VALOR
Trabalhamos para recursos chegarem em poucas semanas às empresas, diz Carlos da Costa
O aumento dos repasses de recursos da União para Estados e municípios vai reduzir, inevitavelmente, a oferta de fôlego financeiro para as empresas que estão enfrentando crise resultante da pandemia do coronavírus. O quadro foi descrito nesta terça-feira pelo secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, Carlos da Costa, durante live com o Valor.
Ele lembrou, no entanto, que o foco do governo está no socorro às micro, pequenas e médias empresas e que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) “não vai virar hospital de empresas”. Costa também confirmou que os setores automotivo e de energia elétrica, além do varejo não alimentício e não farmacêutico estão no principal foco de atuação do governo.
“Quanto mais o Congresso destinar recursos para governos, menos dinheiro vai sobrar para as empresas”, afirmou o secretário. Atualmente, o governo está entre atrito com o Congresso por conta de um pacote de ajuda aos entes federados. “Todo apoio dado é financiado pelo pagador de impostos. Nossa visão é que é preciso ter equilíbrio entre socorro ao setor público e o setor privado”, afirmou Costa.
Na sua avaliação, o governo pretende aproveitar a saída da crise para aumentar a competitividade da economia. Alertou, no entanto, que os gastos de agora não podem piorar excessivamente as condições de recuperação. “Estamos em uma situação muito difícil, mas nossas ações podem definir quem seremos no futuro”, afirmou.
“Em momento de enorme crise, alguma expansão de gasto já está acontecendo, mas essa não é a ação que vai caracterizar a retomada”, reiterou o secretário. A escolha das empresas e setores que terão acesso a linhas emergenciais, segundo Costa, será feita por um colegiado de bancos, e não pelo governo.
Ele também esclareceu que, apesar dos eventuais auxílios, muitos terão prejuízos. “Queremos minimizar as perdas das empresas, mas elas vão acontecer”, disse o secretário. Costa lembrou ainda que o governo está trabalhando para que linhas de capital de giro cheguem à ponta, especialmente nas pequenas e médias empresas, o que ainda não aconteceu. “As primeiras medidas foram monetárias, agora temos que garantir que recursos cheguem”, afirmou ele.
“Talvez os recursos tenham ido para grandes empresas e para quem tinha recursos disponíveis”, completou. A solução para as pequenas, segundo o secretário, passa pela oferta de crédito com garantias do governo, que assumiria os maiores riscos das operações. No caso das médias, o foco deverá ser na preservação dos empregos.
Crédito pode superar projeções, diz presidente do BB
A pandemia de covid-19 deve fazer o Banco do Brasil (BB) voltar a crescer mais que seus concorrentes privados no crédito neste ano, algo que não acontecia desde 2015. Enquanto os pares estão mais retraídos, a instituição não descarta chegar ao fim de dezembro com uma carteira maior do que havia projetado — as estimativas do banco eram expandir o volume de operações entre 5,5% e 8,5%. “É provável que vejamos o crescimento de crédito no BB acima do que planejamos no início do ano, puxado principalmente pelo aumento da demanda por liquidez de setores empresariais”, afirmou o presidente do BB, Rubem Novaes, numa entrevista concedida ao Valor por escrito, como é praxe do executivo.
A prioridade, no entanto, é atender clientes com quem o banco já tinha relacionamento — leia-se, cujo risco já é conhecido pela instituição. Isso não evitará, entretanto, um impacto na rentabilidade do banco, dado o maior volume de provisões. Economista liberal e defensor do isolamento vertical da população, Novaes reiterou que um “lockdown” prolongado pode ser pior que a crise de saúde em si.
O presidente do BB também disse que o impacto da pandemia reforça a necessidade de reformas e afirmou temer que deixe um legado fiscal perverso. “Confesso estar preocupado: grandes crises assanham os piores instintos intervencionistas e expansionistas do Estado”, ressaltou.
Valor: O BB tinha perspectivas positivas para este ano. Como fica o guidance agora?
Rubem Novaes: O guidance que divulgamos no início do ano foi feito com outro cenário e precisará ser revisto. Perspectivas se alteram a cada momento diante dos números da epidemia e da ação dos governantes.
Valor: Qual a nova projeção para o crédito neste ano? E como o BB se situa em relação ao mercado?
