Quarta-feira

VALOR

Indústria confirma fraqueza e fecha 2019 com queda de 1,1%

A produção da indústria brasileira diminuiu 1,1% em 2019, após dois anos de crescimento, em 2017 (2,5%) e 2018 (1%). O desastre causado pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG) foi em grande parte responsável pelo resultado negativo, mas a fraca recuperação da economia e a recessão na Argentina, um dos principais parceiros comerciais do país, também afetaram o setor.

As expectativas para 2020 variam entre crescimento abaixo de 1% até 3%, mas é consenso entre economistas que o conturbado cenário externo, agora com preocupações sobre o impacto da epidemia de coronavírus, pode limitar o avanço do setor nos próximos meses. Apenas em dezembro, a atividade industrial caiu 0,7% na comparação com novembro, feito o ajuste sazonal, recuo maior que o de 0,5% esperado pelo mercado.

Em relação ao mesmo período de 2018, houve queda de 1,2%. Com isso, a produção do país ficou 18% abaixo do maior nível alcançado pelo setor, em maio de 2011. A indústria também está no mesmo patamar de junho de 2004, mais de 15 anos atrás, ressalta análise do banco Goldman Sachs. Economistas apontam o caráter estrutural do enfraquecimento da indústria, setor que tem perdido cada vez mais espaço na economia do país.

Segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), mesmo quando a indústria cresceu, no período de 2011 a 2019, as altas foram modestas. Os anos no vermelho predominaram, resultando em perda acumulada de 15% no intervalo. A produção de bens de capital teve o maior retrocesso, de 28%.

Afetada pelo desastre de Brumadinho, em 2019 a indústria extrativa teve o pior resultado em 16 anos, com queda de 9,7%. A indústria de transformação, por sua vez, teve pequena alta de 0,2%. André Macedo, gerente da pesquisa industrial mensal do IBGE, diz que esse crescimento foi puxado pela produção de alimentos (+1,6%), veículos (+2,1%) e produtos de metal (+5,1%).

Mas o resultado positivo da transformação não foi disseminado. De 25 atividades, 15 recuaram. “O segmento extrativo foi o principal responsável pela queda geral, mas houve redução de produção para além disso, o que pode estar relacionado ao contingente de pessoas fora do mercado de trabalho, à crise na Argentina e à entrada de importados”, diz Macedo.

Flavio Serrano, economista-chefe do banco Haitong, ressalta a frustração de expectativas com a economia em 2019. “Esperava-se um crescimento maior”. Os altos e baixos da recuperação da atividade do país atingiram a produção de bens de capital, que em dezembro levou um tombo de 8,8% na comparação com novembro. No acumulado do ano, a categoria recuou 0,4%.

Mas o principal resultado negativo da indústria, destaca Serrano, foi o da categoria de bens intermediários, que em dezembro ficou estável, mas no ano recuou 2,2%. Esses bens respondem por 60% do total produzido pelo setor industrial. É onde a indústria brasileira “mais conversa com o exterior”, diz o economista, lembrando que a crise na Argentina afetou não só as exportações de veículos, mas também as de vários intermediários.

 A produção de bens duráveis, que caiu 2,7% em dezembro, subiu 2% no ano, refletindo em parte a recomposição do consumo das famílias. Embora no quarto trimestre a indústria tenha crescido 0,2% na comparação com o terceiro, feito o ajuste sazonal, o mau resultado de dezembro deixa um carregamento estatístico de -1% para o primeiro trimestre deste ano, segundo cálculo do Goldman Sachs. Ou seja, encolheria nessa proporção se fechasse o período no mesmo nível de dezembro.

Em 2020, o mercado doméstico pode dar mais sustentação à indústria, mas o mundo preocupa. “O cenário externo ainda adverso deve limitar o crescimento da indústria em 2020”, afirma Luana Miranda, pesquisadora da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

O ano já começa com a ameaça do coronavírus sobre a atividade na China. Além disso, o acordo comercial do país asiático com os Estados Unidos deve ser negativo para as exportações de manufaturados. “Essas questões conjunturais vão estar na conta da indústria, que já tem uma fragilidade estrutural”, comenta Luana.

 E a Argentina ainda deve ter seus efeitos na indústria, diz. O Ibre/FGV estima aumento de 1,6% na produção industrial de 2020, com alta de 0,8% no segmento de transformação e de 8,5% no extrativo.

Os mesmos fatores levaram a gestora Arazul Capital a cortar a estimativa para a expansão da produção industrial de 2% para 1,6%. “O setor externo ficou mais complicado que antes. Os dados da balança comercial de janeiro mostram isso”, afirma Rafael Leão, economista-chefe da casa. “A desaceleração no comércio global vai gerar uma produção menor do que esperávamos”, diz.

O banco Haitong vê crescimento entre 1,5% e 2% na indústria este ano. Mais pessimista, o UBS estima alta de 0,7%. A LCA Consultores e o Santander preveem avanço de 3% e 2,9%, respectivamente, na atividade do setor. Para eles, o segmento deve ser beneficiado pelo efeito da queda dos juros na demanda interna.

Essas estimativas, contudo, correm risco de frustração, a depender do impacto de uma eventual desaceleração mais pronunciada da economia global. Para janeiro, as estimativas, ainda preliminares, são de queda da produção. A LCA estima recuo de 0,4% sobre dezembro e de 1,2% sobre janeiro de 2019.

