre quando a economia vai voltar a crescer.
Do lado fiscal, a reforma da Previdência coloca a principal despesa do governo federal sob controle, acrescentou. De acordo com Guedes, pela primeira vez em oito anos, a aceleração da atividade econômica no país é “autossustentável”, e não induzida pelo Estado. Mesmo a liberação de saques de contas ativas e inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e a criação do saque-aniversário, na visão do ministro, foram um “empurrãozinho autossustentável”. “Foi criado um 14º salário permanente. Tem muita coisa andando e acho que vamos sentir já, já o bafo da recuperação econômica”, reforçou.
O ministro mencionou novamente o esperado choque de “energia barata” que vai decorrer da quebra de monopólio de exploração de gás, que, em sua avaliação, vai trazer reindustrialização ao país. Ainda no setor de infraestrutura, citou a MP do Saneamento, que deve resultar em uma nova onda de investimentos no setor. “A privatização vai trazer saneamento para cidades brasileiras.”
Guedes ainda buscou minimizar eventuais repercussões de vídeo postado pelo presidente Jair Bolsonaro nesta semana, em que o mandatário se compara a um leão atacado por hienas - que seriam partidos políticos (PT, PSDB, PDT e PSL), a Organização das Nações Unidas (ONU), o Supremo Tribunal Federal (STF) e veículos de imprensa. Para o ministro, é preciso diferenciar a forma do conteúdo das falas presidenciais.
“O presidente às vezes é desafortunado em sua forma de expressão, mas gostaria de ver como alguém reagiria ao bombardeio que esse homem é submetido há dois ou três anos.” O ministro afirmou que o ruído provocado por essas e outras declarações é “perturbador”, mas se disse conformado com esse estilo. “O presidente não muda”, disse ele, ressaltando que deveria existir respeito maior entre o presidente e seus interlocutores.
Para o ministro, também não é possível comparar a situação do Brasil com a do Chile, que adotou o mesmo receituário liberal nas últimas décadas que é agora bandeira do governo brasileiro e hoje enfrenta pressão popular em protestos históricos. “Como negar 30 anos de acerto no Chile por que houve uma manifestação?”
Na sexta-feira, a capital chilena, Santiago, foi palco de protestos que reuniu 1,2 milhão segundo a mídia local, os maiores desde a redemocratização no país sul-americano. Guedes voltou a dizer que, apesar da ênfase do Estado brasileiro na questão social nos últimos 30 anos, houve falhas na condução dessa política.
“As legítimas aspirações sociais pedem solidariedade, mas chegamos em outro extremo que está tudo carimbado”, disse o ministro. Segundo ele, o erro foi ter “lançado os cobertores na área social” sem privatizar e transformar o Estado. “Vamos privatizar e abrir o investimento para o setor privado.”
Copom faz terceiro corte na Selic e taxa vai a 5%
O Comitê de Política Monetária (Copom) cortou nesta quarta-feira a taxa básica de juros de 5,5% ao ano para 5%, em linha com a expectativa dos economistas de mercado. Foi a terceira queda consecutiva, levando a Selic para nova mínima histórica.
No comunicado que anunciou a decisão, o Banco Central (BC) destaca que os “indicadores de atividade econômica” divulgados desde a reunião anterior reforçam a continuidade do processo de recuperação da economia brasileira. “O cenário do Copom supõe que essa recuperação ocorrerá em ritmo gradual”, diz o comunicado.
“No cenário externo, a provisão de estímulos monetários adicionais nas principais economias, em contexto de desaceleração econômica e de inflação abaixo das metas, tem sido capaz de produzir ambiente relativamente favorável para economias emergentes. Entretanto, o cenário segue incerto e os riscos associados a uma desaceleração mais intensa da economia global permanecem”, afirma o comunicado.
Na reunião anterior, o Copom havia cortado a Selic de 6% para 5,5%. A taxa básica vem testando mínimas históricas desde o fim de 2017, quando atingiu 7%. Até então, o menor patamar desde o início do regime de metas de inflação, implantado em 1999, havia sido atingido em 2012 e 2013, quando a Selic ficou em 7,25%.
