Segunda-feira

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PIB deve crescer a um ritmo de 3%, diz Lopes

A piora dos indicadores econômicos em novembro não preocupa Francisco Lopes. Ex-presidente do Banco Central, ele está otimista com a recuperação da economia.

Para Lopes, o Produto Interno Bruto (PIB) do país deverá chegar a crescer acima de 3% no terceiro trimestre de 2020 na comparação com o mesmo período de 2019. “Eu vejo a economia consolidando um ritmo de crescimento de 3% ao ano. E, para isso acontecer, é preciso que o investimento cresça acima disso, em 5% ao ano. É factível se a construção civil andar”, diz o economista, dono da consultoria Macrométrica, em entrevista o Valor

No início de 2019, Lopes também estava otimista com a atividade, cenário que não se confirmou. Segundo ele, eventos como o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG) e a piora da economia argentina pesaram no resultado, além da forte queda da construção civil no primeiro trimestre do ano passado.

Lopes avalia ainda que a série de polêmicas do governo Bolsonaro não afeta em nada a organização da economia. “Se conseguirmos crescer 3% ao ano nos próximos 20 a 30 anos, ficaremos parecidos com países desenvolvidos mais pobres, como Espanha. É só questão de não fazer maluquice, não querer fazer milagre”. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Valor: Indicadores sugerem uma “rateada” na atividade econômica em novembro. Foi um soluço ou há perda de ritmo da recuperação?

Francisco Lopes: Na indústria de transformação vi algo mais fraco por causa do setor automobilístico, um efeito da economia da Argentina. Quando ficou claro que Mauricio Macri perderia as eleições presidenciais, houve uma desaceleração. Só que dois terços do PIB brasileiro são formados por serviços, um setor difícil de ser acompanhado. É muito amplo, com comportamento estranho, vide a dificuldade do Banco Central de acompanhá-lo em seu indicador mensal de atividade. Mas não creio tenha havido desaceleração da retomada da economia. Para mim, há soluços. No ano de 2019, em geral, existe um impressão de baixo crescimento, o que tem a ver com impactos ao longo do ano.

Valor: Em artigo no Valor, o senhor diz que a economia cresceu mais rapidamente em 2019 do que a média anual do PIB sugere. A economia finalmente engrenou?

Lopes: As projeções do boletim Focus são de crescimento de 1,17% do PIB em 2019. Olhar para a média anual do PIB não é tão complicado em condições normais, mas é em períodos de oscilação. A média do ano fica contaminada pelo ano anterior. Neste caso, é melhor comparar o PIB do quarto trimestre com o mesmo período do ano anterior, que chamo de “4T”. As projeções do Focus embutem uma taxa de crescimento de 1,8% do PIB no quarto trimestre, frente ao mesmo período de 2018. Em 2020, no terceiro trimestre, a economia estará crescendo mais de 3% frente ao terceiro trimestre de 2019. Se tudo estiver arrumado, nada freando, a economia tende a crescer em ritmo normal. Tivemos tanto tempo de recessão que ficamos com a ideia que o normal é a economia não crescer. Precisamos explicar o porquê de o PIB crescer, o que é uma deformação. Antes, não era assim. Todos achavam normal crescer 4% ao ano durante o governo Lula. Mas tivemos a recessão do governo Dilma Rousseff e, depois, recuperação lenta do governo Michel Temer, nesse caso muito devido a fatores como a greve dos caminhoneiros e a crise econômica da Argentina.

Valor: No início de 2019 o senhor também estava otimista com a atividade, mas o otimismo não se confirmou. O que houve?

Lopes: Alguns pontos fundamentais ocorreram. Um é a extrativa mineral, o efeito do rompimento da barragem de Brumadinho, e como afetou decisões operacionais da Vale na extração de minério. O impacto de Brumadinho se prolongou ao longo do ano. Outro importante impacto veio da indústria automobilística, com crise da economia da Argentina, que é muito integrada ao Brasil. O crescimento baixo, olhando para o desempenho médio do ano, tem muito a ver com o resultado da atividade no primeiro trimestre: o PIB cresceu apenas 0,6% no primeiro trimestre de 2019 em relação ao mesmo período de 2018. A construção civil teve forte queda no primeiro trimestre. Tem a ver também com os gastos do setor público.