Novaes: É provável que vejamos o crescimento do crédito no BB acima do que planejamos no início do ano, puxado principalmente pelo aumento da demanda por liquidez de setores empresariais. Nossa diretriz continuará sendo trabalhar com clientes que possuem bom histórico de relacionamento com o banco e que precisam de apoio momentâneo para atravessar a crise. Um exemplo foi o desembolso de cerca de R$ 84 bilhões que registramos nos últimos 30 dias, entre crédito novo e prorrogações. Não vamos abandonar bons clientes no meio da tempestade. No caso de pessoas físicas, a demanda também é crescente, mas provavelmente não irá extrapolar nossas melhores expectativas do início do ano. O agronegócio também segue com expressivo crescimento de desembolsos tanto para a safra atual, que termina em junho, como para a próxima safra. Em relação ao mercado em geral, estamos em situação confortável. O BB é visto como um porto seguro para aplicadores. Nossos resultados dependem bastante de clientes pessoas físicas, onde há um forte contingente de certa forma protegido do desemprego.
Valor: O BB reformulou a área de pequenas e médias empresas e havia voltado a crescer. Sendo assim, pode sentir um impacto mais forte da inadimplência, já que esse público é dos mais afetados na crise?
Novaes: O BB vinha fazendo dois movimentos com micro, pequenas e médias empresas. De um lado, vínhamos limpando a carteira, jogando para prejuízo as perdas que tivemos com o agravamento da situação econômica do país após 2015. O que fizemos desde então foi privilegiar empréstimos para capital de giro com garantia de recebíveis e com prazos de financiamento mais curtos. O resultado foi uma forte queda na carteira, mas com melhores indicadores de qualidade. A expectativa é manter as mesmas premissas para a concessão do crédito e manter nossos gerentes próximos aos clientes para que possamos agir nos primeiros sinais de dificuldade.
Valor: O BB vai entrar nas medidas de apoio a grandes empresas? O banco está disposto a comprar títulos conversíveis de companhias?
Novaes: Estamos participando das discussões com Ministério da Economia, Banco Central, BNDES e grandes bancos privados. Há uma mobilização importante para encontrar um bom caminho. Propostas que nos parecem viáveis estão em discussão. A premissa é buscar soluções de mercado que ao mesmo tempo forneçam liquidez aos setores mais atingidos e garantam que os recursos fluam por suas cadeias produtivas. Tudo sem colocar em risco a capacidade de apoio do sistema financeiro.
Valor: O BC adotou medidas para injetar liquidez no sistema. São suficientes ou faltam iniciativas que ataquem o risco de crédito?
Novaes: Em momentos de choque, é importante manter o mercado líquido. O Banco Central tem sido muito eficiente em todas as medidas para dar liquidez ao sistema. Quanto ao risco de crédito, claro que aumentou, mas em uma hora como esta é importante estar próximo aos clientes, dando suporte às demandas por crédito e ajustando as obrigações aos fluxos de caixa. Prova disso é mantivemos nossos limites de crédito.
Valor: A rentabilidade do banco vinha melhorando. O caminho para a recuperação ficará mais longo?
Novaes: Provavelmente, iremos nos deparar com maior nível de provisionamento neste ano, que resulta do maior risco na economia, e isso trará impacto negativo na rentabilidade. É cedo para quantificar o impacto, mas ele acontecerá. Manteremos os mesmos princípios que vínhamos adotando para atender às necessidades dos clientes e gerar retorno adequado aos acionistas. Há espaço para conciliar os dois objetivos.
Valor: O BB vinha revendo todo o portfólio de ativos, como os de meios de pagamento. Como fica esse processo agora?
Novaes: Momentos de crise dificultam muito a continuidade de discussões sobre parcerias ou desinvestimentos de um modo geral. Outro lado da crise é que ela tem potencial de acelerar as transformações que vínhamos observando nos consumidores em direção a comportamentos digitais, com peso nos meios de pagamentos. Esse é um setor para o qual manteremos um olhar atento para aproveitar tendências e buscar oportunidades.
Valor: Os bancos estrangeiros cortaram o fluxo para o Brasil, estreitando a liquidez. Como está o acesso do BB a linhas em dólar?
Novaes: A oferta de liquidez de bancos estrangeiros foi reduzida, o que gera um desafio a mais neste momento. No caso do BB, a prioridade até agora foi manter a oferta de recursos aos clientes que já operam conosco e que estavam com operações comerciais em andamento. Não têm faltado recursos para esses clientes, mas não é uma situação tranquila e estamos trabalhando em alternativas com nossa rede externa e com parceiros comerciais em diversos centros financeiros.
Valor: Como o BB, acionista da Cielo, vê a ideia de uso das credenciadoras para distribuir crédito?
