Sexta-feira

FOLHA DE SÃO PAULO

Não haverá crescimento do mercado imobiliário de SP em 2020, diz entidade

O Secovi-SP (sindicato do setor imobiliário de SP) afirma que a hesitação do governo federal no andamento da agenda de reformas, associado a demandas de mudanças no Plano Diretor de São Paulo, pode frear o ritmo de expansão do mercado.

O ano de 2020 deve ser de estabilidade nos lançamentos e vendas de imóveis em São Paulo, após o mercado ter registrado o maior crescimento desde 2007.

“O imponderável tem sido cada vez mais frequente. É difícil a gente prever [as condições macroeconômicas em 2020]. O governo tem posições complexas. Agora, nessa manhã, parece que a reforma administrativa voltou ao radar, que entendemos que é muito importante para o país. Efetivamente, precisamos equilibrar nossas contas e não apenas cobrando mais impostos. Tem de se reduzir o custo governo”, diz.

Para o sindicato, o ciclo de recuperação do mercado imobiliário está completo e é preciso manter “o pé no chão” em 2020. A entidade projeta estabilidade no volume de vendas e lançamentos e um aumento de 10% no VGV (Valor Global de Vendas), que é a receita total das empresas. Foram lançados 55,5 mil imóveis em São Paulo em 2019 e vendidos 44,7 mil.

No âmbito local, o setor reivindica uma recalibragem da lei de zoneamento em São Paulo, permitindo um número de maior de unidades por metro quadrado de terreno. A revisão desses parâmetros foi discutida pelo município em 2019, mas uma decisão judicial impediu o envio do projeto à Câmara.

Segundo Jafet, os ajustes nessa limitação de aproveitamento dos terrenos seriam uma solução provisória até o próximo ano, quando terá início a discussão de revisão do Plano Diretor –e quando o setor conseguiria colocar em análise mudanças o modelo de urbanização, que, para ele, não atende as necessidades atuais de moradia.

Do total de imóveis residenciais lançados ano passado, 49% era do segmento econômico. No mesmo período, foram vendidos 44,7 mil imóveis residenciais na capital. Além de muito superior à média de 28,6 mil anuais desde 2004, o número se distancia dos 16,2 mil em 2016, quando o setor atingiu a patamar mais crítico.

O aumento na participação de imóveis econômicos no total do mercado cresceu principalmente a partir de 2016, quando a legislação em São Paulo favoreceu a aderência ao Minha Casa Minha Vida.

Com isso, segundo Celso Petrucci, economista-chefe do Secovi-SP, os imóveis novos em São Paulo estão menores –66% têm menos de 45 metros quadrados- e distantes dos eixos de interesse definidos pela legislação de zoneamento municipal (áreas próximas a corredores de transporte e futuras estações de metrô).

No ano passado, 67% dos imóveis econômicos foram construídos em outras zonas da cidade. Os bairros Santo Amaro e Sacomã, no sul da capital paulista, concentram hoje boa parte dos lançamentos; são 4.151 no primeiro, e 3.170, no segundo.

Para o diretor-executivo do Secovi-SP, Emilio Kallas, sem alteração na legislação para construção, os preços deverão subir no médio prazo. Inicialmente, os estoques devem absorver a demanda. Ele diz que as restrições acabaram encarecendo os preços dos terrenos. Além disso, Kallas considera ter havido um represamento de 20% a 30% nos preços de imóveis nos últimos anos, muito devido à oferta alta. “Ou o preço vai aumentar, ou a gente muda a legislação. A gente não tem certeza por quanto tempo a população vai continuar conseguindo comprar”, diz.

Se a recuperação se completou no segmento econômico, o potencial ainda é alto para atender as famílias de renda maior, na faixa de R$ 8.000 a R$ 18 mil. Segundo Kallas, se o percentual de aproveitamento for ajustado, os imóveis ficarão mais baratos, incluindo mais gente nas possibilidades de financiamento.