Valor: Então, o que deve puxar essa aceleração da atividade em 2020? Consumo das famílias e investimento ou apenas o primeiro?

Lopes: O consumo das famílias vai crescer como resultado do avanço da renda. Mas o que vai puxar o PIB é a formação bruta de capital fixo, que é a construção civil e os bens de capital. É isso que cresce pouco e que precisa voltar a crescer mais. Eu vejo a economia consolidando um ritmo de crescimento de 3% ao ano. E, para isso acontecer, é preciso que o investimento cresça acima do PIB, em 5% ao ano. Isso é factível se a construção andar. No governo Lula, a construção crescia, no mínimo, 6% ao ano. Eram obras de metrô, Copa do Mundo, Olimpíada. Com essa expansão veio também a Lava-Jato. Além disso, o setor crescia bastante alavancado e, de repente, mergulhou em uma forte crise, tornando-se bastante fragilizado. Muitas empresas ficaram em situação patrimonial difícil. Veremos a partir de agora um trabalho de reconstrução. Também por isso achei interessante o ministro Paulo Guedes anunciar que vai deixar construtoras estrangeiras entrarem no mercado.

Valor: A escola de Chicago ensina que a iniciativa privada assume o espaço deixado pelo governo quando há reformas e a redução da participação do setor público. Isso já está acontecendo?

Lopes: O PIB Administração, Saúde e Educação Pública deverá ficar próximo a zero ou negativo, limitado pelo teto dos gastos. Esse crescimento nulo tem impacto negativo de 0,5 ponto do PIB. Então, o setor privado precisa ocupar esse espaço. Isso também depende da recuperação da construção civil. O setor imobiliário está se recuperando, principalmente em São Paulo. Se a economia der sinais de que vai crescer mais, a produção de bens de capital acompanha. O Brasil saiu da UTI, está no quarto. Não tem risco de morte. A economia é como o nosso organismo, tende a melhorar, se recuperar. Não faz sentido a construção civil ficar no negativo se a coisa voltar ao normal. O emprego melhora, a massa salarial melhora. Bem ou mal, os serviços se recuperam.

Valor: Dentro desse cenário de recuperação mais acelerada, como ficam a inflação e os juros?

Lopes: Tivemos um ruído recente na inflação, com os preços das carnes. Vamos ver taxas de inflação na faixa de 1% em dezembro e janeiro. Mas não é um tendência para os preços, é um choque, bem identificado. Não vai exigir nenhuma reação do Banco Central. A dúvida é só a velocidade que o preço da carne vai cair. Estou prevendo que o IPCA Alimento ficará com taxa negativa a partir de março. Nesse cenário, a Selic deve ficar congelada nesse patamar de 4,5% ao ano. Com a Selic nesse nível e a inflação nesse nível, temos uma taxa real efetiva da Selic abaixo de 1%. Já é uma taxa altamente estimulativa.

Valor: O governo federal quer enviar as reformas tributária e administrativa ao Congresso antes do Carnaval e tentar aprová-las neste ano. O senhor está otimista com o andamento das reformas?

Lopes: Não vejo grande sucesso como foi a reforma da Previdência, mas pode ter pequenos ganhos de aumentar a eficiência do setor público, desburocratização, simplificação. Criam ambiente favorável ao negócio. Sou otimista com o Brasil porque temos uma construção institucional nos últimos 30 anos, que foi consequência não do liberalismo atual, mas da social-democracia, como o plano Real, o Banco Central bem aparelhado e o programa de teto de gastos. Se o Brasil consolidar uma trajetória de crescimento de 3% ao ano, poderá apresentar avanço de 2,5% de PIB per capita ao ano, já que o crescimento demográfico está baixo. Sou otimista nesse sentido, não precisamos crescer 6% ou 7% como os países asiáticos. Se conseguirmos crescer 3% nos próximos 20 a 30 anos, ficaremos parecidos com países desenvolvidos mais pobres, como Espanha. É só questão de não fazer maluquice, não querer fazer milagre. Quando comparamos o Brasil com países como Argentina, por exemplo, vemos como avançamos. Mercados funcionam, governo funciona.