Na semana passada, entre 68 instituições consultadas pelo Valor, 67 calculavam corte de 0,5 ponto percentual, para 5% ao ano. Único dissidente, o Itaú Asset Management projetava uma atuação mais agressiva da autoridade monetária, esperando corte para 4,75%.
O colegiado faz a sua última reunião do ano nos dias 10 e 11 de dezembro.
Copom afasta hipótese de Selic abaixo de 4%, diz Luiz Fernando Figueiredo
O Comitê de Política Monetária (Copom) deixou a porta aberta para realizar um novo corte da Selic em 0,5 ponto percentual na última reunião do ano, em dezembro, mas afastou as hipóteses de que a taxa básica de juros vá abaixo de 4%. Essa visão é resultado de uma perspectiva estruturalmente melhor para o Brasil, onde a inflação segue baixa e o crescimento econômico não está forte, mas onde não haverá mais “voos de galinha” da atividade, como no passado.
A visão é de Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor de Política Monetária do Banco Central e sóciofundador da Mauá Capital. “O BC trabalha com um cenário de aceleração da atividade que corrobora esse processo de estar a uma ou duas reuniões de terminar o ciclo de queda da Selic”, afirma ele, que espera o fim do ciclo alívio monetário na primeira reunião do ano que vem, em fevereiro, com um corte de 0,25 ponto.
Para Figueiredo, os mercados brasileiros, sobretudo o de juros, poderão passar por um ajuste de curto prazo, com alta das taxas nos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) mais curtos e baixa nas curvas de longo prazo, já que um corte da Selic para 4% foi em boa medida precificado pelos ativos. Confira a seguir a entrevista completa.
Valor: Como podemos entender o comunicado do Copom?
Luiz Fernando Figueiredo: Ele foi bastante explícito com relação a um corte para a próxima reunião, ao dizer que ‘a consolidação do cenário benigno para a inflação deverá permitir um ajuste adicional, de igual magnitude’. Isso significa que, se estiver tudo dentro da expectativa, haverá mais uma redução de 0,5 ponto percentual. Mas, na eventualidade de fazer outro corte, isso requer cautela, segundo o BC, o que indica uma magnitude de 0,25 pp de corte. Ele está retirando de frente aquela visão abaixo de 4% que algumas casas chegaram a colocar.
Valor: Essa trajetória de política monetária surpreende?
Figueiredo: Não acredito que o comunicado tenha chegado a surpreender, mas o BC definiu mais claramente esse final de processo de afrouxamento monetário, que está correto. Ao mesmo tempo, ele deixa espaço para, no caso de qualquer surpresa, mudar a atuação. O BC trabalha com um cenário de aceleração da atividade que corrobora esse processo de estar a uma ou duas reuniões de terminar o ciclo de queda da Selic. Ele deixa claro que vê a atividade respondendo [aos estímulos].
Valor: Haverá algum ajuste, então, nos mercados brasileiros, agora que ficou mais distante uma Selic abaixo de 4%?
Figueiredo: Provavelmente, sim. Acredito em uma abertura dos DIs mais curtos porque eles já tinham implícito um juro que poderia ir a 4% ou mesmo abaixo disso, enquanto a parte mais longa deve fechar um pouco. Interfere também no câmbio, porque o BC foi um tostão mais duro do que o mercado estava imaginando nos últimos dias. Com a moeda sempre tem a expectativa da curva de juros implícita nela, especialmente com os contratos de curto prazo abrindo um pouco, isso pode acabar ajudando o câmbio a se apreciar.
Valor: Quais as perspectivas para o Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil?
Figueiredo: O BC tem uma perspectiva de que o cenário está gradualmente e estruturalmente melhor para o Brasil. Está ficando claro que o país não está acelerando, mas também não teremos novos voo de galinha como no passado, quando havia melhora durante um ou dois trimestres e depois voltava a contrair. A atividade está voltando também na nossa avaliação. O PIB vai crescer 2% no segundo semestre deste ano, anualizado, que é um cenário bem melhor do que muita gente tinha recentemente. No ano que vem, poderemos ver algo como expansão de 2,4% a 2,5%. Não é um espetáculo, mas é bem melhor do que antes.
