Quarta-feira

VALOR

Procura por linha para folha de pagamento chega só a 35% da oferta

Apontada como uma das principais medidas para dar fôlego a pequenas empresas, a linha de crédito à folha de salários atraiu pouca demanda até agora. Dos R$ 20 bilhões disponibilizados pelo programa para o primeiro mês, menos de R$ 7 bilhões foram contratados, passadas três semanas do início da oferta, segundo fontes que acompanham o assunto.

A procura abaixo do esperado intriga os bancos que oferecem a modalidade, e executivos do setor veem uma série de razões. Elas vão desde o temor dos pequenos empresários em se endividar na crise até a restrição a tomadores que não têm certidão negativa de débitos (CND) junto ao INSS. “O dispêndio está menor do que se havia imaginado originalmente”, disse ao Valor o presidente do Santander Brasil, Sérgio Rial.

O programa todo, de acordo com ele, está entre R$ 7 bilhões e R$ 10 bilhões. No entanto, ressaltou o executivo, não havia muita sensibilidade sobre o tamanho da demanda quando a linha foi criada, no fim de março, e não há meta de utilização dos recursos. Para Rial, é preferível “pecar pelo excesso” e ter os recursos disponíveis.

Desde que a linha foi criada, já havia a expectativa nos bancos de que os recursos não seriam totalmente demandados, especialmente no primeiro mês. Mesmo assim, imaginavam que ficasse num nível maior. Um diretor de uma instituição financeira disse, na ocasião do lançamento, esperar que a procura ficasse em torno de 80%.

A modalidade prevê R$ 40 bilhões, divididos em dois meses, para financiar folhas de pagamento de empresas com faturamento anual entre R$ 360 mil e R$ 10 milhões. Os tomadores se comprometem a não fazer demissões durante esse bimestre. A taxa de juros é de 3,75% ao ano e o prazo de pagamento, de 36 meses, com seis meses de carência. Do total de recursos oferecidos, 85% virão do Tesouro e o restante, dos bancos que operam a linha. O desenho foi feito dessa forma, com uso de recursos públicos, para estimular as instituições financeiras a destravar a oferta de crédito às pequenas empresas, muito afetadas pela crise do coronavírus.

A iniciativa foi considerada pelo setor financeiro um marco no tratamento dos impactos econômicos da pandemia, já que colocou em cena o Tesouro como mitigador do risco de crédito. Nos cálculos do Banco Central (BC), a linha tem potencial para beneficiar 1,4 milhão de companhias e 12,2 milhões de trabalhadores. Um dos entraves é que a medida provisória que criou a modalidade só permite o acesso aos recursos por parte de empresas que não tenham pendências com o INSS — essa é uma previsão constitucional para quem quer tomar crédito no setor público.

A exigência já deixa de fora 20% das empresas elegíveis à modalidade, disse um executivo do setor. Os bancos chegaram a defender uma mudança na lei para contemplar essas companhias, mas não há previsão de que isso aconteça. Porém, mesmo entre as empresas pré-aprovadas pelos bancos para tomar os recursos, a demanda está aquém do imaginado.

Um grande banco fez uma sondagem com centenas de clientes aptos a contratar a linha. Desses, 41% disseram que ainda estavam avaliando acessar a modalidade, enquanto outra parcela da mesma ordem de grandeza disse que tinha dinheiro em caixa. Uma fatia pequena também atribuiu a falta de interesse pelo fato de estar fazendo demissões ou ter aderido à suspensão dos contratos de trabalho. Há, entre os bancos, a avaliação de que o crédito à folha também “concorre” com outras iniciativas adotadas pelo governo para o combate à crise. Entre elas, a MP 936, que permite a redução de salários e jornadas por três meses ou a suspensão dos contratos de trabalho.

Dependendo do nível de remuneração da companhia, o corte nos salários acaba sendo pequeno porque a complementação do governo cobre quase toda a diferença. Para algumas empresas é mais barato optar pela redução de salários e jornada ou suspensão de contratos porque as lojas estão fechadas.

“Estamos oferecendo a linha a todas as empresas elegíveis, mas nem todas querem”, disse uma fonte do setor. Para esse executivo, as companhias deveriam tomar os recursos mesmo que não precisem, já que o juro é muito baixo. No entanto, segundo ele, nem todas querem se comprometer a não fazer demissões por dois meses.

 

Bolsa brasileira tem pior desempenho na crise

Desde o agravamento da crise do coronavírus, no fim de janeiro, as bolsas globais experimentaram uma derrocada. O Ibovespa não foi poupado, mas vem ficando para trás conforme outros índices apresentam uma recuperação mais forte das perdas. Mesmo com os ganhos recentes — 11,36% em abril —, a bolsa brasileira tem o pior desempenho entre os pares emergentes em dólar e em moeda local.