Valor: O governo vive numa sucessão de polêmicas, o presidente ou seus ministros. Como isso pode atrapalhar?

Lopes: Acho absolutamente irrelevante essas minicrises do governo do ponto de vista da organização econômica. Não existe isso. Tudo está sendo feito dentro de um projeto do ministro Paulo Guedes, que é liberal, o que empresários gostam: reduzir governo, intervir menos, reduzir impostos. É claro que qualquer empresário olha a política e vê um bando de gente brigando. E vai dizer publicamente que está preocupado porque o meio ambiente é fundamental. Mas, na hora de investir Se ele acha que tem mercado, vai investir.

 

Juro menor puxa endividamento das famílias

Depois de longo período de desalavancagem, as famílias brasileiras voltaram a se endividar. Dados do Banco Central mostram que a proporção entre o valor das dívidas com o Sistema Financeiro Nacional e a renda efetiva acumulada em 12 meses atingiu 44,9% em novembro, 2,3 pontos acima do observado em igual período de 2018. Ante o mês anterior, o índice está em alta há 11 meses seguidos.

Excluindo o financiamento imobiliário, o endividamento é bem menor, mas também está em trajetória crescente: subiu de 24,1% para 26,3% em um ano. O comprometimento mensal da renda com dívidas - que, segundo economistas, é mais importante para determinar o poder de compra das famílias - também está em alta, mas em ritmo mais modesto. O dado avançou um ponto na comparação anual, para 20,9%. Sem o crédito para compra de imóveis, o aumento foi de 1,2 ponto, para 18,6% da renda mensal.

Série calculada pela Tendências Consultoria usando a massa de renda habitual, e não a efetiva - e por isso, com dados um mês à frente -, aponta na mesma direção. Em dezembro, 28,6% da renda mensal das famílias estava comprometida com dívidas, ante 27% há um ano. Já o endividamento em relação à renda acumulada em 12 meses aumentou três pontos em igual ordem, para 54,7%. Os dois percentuais são superiores ao estimado pela autoridade monetária porque incluem o saldo de dívidas sem juros no cartão de crédito, não considerado no critério do BC.

Também no último mês de 2019, 65,6% das famílias tinham algum empréstimo e/ou compra a prazo, segundo pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Esse é o nível recorde do levantamento, que começou em janeiro de 2010. Para especialistas, a queda dos juros e o aumento da confiança dos consumidores, após anos com a demanda por bens mais caros reprimida, elevaram a procura por crédito.

No momento atual, esse movimento não desperta preocupação, devido à expectativa de que o mercado de trabalho formal gere mais empregos e renda este ano. Por outro lado, a trajetória ainda fraca dos salários acenderia um sinal de alerta para a situação financeira das famílias, caso persista. Por ora, a taxa de inadimplência da pessoa física no crédito com recursos livres segue controlada, em 5% até dezembro.

Enquanto as concessões para famílias com recursos livres, em que as taxas são pactuadas livremente entre bancos e clientes, subiram 14,7% entre 2018 e 2019, a massa salarial, que combina a variação do emprego e da renda real, cresceu 2,5% em igual comparação. Em relatório recente, Tony Volpon, economista-chefe para o Brasil do UBS, destaca essa disparidade da economia brasileira, uma vez que é normal que os dois indicadores evoluam em ritmo mais próximo.

