VALOR
Estrangeiro vê risco no longo prazo e aposta em juro curto
O ambiente político mais ruidoso e a incerteza crescente quanto aos rumos da política fiscal no Brasil fizeram com que grandes bancos estrangeiros adotassem estratégias semelhantes em relação ao mercado de juros futuros. As instituições veem cada vez mais riscos em aplicações com taxas de longo prazo, que devem embutir mais prêmio daqui para frente. Ao mesmo tempo, dado o cenário desinflacionário e contracionista gerado pelas medidas de combate ao novo coronavírus, a preferência é apostar nos juros de curto prazo em níveis menores do que os observados atualmente.
Essa divergência entre queda de juros no curto prazo e aumento do riscos em horizontes mais longos resulta na chamada inclinação da curva de juros. E apostar na ampliação desse “spread” parece ser a estratégia do momento no mercado local. “Uma combinação de ampliar os limites da política monetária, continuar a baixar a Selic, a potencial introdução de um ‘forward guidance’ e um cenário fiscal deteriorado deve manter os prêmios de risco altos e sugerem que a curva tem pouco espaço para melhorar”, afirmam os estrategistas Andres Jaime, Gilberto Hernández-Gomez e Ioana Zamfir, do Morgan Stanley.
Eles esperam a maior inclinação da curva a termo considerando os vértices de um e de cinco anos. Para embasar a perspectiva de um aumento na inclinação, os estrategistas do Morgan Stanley projetam que a diferença entre as taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 e de 2025 vão superar os 5 pontos percentuais. O patamar esperado é bem maior que o atual, de 3,76 pontos, e supera o observado em setembro de 2018, durante o período eleitoral, quando esse spread chegou ao recorde de 4,88 pontos.
Porém, um dos riscos está numa possível adoção de um programa de relaxamento quantitativo (QE) pelo Banco Central nos próximos meses, algo que ajudaria a amenizar a inclinação. Quem também espera uma inclinação substancial da curva de juros é o estrategista Juan Prada, do Barclays.
O banco britânico aposta na queda do DI para janeiro de 2023 e na alta da taxa do DI para janeiro de 2025. “Acreditamos que a manifestação de alívio [nos mercados] da semana passada, após as declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre a permanência do ministro Paulo Guedes no comando da economia, será de curta duração”, diz Prada. Para ele, o posicionamento do Barclays na curva de juros futuros se dá diante de expectativas de que o prêmio de risco pode aumentar ao longo da curva “devido a preocupações fiscais e políticos”.
No fim de semana, de fato, o noticiário político se mostrou bastante ativo. No sábado, o ex-ministro Sergio Moro prestou depoimento de mais de oito horas e entregou à Polícia Federal, em Curitiba, mensagens trocadas por ele com o presidente Jair Bolsonaro e com a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP).
Já no domingo, apoiadores de Bolsonaro se reuniram em frente ao Palácio do Planalto e se manifestaram contra Moro, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF). O presidente participou do ato e disse que não vai mais “admitir interferência” em seu governo. É justamente por pensar que a questão política traz riscos de alta à ponta longa da curva que o Bank of America opta pela aplicação restrita aos trechos de mais curto prazo.
“Estamos cada vez mais preocupados com o risco fiscal e político”, dizem os estrategistas do BofA em relatório enviado a clientes. Eles passaram a recomendar aplicação no DI para janeiro de 2022. Como justificativa, o BofA diz esperar uma postura expansionista do Banco Central por mais tempo do que o mercado está precificando. Visão semelhante é adotada no Deutsche Bank, cujo entendimento é o de que a normalização da política monetária será mais lenta do que o previsto, o que deve retirar algum prêmio da curva nos prazos mais curtos.
Os estrategistas Drausio Giacomelli, Hongtao Jiang e Jundong Zhang apontam que o prêmio “aumentou significativamente”, o que se justifica “pelos agudos riscos fiscais e, também, pelas incertezas políticas”. O Deutsche optou por apostar na queda do DI para janeiro de 2022 e usar o dólar como proteção, em posições contrárias ao real.
Na avaliação dos estrategistas Carlos Carranza e Gisela Brant, do J.P. Morgan, o Banco Central adotou uma postura mais favorável a estímulo monetário recentemente, “mas cortes nos juros podem não ser suficientes para compensar as pressões sobre os yields e a curva pode inclinar ainda mais”. Para eles, mesmo com o tom mais acomodatício adotado pelo BC, “um real muito fraco pode acabar afetando as taxas ao aumentar preocupação com a estabilidade financeira assim como a deterioração fiscal em andamento pode pressionar a ponta longa”.
O J.P. Morgan lembra que os esforços do governo para combater a desaceleração do PIB levaram a um aumento significativo nas despesas em 2020. “A expansão fiscal, uma tendência tanto em mercados desenvolvidos quanto em emergentes, pode ajudar as perspectivas para o PIB, mas o prêmio de risco provavelmente será estruturalmente mais alto na curva”, dizem Carranza e Gisela.
Além disso, eles apontam que as curvas do novo coronavírus não mostraram sinais claros de achatamento no Brasil, “o que afasta as chances de vermos um sentimento positivo de curto prazo para os mercados”.