A justificativa está no preço dos ativos (“valuation”) mais elevado, já que o Ibovespa teve um forte desempenho em 2019, com alta de 31,6% em reais e 26,5% em dólar. Também pesam contra a bolsa brasileira fatores locais como a crise política e as incertezas sobre a capacidade de reação da economia. Conforme levantamento do Valor Data, desde o pregão de 27 de janeiro, o Ibovespa recuou 48,47% em dólar. Em real, o índice cai 31,31% até o fechamento desta terça, quando subiu 3,93%, aos 81.312 pontos.

Neste mesmo período, os índices americanos Dow Jones e S&P 500 caíram 16,9% e 13,11%, respectivamente. Entre os principais pares emergentes, a Colômbia possui o desempenho mais próximo do Brasil em dólar, com queda de 42,1% no período, seguida pelo México (-38,7%). O índice Xangai SE, da China, local onde a pandemia da covid-19 começou, cai 7,52% em dólar desde o fim de janeiro.

Para Gleidson Leite, gestor de renda variável da Western Asset Brasil, as bolsas pelo mundo saíram “daquela fase do completo desconhecido” devido à crise do coronavírus, sem previsão de término das quarentenas, e começam a reagir às discussões de reaberturas das economias. “Mas não é sempre para cima e sem sobressaltos que essa melhora acontece, a depender de cada lugar”, explica.

“Os Estados Unidos têm uma outra dinâmica econômica e já haviam passado pela prova da crise de 2008. Além disso, com a quantidade de ações tomadas pelo Federal Reserve e pelo próprio governo americano, a recuperação deles tende a ser mais rápida pois as condições já eram outras. Os emergentes vão na esteira, mas o Brasil ainda gera uma grande dúvida ao mercado sobre sua capacidade de retomada”, diz.

Fatores como a recente crise do ano de 2015, os problemas fiscais, a paralisação da agenda de reformas, conflitos políticos e o alto nível de desemprego, tudo isso já antes da crise do coronavírus, surgem como os principais desafios para que o mercado local volte a brilhar como antes.

Em 2019, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 1,1% e, em 2020, a projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI) é de uma contração de 5,3%. Já para o México, a estimativa é de queda do PIB de 6,6%; para a África do Sul, um recuo de 5,8%; e, para a Rússia, de recessão de 5,5%. Já a China deve crescer 1,2% e a Índia 1,9%.

Para Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de renda variável e derivativos do BTG Digital, o desempenho do Ibovespa em 2020 é explicado pela valorização de 2019, que tinha como argumento exatamente a expectativa de melhora econômica e reforma da Previdência. “Logo quando estourou a questão do coronavírus, ficou a mensagem de que o crescimento foi sacrificado. Teve a queda normal, mas também uma realização em cima da expectativa do ano passado”, diz.

Zanlorenzi pondera ainda que a bolsa brasileira tem maior liquidez do que alguns pares, como Argentina e México. Assim, naturalmente, investidores estrangeiros usam o Brasil para operar emergentes, o que gera pressão maior no curto prazo. “Também vale ressaltar que este ano seria mais desafiador, com agenda de reformas. São tão complicadas ou mais do que a da Previdência, o que deixa o investidor cauteloso. O coronavírus foi mais intenso aqui, porque já teria um ano difícil e deu o choque de realidade”, detalha.

Raphael Ornellas, estrategista da Navi Capital, comenta que a desconfiança com Brasil já pôde ser vista no ano passado, quando a alta do Ibovespa ocorreu sem a presença do investidor estrangeiro, já mais cético com a economia e organização política do Brasil. “A questão política, que agora subiu para um novo patamar, aumenta a incerteza sobre a aprovação de reformas do lado econômico”, diz.

Na avaliação de Rodrigo Moliterno, chefe de renda variável e sócio da Veedha Investimentos, as economias emergentes têm outra estrutura, o que explica recuperações mais lentas. “O Brasil acaba sendo penalizado porque nossa parte econômica, com destaque para o fiscal, já estava comprometida, com uma recuperação lenta. Nos últimos meses, os conflitos políticos também foram somados e isso afasta o investidor daqui".