O crescimento das novas concessões já superou o ritmo observado em 2013, de cerca de 12%, nota Volpon, enquanto a massa de renda ainda está bastante aquém da alta de 10% verificada no ano anterior à crise. “O desempenho do crédito é surpreendente”, diz o economista, que relaciona o aumento do endividamento à queda dos juros e também a uma mudança de composição dos financiamentos, para modalidades mais baratas.

Por isso, mesmo com o crédito se expandindo a uma velocidade de dois dígitos, o serviço da dívida não subiu em igual proporção nem o comprometimento, ressalta Volpon. “Olhando o crédito em relação à renda, poderíamos achar que há um problema, mas o percentual de renda comprometida não está perto do pico”, afirmou.

Para o UBS, na medida em que o mercado de trabalho formal se recuperar, o crescimento da massa salarial deve acelerar, o que reduz o risco de alta desenfreada do endividamento e da inadimplência.

Nas estimativas da Tendências, a massa salarial vai crescer 2,7% em 2020, taxa que não coloca o orçamento familiar sob estresse, afirma a economista Isabela Tavares. Com melhora da renda, o maior endividamento não é prejudicial, diz, porque o comprometimento mensal permaneceria abaixo de 30%, devido ao menor custo das dívidas e, também, ao alongamento dos prazos.

“Durante a crise, houve aumento do uso do rotativo do cartão de crédito e do cheque especial, linhas que têm juros mais altos”, diz Isabela. Agora, as modalidades mais contratadas são o crédito pessoal e o financiamento de carro, aponta ela, mais baratas e com prazos maiores e que, por isso, não consomem tanto o orçamento mensal.

Segundo a CNC, entre os consumidores endividados, 9,9% financiaram um veículo e 8,9%, um imóvel, fatia acima daqueles que estão no cheque especial (6,7%). A principal dívida ainda é cartão de crédito (79,8%). É normal que, depois de um longo período de moderação, as dívidas tenham voltado a subir na esteira da recuperação do consumo, aponta Marianne Hanson, economista da CNC.

“As famílias adiaram compras, como a troca de carro e eletrodomésticos. A partir do momento em que houve retomada da confiança, estão contratando mais crédito”, disse, e a redução dos juros seria um incentivo a mais para a decisão de voltar a se endividar.

A demanda dos consumidores por crédito cresceu 12,4% em 2019 de acordo com medição da Serasa Experian, puxada principalmente por pessoas de menor renda. Na faixa que recebe de R$ 500 a R$ 1.000 por mês, a alta foi de 14%. Para Luiz Rabi, economista da Serasa, o crédito deve crescer novamente na casa de dois dígitos neste ano, mas o Brasil não deve enfrentar um problema de superendividamento e inadimplência, como em 2011.

Hoje, o comprometimento de renda excluindo financiamento imobiliário - medida que Rabi prefere analisar - está em 18,6%, nível mais confortável do que os 21,5% observados há nove anos. “O que pode gerar algum problema no futuro é o aumento do comprometimento da renda, mas a redução dos juros e o aumento dos prazos de parcelamento podem compensar isso.”

O número do BC aponta o comprometimento médio mensal com base nas dívidas com o SFN, enquanto a pesquisa da CNC pergunta aos consumidores qual a parcela de rendimentos destinada ao pagamento desses dispêndios.

Nessa análise, um dado chama atenção, pondera Marianne: 20% das famílias com alguma dívida afirmam possuir mais da metade dos rendimentos comprometido. A considerável parcela de famílias nessa condição impõe um limite para o crescimento do crédito, mas não impede que a retomada do consumo continue, avalia ela.

 

Fluxo cambial não deve ajudar o real em 2020

A aversão ao risco trazida pelo coronavírus que ajudou o dólar a superar a máxima histórica na semana passada não é o único fator que tem pesado sobre a moeda brasileira, avaliam economistas consultados pelo Valor.

Eles alertam que o fluxo cambial no início de janeiro registrou um comportamento parecido com o do mesmo período de 2019, ano que foi marcado pela maior saída de dólares do Brasil da série histórica do Banco Central, iniciada em 1982.