Novaes: O Brasil possui uma rede muito ampla de maquininhas, o que pode ser uma força para o país neste momento. Temos ideias em discussão, entendendo que o canal é uma forma efetiva para que microempresários recebam crédito.
Valor: O senhor defende o isolamento vertical. Acredita que a mudança no Ministério da Saúde vai acelerar esse processo?
Novaes: Manifestei minha opinião pela preocupação com a magnitude a que pode chegar a crise econômica que estamos enfrentando. O problema não é apenas de saúde. Precisamos hoje de vacinas e remédios para as duas dimensões da crise, a sanitária e a econômica. As pessoas mais frágeis da sociedade poderão sofrer até mais quando o desemprego e as falências se agigantarem pela manutenção do ‘lockdown’. O tempo de isolamento pode ou não favorecer a crise de saúde, mas é certo que prejudica a economia e desorganiza as contas públicas. Os principais governos do mundo estão tentando resolver essa equação e quase todos já falam, de algum modo, em retorno do isolamento, apavorados que estão com os efeitos sobre a economia. Precisamos aprofundar essa discussão no Brasil.
Valor: O que espera para a economia brasileira neste ano?
Novaes: Ainda dependerá de fatores em aberto, como a duração do isolamento social. Alguns setores estão especialmente atingidos e uma retomada da atividade mais cedo ou mais tarde poderá significar, para algumas empresas, sobrevivência ou extinção. Em termos do PIB, as estimativas variam de -2 a -5%.
Valor: O que será preciso fazer para recuperar o país?
Novaes: Controlada a crise de saúde, precisaremos retomar ainda com mais velocidade as discussões para a aprovação das reformas que foram iniciadas pelo Ministério da Economia. Se antes eram importantes, agora serão urgentes e fundamentais para impulsionar novamente a atividade e a geração de empregos. Também não podemos permitir que o socorro fiscal presente contamine a higidez das contas futuras. Confesso estar preocupado: grandes crises assanham os piores instintos intervencionistas e expansionistas do Estado.
Valor: O rombo fiscal vai favorecer as privatizações?
Novaes: Privatizações são benéficas e necessárias para o país, independentemente do tamanho do rombo fiscal. Certamente farão parte das reformas importantes que precisaremos conduzir após controlarmos a crise.
BC calibra discurso e abre caminho para corte de juros
Faltando quase duas semanas para a próxima decisão de política monetária, analistas começam a ver uma mudança de discurso no Banco Central, agora mais aberto à redução da taxa básica de juros. Em uma bateria de pronunciamentos nos últimos dias, os dirigentes da autarquia têm sinalizado que o cenário mudou muito desde março, quando eles ainda viam como adequada a manutenção da Selic no patamar atual, de 3,75%.
Agora, passado o pior momento de estresse nos mercados, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o diretor de Política Econômica, Fabio Kanczuk, passaram a soar mais favoráveis a estímulos monetários, depois de terem priorizado medidas de oferta de liquidez e capital – em vez de cortes agressivos da Selic, como ocorreu outras economias emergentes. Essa foi a interpretação de profissionais do mercado que acompanharam a participação dos dois em eventos promovidos pelo Itaú BBA e pelo J.P. Morgan na segunda-feira.
“Kanczuk equilibrou bem a abertura de hiato do produto com o risco de o juro real de equilíbrio subir por conta da ajuda fiscal e de alguns projetos que não amarram muito bem a perspectiva fiscal. No entanto ele passou a sensação de que o BC não precisaria ir muito devagar vendo toda essa abertura de hiato, que poderia ir mais rápido no afrouxamento, embora ele tenha frisado que essa era uma avaliação dele”, afirmou um profissional de renda fixa.
Outro operador de renda fixa também apontou que Campos Neto soou mais “dove” em comentários feitos na segunda-feira durante evento do J.P. Morgan – algo que contrasta com a postura adotada até o fim de semana. Em entrevista divulgada no domingo, o dirigente mostrou preocupação com questões fiscais, de fluxo de capitais e com o andamento das reformas quando questionado sobre cortes adicionais na Selic. “Agora, ele indicou que as opções estão abertas”, afirmou esse operador.
O cenário, de fato, tem se desenhado fortemente recessivo, com diversas casas revisando suas projeções para o PIB em 2020. O Safra, por exemplo, passou a incorporar em seu cenário um tombo de 4,4% neste ano, mas espera apenas mais um corte de 0,50 ponto percentual na Selic em maio. Embora as economistas do Safra atribuam viés de baixa à projeção para o juro básico, elas notam que o tom mais conservador do BC até então indica que a Selic não deve cair abaixo de 3%.