Em 2019, 18,7 mil imóveis foram lançados no segmento médio e alto padrão, mais do que os 14,4 mil do ano anterior, mas ainda muito distante dos 33,9 mil registrados em 2010.

 

VALOR

Intervenção do BC é tópica e não muda tendência do câmbio, diz Mesquita

A intervenção do Banco Central no mercado de câmbio hoje parece ter caráter preventivo para evitar uma disfunção no mercado. Por ora, não parece ser o caso de iniciar um programa de intervenção regular, como aconteceu na administração do ex-presidente do Banco Central Ilan Goldfajn, que injetou um volume bilionário de swap no mercado em 2018, diante do salto do dólar no exterior e à greve dos caminhoneiros por aqui. Essa é a avaliação do economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita.

“A intervenção deve ser feita quando o mercado já está ou caminha para se tornar disfuncional. Ou seja, quando a cotação da moeda começa a subir só porque subiu ontem e as pessoas compram só para acompanhar o movimento, de forma ilíquida. O mercado fica assimétrico. Só tem comprador ou só tem vendedor. Isso justifica a intervenção do Banco Central.”

Hoje, o movimento de depreciação do real – em nova escalada do dólar - levou o Banco Central a intervir no mercado de câmbio, com a venda de 20 mil contratos de swap cambial. No início do dia, a moeda americana ultrapassou, pela primeira vez, a marca de R$ 4,38. Para Mesquita, o salto do dólar contra o real é explicado por uma série de motivos: as incertezas em torno do desempenho da economia chinesa, a variação dos preços das commodities no mercado global, dados mais fracos da economia brasileira e o nível da taxa de juros no país.

Tudo isso faz o real ter um desempenho mais fraco que o de moedas emergentes, inclusive as de países que não têm um crescimento econômico brilhante ou com políticas econômicas bem avaliadas. Segundo ele, esses países “têm atraído capital e a moeda tem mostrado um desempenho positivo, porque têm um nível de taxa juros mais elevado que o do Brasil”, explica Mesquita em entrevista ao Valor. Veja, a seguir, alguns trechos da entrevista:

Valor: Hoje, o dólar atingiu uma nova máxima histórica e o Banco Central teve de intervir no mercado de câmbio. O que justifica esse movimento?

Mario Mesquita: Existem mais incertezas sobre o ritmo de crescimento da economia mundial, especialmente a da China, que impacta preços de commodities. O Brasil é um país exportador de commodities. Então, o real sofre em linha com moedas que são sensíveis a preços de commodities. Além disso, os últimos indicadores da economia brasileira não apontam para um crescimento econômico brilhante. Então, o PIB do quarto trimestre, por exemplo, deve ter ficado entre 0,5% e 0,6% - bem aquém do que a gente vinha estimando antes. Os indicadores do começo do ano também não são tão pujantes assim. E o nível da taxa de juros não atrai capital buscando retorno, em carry trade. Toda essa combinação de fatores ajuda a explicar a fraqueza relativa do real.

Valor: O real acaba perdendo terreno mesmo contra outras divisas emergentes.

Mesquita: Sim. A economia mexicana, por exemplo, também não tem mostrado um desempenho econômico tão bom. As iniciativas de política econômica não são tão bem vistas pelo mercado, notadamente no setor de energia. Mas, mesmo assim, tem atraído capital e a moeda tem mostrado um desempenho positivo, porque o país tem um nível de taxa juros mais elevado que o do Brasil.

Valor: A intervenção do Banco Central no mercado de câmbio ajuda a frear a escalada do dólar?

Mesquita: A intervenção deve ser feita quando o mercado já está ou caminha para se tornar disfuncional. Quando a cotação da moeda começa a subir só porque subiu ontem e as pessoas compram só para acompanhar o movimento, de forma ilíquida. O mercado fica assimétrico. Só tem comprador ou só tem vendedor. Isso justifica a intervenção do Banco Central. Mas não acho que seja a intenção do Banco Central estabelecer limites para a variação cambial. A intervenção no mercado de câmbio é tópica e não é algo que muda a tendência.