Apesar disso, a perspectiva é que o fluxo não seja tão negativo quanto no último ano e seja beneficiado pela expectativa de crescimento econômico mais acelerado. Nos primeiros 12 dias úteis do ano, o fluxo financeiro estava positivo em US$ 654 milhões, ao passo que a conta comercial apresentava saldo negativo de US$ 419 milhões. O resultado é semelhante ao do mesmo período de 2019.

Naquele momento, ambas as contas apresentavam, respectivamente, saldo positivo de US$ 645 milhões e negativo em US$ 541 milhões. Segundo Iana Ferrão, economista do BTG Pactual, os dados do fluxo comercial, mais especificamente, mostram que os exportadores continuam mantendo receitas no exterior, um indício de que o processo de pré-pagamentos de dívidas no exterior ainda não acabou.

“É natural que as contas que respondem a um diferencial de juros menor continuem apresentando saída”, diz a economista, citando o estoque de US$ 116 bilhões que as empresas não-financeiras mantêm no exterior, bem como outros US$ 251 bilhões em empréstimos intercompanhia.

O ciclo de cortes que levou a Selic para as mínimas históricas também deve dar sobrevida a outra dinâmica vista no ano passado: a saída do estrangeiro da renda fixa. Em 2019, essa linha teve saída acumulada de US$ 4 bilhões e Iana avalia que esse número possa chegar a US$ 25 bilhões em 2020.

Por outro lado, na contramão desse movimento, a economista entende que possa acontecer uma reversão da debandada de estrangeiros da renda variável no Brasil. Se, em 2019, eles retiraram US$ 2,7 bilhões da bolsa, esse número pode ficar positivo em US$ 15 bilhões neste ano.

Outra rúbrica em que se espera melhora é o do Investimento Direto no País (IDP), que deve passar de US$ 79 bilhões em 2019 para US$ 90 bilhões neste ano. “O principal fator para essa melhora é o crescimento. É ele que puxa o aumento do IDP e a volta dos estrangeiros para as ações”, diz Ferrão.

“O crescimento aumenta a probabilidade de as reformas continuarem em 2020, de o governo ser reeleito e, com isso, a agenda de reformas se manter e o crescimento potencial do país aumentar mais para frente.” A melhor performance da economia brasileira, continua a economista do BTG, deve desacelerar ainda outro movimento em direção ao exterior, mas encabeçado pelos próprios brasileiros.

Em 2019, o Investimento Brasileiro Direto (IBD) no exterior chegou a US$ 22,1 bilhões, um salto em relação aos US$ 2 bilhões do ano anterior. Já as aplicações em portfólio passaram de US$ 0,5 bilhão para US$ 15,2 bilhões no mesmo período.

Embora compartilhe desta perspectiva, o economista-chefe da Garde, Daniel Weeks, pondera que ambos os tipos de fluxo ainda não deram as caras nas primeiras semanas de 2020, o que contribuiu para a pressão sobre o câmbio em janeiro. No mês, o dólar comercial subiu 6,86% para a marca inédita de R$ 4,2850.

“A aceleração do IDP e a volta dos estrangeiros para ações são esperadas por causa de crescimento, e os últimos dados econômicos de novembro vieram ruins”, lembra. “O real ainda é um ativo sem grande potencial de valorização no curto prazo, porque existe um hiato grande de financiamento externo.”

Em linha com outros analistas, Weeks acredita que o grande buraco do fluxo está no lado comercial e reflete o movimento de pré-pagamentos de dívidas no exterior por empresas brasileiras. Isso significa, por outro lado, que o rombo recorde não é motivado pela fuga de capital estrangeiro do Brasil, como algumas notícias podem sugerir. “Eles não estão entrando, mas não teve uma grande fuga”, defende.