 

Tesouro faz a menor emissão de título público em dez anos

Em um mês marcado pelo sentimento de aversão ao risco, as emissões de títulos públicos recuaram em março ao menor patamar em quase dez anos enquanto os resgates avançaram. Nesse cenário de volatilidade, a dívida pública federal recuou 1,55% em relação ao mês anterior, somando R$ 4,214 trilhões. Segundo dados divulgados pelo Tesouro Nacional, as emissões ficaram em R$ 21,58 bilhões no mês passado, o menor valor desde maio de 2010. Os resgates, por sua vez, atingiram R$ 143,58 bilhões, com recompras extraordinárias no valor de R$ 35,56 bilhões.

O coordenador-geral de Operações da Dívida Pública, Luis Felipe Vital, avaliou que as condições de mercado se deterioraram no período, havendo redução de liquidez e perda de referência de preços. Os volumes emitidos em março foram consideravelmente menores “em linha com o objetivo de evitar a adição de risco e volatilidade aos mercados”, disse o Tesouro, em nota. “A flexibilidade nas emissões é possível devido ao colchão de liquidez da dívida pública, o qual atualmente se encontra em níveis superiores a seis meses de vencimento”, continuou o texto.

A instabilidade global se refletiu também no forte fluxo vendedor observado, principalmente no que diz respeito a estrangeiros e fundos de investimentos. No caso dos não residentes, a participação na dívida caiu para 9,82%, o menor desde fevereiro de 2010. Em uma avaliação sobre a queda, Vital afirmou que os riscos trazidos pela pandemia atingiram não só o Brasil, mas outros países emergentes.

“A situação que vimos em março foi de investidores buscando liquidez, com a venda de diversos ativos, em especial nos mercados emergentes”, afirmou. Já a participação dos fundos passou de 26,94% em fevereiro para 25,67% no mês passado.

Segundo Vital, para fazer frente a um aumento dos saques, os fundos possivelmente optaram por vender ativos mais líquidos e que se desvalorizam menos, no caso, os títulos públicos. Técnicos do Tesouro enfatizaram que não há dificuldade para rolagem da dívida. Na divulgação, a secretaria retomou nota divulgada neste mês que abordava, entre outros pontos, a impossibilidade de uma economia se endividar infinitamente e a possibilidade de a confiança dos investidores se deteriorar a ponto de reduzir a demanda por títulos.

E rebateu dizendo que, embora todos esses argumentos “sejam verdadeiros do ponto de vista conceitual, não refletem a situação atual dos mercados, tampouco a visão atual dos investidores”. O subsecretário da Dívida Pública, José Franco, disse que não houve, por ora, reprogramação do uso de fontes da dívida para pagamentos de créditos e de outros gastos relacionados ao enfrentamento da crise. “É natural que, em algum momento, fontes de emissão de dívida contribuam para arcar com esses gastos. Mas o planejamento de médio prazo permite que isso seja conduzido de maneira segura.”

O Tesouro destacou que continua acompanhando a evolução dos indicadores de mercado e que pode atuar sempre que observar disfuncionalidades, “mitigando efeitos adversos sobre o mercado de títulos públicos e de outros mercados correlatos”. Tão logo as incertezas no mercado diminuam, disse em nota, irá divulgar a revisão do Plano Anual de Financiamento (PAF) e um cronograma.

 

Custo do crédito talvez aumente no curto prazo, diz vice do Santander

O vice-presidente financeiro do Santander Brasil, Angel Santodomingo, afirmou que o custo de crédito do banco, que ficou em 3,2% no primeiro trimestre de 2020, pode aumentar no curto prazo, mas que a experiência adquirida pelo banco em crises anteriores traz tranquilidade. Segundo ele, mesmo que haja um aumento no custo de risco, isso não deve afetar os índices de capital. “Liquidez não é uma questão, somos muito fortes”, afirmou em teleconferência sobre os resultados do banco no primeiro trimestre.

Questionado se o Santander vai manter os níveis de dividendos, ele lembrou que recentemente o Banco Central limitou o pagamento ao mínimo legal de 25% do lucro. “O payout será sempre consequência do ROE e do crescimento dos ativos”. O executivo afirmou ainda que o Santander quer manter o nível de capital acima do que tem hoje. “Temos mais ou menos 300 pontos-base de capital acima dos mínimos [regulatórios]. Não acho que precisará de medida adicional”.

Sobre os níveis de provisão para devedores duvidosos (PDD), Santodomingo afirmou que o banco ainda vai esperar para ver como a situação se desenrola. “Preferimos ver como o país irá desempenhar antes de tomar decisão precipitada sobre PDD”, comentou. “É verdade que não sabemos o que está por vir, mas também é verdade que estamos convivendo com medidas já adotadas pelo governo.”