 

Risco é de uma política monetária ‘muito mais potente’ no Brasil, diz Berriel

Com o atual ciclo de corte da Selic em sua reta final, o debate mais relevante para a política monetária, agora, gira em torno do impacto das medidas do Banco Central na economia. Medir esse efeito, entretanto, não é tarefa fácil e impõe um elemento adicional de incerteza no cenário. Essa é a avaliação de Tiago Berriel, que foi responsável pela diretoria de assuntos internacionais e riscos corporativos no Banco Central durante três anos até o começo de 2019. Recentemente, assumiu o cargo de economista-chefe da Gávea Investimentos, gestora que foi fundada pelo ex-presidente da autoridade monetária Armínio Fraga e por Luiz Henrique Fraga.

Em sua primeira entrevista no novo cargo, Berriel adota um tom otimista para a recuperação da atividade e afirma que o principal termômetro para os próximos passos da política monetária será a evolução dos núcleos de inflação. “São nesses componentes que vamos ver os sinais de uma retomada e o efeito estimulativo da política monetária. Esperamos que, em algum momento do ano, os núcleos de inflação comecem a caminhar para cima”, diz.

Ainda assim, ele afirma que permanece algum espaço para a manutenção da política expansionista ao longo desse ano. “O mais provável é que a retirada de estímulos não ocorra em 2020”, afirma. Para ele, uma política monetária mais potente significa que os cortes de juros conseguirão impulsionar mais a demanda. “Mas também quer dizer que, num processo de política monetária restritiva, o Banco Central vai precisar elevar menos os juros”. Veja, a seguir, os principais trechos da entrevista:

Valor: Na avaliação do senhor, qual é o espaço para redução da Selic?

Tiago Berriel: Acho que a discussão sobre um corte marginal de juros - e se o ciclo vai acabar agora ou não - é menos relevante. Existem poucas dúvidas de que o ciclo atual está próximo do fim. O mais importante é que o Banco Central fez um processo adicional de flexibilização monetária desde meados do ano passado até agora. E isso tem tudo para ser estimulativo na margem, principalmente, por tudo que está acontecendo no mercado de crédito. Um debate mais relevante gira em torno do canal de transmissão da política monetária e o novo ambiente de crédito que o Brasil está vivendo, com expansão de crédito privado, novos agentes e novo ambiente de competição, que foi resultado, em parte, da agenda microeconômica do Banco Central.

Valor: Seria prudente o Banco Central interromper o ciclo para ver o andamento da economia?

Berriel: Já estamos muito próximos do fim do ciclo. O Banco Central já comunicou isso, de certa maneira. Eu não acho que o diagnóstico fundamental para vermos os efeitos da política monetária vá depender de um corte adicional ou não da Selic agora.

Valor: Como podemos quantificar essa nova potência da política monetária?

Berriel: Não é simples quantificar. Se a gente pensar em toda a modelagem que o Banco Central tem e que todos os economistas têm, ela não foi estimada nesse novo ambiente de crédito privado, de nova competição bancária, de agenda de fomento a competição, tecnologia e fintechs. Antes, havia uma participação maior dos bancos públicos e do BNDES. Havia a presença da TJLP e um papel maior do crédito direcionado. Agora, estamos caminhando para um mercado de capitais mais pujante e um ambiente de competição muito maior. Nesse novo mundo, podemos imaginar que a capacidade de estímulo da política monetária é muito maior.

Valor: O que isso significa para os ciclos de queda da Selic ou os de alta?

Berriel: Em um ciclo expansionista, a política monetária vai conseguir estimular mais a demanda. Mas também quer dizer que, num processo de política monetária restritiva, o Banco Central vai precisar elevar menos os juros. O impacto vai ser mais forte sobre a demanda agregada, sobre investimentos e sobre as variáveis relevantes. É difícil dizer se estamos duas ou três vezes mais potentes, por exemplo, mas os sinais são de maior efeito da política monetária.

Valor: Qual é a sua avaliação sobre o tamanho do hiato do produto [diferença entre o PIB e o PIB potencial]?

Berriel: A gente trabalha com hiato aberto ainda, mesmo com revisões positivas para as taxas de crescimento do Brasil em 2020 e 2021. Tem algum espaço de manutenção da política expansionista ao longo deste ano. O mais provável é que a retirada de estímulos não ocorra em 2020. Agora, quando temos incertezas sobre o canal de transmissão, também existe incerteza sobre a velocidade de fechamento do hiato e possíveis pressões inflacionárias. Outra incerteza gira em torno sobre o momento que o investimento privado no Brasil vai começar a realmente deslanchar. Vemos melhora na construção, no mercado de crédito, no mercado de trabalho, mas ainda não vimos os sinais claros de recuperação do investimento que teriam efeito sobre o potencial do PIB em prazos mais longos.

Valor: Como o senhor está vendo o cenário para inflação?