No entanto, não faltam riscos no entorno da política monetária no médio prazo, principalmente do campo fiscal. “Segue aberto o projeto de lei dos Estados e municípios e o texto da Câmara não é positivo fiscalmente. Tem possibilidade de alteração no Senado, mas o que fica no ar é que o clima não está bom e há uma instabilidade política”, afirma a gestora do fundo macro da Truxt Investimentos, Mariana Dreux.
Ela comenta que, no curto prazo, o cenário se encaminha para ser de inflação mais baixa e hiato do produto mais aberto, o que deve permitir ao menos mais um corte de 0,50 ponto na Selic. Ainda assim, a questão fiscal continua no radar tendo em vista que a relação dívida-PIB deve atingir 90%, o que coloca uma incerteza maior na trajetória à frente.
Para a economista-chefe ARX Investimentos, Solange Srour, o risco fiscal pode elevar o juro real de equilíbrio de longo prazo – aquele que produz o máximo de crescimento sem inflação. Isso ocorreria no caso de despesas emergenciais se tornarem permanentes, tirando a relação dívida/PIB de uma trajetória mais sustentável. “Se o juro neutro aumentar, a política monetária pode passar a ser muito mais estimulativa. Aí, o BC teria de voltar a subir juros mais rapidamente ou até mais do deveria em uma situação controlada”, explica.
Ela reconhece que a quebra da atividade econômica, de fato, derruba o juro neutro para baixo, talvez até bem perto de zero, o que pressiona o BC a prover mais estímulo. No entanto, o risco é que a taxa de longo prazo esteja subindo além de 3% ou 3,5%. “Só termos capacidade de responder qual o novo patamar do juro neutro de longo prazo em alguns meses, quando governo e o Congresso indicarem o rumo das despesas”, diz. A preocupação com a situação fiscal fica clara na diferença entre o juro de longo prazo e o de curto prazo – a chamada inclinação da curva a termo.
De acordo com Eduardo Carvalho, gestor de renda fixa da Pacífico, “é natural que os juros longos precifiquem um pouco mais esses riscos já que só o tempo vai dizer o caminho da deterioração fiscal clara que temos este ano”. A gestora estima que o déficit primário fique perto de R$ 600 bilhões diante da receita menor pela queda da atividade e arrecadação menor dos royalties do petróleo. Além disso, há o aumento das despesas. “Quando você coloca tudo isso na conta, temos uma dívida bruta que deve ir para 88% do PIB no fim deste ano. Nosso cenário fiscal ficou mais difícil e temos um desafio pela frente para pagar essa conta, sendo que antes a gente parecia estar se livrando dela”, afirma.
Itaú alonga prazos e dá carência de 6 meses
O Itaú Unibanco vai ampliar para até 120 dias a carência nas prestações de contratos de crédito de pessoas físicas e para até 180 dias no caso de pequenas e médias empresas. Os prazos de pagamento poderão ser alongados para seis anos ou cinco anos, respectivamente, sem alteração da taxa de juros. As medidas fazem parte de um plano anunciado na noite de ontem pelo banco e detalhado com exclusividade para o Valor.
A instituição também irá ofertar crédito novo para cerca de 8 milhões de pessoas físicas e companhias com faturamento anual inferior a R$ 30 milhões, dependendo do risco dos tomadores. Nesses casos, serão priorizadas linhas com garantia em ativos reais (como imóveis e veículos) e recebíveis, além do consignado. Com as iniciativas, o banco reforça seu arsenal contra a crise do coronavírus.
Conceder prazos mais longos ajuda a dar fôlego para os clientes e, ao mesmo tempo, é positivo para o balanço porque amortece a onda de calotes que o cenário recessivo trará. “O que pensamos foi como estruturar condições que permitam aos clientes, daqui a alguns meses, fazer pagamentos de forma sustentável”, afirma André Rodrigues, diretor-executivo responsável pelo banco de varejo do Itaú. “Não adianta só empurrar o problema para a frente.”
As medidas têm alcance para um contingente de aproximadamente 20 milhões de clientes e uma carteira de R$ 140 bilhões. É preciso estar adimplente para ter acesso às novas condições, mas o banco também renegociará dívidas de quem estiver em atraso. O Itaú já havia aderido à prorrogação por 60 dias, adotada pela Febraban em meados de março. “Desde o início, sabíamos que aquele prazo não seria suficiente”, diz Carlos Eduardo Peyser, diretor de franquias e estratégia de pequenas e médias empresas.