Ele foi bastante questionado pelos analistas sobre o motivo de o Santander não ter elevado tanto as provisões, mas afirmou que a política de provisionamento vai depender do que está por vir. “Temos de considerar dois componentes. Um deles é o que acontece do lado da oferta, que pode causar desemprego, mas também a força do consumo quando voltar”, explicou. “Não estou tentando passar uma imagem de otimismo. Estou tentando ser factual. O segundo trimestre será difícil, vamos nos adaptar.”

Santodomingo disse que o nível de cobertura de 194% apresentado pelo banco no fim do primeiro trimestre é “confortável”, apesar do recuo apresentado frente aos meses anteriores. De acordo com ele, o indicador tem oscilado entre 190% e 210%. Segundo o vice-presidente, o Santander já vinha se preparando para uma alta no endividamento de alguns segmentos, e por isso entrou neste ano mais conservador.

O banco, destacou o executivo, havia começado a aumentar suas provisões contra calotes nos últimos meses de 2019 por esse motivo. Agora, as instituições financeiras provavelmente terão de reforçar suas provisões por causa da crise trazida pelo coronavírus.

 

FOLHA

Delfim Netto: Não há política monetária que conserte uma política fiscal desarrumada

Sobre a pressão que o Banco Central vem sofrendo de parte dos economistas para cortar mais a Selic para fazer frente à atual crise econômica, o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto disse hoje que “não há política monetária que conserte uma economia que tem uma política fiscal desarrumada”.

Delfim fez esta e outras afirmações durante uma transmissão ao vivo organizada pela Necton Investimentos. Para o ex-ministro, a política monetária tem um papel muito importante como complemento da política fiscal.

“Mas ela não é independente da política fiscal. Pelo contrário, quando você tem uma política fiscal desarrumada, não há política monetária que conserte, a não ser com níveis gigantescos de oscilações da atividade, que politicamente não resistem”, observou Delfim.

A política monetária, continuou o ex-mnistro, é um instrumento complementar à política fiscal. O efeito dela, segundo ele, depende muito das circunstâncias, das expectativas. “Ela é eficiente mas não tem a eficiência que se imagina. Primeiro é que demora demais”, disse.

A inflação é um exemplo, disse ele. “Suponhamos que você queira resolver o problema da inflação pela política monetária. Se você ficar com 'nhe-nhe-nhem', não vai resolver porque primeiro você precisa mudar as expectativas de inflação”, disse.

Delfim lembrou o ano de 1964, quando o ministro do Planejamento Roberto Campos - avô do atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto - adotou um conjunto de medidas de combate à inflação no governo militar do Marechal Castello Branco.

“Ali Roberto Campos já conhecia a teoria e sabia que era preciso mudar as expectativas de inflação. Junto com o [Otávio] de Bulhões [ministro da Coordenação Econômica] fizeram uma política recessiva de quase 15 meses e não conseguiram mudar as expectativas inflacionárias”, recordou Delfim.

"Ou seja, o custo da política monetária, mesmo quando você tem todas as possibilidades para agir e puxa o juro de 3% para 17% num dia e quem aguentar aguentou e quem não aguentar que se quebre e se faça uma recessão do tamanho do mundo, é muito alto”, disse Delfim.

 Por isso, o problema todo desse regime de metas de inflação é manter as expectativas. E é por isso também, disse, que a política monetária tenta se mexer lentamente.

 

O GLOBO

'Precisamos resistir à tentação do populismo', diz Carlos Langoni, ex-presidente do BC

Ex-presidente do Banco Central e próximo ao ministro da Economia, Paulo Guedes, Carlos Langoni defende que o Brasil precisa resistir à tentação de ampliar gastos públicos para voltar a crescer depois da crise do coronavírus. O economista, que é diretor do Centro de Economia Mundial da FGV, critica a comparação entre o Plano Marshall - que reconstruiu a Europa após a Segunda Guerra Mundial - e a estratégia de retomada após a pandemia.

Para ele, que idealizou o novo marco regulatório do mercado de gás, investimentos privados e abertura comercial devem ser os motores da saída da recessão.

O senhor escreveu um artigo, ainda a ser publicado, em que critica a comparação entre o Plano Marshall e a saída da atual crise no Brasil. Por quê?

- É bom recordar que o plano Marshall, que foi desenhado pelo secretário de Estado dos EUA de Harry Truman, George Marshall, tinha motivação econômica, mas também geopolítica. Havia uma preocupação muito grande no pós-guerra com o surgimento da União Soviética como grande potência econômico-militar. Essa motivação geopolítica não existe na questão atual. A segunda diferença é que ali se tratava de uma necessidade de reconstruir uma infraestrutura de capital físico que foi destruída, e também de capital humano, com as mortes causadas pela guerra. No caso atual, na pandemia, o que houve foi uma hibernação. A infraestrutura não foi destruída.