Valor: O dólar já vem subindo nas últimas semanas, mas, de ontem para hoje, o movimento ganhou força e exigiu uma atuação do Banco Central. As falas do ministro Paulo Guedes sobre dólar mais forte agravaram esse movimento?

Mesquita: No início do dia, o dólar aqui estava sendo negociado em linha com os pares. Eu acho que a iniciativa do Banco Central foi mais no sentido de evitar que houvesse um movimento autossustentável de depreciação antes que começasse. Ele entrou no mercado bem cedo.

Valor: O avanço do dólar nos últimos dias muda sua expectativa para a taxa de câmbio no fim de 2020 e 2021, de R$ 4,15?

Mesquita: Olha, a gente conta com uma aceleração da economia esse ano, que deve sair de 1% para cerca de 2% entre 2019 e 2020. Essa aceleração num ambiente de risco país bastante baixo, sem movimentos adicionais na taxa de juros, deve trazer capital em busca de retornos que normalmente aumentam quando a economia acelera. É evidente que se a gente começar a questionar o ritmo de recuperação da economia, vamos ter de questionar o nível de apreciação da moeda. Ainda não fizemos isso, mas vamos ver o que vai sair nos próximos dados e nas próximas semanas. Nosso modelo de câmbio, baseado em fundamentos, aponta para um nível mais próximo de R$ 4 do que de R$ 4,40, mas ele não tem funcionado tão bem para prever o câmbio no dia a dia. Os modelos funcionam muito melhor em economias que não têm transformação estrutural, que é o que temos agora.

Valor: A frustração com os últimos dados de atividade abrem espaço para novos cortes da Selic?

Mesquita: Uma vez que o juro está diferente de zero, tem possibilidade de cortar. Quero dizer, tem essa possibilidade, sim. O Banco Central foi cauteloso em sua comunicação, como sempre em ressaltar que os próximos passos vão ser influenciados pelos indicadores econômicos. Ele vai revendo sua análise prospectiva da inflação, e isso pode levar a uma redação ou elevação da taxa básica de juros.

Valor: Como o movimento do câmbio afeta os próximos passos na política monetária?

Mesquita: O câmbio é o principal fator de risco de alta da inflação. O câmbio no patamar que está, entre R$ 4,30 e R$ 4,40, não coloca em risco a convergência para meta de inflação. Mas se avançar para R$ 4,50 ou R$ 4,60, esse cenário muda. O que vimos nas últimas semanas é um comportamento que a bolsa sobe e taxa de juros de mercado até cai, mas o câmbio deprecia. Se a taxa de câmbio ficar por aí, não muito distante disso, esse cenário pode continuar. Mas uma depreciação ainda mais intensa e persistente do câmbio pode impactar as perspectivas de inflação. Vale notar que a pesquisa Focus ainda embute câmbio de R$ 4,10. Se os analistas começarem a rever e acharem que esse nível de câmbio é perene, vai acabar implicando mudança na perspectiva de inflação. Mas há de se reconhecer que tem outros fatores no cenário. A inflação de curto prazo está muito baixa, gera inércia positiva. Câmbio é um risco, não é o único determinante para a inflação.

Valor: A depreciação do câmbio para esse nível de R$ 4,50 e R$ 4,60 poderia forçar uma antecipação da alta de juros?

Mesquita: Não é uma relação mecânica, mas, em última análise, no regime vigente, o juro é calibrado para fazer a inflação convergir para a meta. Se acontecer uma deterioração do cenário prospectivo de inflação, de tal magnitude que gere um desvio ante a meta, aí o Banco Central vai ter de reagir. Eu vejo a política monetária agora com riscos bastante simétricos. De fato, tem o risco de que a inflação pode surpreender para baixo, da atividade econômica surpreender desfavoravelmente de forma que influenciaria o cenário prospectivo, viabilizando novos cortes de juros. Mas tem o câmbio na outra ponta. Está bem equilibrada. A gente espera que a taxa de juros fique parada em 4,25% até o fim do ano.