Valor: E cenário internacional, o quanto ele influi na política monetária por aqui?
Figueiredo: O ambiente externo é muito mais desafiador hoje do que nos últimos anos, é verdade. O ciclo grande de expansão principalmente nos EUA parece ter terminado, e muita gente acredita que chegou a hora de a economia mundial desacelerar. Acontece que, diferentemente do passado, os países hoje estão mais dispostos, certos ou errados, a usar políticas fiscais. Você acaba tendo um instrumento novo para atenuar uma desaceleração. Por isso, o risco de recessão é baixo. O que poderia atrapalhar a política monetária seria um acirramento da guerra comercial entre EUA e China, mas até nessa frente houve trégua.
ANÁLISE: Mesmo com espaço para juro abaixo de 4%, BC prega cautela
As projeções de inflação divulgadas pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central indicam que há espaço para cortar os juros básicos da economia até abaixo de 4% ao ano. Mas o colegiado prega cautela diante do estágio avançado do ciclo de distensão monetária. As duas projeções de inflação apresentadas em comunicado divulgado na noite desta quarta-feira (30) mostram que, se os juros caírem a 4,5% ao ano, como preveem os analistas econômicos, a inflação fica bem baixo da meta.
No cenário Focus, que pressupõe câmbio a R$ 4,00, a inflação de 2020 ficaria em 3,6%, bem abaixo do centro da meta do ano, definido em 4%. No cenário híbrido, que pressupõe que o câmbio fique R$ 4,05, a inflação termina em 3,7% no ano que vem, também abaixo do alvo.
No comunicado, o Banco Central não divulgou sua projeção no cenário básico, com juros e câmbio constantes, por isso não se sabe ao certo a sensibilidade da inflação à taxa básica. Mas, a julgar pelas projeções apresentadas no Relatório de Inflação de setembro, uma baixa de um ponto percentual na taxa básica de juros leva a uma inflação 0,2 ponto percentual maior.
Isso significa que, em tese, se os juros baixarem para 3,5% ao ano, a inflação de 2020 ficaria em 3,8% no cenário Focus (câmbio a R$ 4,00) e em 3,9% no cenário híbrido (câmbio a R$ 4,05). Nos dois casos, abaixo da meta de 4%. O que se depreende dessas projeções é que há espaço para os juros reais entrarem no terreno negativo, baixando a 3,5% ao ano, ante a uma inflação pouco menor do que 4%.
Mas o Banco Central resolveu adicionar uma dose de cautela, pesando a mão no balanço de riscos. Colocou, entre os eventos que podem causar uma inflação maior do que a esperada, o avançado grau do ciclo de distensão monetária.
Novo corte
Para não deixar dúvidas de que considera seriamente esse risco, resolveu agregá-lo à sua mensagem de política monetária. O comitê sinaliza uma nova baixa na Selic em sua reunião de dezembro, para 4,5% ao ano. Mas dá uma indicação preliminar para o seu passo seguinte, em fevereiro: o atual grau de estímulo monetário recomenda cautela em eventuais novos ajustes no grau de estímulos.
Tudo indica que o Copom vê chances de os juros caírem abaixo de 4,5% depois de dezembro. Mas, se caírem, deverá adotar um ritmo mais lento, provavelmente com cortes de 0,25 ponto percentual. Por enquanto, não é possível afirmar até onde poderão ir esses cortes de 0,25 ponto percentual. Se fosse julgar apenas pelas projeções de inflação como conhecemos hoje, seria possível fazer mais quatro cortes de juros, levando a taxa básica para 3,5% ao ano.
O balanço de riscos, porém, deverá ser determinante do tamanho do ciclo de cortes. É bom notar que o balanço de riscos para a inflação ficou um pouco mais incerto, já que além do risco negativo do avançado estágio do ciclo de distensão, há também o risco positivo de a inflação corrente baixa produzir uma inércia do bem. Visto de agora, o balanço de riscos é como jogar uma moeda para cima: se cair do lado bom, os juros caem para 3,5% ao ano ou até menos; se cair do lado ruim, os juros podem não ir abaixo de 4% ao ano ou até mesmo não chegar a esse percentual.