Tanto Weeks como Iana calculam que as necessidades de financiamento continuarão a superar as fontes em 2020, um sinal de que o fluxo cambial continuará negativo. Ainda assim, ele tende a ter menor magnitude, ajudado pela aceleração do PIB, que passará de cerca de 1% para algo na casa dos 2%.

A economista do BTG calcula esse hiato em US$ 23 bilhões, ante US$ 31 bilhões em 2019. Já o profissional da Garde estimou apenas o de 2019, que teria chegado a US$ 43,9 bilhões. Esse número, no entanto, também leva em consideração a diferença entre o câmbio contratado e o embarcado, usado como uma “proxy” do processo de desalavancagem no exterior. “O resultado líquido desse ano vai ser melhor que o de 2019, mas ainda negativo em função da taxa de juros.

Por isso, não consigo ver o câmbio apreciando muito ao longo de 2020. Pode até acontecer alguma melhora pontual, mas ele continuará estruturalmente depreciado”, diz Iana. O BTG estima que o câmbio encerre em R$ 4,10 no fim do ano. “Minha grande dúvida é se vai ter ou não fluxos para ações. A parte do IDP é muito estável e demora - o programa de concessões pode ajudar, mas a gente sabe que uma concessão demora dois anos para ser feita. A aposta, então, seria na parte de ações. Nas últimas conversas que tivemos, vimos o estrangeiro mais interessado. Mas alguns reclamam que está caro - quase uma dor de cotovelo por não ter pego o rali”, diz o economista da Garde. “É uma grande dúvida, mas precisa ter isso para o câmbio, que depende muito desses fluxos”, prossegue. A gestora tem R$ 4,20 como referência para o fim do ano.

 

Capital externo deixa América Latina para trás e prefere Ásia

Mesmo com a melhora das perspectivas para a economia, o mercado brasileiro de ações tem ficado para trás em relação a outros emergentes, na visão dos investidores globais. Os preços mais altos dos papéis por aqui e algum ceticismo com a retomada da atividade, além de sustos geopolíticos na América Latina, contribuíram para a migração de recursos para países que já engataram um ritmo mais forte de expansão, como as economias asiáticas.

Dados preliminares do Instituto Internacional de Finanças (IIF) revelam que a Ásia lidera a atração de investimentos em portfólio ininterruptamente desde 2014. No ano passado, por exemplo, a entrada de capital estrangeiro para investimentos em ações e em dívida na Ásia emergente foi de US$ 197,4 bilhões, enquanto a América Latina recebeu apenas US$ 57,2 bilhões - um terço dos aportes na região que reúne China, Índia e Coreia do Sul. Se observado apenas o fluxo no mercado acionário, os emergentes asiáticos viram um ingresso de US$ 61,2 bilhões, ao passo que os latino-americanos amargaram uma retirada de US$ 4,2 bilhões.

 “Hoje em dia, a atenção do investidor global para emergentes está na Ásia. Países como Índia, China, Coreia e Taiwan têm uma perspectiva de crescimento melhor”, afirma a estrategista de mercado global do J.P. Morgan Asset Management, Gabriela Santos.

Ela explica que o Brasil e a América Latina perderam muito espaço nos índices globais de ações. Logo, é preciso moderar as expectativas sobre a entrada de recursos no mercado brasileiro. “Mesmo que o crescimento do Brasil ganhe tração, ainda pode ter uma alocação menor do que outros locais”, diz a especialista, ao destacar a diferença nas expectativas de crescimento das economias emergentes.

Enquanto China, Índia, Indonésia e Filipinas registraram taxas de crescimento próximas ou superiores a 5%, a América Latina, palco de fortes turbulências políticas no ano passado, ficou quase estagnada, com 0,8%, excluindo-se a Venezuela, segundo a última atualização do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Para 2020, nas projeções da instituição, a Ásia emergente deve crescer 5,8%, ante uma expansão de 1,9% da América Latina, novamente excluindo-se a Venezuela. Especificamente para o Brasil, a projeção de crescimento para este ano é de 2,2%, ainda abaixo da estimativa de crescimento global, de 3,3%.