Valor: Com todos esses riscos no radar, qual deve ser o próximo passo na política monetária?

Mesquita: Nosso cenário contempla alta de juros no fim de 2021, com vistas a assegurar a convergência em 2022. Então, ainda é algo que está bem distante. Temos a projeção de Selic a 4,5% no fim do ano que vem. Seria o começo da normalização.

Valor: Qual seria o patamar de equilíbrio dos juros?

Mesquita: Se a taxa neutra for 2% ou 2,5%, e a gente for para um meta padrão de inflação na região, de 3%, seria uma Selic neutra de aproximadamente 5,5%. Trabalhamos com juro neutro baixo. Isso se deve a uma mudança grande que houve na política fiscal do Brasil. Isso foi uma alteração estrutural muito importante que veio a partir de 2016. Frequentemente é associada a PEC do Teto. Mas achamos que a PEC do Teto veio apenas para organizar nossa crise fiscal, que vem do nível de endividamento do setor público muito elevado. Essa desaceleração tinha de acontecer, como de fato aconteceu. O gasto público que vinha crescendo em ritmo muito forte por muito tempo parou de cresceu e a oferta de crédito subsidiado foi bastante reduzida. Isso levou a uma queda do juro neutro.

 

Análise: É a segunda vez que o BC intervém no câmbio após fala de Guedes

É a segunda vez que isso acontece: num dia o ministro da Economia, Paulo Guedes, fala sobre a política cambial, no outro o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, faz uma intervenção extraordinária no mercado de câmbio. Ontem, Guedes disse que o câmbio “mudou” de patamar , e hoje o Banco Central vendeu US$ 1 bilhão em swaps cambiais.

Em 25 de novembro, o ministro disse que o câmbio, então pressionado, era consequência da política fiscal mais forte e do juro mais baixo, e o BC fez duas intervenções cambiais no mercado à vista no dia seguinte . São poucas observações de um fenômeno para afirmar que há um padrão. Mas estamos pelo menos diante de uma coincidência inquietante: o Banco Central interveio no câmbio depois de ter sob suspeita a sua autonomia na política cambial.

Os economistas costumam divergir muito sobre quando o Banco Central deve intervir no câmbio. Alguns especialistas ouvidos pelo Valor dizem que, num momento como o atual, com juros baixos e queda no crescimento mundial, o Banco Central deveria deixar o câmbio subir naturalmente para fazer o ajuste do balanço de pagamentos.

Mas, mesmo entre economistas que acham que o Banco Central deveria intervir, muitos ressaltaram que agora não houve nada especial nos dados técnicos do mercado – a novidade foi Guedes e o presidente Jair Bolsonaro falarem sobre câmbio. Já há alguns dias o real tem tido um desempenho pior do que os seus pares emergentes, o que em tese justificaria uma intervenção.

O cupom cambial, um termômetro da demanda por swaps cambiais, também andava pressionado. Mas, nesta manhã, pouco antes de o Banco Central anunciar o leilão de swaps cambiais, o real andava mais ou menos em linha com seus pares. O cupom cambial não demonstrava nenhum sinal diferente dos dias anteriores. Uma evidência de que havia demanda do mercado por swaps cambiais é que todo o montante ofertado foi absorvido, embora uma rolagem de swaps feita de tarde tenha tido colocação parcial.

Seja como for, segundo participantes de mercado essa era uma demanda que já estava presente nos dias anteriores, já que investidores começaram a desmontar apostas no real e manter posições em dólares. Economistas liberais do mercado acham que essa demanda deveria ser resolvida pelas forças do próprio mercado. Em outros momentos da história, ministros da Fazenda arranharam a credibilidade do Banco Central com pronunciamentos sobre o câmbio – Guido Mantega foi um dos mais recorrentes.