Fed corta taxa de juros pela 3ª vez neste ano
O Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos Estados Unidos) cortou nesta quartafeira sua taxa básica de juros pela terceira vez este ano para tentar sustentar a expansão econômica diante das ameaças globais. Mas a autoridade monetária sugeriu que não voltará a cortar os juros na próxima reunião.
O Fed reduziu a taxa de curto prazo – que influencia muitas taxas de empréstimos a consumidores e empresas – para um intervalo entre 1,5% e 1,75%. Um comunicado divulgado pela autoridade monetária após sua última reunião removeu uma frase-chave usada desde junho para indicar que um corte futuro nas taxas era provável. Isso pode significar que as autoridades do Fed preferirão deixar as taxas como estão, enquanto avaliam como a economia se sai nos próximos meses.
A economia americana está em seu 11º ano de expansão, alimentada pelos gastos do consumidor e por um mercado de trabalho sólido, embora ligeiramente enfraquecido. Mas, ao cortar as taxas, o Fed está tentando combater as incertezas, aumentadas pelos conflitos comerciais do presidente Donald Trump, uma economia global mais fraca e um declínio na indústria dos EUA.
Placar
A decisão do Fed de reduzir as taxas de juros nesta quarta gerou menos oposição interna do que sua redução semelhante no mês passado. O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) votou por 8 votos a 2 para reduzir sua taxa básica de referência em 0,25 ponto percentual. Comparado à reunião de setembro, houve menos divergências, com o presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, se unindo ao consenso mais amplo sobre política monetária. Os presidentes do Fed de Boston, Eric Rosengren, e de Kansas City, Esther George, prefeririam deixar as taxas de juros inalteradas.
As duas autoridades disseram que a boa saúde geral da economia não justificava cortes nas taxas, apesar da opinião de seus colegas de que as reduções eram necessárias para sustentar a expansão em meio aos riscos associados a tensões comerciais e desaceleração do crescimento global. Bullard também discordou na reunião de setembro, mas porque preferia uma redução maior da taxa, de meio ponto percentual. Ele acredita, há muito tempo, que taxas mais baixas ajudariam a elevar a inflação em direção à meta de 2% do BC americano.
Rosengren e Esther disseram que as taxas de juros deveriam ser reduzidas apenas se surgissem problemas reais na economia. "Embora a fraqueza nos investimentos em manufatura e nos negócios seja evidente, não está claro que a política monetária seja a ferramenta apropriada para compensar os riscos enfrentados pelas empresas nesses setores, quando ponderados pelos custos que podem estar associados à tal ação", disse George, em comentários feitos em 18 de outubro.
Ambos também temem que a redução das taxas agora possa estimular investimentos excessivamente arriscados e desestabilizar o sistema financeiro no futuro. Operações de "repo" Ainda no comunicado operacional divulgado junto com a decisão, o Fed esboçou alguns detalhes adicionais sobre seus esforços para aliviar a volatilidade nas taxas do mercado interbancário e aumentar seu balanço.
Segundo apontou o documento, o BC americano continuará conduzindo grandes operações de recompra diárias pelo menos até janeiro. Os planos de comprar T-bills continuam e com expectativa de realizar operações consideráveis pelo menos até o segundo trimestre do próximo ano.
O presidente do Fed de Nova York, John Williams, afirmou que o final do ano será uma importante experiência de aprendizado para a autoridade monetária em termos de gerenciamento da volatilidade do mercado monetário e controle das taxas de curto prazo.
Powell
Em entrevista coletiva após a decisão, o presidente da autoridade monetária, Jerome Powell, afirmou que não está preocupado com um possível desequilíbrio do mercado financeiro, diante dos custos mais baixos dos empréstimos. "Atualmente não vemos grandes desequilíbrios, essa longa expansão é notável pela falta de grandes desequilíbrios financeiros como os que vimos certamente antes da grande crise financeira", disse Powell.