No segmento de pessoas físicas, a prorrogação vale para empréstimo pessoal, cheque especial, crédito imobiliário, cartões de crédito e financiamento de veículos. As empresas poderão alongar e obter carência em capital de giro, parcelar o cheque especial e conta garantida. O trabalho foi desenvolvido nas últimas semanas em uma “sala de guerra” montada para atacar os impactos da pandemia de covid-19.
A mesma equipe, formada por 200 funcionários, vinha se debruçando há nove meses sobre um plano de revisão de toda a área de varejo - que agora está em compasso de espera. “Redirecionamos as pessoas para a gestão da crise”, diz Rodrigues. Os clientes foram agrupados conforme o setor econômico a que estão ligados e a situação de seus pagamentos. Entre as pessoas físicas, a classificação do menor para o maior risco vai de aposentados e pensionistas do INSS - que têm renda assegurada - até clientes que já tinham contratos com atrasos longos.
Conforme a escala, as soluções vão da oferta de crédito novo ao reperfilamento de dívidas. No caso de empresas, as medidas foram elaboradas com base no grau de exposição à crise. Cerca de 230 mil companhias, em princípio, poderão obter acesso a empréstimos adicionais. No início da pandemia, os bancos foram criticados por restringir o crédito e, em alguns casos, cobrar mais caro. As instituições alegaram que uma corrida de grandes empresas por recursos gerou um aperto na liquidez, já normalizado. De lá para cá, vêm adotando iniciativas para melhorar condições de pagamento e se comunicar melhor com os clientes.
A pandemia levou o Itaú a um esforço de proporções inéditas para desenhar o que Rodrigues chama de plano de travessia para o banco e seus clientes. Apesar de serem emergenciais, as medidas deixarão um legado importante na operação, afirma o executivo. Como exemplo, 38% das renegociações passaram a ser feitas por meio de canais digitais, contra 2% antes da pandemia.
O Itaú também destacou parte de sua equipe para pensar no pós-crise, com o desenvolvimento de produtos para quando o país começar a voltar à normalidade - o que inclui acelerar a digitalização. “Vamos manter um time permanente para transformação”, diz Rodrigues.
Investidor brasileiro começa a avaliar opções fora do país
A desvalorização do real não foi exclusividade do câmbio brasileiro - outras divisas emergentes sofreram o baque com a fuga do capital estrangeiro para ativos de melhor qualidade. Esse tipo de movimentação desperta o interesse do brasileiro por alternativas além fronteiras, segundo gestores globais.
Marcus Vinícius Gonçalves, diretor-presidente da Franklin Templeton no Brasil, diz que em apresentações recentes com investidores têm notado uma maior busca por informações sobre o tipo de oferta disponível no Brasil e que os fundos globais, que alocam 100% no exterior, são um dos veículos para isso. “Nessas horas, o investidor se dá conta do empobrecimento relativo e começa ver a necessidade de diversificação em termos de correlação [de ativos que não andem na mesma direção]. Mesmo os institucionais percebem a importância de ter alguma coisa fora do Brasil.”
Ele cita que o cliente que tinha, por exemplo, 15% em posições dolarizadas, 15% em ativos imobiliários e o restante distribuído em ações e multimercados vem passando melhor o período de estresse por conta da pandemia de covid-19 do que a suposta diversificação de quem tinha quatro multimercados e dois fundos de ações. “É uma crise clássica, com a migração dos investidores para um porto seguro porque quem precisa de caixa vende absolutamente tudo.”
Roberto Teperman, executivo-responsável pela área comercial da Legg Mason no Brasil, diz que o primeiro movimento rumo ao exterior foi de gestores locais comprando o índice americano S&P 500, e agora deve haver a busca por uma alocação mais ativa. A pessoa física também começa a se movimentar para ter um pedaço de bolsa fora do país, enquanto para fundações e regimes especiais de previdência a procura é mais esporádica. Ele diz que, entre seus clientes, apenas dois institucionais fizeram o movimento.
Na Legg Mason, a preferência tem sido por veículos que têm a proteção. “No longo prazo, o investidor deveria comprar ativos lá fora em dólar”, diz. “Se tivesse feito isso ao longo de 12 anos teria se defendido muito bem.” Desde dezembro de 2007, o S&P 500 rendeu 76% em dólar, enquanto o Ibovespa perdeu mais de 60%. Gonçalves não sabe dizer, contudo, se depois de tudo que o dólar subiu em relação ao real haverá demanda para fundos sem hedge. “Talvez seja melhor fazer uma combinação dos dois. A crise mostrou o poder dos EUA e do dólar como reserva de valor.”