Berriel: Está ocorrendo uma reavaliação para baixo da inflação de 2020, que é muito baseada na redistribuição dos choques de proteína e o efeito de energia e preços administrados. Há uma mudança nas projeções para o número cheio de inflação em componentes que ficam essencialmente fora do núcleo. Esse é um indicador menos importante para a política monetária. Nossa projeção para o IPCA cheio é de 3,8%. Mas a nossa preocupação maior é olhar a evolução dos componentes de núcleo, que são mais sensíveis ao ciclo e a própria política monetária. E, nesse caso, a gente não vê uma redução adicional nos últimos dados. Inclusive, houve uma pressão adicional no número mais recente, o IPCA-15 de janeiro, mas não devemos concluir que já existe uma mudança do diagnóstico da inflação por causa de um dado na margem. Dito isso, são nesses componentes que vamos ver os sinais de uma retomada e o efeito estimulativo da política monetária. Esperamos que, em algum momento do ano, os núcleos de inflação comecem a caminhar para cima.

Valor: O cenário de juros baixos veio para ficar?

Berriel: Com a manutenção de uma agenda de reformas de Estado, com implicações na estrutura fiscal, não teremos taxas de juros reais como tivemos no passado. Essa é a tendência. Vamos ter uma taxa de juros média mais baixa, uma taxa neutra mais baixa e oscilações em torno disso também menos contundentes, uma vez a potência da política monetária é maior tanto no momento de estímulo quanto no momento de promover restrição na atividade.

Valor: Com os juros nas mínimas históricas, o cenário de atividade é mais positivo?

Berriel: Tenho uma visão otimista sobre atividade. Trabalhamos com projeção de crescimento entre 2,5% e 3% do PIB em 2020. Nos últimos anos, o país passou por um processo de desalavancagem muito grande, principalmente das famílias. Esse processo foi doloroso, a renda das famílias caiu e o consumo caiu ainda mais. Mas reduzimos o grau de endividamento. Esse processo veio com expansão monetária e queda de juros. Então, chegamos na virada de 2017 para 2018 já com economia desalavancada, mas com muita incerteza do lado político e fiscal da economia. Ao longo de 2019, houve a reforma da Previdência. A incerteza foi reduzida tanto sobre a condução quanto sobre a capacidade de implementação de agenda fiscal. Nesse momento, há menos incerteza e menos endividamento, e mais estímulo monetário e mais competição no mercado de crédito. Por isso, temos um cenário muito favorável. As famílias têm uma condição melhor para tomar crédito mais barato. Além disso, há sinais de melhora do mercado de trabalho. É uma combinação que tende a se refletir, em algum momento, em mais investimento.

Valor: Na Europa, já existe uma pressão do BCE para que os governos ajudem na retomada da economia e que a responsabilidade não caia só na política monetária. Essa discussão pode chegar no Brasil?

Berriel: Existem fatores estruturais lá fora, como as questões demográficas, que pressionam as taxas de juros para níveis mais baixos. Essas pressões fazem com que a política monetária chegue num nível em que que não se consiga mais derrubar os juros - o “zero lower bound”. Quando se chega no limite de expansionismo que a política monetária pode ter, você perde um instrumento importante. Se a gente realmente acreditar que, por questões estruturais, a taxa de juros neutra é muito baixa, a capacidade de estímulo fica reduzida e, assim, instrumentos alternativos são buscados, como compra de ativos, controle da curva de juros, como vemos no Japão, ou uma política fiscal estimulativa. Isso é um problema que o Brasil não sofre e nunca sofreu. Ainda estamos distantes desse nível. Não temos motivo para acreditar que a política monetária do Brasil é incapaz de estimular a economia, até porque temos mais espaço para dar estímulos. Mais do que isso: temos uma reorganização do sistema bancário e de crédito no Brasil. Esse fator sozinho deveria fazer com que tivéssemos mais recursos disponíveis para estimular a economia. Com a entrada do setor privado no mercado de crédito no espaço vazio deixado pelo setor público atuando via BNDES, com a expansão do mercado de capitais, novo arcabouço regulatório... Só esse movimento deveria fazer com que a taxa neutra fosse pressionada para cima, não para baixo. O risco, no Brasil, é a política monetária ser muito mais potente do que ela foi no passado.

Valor: Recentemente, o dólar ficou bem perto de R$ 4,30. Qual é a expectativa para o mercado de câmbio?

Berriel: Nossa visão é de que o câmbio tem alguns motivos para estar pressionado. Fizemos um ajuste monetário que gerou uma depreciação do câmbio. Não tem nada a ver com fundamentos de risco do Brasil. É um ponto no qual o presidente do BC, Roberto Campos Neto, tem enfatizado e que faz todo sentido. Essa parte da história já aconteceu, até porque estamos perto do fim do ciclo de política monetária. Na margem, estamos vivendo momentos, incertezas e choques com potenciais muito disruptivos, como a questão do coronavírus, que estamos acompanhando e não sabemos quais serão as implicações sobre as economias asiáticas, sobre as economias mundiais e sobre os termos de troca do Brasil. Em um cenário em que o processo de afrouxamento monetário chegue ao fim e em que comecemos a ter notícias positivas na atividade, isso irá se refletir em um cenário mais forte para o real. É um fator que tende a estabilizar o câmbio e a servir como uma ponte de alguma apreciação para o real ao longo de 2020.

Valor: Dá para esperar algum tipo de fluxo para Brasil?