Guedes causa estragos mais potentes porque ele é muito próximo de Campos Neto, um dos primeiros economistas a integrar a equipe econômica da campanha de Bolsonaro. Ontem à noite, em um programa da GloboNews, Campos Neto deu várias declarações que indicavam conforto com os movimentos recentes da taxa de câmbio, o que contribui para o clima de surpresa com que muitos receberam a intervenção desta manhã. Ele reconheceu, nessa entrevista, que o câmbio se desvalorizou mais do que outros emergentes nos últimos dias.

Mas notou que os juros de curto, médio e longo prazos caíram. De fato, analistas econômicos do mercado têm citado a perspectiva de novos cortes de juros como um dos fatores que levaram à depreciação cambial. Campos, de outro lado, disse que a desvalorização cambial não foi acompanhada de aumento de risco – e notou que “a Bolsa voltou a subir um pouco”. Também disse que o dólar, num regime de metas de inflação e câmbio flutuante, importa apenas na medida em que afeta as expectativas de inflação. Ele notou que a depreciação cambial dos últimos dias veio acompanhada de uma queda das expectativas de inflação do mercado.

 

FOLHA

Articulação falha e verborragia de Guedes ameaçam agenda econômica

As recentes declarações polêmicas do ministro da Economia, Paulo Guedes, irritaram a equipe do presidente Jair Bolsonaro e líderes de centro do Congresso. A avaliação é que as falas geram ambiente de tensão e tumultuam a tramitação de reformas.

Para assessores palacianos, as declarações atingem uma parcela do eleitorado de Bolsonaro e podem contribuir para aumentar na população a resistência à pauta econômica, uma vez que Guedes é o fiador do projeto liberal do governo.

Entre as medidas a serem debatidas por deputados e senadores —e de interesse do governo— estão as novas regras tributárias e a reforma administrativa.

As mudanças no plano de carreiras dos servidores públicos ainda nem foram apresentadas pelo governo. Bolsonaro disse que libera o texto na próxima semana.

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), trabalha para instalar a comissão da reforma tributária também na semana que vem.

Até lá, duas falas públicas de Guedes já acenderam o alerta de assessores do presidente.

O ministro disse na quarta-feira (12) que, com o dólar baixo, empregadas domésticas viajavam à Disney.

"Uma festa danada", disse, em Brasília. Segundo ele, o dólar um pouco mais alto é bom para todo mundo.

Guedes também chamou servidores de parasitas na semana passada, em evento no Rio de Janeiro. A declaração provocou, em ano de eleições municipais, a ira do funcionalismo —categoria com forte lobby no Congresso.

Segundo interlocutores de Bolsonaro, as gafes dificultam o diálogo com o Congresso, uma vez que despertaram a contrariedade de parlamentares. O governo já enfrenta problemas na articulação.

Deputados e senadores dizem que o ministro dá munição à oposição e a táticas de obstrução de votações. Isso complica ainda mais a aprovação das reformas.

Entre as críticas que recebeu de líderes de partidos de centro, Guedes foi chamado de elitista e de promover separação de classes, em contraponto à própria mensagem que o Planalto enviou ao Congresso na abertura do ano legislativo de que quer combater a desigualdade de renda.

"Este é o momento de se ter declarações que ajudem o ambiente de aprovação das reformas de que o Brasil precisa", diz o líder da maioria na Câmara, o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), relator da reforma tributária na Casa.

Deputados dizem que ainda não há como mensurar o nível de pressão que eles vão receber da população contra as reformas porque não há propostas consolidadas. Os textos não começaram a tramitar.

"Quando negocio com um ministro e as teses que defendo são convergentes, é mais fácil que negociar com um ministro com cujas teses eu discordo. Ele dificulta a negociação com o governo", diz o líder do Solidariedade, Zé Silva (MG).

Diante das críticas, Bolsonaro buscou se descolar dos episódios protagonizados pelo ministro.

Nesta quinta (13), Disse que "o dólar estava um pouquinho alto" e, questionado sobre a frase de Guedes a respeito das empregadas domésticas, respondeu: "Pergunta para quem falou isso. Eu respondo pelos meus atos".