O pior que pode acontecer é o cliente que pensa mais no curto prazo fazer o investimento com o dólar a R$ 5,20, R$ 5,30, e a moeda voltar para a casa dos R$ 4,60, cita. “O esforço é para ele entender que aquilo que está fazendo é uma combinação da moeda base dólar com a alocação, não deveria ver de maneira isolada.”
Levantamento da Franklin Templeton mostra que os veículos locais que compram cotas de fundos no exterior reúnem quase R$ 2,9 bilhões, uma fatia ínfima do mercado de gestão brasileiro, com R$ 5,3 trilhões, segundo a Anbima. Não são produtos comparáveis porque são muito diferentes entre si, mas são as carteiras sem hedge que apresentam melhor desempenho, com retornos de 9% a 35% neste ano, enquanto os portfólios que anulam a variação cambial perdem de 1,5% a 37%.
A diversificação internacional sempre vale a pena e em momentos como o atual mais ainda, diz Gabriela Santos, estrategista global do J.P. Morgan Asset. “O investidor sem hedge está ganhando pela moeda forte e também em ativos de mais qualidade, principalmente nos Estados Unidos e na Ásia.” Isso não quer dizer que não existam oportunidades no Brasil, mas é o momento de avaliar com lupa empresa a empresa e buscar setores mais defensivos, como consumo básico e saúde, sugere.
J.P. Morgan vê estabilização no Brasil e reduz previsão da Selic para 2,5%
A estabilização das condições financeiras no Brasil e nos mercados emergentes abre caminho para o Comitê de Política Monetária (Copom) cortar de forma mais agressiva os juros no Brasil e, assim, dar mais apoio à retomada da economia, avalia o J.P. Morgan. O banco americano revisou a projeção para Selic de 3,5% para 2,5% e acredita, agora, que o comitê irá prover um corte de 0,75 ponto porcentual na próxima reunião, em 5 de maio, seguido de 0,50 ponto em junho.
"Desde o início da crise da covid-19, a maior parte das respostas das autoridades brasileiras foram focadas em liquidez para evitar mercados disfuncionais. No entanto, menos foi feito para dar suporte à demanda que enfrenta recessão para além do horizonte de seis meses", diz o texto assinado pelos economistas Cassiana Fernandez e Vinícius Moreira. Os economistas dizem que, embora tenham concordado com a postura inicialmente mais cautelosa adotada pelo Banco Central, que cortou a Selic em 0,5 ponto em março, as condições para um movimento mais agressivo já estão dadas.
"As condições financeiras para mercados emergentes estabilizaram e, no Brasil, a deterioração desses indicadores caiu pela metade ao passo que a liquidez global recebeu auxílio das diversas medidas tomadas por BCs de países desenvolvidos à época. Neste contexto, outros BCs emergentes começam a adotar uma política monetária mais expansionista", dizem os autores, que citam como exemplo a África do Sul.
O país cortou a taxa básica de juros em 1 ponto porcentual sem que o rand, a moeda local, tenha se desvalorizado significativamente. "O alto nível de reservas, no caso do Brasil, deve deixar as autoridades mais confortáveis em proceder com a medida", acrescentam. Os economistas também notam que o menor risco de que o corte de juros possa afetar negativamente as condições financeiras é causado, em parte, pela expectativa de que o BC deva adotar políticas monetária não convencionais, como a compra de títulos prevista na PEC do "Orçamento de Guerra".
No entanto, "embora essas ferramentas possam ser usadas caso necessário, acreditamos que o BC vai favorecer uma postura mais gradual na estabilização de mercados disfuncionais, provendo maior liquidez se necessário", diz o texto. Outras medidas também podem ser usadas com o mesmo sentido, como a redução do compulsório e da comunicação do Banco Central.
"No momento, o BC raramente provê orientação sobre a política monetária para além do horizonte de uma ou duas reuniões. Sinalizar mais claramente uma estratégia de médio prazo poderia também ajudar a reduzir as taxas ao longo da curva." O J.P. Morgan acredita que a Selic pode permanecer em 2,5% até o terceiro trimestre de 2021, mas condiciona isto a uma manutenção da âncora fiscal.
"A perda desta continua a ser o maior risco em nosso cenário. Os recentes (e recorrentes) confrontos entre o governo federal e o Congresso é nossa principal preocupação em relação ao médio a longo prazo. Um cenário onde esse estresse deságua em ameaças à estabilidade fiscal também ameaçará a estabilidade econômica."