Berriel: Em renda fixa, eu acho que já teve muita saída de recurso. Se olharmos o percentual de investidores estrangeiros que detêm a dívida pública brasileira, o número é muito baixo para padrões históricos. Não espero que haja fluxo para renda fixa, mas acho que o interesse na renda variável possa aumentar se as notícias sobre atividade, sobre maior crescimento forem positivas e se realizarem. O nível de confiança dos investidores internacionais consolidaria não só a expectativa de maior crescimento, mas sim as políticas responsáveis e as reformas. Esse ciclo virtuoso de políticas responsáveis e maior crescimento pode gerar maior interesse por ativos brasileiros em geral.

 

Emergentes têm entrada de US$ 28,9 bilhões em janeiro, aponta IIF

Os fluxos de recursos em portfólio para os mercados emergentes ficaram positivos em US$ 28,9 bilhões em janeiro. Desse total, US$ 29,7 bilhões referem-se a entradas no mercado de dívida, enquanto para ações houve saldo negativo de US$ 800 milhões, segundo o Instituto de Finanças Internacionais (IIF).

“Os fluxos para emergentes continuaram se recuperando, à medida que afrouxamentos monetários dos grandes bancos centrais e a fase 1 do acordo comercial entre EUA e China deram suporte. Comparado com o mesmo período do ano anterior, 2020 começa devagar, já que os fluxos em janeiro de 2019 foram de US$ 51,6 bilhões”, diz o IIF. No mês passado, o saldo negativo nos fluxos para ações foi resultado de menores entradas na China (US$ 5 bilhões) e saída nos países restantes (de US$ 5,8 bilhões).

Nos fluxos para bônus, a Ásia emergente registrou entradas de US$ 12,3 bilhões, seguida de Oriente Médio e África (US$ 3 bilhões), Europa emergente (US$ 2,6 bilhões) e América Latina (US$ 1,6 bilhão). A China teve entrada de US$ 10,2 bilhões.

Fluxo de capital

O IIF também calcula uma medida mais ampla de fluxos de capital para emergentes, que inclui transações bancárias e investimento estrangeiro direto (IED). Nesse caso, os dados são de dezembro, quando os fluxos ficaram negativos em US$ 33,1 bilhões, após a saída de US$ 9,7 bilhões em novembro. “A reversão dos fluxos para Arábia Saudita, que se tornaram negativos, e grandes saídas de Brasil e México contribuíram para a mudança geral”, diz o instituto.

 

Em comunicado, Copom não deve fechar a porta para corte futuro

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, em sua reunião que termina hoje, tem sido cercada por muitas controvérsias. Enquanto as projeções de inflação continuam a mostrar um comportamento ainda benigno dos núcleos, a atividade econômica dá sinais de recuperação, mas em níveis abaixo do esperado pelo mercado.

Ao mesmo tempo, a taxa de câmbio sofreu uma nova rodada de depreciação nos últimos dias e, pela primeira vez, o dólar superou a marca de R$ 4,28, impulsionado principalmente pelos riscos trazidos por questões geopolíticas, como as tensões entre EUA e o Irã, e pelo surto de coronavírus na China, que ameaça desacelerar ainda mais a economia global.

Nesse cenário, a maioria dos analistas acredita que o Copom reduzirá a Selic hoje de 4,50% para 4,25%, mas a cautela empregada nos dois comunicados anteriores deve continuar presente no documento a ser divulgado, diante da continuidade das dúvidas sobre os estímulos monetários e seus efeitos na atividade.

Esses são alguns dos pontos a serem observados no comunicado do Copom. Próximos passos Analistas dizem acreditar que o Copom deve seguir enfatizando que o atual momento da política monetária prescreve cautela, mas não esperam que o BC feche as portas para cortes adicionais no juro básico. Balanço de riscos Um dos pontos que devem sustentar a flexibilidade do Copom em suas futuras decisões é o balanço de riscos.

Para especialistas, o colegiado deve manter a indicação de que, em seu cenário básico para a inflação, “permanecem fatores de risco em ambas as direções”. Ou seja, o nível de ociosidade elevado pode favorecer uma trajetória abaixo do esperado. Por outro lado, há incertezas sobre o atual grau de estímulo monetário. Hiato do produto

No entanto, o Copom pode enfatizar a discussão sobre o fechamento do hiato do produto (diferença entre o PIB e seu potencial) em um novo trecho do comunicado. Alguns profissionais dizem que o colegiado pode indicar que existe o risco de o hiato fechar mais rápido que o esperado, no que poderia servir para preparar o terreno para o fim do ciclo, mesmo com as projeções de inflação em níveis bem comportados.

Boa parte do mercado vê a discussão sobre a nova potência da política monetária e os efeitos na economia como a mais importante agora. Cenário de inflação baixa Para analistas, o comitê deve continuar mostrando projeções de inflação abaixo das metas perseguidas nos anos de 2020 e 2021, de 4% e 3,75% - horizonte relevante para a política monetária. No cenário de mercado, as estimativas devem recuar de 3,5% para 3,4% em 2020, e continuar em 3,4% tanto em 2021 quanto em 2022, na avaliação do Itaú.