ESTADÃO
Mercado financeiro passa a estimar queda de 3,76% para o PIB e inflação abaixo de 2%
Economistas do mercado financeiro ouvidos pelo Banco Central reduziram outra vez a previsão para o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano e, também, sua estimativa para a inflação - que passou a ficar abaixo da marca dos 2%.
No Sistema de Expectativas do BC, atualizado nesta segunda-feira, 4, juntamente com o Relatório de Mercado Focus, já existe pelo menos uma instituição que projeta retração de 7% do PIB este ano.
Os analistas dos bancos também passaram a projetar um corte maior da taxa básica de juros no decorrer de 2020 e elevaram para R$ 5 a previsão para a cotação do dólar no fim deste ano. Os dados do relatório foram levantados na semana passada em pesquisa com mais de 100 instituições financeiras.
Para o PIB de 2020, a expectativa de redução passou de 3,34% para 3,76%. Essa foi a 12.ª semana seguida de revisão para baixo do indicador.
Apesar da nova queda, a previsão do mercado para a contração do PIB brasileiro em 2020 ainda está abaixo da divulgada pelo Banco Mundial, que estima um tombo de 5%, e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que prevê queda de 5,3%.
A nova redução da expectativa para o nível de atividade foi feita em meio à pandemia do novo coronavírus, que tem derrubado a economia mundial e colocado o mundo no caminho de uma recessão.
Nos últimos meses, tanto o Ministério da Economia quanto o Banco Central revisaram suas estimativas e passaram a prever estabilidade (sem alta, mas também sem contração) do PIB neste ano.
Para o próximo ano, a previsão do mercado financeiro para o crescimento do PIB passou de 3% para 3,20%.
Segundo o relatório divulgado pelo BC, os analistas do mercado financeiro reduziram de 2,20% para 1,97% a estimativa de inflação para 2020. Foi a oitava redução seguida do indicador.
A expectativa de inflação do mercado para este ano segue abaixo da meta central, de 4%, e também do piso do sistema de metas, que é de 2,5% neste ano.
Pela regra vigente, o IPCA pode oscilar de 2,5% a 5,5% sem que a meta seja formalmente descumprida. Quando a meta não é cumprida, o BC tem de escrever uma carta pública explicando as razões.
A meta de inflação é fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Para alcançá-la, o Banco Central eleva ou reduz a taxa básica de juros da economia (Selic).
Para 2021, o mercado financeiro reduziu de 3,40% para 3,30% sua previsão de inflação. No ano que vem, a meta central de inflação é de 3,75% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2,25% a 5,25%.
O mercado passou a prever corte maior da taxa básica de juros da economia brasileira nos próximos meses. Atualmente, a taxa Selic está em 3,75% ao ano.
A previsão dos analistas para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, colegiado que define o nível da taxa de juros, foi mantida em uma redução de 0,5 ponto percentual, para 3,25% ao ano. A reunião acontece nesta semana, entre terça, 5, e quarta-feira, 6.
Entretanto, para a reunião seguinte do Copom, marcada para meados de junho, o mercado passou a projetar um corte também de 0,5 ponto percentual na taxa Selic - para 2,75% ao ano. Até então, os economistas vinham prevendo um corte menor, de 0,25 ponto percentual, para 3% ao ano.
Para o fim de 2021, a expectativa do mercado caiu de 4,25% para 3,75% ao ano. Isso quer dizer que os analistas seguem estimando alta dos juros no ano que vem, embora em menor intensidade.
O aumento dos gastos do governo durante a pandemia, somado à crise política, levou o mercado financeiro a projetar um rombo primário recorde para o Brasil em 2020. A expectativa de déficit primário do setor público para o ano saltou de 6,20% para 7,20% do PIB. Este é o maior porcentual da série histórica do BC, iniciada em dezembro de 2001.
No pior resultado registrado até hoje, em 2016, o setor público consolidado registrou um déficit primário equivalente a 2,48% do PIB. Na época, o rombo ainda era consequência do descontrole fiscal verificado nos anos do governo da presidente Dilma Rousseff.
A expectativa de déficit primário recorde para 2020 é consequência direta da crise provocada pela covid-19. Desde março, o governo tem anunciado uma série de medidas econômicas para evitar o fechamento de empresas e o aumento descontrolado do desemprego. As ações representam um aumento de despesas para o governo, com impacto direto sobre o resultado primário.
Outro fator que contribui para o rombo maior é a crise política, que se intensificou após a saída de Sérgio Moro do Ministério da Justiça. Nas últimas semanas, os economistas do mercado financeiro vêm revisando sistematicamente suas projeções para o PIB brasileiro, em meio às dúvidas sobre o futuro do governo de Jair Bolsonaro.
O resultado primário reflete o saldo entre receitas e despesas do setor público, antes mesmo do pagamento dos juros da dívida pública. Os avanços nas projeções refletem a expectativa de que, com o aumento das despesas do governo durante a pandemia do novo coronavírus e o recuo do PIB, o País terá um cenário fiscal muito difícil em 2020.
Representar e promover o desenvolvimento da construção civil do Rio Grande do Norte com sustentabilidade e responsabilidade sócio-ambiental
O SINDUSCON/RN tem o compromisso com a satisfação do cliente - a comunidade da construção civil do Rio Grande do Norte - representada por seus associados - priorizando a transparência na sua relação com a sociedade, atendimento aos requisitos, a responsabilidade socioeconômica, a preservação do meio ambiente e a melhoria contínua.