ESTADÃO
Bancos incluem turismo e saúde no socorro a setores; ajuda a elétricas sai essa semana
Turismo e saúde devem ser incluídos no pacote bilionário de socorro que está sendo costurado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e bancos privados aos setores imersos na crise gerada pelo novo coronavírus no Brasil, apurou o Broadcast com quatro fontes próximas às negociações. Além de definir os subsegmentos que serão atendidos nos grupos de trabalho já formados, de forma a englobar outros segmentos impactados, outra expectativa é de que uma definição quanto ao formato de ajuda às empresas de energia, a mais avançado até aqui, ocorra ao longo desta semana.
A lista que contemplava quatro setores vistos como prioritários, de energia, aéreas, automotivo e varejo não-alimentício, agora passa a contar com mais dois, o de turismo e saúde, que terão, assim, grupos de trabalho próprios. Com isso, o pacote de ajuda calculado até então em R$ 50 bilhões será ampliado para abarcar mais segmentos afetados pela crise do coronavírus.
Alguns dos novos segmentos também serão incluídos nas atividades já selecionadas previamente de forma a tornar o processo mais simples, explica uma fonte. A cadeia têxtil, assim como bares e restaurantes, por exemplo, devem ser abarcados no setor de varejo não-alimentício, coordenado pelo BNDES ao lado do Santander. “Nesses segmentos não há um consolidador. É muito pulverizado além das grandes empresas. Estuda-se como podem ser incluídos no pacote”, diz uma fonte que acompanha as negociações.
Fora esses subsegmentos, um novo setor que deverá ter socorro é o de turismo – inclui hotelaria – e que viu a demanda sumir com a medida de isolamento social necessária para conter a propagação do vírus. O Itaú Unibanco, que já coordena o grupo de socorro ao setor automotivo, foi o escolhido para esse novo setor.
Já o segmento de saúde deve ficar com o Banco do Brasil. Diversos players do setor saúde como hospitais e laboratórios vêm sofrendo fortemente com perdas de receitas a despeito do aumento da demanda de serviços por causa do coronavírus. Uma das razões é de que as cirurgias eletivas, de onde vêm grande parte das receitas, foram suspensas.
O presidente do BNDES, Gustavo Montezzano, afirmou no fim de semana que a ajuda a setores afetados pela crise deve englobar até dez segmentos. Ele não revelou quais seriam as atividades em vista e explicou, durante live no último domingo, que os critérios para entrada no pacote de socorro incluem relevância econômica e o tamanho do estrago sentido pela Covid-19.
Por ora, a ajuda mais avançada é ao setor de energia. Uma reunião para definir detalhes e o valor do empréstimo ocorreu neste dia 21. A expectativa dos envolvidos é de que o martelo quanto ao formato seja batido ainda nesta semana, com o valor ficando perto dos R$ 16 bilhões. Já o custo deve ser CDI mais 3,5% ou 4% ao ano, conforme uma fonte. O sindicato que capitaneia o socorro é formado pelo BNDES, os grandes – Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil – , mais Citibank e Safra. “Deve ser aprovado esta semana”, diz uma fonte, que participa das negociações.
Desatando nós
No setor de aviação, quem lidera o grupo, junto com o banco de fomento, é o Bradesco. Aqui, a ajuda também deve vir por parte das grandes instituições financeiras e são esperados ainda Safra e Citi, de acordo com fontes ouvidas na condição de anonimato pelo Broadcast. Cada uma das três gigantes do setor, Gol, Latam e Azul, devem receber entre R$ 2,5 bilhões e R$ 3,5 bilhões.
Apesar das conversas de ajuda ao setor terem avançado desde o ingresso dos bancos comerciais, ainda falta consenso em torno do preço de exercício do bônus de subscrição (valor da ação das aéreas para conversão) e, ainda, a participação limite que o banco de fomento poderá ter nas companhias. “De concreto nada andou, mas o BNDES está menos intransigente”, pontua uma fonte.
O BNDES queria utilizar para conversão o valor da ação das companhias aéreas – Azul, Latam e Gol – para conversão muito próximo ao preços após a forte queda, que veio na esteira da pandemia. Além disso o banco de fomento buscava uma participação de até 30% nessas empresas, ao passo que elas colocaram que aceitariam até 15%.
Bancos negociam alternativa de socorro a construtoras na crise
Os bancos avaliam alternativas para socorrer, individualmente, as construtoras que foram afetadas pelo fechamento de estandes de vendas e restrições às obras na crise do novo coronavírus. A discussão está na Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). Os bancos privados consideram alternativas como antecipar recursos para obras e flexibilizar as vistorias nos canteiros neste período em que a circulação de pessoas foi limitada para conter a propagação da doença no País. Essas medidas podem injetar um fôlego no setor, uma vez que o crédito contratado para construção normalmente só é liberado após a verificação do andamento das obras. Apesar da disposição em negociar, os bancos privados descartam a formatação de um pacote amplo de apoio nos mesmos moldes do anunciado dias atrás pela Caixa Econômica Federal.