No cenário híbrido, que considera câmbio constante e taxa de juros de acordo com a pesquisa Focus, devem recuar de 3,7% para 3,5% em 2020 e continuar em 3,7% para 2021 e em 3,5% para 2022. Movimento do câmbio Embora o dólar tenha se aproximado recentemente da marca dos R$ 4,30, alguns profissionais notam que o tema não deve ser contemplado no comunicado, tendo em vista que o movimento de depreciação do real ocorreu de forma concomitante com a revisão para baixo das projeções de inflação do mercado. Cenário externo

As tensões geopolíticas e a disseminação do coronavírus geraram, nos últimos dias, temores adicionais de um desaquecimento da economia global. Os eventos recentes podem inibir a melhora marginal observada em indicadores de atividade nos EUA, no Japão, na zona do euro e na China. Ao mesmo tempo, a postura acomodatícia de outros bancos centrais teve continuidade. Assim, analistas esperam que o panorama internacional volte a ser destacado como “relativamente favorável” para economias emergentes.

 

Juro futuro de curto prazo bate mínima histórica com Selic no foco

O processo de retomada da economia voltou a dar sinais de recuperação em ritmo gradual, o que reforçou, às vésperas da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, o cenário de taxas de juros baixas por um período prolongado. As perspectivas de inflação ainda em níveis comportados também se mantiveram no foco dos investidores e contribuíram para que os juros futuros exibissem um novo dia de queda firme em toda a curva a termo, nesta terça-feira (4).

No fim da sessão regular, às 16h, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 recuou à mínima histórica de 4,295%, após sair de 4,33% no ajuste anterior. Nos cálculos da Quantitas, a curva indicava 86% de chance de uma redução de 0,25 ponto percentual na Selic amanhã. Também por volta de 16h, a taxa do DI para janeiro de 2022 cedeu de 4,93% para 4,89%; a do contrato para janeiro de 2023 passou de 5,46% para 5,44%; e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 6,15% para 6,11%.

No primeiro dia de reuniões do Copom, que contemplou uma discussão sobre a conjuntura doméstica, o cenário desafiador de retomada da atividade continuou a imperar. A queda mais acentuada do que o esperado da produção industrial em dezembro e a queda no volume de veículos licenciados na comparação anual de janeiro deram novas pistas sobre a retomada gradual da economia brasileira.

“As últimas observações não empolgam”, afirmou o economista-chefe da Tullett Prebon Brasil, Fernando Montero. “Nossas séries ajustadas sugerem o mercado [automotivo] estacionado.” Ao mesmo tempo, as expectativas de inflação se mantiveram no centro do debate e analistas continuaram a ver o IPCA em níveis ainda mais distantes da meta de 4%, fixada para este ano. Na avaliação da equipe de estratégia de renda fixa do Morgan Stanley, a inflação comportada “dá força à possibilidade de um corte de 0,25 ponto percentual na próxima reunião e sugere que, no próximo comunicado, o BC pode deixar a porta aberta para cortes adicionais”.

Uma das casas que projetam a Selic a 4% em março, a TD Securities argumenta que, mesmo após o BC ter soado mais conservador na reunião de dezembro do Copom em relação à dinâmica de crescimento, “a ameaça representada pelo coronavírus para o crescimento global, bem como o acordo comercial entre Estados Unidos e China, que implicaria em menor demanda por produtos brasileiros, sugere que ainda existem riscos firmes de crescimento menor”.

A Legacy, contudo, continua a projetar uma expansão de 2,8% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro este ano, mas ressalta que a inflação deve se manter em níveis bastante benignos. A gestora cortou sua estimativa para o IPCA deste ano de 3,4% para 3,1% e disse acreditar que, dado o tom de cautela do BC, “nosso entendimento é que os juros permanecerão estáveis em 4,25% por algum tempo, após o provável corte de 0,25 ponto percentual na Selic em fevereiro”.

O quadro de aceleração do crescimento, hiato do produto amplo, inflação baixa e ancorada e juros estáveis levou a Legacy a manter posição aplicada em juros reais nos trechos intermediários e longos da curva. “A melhora na perspectiva fiscal é significativa e vem recebendo, na nossa visão, menor atenção do que a merecida pelos investidores. Essa constatação, aliada ao fluxo de venda por parte de alocadores institucionais na ponta longa da curva de juros reais, tem intensificado a inclinação, o que age no sentido de reforçar nossa convicção nas posições aplicadas em NTN-Bs longas.”

 

FOLHA

Surto na China muda projeções de PIB para o Brasil em 2020

A epidemia de coronavírus na China e seus efeitos sobre a economia global devem contribuir para a desaceleração da atividade no Brasil no primeiro trimestre de 2020, o que tem levado economistas a rever para baixo as projeções para o PIB (Produto Interno Bruto).

Uma desaceleração adicional também reforçou a percepção de que o Banco Central do Brasil deverá promover um novo corte na taxa básica de juros na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) marcada para esta quarta-feira (5), de 4,50% para 4,25% ao ano.

Desde o ano passado, já era esperado um desempenho mais morno da economia brasileira no começo de 2020, por conta de fatores como o fim dos efeitos da liberação do FGTS sobre o consumo. A intensidade da desaceleração dependeria, principalmente, do ritmo de crescimento do final de 2019 e do comportamento da economia mundial.

Os dados divulgados sobre o comportamento da economia brasileira nos meses de novembro e dezembro reforçaram a percepção de um quarto trimestre com ritmo próximo ao verificado nos três meses anteriores, na contramão de projeções mais otimistas.

O próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, comentou em dois eventos no mês passado que algumas projeções do mercado não estavam contemplando uma desaceleração já esperada da indústria e um efeito menor do FGTS sobre o consumo.