As falas de Guedes se somam ainda ao vaivém do governo sobre o envio das matérias.

A reforma tributária passará por alterações de congressistas e receberá sugestões do governo.

Bolsonaro disse que enviará na semana que vem suas sugestões —e a morosidade na definição das propostas do governo é outra reclamação de congressistas.

Um líder de partido de centro explica que, no caso em que Guedes chamou os servidores de parasitas, houve um constrangimento ao Executivo que abriga servidores e ao Congresso, que será cobrado pelo governo a aprovar a medida.

A declaração de Guedes sobre o funcionalismo contribuiu para o adiamento do texto da reforma administrativa. O texto seria enviado nesta semana.

“Ele coloca mais tensão sobre temas que não estão pacificados. E ele é o principal articulador das reformas. Não é positivo”, diz o líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (AM).

“O Congresso é uma grande caixa de ressonância, que é a voz da população”, afirma.

A reforma tributária é uma das principais bandeiras de Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, para este ano. Dois líderes de partidos de centro que o apoiam dizem que o Congresso é reformista e, por isso, o tumulto criado por Guedes não será suficiente para barrar as mudanças.

A aprovação das medidas no primeiro semestre, porém, é vista com ceticismo e um desafio por congressistas em razão da complexidade das matérias.

A reforma tributária da Câmara, por exemplo, não agrada a prefeitos de grandes cidades. A administrativa, por sua vez, foca o funcionalismo em ano de disputa pelas prefeituras.

O receio dos congressistas é que, ao não criar ambiente para aprovação e atuar para defender suas próprias pautas, o governo contribua para aumentar a pressão sobre deputados e senadores às vésperas dos pleitos municipais.

Enquanto isso, o Congresso dá os primeiros passos para levar, em um primeiro momento, a reforma tributária adiante. Com atraso, a comissão mista deverá ser instalada até a próxima terça-feira (18). Serão 25 senadores e 25 deputados.

A criação do colegiado também é polêmica na Casa porque senadores se sentem preteridos pelo texto da Câmara, o qual, avaliam, terá prioridade nas discussões.

Além disso, a próxima semana antecede o Carnaval, o que, para congressistas contribui para diminuir as atividades no Congresso.

 

ESTADÃO

Apesar de Guedes, não há crise no câmbio

Como já amplamente analisado, a incontinência verbal do ministro da Economia, Paulo Guedes, deu de bandeja à oposição um trunfo a ser explorado eleitoralmente: a “confirmação” de que o objetivo dos economistas liberais no Brasil é prejudicar os pobres e ajudar os ricos.

Isso é falso, obviamente. O sentido da mensagem de Guedes não foi o de que a vantagem do câmbio desvalorizado é impedir a ida de domésticas à Disney. O que ele quis dizer é que é ruim para o desenvolvimento do País – e, portanto, para a melhoria da vida dos pobres, incluindo domésticas –  um câmbio excessivamente valorizado.

Mas a forma como ele resolveu exemplificar traiu um preconceito de classe comum aos ricos no Brasil. O câmbio estava (no passado recente) tão valorizado que “mesmo os pobres” conseguiam ir para a Disney, o que se tornou “uma festa”.

O estrago político está feito, mas a declaração desastrada remete a um problema real.

A defesa do câmbio desvalorizado normalmente é mais a praia dos economistas heterodoxos e desenvolvimentistas, muito preocupados com a competitividade industrial.

Mas os economistas liberais, ao defenderem primordialmente o ajuste fiscal, no fundo lutam por um modelo de inflação e juros baixos que leva, como se assiste agora no caso brasileiro, à depreciação cambial.

Não há nada de errado com isso, pelo contrário, desde que a inflação não suba – como não tem subido até agora no Brasil.

Em tese, numa perspectiva de médio e longo prazo, à medida que a economia acelere com o modelo de fiscal apertado, juro baixo e câmbio desvalorizado, capitais estrangeiros são atraídos para o País e o câmbio gradativamente se fortalece. A própria perspectiva de uma gradual valorização cambial torna os investimentos no Brasil mais atraentes, do ponto de vista estrangeiro.