O único lugar em que ele vê alguns sinais de problemas é o empréstimo não financeiro, mas Powell disse que o banco central americano está observando essa situação e que a instituição tomou medidas para mitigar os riscos.
O presidente da instituição também afirmou que a alavancagem das empresas está em situação elevada e que o Fed está monitorando o cenário atentamente. Powell disse ainda que o BC americano ainda está tentando determinar qual nível de liquidez é apropriado para os mercados financeiros e reconhece que a fonte de volatilidade recente permanece um pouco misteriosa. Quando as taxas de curto prazo explodiram em setembro, "uma coisa surpreendente no episódio foi que a liquidez não parecia fluir como se poderia esperar", disse o presidente da autoridade monetária.
O Fed quer entender como melhorar essa situação. Powell alertou que a situação não será corrigida no curto prazo. O presidente do Fed observou também que a compra títulos para recompor o nível de reservas bancárias não é um estímulo à economia. As compras "são medidas puramente técnicas para apoiar a implementação efetiva da política monetária. Elas não representam uma mudança na postura da política monetária".
Caixa faz novo corte de juro do crédito imobiliário
As concessões de crédito imobiliário da Caixa Econômica Federal dobraram nos nove primeiros meses deste ano em relação ao mesmo período de 2018, fazendo o banco recuperar a liderança do segmento, informou ontem o presidente da instituição financeira, Pedro Guimarães. De janeiro a setembro deste ano, o banco emprestou R$ 17,2 bilhões dentro do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimos (SBPE).
No ano passado, foram concedidos R$ 8,6 bilhões, fazendo com que a Caixa ficasse em terceiro lugar. Segundo Guimarães, o crescimento pode ser explicado principalmente pelas taxas menores que o banco vem oferecendo. “Claramente na Caixa há um aumento de demanda por crédito imobiliário consistente e recorrente”, disse em entrevista a jornalistas.
Em 2019, o segundo banco é o Bradesco, com R$ 13 bilhões em empréstimos. Ontem, a Caixa anunciou nova redução das taxas de crédito imobiliário cobrados pela instituição, em contratos baseados na TR (Taxa Referencial). Foi a terceira redução do ano. A taxa mínima para imóveis financiados no Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e no Sistema Financeiro Imobiliário (SFI) caiu 0,75 ponto percenutal, para TR mais 6,75% ao ano. Já a taxa máxima caiu um ponto, para TR mais 8,5%.
Os novos juros valem para contratos firmados a partir de quarta-feira. Segundo Guimarães, as novas taxas acabam com as vantagens da faixa 3 do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV). “Estamos oferecendo crédito imobiliário com juros inferiores à faixa 3 do Minha Casa Minha vida”, afirmou o executivo.
De acordo com ele, o corte foi feito de maneira consistente, principalmente em função da queda dos juros futuros. “Mais importante do que a Selic [para o financiamento imobiliário], são os DIs (taxas futuras de depósitos interbancários)”, afirmou. “Acreditamos que essas taxas [novas] são sustentáveis do ponto de vista matemático.”
Caso as taxas futuras voltem a subir, a Caixa elevará novamente os seus próprios juros, garantiu. Nas últimas semanas, a Caixa já havia anunciado redução não só nas próprias taxas de financiamento imobiliário, mas também em outras linhas, como cheque especial e crédito pessoal não consignado.
Reportagem publicada pelo Valor no começo de outubro mostrava que o movimento não havia sido acompanhado pelos demais grandes bancos de varejo. Em relação a agosto, os juros médios das operações contratadas pela Caixa no cheque especial, por exemplo, passaram de 289% para 194% ao ano nos empréstimos a pessoas físicas, e de 353% para 217% nos empréstimos a pessoas jurídicas.
Além disso, a instituição financeira anunciou na semana passada a antecipação para este ano do cronograma de pagamentos dos saques imediatos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). A medida, que dá direito ao trabalhador de retirar até R$ 500 por cada conta, pode injetar R$ 40 bilhões na economia ainda em 2019, na estimativa do banco.
O cronograma anterior estabelecia a liberação de recursos até março do ano que vem. Guimarães tem negado qualquer influência do ministro da Economia, Paulo Guedes, nas decisões. De acordo com ele, as medidas têm sido “matemáticas” e realizadas em função da situação financeira confortável do banco.