Qual é o melhor caminho para retomar o crescimento?

- Curiosamente, o Plano Marshall, atualizado a preços de hoje, é de algo em torno de US$ 109 bilhões, valor próximo ao que o governo brasileiro já gastou ou vai gastar nesse programa emergencial. A herança dessa ação intervencionista necessária do Estado é de dificuldades, quando se analisam os parâmetros de solvência interna. A saída da crise passa por essa reconstrução dessas âncoras de estabilidade macroeconômicas. Esse é o ponto de partida. Não vai haver espaço para o Estado liderar esse processo de crescimento. O governo tem que voltar às origens, retomar a sua agenda de reformas para abrir espaço para que o investimento privado lidere o crescimento.

Como a instabilidade política e a turbulência podem afetar essa capacidade de atrair investimentos?

- No curto prazo, há uma piora na percepção de risco-país. Isso afeta a entrada de fluxo de capitais de curto prazo, o que ajuda a explicar o estresse cambial. Mas num horizonte de mais longo prazo, o Brasil, apesar de toda a instabilidade política nos últimos anos, está entre os cinco ou seis países emergentes que mais atraem capital externo. Se houver avanços, principalmente em marcos regulatórios em setores-chave de infraestrutura, os investimentos diretos estrangeiros, de longo prazo, vão continuar vindo.

Em que setores há esse potencial?

- Existem duas peças importantes nesse sentido. A nova lei do gás e o marco regulatório do saneamento (ambos em tramitação no Congresso). São dois setores chaves. O setor de gás pode movimentar R$ 60 bilhões por ano em dez anos, segundo estimativa da Abrace (que representa grandes consumidores de energia). O saneamento é um exemplo clássico da falha do Estado brasileiro, que não consegue ser um provedor de serviços.

Existe uma pressão por obras públicas, que passariam mais rapidamente a sensação de crescimento e geração de emprego. Como lidar com essa demanda?

- As pessoas precisam entender que não existe atalho mágico para o crescimento. No caso brasileiro, tentamos a partir de 2012 e 2013 evitar a desaceleração do crescimento usando um modelo baseado no investimento público e no subsídio de bancos oficiais. A consequência foi um mergulho numa recessão de três anos, pressões inflacionárias e aumento do desemprego. A Argentina vinha muito bem e resolveu adiar o ajuste fiscal achando que primeiro seria possível crescer e depois fazer um ajuste sem custo. Houve uma crise no balanço de pagamentos, explosão inflacionária, e o ex-presidente Maurício Macri perdeu a eleição devido a essa situação. Para não falar no desastre macroeconômico que é a Venezuela. Esses exemplos chamam a atenção. Nós precisamos resistir à tentação fatal da heterodoxia ou do populismo.

E no auxílio a vulneráveis? O Estado precisará investir mais?

- Ficou bem clara nessa crise uma lição: nós precisamos focar nos vulneráveis. Existe uma taxa grande da população brasileira que é muito maior do que a gente imaginava que vive da informalidade. Precisamos pensar muito além do Bolsa Família, que é como minimizar essa vulnerabilidade no país. Nessas ações, sim, o Estado é insubstituível. Essa crise delineou melhor ainda o papel do Estado, que deve ser um mediador de questões sociais e comparecer para minimizar as questões relacionadas à distribuição de renda, pobreza extrema e reduzir a vulnerabilidade da mão de obra informal.

No início da semana, o presidente Jair Bolsonaro reforçou o apoio à agenda liberal do ministro Paulo Guedes. Como vê o movimento?

- Vejo o ministro Paulo Guedes como uma pessoa extremamente preparada, com uma visão estratégica muito clara da economia brasileira. Eu nunca coloquei em dúvida a liderança e protagonismo dele nesse processo. É muito bom ver o presidente reiterando sua confiança.

O senhor costuma se referir à abertura comercial como a “reforma esquecida”. Qual será o papel do comércio exterior na retomada?

- Defendo acordos bilaterais para acelerar o crescimento. A recuperação da economia mundial provavelmente vai se dar antes da recuperação da economia brasileira. A China, já neste segundo semestre, depois de mergulhar numa recessão profunda, já vai estar saindo dela. Outro país que deve sair rápido da crise é a Alemanha, que tem parâmetros macroeconômicos muito fortes. O exemplo internacional mostra que os países que vão sair mais rapidamente da crise são os que têm consistência fiscal maior, caso da China e da Alemanha.

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