Também à medida que a balança comercial reage à desvalorização, contribuindo para fechar o déficit em conta corrente, a pressão pela depreciação da moeda se enfraquece.

Mas a economia no mundo real é muito mais acidentada do que em teoria. Assim, no Brasil, apesar de juro baixo e câmbio desvalorizado, nem a atividade está ganhando tração como se suporia, nem a balança comercial está reagindo.

E, como nota Alexandre Ázara, sócio e economista-chefe da gestora Mauá Capital, “os estrangeiros não estão excitados para entrar no Brasil”.

Ázara acha que a história do câmbio nos últimos dias é em grande parte mais do mesmo da história das últimas semanas e de uns meses para cá.

Primeiro, a queda dos juros no Brasil acabou com o “carry-trade”, a arbitragem da diferença entre o juro internacional e o doméstico. Agora, empresas estão trocando dívida externa por interna e investidores brasileiros ampliam a porção externa dos seus portfólios.

A mudança de portfólios desvaloriza o real por uma questão de fluxos que, apesar de ser um ajuste em direção a um novo equilíbrio, pode demorar, na sua visão.

Porém, para Ázara, efetivamente as únicas preocupações cambiais do BC devem ser com dias de mercado disfuncional, quando cabe intervir, ou se a desvalorização afetar as expectativas inflacionárias, o que mexe com o plano de voo para a Selic.

A “prova” de que a situação cambial está longe de uma crise é o risco-país, que permanece em níveis historicamente baixos. O CDS (medida de risco Brasil) de cinco anos hoje era cotado a 97, em queda em relação a ontem e perto das mínimas históricas.

Livio Ribeiro, pesquisador do Ibre/FGV, e que trabalha com um modelo que tentar captar os componentes externos e internos das variações do risco e do câmbio, diz que, até o dia 7/2 (última data para a qual fez essa estimativa), “os exercícios não sugerem que eventos domésticos estejam pesando [na cotação do real]”.

Ribeiro observa que há uma tendência global de fortalecimento do dólar, casada com uma contrapartida de enfraquecimento do euro. Recentemente, houve movimento de busca de proteção no dólar, nos juros dos títulos longos americanos, no ouro e em outros ativos de baixo risco.

Ele ressalva que seu exercício (de componentes externos e internos do câmbio) ainda não abrangeu os últimos dias, quando “comentários feitos no Brasil pelo ministro da Economia e outros membros do governo podem ter gerado desconforto e pressionado o real”.

Mas Ribeiro acrescenta que também há uma questão mais de médio prazo. O déficit em conta corrente brasileiro vem aumentando mesmo com a desvalorização em curso do real. Alguns problemas específicos contribuem para isso, como o enfraquecimento das economias chinesa e argentina, grandes compradoras das exportações brasileiras de, respectivamente, commodities e manufaturados.

As formas de equilibrar os fluxos cambiais, nota o economista, são três:  melhora de perspectiva de crescimento, que atrai capitais; maior retorno das aplicações em reais (alta de juros); ou barateamento da economia brasileira, via desvalorização do câmbio. Outra opção é o BC segurar o câmbio vendendo reservas (mas tem um limite).

Aparentemente, o canal da desvalorização está funcionando meio sozinho no momento. Ribeiro é meio cético em relação à história de fluxos de capitais entrando em abundância no sempre prometido ciclo de privatizações e concessões alardeado pelo governo.

O economista nota que, num momento em que se implementam e se propõem tantas reformas, como previdenciária, trabalhista, tributária, é muito difícil para o investidor estrangeiro visualizar quais serão as regras do jogo no médio e longo prazo. Assim, cria-se incerteza (mesmo se a perspectiva for de melhora) e é difícil para o investidor estimar a rentabilidade dos projetos, o que pode fazer com que retarde sua entrada no País.

 

 

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