ESTADÃO
‘Queda de juros ajuda, mas não faz mágica’, diz ex-diretor do BC
O atual cenário de inflação baixa e de necessidade de estimular a atividade econômica são indicativos de que o ciclo de juros baixos no Brasil deve ser longo, analisa o economista e chefe do Centro de Estudos Monetários, do FGV/Ibre, José Júlio Senna.
Nesta quarta-feira, 30, o Comitê de Políticas Monetárias (Copom), do Banco Central, decidiu cortar novamente a taxa básica de juros, para 5,0% ao ano -- o patamar mais baixo da história.
Sennae, que também foi diretor do Banco Central, avalia, porém, que os juros baixos não são garantia de recuperação da economia e que o País precisa manter a agenda de reformas estruturais. A seguir, trechos da entrevista.
O ciclo atual de juros baixos no Brasil tende a ser longo?
Eu diria que sim. A estratégia do BC de controlar a inflação está se mostrando eficiente, e o comportamento médio da inflação nos últimos cinco meses mostra uma sequência fantástica. As projeções apontam que as metas devem ser cumpridas, com folga, até 2021.
Isso é comum?
Não. É raro encontrar no Brasil períodos em que o BC não esteja remando contra a maré, ou seja, preocupado em trazer a inflação para baixo. Em outros períodos, o objetivo de controlar os preços conflitava com uma política de gastos públicos expansionista e desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O cenário internacional pode suspender os cortes de juros?
O ambiente internacional, de algum modo, traz até benefícios para a inflação brasileira. O mundo todo está experimentando um fenômeno de inflação baixa. Nos países avançados, o problema é o contrário, fazer com que a atividade e os preços subam. Os países ricos estão com carência de instrumentos adequados para turbinar as suas economias.
O juro real no Brasil pode ficar perto de zero?
Já está praticamente assim. O Brasil vive uma experiência excelente de redução da inflação e dos juros. No passado, a discussão era se faria diferença ter uma inflação de 4% ou de 7%. Hoje, está claro que é a inflação baixa que está permitindo juros baixos. É uma demonstração da importância de ter uma inflação baixa.
Mas a inflação está baixa, também, pela atividade econômica ainda muito retraída, certo?
Sim. Sem medidas de incentivo, o Brasil vai continuar com crescimento baixo. Mas na medida em que o País consolidar uma situação fiscal mais equilibrada, com o mercado de capitais tendo resultados melhores e as empresas reestruturando seus passivos, a economia vai se beneficiar muito.
Mas em que medida a queda nos juros pode incentivar o crescimento do País?
A gente está colhendo hoje o resultado das medidas tomadas a partir de 2016, como o teto de gastos (que limita os gastos públicos federais). Mas os juros baixos não são suficientes para recuperar a economia. Há uma relutância em entender que esse enfraquecimento econômico do Brasil não é circunstancial. A recessão de 2015 e 2016 agravou um problema de desempenho que já existe há quatro décadas.
Ajuda, mas não resolve?
Ajuda, anima um pouco a atividade econômica, mas não resolve os problemas, porque o estímulo monetário tem limitações. O consumo das famílias cai com o desemprego elevado e há um grau de endividamento ainda alto. A queda de juros não faz mágica. No caso do investimento, muita coisa ainda precisa acontecer para o empresário ficar mais confiante.
O que precisaria melhorar?
Seria preciso estimular o esforço produtivo, diminuindo a burocracia para o setor empresarial, simplificando o regime de impostos, melhorando a infraestrutura e a estabilidade jurídica. Resumindo: é preciso fazer reformas e mais reformas.
Além dos esforços do BC, o governo tem ido nessa direção?
Em partes. O governo tem tido dificuldade em tocar o programa de privatizações, pelas resistências de natureza política. Ainda assim, parte importante do Congresso, com sorte, tem tido uma postura reformista.
Caixa e BB cortam juros imobiliários
A Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil anunciaram ontem redução nas taxas nos juros cobradas em financiamentos imobiliários. As novas taxas terão validade para novos contratos, fechados a partir de 6 de novembro.