A expectativa de desaceleração da economia chinesa, um dos principais parceiros comerciais do Brasil, veio para gerar mais incertezas, embora seus impactos ainda sejam difíceis de se mensurar.

A economista Laura Pitta, do Itaú-Unibanco, especialistas em China, traça dois cenários, ambos de crescimento inferior aos 6% projetados anteriormente pela instituição. Se houver estabilização do contágio em meados de fevereiro e a atividade econômica começar a se normalizar, o país asiático pode ter expansão de 5,8% neste ano. No cenário mais pessimista, no qual a incerteza se estenda por um período maior, até o segundo trimestre, por exemplo, o crescimento projetado é de 5,3%.

“A resposta das autoridades chinesas está sendo robusta. A economia está parando para que o combate ao vírus seja mais rápido. A dúvida é se a resposta vai ser suficiente”, afirma a economista.

Ela diz que o isolamento de cidades e o fechamento de estabelecimentos pode gerar um impacto maior no curto prazo sobre a atividade, mas, se as medidas forem eficazes, a retomada será mais rápida. Afirma ainda que o setor de serviços, do qual a economia chinesa tem se tornado mais dependente nos últimos anos, deve ser o mais afetado, mas que a indústria pode se recuperar ainda neste ano.

Segundo a economista, outra mudança relevante é que a estrutura da economia chinesa não permite tantos estímulos como na época da Sars (forte síndrome respiratória que apareceu em 2002), quando o país vivia um boom.

“Hoje, o país está em um cenário de desaceleração estrutural. Tem menos espaço para estímulos.”

A instituição não divulgou projeções sobre o impacto da desaceleração na China, mas afirmou, em relatório da última sexta-feira (31), que os efeitos tendem a ser passageiros, mas podem gerar pressão negativa sobre a atividade global e um potencial risco de baixa para a recuperação no Brasil.

O Itaú projeta crescimento para o Brasil de 2,2% para 2020, perto dos 2,3% da pesquisa Focus do BC.

O banco suíço UBS, em relatório divulgado nesta terça (4), reviu a projeção de crescimento da China de 6% para 5,4%. Para o Brasil, a expectativa de expansão para 2020 foi revista de 2,5% para 2,1%.

A instituição também espera mais dois cortes na taxa básica de juros, para 4,25% nesta quarta e 4% na reunião do Copom de março.

Luis Otavio Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, mantém a previsão de alta do PIB brasileiro para este ano em 2,5%, mas mudou o viés de alta para de baixa.

“A gente sabe muito pouco sobre qual vai ser o impacto final disso. O mercado tenta achar paralelos com outros casos, como a Sars. Se for isso, pode demorar mais duas semanas para estabilizar, e aí o mercado se tranquiliza”, afirma.

“Neste momento, qualquer discurso catastrofista, de que isso vai isso prejudicar de forma indelével o crescimento brasileiro, é especulação.”

De acordo com o economista, que previa manutenção da taxa de juros na reunião do Copom desta quarta e passou a prever um corte de 0,25 ponto percentual, o BC tem agora, por causa da China, motivos para estar menos preocupado com os efeitos inflacionários de uma recuperação da atividade.

Levantamento feito pela agência Bloomberg junto a 40 analistas mostra que 80% esperam queda dos juros para 4,25% nesta quarta. Outros 20% projetam manutenção da taxa básica em 4,5% ao ano.

 

ESTADÃO

BC deve cortar Selic para 4,25% nesta quarta e encerrar ciclo de quedas, dizem economistas

O Banco Central deve reduzir nesta quarta-feira, 5, a taxa Selic em mais 0,25 ponto porcentual. Com isso, os juros básicos vão renovar seu piso histórico mais uma vez, caindo para 4,25% ao ano. Daqui para a frente, o futuro é mais incerto, apesar de a maior parte do mercado contar com a sinalização do BC para o fim do ciclo de cortes da Selic, que deverá se manter estável ao longo de todo o ano de 2020.

Essa é a projeção de três economistas-chefes ligados aos principais bancos do País: Fernando Honorato, do Bradesco; Felipe Tâmega, do Itaú Asset; e a ex-secretária do Tesouro do governo Temer e atual economista-chefe do Santander, Ana Paula Vescovi.

Em entrevista realizada na terça-feira, 4, na sede do Estado, eles representaram um grupo formado por 25 economistas-chefes ligados à Associação Brasileira das Entidades do Mercado Financeiro e de Capitais (Anbima). Os especialistas se reúnem na semana anterior ao Copom para avaliar o cenário econômico e projetar o que o mercado espera da reunião para a Selic nos próximos 45 dias.

Juros a 4,25%

Segundos os economistas, o consenso entre seus colegas é de que os juros não devem subir ao longo deste ano, já que a inflação oficial medida pelo IPCA, por enquanto, segue "comportada", abaixo do centro da meta de 4% ao ano estipulada pelo Banco Cental. O índice de preços deve fechar o ano na casa dos 3,5% ao ano, abaixo da meta da inflação estipulada pelo Banco Central, de 4% ao ano.

"O comitê acha que as projeções para a inflação estão baixas e podem até cair nas próximas semanas, o que poderia levar o Copom a cortar as taxas de juros", afirma o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato. "Hoje, o consenso de mercado demonstra isso (que o BC vai cortar em 0,25 ponto a Selic). Seria absolutamente uma surpresa alguma ação diferente do BC", avalia Ana Paula, do Santander.