“A combinação de crescimento baixo e ruído persistente no cenário político e institucional são obstáculos para a atratividade dos países latino-americanos”, afirma o chefe de pesquisas do Goldman Sachs para a região, Alberto Ramos. “Com essa onda de manifestações sociais recentes, o investidor começou a olhar para a América Latina e colocar maior preço de risco”, acrescenta o profissional, em referência aos protestos massivos no fim do ano passado em países como Chile, Colômbia, Equador e Bolívia.

No caso brasileiro, há uma transição em curso, que ajuda a explicar a saída de recursos estrangeiros. Para Nuno Martins, chefe de estruturação de derivativos do Bank of America, a queda de juros faz com que investidores busquem outros mercados mais rentáveis. “O Brasil, em particular, está passando por um período de redução drástica de ‘carry’ com um crescimento ainda em construção. O crescimento não se concretizou na magnitude que o mercado espera. Então é natural que haja uma realocação de portfólio para se adequar a essa realidade, diz.

Os emergentes asiáticos também levam vantagem em outros fatores sobre a América Latina, como uma população de quase 4 bilhões de pessoas e incentivos para o desenvolvimento tecnológico. “Por volta de 2025, aproximadamente 600 milhões de chineses estarão habilitados para consumir a tecnologia 5G, o que revolucionará a indústria global de telecomunicações”, diz Stephen Innes, chefe de estratégia da Axicorp, corretora especializada em mercados asiáticos.

Para ele, são os aplicativos, os negócios e as infraestruturas que serão criados que atraem a atenção dos estrangeiros. “Isso já está tendo um efeito considerável sobre os exportadores de eletrônicos em países como Malásia e Cingapura, impulsionando os ingressos de investimento.”

A discussão sobre atratividade de um ou de outro mercado também inclui uma questão de preços. Gestora do MAN GLG, que possui US$ 30,8 bilhões de ativos sob administração, Lisa Chua, alerta que os preços de ativos de risco, como emergentes, parecem “esticados”. “Portanto, o ponto de entrada será essencial”, afirma a especialista.

No caso brasileiro, há quem veja os preços caros, mas esse não é um ponto que gera consenso. O economista-chefe da Exploritas, Andrei Spacov, afirma que os juros baixos justificam o novo nível da bolsa. “Isso torna a série histórica um guia ruim, porque a coisa melhorou muito, na margem. Talvez os preços aqui tenham uma mudança de patamar sustentável, justificados pela conjuntura macro.”

 

Caixa vai antecipar crédito imobiliário prefixado para fevereiro

A Caixa vai antecipar de março para fevereiro o lançamento do crédito imobiliário com taxas prefixadas. A nova previsão é que a linha seja anunciada por volta do dia 18 de fevereiro, apurou o Valor. A mudança de data está relacionada ao IPO da Caixa Seguridade, previsto para ocorrer entre o fim de março e o começo de abril. A ideia é que o lançamento do crédito prefixado não ocorra no meio do processo.

A linha provavelmente será lançada em cerimônia no Palácio do Planalto, como foi feito quando a Caixa anunciou o crédito atrelado ao IPCA, em agosto do ano passado. Com o IPO em andamento, ficaria mais difícil dar a publicidade desejada ao assunto.

Diferentemente do crédito indexado pela inflação, que precisou de mudança regulatória, o financiamento prefixado não requer aprovação do Conselho Monetário Nacional, segundo um interlocutor que acompanha a questão. A Caixa já seria, inclusive, sinalização positiva do Banco Central a esse respeito.

Em entrevista publicada pelo Valor na segunda-feira, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, defendeu as taxas prefixadas como um caminho para ampliar a oferta de crédito imobiliário no país e resolver descasamentos de funding e distorções no mercado. Com uma taxa travada por toda a vigência do contrato, o cliente não ficará exposto ao risco inflacionário e a Caixa poderá securitizar o crédito e vendê-lo no mercado, afirmou Guimarães.

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