A menor taxa de juros cobrada pela Caixa passará agora a ser de 6,75% ao ano, mais a Taxa Referencial (TR) – criada em 1991, ela é um fator de correção monetária de empréstimos, do FGTS e de investimentos. Atualmente, a TR está zerada. Anteriormente, a taxa de juros mínima cobrada pela Caixa era de 7,50% mais a TR. Já a maior taxa, que antes era de 9,50% mais a TR, agora será de 8,50% mais a TR.
Segundo o banco, as novas taxas passam a valer em 6 de novembro. O corte de juros valerá para créditos com saldo devedor atualizado pela TR no Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e no Sistema Financeiro Imobiliário (SFI).
Essa é a segunda redução de juros anunciada pela Caixa em menos de um mês. Em 8 de outubro, o banco já havia cortado em até 1 ponto porcentual as taxas para financiamentos imobiliários com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo.
Na linha com correção da inflação, a taxa continua entre 2,95% e 4,95% ao ano, mais a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Esses valores não foram alterados nesta semana.
O presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, disse que a instituição já realizou 365 mil contratos de financiamento de imóveis em 2019. O presidente do banco garantiu que as novas taxas são sustentáveis. “Há um aumento consistente e recorrente na demanda por crédito imobiliário”, acrescentou. “Perdemos a liderança no crédito imobiliário em 2018, mas dobramos o volume de concessões neste ano e já estamos 25% à frente do segundo banco no Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE)”, disse. O SBPE usa recursos da poupança para o financiamento à casa própria.
Clientela
Guimarães negou que as reduções de juros decorrem da perda de clientes para outros bancos, que teriam taxas mais competitivas. Segundo ele, o que pode estar ocorrendo é a portabilidade de créditos antigos, com mais de cinco anos, de quando a Selic (taxa básica de juros) era muito mais alta.
“Ter competição é ótimo e a participação de bancos privados é excelente. E o próprio movimento da Caixa gerou as reduções em curso em outros bancos. Esperamos que os outros bancos também reduzam os juros para abaixo de 7%”, avaliou.
O presidente da Caixa explicou ainda que a taxa de mínima, de 6,75% mais TR, praticamente inviabiliza a faixa 3 do Minha Casa Minha Vida, por já oferecer um custo menor aos tomadores. Guimarães destacou que, mesmo com a redução das taxas de juros atreladas à TR, as linhas corrigidas pelo IPCA continuam com taxas menores. “Mas essas novas linhas baseadas no IPCA têm mais volatilidade nos juros”, completou.
BB
O Banco do Brasil afirmou que as taxas do credito imobiliário variam de acordo com o prazo e o perfil do cliente, e a redução pode chegar até a 0,82 ponto porcentual ao ano. No caso do home equity, linha de crédito em que um imóvel é dado como garantia, a taxa mínima cai de 1,38% ao mês para 1,34%, e a máxima de 1,80% para 1,76% ao mês, informou o BB.
Aplicativo
A Caixa também lançou ontem um aplicativo para celulares de pessoas de baixa renda. O “Caixa tem” também é voltado para beneficiários de programas sociais. Nele, será possível realizar pagamentos de contas, transferências e consultas sociais relacionadas ao FGTS e ao Bolsa Família, entre outros serviços. Segundo a Caixa, com plataforma mais simples e baixo consumo do pacote de dados, o app foi desenvolvido para possibilitar a inclusão financeira e ampliar o acesso aos serviços por pessoas que têm celulares mais simples.
O GLOBO
Artigo
Miriam Leitão
Novo cenário do crédito no país
Algumas boas notícias começam a surgir no mercado de crédito como reflexo da queda consistente da taxa de juros, que ontem foi para 5%. A Selic tem ido a níveis historicamente baixos há algum tempo, mas agora as previsões dos economistas começam a apontar a possibilidade de uma taxa de juros básica abaixo de 4% no ano que vem. A oferta de crédito está aumentando, os spreads estão caindo, e o mercado privado tem assumido mais espaço, antes dominado por bancos públicos.