A última reunião do Copom terminou no dia 11 de dezembro de 2019, com redução de 5% para 4,5% ao ano. O resultado do encontro de hoje será divulgado após as 18h.

Próxima reunião

Para Felipe Tâmega,  a grande discussão do mercado, neste momento, está em torno do teor da comunicação do BC ao mercado. A instituição emite uma nota que acompanha o resultado, no mesmo dia, e uma ata, mais completa, na semana seguinte.

"Alguns economistas são hoje da opinião de que o BC deve fechar um pouco mais a porta, não significando que vai indicar já agora que novos cortes não acontecerão. Outros membros estão achando que essa porta ficaria um pouco mais aberta, dando um pouco mais de flexibilidade para quando da reunião seguinte do BC", destaca. Os três economistas ouvidos pelo Estado, porém,  esperam apenas um corte de Selic em 2020, o que estacionaria a taxa em 4,25% ao ano.

Churrasco salgado

A disparada no preço das carnes no fim de 2019 impulsionou a inflação oficial no País. O IPCA fechou o ano em 4,31%, um pouco acima da meta de 4,25% perseguida pelo Banco Central. A inflação de dezembro subiu 1,15%, maior alta para o mês desde 2002.

Ana Paula, contudo, não espera o carregamento dessa pressão inflacionário proveniente da carne para os dados oficiais de 2020. Segundo ela, isso ficou para trás. "O que observamos é que esse choque (de preços) ficou muito bem concentrado entre novembro e dezembro (do ano passado) e os preços já voltaram em janeiro. É como se tivesse antecipado esse choque inflacionário de 2020 para 2019, trazendo um cenário mais benigno para 2020", afirma.

Os economistas dizem esperar uma inflação de 3,5% para o ano, abaixo da meta de 4% do BC, e com possibilidade de queda para os próximos meses. "Em dezembro, projetávamos 3,6% de inflação para 2019. Agora, em janeiro, ficou em 3,5%. Quer um palpite? Se as coisas caminharem do jeito que estão caminhando, é possível que tenhamos mais uma revisão na projeção de inflação pelo tom geral", afirma Honorato.

Coronavírus e reformas

Sobre a crise desencadeada pelo novo coronavírus, que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar emergência de saúde pública global, eles afirmam que, por enquanto, os impactos estão mais restrito à China, onde a epidemia teve início. Questões como guerra comercial, eleições presidenciais nos Estados Unidos e o Brexit seguem monitoradas.

No cenário interno, os economistas surpreendem ao afirmar que o cenário segue mais tranquilo. "A gente costuma dizer que a reforma da Previdência era a reforma da vida ou morte. As demais reformas são cruciais para o equilíbrio financeiro, mas são reformas que o mercado não colocou 100% no preço, que não são indispensáveis para o País crescer 2% ao ano", diz  o economista-chefe do Bradesco.

Para eles, a atenção do mercado está, sobretudo, na sinalização do governo para o ano que vem. "O que o mercado tem expectativa é de que continuemos com a agenda de reformas. Ela precisa se manter aquecida, tem de estar pelo menos caminhando", afirma Ana Paula Vescovi.

Elevação de nota risco

Com o governo federal segurando gastos, mas principalmente recebendo pagamentos do BNDES e vendendo reservas internacionais, o endividamento do Brasil recuou em 2019 pela primeira vez em seis anos. A dívida bruta terminou o ano passado em R$ 5,5 trilhões - 75,8% do Produto Interno Bruto (PIB). Para Ana Paula Vescovi, que foi secretária do Tesouro durante o governo de Michel Temer, a trajetória da dívida pública em 2019 representou uma boa notícia para o mercado, mas não há motivos para comemorar.

"Poderemos comemorar quando o Brasil tiver concluído o ajuste fiscal. Antes disso a gente tem um compromisso para chegar até lá, crível a ponto de os preços (do mercado financeiro) estarem refletindo isso", conta.

Para Honorato, o resultado das contas públicos em 2019 já faz com que o mercado espere por um upgrade das agências na nota de risco do Brasil. "Para este ano, seria pelo menos um upgrade. Estamos três notas abaixo do grau de investimento, seria um passinho", diz Ana Paula.

Dólar a R$ 4,10

Quanto à moeda americana, que chegou a bater R$ 4,285 na semana passada, renovando as máximas históricas para a cotação do dólar frente ao real, o patamar de consenso entre os economistas para 2020 está em R$ 4,10.

Um mês e meio

A cada um mês e meio, o presidente do Banco Central (BC) e seus diretores se reúnem por dois dias para decidir os rumos da taxa básica da economia, a Selic. Essa reunião é conhecida como Copom, Comitê de política monetária do Banco Central, e o seu resultado tem grandes impactos na política econômica brasileira.

O BC tem o mandato de controlar a inflação do País. Se a economia cresce e pressiona os preços dos produtos, o Copom tende a aumentar a Selic. Se o mercado está em retração e a inflação cai ou não se mexe, o BC tende a reduzir a taxa básicas de juros.

 

2020, mais um ano difícil para a equipe econômica

A política econômica do governo de Jair Bolsonaro está bem posicionada neste início do segundo ano do mandato do presidente. A guinada ortodoxa e liberal iniciada antes deste governo – desde 2016 e, em alguns aspectos, desde 2015 – está rendendo os frutos esperados, embora nada espetaculares.