Não convidadas. Além disso, as construtoras ficarão de fora da lista de setores que receberão o socorro de bilhões de reais que está sendo discutido pelo consórcio que engloba os maiores bancos do País e é encabeçado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O entendimento é de que o setor de construção civil tem condições de suportar a crise e que poderá retomar futuramente a venda dos imóveis parados no estoque. Além disso, as linhas de crédito para o mercado imobiliário estão concentradas na Caixa – que já adotou medidas de ajuda, diferente de setores como aviação ou varejo não-alimentício, que terão de ser socorridos por conta da crise.
Vamos com calma. A leitura dos bancos é a de que não adianta ter uma visão top down, ou seja, de cima para baixo para todos os setores econômicos que precisam de apoio nesta crise. No caso das construtoras, cada uma tem uma série de empreendimentos organizados em sociedades de propósito específicos (SPEs), com características individuais em termos de lucro, endividamento, caixa e compromissos.
Vestindo a camisa. Enquanto isso, a Caixa, que tem cerca de 70% de participação no mercado nacional de crédito imobiliário, anunciou R$ 43 bilhões para apoiar o setor na travessia da turbulência causada pela pandemia. Esses recursos estão sendo liberados na forma de antecipação de 20% dos recursos para obras e carência de seis meses nas contratações de novos empréstimos. Como contrapartida, as construtoras se comprometeram a não demitir.
Retração do PIB deve levar País a novo recorde de recuperações judiciais
A dificuldade para recompor o caixa nos próximos meses, como reflexo da forte retração econômica provocada pelo coronavírus, deve levar um maior número de empresas a pedir proteção da Justiça para não falir. A previsão de especialistas é que o volume de pedidos de recuperação judicial possa atingir patamar recorde. Levantamento da consultoria Alvares & Marsal, com base no histórico de pedidos dos últimos anos, fala em mais de 2,5 mil empresas nessa situação.
“Pelo histórico verificado de 2007 para cá, vimos uma correlação grande entre a queda do PIB e o aumento das recuperações judiciais”, diz o diretor de reestruturação da A&M, Leonardo Coelho. A estimativa da consultoria considera projeção de queda de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) feita pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
Se confirmado, o resultado será quase 40% superior ao recorde verificado em 2016, quando 1,8 mil companhias recorreram à Justiça. Naquele ano, a economia havia recuado 3,6%, após um tombo de 3,5% no ano anterior. Segundo Coelho, quanto maior o impacto no PIB, maior a quantidade de setores afetados e a chance de se alastrar pelas cadeias produtivas.
Mesmo que a queda da economia neste ano seja inferior a 5%, a escalada das recuperações judiciais será mais intensa que o pico de 2016. Isso porque o cenário já parte de uma base bastante deteriorada pela recessão econômica e baixo crescimento dos últimos cinco anos.
Segundo o levantamento, uma queda de 1,5% do PIB levaria 2,1 mil empresas à recuperação judicial entre o terceiro trimestre deste ano e o terceiro trimestre de 2021; se cair 3%, 2,2 mil entrariam com pedido. “As companhias que sobreviveram à última crise conseguiram se reinventar, mas ainda não têm caixa para aguentar muito tempo de paralisação”, diz Coelho, acrescentando que, diferentemente de outros anos, a atual crise é generalizada entre os setores.
Consultas de empresas
Coelho afirma que tem recebido consulta de várias empresas para saber como proceder neste momento, se entram com pedido de recuperação ou aguardam. A orientação é esperar. “Ninguém está forçando o pagamento; agora é hora de se preparar para a volta.”
O advogado Sergio Emerenciano, do escritório Emerenciano, Baggio & Associados, confirma a forte demanda. “Estamos trabalhando para avaliar as contas e a parte financeira das empresas.” Segundo ele, o cenário ainda obscuro da Covid-19 e o intenso problema de caixa das empresas vão elevar o nível de inadimplência, de recuperação judicial e de falências.
Para ele, hoje o setor mais afetado e que tem urgência para resolver os problemas é o comércio, em especial o de menor porte. “Neste momento, são essas empresas que estão nos procurando; são negócios que faturam de manhã para pagar a conta à tarde.”
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