Esse novo cenário do crédito começou a se formar através da sucessão de quedas da Selic, que começou no governo anterior. De janeiro de 2018 até setembro de 2019, nesse um ano e nove meses, o saldo do crédito para a pessoa jurídica aumentou 18%, e para a pessoa física, subiu 22%. Os juros médios caíram 4,6 pontos percentuais nas linhas para as empresas e 4,5 pontos para as pessoas físicas. De lá para cá, a Selic caiu de 7% para 5%. Os juros ainda permanecem altíssimos na ponta, principalmente nas linhas do chamado hotmoney, como cheque especial e cartão de crédito, mas já houve um ciclo de melhora. As taxas médias cobradas nas operações com as empresas foram de 22,4% para 17,8%, e as das pessoas físicas foram de 55,8% para 51,3%.
Há outros eventos no mercado, como o contado aqui neste espaço pelo economista José Roberto Mendonça de Barros, em que o crédito rural este ano está em grande parte coberto por linhas de bancos privados, e menos dependente do Plano Safra. Empresas têm emitido debêntures no mercado privado para captar recursos e pagar antecipadamente dívidas contraídas no BNDES. Os juros à época subsidiados estão agora mais altos do que os custos com os quais as empresas estão se financiando.
O grande impacto, contudo, da queda da Selic, é no custo da dívida pública, que chegou a ser de quase 9% do PIB nos 12 meses terminados em janeiro de 2016. Agora, está indo para abaixo de 5%. Se estivesse pagando o custo daquela época, a despesa extra seria de quase R$ 300 bilhões por ano. Essa redução leva a uma diminuição do déficit nominal e facilitará o ajuste nas contas públicas, porque a economia necessária para se estabilizar a dívida será menor.
No comunicado da redução da Selic para 5%, ontem, o Banco Central indicou que haverá uma nova redução de meio ponto, na próxima reunião, em dezembro, caso as condições das economias brasileira e internacional permaneçam as mesmas. Foi o que ele quis dizer na parte em que “a consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva deverá permitir um ajuste adicional, de igual magnitude.” Dessa forma, a Selic cairá para pelo menos 4,5% no ano que vem e há economistas apostando em novas reduções.
Na visão do Banco Central, a recuperação da economia continuará em “ritmo gradual”, em outras palavras, isso significa um passo lento. Por um lado, a aprovação da reforma da Previdência e outras medidas fiscais que devem ser apresentadas pelo governo melhoram a trajetória da dívida pública. Por outro, não há como negar que o baixo ritmo de recuperação favorece esse cenário de juros baixos e a inflação. A grande dúvida é o que acontecerá com os índices de preços quando a economia de fato passar a crescer mais fortemente.
A economista-chefe do banco Ourinvest, Fernanda Consorte, avalia que o cenário é benigno para a inflação e o Banco Central tem que aproveitar o momento para reduzir a taxa Selic. Mas ela vê com cautela a desvalorização do real sobre o dólar, que saiu de R$ 3,76 no final de julho e bateu em R$ 4,18 no mês passado. Mesmo com a aprovação da Previdência, permanece ao redor de R$ 4. Isso pode bater na inflação em um cenário de recuperação mais forte.
— Estamos com dólar em torno de R$ 4 há praticamente há 3 meses. Por enquanto, o efeito sobre a inflação está pequeno, porque a recuperação permanece fraca. Mas isso pode mudar em caso de aceleração da economia. Para cada 10% de aumento do dólar, o impacto sobre o IPCA fica em torno de 1 ponto em 12 meses — afirmou.
Ontem, o Fed reduziu a taxa de juros americanas para a faixa entre 1,5% e 1,75%, como esperado, mas indicou que fará uma pausa, depois de três cortes este ano, o que não estava no radar. Isso pode pressionar a cotação do real, porque o diferencial entre os juros brasileiros e os americanos será menor, o que fortalece a moeda americana.
A expectativa é que o Banco Central, se tiver que elevar os juros mais à frente, não volte com a Selic ao mesmo patamar em que estava antes. Esse ganho poderá ser permanente ao país.
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