Dessa forma, o PIB prossegue em sua letárgica recuperação, prevendo-se crescimento de pouco mais de 2% este ano. A inflação controlada possibilita os juros ineditamente baixos, que dão suporte à retomada e mudaram a cara, para melhor, do quadro fiscal. O mercado de trabalho deu sinais bastante positivos no final do ano passado, tanto em termos de redução de desemprego quanto de formalização. O câmbio se desvalorizou muito, mas dentro de um quadro de normalidade macroeconômica.

Porém, apesar desses avanços, não há espaço para comemorar. Na verdade, 2020 pode ser mais um ano difícil para os condutores da política econômica. Infelizmente, o mundo, que tem sido benevolente com países em convalescença como o Brasil, está dando sinais de que este ano pode não ser dos mais tranquilos.

Os problemas de dois países, especificamente, afetam o Brasil em particular: China e Argentina.

A China já vinha num processo de desaceleração, com muitos componentes domésticos. A transição de modelo econômico tem sido complicada. O investimento caiu, mas o consumo não entrou em campo como se esperava. E há um problema sério de endividamento que afeta empresas e famílias.

Em cima dessa conjuntura, vieram choques, ambos ligados a questões de saúde. O primeiro, afetando o mundo animal, foi a gripe suína, que provocou uma aguda inflação de alimentos na China, com impacto negativo na renda das famílias, e, portanto, no consumo. De fato, apesar da inflação estar em elevação, os núcleos e a inflação de serviços estão em queda. E agora veio o choque humano, com o coronavírus, que, ao limitar a circulação das pessoas e confiná-las, afeta diretamente os serviços, que hoje já respondem pela maior parcela da economia chinesa.

Na Argentina, embora o governo peronista tenha mostrado algum grau de sensatez ao aumentar impostos para tentar fechar o rombo fiscal, a estratégia de renegociação da dívida externa é voluntariosa e deve provocar atrito e confusão com credores. Na província de Buenos Aires, o super-heterodoxo governador Axel Kicillof está testando os limites na negociação com os credores, e há o temor de que possa provocar um evento de default a curtíssimo prazo (embora tenha havido avanços no entendimento).

Em suma, a economia chinesa pode desacelerar fortemente neste primeiro semestre e a argentina pode se afundar ainda mais na recessão. Isso afeta diretamente o minguante superávit comercial brasileiro, com o efeito China reduzindo preços e volumes das nossas exportações de commodities, e o efeito Argentina deprimindo as exportações de manufaturados. E tudo isso num mundo em que o comércio internacional praticamente parou de crescer (e que também será afetado pelo coronavírus a partir do epicentro chinês)..

Dessa forma, o déficit em conta corrente brasileiro, que se aproxima de 3% do PIB com uma economia que se move muito devagar, continuará sendo um foco de preocupação para os investidores. Isto, por sua vez, pressiona para baixo o valor do real. Até aqui, a depreciação cambial foi um processo civilizado, que conviveu com queda de juros e alta da bolsa. Mas até quando isso pode se manter? Sinais de alguma reação na balança comercial, sem dúvida, ajudariam a cimentar melhor a recém-conquistada maturidade do mercado de câmbio no Brasil.

De qualquer forma, um ambiente internacional de apetite de risco serviria como colchão para dar tempo ao tempo para que a desvalorização cambial produzisse seus efeitos sobre a economia real. Mesmo com um mercado externo chocho para as exportações brasileiras, a mudança de preços relativos pode levar a um processo de substituição de importações industriais. Mas isso não é algo que ocorre da noite para o dia.

O problema é que a subida das possibilidades eleitorais do pré-candidato democrata Bernie Sanders, que é muito de esquerda para os padrões políticos norte-americanos, pode provocar aversão a risco em termos globais. O que, como mencionado acima, é justamente aquilo que o Brasil não necessita no momento de readaptação da economia real a um câmbio mais desvalorizado.

Em suma, 2020 pode ser um caminho pedregoso para uma economia em frágil recuperação, como o Brasil, e que ainda padece de enfermidades graves tanto na macroeconomia (a questão fiscal) quanto na micro, refletidas no péssimo desempenho da produtividade. Todo a cautela das autoridades econômicas, portanto, tanto no Ministério da Economia como no Banco Central, é recomendável.

 

 

BANCO DE TALENTOS

ÁREA DO ASSOCIADO

O Sinduscon/RN pensa como você, e por isso trabalha:

NOSSA MISSÃO

Representar e promover o desenvolvimento da construção civil do Rio Grande do Norte com sustentabilidade e responsabilidade sócio-ambiental

POLÍTICA DA QUALIDADE

O SINDUSCON/RN tem o compromisso com a satisfação do cliente - a comunidade da construção civil do Rio Grande do Norte - representada por seus associados - priorizando a transparência na sua relação com a sociedade, atendimento aos requisitos, a responsabilidade socioeconômica, a preservação do meio ambiente e a melhoria contínua.

CONTATO

55 84 3206 5362

contato@sindusconrn.com.br

SOCIAL

LOCALIZAÇÃO

Rua Raimundo Chaves, 2182 - Sala 101 Empresarial Candelária - Candelária - Natal/RN

SINDUSCON/RN (C) 2012 - TODOS OS DIREITOS RESERVADOS